SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
Baixar para ler offline
A pesquisa em educação no Brasil
Elizabeth Macedo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação
Clarilza Prado de Sousa
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Educação
Introdução
Inicialmente,julgamosnecessárioexplicitaroestra-
nho lugar de onde falamos. Nossa familiaridade com a
temáticasedánamedidaemquesomospartícipesdeum
sistema de pós-graduação e de pesquisa em seus múlti-
plosespaços,enãoestudiosasdotema.Nessemomento,
essa participação envolve a posição de representantes
da área junto à Coordenação de Aperfeiçoamento do
Pessoal de Nível Superior (CAPES) e, portanto, a tarefa
de conduzir o processo de avaliação dos programas no
triênio2007-2009.Seédiscutívelapossibilidademesma
da representação – já que o ato de representar envolve a
incorporação do representado à esfera política com uma
identidade criada pela interpelação do representante
àquelesqueelerepresenta(Laclau,1993)–,seuexercício
em uma exposição como esta é ainda mais inusitado.
No âmbito de nossa ação prática, podemos buscar agir
como representantes, certas da incompletude do ato de
representar, que é simultaneamente sua condição de
possibilidade e impossibilidade.
Num espaço teórico como este, estamos num
terreno movediço. Por sua natureza acadêmica, nossa
exposição não pode prescindir de análise, o que não
pode ser feito desse lugar de representantes.Ao mesmo
tempo, seria naive acreditar que podemos fazê-lo de
outro lugar, desde que explicitemos essa desvinculação.
É, portanto, nesseespaço ambíguo queconstruímos este
texto em que pretendemos discutir aspectos da política
de pós-graduação (em educação), entendendo-a como
diretamente relacionada à política de pesquisa. Em
áreas como a educação, praticamente toda pesquisa é
desenvolvida nos programas de pós-graduação ou por
sujeitos formados para a pesquisa nesses programas.
Dito isso, assumimos nossa rejeição à ideia de
que existiria um modelo ideal de política para a pós-
graduação, postura que, a nosso ver, viabiliza visões
nostálgicas.AutorescomoCameroneGatewood(1994)
têm tratado a nostalgia como uma adaptação psicoló-
gica às frenéticas mudanças que experimentamos no
campo da cultura, de modo que ela pode ser sentida
até por aqueles entre nós que não vivemos aquilo que
recordamos. Trata-se de algo que se processa tanto no
âmbito individual quanto coletivo, refletindo o que se
quer lembrar, mas também aquilo que se busca esque-
cer. Se a nostalgia pode ser reflexiva (Boym, 2001),
166	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 166 17/5/2010 10:12:37
permitindo o pensar sobre a história e a passagem do
tempo, ela também pode assumir contornos restaura-
tivos, celebrando romanticamente um passado vivido
apenas como fantasia presente. O perigo da nostalgia
restaurativa é maquiar a própria nostalgia, apresentada
como uma tentativa de recuperar algo tido como ver-
dade absoluta.
Nossa postura está longe de uma nostalgia restau-
rativa. Entendemos que a pós-graduação e a pesquisa
na área de educação, ao longo dos últimos trinta anos,
viveu intensa consolidação, que pode ser percebida,
entre outros fatores, pela ampliação das demandas por
financiamento em diferentes agências. Trata-se de uma
trajetória comum a outras áreas das ciências sociais e
das humanidades que, como ressalta Velho (1997), por
vezes faz parecer desestruturação, o que é uma “sau-
dável vitalidade da comunidade” científica na compe-
tição por recursos que não foram ampliados na mesma
medida em que aumentaram as demandas. Segundo
esse autor (idem, p. 5), a maior institucionalização
do sistema provocou algum desconforto pela maior
competitividade por recursos, mas foi “absolutamente
crucial para que a pesquisa propriamente dita desse um
salto” e as áreas consolidassem-se.
Ao mesmo tempo em que reconhecemos enormes
avanços da pós-graduação em geral e da área de edu-
cação em particular, corroboramos algumas críticas à
política de pós-graduação que vêm sendo apresentadas
em diferentes análises (Horta, 2002; Horta & Moraes,
2005; Kuenzer & Moraes, 2005; Sguissardi, 2006;
Fávero, 2009). Consideramos, no entanto, que a maio-
ria delas opera com um modelo de política em que as
principais ações são localizadas no espaço do Estado,
tratando as esferas não governamentais apenas como
reativas. Assim, as ações do Estado são criticadas e,
mesmo quando o conceito de Estado assume uma
perspectiva gramsciana de Estado ampliado, a inde-
pendência material relativa entre sociedade política e
sociedade civil é negligenciada (Lopes, 2006). Ainda
assim, vemos nesses trabalhos importante contribui-
ção para pensar a pós-graduação, especialmente em
função de serem construídos a partir de um mosaico
de vivências de seus autores nesse sistema. Permitem-
nos, portanto, acompanhar um pouco mais de perto o
cotidiano dessa discussão em espaços-tempos de que
não participamos.
Alternativamente, temos entendido (em estudos do
campo do currículo) que a saturação total dos espaços
cotidianos é impossível, não importa quão intensos
sejam os mecanismos de controle impostos por glo-
balismos econômicos e autoritarismos políticos (Hall,
2003). Esse entendimento não implica desvalorizar
o Estado como constituinte das políticas, assumindo
posturas relativistas, mas entendê-lo como uma articu-
lação, entre várias, de discursos que lutam por espaço
(Laclau & Mouffe, 2004). Aqui tomamos discurso
numa perspectiva pós-estrutural como fenômenos não
apenas linguísticos, que se articulam com instituições,
práticas econômicas, políticas e culturais, assim como
comprocedimentosnormativosqueconstituemosocial.
Nesse sentido, quando falamos de uma política de pós-
graduação, estamo-nos referindo a diferentes discursos
circulantes que se tornam hegemônicos e se universa-
lizam provisoriamente, reestruturando nossa forma de
compreender o social (Laclau & Mouffe, 2004). Os
“autores” desses discursos somos todos nós – e também
eles – nos espaços em que produzimos sentidos sobre o
que vem a ser a pós-graduação de qualidade.
Tomando a política de pós-graduação como politi-
zaçãoincessante,semprehabitadapelaindecidibilidade,
tentaremos analisar alguns consensos que “se manifes-
tam como a estabilização de algo essencialmente não
estável e caótico” (Mouffe, 2003, p. 147). Para tanto,
tomaremos para análise alguns textos em que esses con-
sensos provisórios em torno de posições hegemônicas
são explicitados. Nossa crença é de que é possível, por
meio da análise dos textos de política, compreender a
formação provisória de consensos em torno de noções
como a qualidade da pós-graduação, entendida como
significante vazio preenchido por meio de articulações
hegemônicas.
O recorte dos textos com os quais vamos trabalhar
é marcado por nossa condição de participantes do siste-
ma de pós-graduação que, nos últimos anos, estiveram
ligadas aos processos de avaliação coordenados pela
CAPES. Para as considerações que teceremos sobre a
A pesquisa em educação no Brasil
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 167
2prova-mioloRBE.indd 167 17/5/2010 10:12:37
política de pós-graduação em educação no país, opta-
mos por nos basear nos documentos produzidos pela
avaliação: fichas, pareceres e resultados da avaliação,
assim como em documentos de área. Entendemos que
eles expressam determinadas posições sobre o que é
qualidade da pós-graduação tornadas hegemônicas em
determinados momentos.
Mesmo reduzindo o número de documentos
passíveis de análise, ainda temos necessidade de focar
apenas alguns aspectos, como forma de dar conta da
tarefa de falar da pesquisa em educação a partir da
análise da política de pós-graduação. Após traçar um
quadro muito geral do sistema, vamo-nos fixar em dois
pontos que nos parecem centrais nessa política e que se
referem diretamente à temática da pesquisa. O primeiro,
de natureza processual, diz respeito à organização dos
programas em núcleos que dão centralidade à pesquisa.
O segundo é um indicador de resultados que vem sendo
apontado,pormuitosdenós,comooprincipalindicador
da avaliação: a produção bibliográfica dos programas.
O sistema de pós-graduação em educação
Inicialmente, selecionamos dados que nos per-
mitem perceber como se encontra o sistema de pós-
graduação em educação no país. Desde o início da
pós-graduaçãoemeducação,em1965,ocrescimentodo
número de mestrados e doutorados tem sido constante,
com alguns momentos de maior gradiente de expansão
(Gráfico 1).
Gráfico 1: Crescimento do número de cursos de pós-
graduação por ano 1965-2008
Esse crescimento tem sido mais sentido atual-
mente em instituições estaduais e particulares
(Gráfico 2). Ainda que essa distribuição se tenha
concentrado em determinadas regiões geográficas,
optamos por não discutir tal fato por entender que,
como não podemos realizar nos limites deste texto
uma análise consistente cruzando diferentes indica-
dores, a pura e simples apresentação da distribuição
serviria apenas para consolidar estereótipos. Como
vem ocorrendo desde 1965, a produção de disserta-
ções e teses cresceu ao longo do último triênio. A
maior parte dela ainda se dá em instituições fede-
rais, especialmente no que concerne aos cursos de
doutorado. Como era de esperar, em virtude de se
tratar de cursos recentes, a produção das instituições
particulares concentra-se em nível de mestrado
(Gráficos 3 e 4).
Gráfico 2: Distribuição de programas por tipo de
instituição (2004-2006)
Gráfico 3: Número de titulações em mestrado
acadêmico 2004-2006
Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa
168	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 168 17/5/2010 10:12:37
Gráfico 4: Número de titulações em doutorado
(2004-2006)
Quanto ao tamanho dos programas, a ampla
maioria do sistema é composta por programas de
até 30 docentes, sendo 28% de programas muito pe-
quenos – de até 15 docentes (Gráficos 5 e 6). Como
expresso no Gráfico 7, esses programas ocupam,
em geral, os estratos mais baixos da avaliação, com
conceitos 3 e 4. Os programas que têm entre 16 e
30 docentes são maioria nos conceitos 4 e 5. Os
programas com mais de 31 docentes concentram-
se nos conceitos 4 e 5. Os poucos programas com
mais de 50 docentes ocupam os estratos mais ele-
vados da avaliação. Os programas 5 e 6 tendem a
ser maiores: no caso dos 6, mesmo os oferecidos
por instituições privadas têm mais de 16 docentes.
Trata-se de números que indicam que os resultados
da avaliação estão, no geral, refletindo a consolida-
ção dos programas.
Gráfico 5: Número de docentes por programa e tipo
de instituição (2004-2006)
Gráfico 6: Número de docentes
por programa
Gráfico 7: Dimensão do corpo docente por
nota do programa
Do ponto de vista da ampliação do sistema de
pós-graduação, parece que estamos atingindo certa
saturação. A capacidade de criação de novos cursos
de mestrado vem-se reduzindo e concentrando-se
em universidades privadas. No nível de doutorado,
ainda há algum fôlego, mas em geral os cursos novos
contam com reduzido número de docentes, o que deve
