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Imobilismo Monetário e Projeções para IPCA
1. Imobilismo Monetário | Comentários Diários de Economia e
Negócios
11 de Julho de 2013
O Copom elevou a taxa Selic em 0,5% nesta quarta-feira, para 8,50% ao ano. Houve pouca
novidade, pois a decisão foi unânime e o comunicado idêntico ao anterior, o que sugere, a
princípio, a manutenção deste ritmo de aperto monetário até, de acordo com os nossos
cálculos, 9,5%. Além disso, a opção por salientar (novamente) que a decisão visa assegurar o
declínio da inflação no próximo ano, sem mencionar o centro da meta, sugere que o ciclo será
extenso o suficiente apenas para o IPCA de 2014 ficar abaixo de 2013.
Baseados em nossas projeções, isso significa que - em contexto de pleno emprego (com a taxa
de desemprego dessazonalizada entre 5,0% e 6,0%) - a tarefa do BC seria levar a Selic para um
patamar consistente com a inflação abaixo da taxa estrutural (aquela correspondente ao
pleno emprego). Ou seja, a Selic em 9,5% poderia trazer a variação anual do IPCA para 5,5%
em 2014 se todas as outras variáveis ajudarem, ou seja: (i) se a desvalorização cambial for
mais comedida (para cada 1% de desvalorização cambial, o repasse para a elevação do IPCA
perfaria pelo menos 0,4%); (ii) se a taxa de desemprego ajustada sazonalmente subir de 5,4%
para 6,5%; (iii) se a taxa real de crescimento dos investimentos totalizar pelo menos 4,0% em
2013.
Infelizmente, as "deixas" do BC não dão indicação alguma dos pontos que ressaltamos acima
e, por conseguinte, dos próximos passos do BC: “Dando prosseguimento ao ajuste da taxa
básica de juros, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 8,50% ao ano,
sem viés. O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e
assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.
Sendo assim, temos que basear as nossa perspectivas sobre a trajetória da Selic em nossas
simulações e, por isso, nós mantemos a expectativa de nova alta em 50 pontos-base do
juro básico na reunião de agosto e um ciclo total até 9,50% ao ano até o final do ano.
Neste ponto, é importante argumentarmos novamente que, segundo nossas estimativas, a
manutenção da Selic neste patamar até o final de 2014 é, sozinha, insuficiente para assegurar
a continuidade da desaceleração do IPCA no ano que vem e em 2015, a não ser que as forças
auxiliares que enunciamos acima ajudem. No entanto, nós optamos por trabalhar com erros
permanentes na condução da política macroeconômica (a exemplo da redução do superávit
primário, das desonerações tributárias corretivas ao invés de preventivas, das mágicas
contábeis e das capitalizações dos bancos públicos), mesmo que elas diminuam de
intensidade como resultado dos clamores sociais recentes.
Portanto, o erros fiscais (mesmo que menos frequentes), a continuidade do pleno emprego no
ano que vem (mesmo que a taxa de desemprego atinja 6,0%), o desajuste das contas
externas (ou seja, a convergência do déficit de transações correntes para 3,6% do PIB) e a
erraticidade dos investimentos brutos (o que prejudica o crescimento da produtividade no
longo prazo) justificam a desvalorização cambial de pelo menos 6,0% em 2014. Logo, mesmo
após a alteração recente da nossa projeção de IPCA para este ano, de 6,0% para 5,8%, a nossa
estimativa para 2014 permanece relativamente alta, em 5,85%.
Por fim, o conteúdo da ata do Copom a ser publicada na próxima semana será interessante
para medirmos a reavaliação (se é que houve) dos riscos associados ao cenário central, com
base no qual o comitê toma suas decisões. A continuidade da redução do PIB projetado para
este e para o próximo ano, com ampliação, a nosso ver, dos riscos de downside (o que
reduziria as pressões inflacionárias e diminuiria o ímpeto contrativo da política monetária), e
a concomitante desvalorização do real (o que contribui para a elevação das pressões
inflacionárias e para o ímpeto contrativo da política monetária) agem no sentido de manter a
Selic abaixo de dois dígitos. No ultimo Relatório de Inflação (e na apresentação do diretor de
política econômica, Carlos Hamilton), o colegiado claramente minimizou ambos os riscos. De
qualquer forma, são pontos importantes e devem constar nas discussões. A preferência por
uma atitude aparentemente austera deverá continuar e, portanto, as novidades deverão
residir nas mudanças marginais explícitas ou implícitas nos documentos e nas comunicações
do BC.
2. Marco Antonio Maciel
Economista-chefe
Banco Pine
Marco Antonio Caruso
Economista
Banco Pine
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