Alguns riscos da caricatura no teatro de revista

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Maria Odette Monteiro Teixeira

Alguns riscos da caricatura no Teatro de Revista

Maria Odette Monteiro Teixeira
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas UNIRIO
Doutorando – História e Historiografia do Teatro - Or. Flora Süssekind

Resumo: O trabalho investiga a relação entre a caricatura e o Teatro de Revista brasileiro
nas três primeiras décadas do século XX, utilizando como base os nomes de três artistas
que trabalharam nas duas áreas: Luiz Peixoto, Raul Pederneiras e J. Carlos. São artistas
que retrataram com humor e inteligência a vida da cidade do Rio de Janeiro dos períodos
denominados República Velha à Era Vargas. O que se quer saber é em que medida o
universo plástico da caricatura colabora na construção dos quadros do Teatro de Revista,
como também se nos elementos constituidores dos caricaturais personagens do teatro de
revista (chamados personagens tipo) há traços que se originariam da deformação sugerida
na caricatura. O objetivo é verificar se há um deslocamento do desenho para o palco e vice-
versa.

Palavras-chave: Caricatura, Teatro.

           Nas primeiras décadas do século XX, período de imensas transformações na
cidade do Rio de Janeiro, capital da novíssima república, três caricaturistas famosos no
meio jornalístico aventuraram-se nos palcos do Teatro de Revista, são eles: Raul
Pederneiras (1874-1953), J. Carlos (1884 – 1950) e Luiz Peixoto (1889 – 1973). Trata-se de
artistas polivalentes, capazes de passar do desenho ao palco. Os três colaboraram entre si
e, na medida em que faziam parte da elite intelectual carioca, tiveram grande influência
como formadores de opinião e criadores de moda. Eles, como também os cronistas da
cidade, João do Rio, Lima Barreto, Orestes Barbosa e Francisco Guimarães,
testemunharam de forma crítica e original as transformações da sociedade brasileira de seu
tempo.
           Dos três artistas escolhidos, Raul Pederneiras é o único de formação acadêmica.
Embora seja conhecido principalmente como pintor e caricaturista, Pederneiras também foi
professor de Direito da antiga Universidade do Brasil, bem como ensinou na Escola
Nacional de Belas Artes. Estreou na caricatura em O Mercúrio, jornal impresso onde
trabalhou em parceria com o caricaturista K. Lixto. Participou de diversos periódicos
cariocas, a exemplo de Revista da Semana, O Tagarela, D. Quixote, Fon-Fon, O Malho e
Jornal do Brasil. É famosa a sua série de charges “Cenas da Vida Carioca”, na qual
documenta a saga humana e social do Rio de Janeiro, contemplando os dois universos: o
da elite e o das classes populares.
           Em 1907, participa com K. Lixto e João Foca de uma conferência humorística
ilustrada promovida pela revista Fon-Fon no Palace Hotel. O evento tem como tema os tipos
cariocas, e, partindo dessa temática, os caricaturistas deveriam realizar em público as
ilustrações. O sucesso levará Raul a repetir o evento ao qual incorporará os nomes de Luiz
Peixoto e J. Carlos.
Fundou e presidiu a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como também foi
um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Em 1922, publicou
Geringonça Carioca, um dicionário de gírias recolhidas dos universos marginais da cidade
do Rio de Janeiro.
            No campo do Teatro, segundo a historiadora Laura Moutinho Nery, Pederneiras
escreveu mais de quarenta peças, entre revistas, comédias e entreatos, sendo que a grande
maioria foi fruto de parcerias com Vicente Reis e Luiz Peixoto. Sua estreia como autor
teatral acontece em 1903 com a revista O Esfolado, em parceria com Vicente Reis. A
encenação no Teatro Apollo trazia o popularíssimo ator Brandão vivendo o personagem
