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Tecnologia
16 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Editora: Ana Paula Macedo //
anapaula.df@dabr.com.br
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Em nome da inclusão
Tecnologia assistiva é a denominação dada à área da ciência que se dedica ao desenvolvimento de soluções e equipamentos que facilitam
a vida de deficientes físicos. Edital lançado recentemente pela Finep prevê o repasse de R$ 10 milhões para projetos de pesquisa no setor
Monique Renne/CB/D.A Press
» IGOR SILVEIRA
azer com que uma pessoa
F tetraplégica consiga subir
escadas sem a ajuda de
ninguém ou permitir que
alguém que perdeu os movimen-
tos das mãos digite um texto no
computador. Existe um ramo da
ciência que se dedica a proporcio-
nar mais acessibilidade — e, con-
sequentemente, direito à cidada-
nia — aos deficientes físicos. Co-
nhecido como tecnologia assisti-
va, o setor, para se desenvolver no
Brasil, ainda depende de iniciati-
vas de apoio do governo, como o
edital publicado no fim do mês
passado pela Financiadora de Es-
tudos e Projetos (Finep), órgão li-
gado ao Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT). As propostas
contempladas dividirão R$ 10 mi-
lhões, o que representa a esperan-
ça de que surjam novas soluções
que ajudem na inclusão social de
pessoas com algum tipo de defi-
ciência física.
Quando o Estado patrocinou
projetos na área pela primeira vez,
em 2005, ferramentas importan-
tes foram incorporadas à rotina de
cadeirantes, cegos e surdos, como
a bengala com um sensor que faz
uma varredura no caminho segui-
do pelo deficiente visual e emite
um alarme sonoro no caso de obs-
táculos. Desenvolvido pela Uni-
versidade do Vale do Itajaí (Univa-
le), em Santa Catarina, o dispositi-
vo traz o grande diferencial de avi-
sar o usuário quando há a presen-
ça de objetos no alto, evitando
que a pessoa bata a cabeça em
orelhões e placas de trânsito, por
exemplo. Alunos do Centro Uni-
versitário da Fundação Educacio- Fábio ficou tetraplégico depois de bater a cabeça no fundo de uma piscina e perdeu o movimento das mãos. Com a ajuda de próteses, ele consegue atualizar o blog da campanha Bora, Fabito!
nal Inaciana, em São Paulo, tam-
bém desenvolveram uma bengala Ibot/Reprodução
eletrônica que consegue identifi-
car não só obstáculos, mas as co-
res dos objetos.
O chefe do Departamento de Não estamos
Tecnologias Sociais da Finep,
Maurício França, explica que as interessados em
tecnologias assistivas são de abso- apoiar, por
luto interesse da sociedade e que
muitas empresas de pequeno e exemplo,
médio portes trabalham na cria- controles
ção de projetos do tipo. Por isso, a
intervenção do governo é funda-
automáticos para
mental, já que as pesquisas tecno- abrir ou fechar
lógicas custam muito caro. As uma cortina.
ideias dos cientistas variam de
simples protocolos fisioterápicos Estamos falando
a softwares que auxiliam a acessi- de projetos
bilidade. As invenções envolvem
tecnologia de ponta e aparelhos prioritários, que
que permitem uma vida com me- vão melhorar a
nos obstáculos a esse público.
“Na primeira vez que lançamos
vida de milhões de
o edital, há cinco anos, recebemos pessoas”
cerca de 200 propostas e muitas Desenvolvida nos Estados Unidos,
ideias interessantes. Esse tipo de Maurício França, a iBot permite que o cadeirante
ajuda financeira é fundamental chefe do Departamento de fique na posição vertical, e suba e
para que o país tenha avanços sig- Tecnologias Sociais da Finep desça escadas
nificativos no campo da ciência.
Não estamos interessados em
apoiar, por exemplo, controles au-
tomáticos para abrir ou fechar
uma cortina. Estamos falando de Para ajudar um adaptador para comer. De- quisas de projetos maiores. A ca- meio de sistema de travas, freios de ensino, geralmente precário, e
projetos prioritários, que vão me- pois, recebeu uma munhequeira deira de rodas vertical ficou fa- e rodas adaptadas, permitir que o aprimora as performances dos
lhorar a vida de milhões de pes- O endereço do blog mantido por desenvolvida para que pudesse mosa depois de uma reportagem usuário suba e desça escadas e professores que dão aulas em
soas”, garante França. Ele ressalta, Fábio Grando é manusear o teclado do computa- na tevê com o músico Herbert ande em terrenos irregulares com turmas com surdos.
