O documento descreve os principais eventos da Guerra Fria no pós-guerra, incluindo a divisão da Alemanha em zonas de ocupação pelos Aliados, a fundação da República Federal da Alemanha e da República Democrática Alemã, e a construção do Muro de Berlim para conter a fuga de cidadãos da Alemanha Oriental.
1. Início da guerra fria
Tribunal de Nurembergue
No dia 8 de agosto de 1945, representantes das quatro potências vencedoras da Segunda Guerra
Mundial aprovaram, em Londres, a criação de um tribunal internacional de guerra para julgar os
criminosos nazistas.
Depois da capitulação da Alemanha, em maio 1945, representantes da Inglaterra e dos Estados Unidos
listaram uma série de atos considerados criminosos, na medida em que fossem parte constituinte ou
resultado de uma conspiração que tinha em vista uma agressão ou um crime de guerra.
Após 15 esboços, a Corte Internacional Militar foi encarregada, no dia 8 de agosto de 1945, de
pronunciar o veredicto final para os acusados. O estatuto do tribunal, resultante do Acordo de Londres
de 1945, realizado entre as quatro potências julgadoras, incluía três tipos de acusações: em primeiro
lugar, os crimes contra a paz, que consistiam na preparação e na execução de uma guerra de agressão;
em segundo, os crimes de guerra que violavam a Convenção de Haia, como os extermínios e maus-
tratos de prisioneiros e das populações civis dos países ocupados; e, em terceiro lugar, os crimes contra
a humanidade, que compreendiam o tratamento desumano dispensado a grupos étnicos, políticos ou
religiosos, sobretudo, a perseguição e o extermínio do judeus na Europa.
A acusação de "crime contra a paz" incluía ainda um delito adicional: a participação num conluio para a
prática dos demais crimes constantes da denúncia. No primeiro esboço norte-americano da carta-
estatuto, essa acusação se referia a todos os delitos, inclusive aos crimes contra a humanidade. Isso
abrangeria também as medidas que conduziram ao extermínio em massa dos judeus. Juristas britânicos,
porém, modificaram o texto, restringindo a tese do conluio ao delito da guerra de agressão.
O juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Robert Jackson, um dos idealizadores do Tribunal de
Nurembergue, no entanto, queria comprovar que todos os 22 acusados haviam participado de um
complô. No processo, que terminou em 1º de agosto de 1946, os juízes seguiram essa argumentação em
apenas oito casos. Catorze dos 22 indiciados foram absolvidos nesse ponto.
Mas a derrota jurídica da tese do complô praticamente passou despercebida em Nurembergue, porque
11 dos absolvidos nesse ponto acabaram sendo condenados à morte pela forca por crimes de guerra.
Foram eles: o ex-marechal Hermann Göring; o ex-ministro do Exterior Joachim von Ribbentrop; o chefe
do Alto Comando das Forças Armadas (OKW), Wilhelm Keitel; o ex-chefe do Serviço Central de
Segurança (RSHA), Ernst Kaltenbrunner; Alfred Rosenberg, teórico nazista e assessor direto de Hitler;
Hans Frank, ex-administrador da Polônia ocupada; Willhem Frick, ex-ministro do Interior e ex-
governador da Tcheco-Eslováquia ocupada; Julius Streicher, diretor do jornal nazista Der Stürmer; Fritz
Sauckel, ex-chefe do recrutamento de trabalhadores nos territórios ocupados; Alfred Jodl, ex-chefe de
operações do OKW; e Arthur Seyss-Inquart, ex-chefe dos serviços administrativos da Holanda ocupada.
2. Os demais acusados obtiveram penas de prisão perpétua (caso de Rudolf Hess) ou prisão por tempos
variáveis. Três deles – Hjalmar Schacht, Franz von Papen e Hans Fritzche – acabaram sendo absolvidos.
Ao longo do processo, de 20 de novembro de 1945 a 1º de outubro de 1946, houve 403 sessões
públicas.
Divisão da Alemanha
As quatro potências vencedoras – Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética – assumiram o
poder e dividiram o território alemão em quatro zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os
territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental,
também foi dividida em quatro setores.
Os diferentes sistemas de domínio no Ocidente e no Leste geraram divergências entre os Aliados, que
não conseguiam definir uma política comum para a Alemanha derrotada. Na Conferência de Potsdam,
que ocorreu entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945 para estabelecer as bases de uma nova ordem
europeia no pós-guerra, só houve consenso quanto a quatro ações prioritárias na Alemanha:
desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os alemães para a democracia.
Muitas indústrias alemãs haviam escapado dos bombardeios, mas a pequena oferta de produtos estava
longe de suprir a demanda, e os Aliados confiscaram grande parte da produção para o pagamento da
reparação de guerra. A política econômica restritiva dos Aliados só mudou quando se impôs a convicção
de que a Alemanha Ocidental poderia ser um importante baluarte contra o avanço do comunismo
soviético.