dificultar-lhes atingir níveis de excelência. Parece es-
tarmos num momento em que é fundamental projetar
estratégias para a continuidade da ampliação quanti-
tativa e qualitativa da área. Pensar em associações é
talvez uma forma de garantir o crescimento do sistema
sem perda da qualidade, facilitando a consolidação
de novos programas que venham a atender a enorme
demanda por formação pós-graduada stricto sensu na
área da educação.
A pesquisa em educação no Brasil
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 169
2prova-mioloRBE.indd 169 17/5/2010 10:12:38
A formação
Osistemadepós-graduaçãobrasileiro,iniciadoem
1965 a partir do parecer n. 977/65 do Conselho Federal
de Educação, viveu rápida expansão como parte de um
projeto de Estado que considerava o desenvolvimento
científico “pré-condição para o desenvolvimento
econômico” (Brasil, 1983, p. 7). Segundo Córdova,
Gusso e Luna (1986), a forma desordenada como se
expandiu o sistema de pós-graduação fez com que cada
curso valorizasse uma das funções que se entendia ter
a pós-graduação: formar professores para o ensino
superior, capacitar técnicos para operar os projetos
governamentais e produzir conhecimentos visando
ao desenvolvimento econômico do país. Paradoxal-
mente, ao mesmo tempo em que os cursos tinham
perfis diferenciados devido a essas funções, os currí-
culos assumiram grande homogeneidade. Os cursos
organizavam-se em torno de áreas de concentração e
de um conjunto de disciplinas obrigatórias de domínio
conexo e eletivas, sem grande valorização da pesquisa,
tanto docente quanto como atividade orgânica dos
programas. Para Fávero (1996), as recomendações dos
pareceres n. 977/65 e n. 77/69, embora não obrigató-
rias, foram seguidas à risca pelos cursos, na medida
em que era a partir delas que seu funcionamento era
autorizado, condição fundamental para a validação
dos certificados e para pleitear financiamento junto aos
órgãos estatais.
Especialmente a partir da segunda metade dos
anos 1980, o sistema reestruturou-se tomando por base
uma série de questionamentos, num momento que
Fávero (2009) definiu como de “intensa mobilização”.
O principal consenso que reorganizaria todo o sistema
estabeleceu-seemtornodosobjetivosdapós-graduação,
com a valorização da formação do pesquisador em de-
trimento das demais funções até então desempenhadas
pelos cursos. Em face dessa alteração, as áreas de con-
centração, de perfil nitidamente profissional, sofreram
críticas de cunho epistemológico, que apontavam para
um currículo mais integrado e relacionado à pesquisa.
A superação da ideia de área de concentração estava,
no entanto, longe de ser unânime. Cunha (1985), por
exemplo, explicitava temor de que a extinção ou o
alargamento das áreas de concentração prejudicasse a
criação de uma identidade para a educação. Em texto
datado de 1996, Fávero defendia os núcleos de pes-
quisa, que enfatizassem a problematização capaz de
construir e organizar o conhecimento, em detrimento
das áreas de concentração, que supunham a divisão
do conhecimento em áreas cujos conteúdos poderiam
ser previamente estruturados para serem transmitidos.
Em texto mais recente (Fávero, 2009), o autor define
como palavras-chave desse processo a flexibilidade, a
integração ensino-pesquisa e a interdisciplinaridade.
As áreas de concentração parecem totalmente supera-
das na organização dos programas de pós-graduação.
Muitos deles apresentam como área apenas educação,
enquanto outros definem um escopo mais restrito, sem,
no entanto, cair em campos profissionais comuns no
período inicial de consolidação do sistema. Se a ideia
de núcleos ou eixos de pesquisa subsiste apenas em
uns poucos cursos, a organização por linhas de pes-
quisa atinge praticamente todos os programas. Fávero
(idem) critica o privilégio absoluto da ideia de linhas,
entendendo que elas se hegemonizaram em função da
pressão do modelo de avaliação utilizado pela CAPES
a partir do biênio 1996-1997, com reflexos na avalia-
ção realizada em 1998. Concordamos que a exigência
de nucleação em linhas de pesquisa que articulavam
uma temática foi problemática para muitos cursos e
favoreceu, naquele momento, cursos menores e mais
recentes. Entendemos, no entanto, que o que temos hoje
em termos de organização é um modelo mais flexível,
que, de alguma forma, retoma as ideias de interdisci-
plinaridade, flexibilidade e integração ensino-pesquisa,
produto de uma redefinição da área sobre os sentidos
da ideia de linhas de pesquisa.
Horta e Moraes (2005, p. 95), narrando os mo-
vimentos ocorridos no Comitê Técnico-Científico
da CAPES (CTC/CAPES), nos triênios 1998-2000 e
2001-2003, com destaque para as discussões sobre os
níveis de excelência, salientam a desejável “organici-
dade entre linhas de pesquisa, projetos, estrutura cur-
ricular, publicações, teses e dissertações”. Concluem
que esse modelo, juntamente com a ênfase na produção
Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa
170	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 170 17/5/2010 10:12:38
bibliográfica, define a pós-graduação como “locus da
produção do conhecimento e da formação de pesqui-
sadores” (idem, ibidem). Diferentemente do que ocorre
com outros aspectos do modelo de avaliação, essa ideia
de organicidade não é criticada pelos autores. Os docu-
mentos da área da educação desde 1998, assim como
os instrumentos de avaliação, assumem a positividade
dessa articulação tanto para os programas em funcio-
namento quanto para os cursos novos. O documento do
triênio 1998-2000, embora não explicite nos perfis de
cada conceito indicador de processo, assegura na ficha
de avaliação a importância da consistência da proposta
e da articulação das linhas em torno dessa proposta.
No triênio 2001-2003, a positividade das linhas de
pesquisa torna-se mais explícita, quando a abrangência
delas como forma de facilitar a inclusão dos projetos
de pesquisa é criticada, na medida em que “de forma
alguma assegura a organicidade da proposta” (Brasil,
2004, p. 3).Aquestão é considerada ainda mais grave
na medida em que “as temáticas de teses e, sobretudo,
dissertações, guardam pouca ou nenhuma relação com
os projetos e mesmo com as linhas” (idem, ibidem).
Essa tendência de valorização da organicidade em
torno de linhas continua nos documentos de avaliação
do triênio seguinte.
Aleitura de pareceres encaminhados aos progra-
mas ao longo dos três últimos triênios, no entanto,
permite perceber que há disputa em torno do enten-
dimento da ideia de organicidade e, mais ainda, da
interferência que a avaliação pode ter nas formas de
organização dos currículos dos programas. Como mo-
vimento geral, é possível dizer que se tem ampliado a
visão de que a avaliação deve respeitar a organização
proposta pelo programa, exigindo apenas algum nível
de integração entre os diferentes elementos curricu-
lares. Em relação à primeira avaliação que usava a
ideia de linha de pesquisa, observa-se também maior
flexibilidade, de modo que se entenda que a articulação
é facilitada em programas menores, mais novos e de
instituições particulares. No último triênio de avalia-
ção, por exemplo, a ampla maioria das avaliações dos
programas dá conta da organicidade das propostas e
da relação no mínimo boa entre linhas e projetos de
pesquisa, teses e dissertações, espelhando resultado
diferente daquele relatado no documento de área de
2001-2003. Se essa observação pode indicar que a
ideia de linhas se consolidou, pode também marcar
uma flexibilização do que tem sido entendido por
organicidade.
Aceitando a premissa de maior flexibilidade da
ideia de linhas de pesquisa em relação ao entendimento
a que Fávero (2009) faz menção, julgamos lícito supor
que o sentido que vem sendo dado à linha de pesquisa
é o de elemento estruturador dos programas em torno
da pesquisa. A ideia inicialmente imposta de linhas
de pesquisa pode estar-se redefinindo (ou vir a ser
redefinida), tendo por base os consensos construídos
pela área nos últimos – pelo menos – vinte anos.
Nesse sentido, a organização da ampla maioria dos
programas em linhas não seria negativa, na medida
em que a compreensão das linhas seja alargada e não
implique modelo a ser seguido por todos, mas um
significante que pode ser diferentemente preenchido
pelos programas em função de suas histórias.
Vistas nesse sentido, as linhas podem ser entendi-
das como uma expressão da forma como os programas
estão pensando o próprio campo da educação, num
exercício de articulação que tem envolvido interdis-
ciplinaridade e flexibilidade.Apartir da descrição das
linhas, fizemos um primeiro exercício de compreen-
der a pesquisa na área (há muitos outros dados que
poderiam permitir uma análise mais aprofundada,
mas não tivemos possibilidade de trabalhar para este
artigo). Optamos por um duplo exercício: criamos
homogeneidades, ressaltando as temáticas mais e
menos recorrentes, ao mesmo tempo em que tentamos
perceber a criatividade observada na constituição das
linhas, associando temáticas. Sem desconsiderar a
possibilidade de que tal associação vise à criação de
guarda-chuvas, queremos vê-la em sua dimensão po-
sitiva como expressão de uma área que se reinventa.
Em nosso primeiro movimento em busca de re-
gularidades, temas como política e gestão da educação
(41), formação e trabalho docente (39), história da
educação (27), didática e processos de ensino (22),
aprendizagem e desenvolvimento (21) e currículo
A pesquisa em educação no Brasil
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 171
2prova-mioloRBE.indd 171 17/5/2010 10:12:38
(20) são os mais presentes. Num segundo conjunto
aparecem temáticas como ensino de matemática e
ciências (17), movimentos sociais (13), linguagem
(12), educação especial (12), educação e cultura (12),
educação/escola e sociedade (11), educação e trabalho
(10), filosofia da educação (9), educação e tecnologia
(8) e educação ambiental (8). Alguns temas menos
recorrentes são: fundamentos da educação, avaliação,
alfabetização, infância, ensino superior, ensino de ar-
tes, teoria da complexidade, corpo, educação agrícola,
educação e saúde. No geral, as organizações fazem-se
com o privilégio de temáticas, em detrimento de cam-
pos disciplinares. O amplo privilégio de áreas como
política educacional, história da educação e didática/
currículo/formação de professores indicaria um tripé
central dos estudos do campo da educação, o qual não
impede o surgimento de temas mais específicos que
não se diluem em áreas mais gerais.
Nosso segundo movimento pretendeu perceber
a diversidade dentro dessas temáticas aparentemente
“clássicas” do campo. Os estudos autonomeados
como políticas ou gestão da educação lidam preferen-
cialmente com gestão (20) e políticas públicas (12),
embora incluam interfaces com temáticas como práti-
cas, cultura e organização da instituição escolar (11).
A vinculação mais explícita entre política e Estado é
realizada em apenas três linhas.As linhas de história da
educação, em que a historiografia e a teoria da história
ocupam posição de relevo (10), são igualmente con-
centradas em torno de um núcleo central. No entanto,
