O documento discute a relação entre a Escola Bíblica Dominical (EBD) e a família. A EBD fornece alimento espiritual e ensino bíblico para toda a família, mas os pais têm a principal responsabilidade de educar os filhos espiritualmente. A EBD e a família devem trabalhar juntas nessa tarefa, com a EBD fornecendo conteúdo e métodos de ensino, e a família apoiando o aprendizado dos filhos e vivenciando os valores cristãos no lar.
1. A EBD e a Família, Uma Parceira de Contribuição Mútua.
C. Kleber Maia
A Escola Bíblica Dominical (EBD) é uma oportunidade única de estudar a bíblia,
aplicando-a à vida pessoal e com uma mensagem adequada a cada faixa etária. É, por
isso, um instrumento de crescimento espiritual para toda a família. Os filhos precisam
de alimento espiritual, tem de ser ensinados nos caminhos do senhor e instruídos no
caráter cristão, precisam aprender que toda a vida deve estar centrada em Deus e os
pais tem um papel importantíssimo no acompanhamento da vida espiritual dos filhos.
Família e EBD têm uma meta em comum: formar cristãos maduros e produtivos para
honrar e servir a Deus. Esse fato tece laços profundos entre as duas instituições,
favorecendo a troca de informações e ajuda mútua.
Nos dias atuais, a família tem “terceirizado” para a EBD o encargo de ensinar
aos seus filhos as verdades espirituais e acredita que os mestres contagiem valores
morais e comportamentais, alegando que os pais trabalham cada vez mais, e não tem
tempo para zelar dos filhos. A família, contudo, não pode fugir a esta responsabilidade,
pois Deus delegou aos pais a tarefa de ensinar aos filhos a Sua Palavra (Dt 6.6,7; Sl
78.5).
Portanto, é uma obrigação e não uma opção dos pais dar aos filhos a instrução e a
disciplina condizente com a formação cristã (Ef 6.4). Os pais devem ser exemplos de
vida e conduta cristãs, e se importar mais com a vida espiritual dos filhos e não apenas
com seu emprego, profissão, trabalho na Igreja ou posição social; não que estes sejam
menos importantes, mas é preciso reconhecer-se a importância da formação do caráter
dos filhos, durante toda a vida destes. Uma conduta genuinamente cristã reflete na
constituição de um caráter coeso com os padrões de moralidade, mesmo que esses
padrões sofram alterações ao longo do tempo. A família deve, então, cooperar com a
EBD na instrução de seus pequenos, numa interação abençoada e abençoadora.
Funções da família nesta interação:
1. Estímulo – Cabe aos pais estimular os filhos a frequentarem a EBD, e a melhor
maneira de fazer isto é dando o exemplo (Fp 4.9). A criança que acompanha os pais à
EBD desde pequena será estimulada a continuar quando crescer (Pv 22.6). Os pais
que não vão a EBD cometem duplo erro: deixam de progredir como deveriam na vida
cristã e deixam de dar o exemplo a seus filhos. Se os pais faltam ou se atrasam, os
filhos os acompanham, geralmente. Por isso, devem esforçar-se para ser pontuais e
frequentes na EBD.
2. Valorização – Os pais ensinam os filhos a valorizar a leitura e o estudo da Bíblia, a
respeitar seus professores e colegas e a fazer, durante a semana, a preparação para
as aulas. Os pais devem interessar-se pelo que os seus filhos estudaram, o que é que
aprenderam, o que é gostaram mais. Devem ajudar seus filhos durante a semana,
nas leituras da bíblia, no estudo da lição, na aprendizagem dos versículos e nas
tarefas de aplicação bíblica, bem como ensinar os seus filhos a orarem pelos
professores da EBD e a ter amor pela igreja. Os pais devem considerar a EBD como
uma escola importante para o desenvolvimento espiritual e moral dos seus filhos,
assim como valorizam o bom empenho nos estudos seculares dos seus filhos.
2. O segredo de uma EBD dinâmica e eficaz depende, e muito, do aluno. O aluno
dedicado, assíduo, pontual, responsável, vai à EBD com prazer e não simplesmente
para “marcar o ponto” ou rever os amigos. Ele faz a lição de casa, lê a Bíblia e sua
revista, anota suas dúvidas e vem disposto a colaborar seriamente na sala de aula.
É lamentável quando o aluno vai à escola dominical sem ter estudado durante a
semana, sem sua Bíblia e/ou sem revista. O que dizemos do aluno que vai à escola sem
levar livros ou caderno? Em contrapartida, o que dizer do aluno que pesquisa em casa
sobre o assunto estudado em sala de aula, complementando seu estudo?
De uma coisa precisamos estar cientes: muito do bom desempenho do professor
numa sala de aula depende de seus alunos. Quando o aluno não se prepara em casa,
conforme já mencionamos acima, ele perde a oportunidade de contribuir com algo mais.
