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FACULDADE POLIS DAS ARTES
CRISTINA AKEMI MUNEHISA
TÉCNICAS EM ARTES VISUAIS
Embu das Artes
2015
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FACULDADE POLIS DAS ARTES
CRISTINA AKEMI MUNEHISA
TÉCNICAS EM ARTES VISUAIS
Embu das Artes
2015
Trabalho final apresentado à disciplina “
Técnicas em artes visuais” como exigência
parcial para a obtenção do curso de Pós em
Arte Educação – Turma “E43”, sob a
supervisão do Professor (a) Ms Jane
Nogueira dos Santos. Pólo: Taboão da
Serra!
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Introdução
O presente trabalho compreende no registro da relação entre a
observância das técnicas em artes visuais tendo em vista o seu aspecto educativo
e no relato de práticas bem sucedidas que exemplificam esse estudo no ensino
fundamental I. Sendo a partir do conhecimento dos elementos básicos da
comunicação visual entendendo que qualquer educando está em
desenvolvimento de suas habilidades, tanto apreciativas e interpretativas como
artisticamente produtivas. A exploração desse tipo de expressão deve ser livre de
julgamentos e preconceitos, tendo em vista que a construção cultural perpassa
outras conjunturas como a histórica e a político-social. Desde a tenra idade, em
sua pequena esfera de convivência, a criança é bombardeada de maneira
orgânica com todo tipo de arte visual, intencional ou não. Portanto é função da
escola e do educador ajudar na orientação durante esse processo de construção
do olhar, de traçar conscientemente o caminho do lúdico ao nascimento da
intencionalidade artística. Isso indica que é fundamental o estudo de diferentes
técnicas com foco em potencialidades exploratórias e que seja cada vez mais
comum entre educadores de todas as modalidades de ensino, pois impulsiona a
ampliação dos conhecimentos e principalmente a multiplicação das boas práticas
na escola. Para tanto, com base na aula “Técnicas em artes visuais”, juntamente
com bibliografia complementar e atividades realizadas anteriormente na escola e
que se relacionam, completa-se esse breve estudo acerca do tema.
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Desenvolvimento da Pesquisa
Os elementos da linguagem visual, historicamente, se fizeram presentes
socialmente antes mesmo do desenvolvimento da linguagem verbal da maneira
que se conhece atualmente. Esse processo é o mesmo nas etapas de
desenvolvimento da linguagem dos seres humanos.
Entende-se como linguagem, segundo Marcia Goldfeld (2007), tudo que
envolve significação, com intenção comunicativa ou não, sendo que é a partir da
linguagem que se constitui o pensamento. Portanto, ao contrário do que se possa
imaginar, a linguagem visual é tão importante quanto a linguagem verbal, já que,
se a última é apenas uma forma mais complexa de interação com o mundo são
necessários todos os tipos de estimulações para que se fundamente.
Ao longo do tempo, perpassando diferentes momentos históricos, as
representações visuais, antes primitivas, orgânicas, desenvolveram-se
sofisticadamente em técnicas de produção que constantemente se renovam em
criativas formas de manipulação de materiais, construção de formas e imagens, e
até mesmo construções abstratas.
A este conjunto de criações, que se convencionou chamar de artes
plásticas, pode-se notar uma rica cultura, e conhecer e entender essa evolução é
também conhecer e entender a história da humanidade.
A arte porém apresenta dois vieses conceituais, estético e poético. Para
Marilena Chaui, (1978) a poética é o estudo da arte tendo em vista toda a criação
artística provinda da humanidade, ou seja, o que é fabricado por humanos, e de
que maneira tal produto vem a ser recebido pelo espectador, sendo seu valor
julgado por critérios éticos, políticos e metafísicos, diferenciados então entre o
bem e a verdade e o torpe e o mesquinho.
Já a estética está mais voltada à experiência sensorial e a busca pelo belo,
portanto leva em conta principalmente se a arte provoca no espectador uma
reação/sensação de prazer perante a obra.
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Essa concepção tende a refutar as ideias poéticas, pois não acredita na
necessidade da presença da virtude na arte e dissocia a estética de qualquer
compromisso ético, pretendendo como único objetivo ser autônomo em nome da
beleza subjetiva e original.
Um dia desses vi sobre a mesa uma talhada de melancia. E, assim
sobre a mesa nua, parecia o riso de um louco (não sei explicar
melhor). Não fosse a resignação a um mundo que me obriga a ser
sensata, como eu gritaria de susto às alegres monstruosidades pré-
históricas da terra. Só um infante não se espanta: também ele é
uma alegre monstruosidade que se repete desde o começo da
história do homem. Só depois é que vêm o medo, o apaziguamento
do medo, a negação do medo – a civilização enfim. Enquanto isso,
sobre a mesa nua, a talhada gritante de melancia vermelha. Sou
grata a meus olhos que ainda se espantam tanto. Ainda verei muitas
coisas. Para falar verdade, mesmo sem melancia, uma mesa nua
também é algo para se ver. (LISPECTOR, 1978, p. 74)
Este trecho denota com clareza como para um adulto a percepção estética
e poética, seja em forma de arte ou mesmo de objetos do cotidiano, é diferente, já
que o adulto já construiu um repertório imagético, isso faz com que ao passo que
tem infinitamente mais referências que a criança, se surpreenda de fato, apenas
com algo que não faz parte do senso estético comum, baseado em experiências
próprias e de sua comunidade, ou seja, sua percepção não é pura, é uma
interpretação construída a partir de suas outras referências culturais, e se quanto
mais se tem sensibilidade poética, tanto mais é aguçada a percepção estética,
pois é a poética que consegue enxergar além do belo.