o restante das linhas agrupadas em torno da história
mostra ampliação das articulações que indicam uma
abordagem histórica de diferentes fenômenos: política
educacional (8), filosofia da educação (3), instituições
educacionais (3), sociedade (3), cultura (3). Também
as linhas sobre a temática aprendizagem e desenvol-
vimento têm foco central na abordagem psicológica
desses processos, mas incluem articulações com ética,
valores e, principalmente, constituição do sujeito e da
subjetividade nos processos educativos.
É nas linhas sobre temáticas como didática, cur-
rículo e formação de professores que se percebe maior
interseção. No caso da didática, têm destaque a prática
e a sala de aula, a produção e a apropriação de conhe-
cimento/saberes, as disciplinas/interdisciplinaridade,
as instituições educacionais, a formação docente. No
campo do currículo, a menção à cultura e ao cotidiano
da escola é mais frequente (8), mas há um conjunto
de outras articulações: avaliação, política, formação
de professores, conhecimento. Em relação à formação
docente, temas como práticas educativas, identidade,
universidade, política e cultura juntam-se às discussões
sobre profissionalização e trabalho docente.
Em relação às demais linhas, temáticas como
educação especial, trabalho e educação, ensino de
matemática e ciências e educação e linguagem são
mais homogêneas em relação aos enfoques, enquanto
as linhas que dão centralidade à sociedade e à cultura
tendem a apontar novas áreas temáticas interdisci-
plinares.
Esse primeiro esboço permite perceber as áreas
privilegiadas na formação em nível de mestrado e
doutorado e as áreas que concentram maior parte da
pesquisa realizada na pós-graduação. Se não traz gran-
des surpresas em relação às temáticas privilegiadas na
área, indicam também que não há nenhuma articulação
forçada apenas como forma de atender aos requisitos
ditados pela avaliação.
A produção de conhecimento
O segundo aspecto que destacaremos é a produção
bibliográfica do corpo docente dos programas; com as
informações sobre titulação e produção discente, esse
ponto forma o tripé de indicadores de produto cada vez
mais valorizado na avaliação. As críticas ao modelo
de avaliação sustentado por esse tripé são numerosas
(Sguissardi, 2006; Horta & Moraes, 2005; Kuenzer &
Moraes, 2005) e, como já destacamos, concordamos
com boa parte das análises. Não há dúvida de que
toda a avaliação não pode resumir-se a indicadores
quanti-qualitativos de produção bibliográfica, assim
como de que indicadores de formação são relevantes
e precisam continuar a ser utilizados. Mais do que
isso, é inegável a necessidade de uma ação política
mais consistente voltada para os usos da avaliação
Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa
172	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 172 17/5/2010 10:12:38
no financiamento do sistema de pós-graduação. Há
que se discutir mais amplamente se a maioria das
linhas de financiamento devem privilegiar a excelên-
cia. Tais discussões, a nosso ver, não impedem que
concordemos com Kuenzer e Moraes (2005), quando
afirmam que o efeito indutor do Estado na transição da
centralidade na docência para a pesquisa foi positivo
para a pós-graduação. Nesse modelo de pós-graduação
voltada para a pesquisa, entendemos que a produção
bibliográfica ganha importância e se justifica como
indicador de avaliação.
Tendo explicitado nossa posição, gostaríamos
de, para desconstruí-las, dialogar com duas afirma-
tivas que vêm sendo assumidas como verdadeiras
em algumas de nossas discussões. A primeira sobre
a importância do indicador produção bibliográfica na
avaliação. Expressamos essa posição com uma cita-
ção de Horta (2002), o qual, ao analisar resultados da
avaliação de diferentes áreas para o triênio 1998-2000,
concluiu que foi a produção bibliográfica o indicador
que permitiu aos programas atingir os estratos mais
elevados.Asegunda relaciona-se ao que temos chama-
do de produtivismo. No mesmo texto em que reconhe-
cem a positividade de uma pós-graduação centrada na
pesquisa, Kuenzer e Moraes (2005, p. 1.349) afirmam
que há “um verdadeiro surto produtivista em que o que
conta é publicar, não importa qual versão requentada de
um produto ou várias versões maquiadas de um produto
novo. A quantidade institui-se em meta”.
Trabalhando com dados produzidos pelas ava-
liações, pouco ainda se pode falar sobre a qualidade
das produções. A tentativa de qualificação vem sendo
feita por meio do que, no âmbito da CAPES, ficou
conhecido como Qualis. Em relação aos periódicos, a
estratificação de veículos encontra-se mais adiantada,
ainda que seja questionável que a avaliação de uma
revista seja transportada para todos os seus artigos.
No que concerne aos livros, os dados de que dispo-
mos consideram ainda indicadores muito indiretos de
qualidade – como a circulação e a gestão editorial –,
medidos por uma qualificação de editoras. Conside-
rando esses limites, no entanto, julgamos que uma
análise dos dados de produção dos programas gerados
para a avaliação trienal 2004-2006 permite questionar
afirmativas como a de que existe produtivismo na área
ou de que a produção docente tem definido o resultado
da avaliação dos programas.
As médias de produção docente por conceito
dos programas indicam que há correlação entre a
avaliação final dos programas de pós-graduação e a
média de produção docente (Gráfico 8). No entanto,
há grande variação das médias de produção docente
em programas com um mesmo conceito. Com exceção
dos programas com conceito 6, as faixas de média de
produção de um conceito interpenetram-se com as dos
conceitos superiores. Isso mostra que outros indicado-
res estão sendo considerados para compor o resultado
da avaliação e, a nosso ver, desautorizam a afirmativa
de que a produção bibliográfica é a base do modelo
que vem sendo utilizado para a avaliação.
Gráfico 8: Mediana da média da produção docente
por ano por conceito do programa (calculada em
relação a capítulos A)
Quanto ao produtivismo, as médias de produção
docente por programa (equivalentes a capítulos A)
também não indicam excesso de produção.Apenas nos
programas 6 (Gráfico 12) observamos média anual de
mais de dois produtos (equivalentes a capítulo A) por
docente por ano. Dos conceitos 3 a 5, essa média varia
de 1 a 1,6 produto (equivalente a capítulo A) (Gráfi-
cos 9 a 11). Poder-se-ia argumentar que o número de
produtos é muito superior, se considerados os valores
A pesquisa em educação no Brasil
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 173
2prova-mioloRBE.indd 173 17/5/2010 10:12:39
brutos; no entanto, a média em número de produtos é
pouco superior aos valores tabelados.
Gráfico 9: Média da produção docente (equivalentes
a capítulos A) dos programas 3
Gráfico 10: Média da produção docente
(equivalentes a capítulos A) dos programas 4
Gráfico 11: Média da produção docente
(equivalentes a capítulos A) dos programas 5
Gráfico 12: Média da produção docente
(equivalentes a capítulos A) dos programas 6
Em relação aos estratos mais elevados da avalia-
ção (A e B para livros e Internacional e Nacional A e
B para periódicos), os números de média de produção
por docente por ano são ainda ligeiramente inferiores.
À exceção dos programas 6, nos demais conceitos
essa produção total é inferior a dois produtos por ano
(Gráficos 13 e 14). Considerada a produção apenas em
periódicos, nem nos programas 6 esse número atinge a
média de um produto por docente por ano (Gráfico 14).
Entendemos que esses números não permitem concluir
que há produtivismo na área induzido pela avaliação.
Talvez nossa percepção de tal produtivismo tenha a
ver com o crescimento da área em níveis de que ainda
não nos demos conta: a centralidade na formação de
pesquisadores realimenta o sistema, provocando sua
rápida expansão e ampliando os números brutos da
produção bibliográfica.
Gráfico 13: Mediana da média da produção docente
em estratos mais elevados por conceito
Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa
174	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 174 17/5/2010 10:12:39
Gráfico 14: Mediana da média da produção docente
em periódicos A e B por conceito
Gráfico 15: Mediana da média da produção docente
em livros A e B por conceito
Preocupa-nos a nostalgia (restaurativa) de um
tempo outro que subjaz ao discurso crítico do produ-
tivismo. Para apoiar essa nostalgia, postula-se uma
relação não sustentada entre quantidade e qualidade da
produção: num tempo em que a produção era menor,
era certamente, e por isso, melhor. Uma avaliação
pouco sistemática da produção em educação hoje não
parece deixar dúvidas de que ela é mais consistente
do que o que se produzia nos anos de 1970 e 1980.As
teses e dissertações recentes têm mais profundidade
teórica, se comparadas com a média dos trabalhos
defendidos nos anos 1970 e 1980. Nossos periódicos,
além de mais numerosos, têm mais qualidade.Aplêia-
de de livros que vemos hoje em eventos não é apenas
quantitativamente maior, mas espelha uma produção
própria dos pesquisadores da educação no Brasil em
contraposição a uma ampla maioria de manuais e
adaptações de literatura estrangeira que predominava
nos anos de 1970.
Mas não é apenas porque julgamos essa nostalgia
insustentável que nos esforçamos para desconstruí-la.
Fazemo-lo porque julgamos que, em áreas como a edu-
cação,historicamentevinculadaàextensãoequeapenas
mais recentemente vem construindo uma trajetória de
produção científica consistente, essa nostalgia pode
contribuir para a desmobilização e para um retrocesso
nessa trajetória. Nossa preocupação tem-se intensifi-
cado recentemente, na medida em que se ampliam as
demandas de diversas naturezas sobre a pós-graduação
e sobre os seus docentes, especialmente das universida-
des públicas. Ainda que compreendamos e julguemos
relevantes muitas das demandas de inserção social
que vêm sendo lançadas aos programas, entendemos
que nossa principal função é fazer bem aquilo que nos
competeeparaoquerecebemosfinanciamentopúblico:
formar professores/pesquisadores e produzir conheci-
mento socializado. É pela competência com que temos
desempenhado essas funções que somos respeitados
pelas comunidades acadêmicas e socialmente, e esse
respeito é nosso principal capital.
Referências bibliográficas
BOYM, Stevlana. The future of nostalgia. New York: Basic,
2001.
BRASIL– CAPES. Documento da área de educação. Brasília: CA-
PES, 2004. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/capes/portal/
conteudo/2003_038_Doc_Area.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2009.
BRASIL – CNPq. Desenvolvimento científico e formação de
recursos humanos. Brasília: CNPq, 1983.
CAMERON, Catherine M.; GATEWOOD, John B. The authentic
interior: questing Gemeinschaft in post-industrial society. Human
Organization, v. 53, p. 21-32, 1994.
CÓRDOVA, Rogério de Andrade; GUSSO, Divonzir Arthur;
LUNA, Sérgio Vasconcelos de. A pós-graduação na América
Latina: o caso brasileiro. Brasília: UNESCO/CRESALC/MEC/
SESu/CAPES, 1986.
CUNHA, LuizAntonioA. Ideias sobre avaliação. Boletim ANPEd,
