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O LABORATÓRIO-ATELIÊ:
ELABORAÇÃO DE
MATERIAIS DIDÁTICOS
PARA O
ENSINO/APRENDIZAGEM
EM ARTE
Geraldo Freire Loyola
Escola de Belas Artes – Universidade Federal de Minas Gerais
geraldoloyola@gmail.com
Lucia Gouvêa Pimentel
Escola de Belas Artes – Universidade Federal de Minas Gerais
luciagpi@gmail.com
RESUMO
Os materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte são complexos e devem levar
em consideração condições inerentes tanto à sua qualidade estética quanto às diversas
contextualizações culturais e aos diferentes suportes. É necessário que o professor de Arte
saiba elaborar materiais didáticos apropriados para seu grupo de alunos e, para tanto, faz-
se necessário que os cursos de formação de professores de Arte tenham em seu currículo
um espaço para a aprendizagem de elaboração de materiais didáticos. Considera-se que o
Laboratório-Ateliê é o espaço propício para isso, levando-se em conta haver nele a
ambiência artístico-pedagógica adequada.
Palavras-chave: Ensino/aprendizagem em Arte; Materiais didáticos; Laboratório-Ateliê.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017
Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
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ABSTRACT
Teaching materials for art education are complex and should take into consideration not
only the subject's inherent aesthetic aspects but also its various cultural contexts and
mediums. Art teachers need to be able to prepare appropriate teaching materials for their
students and therefore it is necessary for teacher-training courses to include a space for
training in such preparation. It is suggested that the studio-laboratory is the space that
offers the most appropriate environment, from an artistic and pedagogical point of view,
for that training.
Key words: Teaching/learning in Art; Teaching materials; Studio-laboratory.
O trabalho com Arte, tanto nos processos de criação quanto nos de ensino/aprendizagem, que são
confluentes, demanda reflexões e especificidades que se apresentam quase sempre complexos. No
ensino/aprendizagem, a construção de conhecimentos a partir dos exercícios de experimentação e
de estímulo à criação configuram-se como componentes fundamentais dos modos de procedi-
mentos. Assim sendo, as concepções de ideias, ações e materiais didáticos devem contemplar
sempre essas especificidades.
Em Arte1
nem sempre é possível uma abordagem sequencial, com um roteiro passo a passo, uma
vez que os processos de abordagem e os resultados não são coincidentes, porque transitam,
também e essencialmente, pelos campos da autoexpressão, da criação, da cultura e da subje-
tividade. Além disso, há que se levar em consideração a imprevisibilidade da experiência de criação
artística. Isso não significa descartar as várias possibilidades de abordar a história da arte e de criar
métodos e metodologias conjugados com os exercícios e experimentações artísticas com os
alunos.
Em função das diversidades e especificidades dessa área de conhecimento, nem sempre é fácil
conceber materiais didáticos para o componente curricular Arte. Como exemplo, podem ser
citados os livros didáticos presentes no mercado, que trazem toda a sorte de equívocos ou
unicidade de processo, o que contraria uma característica fundamental de Arte, que é fomentar o
pensamento crítico e divergente. Somente a partir de 2015 o Ministério da Educação – MEC, através
do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), incluiu em seu Edital a chamada para livros
didáticos para Arte no ensino médio e, nos anos subsequentes, para os anos iniciais e os anos finais
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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do ensino fundamental da educação básica. A tentativa de incluir, junto aos livros impressos,
materiais digitais mostrou-se inócua, uma vez que a qualidade do material enviado não contribuía
para um ensino/aprendizagem significativo em Arte.
Os conteúdos dos livros didáticos para Arte nem sempre podem ser abordados e tratados de forma
linear, mas esses conteúdos podem provocar ideias e ações a serem exploradas e adaptadas,
considerando as estruturas de cada escola e perfis dos alunos e turmas, para que sejam estabele-
cidas e criadas conexões entre os conteúdos sugeridos nos livros e a realidade de cada grupo de
estudantes. Nesse sentido, é o professor de Arte quem deve estar sempre atento para estabelecer
pontes entre o que propõem os livros didáticos e as maneiras de enfocar e conduzir as experiências
com os alunos.
Outros tipos de material didático para o ensino/aprendizagem em Arte vêm sendo elaborados e
disponibilizados, principalmente, na internet, mas a tarefa de selecionar os que apresentam
conceitos corretos e têm como foco a aprendizagem em Arte exige tempo e disponibilidade de
acesso.
Quais são as maneiras de, nos cursos de formação de professores, estimular a incumbência de
proposição do próprio material didático? Que abordagens teóricas do ensino/aprendizagem
facilitam aproximar o pensamento artístico das proposições e ações didáticas pensadas pelo
professor no cotidiano da sala de aula? Diante do avanço tecnológico, quais conceitos, dispositivos,
instrumentos e ambientes de comunicação são mais apropriados para provocar nos professores a
ampliação do pensamento e interesse para pensar suas ações didáticas, tanto na educação
presencial quanto a distância? Se em Arte o roteiro passo a passo pensado como material didático
nem sempre é concebível, quais são as ideias e contribuições de professores artistas para a
formação de futuros professores de Arte?
LABORATÓRIO-ATELIÊ
Em arte, o espaço ambiente de elaboração artística possui importância fundamental, sendo um dos
fatores provocadores de ideias e soluções. Quando se relaciona à elaboração de material didático,
deve ter tanto a infraestrutura material para a produção, quanto propiciar a possibilidade de visual-
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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ização do que está sendo feito. No caso de formação de professores, seja na formação inicial ou na
formação continuada, o espaço ambiente é parte da ambiência propícia e essa elaboração,
composta também pelos estudantes, artistas, pesquisadores e professores que nela atuam.
Considera-se que o laboratório-ateliê seja a ambiência propícia para que as ações de elaboração do
material didático aconteçam. Entende-se que essas ações são tanto de ordem das ideias, das
pesquisas e dos estudos quanto do desenvolvimento e experimentação dos materiais..