alegórico “o povo”, e o ator Peixoto como Jamegão, gíria relativa à assinatura, numa alusão
direta à assinatura oficial que baixava decretos prejudicando as camadas populares. O
historiador Herman Lima destaca alguns exemplos dessa produção dramatúrgica como: O
Badalo, escrita com Vicente Reis (1904); e Berliques e Berloques, revista encenada no
Teatro Recreio Dramático, em 1907, a qual tinha entre seus personagens a figura de
“Piadinhas”, um alter ego de Pederneiras , que brincava com as palavras e abusava dos
trocadilhos (uma especialidade de Raul). O personagem, vivido pelo ator Olimpio Nogueira,
subiu ao palco devidamente caracterizado como o caricaturista. Vestia um terno que
valorizava o porte longilíneo, com destaque para os amplos bigodes que Pederneiras
conservou a vida toda. Outro destaque foi a revista Pega na Chaleira, escrita em 1909 com
Ataliba Reis. O título se refere à gíria chaleirar, significando adular, bajular, numa alusão aos
frequentadores das rodas de chimarrão promovidas pelo poderoso senador da república, o
gaúcho Pinheiro Machado. A peça já antecipava a forma da chamada Revista Carnavalesca,
que era composta por quadros autônomos, sem um elo entre si. Em 1912, Raul escreve O
Rio civiliza-se, revista que tem como assunto a remodelagem da cidade com as reformas do
prefeito Pereira Passos. Em 1915, apresenta no Teatro São Pedro A última do Dudu texto
que faz aberta referência ao apelido jocoso do presidente Hermes da Fonseca. Na década
de 1920, Raul se desencanta com o gênero das revistas e passa a escrever comédias,
dentre elas vale destacar: Vamos pintar o sete (1922), texto que critica o modernismo
paulista; O Chá de Sabugueiro, sucesso de público em 1931; e Meu Pedaço, escrita em
parceria com outro humorista importante, Aparício Torellly, e também encenada em 1931
pela companhia de Araci Cortes.
            Como fica claro nesse breve relato biográfico, Raul Pederneiras produziu uma
obra teatral considerável em termos quantitativos, falta recuperar e analisar a qualidade
desses textos.
            J. Carlos é pseudônimo de Carlos de Brito Cunha, considerado o mais criativo
caricaturista brasileiro da primeira metade do séc. XX. Ele entra no mundo da caricatura em
1902, na publicação O Tagarela, dirigida por Raul Pederneiras e K. Lixto (1877 - 1957). No
ano seguinte, contribui com diversas publicações adultas e infantis, até que, em 1908,
emprega-se na revista A Careta, onde trabalha até 1921. Paralelamente, colabora com
diversas publicações, entre elas as revistas Fon-Fon, A Cigarra e O Malho, sendo esta
última dirigida por ele a partir de 1918. Entre 1922 e 1930, trabalhando como diretor artístico
de O Malho, inicia uma série de charges de caráter político, satirizando fatos e
personalidades nacionais e estrangeiras. É famosa sua série de charges antibelicistas
executadas no período abrangido pelas duas grandes guerras. J. Carlos faz a crônica visual
da vida do carioca. Suas charges retratam o surgimento de novidades culturais e
tecnológicas que modificaram a vida do brasileiro, tais como: o telefone, a fotografia, o
chope, o samba, o bonde elétrico, o automóvel, o cinema, o rádio e o avião. Ele destacou a
cultura do futebol, da praia e principalmente do carnaval, como também expôs as mazelas
de cidade, como as enchentes, a falta d’água, a dificuldade de moradia e o trânsito
desorganizado. J. Carlos criou com seu lápis a negrinha lamparina, o almofadinha e a
famosa melindrosa, jovem esguia, elegante de olhos redondos e cabelo cortado à la
garçonne, imagem criada entre a ingenuidade e ousadia, a qual se tornou o tipo ideal da
jovem de elite.
           No Teatro de Revista, J. Carlos atuou como cenógrafo e figurinista, colaborando
