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COMO SUPERAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS E DE RIQUEZA NO
MUNDO NA ERA CONTEMPORÂNEA
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar que o mundo convive há muitos anos com a
existência da extrema riqueza e da extrema pobreza entre os seres humanos e com a
existência de pouquíssimos países ricos que apresentam desenvolvimento econômico e
social avançado ao lado da grande maioria de países pobres com precário
desenvolvimento econômico e social. O contraste gritante no mundo e em cada país entre
a excessiva concentração da riqueza e a presença de imensos contingentes populacionais
submetidos à fome, à pobreza e à miséria é prova cabal do absoluto fracasso do
capitalismo como projeto civilizatório. Esta situação impõe a necessidade de que ocorram
mudanças na sociedade capitalista em que vivemos para superar as desigualdades sociais
e de riqueza no mundo na era contemporânea.
A análise das desigualdades de renda e de riqueza no mundo, tomando por base o
Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela equipe de Thomas
Piketty da Escola de Economia de Paris publicado no website
<https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>,
permite concluir que os 10% mais ricos da população global se apropriam atualmente de
52% da renda global, enquanto a metade mais pobre da população ganha 8% da renda
mundial. O mapa mundial da desigualdade social (Figura 1) revela que, entre os países
de alta renda, alguns são muito desiguais como os Estados Unidos, enquanto outros são
relativamente igualitários, como, por exemplo, a Suécia. O mesmo vale para países de
renda baixa e média, com alguns exibindo desigualdade extrema como, por exemplo,
Brasil e Índia, níveis um tanto elevados como a China e níveis moderados a relativamente
baixos, como, por exemplo, Malásia e Uruguai. No Brasil, os 50% mais pobres ganham
29 vezes menos do que os 10% mais ricos. Este valor é 7 vezes menor na França.
Figura 1 – Mapa mundial da desigualdade social
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Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website
<https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>. Observação: Os
países em cor vermelha são os que apresentam maior desigualdade social e os que apresentam cor amarela
são os países com menor desigualdade social. Os países nas demais cores apresentam desigualdade social
intermediária. Quanto mais tendendo para o vermelho, maior é a desigualdade social.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as desigualdades de
riqueza global são ainda mais pronunciadas do que as desigualdades de renda da
população global. A metade mais pobre da população global mal possui alguma riqueza,
tem apenas 2% do total da riqueza mundial. Em contraste, os 10% mais ricos da população
mundial possuem 76% de toda a riqueza do planeta. Na Europa, a riqueza dos 10% mais
ricos é de cerca de 36% da riqueza total da região, enquanto no Oriente Médio e no norte
da África este valor chega a 58% da riqueza total da região. Entre esses dois níveis, há
uma diversidade de padrões. No Leste Asiático, os 10% mais ricos possuem 43% da
riqueza total da região e na América Latina, 55% da riqueza total da região.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as desigualdades de
riqueza aumentaram entre os países mais ricos. O aumento da riqueza privada também
foi desigual dentro dos países e em nível mundial. Os multimilionários globais auferiram
uma parcela desproporcional do crescimento da riqueza global nas últimas décadas. O
1% do topo da riqueza global ficou com 38% de toda a riqueza adicional acumulada desde
meados da década de 1990, enquanto os 50% da base ficou com apenas 2% da riqueza
global. A riqueza dos indivíduos mais ricos do planeta cresceu de 6% a 9% ao ano desde
1995, enquanto a riqueza média cresceu 3,2% ao ano. Desde 1995, a parcela da riqueza
global em mãos de bilionários aumentou de 1% para mais de 3%. Este aumento foi
exacerbado durante a pandemia do novo Coronavírus. A parcela da riqueza possuída pelos
bilionários do mundo aumentou de 1% da riqueza total das famílias em 1995 para quase
3,5% hoje. Na verdade, 2020 marcou o aumento mais acentuado na participação dos
bilionários globais na riqueza mundial já registrado no mundo (Figura 2).
Figura 2 – Desigualdade extrema de riqueza: o aumento dos bilionários globais,
1995-2021
Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website
<https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que o Oriente Médio e
o norte da África são as regiões mais desiguais do mundo em termos de renda e riqueza,
3
enquanto a Europa tem os níveis de desigualdade mais baixos. A desigualdade de renda
varia significativamente entre a região mais igualitária (Europa) e a mais desigual
(Oriente Médio e Norte da África). As desigualdades globais parecem ser tão grandes
hoje quanto no auge do imperialismo ocidental no início do século XX. Na verdade, a
parcela da renda atualmente auferida pela metade mais pobre da população mundial é
cerca de metade do que era em 1820, antes da grande ruptura entre os países ocidentais e
suas colônias.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as nações ficaram
mais ricas, mas os governos se tornaram mais pobres. Uma maneira de entender essas
desigualdades é observar a lacuna entre a riqueza líquida dos governos e a riqueza líquida
do setor privado. Nos últimos 40 anos, os países tornaram-se significativamente mais
ricos, mas seus governos tornaram-se significativamente mais pobres. A parcela da
riqueza detida pelos atores públicos é próxima de zero ou negativa nos países ricos, o que
significa que a totalidade da riqueza está em mãos privadas (Figura 3). Essa tendência foi
ampliada pela pandemia do novo Coronavirus, durante a qual os governos se endividaram
o equivalente a 10-20% do PIB, captando recursos essencialmente do setor privado.