v. 7, n. 5, 6, p. 10-12, 1985.
FÁVERO, Osmar. Situação atual e tendências de reestruturação
dos programas de pós-graduação em educação. Revista da Facul-
dade de Educação da USP, v. 22, n. 1, p. 51-88, jan./jun. 1996.
A pesquisa em educação no Brasil
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 175
2prova-mioloRBE.indd 175 17/5/2010 10:12:40
_______. Pós-graduação em educação: avaliação e perspectivas.
Revista de Educação Pública, v. 18, n. 37, p. 311-327, maio/ago.
2009.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
HORTA, José Silvério Baía. Prefácio. In: BIANCHETTI, Lucídio;
MACHADO, Ana Maria Netto (Org.). A bússola do escrever:
desafios e estratégias de teses e dissertações. São Paulo: Cortez;
Florianópolis: UFSC, 2002.
________.; MORAES, Maria Célia Marcondes de. O sistema
CAPES de avaliação da pós-graduação: da área de educação à
grande área de ciências humanas. Revista Brasileira de Educação,
n. 30, p. 95-116, 2005.
KUENZER,Acácia; MORAES, Maria Célia Marcondes de.Temas
e tramas na pós-graduação em educação. Educação e Sociedade,
Campinas, v. 26, n. 93, p. 1.341-1.362, set./dez. 2005.
LACLAU, Ernesto. Power and representation. In: POSTER, Mark.
Politics, theory and contemporary culture. New York: Columbia
University Press, 1993.
_______; MOUFFE, Chantal. Hegemonia y estratégia socialista.
Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004.
LOPES, Alice Casimiro. Discursos nas políticas de currículo.
Currículo sem fronteiras, v. 6, n. 2, p. 33-52, jul./dez. 2006.
MOUFFE, Chantal. La paradoxa democrática. Barcelona: Gedisa,
2003.
SGUISSARDI, Valdemar. A avaliação defensiva no “modelo CA-
PES de avaliação”. É possível conciliar avaliação educativa com
processos de regulação e controle do Estado?. Perspectiva, v. 24,
n. 1, p. 49-88, jan./jun. 2006.
VELHO, Gilberto. As ciências sociais nos últimos 20 anos: três
perspectivas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 35,
p. 1-18, fev. 1997.
ELIZABETH MACEDO, doutora em educação pela Uni-
versidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadora adjunta da área
de educação na CAPES. Publicações recentes: em coautoria com
LOPES, Alice Casimiro. Políticas de currículo em seus múltiplos
contextos (São Paulo: Cortez, 2006) e Políticas de currículo no
Brasil e em Portugal (Porto: Profedições, 2008). Como produto de
convênio CAPES/FCT, organizou Políticas curriculares e dinâmi-
cas educativas no Brasil e em Portugal (Porto: LIVPSIC, 2008).
Pesquisa em andamento: “Currículo de ciências: uma abordagem
cultural”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail: beth-
macedo@pobox.com
CLARILZA PRADO DE SOUSA, doutora em Educação
pela Pontifícia Universidade Católica da São Paulo, é profes-
sora do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma
universidade e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, onde
coordenada o Centro Internacional de Estudos em Representações
Sociais e Subjetividade. É atualmente coordenadora da área de
educação na CAPES. Publicações recentes: em coautoria com
VILLAS-BOAS, Lúcia, Representações sociais sobre o trabalho
docente (Aveiro: Universidade de Aveiro, 2009), Avaliação do
rendimento escolar (Campinas: Papirus, 2008). Como produto de
convênio entre diferentes universidades nacionais e europeias, é
uma das organizadoras de Educação e trabalho: representações,
competências e trajectórias (Aveiro: Universidade de Aveiro,
2007). Pesquisa em andamento: “Representações sociais de estu-
dantes universitários (pedagogia e licenciatura) sobre o trabalho
do professor”, financiado pela Fundação Carlos Chagas e pela
Fondation Maison des Sciences de l’Homme. E-mail: clarilza.
prado@uol.com.br
Recebido em outubro de 2009
Aprovado em dezembro de 2009
Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa
176	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
2prova-mioloRBE.indd 176 17/5/2010 10:12:40
timate ends. That is, what are the pos-
sibilities of conciliation between bu-
reaucratic management, inherent to the
system, and democratic management,
demanded by university autonomy? It
affirms that the tension revealed by the
debate should be understood from this
perspective.
Key words: postgraduate studies; re-
search; evaluation
El debate sobre la pesquisa y la
evaluación del postgrado en la
educación
El texto introduce las comunicaciones
hechas en la mesa de apertura del IX
Encuentro de Pesquisa de la Región
Sudeste, realizado en la Universidad
de São Carlos, en julio de 2009. En
principio se destaca la importancia del
debate a respecto del postgrado brasi-
leño, en términos de la producción de
la pesquisa calificada y de la impor-
tancia de la evaluación dirigida por
la CAPES. Se coloca en discusión el
dilema por el que enfrenta actualmen-
te: ¿cuáles son los límites impuestos
por la necesaria burocratización y la
libertad democrática de buscar reali-
zar sus últimos fines? O sea, ¿cuáles
son las posibilidades de conciliación
entre la gestión burocrática, propia
del sistema, y la gestión democrática,
exigida inclusive por la autonomía uni-
versitaria? Afirma que es desde esta
perspectiva que debe ser entendida la
tensión revelada en el debate.
Palabras clave: posgrado; pesquisa;
evaluación
Elizabeth Macedo e
Clarilza Prado de Sousa
A pesquisa em educação no Brasil
O artigo debate a política de pós-gra-
duação na área de educação, entenden-
do-a, a partir de E. Laclau e C. Mouffe,
como politização incessante habitada
pela indecidibilidade. Analisando tex-
tos recentes produzidos no processo
de avaliação dos programas no âmbito
Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010	 201
Resumos/Abstracts/Resumens
2prova-mioloRBE.indd 201 17/5/2010 10:12:42
da CAPES, considera possível com-
preender a formação provisória de
consensos em torno de noções como a
qualidade da pós-graduação entendida
como significante vazio preenchido por
meio de articulações hegemônicas. As
autoras, após um breve quadro do siste-
ma a partir dos resultados da avaliação
do triênio 2004-2006, analisam dois
aspectos que julgam centrais para o
preenchimento da noção de qualidade:
a articulação dos programas em torno
de linhas de pesquisa e a produção/
disseminação do conhecimento. Em
relação à articulação, defendem que as
linhas podem ser entendidas como uma
expressão da forma como os progra-
mas estão pensando o próprio campo
da educação, num exercício que tem
envolvido interdisciplinaridade e flexi-
bilidade. Quanto à produção/dissemi-
nação do conhecimento, discordam de
tese corrente de que a avaliação da pós-
graduação tem levado a área a um pro-
dutivismo desenfreado, entendendo-a
como nostalgia restauradora.
Palavras-chave: pós-graduação; ava-
liação; política educacional.
Educational research in Brazil
This paper discusses the graduate
educational policy in the area of edu-
cation, considering it, based on E.
Laclau and C. Mouffe, to be incessant
politization imbued with undecidabil-
ity. Analyzing recent texts produced in
the process of evaluating programs in
the sphere of CAPES, it considers it
possible to understand the provisional
formation of consensuses around no-
tions like quality of graduate courses
seen as an empty signifier filled by
hegemonic articulations. The authors,
after a brief summary of the system
based on the results of the 2004-2006
three-year evaluation, analyze two
aspects that they feel are crucial for
filling in the notion of quality: the
articulation of the programs around
the research lines and the production/
dissemination of knowledge. As for
the articulation, they maintain that
the lines can be seen as an expression
of the way in which the programs are
thinking the actual field of educa-
tion, in an exercise that has involved
interdisciplinarity and flexibility. As
for the production/dissemination of
knowledge, they disagree with the
current theory that the evaluation of
graduate courses has led the area to
an unrestrained productivism, seeing
it as restorative nostalgia.
Key words: graduate educational poli-
cy; evaluation; educational policy.
La pesquisa en la educación en
Brasil
El artículo discute la política de
postgrado en el área de la educación,
entendiéndola a partir de E. Laclau y
C. Mouffe, como la politización ince-
sante habitada por lo que no se puede
decir o explicar. Analizando textos
recientes producidos en el proceso
de evaluación de los programas en el
ámbito de CAPES, considera posible
comprender la formación provisoria
de consensos alrededor de nociones
como la cualidad del postgrado en-
tendido como significante vacío, com-
pletado por medio de articulaciones
hegemónicas. Las autoras, después de
un breve cuadro del sistema, a partir
de los resultados de la evaluación
del trienio 2004-2006, analizan dos
aspectos que consideran centrales
para completar la noción de calidad:
la articulación de los programas en
torno a líneas de pesquisa y a la pro-
ducción/diseminación del conocimien-
to. Con relación a la articulación,
defienden que las líneas pueden ser
entendidas como una expresión de la
forma de como los programas están
pensando en el propio campo de la
educación, en un ejercicio que ha
envuelto interdisciplinariedad y fle-
xibilidad. En cuanto a la producción/
diseminación del conocimiento, dis-
cuerdan de la tesis corriente de que la
evaluación del postgrado ha llevado
al área a un productivismo desenfre-
nado, entendiéndola como nostalgia
restauradora.
Palabras claves: postgrado; evalua-
ción; política educativa.
Paolo Nosella
A pesquisa em educação: um balanço
da produção dos programas de pós-
graduação
A pós-graduação no Brasil foi criada
no ano de 1965. Antes disso, a pro-
dução das pesquisas em educação
pouco se desenvolvia em instituições
universitárias. Duas características
fundamentais qualificam as pesquisas
produzidas nos programas de pós-gra-
duação em educação de 1965 a 1985: a
escolarização da produção da pesquisa,
decorrência da institucionalização da
pós-graduação, e o desenvolvimento
de um forte pensamento crítico, como
reação aos governos militares. Os
anos de 1985 até hoje se caracterizam
pela consolidação e expansão da pós-
graduação e as pesquisas desse período
são teoricamente marcadas pela cha-
mada crise dos paradigmas. Muitos
pesquisadores, criticando os estudos
sobre sociedade e educação, por não
conseguirem abarcar a complexidade e
a diversidade do real, partiram para a
proposta de um pluralismo epistemoló-
gico e temático, privilegiando o estudo
de objetos singulares. O desafio teórico
hoje é articular o particular escolar
(dado empírico) com o movimento
geral da história (totalidade). Há tam-
bém outros desafios, como aprimorar
o texto ou a “narração” dos relatórios,
modificar a avaliação dos programas de
pós-graduação em educação feita pela
CAPES e institucionalizar a pesquisa
nas novas universidades do país.
Palavras-chave: educação; pesquisa;
programas de pós-graduação em edu-
cação; avaliação.
202	 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010
Resumos/Abstracts/Resumens
2prova-mioloRBE.indd 202 17/5/2010 10:12:42

