Tetraplégico luta para recuperar movimento das mãos e tentar tratamento nos EUA
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34 • Cidades • Brasília, domingo, 14 de fevereiro de 2010 • CORREIO BRAZILIENSE
Uma Há quatro anos, Fábio ficou tetraplégico. Quer chegar aos Estados Unidos, para tratamento. As possibilidades
de voltar a andar são mínimas, mas ele luta para recuperar o movimento das mãos e voltar a trabalhar
CHANCE para
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
TENTAR
» MARCELO ABREU gundo jogo do mundial. A casa Infarto
de um amigo no Lago Sul foi o
o r r i a o ano de 2005. lugar escolhido para a reunião.
C
A mãe, nutricionista, parou de
Uma amiga de época do Fábio Grando, então com 21 trabalhar e passou a cuidar do fi-
ensino fundamental, anos, natural de Guaporé (RS), lho dia e noite. Um dia, depois do
que há algum tempo ele torcedor doente do Grêmio, fre- almoço, no quarto do filho, ela se
não via, um belo dia, ligou. Con- quentava o lugar e conhecia bem queixou: “Fábio, vomitei tudo.
tou o acidente de carro que ti- as dependências dele. Inclusive Não tô bem”. Jovem, então com
nha sofrido. Falou das suas limi- a piscina. O jogo prosseguiu. O 40 anos, check-up em dia, ela
tações. E de como era complica- calor estava grande. cuidava da alimentação com
do viver num mundo não feito Fábio entrou na piscina.“Pu- muita rigidez. Fábio só ouviu o
para quem não conseguia andar. lei de ponta e bati no fundo. Lem- barulho da mãe caindo ao lado
A amiga ficara tetraplégica, mas bro da batida, do barulho da ca- da sua cama. Sem mover braços,
já conseguia, com muitos exercí- beça na piscina. Não desmaiei, pernas nem pescoço (apenas A dependência de Fábio é diária, nos mínimos detalhes. “Não é justo fazer isso com minha família”, diz
cios, movimentar um pouco bra- fiquei consciente, mas não con- movimentava os olhos), ele não
ços e mãos. Pediu que ele visse, seguia mais nadar”, lembra. De entendia o que se passava. Tam-
na faculdade onde estudava jor- repente, a piscina ficou escura. pouco conseguia chamar alguém. Em 10 de julho, 22 dias depois do vez. Cuida dele 24 horas. “O que O tratamento custará US$ 55
nalismo, se o câmpus era adap- Era o sangue da cabeça de Fábio. Uma enfermeira, nessa hora, mergulho na piscina, ele foi ope- me angustia é essa dependência”, mil (cerca de R$ 112 mil). Os ami-
tado para deficientes. Se havia Um amigo percebeu que alguma passou. E socorreu a mãe do ra- rado. Colocaram quatro parafu- resume. gos que não foram embora se or-
elevador, rampas, acesso fácil coisa tinha acontecido. Pulou na paz que não conseguia mais nem sos no pescoço e uma placa de ti- É por isso que hoje, aos 25 ganizam em festas para arrecadar
aos banheiros. Prontamente, ele piscina para socorrê-lo. Os ami- pedir socorro. Solange Grando tânio para fixar a vértebra. anos, ele tenta chegar a San Die- a quantia necessária. Há 20 dias,
ouviu o desabafo da moça. Emo- gos ligaram para o Corpo de teve um infarto. Do Sarah, ela foi No Sarah da Asa Sul, Fábio fi- go, nos Estados Unidos. Quer a campanha Bora, Fabito! foi lan-
cionou-se. Falou com os seus Bombeiros, que,imediatametne, levada às pressas para o Instituto cou internado por quatro meses. uma vaga no Project Walk — tra- çada. Folderes espalhados pela
professores. E ligou em seguida, chegou. Colocaram-lhe um cor- do Coração (Incor-DF). Durante Voltou para casa, com um colar tamento desenvolvido por um fi- cidade. “Já arrecadamos R$ 3,9
feliz em poder ajudar a amiga: dão cervical e o levaram para a o trajeto, sofreu sete paradas car- cervical e numa cadeira de rodas. sioterapeuta daquele país que se mil. Equivalem a sete dias do
“Pode vir sem medo. Aqui todo ambulância. “Ouvia os bombei- díacas. Fez cateterismo. Resistiu, “O pior momento pra mim foi baseia na repetição dos movi- meu tratamento”, contabiliza Fá-
mundo vai te receber bem”. ros dizendo: ‘Vai devagar’. Não sem sequelas. Passou uma sema- quando me colocaram nela (na mentos, no método de pilates. bio, cheio de motivação, no blog
Animada, a moça foi. Come- entendia por que falavam aqui- na internada. O pai dele, o co- cadeira de rodas). Aí, comecei a “Quero tentar pelo menos mexer que criou para contar sua história
moram juntos a chegada dela. lo. Eu permaneci consciente o merciante Éder Grando, então perceber o tamanho das minhas um pouco as mãos, ser mais in- e luta. “Vou agradecer a cada pes-
Ele a ajudou no dia a dia. A espe- tempo todo.” com 43 anos, se dividia entre o limitações”. dependente, para voltar a traba- soa que me ajudou.”
rança renovada, por mais difícil Ao chegar ao Hospital de Base Incor e o Sarah. lhar (antes, ele estudava e traba- Mesmo que nunca mais ande,
que fosse refazer planos. No ano (HBDF), Fábio encontrou os “Se ela não fosse socorrida a Estados Unidos lhava como assessor de impren- o que ele quer e sonha é apenas
seguinte, como essas voltas que pais. “Foi quando consegui rela- tempo, se estievesse na rua, por sa).“Aí, as pessoas me pergun- mover as mãos, abrir os dedos,
a vida dá, era ele, também tetra- xar.” O rapaz foi levado às pres- exemplo, não teria resistido. Pre- Começou 2008. Ele voltou à tam: ‘Mas você só quer isso?’ Isso para empurrar sua própria cadei-
plégico, que entrava na mesma sas para a emergência. Exames cisei ficar assim para salvar a mi- faculdade. Terminou o curso de já seria muito. Queria retomar ra. Beber água sozinho, escrever
faculdade numa cadeira de ro- revelaram que ele havia fratura- nha mãe. Foi essa a grande lição jornalismo. Sentiu o que sua ami- minha vida. Deixar minha mãe sem ajuda do adaptador. Acenar
das. Em 2008, chegaram ao fim do a medula. E, na emergência que tirei disso tudo”, emociona- ga cadeirante sentia. Formou-se desobrigada de me levar ao ba- para um amigo na rua. Pouco,
do curso juntos, empurrando do HBDF, ficou por quatro dias, se Fábio. e nunca pôde exercer a profissão. nheiro, me dar banho e até água muito pouco, para quem não tem
suas pernas emprestadas. à espera de uma cirurgia e poste- O infarto de Solange foi causa- Não consegue ainda mexer as na boca. Não é justo o que ela, o ideia disso. Muito, demasiada-
Junho de 2006, Copa do Mun- rior remoção para o Hospital Sa- do pelo esgotamento emocional mãos nem as pernas. meu pai e meu irmão têm passa- mente muito, para quem precisa
do. Brasil e Austrália fazem o se- rah do Aparelho Locomotor. (estresse), afirmaram os médicos. A mãe parou de trabalhar de do por mim”. de tão pouco.
SOLIDARIEDADE // Quer ajudar Fábio a tentar? Banco do Brasil – Agência: 3596-3 – Conta corrente: 9411-0 – Blog: www.fabiogrando.blogspot.com – Telefone: 9984-1903
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