Nossa conclusão é a de que, atualmente, a pouca riqueza disponível pelos governos
nacionais pode inviabilizar a capacidade do Estado nacional de promover o
desenvolvimento de seus países, superar as desigualdades de renda e riqueza no futuro,
bem como enfrentar os principais desafios do século XXI, como as mudanças climáticas.
Figura 3 – Riqueza do setor privado e do setor público nos países ricos, 1970-2020
Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website
<https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que a desigualdade
existente em todos os países do mundo é uma escolha política, não uma inevitabilidade.
As desigualdades de renda e de riqueza aumentaram em quase todo o mundo desde a
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década de 1980, após uma série de programas neoliberais de desregulamentação e
liberalização que assumiram diferentes formas em diferentes países. O aumento não foi
uniforme. Alguns países experimentaram aumentos espetaculares na desigualdade
(incluindo os Estados Unidos, Rússia e Índia), enquanto outros (países europeus e China)
experimentaram aumentos relativamente menores.
O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que enfrentar os
desafios do século XXI não é possível sem uma redução significativa das desigualdades
de renda e riqueza. Além disso, argumenta que a ascensão dos Estados de Bem-Estar
Social modernos no século XX, que foi associada a um grande progresso na saúde,
educação e oportunidades para todos, estava associada ao forte aumento de impostos
progressivos e que isto desempenhou um papel fundamental para garantir a aceitação
social e política do aumento da tributação e da socialização da riqueza, como é o caso dos
países escandinavos. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 apresenta
a tese de que uma evolução semelhante será necessária para os países em todo o mundo
enfrentarem os desafios do século XXI. O progresso em direção a políticas econômicas
mais justas é de fato possível, tanto em nível global como também dentro dos países.
O novo relatório da Oxfam Desigualdade S.A., disponível no website
<https://www.oxfam.org.br/noticias/os-cinco-homens-mais-ricos-do-mundo-dobraram-
suas-fortunas-desde-2020-enquanto-cinco-bilhoes-de-pessoas-ficaram-mais-pobres/>,
lançado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne lideranças políticas e
econômicas globais, e divulgado no dia 15/01 próximo passado, chega a conclusões
similares às do Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela
equipe de Thomas Piketty da Escola de Economia de Paris. Em síntese, o novo relatório
da Oxfam Desigualdade S.A. informa o seguinte:
 Os cinco homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas fortunas desde
2020 – de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões -, a uma taxa de US$ 14 milhões
por hora, enquanto quase cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres. A riqueza
dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou 114% desde 2020.
 Se a tendência atual continuar, o mundo terá seu primeiro trilionário em uma
década, mas a pobreza não será erradicada nos próximos 229 anos.
 As 148 maiores empresas do mundo lucraram US$ 1,8 trilhão, 52% a mais do que
a média dos últimos três anos, e distribuíram robustos dividendos para acionistas
ricos enquanto milhões de pessoas enfrentavam cortes em seus salários.
 Apesar de representarem apenas 21% da população global, os países mais ricos
do Norte Global detêm 69% da riqueza global e têm 74% da riqueza dos
bilionários do mundo.
 O 1% mais rico do mundo tem 43% de todos os ativos financeiros globais – 48%
no Oriente Médio, 50% na Ásia e 47% na Europa.
 Para cada US$ 100 de lucro obtido por cada uma das 96 maiores empresas do
mundo, entre julho de 2022 e junho de 2023, US$ 82 foram pagos a seus acionistas
mais ricos.
 As pessoas pelo mundo estão trabalhando mais e mais, muitas vezes por salários
baixos e empregos precários e inseguros. Os salários de quase 800 milhões de
trabalhadoras e trabalhadores não vêm acompanhando a inflação e perderam US$
1,5 trilhão nos últimos dois anos (ou 25 dias de salários perdidos por cada
trabalhador).
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 Os bilionários estão US$ 3,3 trilhões mais ricos do que em 2020 e sua riqueza
cresceu três vezes mais rápido do que a taxa de inflação no período.
 A “guerra contra a tributação” pelas corporações resultou numa redução
significativa do imposto sobre as empresas, para um terço do que era praticado
nas últimas décadas, enquanto essas corporações privatizaram o setor público,
segregando serviços como o de educação e de água.
Sobre o Brasil, o relatório da Oxfam Desigualdade S.A. informa o seguinte:
 Quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos tiveram um aumento de 51% de
sua riqueza desde 2020; ao mesmo tempo, 129 milhões de brasileiros ficaram mais
pobres.
 A pessoa mais rica do país possui uma fortuna equivalente à metade mais pobre do
Brasil (107 milhões de pessoas).
 O 1% mais rico do Brasil tem 60% dos ativos financeiros do país.
 Em média, o rendimento das pessoas brancas é mais de 70% superior à renda de
pessoas negras.
Para superar a desigualdade existente no mundo, a Oxfam sugere que os governos
reduzam drasticamente a diferença entre super-ricos e o resto da sociedade, por meio de:
 Revitalização do Estado. Um Estado dinâmico e eficiente é o melhor mecanismo
contra o poder corporativo extremo. Os governos deveriam assegurar saúde e
educação universais e explorar setores chave como energia e transporte.
 Controle do poder corporativo, inclusive por meio da quebra de monopólios e da
democratização das regras de patentes. Isto também significa legislar sobre salários
dignos, limitar os salários dos CEOs e criar novos impostos para os super-ricos e
empresas, incluindo impostos permanentes sobre a riqueza e sobre lucros excessivos.
A Oxfam estima que um imposto sobre a riqueza dos milionários e bilionários do
mundo poderia gerar US$ 1,8 trilhão por ano.