O laboratório-ateliê é, portanto, uma ambiência multifacetada, que comporta equipamentos e
pessoas de origem e especialidade diversas, com a maior diversidade possível de finalidades, tanto
em produção individual quanto coletiva. Quando a finalidade é elaborar materiais didáticos de arte
que possam se adequar tanto à formação de professores quanto às ações docentes em situação de
ensino/aprendizagem em Arte, a diversidade de especialização da equipe é fator primordial para
que haja harmonização entre os aspectos técnicos e tecnológicos, os aspectos formais e de
conteúdo.
Uma das pesquisas feitas diz respeito à aprendizagem de sequenciamento por crianças surdas. A
demanda foi feita pela aluna Alexsandra de Oliveira, da Licenciatura da EBA/UFMG, que buscou
auxílio com a professora Cristina Guimarães, do Departamento de Psicologia da FAFICH/UFMG,
para conhecer melhor o que ocorria e como poderíamos elaborar um material pedagógico que
auxiliasse o entendimento do que é sequência.
Alexsandra dava aulas de Arte em uma escola para crianças e jovens surdos em Divinópolis – MG, e
tinha experiência de que os alunos gostavam muito de trabalhar com desenho e pintura. Elabo-
ramos uma proposta pedagógica que incluía trabalhos com desenho, material tridimensional e uso
do programa Animator, àquela época (1999) uma novidade.
Na primeira atividade pedimos que os estudantes desenhassem cenas de como era o percurso
deles de casa até a escola. Verificamos que os registros eram de duas cenas: uma saindo de casa e
outra chegando à escola.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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Tendo como material papelão, massa de modelar, tinta guache e pincéis, fizemos a proposta de
que eles confeccionassem personagens e objetos que fariam parte de cenários, com a massa de
modelar. O desenho das cenas seriam a referência para a confecção dos elementos das cenas.
Montamos espaços para quatro cenários com o papelão. Como base fizemos um círculo e
dividimos com duas diagonais, o que gerou quatro espaços internos. A ideia era de que
pudéssemos girar a base e observar as cenas em sequência, após a construção das mesmas.
A construção das cenas foi muito instigante, pois dissemos que não poderia haver espaço vazio,
que eles tinham que construir uma cena em cada espaço considerando o que vinha antes e o que
vinha depois. Passamos, portanto, de duas cenas no desenho para quatro cenas no objeto tridi-
mensional. Durante esta etapa, foram ensinados conceitos de espaço, tempo, teoria da cor, mistura
de cores, composição, luz e sombra.
Terminada esta etapa, pedimos que eles fizessem outro desenho, a partir da referência do objeto
tridimensional. Não era para desenhar o que estava nas cenas, mas para pensar uma sequência a
partir do que fizeram nas cenas. O número de cenas aumentou.
Escaneamos os desenhos de cada aluno e colocamos no Animator. O programa permite que sejam
colocados quadros em branco entre os quadros com desenho, o que foi feito para cada trabalho.
Imprimimos folhas com esse registro e fizemos uma sessão onde mostramos as produções e
comentamos sobre como estava difícil saber o que aconteceu na história somente com as cenas já
desenhadas. Entregamos as folhas impressas, pedindo para que completassem os quadros em
branco com as cenas que faltavam.
O resultado foi o aumento de quadros nesse trabalho e em outros trabalhos similares, que foram
propostos posteriormente. Além disso, professores de outros componentes curriculares relataram
melhora no entendimento de textos e na escrita dos alunos.
Todas as etapas foram discutidas no Laboratório-Ateliê com outros alunos da Licenciatura e do
Bacharelado em Artes Visuais.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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MATERIAL DIDÁTICO
Entende-se por material didático todos os objetos elaborados com a intenção de proporcionar
aprendizagens. Podem ser nos mais diversos formatos, como livros impressos, softwares, jogos,
audiovisuais ou outras formas digitais ou não.
O material didático é um componente indispensável em Arte, porém, considerando que o
ensino/aprendizagem não acontece de forma linear e os recursos didáticos não funcionam como
receita pronta, é fundamental o respeito aos diferentes contextos culturais, à diversidade de formas
de como cada pessoa percebe o mundo e se expressa no mundo e com o mundo.
Na perspectiva do professor, também são fundamentais o estímulo à reflexão e à construção e
ampliação do pensamento artístico, à experimentação, no sentido de pensar novas ideias e de criar
condições e ambiências para pensar e fazer arte, e na criação de metodologias para condução das
experiências e ações.
Nem sempre um material didático de Arte produzido para uma modalidade ou ano de ensino
poderá ser abordado de forma semelhante em todas as escolas, em função da diversidade de
culturas, da proposição estética de cada abordagem, do perfil dos alunos, das estruturas físicas de
cada lugar, das demandas sociais, costumes etc. Por isso, o professor é a pessoa mais indicada a
pensar, pesquisar e produzir o material didático específico para suas aulas, articulando-o com os já
existentes, de acordo com conteúdos, metodologias e contextos dos alunos e do ambiente.
A noção de material didático remete a conceitos muito amplos e abrangentes como livro didático,
instrumentos ou objetos de aprendizagem etc.; em Arte envolve fenômenos peculiares e especí-
ficos, inerentes ao processo de criação e formação artística. Portanto, é importante que o material
didático seja pensado, além dos instrumentos e coisas, como um conjunto de possibilidades de
pensamentos que levem à reflexão do que seja ensinar/aprender Arte como conhecimento e como
experiência de vida, e à produção significativa de outros materiais, ações e ideias adequados ao
contexto de cada escola e de cada grupo de alunos.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017
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É preciso pensar, ainda, em materiais que visibilizem culturas diversas, como as dos povos
indígenas, do campo, de outros continentes que tradicionalmente não têm sua arte divulgada –
Ásia, África e Oceania –, pois é a partir do conhecimento e reconhecimento da diversidade que se
constrói o respeito ao diverso.