Contribuindo, ganha a classe e o professor também. Muitos dos alunos que ficam
calados durante a exposição do professor cometem o erro (para não dizer “pecado”) da
negligência semanal, e os pais podem estimular seus filhos a serem melhores alunos.
A contribuição dos pais na educação cristã dos filhos deve ser inabalável e
consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares. É
importante que pais e professores, filhos/alunos compartilhem conhecimentos, alcancem
e trabalhem os assuntos envolvidos no seu dia-a-dia, pois a família é o espaço adequado
para se viver os valores aprendidos na EBD, entendendo-se que a potência da ação
normalizadora da escola sobre crianças e adolescentes é maior quando respaldadas pela
experiência e aceitação da família.
Geralmente as crianças não apreciam levantar cedo para ir à EBD. Boa parte
delas já faz isso durante a semana. Porém, os pais devem ensinar aos filhos que a
escola de domingo é muito especial. Erra o pai ou a mãe que acha que não deve levar
sua criança à EBD apenas porque ela está cansada por estudar durante a semana, ou
porque brincou demais no sábado ou foi dormir tarde por causa daquela festa na igreja.
Esse é um tipo de compaixão que não edifica. É nessa hora que os pais, amigavelmente,
devem mostrar aos filhos que a EBD é importante para toda a família.
Funções da escola nesta interação com a família:
1. Conteúdo – A EBD provê o conteúdo que será ensinado, a grade disciplinar
adequada a cada faixa etária, os materiais de apoio etc. Ela define os objetivos e a
filosofia educacional: o que queremos alcançar com este ensino e por que.
2. Método – Cabe também à escola determinar o método de ensino/aprendizagem a ser
utilizado em sala de aula, para melhor absorção dos conteúdos. Para isso, os
professores precisam ser constantemente orientados e estimulados a se
aperfeiçoarem no seu trabalho.
É, portando, na escola, que se pensa sobre o que pode ser ensinado às crianças,
sobre o método que pode tornar mais lógica a ação do conjunto docente e como a EBD
poderá encontrar saídas legítimas à superação dos enigmas morais e éticos que assolam
o seu dia-a-dia, pela aplicação da Palavra de Deus.
Contribuições da EBD para a Família
3. a) Ensino transformador - A EBD leva aos seus alunos o ensino da Palavra de maneira
eficiente, a fim de conduzi-los ao conhecimento da verdade e a experiências reais
com Deus. Promove uma educação de aplicação transformadora, viva, não apenas
teórica, pois está carregada de realidade e senso prático, que visa levar os alunos a
uma mudança de comportamento para uma vida de temor, santidade e serviço
cristão. A família é um lugar de aplicação e vivência do ensino da EBD.
b) Desenvolvimento de amizades - A EBD é o espaço mais propício ao desenvolvimento
de amizade e companheirismo cristãos, pois reúne os seus alunos conforme a faixa
etária e propicia a interação entre eles. Existe uma classe para cada idade, e a
família toda pode receber o conteúdo adequado para sua formação cristã. Alguns
adolescentes se afastam do evangelho porque viram seus amigos de infância se
distanciarem da fé. Daí a necessidade de incentivar as crianças a se entrosarem com
outros coleguinhas da igreja. Essa troca fortalece a vida espiritual delas. Muitos
pais saem da igreja correndo para casa e se esquecem de que os filhos precisam
desenvolver essas amizades. Além disso, os pais precisam mostrar a alegria de estar
na igreja para que os filhos desejem permanecer mais tempo ali.
c) Ensino continuado - Há uma enorme e crescente necessidade de genuíno e sadio
alimento espiritual que só pode ser obtido pelo estudo claro, metódico, continuado e
progressivo da Palavra de Deus. A EBD é a própria igreja crescendo e
desenvolvendo-se através do estudo da Palavra de Deus. Na EBD homens,
mulheres, jovens, adolescentes e crianças adquirem uma fé mais robusta e madura,
e, assim, estarão continuamente sendo preparados para desempenharem suas
atividades na obra de Deus e a desenvolver a espiritualidade e o caráter cristão.
d) Evangelização - A EBD é um dos meios de evangelização que a igreja possui, ou seja,
pode-se evangelizar na EBD e através dela. Além disso, nela o crente aprende a
amar e cooperar com a obra missionária. É o ambiente propício para que a família
traga convidados não cristãos para aprenderem a Palavra de Deus. A igreja pode
ajudar criando uma classe de alunos não crentes, realizando feira missionária, etc.
e) Descoberta de talentos - A EBD é o lugar para a descoberta, motivação e
treinamento de novos talentos. Ali as crianças e adolescentes podem envolver em
tarefas edificantes e, assim, desenvolverem seus diversos talentos: musicais,
teatrais, organizacionais, etc. Grande parte dos adolescentes se afasta da fé porque
não aprofundou suas habilidades dentro da igreja.