em espetáculos criados por Luis Peixoto. Como dramaturgo, foi autor de uma única peça, a
revista É do Outro Mundo, com música de Ari Barroso e J. Cristobal, a qual foi sucesso de
público no teatro Recreio, em 1930. O texto está sendo recuperado juntamente com o
material iconográfico da montagem.
           Luiz Peixoto é, dos três artistas, o mais conhecido no universo do Teatro de
Revista, onde desempenhou uma bem-sucedida carreira. No entanto, antes do teatro, ainda
muito jovem, experimentou o gosto pela caricatura. Apresentou originariamente seu traço na
Revista da Semana, e é nesse periódico que conheceu Raul Pederneiras, com quem criará
caricaturas a quatro mãos, sob a assinatura acronemática de Raiz. Colaborou também nas
revistas O Malho, O Papagaio, A Avenida, Tan-Tan e Fon- Fon. Trabalhou no Jornal do
Brasil como desenhista para depois se tornar redator.
           No teatro, seu nome ficou conhecido com o sucesso da burleta Forrobodó
(1912), escrita em parceria com o jornalista Carlos Bittencourt e com músicas de Chiquinha
Gonzaga. A peça conquistou o público e chegou à marca de 1.500 apresentações. Na
década de 1920 vai a Paris conhecer o teatro europeu, chegando a trabalhar como
cenógrafo no Teatre de l'Ouvre com Lugne Poe. A experiência influenciou seus trabalhos no
Teatro de Revista carioca. Foi um dos mais importantes autores desse gênero, produzindo,
pelo menos, 110 peças. Foi também letrista de grandes sucessos da música popular
brasileira, como: Na Batucada da Vida, É Luxo Só, entre outros.
A pesquisa que começo a desenvolver visa a recuperar e analisar os textos
teatrais desses caricaturistas e relacioná-los com a produção caricatural da época. O
objetivo é verificar como um universo alimenta o outro, e, assim, perceber em que medida
os procedimentos de comicidade próprios do desenho de humor se adéquam ao palco, bem
como de que maneira o universo plástico da caricatura colabora na construção dos quadros
do Teatro de Revista. Assim, acredito que se possa perceber, dentro desses elementos
constituidores dos personagens caricaturais do teatro de revista (chamados personagens
tipo), traços que se originariam, em verdade, da deformação sugerida na caricatura.
           É importante lembrar que nessas duas formas de expressão (caricatura e Teatro
de Revista) empregam-se recursos afins de linguagem. Nos dois espaços é possível usar
personagens alegóricos, a exemplo de quando se retrata uma bela jovem representando a
República ou uma senhora elegante representando a rua do Ouvidor. Se no Teatro de
Revista o doublé sense (duplo sentido) é extremamente explorado, valorizando a malícia do
texto, tal recurso também cabe no universo do desenho de humor. Outro dado que merece
ser mencionado é que na convenção do Teatro de Revista há o quadro “caricatura viva”, que
consiste em retratar indivíduos que estejam em evidência, seja na política, seja na imprensa
ou nas artes.
           Relacionar o Teatro de Revista com a caricatura dos artistas citados já
possibilitaria uma pesquisa instigante, pois é claramente perceptível uma teatralidade
inerente nas situações tratada nessas charges. A forma como expõem a vida cotidiana da
cidade nos faz pensar numa verdadeira apresentação de sketches. Nesse contexto, a
natureza ambivalente do humor permite que se perceba de forma crítica as contradições
dessa sociedade que por um lado quer se civilizar à francesa, mas de outro situa-se num
contexto físico e social ainda muito próximo do universo colonial escravista. No entanto,
para além dessa dramaturgia imagética existe uma dramaturgia textual testemunhando uma
ligação efetiva de nossos caricaturistas com o universo do teatro.