ENSINO/APRENDIZAGEM EM ARTE
O que ensinar/aprender relaciona-se estreitamente com como ensinar/aprender. Parte-se do
princípio que ensinar/aprender não são duas faces de mesma ação, mas é uma ação imbricada. Ou
seja, não há ensino se não há aprendizagem e não há aprendizagem sem que haja ensino. Não se
está considerando os dois termos em suas concepções tradicionais, mas sim na concomitância de
ações que se inter-relacionam em diversas direções. Os processos e procedimentos usados proposi-
talmente para que outro alguém aprenda – o que comumente se denomina ensino – partem do
princípio de como quem ensina aprendeu e como considera serem eficientes esses processos e
procedimentos a partir de sua própria ação.
Em um curso de formação de professores de Arte, a reflexão constante de ‘como eu aprendi como
posso ensinar’ é fundamental. Esse ‘como eu aprendi’ engloba tanto os aspectos metodológicos do
ensino quanto as relações feitas entre aprendizagens, ou seja, entre os enfoques teóricos e práticos
da aprendizagem. Esses enfoques estão interligados, mas, por vezes, são considerados em
separado, o que resulta em unilateralidade de investimento em métodos ou conteúdos que não
resultam em aprendizagem.
Na interação prática/teoria, são vários os fatores que interferem na aprendizagem, inclusive
aspectos de relações pessoais e entre aprendiz e material didático.
TECNOLOGIAS E PENSAMENTO ARTISTICO: A SÉRIE PROFESSOR
ARTISTA
Com o surgimento e avanço contínuo da tecnologia, as formas de viver, relacionar e construir
conhecimentos são cada vez mais reconfiguradas e o ensino/aprendizagem em Arte não é excluído
desse processo. Portanto, são dispositivos tecnológicos e ambientes que fazem parte do dia a dia
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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dos alunos e devem ser apropriados para o ensino/aprendizagem, mas ressalta-se que são somente
meios para promover ações de conhecimento e o foco deve estar sempre nas ideias estéticas de
cada proposição e na confluência dos pensamentos artístico e tecnológico.
Novas possibilidades de concepção e promoção do conhecimento surgiram como, por exemplo,
plataformas para o ensino a distância. E é para essa modalidade de ensino que foi concebida a série
Professor Artista2
, com filmes com duração aproximada de 15 minutos, apresentando professores
artistas e suas concepções de trabalho nos dois campos.
Um dos principais objetivos da série é levar aos alunos e professores de Arte imagens, processos de
criação e reflexões estéticas de professores artistas contemporâneos, nas suas poéticas de criação e
nas ações de ensino e, com isso, apresentar aos alunos parte da produção de artistas contem-
porâneos como possibilidade de ampliação do repertório de imagens, de abordagens e exper-
iências artísticas, e como reflexão e estímulo ao pensamento crítico e à geração de novas ideias.
Muitos alunos do Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da
UFMG – CEEAV/EBA/UFMG não fizeram graduação em Artes e, portanto, nem todos tiveram/têm a
arte como componente estético da própria vida e, após a conclusão do curso, vários deles passam a
ministrar o componente curricular Arte em escolas da educação básica, em diversas regiões do
estado de Minas Gerais e também em outros estados.
Nesse sentido, a produção da série Professor Artista3
abarca as reflexões propostas neste artigo,
acerca do entendimento e concepção de materiais didáticos e modos de ensinar/aprender Arte.
As diversas modalidades e expressões com as quais cada um trabalha criam condições para
ampliação de ideias para pensar, criar e ensinar Arte. Desenho, cerâmica, gravura, pintura, inter-
venção urbana, tecnologias contemporâneas, experiências corpóreas, teatro de bonecos etc. são
algumas dessas modalidades e o propósito é que o aluno e/ou professor possam assistir aos filmes,
e estabelecer conexões com o perfil dos alunos e ambientes de trabalho. A partir dessas conexões,
o professor pode pensar ações didáticas para cada contexto, criando ambiência favorável à apren-
dizagem.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
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O propósito de focalizar professores artistas remete também à ideia e importância de se praticar
arte em concomitância com o processo de ensino/aprendizagem. O fato de experimentar, criar,
errar e refazer ações e exercícios artísticos pressupõe a ampliação de possibilidades na condução e
acertos nas experiências com os alunos.
Os professores artistas da série trazem essa percepção e corroboram o pensamento de que é
imprescindível para o professor a prática da arte, como meio inclusive de condução e diálogos
sobre a experiência do fazer artístico. Muitas ideias de criação e produção autoral nascem das
experiências em sala de aula, assim como muitos exercícios e experimentações propostas para o
ensino/aprendizagem nascem de experimentações nas produções de ateliê. Mesmo que o
professor não possua formação inicial específica, embora atue como professor de Arte, tem que
investir na produção em ateliê. Isso porque se ele tiver uma produção artística em ateliê, se praticar
arte e for envolvido com/pela arte, indo a exposições, espetáculos e eventos de manifestações
artísticas, terá uma contribuição significativa para concepções de propostas de ensino e de
condução das experiências com os alunos.
Em um dos vídeos da série Professor Artista, Eugênio Pacceli Horta fala da importância do professor
ter nele a experiência a experiência do fazer artístico, para não ficar uma relação artificial entre o
que faz e o que se propõe a ensinar. Esse “ser artista” se dá no sentido que de todo professor de
Arte tem que ser um artista, tem que produzir arte. Não no sentido de ser um artista pop star, de ser
consagrado pelas mídias, mas de
ser um artista que produz, que reflete e que pensa arte. Então eu acho que não
pode ser desvinculado. Assim como também aquela pessoa que vá dar aula, que se
sente um artista e que entende aquele ato ali do compartilhamento de conheci-
mentos em ensino como coisa menor, porque existe isso também. O que é uma
grande bobagem porque se a gente pensa nos grandes artistas, no Paul Klee, que é
um artista reconhecido, no Kandinsky, que é um artista reconhecido, nos próprios
artistas do período renascentista, Michelangelo, eles foram grandes professores!