Após unir suas três zonas de ocupação, os aliados ocidentais – Estados Unidos, França e Reino Unido –
decidiram, em 20 de junho de 1948, implantar uma reforma monetária e criar um Estado provisório sob
seu controle. Um mês depois, cada cidadão alemão pôde trocar 40 Reichsmark (a moeda vigente até
então, instaurada em 1924) por 40 unidades da moeda então introduzida pelos Aliados: o marco alemão
(Deutsche Mark, ou DM). Para empresários e autônomos, a relação de troca era mais favorável.
Embora recebesse ajuda dos EUA desde 1946, foi só o programa chamado Plano Marshall disponibilizou
1,4 bilhão de dólares de 1948 a 1952, que o lado ocidental começou a se recuperar da crise.
A Zona de Ocupação Soviética não teve a mesma sorte, tendo que arcar sozinha com os custos de sua
recuperação, além de sofrer a sangria das reparações de guerra (que também afetou a parte ocidental)
e o esvaziamento pela desmontagem de fábricas, estradas de ferro e instalações levadas para a União
Soviética.
Stalin reagiu à reforma monetária na Alemanha Ocidental ordenando que o lado ocidental de Berlim
fosse bloqueado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de Ocupação Soviética, mandou interditar
todas as comunicações por terra.
3. Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de 23
de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea
organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento.
No dia 23 de maio de 1949, os aliados ocidentais promulgaram a Lei Fundamental, elaborada por um
conselho parlamentar, dando origem à República Federal da Alemanha (RFA). A denominação Lei
Fundamental sublinhava seu caráter provisório, pois somente depois que o país voltasse a ser uma
unidade deveria ser ratificada uma Constituição definitiva.
A União Soviética, que integrara a zona leste do país à sua estrutura de poder, não ficou atrás,
anunciando, em outubro de 1949, a fundação da República Democrática Alemã (RDA), tendo Berlim
Oriental como capital. Seu regime era comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à
socialização da indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário
(SED) passou a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental.
Com o surgimento de dois Estados, a Alemanha tornou-se o marco divisório de dois blocos e sistemas
político-econômicos antagônicos liderados pelos EUA, de um lado, e pela União Soviética, de outro.
De 1949 até o início da década de 70, o desenvolvimento da República Federal da Alemanha foi marcado
por uma rápida reconstrução do país, do Estado e das instituições democráticas, pela recuperação
econômica impulsionada pelo Plano Marshall e pela estabilidade interna.
Muro de Berlim
Outro símbolo da ordem bipolar no cenário da Guerra Fria e da tensão e separação entre os dois blocos
foi o Muro de Berlim, que existiu entre os anos de 1961 e 1989. A construção desse muro foi resultado da
divisão da Alemanha entre capitalismo (Alemanha Ocidental) e socialismo (Alemanha Oriental).
No centro dessa divisão estava Berlim, cidade que foi dividida entre as duas nações. A grande questão foi
a quantidade de pessoas que começou a abandonar a Alemanha Oriental e se estabelecer em Berlim
Ocidental (capital da Alemanha Ocidental). Isso se explicava pelo grande desenvolvimento econômico na
Alemanha Ocidental graças ao Plano Marshall.
O desenvolvimento do lado ocidental, somado à censura e falta de liberdade do lado oriental, fez com
que cerca de três milhões de pessoas abandonassem a Alemanha Oriental, e, para conter esse fluxo de
cidadãos que fugiam do país, o governo da Alemanha Oriental decidiu construir um muro isolando Berlim
Ocidental. Na passagem do dia 12 para 13 de agosto de 1961, milhares de soldados da Alemanha Oriental
cercaram Berlim Ocidental com arame farpado, concretizando o fechamento da fronteira.
4. Com o tempo, foi construído um muro muito alto, torres de segurança foram estabelecidas, e um
perímetro com soldados e cães de guarda foi criado para impedir que cidadãos da Alemanha Oriental
fossem para o lado Ocidental.
Cortina de ferro
Atribui-se o termo cortina de ferro a um pronunciamento de Winston Churchill, então ex-primeiro-
ministro britânico. Esse discurso foi realizado no Westminster College, em Fulton, Missouri, Estados
Unidos, no dia 5 de março de 1946.
No discurso, Churchill afirmou que uma cortina de ferro teria descido sobre a Europa em uma referência
direta ao bloco socialista, que se estabeleceu no continente após a Segunda Guerra Mundial. Essa
expressão definia a divisão do continente europeu entre o bloco capitalista e o bloco socialista, sendo que
as nações socialistas eram as que estavam atrás de uma “cortina de ferro”.
Esse bloco socialista se formou à medida que as tropas soviéticas foram avançando no continente
europeu. Esse avanço se deu durante a luta contra o nazismo, e, à medida que os locais eram liberados
pelos soviéticos, tornavam-se locais de influência soviética. Com o final da guerra, essas regiões se
transformaram em parte do bloco socialista.
