2. Os Lusíadas estão cheios da realidade moral da vida coletiva,
nacional e humana, daquele grande momento histórico, como
de vivências do homem de sempre. São o poema do heroico
esforço da Nação que acrescentou novos mundos ao Mundo,
mas são igualmente o poema do Homem na luta contra as
fatalidades que se opõem ao seu anseio de submeter a natureza
ao domínio da sua inteligência, quando lhe não seja possível a
supremacia da sua vontade. […]
Hernâni Cidade, Lições de cultura e literatura portuguesas, Vol. I,
Coimbra, Coimbra Editora, 1968, pp. 245.
Os Lusíadas
3. Influências literárias
Homem culto, a quem não faltava, como diz no Canto X, 154, 5, ≪honesto
estudo≫, Camões leu o que a informação histórica e a tradição literária
tinham para lhe oferecer para a construção de Os Lusíadas.
Os Lusíadas
4. Fontes históricas
Crónicas de cronistas como Fernão Lopes, Rui de Pina, Gomes Eanes de
Zurara, João de Barros, entre outros → para se documentar sobre a
história de Portugal, tanto de Portugal continental como do império
ultramarino;
Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama, o diário da viagem escrito
por Álvaro Velho → para se documentar sobre a viagem de descoberta do
caminho marítimo para a Índia;
Folhetos de cordel que circulavam relativos a naufrágios → para se
documentar sobre estes desastres.
Os Lusíadas
5. Fontes literárias
Autores latinos: a Eneida de Virgílio e as Metamorfoses de Ovídio;
Autores italianos: Orlando Furioso, de Ariosto, além de Petrarca e
Boccacio;
Autores portugueses:
1. Para o episódio de Inês de Castro: as Trovas à Morte de Inês de Castro
de Garcia de Resende;
2. para outros episódios: João de Barros e Jorge Ferreira de Vasconcelos.
Os Lusíadas
6. Poema épico
Género narrativo em verso destinado a celebrar feitos grandiosos de heróis
reais ou lendários, com interesse universal, em estilo elevado. São poemas
épicos a Ilíada e a Odisseia de Homero, a Eneida de Vergílio, Os Lusíadas de
Luís de Camões.
Os Lusíadas
7. Estrutura interna
O poema divide-se em quatro partes, seguindo, de modo geral, os modelos
das epopeias da Antiguidade Clássica e das renascentistas:
Proposição
I, 1 a 3
O Poeta indica o assunto que vai cantar: «o peito
ilustre Lusitano», 3, v. 5, isto é, os heróis portugueses,
a nobreza guerreira.
Invocação
I, 4 a 5
O Poeta pede inspiração a musas nacionais, as Tágides,
ninfas do Tejo, para cantar os feitos do «peito ilustre
Lusitano».
Dedicatória
I, 6 a 18
O Poeta dedica o poema a D. Sebastião, que reinava
em Portugal no ano da sua publicação – 1572.
Narração
I, 19 e s.
Inicia-se in medias res, no meio da viagem, quando a
armada se encontrava já no Oceano Índico.
Os Lusíadas
8. Estrutura externa
A obra está dividida em dez cantos, cada um com um número variável de
estâncias ou estrofes;
O canto mais curto é o sétimo, com 87 estâncias e o mais extenso é o
décimo, com 156;
As estâncias são oitavas, apresentando o esquema rimático abababcc,
rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos;
Os versos são de dez sílabas métricas (decassílabos ou versos
decassilábicos).
Os Lusíadas
9. Planos temáticos
•Plano da viagem
Narração da viagem de Lisboa a Calecute. A narração inicia-se no Canto I, 19,
quando os portugueses se encontram já no Oceano Índico, na costa de
Moçambique – inicia-se, deste modo, in medias res, de acordo com o que
sucedia nas epopeias da Antiguidade.
Este plano constitui a ação principal da narrativa.
Ex.: Episódio da Tempestade, VI, 70 a 79.
•Plano dos Deuses
Nas epopeias da Antiguidade clássica a intervenção dos deuses nas ações
humanas era uma constante. Do mesmo modo, em Os Lusíadas, os deuses
interferem na viagem dos portugueses, ajudando-os ou prejudicando-os. O
avanço da ação depende das intrigas dos deuses.
Este plano articula-se com o plano da viagem por alternância.