(Depoimento série Professor Artista).
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As proposições dos coletivos de arte podem também contribuir para essa reflexão, uma vez
que o conceito de autoria nesse campo ganha outros contornos, como considera Brígida Campbell:
A obra de arte está muito conectada à ideia de autoria, mas quando você trabalha
coletivamente essa autoria se dissolve. Alguns artistas têm muita dificuldade de
lidar com isso justamente por que têm uma espécie de endeusamento do fazer
artístico, endeusamento do artista, e quando você está num coletivo não. É meu, é
seu também, é dele também, se tiver quinze pessoas são quinze autores. Mesmo
que você é que tenha tido a ideia e os outros tenham executado. (Depoimento série
Professor Artista).
Brígida Campbell considera que esses sistemas de relações tensionam o lugar do artista gênio e o
coloca no lugar do artista propositor. Quando se trabalha no coletivo, há uma soma de talentos e
vontades: um fotografa bem, outro desenha bem e o outro sabe diagramar, então juntos podem
fazer um livro.
A perspectiva do professor artista propositor é fundamentalmente válida para ações no
ensino/aprendizagem e, além das proposições estéticas de concepções e atuações artísticas,
Brígida fala de ações de trabalho do coletivo de arte do qual é membro, o Grupo Poro, que podem
ser apropriadas e exploradas por professores em escolas de cidades e lugares diversos. Dá como
exemplo a cidade como campo de atuação, espaço de múltiplas referências, memórias, possibili-
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017
Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
Figura 1: Frame do filme de Eugênio Paccelli Horta. Série Professor Artista (2013).
106
dades e movimentos, e desse espaço comum como lugar de conexão com a coletividade. Assim,
são várias cidades dentro de uma cidade e dentre as múltiplas referências o que não falta é assunto
para arte.
Como a gente queria fugir um pouco dessa estrutura "cubo branco”, foi natural
assim o desejo de ir para os espaços que a podemos chamar de não institucionais.
Olhar para a cidade, pensar as intervenções na cidade, a gente adora aqueles “baixo
centro”, lugares muito ricos, em termos de referências imagéticas, simbólicas,
estéticas e daí então começamos a coletar coisas e a ter vontade de desenvolver
alguns projetos específicos para certas situações e espaços da cidade (Depoimento
série Professor Artista).
Além das imagens e registros de processos de criação, os depoimentos dos professores artistas
trazem reflexões acerca de relações entre arte e pensamento crítico, político, além de fenômenos
constituintes dos processos de criação artística como a experiência, a imaginação e a metáfora.
A série Professor Artista busca, portanto, apresentar, a partir das imagens, depoimentos e
proposições estéticas dos professores artistas focalizados, possibilidades de concepções de novas
ideias, de criação e de proposições e explorações em ações didáticas - sem didatismos - pelos
professores de Arte, de um modo geral.
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017
Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
Figura 2: Frame do filme de Brígida Campbell. Série Professor Artista (2013).
107
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O Laboratório-Ateliê, como espaço de pessoas com o estabelecimento e fundação de ideias, pensa-
mentos e conexões para conceber novas ideias e proposições, é uma das possibilidades de
formação inicial de professores de Arte para a ampliação da capacidade de pensar e elaborar
materiais didáticos apropriados para seu trabalho docente.
A apropriação crítica de equipamentos e ambientes de tecnologias em favor de proposições
estéticas precisa ser pensada como uma das formas de exercer a arte no contexto educativo. A
vivência artística nessa ambiência também faz parte do processo de criação que, mesmo não
sendo voltada para uma exposição ou mostra de arte, visa à elaboração de algo que será publi-
cizado e terá repercussão na aprendizagem em Arte.
Há que ser criativo para relacionar o que se sabe enquanto professor com o que se quer que seja
aprendido e apreendido em Arte por parte dos alunos, considerando que essa aprendizagem não
se refere somente a técnicas, denominações de estilos ou fatos da biografia de artistas, mas sim de
pensamentos artísticos contextualizados social e politicamente, que reverberarão em atitudes
comportamentais personalizadas estética e culturalmente.
A finalidade do material didático não é facilitar a vida do professor, é permitir que ele pense critica-
mente acerca de qual ensino/aprendizagem significativo ele poderá proporcionar aos alunos com
seu uso. Mais que um instrumento, é um meio de referência e desafio ao pensamento artístico.
REFERÊNCIAS
FILMOGRAFIA - SÉRIE PROFESSOR ARTISTA
Brígida Campbell, 2013. 19min56s. Dir.: Geraldo Loyola, Maurício Gino, Sérgio Vilaça. Brasil. Série
Professor Artista. Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV/EBA/UFMG).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8x5bL9nZO1g (Acesso em 10/06/2017).
Eugênio Paccelli Horta, 2013. 17min52s. Dir.: Geraldo Loyola, Sérgio Vilaça. Brasil. Série Professor
Artista. Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV/EBA/UFMG).
LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais
didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte.
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017
Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
NOTAS
1 Arte - no singular e grafada com inicial maiúscula - se refere ao componente curricular; arte - grafada no
singular e com inicial minúscula - se refere ao campo artístico de modo geral; Artes – com inicial maiúscula e
no plural – se refere à área de conhecimento.
2 A série Professor Artista é produzida para o Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV),
modalidade EaD, que faz parte do Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFMG, com o
apoio do Innovatio - Laboratório de Arte e Tecnologias para a Educação, também vinculado à Escola de Belas
Artes da UFMG,
3 A série Professor Artista é tema de pesquisa na tese PROFESSOR-ARTISTA-PROFESSOR: Materiais
didático-pedagógicos e ensino-aprendizagem em Arte, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Artes da Escola de Belas da Universidade Federal de Minas Gerais em 2016. Disponível em:
https://goo.gl/sCB9Zm (Acesso em: 10/06/2017).