                            REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963. 4vol.

MENCARELLI, Fernando. A cena aberta. A absolvição de um Bilontra e o teatro de revista
de Arthur Azevedo. Campinas, Ed. da Unicamp, 1999.

NERY, Laura Moutinho. Cenas da vida carioca: Raul Pederneiras e a belle époque do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000. Dissertação (Mestrado) - Departamento de História,
Pontifícia Universidade Católica.
SODRÉ TEIXEIRA, Luiz Guilherme. O traço como texto: a história da charge no Rio de
Janeiro de 1860 a 1930. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001.
http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB Quinta 12 de Agosto de
2010 14horas.

SUSSEKIND, Flora. As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.

VELLOSO, Mônica Pimenta. Modernismo no Rio de Janeiro. Turunas e quixotes. Rio de
Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996.

VENEZIANO, Neyde. Não Adianta Chorar: Teatro de Revista Brasileiro, Oba!. Campinas SP:
Editora da Unicamp, 1996.

______. O Teatro de Revista no Brasil: Dramaturgia e Convenções. Campinas SP: Editora
da Unicamp, 1991.

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  • 1. Alguns riscos da caricatura no Teatro de Revista Maria Odette Monteiro Teixeira Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas UNIRIO Doutorando – História e Historiografia do Teatro - Or. Flora Süssekind Resumo: O trabalho investiga a relação entre a caricatura e o Teatro de Revista brasileiro nas três primeiras décadas do século XX, utilizando como base os nomes de três artistas que trabalharam nas duas áreas: Luiz Peixoto, Raul Pederneiras e J. Carlos. São artistas que retrataram com humor e inteligência a vida da cidade do Rio de Janeiro dos períodos denominados República Velha à Era Vargas. O que se quer saber é em que medida o universo plástico da caricatura colabora na construção dos quadros do Teatro de Revista, como também se nos elementos constituidores dos caricaturais personagens do teatro de revista (chamados personagens tipo) há traços que se originariam da deformação sugerida na caricatura. O objetivo é verificar se há um deslocamento do desenho para o palco e vice- versa. Palavras-chave: Caricatura, Teatro. Nas primeiras décadas do século XX, período de imensas transformações na cidade do Rio de Janeiro, capital da novíssima república, três caricaturistas famosos no meio jornalístico aventuraram-se nos palcos do Teatro de Revista, são eles: Raul Pederneiras (1874-1953), J. Carlos (1884 – 1950) e Luiz Peixoto (1889 – 1973). Trata-se de artistas polivalentes, capazes de passar do desenho ao palco. Os três colaboraram entre si e, na medida em que faziam parte da elite intelectual carioca, tiveram grande influência como formadores de opinião e criadores de moda. Eles, como também os cronistas da cidade, João do Rio, Lima Barreto, Orestes Barbosa e Francisco Guimarães, testemunharam de forma crítica e original as transformações da sociedade brasileira de seu tempo. Dos três artistas escolhidos, Raul Pederneiras é o único de formação acadêmica. Embora seja conhecido principalmente como pintor e caricaturista, Pederneiras também foi professor de Direito da antiga Universidade do Brasil, bem como ensinou na Escola Nacional de Belas Artes. Estreou na caricatura em O Mercúrio, jornal impresso onde trabalhou em parceria com o caricaturista K. Lixto. Participou de diversos periódicos cariocas, a exemplo de Revista da Semana, O Tagarela, D. Quixote, Fon-Fon, O Malho e Jornal do Brasil. É famosa a sua série de charges “Cenas da Vida Carioca”, na qual documenta a saga humana e social do Rio de Janeiro, contemplando os dois universos: o da elite e o das classes populares. Em 1907, participa com K. Lixto e João Foca de uma conferência humorística ilustrada promovida pela revista Fon-Fon no Palace Hotel. O evento tem como tema os tipos cariocas, e, partindo dessa temática, os caricaturistas deveriam realizar em público as ilustrações. O sucesso levará Raul a repetir o evento ao qual incorporará os nomes de Luiz Peixoto e J. Carlos.