As nações do bloco socialista eram as do Leste Europeu que estavam sob o raio de influência da União
Soviética e do governo de Moscou, a grande potência socialista do planeta na segunda metade do século
XX. Os estados sob a influência soviética, apesar de soberanos, poderiam tornar-se alvo das interferências
soviéticas, como aconteceu na Hungria em 1956 e na Checoslováquia em 1968.
Plano Marshall e a recuperação europeia
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA e os países aliados vencedores, os localizados na Europa
Ocidental, necessitavam de reconstruir a economia europeia devastada pelos longos anos de conflito a
que estiveram submetidos. Era ainda necessário a esses países conter a ameça de expansão da
influência soviética. Nesse contexto de reconstrução econômica e de Guerra Fria, foi lançado, em 1947,
o Plano Marshall.
5. O Plano Marshall ( Programa de Recuperação Europeia) recebeu esse nome graças a seu idealizador, o
general George Catlett Marshall, secretário de Estado do presidente estadunidense Henry Truman. O
Plano Marshal foi um ambicioso projeto de empréstimos e doações financeiras realizados pelos EUA e
seus capitalistas aos países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial.
Entre 1948, ano em que entrou em vigor o Plano Marshall, e 1951, ano em que foi encerrado, cerca de
18 bilhões de dólares foram entregues aos países europeus aderentes ao plano através de doações e
empréstimos. Para executar o plano, os EUA criaram a Administração da Cooperação Econômica.
A oferta de ajuda econômica também foi oferecida à URSS, mas foi recusada já que Stalin pretendia
reestruturar as economias de sua zona de influência sem o apoio do capitalismo ocidental. Frente a isso,
os países europeus criaram, em 1948, a Organização Europeia de Organização Econômica (OECE),
embrião do que viria a ser a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Dessas iniciativas surgiriam ainda o Mercado Comum Europeu e, posteriormente, a União Europeia
O Plano Marshall serviu ainda para a constituição do que viria a ser conhecido como o Estado de Bem-
Estar Social, em que parte dos serviços necessários à população (saúde, educação, seguro-desemprego
etc.) era oferecida pelo Estado. Dessa forma, os capitalistas ocidentais enfrentavam a influência
soviética com a melhoria das condições econômicas da população.
Formação da OTAN
A Otan é uma aliança militar intergovernamental criada após o final da Segunda Guerra Mundial no
contexto da bipolaridade formada entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, no período da Guerra Fria. O objetivo da aliança é baseado em três pilares:
• A defesa coletiva dos Estados membros (ou seja, os Estados concordam em se unir contra
ameaças externas caso algum dos países participantes da organização seja atacado).
• Impedir o revigoramento do militarismo nacionalista na Europa, através de uma forte presença
norte-americana no continente.
• Encorajar a integração política europeia.
6. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia uma preocupação por parte de países europeus em
formar uma aliança que servisse de defesa para a Europa Ocidental. Para isso, países como Bélgica,
Holanda, Luxemburgo, França e Reino Unido criaram o Tratado de Bruxelas. O tratado era um passo
para a integração dos países envolvidos em assuntos como defesa e segurança.
A participação dos EUA no tratado foi vista como fundamental, principalmente pelo poderio militar que
tinham. Os países então se reuniram para a criação de um novo tratado que fosse além do alcance da
Europa Ocidental, desta vez com a participação de novos membros, contando com: EUA, Canadá,
Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca e Islândia. Foi nesse contexto que surgiu a OTAN, em abril de 1949,
em ato constitutivo firmado em Washington, capital dos EUA.
Os signatários concordaram em “unir esforços na defesa coletiva e na preservação da paz e da
segurança”. Mas era nítido o viés ideológico da organização, que pretendia defender a democracia e
suas instituições, e assim difundir para outros países esses valores. A defesa da democracia pelos países
da organização mostrava também forte oposição à ideologia comunista.
Pacto de Varsóvia
A partir da década de 1950, foram realizadas ações oficiais para formar esse bloco política e
diplomaticamente. Os Estados Unidos procuraram impedir o avanço do socialismo por meio do Plano
Marshall, que fornecia auxílio econômico, principalmente, às nações da Europa Ocidental. Em oposição a
esse plano, foi formado o Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecon), a fim de fornecer
auxílio econômico para as nações socialistas do Leste Europeu.
Além disso, os Estados Unidos criaram uma aliança militar por meio da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan). No caso do bloco socialista, foi formado o Pacto de Varsóvia, que formalizou um
grupo de nações aliadas militarmente à União Soviética, permitindo a ampliação dos soviéticos sobre o
bloco de nações socialistas.
Os Estados-membros do Pacto de Varsóvia eram: URSS, Bulgária, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria,
República Democrática Alemã, Albânia e Romênia.