 Reinvenção dos negócios. As empresas competitivas e lucrativas não precisam ser
acorrentadas pela ganância dos acionistas. As empresas de propriedade democrática
equalizam melhor os rendimentos dos negócios. Se apenas 10% das empresas dos
Estados Unidos fossem propriedade dos trabalhadores, isso poderia duplicar a parcela
de riqueza da metade mais pobre da população dos Estados Unidos, incluindo a
duplicação da riqueza média das famílias negras.
A principal conclusão extraída do Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022
produzido pela equipe de Thomas Piketty e do relatório Desigualdade S.A. da Oxfam é a
de que as desigualdades de renda e de riqueza são crescentes no mundo e no Brasil em
que a maior parte delas é absorvida por uma pequena parcela da população de ricos em
detrimento da grande maioria da população de pobres e a maior parte delas é absorvida
pelo setor privado em detrimento do setor público. Muitos perguntam porque existem
disparidades de renda e de riqueza no mundo e como superá-las? Para responder a esta
pergunta é importante observar que riqueza e pobreza não podem ser tratadas de forma
isolada, uma vez que são as faces de uma mesma moeda formando um conjunto
irredutível. A riqueza e a pobreza constituem um “jogo de soma zero”. Ou seja, o ganho
dos ricos ocorre com a perda dos pobres e vice-versa. Para aumentar a renda e a riqueza
das populações e dos países ricos, é necessário evitar o aumento da renda e da riqueza das
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populações e dos países pobres e para aumentar a renda e a riqueza das populações e dos
países pobres, é necessário reduzir a renda e a riqueza das populações e dos países ricos.
A análise da riqueza não pode ser dissociada da pobreza, pois a concentração
da riqueza gera a exploração do homem sobre o homem que se constitui em elemento
fundante da pobreza.
Há um pensamento generalizado de que as causas da miséria e da pobreza estariam
vinculadas a desajustes familiares, ao despreparo educacional do indivíduo para o mundo
do trabalho e à falta de capacidade do indivíduo para empreender. Como será apresentado
nos parágrafos a seguir, as causas da pobreza estão relacionadas com as desigualdades
sociais resultantes da concentração da riqueza no capitalismo conforme foi demonstrado
no Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 e no relatório Desigualdade
S.A. da Oxfam. Por que associar a pobreza à sociedade capitalista, se sempre houve
pobreza e desigualdade ao longo da história da humanidade antes do capitalismo? Será
que este fenômeno, sempre presente nas diversas organizações sociais ao longo da história
da humanidade, apresenta alguma característica central no modo de produção capitalista,
diferente de outros sistemas sociais como o escravismo e o feudalismo que antecedeu o
capitalismo? Será que o capitalismo gera uma pobreza que se funda em bases diferentes
de outras sociedades?
Segundo Karl Marx, toda riqueza na sociedade capitalista é produto do trabalho, criada
pelos esforços físicos e mentais da classe trabalhadora. Os lucros, que significam o
retorno sobre o capital, são como Marx explicou em O Capital (Boitempo Editorial, São
Paulo, 2013) nada mais do que o trabalho não pago à classe trabalhadora, isto é, a
diferença entre o valor que é produzido de bem ou serviço e o valor que reverte aos
trabalhadores na forma de salários. Uma taxa crescente de lucro, portanto, apenas implica
em uma exploração crescente da classe trabalhadora, o que significa necessariamente uma
maior parte da riqueza na sociedade se acumulando nas mãos dos capitalistas, isto é, dos
detentores dos meios de produção. Marx demonstrou em seus três volumes de O Capital
como, por vários meios, o capitalismo pode explorar a classe trabalhadora por maiores
lucros como, por exemplo: 1) estendendo a jornada de trabalho, através de uma
intensificação do trabalho dentro de um dado tempo; e, 2) aumentando a eficiência e a
produtividade dos trabalhadores, através da substituição de trabalho por máquinas etc.
Tudo isto se reflete no aumento da proporção do trabalho não pago em relação ao valor
do que é produzido pelos trabalhadores.
Na sociedade capitalista não é o precário desenvolvimento que gera desigualdade social
e pobreza, como muitos pensam, mas o próprio desenvolvimento capitalista. No
capitalismo, quanto maior é a acumulação do capital, maior é a riqueza e maior, também,
é a pobreza. Quanto mais riqueza produz o trabalhador, maior é a exploração, mais
riqueza é expropriada (do trabalhador) e apropriada (pelo capitalista). Assim, não é a
escassez que gera a pobreza, mas a abundância (com a concentração da riqueza em poucas
mãos) que gera desigualdade e pauperização absoluta e relativa. Thomas Piketty,
economista francês, escreveu um livro chamado Capital in the Twenty-First Century
(Capital no século XXI) publicado pela The Belknap Press of Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts, 2014. Neste livro, Piketty coloca em xeque a visão,
amplamente aceita, de que o capitalismo de livre mercado distribui riqueza. O que Piketty
mostra estatisticamente é que o capital tendeu, através da história, a produzir níveis cada
vez maiores de desigualdade social com a concentração da riqueza. Esta é exatamente a
conclusão teórica de Karl Marx, no primeiro volume de sua versão de O Capital
7
(Boitempo Editorial, São Paulo, 2013). Em O Capital de Marx, a desigualdade é vista
não como o resultado da distribuição da riqueza como O Capital no Século XXI de Piketty
apresenta, mas como um resultado inevitável da produção da riqueza sob o capitalismo.
