O documento descreve a aplicação do estilo Art Nouveau em uma embalagem de perfume, analisando as características desse estilo artístico e dos artistas Eugène Grasset e Alphonse Mucha. A embalagem proposta incorpora elementos como fontes estilizadas, molduras, formas sinuosas e a figura feminina inspirada nos trabalhos desses artistas.
1. Sobre a aplicação do estilo artístico internacional
Art Nouveau em produtos atuais
COITINHO, Manuela A. Graduanda do Curso Bacharelado em Design. Instituto Federal Sul-Rio-
Grandense – IFSul (coitinho.m@gmail.com)
UMA ARTE NOVA
Durante o século 19 havia uma obsessão curiosa no meio cultural-artístico europeu.
Existia aqui uma busca por um estilo que traduzisse adequadamente o fervilhamento e
a modernidade desta época. Alguns críticos defendiam que deveria haver um retorno
aos estilos do passado, enquanto outros buscavam essa ruptura alegando que, com a
proximidade com o século 20 a sociedade industrial necessitava de um estilo novo.
(DENIS, 2000)
Nos 20 anos de transição entre os séculos 19 e 20 o ecletismo entre as referências ,
propósitos e formas se estabelece no primeiro estilo moderno e internacional – o Art
Nouveau. Toda a contradição da era moderna estava presente no movimento, o que
proporcionou a produção de variadas obras – gráficas, arquitetônicas, artísticas, etc. –
que transmitiriam a visão desse estilo dos profissionais das respectivas áreas, já que
ele estava presente em diferentes regiões européias. (DENIS, 2000)
O Art Nouveau se associa com a grande sinuosidade das formas botânicas de
elementos florais e das formas femininas e suas curvas – o que remete diretamente ao
romantismo e à beleza. Com cores vivas e com a presença do dourado, asas de
libélulas e penas de pavão, o estilo estaria intimamente ligado ao luxo e à
prosperidade predominando, dessa forma, a estética decorativista que antecedeu a
Primeira Guerra Mundial, quando houve a necessidade de uma evolução tecnológica.
(DENIS, 2000; SILVA, 2012)
“(...) a existência de formas de plantas e animais
demonstraria a exata distância que difere o labor artístico
da reprodução realizada pelas máquinas.”
(SOUSA, 2008)
2. Unificar as linguagens do design era o ideal dos artistas do Art Nouveau e muitos deles
usavam diferentes técnicas à procura desta integração; entretando, o lema “a arte pela
arte” fez com que o Art Nouveau fosse chamado de “doença decorativa”, já que o
estilo cada vez mais se rebuscava em termos de ornamentação. (PORTO, sem data)
Apesar disso, ele também aponta o uso de formas geométricas e angulares, planos
retos e contornos evidenciados dependendo, como dito anteriormente, com a região
de atuação do artista em questão. (DENIS, 2000)
Pode-se dizer que foi através das peças gráficas em geral e fotografias, e da Exposição
Universal de 1900 (Paris) que o Art Nouveau foi ampla e imediatamente divulgado; sua
disseminação se deu em uma época onde a rápida expansão dessa produção gráfica
influenciando a utilização desse estilo em elementos ligados ao design de livros,
revistas, etc. (DENIS, 2000)
ESCOLA FRANCESA DE NANCY
A França foi um dos primeiros países a incorporar o Art Nouveau, desenvolvido como
uma tendência que interpretava linhas como signos abstratos. Nesse momento, é
criada a Escola de Nancy, em 1901, a qual era toda voltada ao naturalismo das formas
– usadas tanto como decorações, quanto como elementos estruturais – com uma forte
influência de simbolismo de origem literária. Inicia-se também, aqui, a profusão das
molduras, criando forças verticais e horizontais em contraponto à atenuação dos
ângulos retos. (DUARTE, 2008)
Nessa escola, temos nomes importantes e de grande relevância onde, entre eles, estão
Eugène Grasset e Alphonse Mucha, que são os artistas que inspiraram este trabalho.
Grasset, junto com Mucha, foi considerado um dos artistas que difundiram o
movimento Art Nouveau através de ilustrações e cartazes. Seus cartazes são feitos de
composições simples, que apresentam poucos traços ou perspectivas. Suas imagens
são bastante simples com relação a tantas outras presentes no movimento; seu traço
regular que conversa com cores fortes e chapadas, traz para suas peças contraste e
volume. O elemento feminino sempre esteve presente: era a mulher sensual, por
3. vezes melancólica e com uma grande carga de erotismo velado por rostos angelicais.
(VIANA, 2006; CARVALHO, 2009)
Já as pinturas e desenhos de Mucha possuem, dentre outras características, um
traçado muito delineado, uma tipografia estilizada, uma mulher idealizada, bela, e
ingênua, assim como a figura representada por Grasset, símbolos e arabescos. Mucha
ainda inovou o formato de seus cartazes – tornou-os mais esguios – potencializando
seu efeito requintado e moderno junto com a utilização de cores encontradas na
natureza em tons pastéis, dando um toque de romantismo a suas peças; para cartazes
publicitários, prioritariamente, adequou suas influências da arte asiáticas destacando
por meio de molduras o produto em questão. (ROTELLI, 2009)
O PROJETO
Para a realização do projeto proposto, foram levadas em consideração as
características gerais do movimento e dos artistas citados acima – Eugène Grasset e
Alphonse Mucha – sendo que foram indicadas as mais importantes para a produção da
embalagem.
