Motorista de ônibus escolhe turno noturno para facilitar estudos da filha
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EXEMPLO
Motorista de ônibus, Cristiane Santos escolhe turno noturno para facilitar estudo
da filha. Combate preconceitos com simpatia e conquista diversos admiradores
FOTOS: MARLOS NEY VIDAL/EM
Dama
DANIEL CAMARGOS
E
ram mais de 22h quando a moto-
rista Cristiane Santos apoiou o bra-
ço esquerdo na janela. O gesto aju-
da a relaxar e pôde ser feito en-
quanto o ônibus estava parado e al-
no lotação
guns passageiros desembarcavam no Bairro
São Bernardo, na região da Pampulha. Um
deles desceu, deu a volta pela frente do veí-
culo e, sorrateiramente, pegou a mão da mo-
torista e perguntou se ela não queria “largar
o caixote e dar uma volta na BMW parada na
esquina”. A motorista disse que não, pois es-
tava cansada. Sorriu, engatou a primeira Quem ajuda Cristiane a recordar as canta- profissão. Aprendeu a dirigir ainda menina,
marcha e seguiu o trajeto da linha 2402, que das indiscretas é sua filha, Risia Lorena. A filha, quando tinha 11 anos, com os irmãos, e che- Cristiane
liga os bairros Glória e São Bernardo, passan- aliás, foi aprovada no vestibular para o curso gou a trabalhar dois anos como caminho- aprendeu
do pelo Centro de Belo Horizonte. A elegân- de Letras na PUC de Betim e motivou a mu- neira, no transporte de produtos agrícolas a dirigir aos
cia de Cristiane foi tanta que os passageiros dança de horário da mãe. “Trabalhando à noi- na Região Sudeste. “A estrada é um lugar óti- 11 anos
que ainda estavam no ônibus ficaram rindo te, tenho mais tempo livre e posso me mudar mo. Nunca tive problemas e nem enfrentei na Bahia
do insucesso do pretenso galã. para Betim, pois o transporte depois do servi- preconceitos. Muitas famílias viajam junto
A classe da motorista também é evidente ço é disponibilizado pela empresa e fica mais com os caminhoneiros e adorei a experiên-
em uma série de gestos, desde a delicadeza pa- fácil para minha filha estudar”, explica Cris- cia”, lembra.
ra se livrar das constantes e nem sempre con- tiane. Outro motivo da escolha do horário no- Entretanto, Cristiane não ficou satisfeita
venientes cantadas, até na maneira como diri- turno é que a motorista quer voltar a estudar enquanto não conseguiu entrar na empresa Hoje também é dia
ge o ônibus pelas ruas estreitas do Glória: são
freadas suaves, engates precisos e um sorriso
música. Ela tocou piano durante muitos anos,
mas quando engravidou do filho mais velho –
que considera a melhor para trabalhar. Os-
mundo Pereira, responsável por fiscalizar o
de Fiat Automax.
que saúda os passageiros e, inclusive, desar- que mora na Bahia – abandonou a música. horário no ponto final, conta que, quando
ma aqueles que sobem os degraus de cara fe- O sotaque não disfarça a origem. “Ainda Cristiane começou na empresa, alguns passa-
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chada. Tudo ornado por um belo rosto suave- dou uma rateada”, diz, sempre bem-humo- geiros esperavam para viajar com ela. Apesar pra você sair de carro novo.
mente maquiado e algumas bem colocadas rada Cristiane, que nasceu em Itapetinga do da bajulação, a motorista diz que a frase que
gotas de perfume. “Faço questão de ressaltar a Sul, na Bahia. Já viajou o país, seja como ca- mais escuta é: “Mulher no volante, perigo
feminilidade, por causa da profissão, que é minhoneira, seja como sacoleira, época que constante”. Também já viu muita cara feia e
masculinizada”, explica Cristiane. ia da Bahia até Foz do Iguaçu (PR) e tinha Be- desconfiada, principalmente de homens que
Fiat Zero
Se por um lado o sorriso é elevado pelo cui- lo Horizonte como rota de passagem. “Gos- ao entrar no ônibus se assustam ao ver uma
dado, os galãs noturnos sentem-se mais segu- tei tanto da cidade que acabei ficando”, lem- mulher na direção. Seminovos
ros no escuro da noite. Indiferente, Cristiane bra. A mudança se deu em 1991, daí em dian- Passageiro freqüente das primeiras via- selecionados
começa a trabalhar às 18h e vai até as 2h30. A te, buscou emprego na sua formação origi- gens feitas por Cristiane, o aposentado Al-
primeira viagem é a mais árdua, pois dura cer- nal, o magistério, mas não encontrou e retor- mir Gomes Costa sempre dá como presente Plantão aos
ca de duas horas e 10 minutos para percorrer nou ao volante, fazendo serviços de entregas uma bala ao entrar no lotação. Ele usufrui da domingos,
um trajeto de 53 quilômetros, que, sem con- para oficinas e empresas ligadas ao setor de linha desde 1966 e afirma, convicto, que
gestionamento, pode ser feito em uma hora. ônibus. Com os contatos no setor, conseguiu Cristiane “dá de 10 em muito motorista”. até as 16h
As últimas, porém, são mais vazias, mas na- trabalho como motorista de ônibus de uma Depois completa: “A diferença principal é a
da também que assuste ou amedronte a mo- empresa que havia empregado mulheres em educação”. Além das balas de Almir, Cristia-
torista. Assustada ela fica com cartas que re- seu quadro de funcionários. ne recebe caixa de bombons e outros pre-
cebe de fãs-passageiros, com propostas de sentes dos passageiros que viram fãs ou pre-
namoro e até convites para tomar uma cer- TABU O padrão masculino, entretanto, nun- tendem virar algo mais. O certo é que todos 3299-0403
Av. Raja Gabaglia, 2222
veja, incluindo missivas de mulheres. ca foi empecilho para Cristiane exercer a receberão um belo sorriso. Sem dúvida, a melhor em Fiat.