  • 2. Fundou e presidiu a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como também foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Em 1922, publicou Geringonça Carioca, um dicionário de gírias recolhidas dos universos marginais da cidade do Rio de Janeiro. No campo do Teatro, segundo a historiadora Laura Moutinho Nery, Pederneiras escreveu mais de quarenta peças, entre revistas, comédias e entreatos, sendo que a grande maioria foi fruto de parcerias com Vicente Reis e Luiz Peixoto. Sua estreia como autor teatral acontece em 1903 com a revista O Esfolado, em parceria com Vicente Reis. A encenação no Teatro Apollo trazia o popularíssimo ator Brandão vivendo o personagem alegórico “o povo”, e o ator Peixoto como Jamegão, gíria relativa à assinatura, numa alusão direta à assinatura oficial que baixava decretos prejudicando as camadas populares. O historiador Herman Lima destaca alguns exemplos dessa produção dramatúrgica como: O Badalo, escrita com Vicente Reis (1904); e Berliques e Berloques, revista encenada no Teatro Recreio Dramático, em 1907, a qual tinha entre seus personagens a figura de “Piadinhas”, um alter ego de Pederneiras , que brincava com as palavras e abusava dos trocadilhos (uma especialidade de Raul). O personagem, vivido pelo ator Olimpio Nogueira, subiu ao palco devidamente caracterizado como o caricaturista. Vestia um terno que valorizava o porte longilíneo, com destaque para os amplos bigodes que Pederneiras conservou a vida toda. Outro destaque foi a revista Pega na Chaleira, escrita em 1909 com Ataliba Reis. O título se refere à gíria chaleirar, significando adular, bajular, numa alusão aos frequentadores das rodas de chimarrão promovidas pelo poderoso senador da república, o gaúcho Pinheiro Machado. A peça já antecipava a forma da chamada Revista Carnavalesca, que era composta por quadros autônomos, sem um elo entre si. Em 1912, Raul escreve O Rio civiliza-se, revista que tem como assunto a remodelagem da cidade com as reformas do prefeito Pereira Passos. Em 1915, apresenta no Teatro São Pedro A última do Dudu texto que faz aberta referência ao apelido jocoso do presidente Hermes da Fonseca. Na década de 1920, Raul se desencanta com o gênero das revistas e passa a escrever comédias, dentre elas vale destacar: Vamos pintar o sete (1922), texto que critica o modernismo paulista; O Chá de Sabugueiro, sucesso de público em 1931; e Meu Pedaço, escrita em parceria com outro humorista importante, Aparício Torellly, e também encenada em 1931 pela companhia de Araci Cortes. Como fica claro nesse breve relato biográfico, Raul Pederneiras produziu uma obra teatral considerável em termos quantitativos, falta recuperar e analisar a qualidade desses textos. J. Carlos é pseudônimo de Carlos de Brito Cunha, considerado o mais criativo caricaturista brasileiro da primeira metade do séc. XX. Ele entra no mundo da caricatura em 1902, na publicação O Tagarela, dirigida por Raul Pederneiras e K. Lixto (1877 - 1957). No
  • 3. ano seguinte, contribui com diversas publicações adultas e infantis, até que, em 1908, emprega-se na revista A Careta, onde trabalha até 1921. Paralelamente, colabora com diversas publicações, entre elas as revistas Fon-Fon, A Cigarra e O Malho, sendo esta última dirigida por ele a partir de 1918. Entre 1922 e 1930, trabalhando como diretor artístico de O Malho, inicia uma série de charges de caráter político, satirizando fatos e personalidades nacionais e estrangeiras. É famosa sua série de charges antibelicistas executadas no período abrangido pelas duas grandes guerras. J. Carlos faz a crônica visual da vida do carioca. Suas charges retratam o surgimento de novidades culturais e tecnológicas que modificaram a vida do brasileiro, tais como: o telefone, a fotografia, o chope, o samba, o bonde elétrico, o automóvel, o cinema, o rádio e o avião. Ele destacou a cultura do futebol, da praia e principalmente do carnaval, como também expôs as mazelas de cidade, como as enchentes, a falta d’água, a dificuldade de moradia e o trânsito desorganizado. J. Carlos criou com seu lápis a negrinha lamparina, o almofadinha e a famosa melindrosa, jovem esguia, elegante de olhos redondos e cabelo cortado à la garçonne, imagem criada entre a ingenuidade e ousadia, a qual se tornou o tipo ideal da jovem de elite. No Teatro de Revista, J. Carlos atuou como cenógrafo e figurinista, colaborando em espetáculos criados por Luis Peixoto. Como dramaturgo, foi autor de uma única peça, a revista É do Outro Mundo, com música de Ari Barroso e J. Cristobal, a qual foi sucesso de público no teatro Recreio, em 1930. O texto está sendo recuperado juntamente com o material iconográfico da montagem. Luiz Peixoto é, dos três artistas, o mais