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...ProfessorPrincipiante
 
Draibe estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadania
Draibe  estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadaniaDraibe  estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadania
Draibe estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadaniaAngelo Pereira
 
Maria tereza estrela discussões fundamentais
Maria tereza estrela    discussões fundamentaisMaria tereza estrela    discussões fundamentais
Maria tereza estrela discussões fundamentaisribeiroljosi
 
O currículo no ensino superior estruturado em
O currículo no ensino superior estruturado emO currículo no ensino superior estruturado em
O currículo no ensino superior estruturado emInge Suhr
 
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasil
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasilO ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasil
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasilMarcos David
 
o esporte na escola e o esporte da escola
o esporte na escola e o esporte da escolao esporte na escola e o esporte da escola
o esporte na escola e o esporte da escolaDeusirene Magalhaes
 

Mais procurados (8)

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: ANÁLISE PRELIMINAR DO CONTEXTO DAS REFORMAS ...
 
Draibe estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadania
Draibe  estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadaniaDraibe  estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadania
Draibe estado de bem estar desenvolvimento economico e cidadania
 
22831
2283122831
22831
 
Maria tereza estrela discussões fundamentais
Maria tereza estrela    discussões fundamentaisMaria tereza estrela    discussões fundamentais
Maria tereza estrela discussões fundamentais
 
O currículo no ensino superior estruturado em
O currículo no ensino superior estruturado emO currículo no ensino superior estruturado em
O currículo no ensino superior estruturado em
 
Ged parte i
Ged   parte iGed   parte i
Ged parte i
 
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasil
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasilO ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasil
O ensino médio no contexto das políticas públicas de educação no brasil
 
o esporte na escola e o esporte da escola
o esporte na escola e o esporte da escolao esporte na escola e o esporte da escola
o esporte na escola e o esporte da escola
 

Semelhante a A pesquisa em educação no Brasil

Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedo
Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedoElisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedo
Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedoBebeti05
 
Morais concepções e metodologias de alfabetização
Morais   concepções e metodologias de alfabetizaçãoMorais   concepções e metodologias de alfabetização
Morais concepções e metodologias de alfabetizaçãoadridaleffi121212
 
Morais concepções e metodologias de alfabetização
Morais   concepções e metodologias de alfabetizaçãoMorais   concepções e metodologias de alfabetização
Morais concepções e metodologias de alfabetizaçãoadridaleffi121212
 
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃOO ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃOProfessorPrincipiante
 
formação d e professores de sociologia
formação d e professores de sociologia formação d e professores de sociologia
formação d e professores de sociologia Fabson Calixto
 
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...ProfessorPrincipiante
 
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS FortalezaCartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS FortalezaJuliana Magalhães
 
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ProfessorPrincipiante
 
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)Wendel Bike
 
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...ProfessorPrincipiante
 
Politecnico final
Politecnico finalPolitecnico final
Politecnico finalafermartins
 
Plano de aula tecnologias de aprendizagem
Plano de aula tecnologias de aprendizagemPlano de aula tecnologias de aprendizagem
Plano de aula tecnologias de aprendizagemAlexandre SANTOS
 
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...ProfessorPrincipiante
 
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRA
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRADESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRA
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRAProfessorPrincipiante
 
Petroni e souza 2009
Petroni e souza 2009Petroni e souza 2009
Petroni e souza 2009prosped
 
Texto artur gomes de morais
Texto artur gomes de moraisTexto artur gomes de morais
Texto artur gomes de moraisgizaflexa
 

Semelhante a A pesquisa em educação no Brasil (20)

Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedo
Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedoElisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedo
Elisabeteribeiro andreia santos_micheleazevedo
 
Morais concepções e metodologias de alfabetização
Morais   concepções e metodologias de alfabetizaçãoMorais   concepções e metodologias de alfabetização
Morais concepções e metodologias de alfabetização
 
Morais concepções e metodologias de alfabetização
Morais   concepções e metodologias de alfabetizaçãoMorais   concepções e metodologias de alfabetização
Morais concepções e metodologias de alfabetização
 
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃOO ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO
O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUAÇÃO
 
23425 104839-1-pb
23425 104839-1-pb23425 104839-1-pb
23425 104839-1-pb
 
formação d e professores de sociologia
formação d e professores de sociologia formação d e professores de sociologia
formação d e professores de sociologia
 
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ...
 
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS FortalezaCartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza
Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza
 
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
 
Carta a SMED/SL
Carta a SMED/SLCarta a SMED/SL
Carta a SMED/SL
 
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)
Wendel Umirim-ce (Resenha politicas publicas e educação)
 
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...
PROFESSOR INICIANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA: VALORIZANDO TRAJETÓRIAS E CONQUISTAS ...
 
Revista em aberto
Revista em abertoRevista em aberto
Revista em aberto
 
Politecnico final
Politecnico finalPolitecnico final
Politecnico final
 
Estagio supervisionado
Estagio supervisionadoEstagio supervisionado
Estagio supervisionado
 
Plano de aula tecnologias de aprendizagem
Plano de aula tecnologias de aprendizagemPlano de aula tecnologias de aprendizagem
Plano de aula tecnologias de aprendizagem
 
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...
IDENTIDADES DOCENTES NA ABORDAGEM NARRATIVA. PROCESOS DE SOCIALIZACION PROFES...
 