Segundo Pino (2006) o sentido estético não é inato, portanto é uma
constituição dos processos de desenvolvimento humano, da percepção dos
elementos que são sensíveis a cada indivíduo. Sendo assim tem relação direta
com a cultura e a educação. Tal qual o senso poético, que talvez seja ainda mais
complexo e profundo.
No ensino básico o ensino da arte tende atualmente a ser essencialmente
pragmático, buscando trabalhar reproduções de obras e treino de técnicas, assim
sendo, servindo apenas ao propósito de exercitar a pseudo produção do “belo”.
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Porém, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte (2006) o
ensino da arte potencializa a aprendizagem da criança, tendo em vista sua
dimensão social e consequentemente existencial. Esse aspecto tem relação direta
ao conceito de arte poética.
Isso indica que apesar da trajetória tecnicista do ensino da arte, essa não é
mais a proposta mais abrangente e adequada atualmente. Ainda segundo os
PCN’s pode-se observar que há no Brasil um profundo abismo entre as
concepções teóricas e suas aplicações nas escolas, portanto, os esforços para o
processo de modernização dos educadores brasileiros ainda não deram frutos
significativos, pois os exemplos positivos dessa experiência ainda são isolados.
Na busca dessa experiência mais contextualizada, completa e humana,
serão relatadas a seguir duas atividades desenvolvidas com turmas do segundo
ano do ensino fundamental, nos últimos três anos.
1. O mestiço – Cândido Portinari
Essa atividade foi idealizada como parte do projeto institucional anual da
escola que tinha como tema a leitura.
A turma já havia explorado e discutido sobre a questão étnica a fundo,
portanto como fechamento foi proposto a eles que buscassem pela memória
afetiva uma figura masculina de referência e reproduzir o mesmo na posição
em que se encontra o mestiço na obra. A intenção era que eles se
aperfeiçoassem tanto no olhar como na expressão artística, apurando sua
leitura de mundo.
O resultado foi impressionante, a maneira como foram sendo construídos
homens de diferentes descendências étnicas e a sensibilidade que tiveram
para inserir em seus desenhos esses detalhes, utilizando-se de técnicas de
traço e pintura foi de fato surpreendente.
2. Van Gogh e o suas impressões
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Durante um trabalho em língua portuguesa, de ampliação de vocabulário e
interpretação de texto, surgiu uma discussão sobre os sentimentos e as
impressões sobre as coisas.
Sobre o sentimento ser algo abstrato, para crianças de 7 e 8 anos, há uma
dificuldade inerente a faixa etária para internalizar esse conceito.
Surgiu então uma excelente oportunidade de atribuir ao estudo de obras de
uma escola específica, maior contundência, e vice-versa.
Foi sugerido então que fizessem em casa uma pesquisa sobre o
Impressionismo, escolhessem uma obra que lhe aprouvesse e registrasse
como se sentiam em relação a ela. A última parte do exercício foi realmente
bem complexo para eles, o que sugeriu que de fato o trabalho deveria ser
mais pontual.
Entre Monet, Manet, Degas, Renoir e Van Gogh, que surgiram na pesquisa, o
que eles afirmaram mais gostar foi Van Gogh, alegando que as cores
chamaram atenção, e que dos impressionistas eram as obras mais inteligíveis
a eles. Apesar de que alguns disseram sentir medo perante os auto retratos do
artista. Fomos então obra a obra explorando os sentimentos que poderíamos
ter durante a apreciação. Lendo os quadros, interpretando suas impressões.
Eles pareceram encantados com todas aquelas informações tão inusitadas, e
tão contraditórias, alguns até aquele momento não sabiam que poderiam
achar belo algo triste por exemplo. E por fim, na tentativa de utilizar a técnica
fizemos uma reprodução de uma tela escolhida por eles “Girassóis”, que
infelizmente, devido a falta de material, não foi possível em pintura, mas os
desenhos não deixaram a desejar. Ademais o lucro foi o crescimento
emocional nítido neles.
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Conclusão
Ao educador é de extrema importância a formação continuada, até porque
o mundo é dinâmico, e as crianças acompanham esse dinamismo com bem mais
intimidade que o adulto. Por esse motivo ser professor requer um esforço
constante de minimizar a distância entre as gerações, pois é nas distintas
maneiras de ler o mundo e na compreensão da diversidade que reside a
aprendizagem. A pesquisa realizada sobre os conceitos da arte poética e estética
e da trajetória do ensino da arte no Brasil parece dar sentido as atividades
realizadas antes da pesquisa e em análise vislumbrar outros desdobramentos
possíveis para a mesma atividade, gerar outras ideias de aproveitamento,
aprofundamento, ou até mesmo considerar outras abordagens sobre esse tema e
a exploração de técnicas mais adequadas e interessantes.
Obviamente os documentos brasileiros que tratam da educação estão no
caminho certo, pois observa-se que há um aproveitamento infinitamente maior
das crianças quando considera-se todos os aspectos que eles apontam a serem
trabalhados. Ainda é um desafio experimentar, os professores resistem, as
famílias não entendem bem o valor do que está sendo desenvolvido, as vezes,
ambos acham ser perda de tempo. Mas isso não deveria ser empecilho para se
desenvolver novos e diferentes trabalhos dessa natureza, as boas ideias devem
ser difundidas e aprimoradas, para que essas crianças possam ter a oportunidade
de modificar no futuro a forma de se fazer educação neste país.
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