Artigo Recebido em: 11 de Junho de 2017
Aceito para publicação em: 20 de Agosto de 2017

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  • 1. 96 O LABORATÓRIO-ATELIÊ: ELABORAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO/APRENDIZAGEM EM ARTE Geraldo Freire Loyola Escola de Belas Artes – Universidade Federal de Minas Gerais geraldoloyola@gmail.com Lucia Gouvêa Pimentel Escola de Belas Artes – Universidade Federal de Minas Gerais luciagpi@gmail.com RESUMO Os materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte são complexos e devem levar em consideração condições inerentes tanto à sua qualidade estética quanto às diversas contextualizações culturais e aos diferentes suportes. É necessário que o professor de Arte saiba elaborar materiais didáticos apropriados para seu grupo de alunos e, para tanto, faz- se necessário que os cursos de formação de professores de Arte tenham em seu currículo um espaço para a aprendizagem de elaboração de materiais didáticos. Considera-se que o Laboratório-Ateliê é o espaço propício para isso, levando-se em conta haver nele a ambiência artístico-pedagógica adequada. Palavras-chave: Ensino/aprendizagem em Arte; Materiais didáticos; Laboratório-Ateliê. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 2. 97 ABSTRACT Teaching materials for art education are complex and should take into consideration not only the subject's inherent aesthetic aspects but also its various cultural contexts and mediums. Art teachers need to be able to prepare appropriate teaching materials for their students and therefore it is necessary for teacher-training courses to include a space for training in such preparation. It is suggested that the studio-laboratory is the space that offers the most appropriate environment, from an artistic and pedagogical point of view, for that training. Key words: Teaching/learning in Art; Teaching materials; Studio-laboratory. O trabalho com Arte, tanto nos processos de criação quanto nos de ensino/aprendizagem, que são confluentes, demanda reflexões e especificidades que se apresentam quase sempre complexos. No ensino/aprendizagem, a construção de conhecimentos a partir dos exercícios de experimentação e de estímulo à criação configuram-se como componentes fundamentais dos modos de procedi- mentos. Assim sendo, as concepções de ideias, ações e materiais didáticos devem contemplar sempre essas especificidades. Em Arte1 nem sempre é possível uma abordagem sequencial, com um roteiro passo a passo, uma vez que os processos de abordagem e os resultados não são coincidentes, porque transitam, também e essencialmente, pelos campos da autoexpressão, da criação, da cultura e da subje- tividade. Além disso, há que se levar em consideração a imprevisibilidade da experiência de criação artística. Isso não significa descartar as várias possibilidades de abordar a história da arte e de criar métodos e metodologias conjugados com os exercícios e experimentações artísticas com os alunos. Em função das diversidades e especificidades dessa área de conhecimento, nem sempre é fácil conceber materiais didáticos para o componente curricular Arte. Como exemplo, podem ser citados os livros didáticos presentes no mercado, que trazem toda a sorte de equívocos ou unicidade de processo, o que contraria uma característica fundamental de Arte, que é fomentar o pensamento crítico e divergente. Somente a partir de 2015 o Ministério da Educação – MEC, através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), incluiu em seu Edital a chamada para livros didáticos para Arte no ensino médio e, nos anos subsequentes, para os anos iniciais e os anos finais LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 3. 98 do ensino fundamental da educação básica. A tentativa de incluir, junto aos livros impressos, materiais digitais mostrou-se inócua, uma vez que a qualidade do material enviado não contribuía para um ensino/aprendizagem significativo em Arte. Os conteúdos dos livros didáticos para Arte nem sempre podem ser abordados e tratados de forma linear, mas esses conteúdos podem provocar ideias e ações a serem exploradas e adaptadas, considerando as estruturas de cada escola e perfis dos alunos e turmas, para que sejam estabele- cidas e criadas conexões entre os conteúdos sugeridos nos livros e a realidade de cada grupo de estudantes. Nesse sentido, é o professor de Arte quem deve estar sempre atento para estabelecer pontes entre o que propõem os livros didáticos e as maneiras de enfocar e conduzir as experiências com os alunos. Outros tipos de material didático para o ensino/aprendizagem em Arte vêm sendo elaborados e disponibilizados, principalmente, na internet, mas a tarefa de selecionar os que apresentam conceitos corretos e têm como foco a aprendizagem em Arte exige tempo e disponibilidade de acesso. Quais são as maneiras de, nos cursos de formação de professores, estimular a incumbência de proposição do próprio material didático? Que abordagens teóricas do ensino/aprendizagem facilitam aproximar o pensamento artístico das proposições e ações didáticas pensadas pelo professor no cotidiano da sala de aula? Diante do avanço tecnológico, quais conceitos, dispositivos, instrumentos e ambientes de comunicação são mais apropriados para provocar nos professores a ampliação do pensamento e interesse para pensar suas ações didáticas, tanto na educação presencial quanto a distância? Se em Arte o roteiro passo a passo pensado como material didático nem sempre é concebível, quais são as ideias e contribuições de professores artistas para a formação de futuros professores de Arte? LABORATÓRIO-ATELIÊ Em arte, o espaço ambiente de elaboração artística possui importância fundamental, sendo um dos fatores provocadores de ideias e soluções. Quando se relaciona à elaboração de material didático, deve ter tanto a infraestrutura material para a produção, quanto propiciar a possibilidade de visual- LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 4. 