Ex.: Primeiro Consílio dos Deuses, I, 19 a 41.
Os Lusíadas
10. •Plano da História de Portugal
Chegado a Melinde, a norte de Moçambique, Vasco da Gama narra ao rei
desta cidade a história de Portugal. Mas há outro narrador, Paulo da Gama,
seu irmão, que conta a nossa história ao Samorim, já em Calecute. A história
do nosso país é ainda contada através de profecias, quando se trata de
acontecimentos que ocorreram depois de 1498.
Este plano constitui a ação secundária, ligado a ação principal por encaixe.
Ex.: Episódio de Inês de Castro, III, 120 a 135.
•Plano das considerações/ reflexões do poeta
É frequente Camões, principalmente no final dos cantos, apresentar
opiniões ou reflexões sobre a condição humana, sobre a situação política de
Portugal, sobre as injustiças de que se sente alvo, etc…
Ex.: Lamentações sobre a sua sorte e reflexões pessimistas sobre os
portugueses, X, 145 e 146.
Os Lusíadas
11. Episódios
Episódios são narrativas curtas de factos reais ou imaginários que ocorrem
durante a narração. Podem dividir-se em:
Históricos
São os que narram acontecimentos da História de Portugal, por
exemplo, o episódio da Batalha de Aljubarrota, no Canto IV.
Mitológicos
São os que narram acontecimentos relativos a vida dos deuses da
mitologia greco-romana, por exemplo, o primeiro Consílio dos
Deuses, no Canto I.
Líricos
São aqueles nos quais predomina a referência a sentimentos como o
amor, por exemplo, o episódio de Inês de Castro, no canto III, ou as
Despedidas de Belém, no canto IV.
Simbólicos
São os que contêm um simbolismo, como, por exemplo, o episódio do
Adamastor, que simboliza os perigos que o homem enfrenta perante
a natureza.
Naturalistas
São os que descrevem fenómenos naturais, como ocorre no episódio
da Tempestade Marítima, no canto V.
Os Lusíadas
12. Mitologia
A presença dos deuses nas epopeias da Antiguidade, em contínua
interação com os humanos, era uma constante em epopeias como a
Ilíada, a Odisseia ou a Eneida.
Esta relação está bem presente em Os Lusíadas, pois, imediatamente a
seguir ao início da narração (I, 19) já os deuses se reúnem para decidir
sobre a viagem dos portugueses (I, 19 a 41 – primeiro Consílio dos
Deuses no Olimpo).
Os Lusíadas
13. Breve quadro da
mitologia de Os Lusíadas
Figura
Mitológica
Caracterização
Júpiter O pai dos deuses. Preside ao Conselho (concílio) dos deuses, no
qual decide apoiar a viagem dos portugueses.
Em Os Lusíadas aparece também com os nomes de Padre (I; 22,
38, 40 e 41) e Tonante (I; 20. VI; 78).
Vénus Deusa da beleza e do amor, mulher de Vulcano. No concílio dos
deuses apoia os portugueses na sua viagem ao Oriente. Em Os
Lusíadas aparece também com o nome de Citereia (I;34), entre
outros.
Marte Deus da guerra. Estava apaixonado por Vénus. Também apoia os
portugueses na sua viagem ao Oriente. Aparece ainda, em Os
Lusíadas, com o nome de Mavorte (I; 41).
Baco Deus do vinho, pai de Luso. Inimigo dos portugueses, representa
o conjunto de interesses que no Oriente se lhes opõe.
Apolo Deus da medicina, da poesia, da musica e das artes. Era o chefe
das nove musas.
14. Figura
Mitológica
Caracterização
Vulcano Deus do fogo. Conhecido pela sua fealdade, casou, no entanto,
com Vénus. Fabricava os raios para Júpiter.
Mercúrio Deus da eloquência, do comércio e dos ladrões. Era o
mensageiro dos deuses.
Neptuno Deus do mar. Representa-se normalmente com um tridente na
mão.
Tétis
(Thetis)
Divindade marinha que habita na superfície das águas. É a mais
famosa de todas as Nereidas, filha de Nereu e de Dóris.
Tétis
(Thethys)
Divindade marinha que personifica a fecundidade feminina do
mar. Filha de Urano e de Gaia, esposa do Oceano (Neptuno).
Breve quadro da
mitologia de Os Lusíadas