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRA
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRADESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRA
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: CONCEITUANDO O INÍCIO DA CARREIRA
 
Petroni e souza 2009
Petroni e souza 2009Petroni e souza 2009
Petroni e souza 2009
 
Texto artur gomes de morais
Texto artur gomes de moraisTexto artur gomes de morais
Texto artur gomes de morais
 

Último

ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 

Último (20)

ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 

A pesquisa em educação no Brasil

  • 1. A pesquisa em educação no Brasil Elizabeth Macedo Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação Clarilza Prado de Sousa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Educação Introdução Inicialmente,julgamosnecessárioexplicitaroestra- nho lugar de onde falamos. Nossa familiaridade com a temáticasedánamedidaemquesomospartícipesdeum sistema de pós-graduação e de pesquisa em seus múlti- plosespaços,enãoestudiosasdotema.Nessemomento, essa participação envolve a posição de representantes da área junto à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) e, portanto, a tarefa de conduzir o processo de avaliação dos programas no triênio2007-2009.Seédiscutívelapossibilidademesma da representação – já que o ato de representar envolve a incorporação do representado à esfera política com uma identidade criada pela interpelação do representante àquelesqueelerepresenta(Laclau,1993)–,seuexercício em uma exposição como esta é ainda mais inusitado. No âmbito de nossa ação prática, podemos buscar agir como representantes, certas da incompletude do ato de representar, que é simultaneamente sua condição de possibilidade e impossibilidade. Num espaço teórico como este, estamos num terreno movediço. Por sua natureza acadêmica, nossa exposição não pode prescindir de análise, o que não pode ser feito desse lugar de representantes.Ao mesmo tempo, seria naive acreditar que podemos fazê-lo de outro lugar, desde que explicitemos essa desvinculação. É, portanto, nesseespaço ambíguo queconstruímos este texto em que pretendemos discutir aspectos da política de pós-graduação (em educação), entendendo-a como diretamente relacionada à política de pesquisa. Em áreas como a educação, praticamente toda pesquisa é desenvolvida nos programas de pós-graduação ou por sujeitos formados para a pesquisa nesses programas. Dito isso, assumimos nossa rejeição à ideia de que existiria um modelo ideal de política para a pós- graduação, postura que, a nosso ver, viabiliza visões nostálgicas.AutorescomoCameroneGatewood(1994) têm tratado a nostalgia como uma adaptação psicoló- gica às frenéticas mudanças que experimentamos no campo da cultura, de modo que ela pode ser sentida até por aqueles entre nós que não vivemos aquilo que recordamos. Trata-se de algo que se processa tanto no âmbito individual quanto coletivo, refletindo o que se quer lembrar, mas também aquilo que se busca esque- cer. Se a nostalgia pode ser reflexiva (Boym, 2001), 166 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 166 17/5/2010 10:12:37
  • 2. permitindo o pensar sobre a história e a passagem do tempo, ela também pode assumir contornos restaura- tivos, celebrando romanticamente um passado vivido apenas como fantasia presente. O perigo da nostalgia restaurativa é maquiar a própria nostalgia, apresentada como uma tentativa de recuperar algo tido como ver- dade absoluta. Nossa postura está longe de uma nostalgia restau- rativa. Entendemos que a pós-graduação e a pesquisa na área de educação, ao longo dos últimos trinta anos, viveu intensa consolidação, que pode ser percebida, entre outros fatores, pela ampliação das demandas por financiamento em diferentes agências. Trata-se de uma trajetória comum a outras áreas das ciências sociais e das humanidades que, como ressalta Velho (1997), por vezes faz parecer desestruturação, o que é uma “sau- dável vitalidade da comunidade” científica na compe- tição por recursos que não foram ampliados na mesma medida em que aumentaram as demandas. Segundo esse autor (idem, p. 5), a maior institucionalização do sistema provocou algum desconforto pela maior competitividade por recursos, mas foi “absolutamente crucial para que a pesquisa propriamente dita desse um salto” e as áreas consolidassem-se. Ao mesmo tempo em que reconhecemos enormes avanços da pós-graduação em geral e da área de edu- cação em particular, corroboramos algumas críticas à política de pós-graduação que vêm sendo apresentadas em diferentes análises (Horta, 2002; Horta & Moraes, 2005; Kuenzer & Moraes, 2005; Sguissardi, 2006; Fávero, 2009). Consideramos, no entanto, que a maio- ria delas opera com um modelo de política em que as principais ações são localizadas no espaço do Estado, tratando as esferas não governamentais apenas como reativas. Assim, as ações do Estado são criticadas e, mesmo quando o conceito de Estado assume uma perspectiva gramsciana de Estado ampliado, a inde- pendência material relativa entre sociedade política e sociedade civil é negligenciada (Lopes, 2006). Ainda assim, vemos nesses trabalhos importante contribui- ção para pensar a pós-graduação, especialmente em função de serem construídos a partir de um mosaico de vivências de seus autores nesse sistema. Permitem- nos, portanto, acompanhar um pouco mais de perto o cotidiano dessa discussão em espaços-tempos de que não participamos. Alternativamente, temos entendido (em estudos do campo do currículo) que a saturação total dos espaços cotidianos é impossível, não importa quão intensos sejam os mecanismos de controle impostos por glo- balismos econômicos e autoritarismos políticos (Hall, 2003). Esse entendimento não implica desvalorizar o Estado como constituinte das políticas, assumindo posturas relativistas, mas entendê-lo como uma articu- lação, entre várias, de discursos que lutam por espaço (Laclau & Mouffe, 2004). Aqui tomamos discurso numa perspectiva pós-estrutural como fenômenos não apenas linguísticos, que se articulam com instituições, práticas econômicas, políticas e culturais, assim como comprocedimentosnormativosqueconstituemosocial. Nesse sentido, quando falamos de uma política de pós- graduação, estamo-nos referindo a diferentes discursos circulantes que se tornam hegemônicos e se universa- lizam provisoriamente, reestruturando nossa forma de compreender o social (Laclau & Mouffe, 2004). Os “autores” desses discursos somos todos nós – e também eles – nos espaços em que produzimos sentidos sobre o que vem a ser a pós-graduação de qualidade. Tomando a política de pós-graduação como politi- zaçãoincessante,semprehabitadapelaindecidibilidade, tentaremos analisar alguns consensos que “se manifes- tam como a estabilização de algo essencialmente não estável e caótico” (Mouffe, 2003, p. 147). Para tanto, tomaremos para análise alguns textos em que esses con- sensos provisórios em torno de posições hegemônicas são explicitados. Nossa crença é de que é possível, por meio da análise dos textos de política, compreender a formação provisória de consensos em torno de noções como a qualidade da pós-graduação, entendida como significante vazio preenchido por meio de articulações hegemônicas. O recorte dos textos com os quais vamos trabalhar é marcado por nossa condição de participantes do siste- ma de pós-graduação que, nos últimos anos, estiveram ligadas aos processos de avaliação coordenados pela CAPES. Para as considerações que teceremos sobre a A pesquisa em educação no Brasil Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 167 2prova-mioloRBE.indd 167 17/5/2010 10:12:37
  • 3. política de pós-graduação em educação no país, opta- mos por nos basear nos documentos produzidos pela avaliação: fichas, pareceres e resultados da avaliação, assim como em documentos de área. Entendemos que eles expressam determinadas posições sobre o que é qualidade da pós-graduação tornadas hegemônicas em determinados momentos. Mesmo reduzindo o número de documentos passíveis de análise, ainda temos necessidade de focar apenas alguns aspectos, como forma de dar conta da tarefa de falar da pesquisa em educação a partir da análise da política de pós-graduação. Após traçar um quadro muito geral do sistema, vamo-nos fixar em dois pontos que nos parecem centrais nessa política e que se referem diretamente à temática da pesquisa. O primeiro, de natureza processual, diz respeito à organização dos programas em núcleos que dão centralidade à pesquisa. O segundo é um indicador de resultados que vem sendo apontado,pormuitosdenós,comooprincipalindicador da avaliação: a produção bibliográfica dos programas. O sistema de pós-graduação em educação Inicialmente, selecionamos dados que nos per- mitem perceber como se encontra o sistema de pós- graduação em educação no país. Desde o início da pós-graduaçãoemeducação,em1965,ocrescimentodo número de mestrados e doutorados tem sido constante, com alguns momentos de maior gradiente de expansão (Gráfico 1). Gráfico 1: Crescimento do número de cursos de pós- graduação por ano 1965-2008 Esse crescimento tem sido mais sentido atual- mente em instituições estaduais e particulares (Gráfico 2). Ainda que essa distribuição se tenha concentrado em determinadas regiões geográficas, optamos por não discutir tal fato por entender que, como não podemos realizar nos limites deste texto uma análise consistente cruzando diferentes indica- dores, a pura e simples apresentação da distribuição serviria apenas para consolidar estereótipos. Como vem ocorrendo desde 1965, a produção de disserta- ções e teses cresceu ao longo do último triênio. A maior parte dela ainda se dá em instituições fede- rais, especialmente no que concerne aos cursos de doutorado. Como era de esperar, em virtude de se tratar de cursos recentes, a produção das instituições particulares concentra-se em nível de mestrado (Gráficos 3 e 4). Gráfico 2: Distribuição de programas por tipo de instituição (2004-2006) Gráfico 3: Número de titulações em mestrado acadêmico 2004-2006 Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa 168 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 168 17/5/2010 10:12:37