Hoje temos cada vez mais poucas famílias detendo quase a metade da riqueza global.
No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram
que o rendimento mensal dos 1% mais ricos do país é quase 34 vezes maior do que
o rendimento da metade mais pobre da população. Esses dados mostram que a
renda dos 5% mais pobres caiu em 3%, enquanto a renda dos 1% mais ricos
aumentou em 8%. Cerca de 889 mil pessoas são consideradas ricas no Brasil. Este
número representa apenas 0,42% da população brasileira. Aproximadamente 45 milhões
de brasileiros vivem com um rendimento mensal que é inferior ao valor de um salário-
mínimo. A população que se situa na pobreza no Brasil, segundo dados mais recentes do
IBGE, corresponde a 52 milhões de habitantes dos quais 15 milhões de pessoas estão em
situação de extrema pobreza. Entre aqueles que se situam em extrema pobreza e estão em
situação de rua no Brasil são de aproximadamente 221.869 pessoas de acordo com o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Pobres são, também, os que não
possuem moradias, que não usufruem o direito à habitação, que totalizou 5,8 milhões de
moradias em 2019, dos quais 79% concentraram-se em famílias de baixa renda.
O contraste gritante entre o colossal desenvolvimento econômico, científico e tecnológico
alcançado pela humanidade e a presença de imensos contingentes populacionais
submetidos à fome, à pobreza e à miséria é prova cabal do absoluto fracasso do
capitalismo como projeto civilizatório. Passados dois séculos e meio da Revolução
Industrial, que consolidou as bases materiais do modo de produção capitalista,
desencadeando uma escalada exponencial na produtividade do trabalho, mais de 1/4 da
humanidade ainda vive diariamente o flagelo da fome, da pobreza e da miséria. Este
problema reside na extrema concentração da renda e da riqueza. Numa sociedade
totalmente mercantilizada, quem é privado de dinheiro não possui meio de acesso à
comida. O crescente descompasso entre a ampliação desenfreada da riqueza e a
perpetuação da pobreza com gigantescas carências sociais é uma realidade inerente à
relação capital-trabalho. A fome, a pobreza e a miséria de grande parcela da população
são a expressão máxima da desigualdade social inerente ao modo de produção capitalista.
A presença de uma grande massa de trabalhadores empobrecidos que vivem no limiar da
sobrevivência biológica rebaixa o nível tradicional de vida do conjunto dos trabalhadores.
A pobreza e a miséria em grande escala funcionam, assim, como uma âncora que reduz o
custo de reprodução da força de trabalho, potencializando a extração de mais valia e a
elevação da taxa de lucro. A relação entre acumulação da riqueza e acumulação da
pobreza é direta e inexorável.
Será possível a superação das desigualdades sociais e da riqueza no capitalismo? A Oxfam
sugere que os governos reduzam drasticamente a diferença entre super-ricos e o resto da
sociedade, por meio da revitalização do Estado nacional tornando-o eficiente e eficaz, do
controle do poder corporativo com a quebra de monopólios privados, democratização das
regras de patentes, legislação sobre salários dignos, limitação dos salários dos CEOs e
criação de novos impostos para os super-ricos e empresas, incluindo impostos
permanentes sobre a riqueza e sobre lucros excessivos e a reinvenção dos negócios com
com a democratização do capital das empresas. Esta proposta só terá condições de ser
implementada se for implantado o Estado de Bem Estar social nos moldes do praticado
nos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) com a
necessária adaptação a cada país porque é o mais bem sucedido sistema social já
8
implantado no mundo e é o berço do modelo de sociedade mais igualitário que o
capitalismo já conheceu.
A origem do Estado de Bem Estar social nos moldes do praticado nos países escandinavos
remonta à Suécia dos anos 1930, quando se concretizou a hegemonia social democrata
no governo do país nórdico, dando início a uma série de reformas sociais e econômicas
que inauguraria um novo tipo de capitalismo, em oposição ao fracassado liberalismo
econômico das décadas anteriores. Nascia então o chamado modelo escandinavo de
desenvolvimento, que rapidamente ultrapassaria as fronteiras suecas para se tornar
influente no norte europeu, mas se tornou, também, uma referência importante na
formulação de políticas econômicas heterodoxas (progressistas) em todo o planeta. O
sucesso do modelo de sociedade dos países escandinavos se deveu à combinação de um
amplo Estado de Bem-Estar Social com rígidos mecanismos de regulação das forças de
mercado, capaz de colocar a economia em uma trajetória dinâmica, ao mesmo tempo em
que alcançava os melhores indicadores de bem-estar social entre os países capitalistas.
O relatório World Happiness Report 2020 demonstra que as nações mais felizes do mundo
estão na Escandinávia. Este fato comprova o sucesso do Estado de Bem Estar social nos
moldes do praticado nos países escandinavos. Os países nórdicos possuem a mais alta
classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de vida saudável, a maior
liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade. Este modelo de sociedade
deveria ser adotado como solução para reduzir as desigualdades sociais no mundo porque,
ao longo da história da humanidade, o capitalismo fracassou na construção de uma
sociedade econômica, social e politicamente justa e humana em vários países deixando
como herança a barbárie social da extrema riqueza e da extrema pobreza que caracteriza
o mundo em que vivemos. Para acabar com a barbárie social, promover o progresso
econômico e social e estabelecer uma convivência civilizada entre todos os seres humanos
urge a edificação de um novo modelo de sociedade em cada país do mundo que é,
portanto, o Estado de Bem Estar Social nos moldes escandinavos adaptado às condições
de cada país.