conhecido no universo do Teatro de Revista, onde desempenhou uma bem-sucedida carreira. No entanto, antes do teatro, ainda muito jovem, experimentou o gosto pela caricatura. Apresentou originariamente seu traço na Revista da Semana, e é nesse periódico que conheceu Raul Pederneiras, com quem criará caricaturas a quatro mãos, sob a assinatura acronemática de Raiz. Colaborou também nas revistas O Malho, O Papagaio, A Avenida, Tan-Tan e Fon- Fon. Trabalhou no Jornal do Brasil como desenhista para depois se tornar redator. No teatro, seu nome ficou conhecido com o sucesso da burleta Forrobodó (1912), escrita em parceria com o jornalista Carlos Bittencourt e com músicas de Chiquinha Gonzaga. A peça conquistou o público e chegou à marca de 1.500 apresentações. Na década de 1920 vai a Paris conhecer o teatro europeu, chegando a trabalhar como cenógrafo no Teatre de l'Ouvre com Lugne Poe. A experiência influenciou seus trabalhos no Teatro de Revista carioca. Foi um dos mais importantes autores desse gênero, produzindo, pelo menos, 110 peças. Foi também letrista de grandes sucessos da música popular brasileira, como: Na Batucada da Vida, É Luxo Só, entre outros.
  • 4. A pesquisa que começo a desenvolver visa a recuperar e analisar os textos teatrais desses caricaturistas e relacioná-los com a produção caricatural da época. O objetivo é verificar como um universo alimenta o outro, e, assim, perceber em que medida os procedimentos de comicidade próprios do desenho de humor se adéquam ao palco, bem como de que maneira o universo plástico da caricatura colabora na construção dos quadros do Teatro de Revista. Assim, acredito que se possa perceber, dentro desses elementos constituidores dos personagens caricaturais do teatro de revista (chamados personagens tipo), traços que se originariam, em verdade, da deformação sugerida na caricatura. É importante lembrar que nessas duas formas de expressão (caricatura e Teatro de Revista) empregam-se recursos afins de linguagem. Nos dois espaços é possível usar personagens alegóricos, a exemplo de quando se retrata uma bela jovem representando a República ou uma senhora elegante representando a rua do Ouvidor. Se no Teatro de Revista o doublé sense (duplo sentido) é extremamente explorado, valorizando a malícia do texto, tal recurso também cabe no universo do desenho de humor. Outro dado que merece ser mencionado é que na convenção do Teatro de Revista há o quadro “caricatura viva”, que consiste em retratar indivíduos que estejam em evidência, seja na política, seja na imprensa ou nas artes. Relacionar o Teatro de Revista com a caricatura dos artistas citados já possibilitaria uma pesquisa instigante, pois é claramente perceptível uma teatralidade inerente nas situações tratada nessas charges. A forma como expõem a vida cotidiana da cidade nos faz pensar numa verdadeira apresentação de sketches. Nesse contexto, a natureza ambivalente do humor permite que se perceba de forma crítica as contradições dessa sociedade que por um lado quer se civilizar à francesa, mas de outro situa-se num contexto físico e social ainda muito próximo do universo colonial escravista. No entanto, para além dessa dramaturgia imagética existe uma dramaturgia textual testemunhando uma ligação efetiva de nossos caricaturistas com o universo do teatro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963. 4vol. MENCARELLI, Fernando. A cena aberta. A absolvição de um Bilontra e o teatro de revista de Arthur Azevedo. Campinas, Ed. da Unicamp, 1999. NERY, Laura Moutinho. Cenas da vida carioca: Raul Pederneiras e a belle époque do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000. Dissertação (Mestrado) - Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica.
  • 5. SODRÉ TEIXEIRA, Luiz Guilherme. O traço como texto: a história da charge no Rio de Janeiro de 1860 a 1930. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001. http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB Quinta 12 de Agosto de 2010 14horas. SUSSEKIND, Flora. As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. VELLOSO, Mônica Pimenta. Modernismo no Rio de Janeiro. Turunas e quixotes. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996. VENEZIANO, Neyde. Não Adianta Chorar: Teatro de Revista Brasileiro, Oba!. Campinas SP: Editora da Unicamp, 1996. ______. O Teatro de Revista no Brasil: Dramaturgia e Convenções. Campinas SP: Editora da Unicamp, 1991.