  • 4. Gráfico 4: Número de titulações em doutorado (2004-2006) Quanto ao tamanho dos programas, a ampla maioria do sistema é composta por programas de até 30 docentes, sendo 28% de programas muito pe- quenos – de até 15 docentes (Gráficos 5 e 6). Como expresso no Gráfico 7, esses programas ocupam, em geral, os estratos mais baixos da avaliação, com conceitos 3 e 4. Os programas que têm entre 16 e 30 docentes são maioria nos conceitos 4 e 5. Os programas com mais de 31 docentes concentram- se nos conceitos 4 e 5. Os poucos programas com mais de 50 docentes ocupam os estratos mais ele- vados da avaliação. Os programas 5 e 6 tendem a ser maiores: no caso dos 6, mesmo os oferecidos por instituições privadas têm mais de 16 docentes. Trata-se de números que indicam que os resultados da avaliação estão, no geral, refletindo a consolida- ção dos programas. Gráfico 5: Número de docentes por programa e tipo de instituição (2004-2006) Gráfico 6: Número de docentes por programa Gráfico 7: Dimensão do corpo docente por nota do programa Do ponto de vista da ampliação do sistema de pós-graduação, parece que estamos atingindo certa saturação. A capacidade de criação de novos cursos de mestrado vem-se reduzindo e concentrando-se em universidades privadas. No nível de doutorado, ainda há algum fôlego, mas em geral os cursos novos contam com reduzido número de docentes, o que deve dificultar-lhes atingir níveis de excelência. Parece es- tarmos num momento em que é fundamental projetar estratégias para a continuidade da ampliação quanti- tativa e qualitativa da área. Pensar em associações é talvez uma forma de garantir o crescimento do sistema sem perda da qualidade, facilitando a consolidação de novos programas que venham a atender a enorme demanda por formação pós-graduada stricto sensu na área da educação. A pesquisa em educação no Brasil Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 169 2prova-mioloRBE.indd 169 17/5/2010 10:12:38
  • 5. A formação Osistemadepós-graduaçãobrasileiro,iniciadoem 1965 a partir do parecer n. 977/65 do Conselho Federal de Educação, viveu rápida expansão como parte de um projeto de Estado que considerava o desenvolvimento científico “pré-condição para o desenvolvimento econômico” (Brasil, 1983, p. 7). Segundo Córdova, Gusso e Luna (1986), a forma desordenada como se expandiu o sistema de pós-graduação fez com que cada curso valorizasse uma das funções que se entendia ter a pós-graduação: formar professores para o ensino superior, capacitar técnicos para operar os projetos governamentais e produzir conhecimentos visando ao desenvolvimento econômico do país. Paradoxal- mente, ao mesmo tempo em que os cursos tinham perfis diferenciados devido a essas funções, os currí- culos assumiram grande homogeneidade. Os cursos organizavam-se em torno de áreas de concentração e de um conjunto de disciplinas obrigatórias de domínio conexo e eletivas, sem grande valorização da pesquisa, tanto docente quanto como atividade orgânica dos programas. Para Fávero (1996), as recomendações dos pareceres n. 977/65 e n. 77/69, embora não obrigató- rias, foram seguidas à risca pelos cursos, na medida em que era a partir delas que seu funcionamento era autorizado, condição fundamental para a validação dos certificados e para pleitear financiamento junto aos órgãos estatais. Especialmente a partir da segunda metade dos anos 1980, o sistema reestruturou-se tomando por base uma série de questionamentos, num momento que Fávero (2009) definiu como de “intensa mobilização”. O principal consenso que reorganizaria todo o sistema estabeleceu-seemtornodosobjetivosdapós-graduação, com a valorização da formação do pesquisador em de- trimento das demais funções até então desempenhadas pelos cursos. Em face dessa alteração, as áreas de con- centração, de perfil nitidamente profissional, sofreram críticas de cunho epistemológico, que apontavam para um currículo mais integrado e relacionado à pesquisa. A superação da ideia de área de concentração estava, no entanto, longe de ser unânime. Cunha (1985), por exemplo, explicitava temor de que a extinção ou o alargamento das áreas de concentração prejudicasse a criação de uma identidade para a educação. Em texto datado de 1996, Fávero defendia os núcleos de pes- quisa, que enfatizassem a problematização capaz de construir e organizar o conhecimento, em detrimento das áreas de concentração, que supunham a divisão do conhecimento em áreas cujos conteúdos poderiam ser previamente estruturados para serem transmitidos. Em texto mais recente (Fávero, 2009), o autor define como palavras-chave desse processo a flexibilidade, a integração ensino-pesquisa e a interdisciplinaridade. As áreas de concentração parecem totalmente supera- das na organização dos programas de pós-graduação. Muitos deles apresentam como área apenas educação, enquanto outros definem um escopo mais restrito, sem, no entanto, cair em campos profissionais comuns no período inicial de consolidação do sistema. Se a ideia de núcleos ou eixos de pesquisa subsiste apenas em uns poucos cursos, a organização por linhas de pes- quisa atinge praticamente todos os programas. Fávero (idem) critica o privilégio absoluto da ideia de linhas, entendendo que elas se hegemonizaram em função da pressão do modelo de avaliação utilizado pela CAPES a partir do biênio 1996-1997, com reflexos na avalia- ção realizada em 1998. Concordamos que a exigência de nucleação em linhas de pesquisa que articulavam uma temática foi problemática para muitos cursos e favoreceu, naquele momento, cursos menores e mais recentes. Entendemos, no entanto, que o que temos hoje em termos de organização é um modelo mais flexível, que, de alguma forma, retoma as ideias de interdisci- plinaridade, flexibilidade e integração ensino-pesquisa, produto de uma redefinição da área sobre os sentidos da ideia de linhas de pesquisa. Horta e Moraes (2005, p. 95), narrando os mo- vimentos ocorridos no Comitê Técnico-Científico da CAPES (CTC/CAPES), nos triênios 1998-2000 e 2001-2003, com destaque para as discussões sobre os níveis de excelência, salientam a desejável “organici- dade entre linhas de pesquisa, projetos, estrutura cur- ricular, publicações, teses e dissertações”. Concluem que esse modelo, juntamente com a ênfase na produção Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa 170 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 170 17/5/2010 10:12:38
  • 6. bibliográfica, define a pós-graduação como “locus da produção do conhecimento e da formação de pesqui- sadores” (idem, ibidem). Diferentemente do que ocorre com outros aspectos do modelo de avaliação, essa ideia de organicidade não é criticada pelos autores. Os docu- mentos da área da educação desde 1998, assim como os instrumentos de avaliação, assumem a positividade dessa articulação tanto para os programas em funcio- namento quanto para os cursos novos. O documento do triênio 1998-2000, embora não explicite nos perfis de cada conceito indicador de processo, assegura na ficha de avaliação a importância da consistência da proposta e da articulação das linhas em torno dessa proposta. No triênio 2001-2003, a positividade das linhas de pesquisa torna-se mais explícita, quando a abrangência delas como forma de facilitar a inclusão dos projetos de pesquisa é criticada, na medida em que “de forma alguma assegura a organicidade da proposta” (Brasil, 2004, p. 3).Aquestão é considerada ainda mais grave na medida em que “as temáticas de teses e, sobretudo, dissertações, guardam pouca ou nenhuma relação com os projetos e mesmo com as linhas” (idem, ibidem). Essa tendência de valorização da organicidade em torno de linhas continua nos documentos de avaliação do triênio seguinte. Aleitura de pareceres encaminhados aos progra- mas ao longo dos três últimos triênios, no entanto, permite perceber que há disputa em torno do enten- dimento da ideia de organicidade e, mais ainda, da interferência que a avaliação pode ter nas formas de organização dos currículos dos programas. Como mo- vimento geral, é possível dizer que se tem ampliado a visão de que a avaliação deve respeitar a organização proposta pelo programa, exigindo apenas algum nível de integração entre os diferentes elementos curricu- lares. Em relação à primeira avaliação que usava a ideia de linha de pesquisa, observa-se também maior flexibilidade, de modo que se entenda que a articulação é facilitada em programas menores, mais novos e de instituições particulares. No último triênio de avalia- ção, por exemplo, a ampla maioria das avaliações dos programas dá conta da organicidade das propostas e da relação no mínimo boa entre linhas e projetos de pesquisa, teses e dissertações, espelhando resultado diferente daquele relatado no documento de área de 2001-2003. Se essa observação pode indicar que a ideia de linhas se consolidou, pode também marcar uma flexibilização do que tem sido entendido por organicidade. Aceitando a premissa de maior flexibilidade da ideia de linhas de pesquisa em relação ao entendimento a que Fávero (2009) faz menção, julgamos lícito supor que o sentido que vem sendo dado à linha de pesquisa é o de elemento estruturador dos programas em torno da pesquisa. A ideia inicialmente imposta de linhas de pesquisa pode estar-se redefinindo (ou vir a ser redefinida), tendo por base os consensos construídos pela área nos últimos – pelo menos – vinte anos. Nesse sentido, a organização da ampla maioria dos programas em linhas não seria negativa, na medida em que a compreensão das linhas seja alargada e não implique modelo a ser seguido por todos, mas um significante que pode ser diferentemente preenchido pelos programas em função de suas histórias. Vistas nesse sentido, as linhas podem ser entendi- das como uma expressão da forma como os programas estão pensando o próprio campo da educação, num exercício de articulação que tem envolvido interdis- ciplinaridade e flexibilidade.Apartir da descrição das linhas, fizemos um primeiro exercício de compreen- der a pesquisa na área (há muitos outros dados que poderiam permitir uma análise mais aprofundada, mas não tivemos possibilidade de trabalhar para este artigo). Optamos por um duplo exercício: criamos homogeneidades, ressaltando as temáticas mais e menos recorrentes, ao mesmo tempo em que tentamos perceber a criatividade observada na constituição das linhas, associando temáticas. Sem desconsiderar a possibilidade de que tal associação vise à criação de guarda-chuvas, queremos vê-la em sua dimensão po- sitiva como expressão de uma área que se reinventa. Em nosso primeiro movimento em busca de re- gularidades, temas como política e gestão da educação (41), formação e trabalho docente (39), história da educação (27), didática e processos de ensino (22), aprendizagem e desenvolvimento (21) e currículo A pesquisa em educação no Brasil Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 171 2prova-mioloRBE.indd 171 17/5/2010 10:12:38