99 ização do que está sendo feito. No caso de formação de professores, seja na formação inicial ou na formação continuada, o espaço ambiente é parte da ambiência propícia e essa elaboração, composta também pelos estudantes, artistas, pesquisadores e professores que nela atuam. Considera-se que o laboratório-ateliê seja a ambiência propícia para que as ações de elaboração do material didático aconteçam. Entende-se que essas ações são tanto de ordem das ideias, das pesquisas e dos estudos quanto do desenvolvimento e experimentação dos materiais.. O laboratório-ateliê é, portanto, uma ambiência multifacetada, que comporta equipamentos e pessoas de origem e especialidade diversas, com a maior diversidade possível de finalidades, tanto em produção individual quanto coletiva. Quando a finalidade é elaborar materiais didáticos de arte que possam se adequar tanto à formação de professores quanto às ações docentes em situação de ensino/aprendizagem em Arte, a diversidade de especialização da equipe é fator primordial para que haja harmonização entre os aspectos técnicos e tecnológicos, os aspectos formais e de conteúdo. Uma das pesquisas feitas diz respeito à aprendizagem de sequenciamento por crianças surdas. A demanda foi feita pela aluna Alexsandra de Oliveira, da Licenciatura da EBA/UFMG, que buscou auxílio com a professora Cristina Guimarães, do Departamento de Psicologia da FAFICH/UFMG, para conhecer melhor o que ocorria e como poderíamos elaborar um material pedagógico que auxiliasse o entendimento do que é sequência. Alexsandra dava aulas de Arte em uma escola para crianças e jovens surdos em Divinópolis – MG, e tinha experiência de que os alunos gostavam muito de trabalhar com desenho e pintura. Elabo- ramos uma proposta pedagógica que incluía trabalhos com desenho, material tridimensional e uso do programa Animator, àquela época (1999) uma novidade. Na primeira atividade pedimos que os estudantes desenhassem cenas de como era o percurso deles de casa até a escola. Verificamos que os registros eram de duas cenas: uma saindo de casa e outra chegando à escola. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 5. 100 Tendo como material papelão, massa de modelar, tinta guache e pincéis, fizemos a proposta de que eles confeccionassem personagens e objetos que fariam parte de cenários, com a massa de modelar. O desenho das cenas seriam a referência para a confecção dos elementos das cenas. Montamos espaços para quatro cenários com o papelão. Como base fizemos um círculo e dividimos com duas diagonais, o que gerou quatro espaços internos. A ideia era de que pudéssemos girar a base e observar as cenas em sequência, após a construção das mesmas. A construção das cenas foi muito instigante, pois dissemos que não poderia haver espaço vazio, que eles tinham que construir uma cena em cada espaço considerando o que vinha antes e o que vinha depois. Passamos, portanto, de duas cenas no desenho para quatro cenas no objeto tridi- mensional. Durante esta etapa, foram ensinados conceitos de espaço, tempo, teoria da cor, mistura de cores, composição, luz e sombra. Terminada esta etapa, pedimos que eles fizessem outro desenho, a partir da referência do objeto tridimensional. Não era para desenhar o que estava nas cenas, mas para pensar uma sequência a partir do que fizeram nas cenas. O número de cenas aumentou. Escaneamos os desenhos de cada aluno e colocamos no Animator. O programa permite que sejam colocados quadros em branco entre os quadros com desenho, o que foi feito para cada trabalho. Imprimimos folhas com esse registro e fizemos uma sessão onde mostramos as produções e comentamos sobre como estava difícil saber o que aconteceu na história somente com as cenas já desenhadas. Entregamos as folhas impressas, pedindo para que completassem os quadros em branco com as cenas que faltavam. O resultado foi o aumento de quadros nesse trabalho e em outros trabalhos similares, que foram propostos posteriormente. Além disso, professores de outros componentes curriculares relataram melhora no entendimento de textos e na escrita dos alunos. Todas as etapas foram discutidas no Laboratório-Ateliê com outros alunos da Licenciatura e do Bacharelado em Artes Visuais. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 6. 101 MATERIAL DIDÁTICO Entende-se por material didático todos os objetos elaborados com a intenção de proporcionar aprendizagens. Podem ser nos mais diversos formatos, como livros impressos, softwares, jogos, audiovisuais ou outras formas digitais ou não. O material didático é um componente indispensável em Arte, porém, considerando que o ensino/aprendizagem não acontece de forma linear e os recursos didáticos não funcionam como receita pronta, é fundamental o respeito aos diferentes contextos culturais, à diversidade de formas de como cada pessoa percebe o mundo e se expressa no mundo e com o mundo. Na perspectiva do professor, também são fundamentais o estímulo à reflexão e à construção e ampliação do pensamento artístico, à experimentação, no sentido de pensar novas ideias e de criar condições e ambiências para pensar e fazer arte, e na criação de metodologias para condução das experiências e ações. Nem sempre um material didático de Arte produzido para uma modalidade ou ano de ensino poderá ser abordado de forma semelhante em todas as escolas, em função da diversidade de culturas, da proposição estética de cada abordagem, do perfil dos alunos, das estruturas físicas de cada lugar, das demandas sociais, costumes etc. Por isso, o professor é a pessoa mais indicada a pensar, pesquisar e produzir o material didático específico para suas aulas, articulando-o com os já existentes, de acordo com conteúdos, metodologias e contextos dos alunos e do ambiente. A noção de material didático remete a conceitos muito amplos e abrangentes como livro didático, instrumentos ou objetos de aprendizagem etc.; em Arte envolve fenômenos peculiares e especí- ficos, inerentes ao processo de criação e formação artística. Portanto, é importante que o material didático seja pensado, além dos instrumentos e coisas, como um conjunto de possibilidades de pensamentos que levem à reflexão do que seja ensinar/aprender Arte como conhecimento e como experiência de vida, e à produção significativa de outros materiais, ações e ideias adequados ao contexto de cada escola e de cada grupo de alunos. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 7. 102 É preciso pensar, ainda, em materiais que visibilizem culturas diversas, como as dos povos indígenas, do campo, de outros continentes que tradicionalmente não têm sua arte divulgada – Ásia, África e Oceania –, pois é a partir do conhecimento e reconhecimento da diversidade que se constrói o respeito ao diverso. ENSINO/APRENDIZAGEM EM ARTE O que ensinar/aprender relaciona-se estreitamente com como ensinar/aprender. Parte-se do princípio que ensinar/aprender não são duas faces de mesma ação, mas é uma ação imbricada. Ou seja, não há ensino se não há aprendizagem e não há aprendizagem sem que haja ensino. Não se está considerando os dois termos em suas concepções tradicionais, mas sim na concomitância de ações que se inter-relacionam em diversas direções. Os processos e procedimentos usados proposi- talmente para que outro alguém aprenda – o que comumente se denomina ensino – partem do princípio de como quem ensina aprendeu e como considera serem eficientes esses processos e procedimentos a partir de sua própria ação. Em um curso de formação de professores de Arte, a reflexão constante de ‘como eu aprendi como posso ensinar’ é fundamental. Esse ‘como eu aprendi’ engloba tanto os aspectos metodológicos do ensino quanto as relações feitas entre aprendizagens, ou seja, entre os enfoques teóricos e práticos da aprendizagem. Esses enfoques estão interligados, mas, por vezes, são considerados em separado, o que resulta em unilateralidade de investimento em métodos ou conteúdos que não resultam em aprendizagem. Na interação prática/teoria, são vários os fatores que interferem na aprendizagem, inclusive aspectos de relações pessoais e entre aprendiz e material didático. TECNOLOGIAS E PENSAMENTO ARTISTICO: A SÉRIE PROFESSOR ARTISTA Com o surgimento e avanço contínuo da tecnologia, as formas de viver, relacionar e construir conhecimentos são cada vez mais reconfiguradas e o ensino/aprendizagem em Arte não é excluído desse processo. Portanto, são dispositivos tecnológicos e ambientes que fazem parte do dia a dia LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 8. 