* Fernando Alcoforado, 84, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA
e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi
Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution
company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de
Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e
a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel,
São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade
9
ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da
ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da
humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton,
Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the
extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução
da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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  • 1. 1 COMO SUPERAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS E DE RIQUEZA NO MUNDO NA ERA CONTEMPORÂNEA Fernando Alcoforado* Este artigo tem por objetivo apresentar que o mundo convive há muitos anos com a existência da extrema riqueza e da extrema pobreza entre os seres humanos e com a existência de pouquíssimos países ricos que apresentam desenvolvimento econômico e social avançado ao lado da grande maioria de países pobres com precário desenvolvimento econômico e social. O contraste gritante no mundo e em cada país entre a excessiva concentração da riqueza e a presença de imensos contingentes populacionais submetidos à fome, à pobreza e à miséria é prova cabal do absoluto fracasso do capitalismo como projeto civilizatório. Esta situação impõe a necessidade de que ocorram mudanças na sociedade capitalista em que vivemos para superar as desigualdades sociais e de riqueza no mundo na era contemporânea. A análise das desigualdades de renda e de riqueza no mundo, tomando por base o Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela equipe de Thomas Piketty da Escola de Economia de Paris publicado no website <https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>, permite concluir que os 10% mais ricos da população global se apropriam atualmente de 52% da renda global, enquanto a metade mais pobre da população ganha 8% da renda mundial. O mapa mundial da desigualdade social (Figura 1) revela que, entre os países de alta renda, alguns são muito desiguais como os Estados Unidos, enquanto outros são relativamente igualitários, como, por exemplo, a Suécia. O mesmo vale para países de renda baixa e média, com alguns exibindo desigualdade extrema como, por exemplo, Brasil e Índia, níveis um tanto elevados como a China e níveis moderados a relativamente baixos, como, por exemplo, Malásia e Uruguai. No Brasil, os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos. Este valor é 7 vezes menor na França. Figura 1 – Mapa mundial da desigualdade social
  • 2. 2 Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website <https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>. Observação: Os países em cor vermelha são os que apresentam maior desigualdade social e os que apresentam cor amarela são os países com menor desigualdade social. Os países nas demais cores apresentam desigualdade social intermediária. Quanto mais tendendo para o vermelho, maior é a desigualdade social. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as desigualdades de riqueza global são ainda mais pronunciadas do que as desigualdades de renda da população global. A metade mais pobre da população global mal possui alguma riqueza, tem apenas 2% do total da riqueza mundial. Em contraste, os 10% mais ricos da população mundial possuem 76% de toda a riqueza do planeta. Na Europa, a riqueza dos 10% mais ricos é de cerca de 36% da riqueza total da região, enquanto no Oriente Médio e no norte da África este valor chega a 58% da riqueza total da região. Entre esses dois níveis, há uma diversidade de padrões. No Leste Asiático, os 10% mais ricos possuem 43% da riqueza total da região e na América Latina, 55% da riqueza total da região. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as desigualdades de riqueza aumentaram entre os países mais ricos. O aumento da riqueza privada também foi desigual dentro dos países e em nível mundial. Os multimilionários globais auferiram uma parcela desproporcional do crescimento da riqueza global nas últimas décadas. O 1% do topo da riqueza global ficou com 38% de toda a riqueza adicional acumulada desde meados da década de 1990, enquanto os 50% da base ficou com apenas 2% da riqueza global. A riqueza dos indivíduos mais ricos do planeta cresceu de 6% a 9% ao ano desde 1995, enquanto a riqueza média cresceu 3,2% ao ano. Desde 1995, a parcela da riqueza global em mãos de bilionários aumentou de 1% para mais de 3%. Este aumento foi exacerbado durante a pandemia do novo Coronavírus. A parcela da riqueza possuída pelos bilionários do mundo aumentou de 1% da riqueza total das famílias em 1995 para quase 3,5% hoje. Na verdade, 2020 marcou o aumento mais acentuado na participação dos bilionários globais na riqueza mundial já registrado no mundo (Figura 2). Figura 2 – Desigualdade extrema de riqueza: o aumento dos bilionários globais, 1995-2021 Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website <https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que o Oriente Médio e o norte da África são as regiões mais desiguais do mundo em termos de renda e riqueza,