Papel da família na educação cristã
Psicólogos, educadores, pais e pastores concordam em um ponto: a formação do
caráter começa na infância. “Até os sete anos, a criança está em formação da sua
personalidade. A criança pequena é como uma esponja, pois absorve tudo o que lhe é
ensinado. O que aprende nessa fase, ela vai levar para o resto da vida. Quanto mais
cedo conviver com a ideia de Deus, certamente isso será apreendido de forma mais
profunda”, explicou a psicóloga Elizabeth Pimentel, autora do livro “O Poder da Palavra
dos Pais” (Editora Hagnos).
4. Os pais são os primeiros educadores na vida dos filhos. Assim como os filhos
aprendem a falar com os pais, também aprendem códigos de conduta, a viver com
limites, a respeitar e serem respeitados, a amar a Deus acima de todas as coisas, a ter
um coração grato, a amar ao próximo, a ler a Bíblia, a orar, a obedecer. O problema é
que os pais muitas vezes não ensinam os filhos “no” caminho em que devem andar, mas
ensinam “o” caminho em que devem andar, e os próprios pais andam por outro caminho
(Pv 22.6).
Crianças geralmente observam tudo e procuram verificar se aquilo que os pais
dizem sobre religião e fé faz parte da experiência de vida deles. Se os pais estão
dispostos a obedecerem àquilo que ensinam, então, são dignos de inteira confiança.
Cabe à igreja o papel de auxiliar e dar suporte à educação dos filhos de seus
membros. Isto precisa ser realizado de forma criativa e contextualizado com o mundo
atual, para atrair as crianças e os adolescentes às suas atividades e também englobar
os pais, para que eles tenham ciência do que seus filhos estão aprendendo dentro da
igreja e qual o papel destes na formação daqueles.
A igreja deve conscientizar a família que ela pode e deve complementar o ensino
bíblico que a criança recebe na EBD, por meio de ações realizadas no âmbito do lar,
como estas:
a) Culto doméstico – A prática do culto doméstico promove a espiritualidade no lar.
Vivemos em um mundo globalizado, onde a individualidade, o materialismo-
consumista tem ocupado a primazia no ambiente familiar, portanto valores
espirituais são importantes na vida familiar. A igreja deve estimular e promover o
culto doméstico como prática frequente entre seus membros.
b) Dia de consagração – Família que ora unida vence unida. Um dia de consagração
familiar tem o propósito de unir a família na oração e jejum. Este dia pode fazer
parte do calendário da igreja.
c) Desenvolvimento da leitura – Está mais do que comprovado que o indivíduo que lê
frequentemente e com discernimento alcança amplos benefícios, entre eles, uma
maior compreensão das verdades espirituais. A leitura é um processo pelo qual nós
chegamos a entender as ideias de outra pessoa. Isso é provavelmente a forma mais
eficiente de aumentar o que sabemos acerca da realidade e de como viver melhor. A
pessoa que aprendeu a ler bem não depende apenas de professores vivos para sua
educação. O crescimento de sua mente, benfeitoria de sua sabedoria e seu
comportamento não estão associados ao fato de estar ou não em uma escola, pois
quase todos os maiores pensadores da história compartilharam sua sabedoria por
escrito e em virtude desses grandes livros estarem quase todos disponíveis para a
compra em lojas ou emprestados em bibliotecas, a pessoa que se treinou na leitura
boa e ativa, que se preocupa em crescer em sabedoria, não depende exclusivamente
de aulas com professores. Ao contrário, um bom leitor não está escravizado pela TV
e internet. Este tal tem uma vida inteira de conhecimento à sua frente. É de
máxima importância que os adolescentes e jovens parem de encher suas cabeças
com o conteúdo superficial da TV e internet e comecem a formar o hábito da leitura
ativa e frutífera. É uma decepção terrível que o aprendizado e o conhecimento
mental estejam estritamente associados à escola. A boa leitura deve ser a vocação de
uma vida inteira. A família deve esforçar-se para estimular seus membros à leitura
5. de Bíblia, de bons livros evangélicos e de outros livros edificantes, muito úteis na
formação de todos.
A igreja pode ajudar promovendo gincanas de leitura bíblica, incentivando a
formação de clubes de leitura, criando bibliotecas, etc.
Conclusão
A EBD têm proporcionado muitas contribuições à família evangélica, auxiliando-
a para que possa tornar os lares verdadeiros ambientes de saúde física, espiritual,
psicológica e social. A educação é um esforço conjugado entre a família, escola e a igreja.
O ensino aplicado e valorizado por todos tem o poder de guiar a criança por toda a vida.
Carlos Kleber Maia é casado com Dione e têm dois filhos: Álvaro e Diana. Pastoreia
atualmente a Igreja Assembleia de Deus na cidade de Galinhos/RN. É graduado em
Teologia com Especialização em Teologia do Novo Testamento.
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