103 dos alunos e devem ser apropriados para o ensino/aprendizagem, mas ressalta-se que são somente meios para promover ações de conhecimento e o foco deve estar sempre nas ideias estéticas de cada proposição e na confluência dos pensamentos artístico e tecnológico. Novas possibilidades de concepção e promoção do conhecimento surgiram como, por exemplo, plataformas para o ensino a distância. E é para essa modalidade de ensino que foi concebida a série Professor Artista2 , com filmes com duração aproximada de 15 minutos, apresentando professores artistas e suas concepções de trabalho nos dois campos. Um dos principais objetivos da série é levar aos alunos e professores de Arte imagens, processos de criação e reflexões estéticas de professores artistas contemporâneos, nas suas poéticas de criação e nas ações de ensino e, com isso, apresentar aos alunos parte da produção de artistas contem- porâneos como possibilidade de ampliação do repertório de imagens, de abordagens e exper- iências artísticas, e como reflexão e estímulo ao pensamento crítico e à geração de novas ideias. Muitos alunos do Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFMG – CEEAV/EBA/UFMG não fizeram graduação em Artes e, portanto, nem todos tiveram/têm a arte como componente estético da própria vida e, após a conclusão do curso, vários deles passam a ministrar o componente curricular Arte em escolas da educação básica, em diversas regiões do estado de Minas Gerais e também em outros estados. Nesse sentido, a produção da série Professor Artista3 abarca as reflexões propostas neste artigo, acerca do entendimento e concepção de materiais didáticos e modos de ensinar/aprender Arte. As diversas modalidades e expressões com as quais cada um trabalha criam condições para ampliação de ideias para pensar, criar e ensinar Arte. Desenho, cerâmica, gravura, pintura, inter- venção urbana, tecnologias contemporâneas, experiências corpóreas, teatro de bonecos etc. são algumas dessas modalidades e o propósito é que o aluno e/ou professor possam assistir aos filmes, e estabelecer conexões com o perfil dos alunos e ambientes de trabalho. A partir dessas conexões, o professor pode pensar ações didáticas para cada contexto, criando ambiência favorável à apren- dizagem. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 9. 104 O propósito de focalizar professores artistas remete também à ideia e importância de se praticar arte em concomitância com o processo de ensino/aprendizagem. O fato de experimentar, criar, errar e refazer ações e exercícios artísticos pressupõe a ampliação de possibilidades na condução e acertos nas experiências com os alunos. Os professores artistas da série trazem essa percepção e corroboram o pensamento de que é imprescindível para o professor a prática da arte, como meio inclusive de condução e diálogos sobre a experiência do fazer artístico. Muitas ideias de criação e produção autoral nascem das experiências em sala de aula, assim como muitos exercícios e experimentações propostas para o ensino/aprendizagem nascem de experimentações nas produções de ateliê. Mesmo que o professor não possua formação inicial específica, embora atue como professor de Arte, tem que investir na produção em ateliê. Isso porque se ele tiver uma produção artística em ateliê, se praticar arte e for envolvido com/pela arte, indo a exposições, espetáculos e eventos de manifestações artísticas, terá uma contribuição significativa para concepções de propostas de ensino e de condução das experiências com os alunos. Em um dos vídeos da série Professor Artista, Eugênio Pacceli Horta fala da importância do professor ter nele a experiência a experiência do fazer artístico, para não ficar uma relação artificial entre o que faz e o que se propõe a ensinar. Esse “ser artista” se dá no sentido que de todo professor de Arte tem que ser um artista, tem que produzir arte. Não no sentido de ser um artista pop star, de ser consagrado pelas mídias, mas de ser um artista que produz, que reflete e que pensa arte. Então eu acho que não pode ser desvinculado. Assim como também aquela pessoa que vá dar aula, que se sente um artista e que entende aquele ato ali do compartilhamento de conheci- mentos em ensino como coisa menor, porque existe isso também. O que é uma grande bobagem porque se a gente pensa nos grandes artistas, no Paul Klee, que é um artista reconhecido, no Kandinsky, que é um artista reconhecido, nos próprios artistas do período renascentista, Michelangelo, eles foram grandes professores! (Depoimento série Professor Artista). LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 10. 105 As proposições dos coletivos de arte podem também contribuir para essa reflexão, uma vez que o conceito de autoria nesse campo ganha outros contornos, como considera Brígida Campbell: A obra de arte está muito conectada à ideia de autoria, mas quando você trabalha coletivamente essa autoria se dissolve. Alguns artistas têm muita dificuldade de lidar com isso justamente por que têm uma espécie de endeusamento do fazer artístico, endeusamento do artista, e quando você está num coletivo não. É meu, é seu também, é dele também, se tiver quinze pessoas são quinze autores. Mesmo que você é que tenha tido a ideia e os outros tenham executado. (Depoimento série Professor Artista). Brígida Campbell considera que esses sistemas de relações tensionam o lugar do artista gênio e o coloca no lugar do artista propositor. Quando se trabalha no coletivo, há uma soma de talentos e vontades: um fotografa bem, outro desenha bem e o outro sabe diagramar, então juntos podem fazer um livro. A perspectiva do professor artista propositor é fundamentalmente válida para ações no ensino/aprendizagem e, além das proposições estéticas de concepções e atuações artísticas, Brígida fala de ações de trabalho do coletivo de arte do qual é membro, o Grupo Poro, que podem ser apropriadas e exploradas por professores em escolas de cidades e lugares diversos. Dá como exemplo a cidade como campo de atuação, espaço de múltiplas referências, memórias, possibili- LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos> Figura 1: Frame do filme de Eugênio Paccelli Horta. Série Professor Artista (2013).