  • 3. 3 enquanto a Europa tem os níveis de desigualdade mais baixos. A desigualdade de renda varia significativamente entre a região mais igualitária (Europa) e a mais desigual (Oriente Médio e Norte da África). As desigualdades globais parecem ser tão grandes hoje quanto no auge do imperialismo ocidental no início do século XX. Na verdade, a parcela da renda atualmente auferida pela metade mais pobre da população mundial é cerca de metade do que era em 1820, antes da grande ruptura entre os países ocidentais e suas colônias. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que as nações ficaram mais ricas, mas os governos se tornaram mais pobres. Uma maneira de entender essas desigualdades é observar a lacuna entre a riqueza líquida dos governos e a riqueza líquida do setor privado. Nos últimos 40 anos, os países tornaram-se significativamente mais ricos, mas seus governos tornaram-se significativamente mais pobres. A parcela da riqueza detida pelos atores públicos é próxima de zero ou negativa nos países ricos, o que significa que a totalidade da riqueza está em mãos privadas (Figura 3). Essa tendência foi ampliada pela pandemia do novo Coronavirus, durante a qual os governos se endividaram o equivalente a 10-20% do PIB, captando recursos essencialmente do setor privado. Nossa conclusão é a de que, atualmente, a pouca riqueza disponível pelos governos nacionais pode inviabilizar a capacidade do Estado nacional de promover o desenvolvimento de seus países, superar as desigualdades de renda e riqueza no futuro, bem como enfrentar os principais desafios do século XXI, como as mudanças climáticas. Figura 3 – Riqueza do setor privado e do setor público nos países ricos, 1970-2020 Fonte: OUTRAS PALAVRAS. O novo mapa da desigualdade global. Disponível no website <https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/novo-mapa-da-desigualdade-global/>. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que a desigualdade existente em todos os países do mundo é uma escolha política, não uma inevitabilidade. As desigualdades de renda e de riqueza aumentaram em quase todo o mundo desde a
  • 4. 4 década de 1980, após uma série de programas neoliberais de desregulamentação e liberalização que assumiram diferentes formas em diferentes países. O aumento não foi uniforme. Alguns países experimentaram aumentos espetaculares na desigualdade (incluindo os Estados Unidos, Rússia e Índia), enquanto outros (países europeus e China) experimentaram aumentos relativamente menores. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 informa que enfrentar os desafios do século XXI não é possível sem uma redução significativa das desigualdades de renda e riqueza. Além disso, argumenta que a ascensão dos Estados de Bem-Estar Social modernos no século XX, que foi associada a um grande progresso na saúde, educação e oportunidades para todos, estava associada ao forte aumento de impostos progressivos e que isto desempenhou um papel fundamental para garantir a aceitação social e política do aumento da tributação e da socialização da riqueza, como é o caso dos países escandinavos. O Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 apresenta a tese de que uma evolução semelhante será necessária para os países em todo o mundo enfrentarem os desafios do século XXI. O progresso em direção a políticas econômicas mais justas é de fato possível, tanto em nível global como também dentro dos países. O novo relatório da Oxfam Desigualdade S.A., disponível no website <https://www.oxfam.org.br/noticias/os-cinco-homens-mais-ricos-do-mundo-dobraram- suas-fortunas-desde-2020-enquanto-cinco-bilhoes-de-pessoas-ficaram-mais-pobres/>, lançado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne lideranças políticas e econômicas globais, e divulgado no dia 15/01 próximo passado, chega a conclusões similares às do Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela equipe de Thomas Piketty da Escola de Economia de Paris. Em síntese, o novo relatório da Oxfam Desigualdade S.A. informa o seguinte:  Os cinco homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas fortunas desde 2020 – de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões -, a uma taxa de US$ 14 milhões por hora, enquanto quase cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres. A riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou 114% desde 2020.  Se a tendência atual continuar, o mundo terá seu primeiro trilionário em uma década, mas a pobreza não será erradicada nos próximos 229 anos.  As 148 maiores empresas do mundo lucraram US$ 1,8 trilhão, 52% a mais do que a média dos últimos três anos, e distribuíram robustos dividendos para acionistas ricos enquanto milhões de pessoas enfrentavam cortes em seus salários.  Apesar de representarem apenas 21% da população global, os países mais ricos do Norte Global detêm 69% da riqueza global e têm 74% da riqueza dos bilionários do mundo.  O 1% mais rico do mundo tem 43% de todos os ativos financeiros globais – 48% no Oriente Médio, 50% na Ásia e 47% na Europa.  Para cada US$ 100 de lucro obtido por cada uma das 96 maiores empresas do mundo, entre julho de 2022 e junho de 2023, US$ 82 foram pagos a seus acionistas mais ricos.  As pessoas pelo mundo estão trabalhando mais e mais, muitas vezes por salários baixos e empregos precários e inseguros. Os salários de quase 800 milhões de trabalhadoras e trabalhadores não vêm acompanhando a inflação e perderam US$ 1,5 trilhão nos últimos dois anos (ou 25 dias de salários perdidos por cada trabalhador).
