O documento discute a poesia de Carlos Drummond de Andrade e sua relação com o modernismo brasileiro. Apresenta três fases da obra de Drummond: uma inicial pessimista e individualista, uma fase social comprometida com transformar o mundo, e uma final reflexiva sobre temas universais como vida e morte e cheia de memórias.
2. Drummond e o modernismo brasileiro
Drummond, como os modernistas,segue a
libertação proposta por Mário e Oswald de Andrade;
com a instituição do verso livre, mostrando que este
não depende de um metro fixo.Se dividirmos o
modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e
outra mais objetiva e concreta, Drummond faria
parte da segunda, ao lado do próprio Oswald de
Andrade.
3. "A obra de Drummond alcança — como Fernando
Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo
Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende
do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude
livre de referências, ou de marcas
ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo
Bosi (1994).
Affonso Romano de Sant'ana costuma estabelecer
que a poesia de Carlos Drummond a partir da dialética
"eu x mundo", desdobrando-se em três atitudes:
Eu maior que o mundo — marcada pela poesia
irônica
Eu menor que o mundo — marcada pela poesia
social
Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica
?
4. A 1ª fase (a fase gauche) tem como
características
o pessimismo, o isolamento, o individualismo e
a reflexão existencial. Nota-se nesta fase um
desencanto em relação ao mundo.
5. Convite Triste apenas.
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler Vamos xingar a mulher,
jornal, que está envenenando a
vamos dizer que a vida é vida
ruim, com seus olhos e suas
meu amigo, vamos sofrer. mãos
e o corpo que tem dois
Vamos fazer um poema seios
ou qualquer outra besteira. e tem um embigo também.
Fitar por exemplo uma Meu amigo, vamos xingar
estrela o corpo e tudo que é dele
por muito tempo, muito e que nunca será alma.
tempo
e dar um suspiro fundo Meu amigo, vamos cantar,
ou qualquer outra besteira. vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
Vamos beber depois embriagados vamos
uísque, vamos beber mais outros
sequestros
6. A 2ª fase, chamada fase social, é marcada
pela vontade do poeta de participar e tentar
transformar o mundo, o pessimismo e o isolamento
da 1ª fase é posto de lado. O poeta se solidariza
com os problemas do mundo.
7. ÁPORO
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.
8. A 3ª fase pode ser dividida em 2
momentos: poesia filosófica e poesia nominal.
Poesia Filosófica: textos que refletem sobre vários
temas de preocupação universal como a vida e a
morte.
9. Um eu todo retorcido é sério, simples e forte.
Poema de sete faces Quase não conversa.
[Alguma poesia] Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e
Quando nasci, um anjo torto do bigode.
desses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! ser gauche Meu Deus, por que me
na vida. abandonaste
se sabias que eu não era
As casas aspiram os homens Deus,
que correm atrás de mulheres. se sabias que eu era fraco.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. Mundo mundo vasto mundo,
se eu chamaste Raimundo
O bonde passa cheio de seria uma rima, não seria uma
pernas: solução.
pernas brancas pretas Mundo mundo vasto mundo,
amarelas. Mais vasto é meu coração.
Para que tanta perna, meu
Deus, pergunta meu coração. Eu não devia te dizer
Porém meus olhos mas essa lua
Não perguntam nada. mas esse conhaque
botam a gente comovido feito
10. A fase final (o tempo das memórias) - Como o
próprio nome já diz, as obras desta fase (década de
70 e 80), são cheias de recordações do poeta. Os
temas infância e família são retomados e
aprofundados além dos temas universais já
discutidos anteriormente.
11. Infância velha
[Alguma poesia] café gostoso
café bom.
Meu pai montava a
cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficara em casa
Minha mãe ficava sentada cosendo
cosendo. Olhando para mim:
Meu irmão pequeno dormia. - Psiu... Não acorde o
Eu sozinho menino entre menino.
mangueiras Para o berço onde pousou
lia a história de Robinson um mosquito.
Crusoé E dava um suspiro... que
Comprida história que não fundo!
acabava mais. Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
No meio dia branco de luz
uma voz que aprendeu E eu não sabia que a minha
a ninar nos longe da senzala história
- e nunca se esqueceu era mais bonita que a de
chamava para o café. Robinson Crosoé.
Café preto que nem a preta
12. QUESTÕES
Nas duas primeiras décadas de nosso século, as
obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto, tão
diferentes entre si, têm como elemento comum:
a) A intenção de retratar o Brasil de modo otimista e
idealizante.
b) A adoção da linguagem coloquial das camadas
populares do sertão.
c) A expressão de aspectos ate então negligenciados
da realidade brasileira.
d) A prática de um experimentalismo lingüístico
radical.
e) O estilo conservador do antigo regionalismo
romântico.
13. A - "Até esta data, o brasileiro era, antes de tudo, um envergonhado."
B - "No plano das idéias, o século gerou três obras que se tornariam
clássicos da reflexão sobre o país."
Considere o que se afirma sobre os fragmentos destacados.
I. Em OS SERTÕES, Euclides da Cunha declara que "o sertanejo
é, antes de tudo, um forte". No fragmento A, o autor retoma a
declaração de Euclides da Cunha reafirmando seu conteúdo elogioso.
II. Em B, a escolha de "século" como sujeito torna a frase mais
expressiva, porque contraria a expectativa de encontrar essa palavra
como parte de um adjunto adverbial de tempo.
III. Em B, a opção por "o século gerou" leva à associação com a ideia
de criar, fecundar, o que reforça o sentido de que o século XX
propiciou a concepção das obras destacadas.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.
14. (FUVEST) Refere-se corretamente a Alguma poesia, de
Drummond, a seguinte afirmação:
a) A imagem do poeta como gauche revela a sua
militância na poesia engajada e participante, de
esquerda.
b) As oposições sujeito-mundo e província-metrópole são
fundamentais em vários poemas.
c) A filiação modernista do livro liberou o poeta das
preocupações com a elaboração formal dos poemas.
d) O livro não contém textos metalingüísticos, o que
caracteriza a primeira fase do autor.
e) A ironia e o humor evitam que o eu-lírico se distancie
ou se isole, proporcionado-lhe a comunhão com o mundo
exterior.
15. Texto para as questões 03 e 04
SENTIMENTAL
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
Neste país é proibido sonhar.
16. 03. (PUCCAMP) Este poema é caracteristicamente modernista, porque nele:
a) A uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos
experimentados pelo poeta.
b) Tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da
linguagem surrealista.
c) Satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia
clássica.
d) A linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo
encarnado na cena cotidiana.
e) O dia-a-dia surge como novo palco das sensações poéticas, sem imprimir
a alteração profunda na linguagem lírica.
04. (PUCCAMP) Destacam-se neste poema características marcantes do
Drummond modernista. São elas:
a) A tendência metafísica, o discurso sentencioso e o humor sutil.
b) A memória familiar, o canto elegíaco e a linguagem fragmentada.
c) A exposição da timidez pessoal, a fala amargurada e a recuperação da
forma fixa.
d) A preocupação de cunho social, o pessimismo e a desintegração do
verso.
e) O isolamento da personalidade lírica, a ironia e o estilo prosaico.