  • 11. 106 dades e movimentos, e desse espaço comum como lugar de conexão com a coletividade. Assim, são várias cidades dentro de uma cidade e dentre as múltiplas referências o que não falta é assunto para arte. Como a gente queria fugir um pouco dessa estrutura "cubo branco”, foi natural assim o desejo de ir para os espaços que a podemos chamar de não institucionais. Olhar para a cidade, pensar as intervenções na cidade, a gente adora aqueles “baixo centro”, lugares muito ricos, em termos de referências imagéticas, simbólicas, estéticas e daí então começamos a coletar coisas e a ter vontade de desenvolver alguns projetos específicos para certas situações e espaços da cidade (Depoimento série Professor Artista). Além das imagens e registros de processos de criação, os depoimentos dos professores artistas trazem reflexões acerca de relações entre arte e pensamento crítico, político, além de fenômenos constituintes dos processos de criação artística como a experiência, a imaginação e a metáfora. A série Professor Artista busca, portanto, apresentar, a partir das imagens, depoimentos e proposições estéticas dos professores artistas focalizados, possibilidades de concepções de novas ideias, de criação e de proposições e explorações em ações didáticas - sem didatismos - pelos professores de Arte, de um modo geral. LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos> Figura 2: Frame do filme de Brígida Campbell. Série Professor Artista (2013).
  • 12. 107 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O Laboratório-Ateliê, como espaço de pessoas com o estabelecimento e fundação de ideias, pensa- mentos e conexões para conceber novas ideias e proposições, é uma das possibilidades de formação inicial de professores de Arte para a ampliação da capacidade de pensar e elaborar materiais didáticos apropriados para seu trabalho docente. A apropriação crítica de equipamentos e ambientes de tecnologias em favor de proposições estéticas precisa ser pensada como uma das formas de exercer a arte no contexto educativo. A vivência artística nessa ambiência também faz parte do processo de criação que, mesmo não sendo voltada para uma exposição ou mostra de arte, visa à elaboração de algo que será publi- cizado e terá repercussão na aprendizagem em Arte. Há que ser criativo para relacionar o que se sabe enquanto professor com o que se quer que seja aprendido e apreendido em Arte por parte dos alunos, considerando que essa aprendizagem não se refere somente a técnicas, denominações de estilos ou fatos da biografia de artistas, mas sim de pensamentos artísticos contextualizados social e politicamente, que reverberarão em atitudes comportamentais personalizadas estética e culturalmente. A finalidade do material didático não é facilitar a vida do professor, é permitir que ele pense critica- mente acerca de qual ensino/aprendizagem significativo ele poderá proporcionar aos alunos com seu uso. Mais que um instrumento, é um meio de referência e desafio ao pensamento artístico. REFERÊNCIAS FILMOGRAFIA - SÉRIE PROFESSOR ARTISTA Brígida Campbell, 2013. 19min56s. Dir.: Geraldo Loyola, Maurício Gino, Sérgio Vilaça. Brasil. Série Professor Artista. Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV/EBA/UFMG). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8x5bL9nZO1g (Acesso em 10/06/2017). Eugênio Paccelli Horta, 2013. 17min52s. Dir.: Geraldo Loyola, Sérgio Vilaça. Brasil. Série Professor Artista. Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV/EBA/UFMG). LOYOLA, Geraldo Freire; PIMENTEL, Lucia Gouvêa. O Laboratório-Ateliê: elaboração de materiais didáticos para o ensino/aprendizagem em Arte. PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v.7, n.14: nov.2017 Disponível em <https://eba.ufmg.br/revistapos>
  • 13. NOTAS 1 Arte - no singular e grafada com inicial maiúscula - se refere ao componente curricular; arte - grafada no singular e com inicial minúscula - se refere ao campo artístico de modo geral; Artes – com inicial maiúscula e no plural – se refere à área de conhecimento. 2 A série Professor Artista é produzida para o Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais (CEEAV), modalidade EaD, que faz parte do Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFMG, com o apoio do Innovatio - Laboratório de Arte e Tecnologias para a Educação, também vinculado à Escola de Belas Artes da UFMG, 3 A série Professor Artista é tema de pesquisa na tese PROFESSOR-ARTISTA-PROFESSOR: Materiais didático-pedagógicos e ensino-aprendizagem em Arte, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas da Universidade Federal de Minas Gerais em 2016. Disponível em: https://goo.gl/sCB9Zm (Acesso em: 10/06/2017). Artigo Recebido em: 11 de Junho de 2017 Aceito para publicação em: 20 de Agosto de 2017