  • 5. 5  Os bilionários estão US$ 3,3 trilhões mais ricos do que em 2020 e sua riqueza cresceu três vezes mais rápido do que a taxa de inflação no período.  A “guerra contra a tributação” pelas corporações resultou numa redução significativa do imposto sobre as empresas, para um terço do que era praticado nas últimas décadas, enquanto essas corporações privatizaram o setor público, segregando serviços como o de educação e de água. Sobre o Brasil, o relatório da Oxfam Desigualdade S.A. informa o seguinte:  Quatro dos cinco bilionários brasileiros mais ricos tiveram um aumento de 51% de sua riqueza desde 2020; ao mesmo tempo, 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres.  A pessoa mais rica do país possui uma fortuna equivalente à metade mais pobre do Brasil (107 milhões de pessoas).  O 1% mais rico do Brasil tem 60% dos ativos financeiros do país.  Em média, o rendimento das pessoas brancas é mais de 70% superior à renda de pessoas negras. Para superar a desigualdade existente no mundo, a Oxfam sugere que os governos reduzam drasticamente a diferença entre super-ricos e o resto da sociedade, por meio de:  Revitalização do Estado. Um Estado dinâmico e eficiente é o melhor mecanismo contra o poder corporativo extremo. Os governos deveriam assegurar saúde e educação universais e explorar setores chave como energia e transporte.  Controle do poder corporativo, inclusive por meio da quebra de monopólios e da democratização das regras de patentes. Isto também significa legislar sobre salários dignos, limitar os salários dos CEOs e criar novos impostos para os super-ricos e empresas, incluindo impostos permanentes sobre a riqueza e sobre lucros excessivos. A Oxfam estima que um imposto sobre a riqueza dos milionários e bilionários do mundo poderia gerar US$ 1,8 trilhão por ano.  Reinvenção dos negócios. As empresas competitivas e lucrativas não precisam ser acorrentadas pela ganância dos acionistas. As empresas de propriedade democrática equalizam melhor os rendimentos dos negócios. Se apenas 10% das empresas dos Estados Unidos fossem propriedade dos trabalhadores, isso poderia duplicar a parcela de riqueza da metade mais pobre da população dos Estados Unidos, incluindo a duplicação da riqueza média das famílias negras. A principal conclusão extraída do Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 produzido pela equipe de Thomas Piketty e do relatório Desigualdade S.A. da Oxfam é a de que as desigualdades de renda e de riqueza são crescentes no mundo e no Brasil em que a maior parte delas é absorvida por uma pequena parcela da população de ricos em detrimento da grande maioria da população de pobres e a maior parte delas é absorvida pelo setor privado em detrimento do setor público. Muitos perguntam porque existem disparidades de renda e de riqueza no mundo e como superá-las? Para responder a esta pergunta é importante observar que riqueza e pobreza não podem ser tratadas de forma isolada, uma vez que são as faces de uma mesma moeda formando um conjunto irredutível. A riqueza e a pobreza constituem um “jogo de soma zero”. Ou seja, o ganho dos ricos ocorre com a perda dos pobres e vice-versa. Para aumentar a renda e a riqueza das populações e dos países ricos, é necessário evitar o aumento da renda e da riqueza das
  • 6. 6 populações e dos países pobres e para aumentar a renda e a riqueza das populações e dos países pobres, é necessário reduzir a renda e a riqueza das populações e dos países ricos. A análise da riqueza não pode ser dissociada da pobreza, pois a concentração da riqueza gera a exploração do homem sobre o homem que se constitui em elemento fundante da pobreza. Há um pensamento generalizado de que as causas da miséria e da pobreza estariam vinculadas a desajustes familiares, ao despreparo educacional do indivíduo para o mundo do trabalho e à falta de capacidade do indivíduo para empreender. Como será apresentado nos parágrafos a seguir, as causas da pobreza estão relacionadas com as desigualdades sociais resultantes da concentração da riqueza no capitalismo conforme foi demonstrado no Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022 e no relatório Desigualdade S.A. da Oxfam. Por que associar a pobreza à sociedade capitalista, se sempre houve pobreza e desigualdade ao longo da história da humanidade antes do capitalismo? Será que este fenômeno, sempre presente nas diversas organizações sociais ao longo da história da humanidade, apresenta alguma característica central no modo de produção capitalista, diferente de outros sistemas sociais como o escravismo e o feudalismo que antecedeu o capitalismo? Será que o capitalismo gera uma pobreza que se funda em bases diferentes de outras sociedades? Segundo Karl Marx, toda riqueza na sociedade capitalista é produto do trabalho, criada pelos esforços físicos e mentais da classe trabalhadora. Os lucros, que significam o retorno sobre o capital, são como Marx explicou em O Capital (Boitempo Editorial, São Paulo, 2013) nada mais do que o trabalho não pago à classe trabalhadora, isto é, a diferença entre o valor que é produzido de bem ou serviço e o valor que reverte aos trabalhadores na forma de salários. Uma taxa crescente de lucro, portanto, apenas implica em uma exploração crescente da classe trabalhadora, o que significa necessariamente uma maior parte da riqueza na sociedade se acumulando nas mãos dos capitalistas, isto é, dos detentores dos meios de produção. Marx demonstrou em seus três volumes de O Capital como, por vários meios, o capitalismo pode explorar a classe trabalhadora por maiores lucros como, por exemplo: 1) estendendo a jornada de trabalho, através de uma intensificação do trabalho dentro de um dado tempo; e, 2) aumentando a eficiência e a produtividade dos trabalhadores, através da substituição de trabalho por máquinas etc. Tudo isto se reflete no aumento da proporção do trabalho não pago em relação ao valor do que é produzido pelos trabalhadores. Na sociedade capitalista não é o precário desenvolvimento que gera desigualdade social e pobreza, como muitos pensam, mas o próprio desenvolvimento capitalista. No capitalismo, quanto maior é a acumulação do capital, maior é a riqueza e maior, também, é a pobreza. Quanto mais riqueza produz o trabalhador, maior é a exploração, mais riqueza é expropriada (do trabalhador) e apropriada (pelo capitalista). Assim, não é a escassez que gera a pobreza, mas a abundância (com a concentração da riqueza em poucas mãos) que gera desigualdade e pauperização absoluta e relativa. Thomas Piketty, economista francês, escreveu um livro chamado Capital in the Twenty-First Century (Capital no século XXI) publicado pela The Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts, 2014. Neste livro, Piketty coloca em xeque a visão, amplamente aceita, de que o capitalismo de livre mercado distribui riqueza. O que Piketty mostra estatisticamente é que o capital tendeu, através da história, a produzir níveis cada vez maiores de desigualdade social com a concentração da riqueza. Esta é exatamente a conclusão teórica de Karl Marx, no primeiro volume de sua versão de O Capital