ainda, que os estudos podem le- fabiogrando.blogspot.com. Lá, dor com tranquilidade. Vianna, que se tornou paraplégi- facilidade. Também destinada Domingos Sábio, professor
var ao desenvolvimento de equi- estão informações sobre a “Essas ferramentas foram tão co em um acidente de ultraleve aos cadeirantes, para que o defi- da Faculdade de Psicologia da
pamentos mais baratos e acessí- campanha Bora, Fabito!, o importantes que, atualmente, em 2001. O dispositivo permite ciente físico consiga usufruir da UnB, onde o software é utilizado
veis a uma grande parcela da po- acidente sofrido pelo jovem, consigo usar os talheres sem qual- que o cadeirante se locomova em praia, há no mercado uma cadei- em um projeto de extensão, des-
pulação que acaba excluída por além de uma explicação mais quer recurso. Ou seja, aquelas ta- pé, mas o uso só é permitido de- ra de rodas adaptada especial- taca que o Bilingue consegue
causa do baixo poder aquisitivo. detalhada sobre o Project Walk. las adaptadas me ajudaram a reto- pois que os pacientes passam por mente para transitar na areia. As trabalhar com frases de estrutu-
Para conseguir ficar no centro mar atividades que a perda da ha- longas baterias de testes, pois o rodas são maiores e o material do ras mais completas e imagens
de recuperação por 180 dias, bilidade mecânica não me permi- comportamento dos ossos muda acento é diferente dos conven- em movimento. Essas situações
Readaptação tempo mínimo permitido, o tia mais”, comemora o jornalista, depois de uma lesão na medula. cionais, absorvendo melhor a são descritas em português e na
O jornalista Fábio Grando, 25 jornalista precisa de apaixonado por futebol e torcedor Assim, a cadeira de rodas vertical água e o salitre. Libras. “Estamos procurando
anos, sofreu um acidente em US$ 55 mil. Doações, em ardoroso do Grêmio. Grando ain- proporciona à pessoa que não uma maneira de ampliar o soft-
2006. Durante um churrasco com qualquer valor, podem ser feitas da utiliza os adaptadores para di- possui os movimentos dos mem- ware para que outras institui-
por meio de depósito no Banco
Aula facilitada
amigos, ele bateu a cabeça no gitar e é com a destreza no uso bros inferiores a assumir uma ções de ensino possam utilizá-
fundo de uma piscina e fraturou do Brasil, agência 3596-3, conta dessas ferramentas que ele ali- postura com o campo visual na Não são apenas paraplégicos e lo. O grande entrave desse proje-
duas vértebras. Resultado: Gran- corrente 9411-0, em nome do menta o blog de uma campanha mesma altura das pessoas que tetraplégicos os beneficiados pe- to é que nem todas as escolas
do ficou tetraplégico e, quatro próprio Grando. criada para angariar fundos com andam. Os equipamentos desen- la tecnologia assistiva. Um proje- têm computador ou estão co-
anos depois, mesmo com o mo- objetivo de ir aos Estados Unidos volvidos pelo hospital, no entan- to desenvolvido na Universidade nectadas à rede mundial de com-
vimento dos braços recuperados participar de um tratamento no to, não são comercializados e são de Brasília (UnB), com o apoio da putadores, o que impossibilita,
e a volta da sensibilidade nas per- centro de recuperação Project utilizados apenas por pacientes Finep, ajuda na inclusão social de por enquanto, a expansão do
nas, ainda é bastante dependen- Walk. O lugar, em San Diego, Cali- da instituição. surdos. O recurso é um software programa”, pontua Sávio.
te, porque não consegue mover fórnia, também trabalha com mé- Outra cadeira de rodas com que funciona como uma aula pa-
as mãos. Simples tarefas como todos diferenciados e aparelhos tecnologia de ponta é a iBot. A in- ra surdos e ouvintes aprenderem
segurar um copo ou digitar um inovadores na tentativa de treinar venção, comercializada apenas e aprimorarem o uso da Língua www.correiobraziliense.com.br
texto demandam grande esforço. os espasmos para que esses se tor- nos Estados Unidos, pode fun- Brasileira de Sinais (Libras). Com
No hospital de reabilitação Sarah nem movimentos controláveis cionar sobre duas ou quatro ro- frases e situações mais comple-
Kubitschek, em Brasília, onde o pelos deficientes. das, o que permite ao cadeirante xas, o programa de computador,
jornalista ficou internado logo A rede de hospitais Sarah Ku- a se locomover em pé. A iBot tam- batizado de Bilingue, consegue Confira o edital da Finep para projetos de
após o trauma, ele passou a usar bitschek também investe em pes- bém oferece a vantagem de, por melhorar a qualidade do material tecnologia assistiva
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