Na face frontal da embalagem (Figura 01) foram utilizados elementos como fontes
referentes à época do movimento, assim como foi averiguado na pesquisa preliminar
de imagens dos dois artistas. Os tipos utilizados foram escolhidos por bem representar
o movimento e ainda serem atuais, pois proporcionam leitura e legibilidade, ponto
importante dentro do capitalismo. A fonte das palavras “Anaïs Anaïs” foi escolhida por
ser mais robusta e, por isso, destacar o nome do perfume. Já as fontes das
informações secundárias são mais simples devido a elas não merecerem tanto
destaque quanto o título.
4. Figura 01
Para destacar essa face das demais utilizei um recurso muito evidente nas peças de
Mucha que são as molduras. Nesse caso, empreguei esse grafismo no formato
retangular como uma analogia à forma esguia de alguns cartazes desse artista além de
automaticamente destacar a face principal do produto; essa formatação traz ao
produto um requinte atemporal, assim como trouxe aos trabalhos desse artista à
época. Complementando essa informação temos a imagem feminina de Grasset onde
temos a nítida sensação de que a mulher está envolvida numa atmosfera romântica
criada pelo perfume.
No verso (Figura 02) foram colocadas as informações adicionais do produto, como a
composição química e os cuidados que o usuário deve ter no manuseio. Essas
informações para um consumidor são irrelevantes e assim foi decidido que a fonte
seria simples, sem serifa e de fácil compreensão, mas de cor clara e contrastante o
suficiente para permitir uma boa leitura sem prejudicar a composição final da
programação da embalagem.
5. Figura 02
Nas laterais foi somente indicado o nome do perfume, conforme o a parte frontal já
apresenta; isso fará com que se destaque essa informação, independente do lado que
a embalagem seja visualizada. (Figura 03; Figura 04)
Figura 03 Figura 04
6. Para a programação da embalagem foi escolhido usar prioritariamente a cor verde, a
qual faz referência direta à natureza, tema muito recorrente no movimento Art
Nouveau, além de as peças de Grasset, em sua maioria, terem muitos elementos nessa
cor e suas tonalidades; ainda, na vista frontal, foi usado um tom pastel de verde atrás
da imagem para aumentar o contraste com a mesma.
CONSIDERAÇÕES
Mesmo com o estilo Art Nouveau ter perdido força em um curto espaço de tempo
hoje, ainda, podemos propor peças gráficas e outros produtos de design baseados
nesse movimento. Isso se dá pelo fato dele apresentar conceitos e grafismos bastante
usuais como formas sinuosas e cores marcantes, proporcionando uma assimilação
direta com o universo feminino atual.
A proposta do trabalho traz Anaïs Anaïs como um perfume que transmite o frescor da
natureza e a singular delicadeza e sensualidade presente na mulher, reiterando que o
estilo do século XIX é completamente empregável a qualquer produto
moderno/contemporâneo.
7. REFERÊNCIAS
CARVALHO, T. L. Das Artes. 4 mar. 2009. Disponível em:
<http://taislc.blogspot.com.br/2009/03/art-nouveau.html>. Acesso em: 10 set. 2012,
15:35.
DENIS, R. C. Uma Introdução à História. São Paulo: Edgard Blüsher, 2000. Curitiba:
Prisma, 2005. 332 p.
DUARTE, G. Países afetados pelo Art Nouveau 1 - França. 2008. Disponível em: <
http://facesartnouveau.blogspot.com.br/2008/12/descoberta-do-ferro-e-tcnica-de-
fundio.html>. Acesso em: 29 set. 2012, 18:22.
FUNDATION, M. Alphonse Mucha – Art Nouveau & Utopia. 2012. Disponível em:
<http://www.muchafoundation.org>. Acesso em: 24 out. 2012, 10:34.
PORTO, C. Art Nouveau e Art Déco. Disponível em:
<http://claudiaporto.wordpress.com/monografias/art-nouveau-e-art-deco/>. Acesso
em: 22 set. 2012, 14:08.
ROTELLI, N. B. A. Teoria de História das Artes e Arquitetura II. 25 jul. 2009. Disponível
em: <http://thaa2.wordpress.com/2009/07/25/o-estilo-do-art-nouveau-parte-v/>.
Acesso em 24 out. 2012, 12:37.
SILVA, V. P. P. Blog Educativo. 13 fev. 2012. Disponível em: <
http://arteeuropeiadevanguarda.blogspot.com.br/2012/02/arte-nova-art-nouveau-da-
escola.html>. Acesso em: 15 set. 2012, 15:23.
SOUSA, R. As características do Art Nouveau. 18 jan. 2008. Disponível em: <
http://www.brasilescola.com/historiag/art-nouveau2.htm>. Acesso em: 25 set. 2012,
17:55.
VIANA, D. Seção Gemäldegalerie: Grasset e os primórdios do Art Nouveau. 6 jun.
2006. Disponível em: <http://diegoviana.opsblog.org/secao-gemaldegalerie-grasset-e-
os-primordios-do-art-nouveau/>. Acesso em: 24 out. 2012, 17:20.