  • 7. 7 (Boitempo Editorial, São Paulo, 2013). Em O Capital de Marx, a desigualdade é vista não como o resultado da distribuição da riqueza como O Capital no Século XXI de Piketty apresenta, mas como um resultado inevitável da produção da riqueza sob o capitalismo. Hoje temos cada vez mais poucas famílias detendo quase a metade da riqueza global. No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o rendimento mensal dos 1% mais ricos do país é quase 34 vezes maior do que o rendimento da metade mais pobre da população. Esses dados mostram que a renda dos 5% mais pobres caiu em 3%, enquanto a renda dos 1% mais ricos aumentou em 8%. Cerca de 889 mil pessoas são consideradas ricas no Brasil. Este número representa apenas 0,42% da população brasileira. Aproximadamente 45 milhões de brasileiros vivem com um rendimento mensal que é inferior ao valor de um salário- mínimo. A população que se situa na pobreza no Brasil, segundo dados mais recentes do IBGE, corresponde a 52 milhões de habitantes dos quais 15 milhões de pessoas estão em situação de extrema pobreza. Entre aqueles que se situam em extrema pobreza e estão em situação de rua no Brasil são de aproximadamente 221.869 pessoas de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Pobres são, também, os que não possuem moradias, que não usufruem o direito à habitação, que totalizou 5,8 milhões de moradias em 2019, dos quais 79% concentraram-se em famílias de baixa renda. O contraste gritante entre o colossal desenvolvimento econômico, científico e tecnológico alcançado pela humanidade e a presença de imensos contingentes populacionais submetidos à fome, à pobreza e à miséria é prova cabal do absoluto fracasso do capitalismo como projeto civilizatório. Passados dois séculos e meio da Revolução Industrial, que consolidou as bases materiais do modo de produção capitalista, desencadeando uma escalada exponencial na produtividade do trabalho, mais de 1/4 da humanidade ainda vive diariamente o flagelo da fome, da pobreza e da miséria. Este problema reside na extrema concentração da renda e da riqueza. Numa sociedade totalmente mercantilizada, quem é privado de dinheiro não possui meio de acesso à comida. O crescente descompasso entre a ampliação desenfreada da riqueza e a perpetuação da pobreza com gigantescas carências sociais é uma realidade inerente à relação capital-trabalho. A fome, a pobreza e a miséria de grande parcela da população são a expressão máxima da desigualdade social inerente ao modo de produção capitalista. A presença de uma grande massa de trabalhadores empobrecidos que vivem no limiar da sobrevivência biológica rebaixa o nível tradicional de vida do conjunto dos trabalhadores. A pobreza e a miséria em grande escala funcionam, assim, como uma âncora que reduz o custo de reprodução da força de trabalho, potencializando a extração de mais valia e a elevação da taxa de lucro. A relação entre acumulação da riqueza e acumulação da pobreza é direta e inexorável. Será possível a superação das desigualdades sociais e da riqueza no capitalismo? A Oxfam sugere que os governos reduzam drasticamente a diferença entre super-ricos e o resto da sociedade, por meio da revitalização do Estado nacional tornando-o eficiente e eficaz, do controle do poder corporativo com a quebra de monopólios privados, democratização das regras de patentes, legislação sobre salários dignos, limitação dos salários dos CEOs e criação de novos impostos para os super-ricos e empresas, incluindo impostos permanentes sobre a riqueza e sobre lucros excessivos e a reinvenção dos negócios com com a democratização do capital das empresas. Esta proposta só terá condições de ser implementada se for implantado o Estado de Bem Estar social nos moldes do praticado nos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) com a necessária adaptação a cada país porque é o mais bem sucedido sistema social já
  • 8. 8 implantado no mundo e é o berço do modelo de sociedade mais igualitário que o capitalismo já conheceu. A origem do Estado de Bem Estar social nos moldes do praticado nos países escandinavos remonta à Suécia dos anos 1930, quando se concretizou a hegemonia social democrata no governo do país nórdico, dando início a uma série de reformas sociais e econômicas que inauguraria um novo tipo de capitalismo, em oposição ao fracassado liberalismo econômico das décadas anteriores. Nascia então o chamado modelo escandinavo de desenvolvimento, que rapidamente ultrapassaria as fronteiras suecas para se tornar influente no norte europeu, mas se tornou, também, uma referência importante na formulação de políticas econômicas heterodoxas (progressistas) em todo o planeta. O sucesso do modelo de sociedade dos países escandinavos se deveu à combinação de um amplo Estado de Bem-Estar Social com rígidos mecanismos de regulação das forças de mercado, capaz de colocar a economia em uma trajetória dinâmica, ao mesmo tempo em que alcançava os melhores indicadores de bem-estar social entre os países capitalistas. O relatório World Happiness Report 2020 demonstra que as nações mais felizes do mundo estão na Escandinávia. Este fato comprova o sucesso do Estado de Bem Estar social nos moldes do praticado nos países escandinavos. Os países nórdicos possuem a mais alta classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de vida saudável, a maior liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade. Este modelo de sociedade deveria ser adotado como solução para reduzir as desigualdades sociais no mundo porque, ao longo da história da humanidade, o capitalismo fracassou na construção de uma sociedade econômica, social e politicamente justa e humana em vários países deixando como herança a barbárie social da extrema riqueza e da extrema pobreza que caracteriza o mundo em que vivemos. Para acabar com a barbárie social, promover o progresso econômico e social e estabelecer uma convivência civilizada entre todos os seres humanos urge a edificação de um novo modelo de sociedade em cada país do mundo que é, portanto, o Estado de Bem Estar Social nos moldes escandinavos adaptado às condições de cada país. * Fernando Alcoforado, 84, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co- autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade
  • 9. 9 ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).