  • 7. (20) são os mais presentes. Num segundo conjunto aparecem temáticas como ensino de matemática e ciências (17), movimentos sociais (13), linguagem (12), educação especial (12), educação e cultura (12), educação/escola e sociedade (11), educação e trabalho (10), filosofia da educação (9), educação e tecnologia (8) e educação ambiental (8). Alguns temas menos recorrentes são: fundamentos da educação, avaliação, alfabetização, infância, ensino superior, ensino de ar- tes, teoria da complexidade, corpo, educação agrícola, educação e saúde. No geral, as organizações fazem-se com o privilégio de temáticas, em detrimento de cam- pos disciplinares. O amplo privilégio de áreas como política educacional, história da educação e didática/ currículo/formação de professores indicaria um tripé central dos estudos do campo da educação, o qual não impede o surgimento de temas mais específicos que não se diluem em áreas mais gerais. Nosso segundo movimento pretendeu perceber a diversidade dentro dessas temáticas aparentemente “clássicas” do campo. Os estudos autonomeados como políticas ou gestão da educação lidam preferen- cialmente com gestão (20) e políticas públicas (12), embora incluam interfaces com temáticas como práti- cas, cultura e organização da instituição escolar (11). A vinculação mais explícita entre política e Estado é realizada em apenas três linhas.As linhas de história da educação, em que a historiografia e a teoria da história ocupam posição de relevo (10), são igualmente con- centradas em torno de um núcleo central. No entanto, o restante das linhas agrupadas em torno da história mostra ampliação das articulações que indicam uma abordagem histórica de diferentes fenômenos: política educacional (8), filosofia da educação (3), instituições educacionais (3), sociedade (3), cultura (3). Também as linhas sobre a temática aprendizagem e desenvol- vimento têm foco central na abordagem psicológica desses processos, mas incluem articulações com ética, valores e, principalmente, constituição do sujeito e da subjetividade nos processos educativos. É nas linhas sobre temáticas como didática, cur- rículo e formação de professores que se percebe maior interseção. No caso da didática, têm destaque a prática e a sala de aula, a produção e a apropriação de conhe- cimento/saberes, as disciplinas/interdisciplinaridade, as instituições educacionais, a formação docente. No campo do currículo, a menção à cultura e ao cotidiano da escola é mais frequente (8), mas há um conjunto de outras articulações: avaliação, política, formação de professores, conhecimento. Em relação à formação docente, temas como práticas educativas, identidade, universidade, política e cultura juntam-se às discussões sobre profissionalização e trabalho docente. Em relação às demais linhas, temáticas como educação especial, trabalho e educação, ensino de matemática e ciências e educação e linguagem são mais homogêneas em relação aos enfoques, enquanto as linhas que dão centralidade à sociedade e à cultura tendem a apontar novas áreas temáticas interdisci- plinares. Esse primeiro esboço permite perceber as áreas privilegiadas na formação em nível de mestrado e doutorado e as áreas que concentram maior parte da pesquisa realizada na pós-graduação. Se não traz gran- des surpresas em relação às temáticas privilegiadas na área, indicam também que não há nenhuma articulação forçada apenas como forma de atender aos requisitos ditados pela avaliação. A produção de conhecimento O segundo aspecto que destacaremos é a produção bibliográfica do corpo docente dos programas; com as informações sobre titulação e produção discente, esse ponto forma o tripé de indicadores de produto cada vez mais valorizado na avaliação. As críticas ao modelo de avaliação sustentado por esse tripé são numerosas (Sguissardi, 2006; Horta & Moraes, 2005; Kuenzer & Moraes, 2005) e, como já destacamos, concordamos com boa parte das análises. Não há dúvida de que toda a avaliação não pode resumir-se a indicadores quanti-qualitativos de produção bibliográfica, assim como de que indicadores de formação são relevantes e precisam continuar a ser utilizados. Mais do que isso, é inegável a necessidade de uma ação política mais consistente voltada para os usos da avaliação Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa 172 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 172 17/5/2010 10:12:38
  • 8. no financiamento do sistema de pós-graduação. Há que se discutir mais amplamente se a maioria das linhas de financiamento devem privilegiar a excelên- cia. Tais discussões, a nosso ver, não impedem que concordemos com Kuenzer e Moraes (2005), quando afirmam que o efeito indutor do Estado na transição da centralidade na docência para a pesquisa foi positivo para a pós-graduação. Nesse modelo de pós-graduação voltada para a pesquisa, entendemos que a produção bibliográfica ganha importância e se justifica como indicador de avaliação. Tendo explicitado nossa posição, gostaríamos de, para desconstruí-las, dialogar com duas afirma- tivas que vêm sendo assumidas como verdadeiras em algumas de nossas discussões. A primeira sobre a importância do indicador produção bibliográfica na avaliação. Expressamos essa posição com uma cita- ção de Horta (2002), o qual, ao analisar resultados da avaliação de diferentes áreas para o triênio 1998-2000, concluiu que foi a produção bibliográfica o indicador que permitiu aos programas atingir os estratos mais elevados.Asegunda relaciona-se ao que temos chama- do de produtivismo. No mesmo texto em que reconhe- cem a positividade de uma pós-graduação centrada na pesquisa, Kuenzer e Moraes (2005, p. 1.349) afirmam que há “um verdadeiro surto produtivista em que o que conta é publicar, não importa qual versão requentada de um produto ou várias versões maquiadas de um produto novo. A quantidade institui-se em meta”. Trabalhando com dados produzidos pelas ava- liações, pouco ainda se pode falar sobre a qualidade das produções. A tentativa de qualificação vem sendo feita por meio do que, no âmbito da CAPES, ficou conhecido como Qualis. Em relação aos periódicos, a estratificação de veículos encontra-se mais adiantada, ainda que seja questionável que a avaliação de uma revista seja transportada para todos os seus artigos. No que concerne aos livros, os dados de que dispo- mos consideram ainda indicadores muito indiretos de qualidade – como a circulação e a gestão editorial –, medidos por uma qualificação de editoras. Conside- rando esses limites, no entanto, julgamos que uma análise dos dados de produção dos programas gerados para a avaliação trienal 2004-2006 permite questionar afirmativas como a de que existe produtivismo na área ou de que a produção docente tem definido o resultado da avaliação dos programas. As médias de produção docente por conceito dos programas indicam que há correlação entre a avaliação final dos programas de pós-graduação e a média de produção docente (Gráfico 8). No entanto, há grande variação das médias de produção docente em programas com um mesmo conceito. Com exceção dos programas com conceito 6, as faixas de média de produção de um conceito interpenetram-se com as dos conceitos superiores. Isso mostra que outros indicado- res estão sendo considerados para compor o resultado da avaliação e, a nosso ver, desautorizam a afirmativa de que a produção bibliográfica é a base do modelo que vem sendo utilizado para a avaliação. Gráfico 8: Mediana da média da produção docente por ano por conceito do programa (calculada em relação a capítulos A) Quanto ao produtivismo, as médias de produção docente por programa (equivalentes a capítulos A) também não indicam excesso de produção.Apenas nos programas 6 (Gráfico 12) observamos média anual de mais de dois produtos (equivalentes a capítulo A) por docente por ano. Dos conceitos 3 a 5, essa média varia de 1 a 1,6 produto (equivalente a capítulo A) (Gráfi- cos 9 a 11). Poder-se-ia argumentar que o número de produtos é muito superior, se considerados os valores A pesquisa em educação no Brasil Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 173 2prova-mioloRBE.indd 173 17/5/2010 10:12:39
  • 9. brutos; no entanto, a média em número de produtos é pouco superior aos valores tabelados. Gráfico 9: Média da produção docente (equivalentes a capítulos A) dos programas 3 Gráfico 10: Média da produção docente (equivalentes a capítulos A) dos programas 4 Gráfico 11: Média da produção docente (equivalentes a capítulos A) dos programas 5 Gráfico 12: Média da produção docente (equivalentes a capítulos A) dos programas 6 Em relação aos estratos mais elevados da avalia- ção (A e B para livros e Internacional e Nacional A e B para periódicos), os números de média de produção por docente por ano são ainda ligeiramente inferiores. À exceção dos programas 6, nos demais conceitos essa produção total é inferior a dois produtos por ano (Gráficos 13 e 14). Considerada a produção apenas em periódicos, nem nos programas 6 esse número atinge a média de um produto por docente por ano (Gráfico 14). Entendemos que esses números não permitem concluir que há produtivismo na área induzido pela avaliação. Talvez nossa percepção de tal produtivismo tenha a ver com o crescimento da área em níveis de que ainda não nos demos conta: a centralidade na formação de pesquisadores realimenta o sistema, provocando sua rápida expansão e ampliando os números brutos da produção bibliográfica. Gráfico 13: Mediana da média da produção docente em estratos mais elevados por conceito Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa 174 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 174 17/5/2010 10:12:39
  • 10. Gráfico 14: Mediana da média da produção docente em periódicos A e B por conceito Gráfico 15: Mediana da média da produção docente em livros A e B por conceito Preocupa-nos a nostalgia (restaurativa) de um tempo outro que subjaz ao discurso crítico do produ- tivismo. Para apoiar essa nostalgia, postula-se uma relação não sustentada entre quantidade e qualidade da produção: num tempo em que a produção era menor, era certamente, e por isso, melhor. Uma avaliação pouco sistemática da produção em educação hoje não parece deixar dúvidas de que ela é mais consistente do que o que se produzia nos anos de 1970 e 1980.As teses e dissertações recentes têm mais profundidade teórica, se comparadas com a média dos trabalhos defendidos nos anos 1970 e 1980. Nossos periódicos, além de mais numerosos, têm mais qualidade.Aplêia- de de livros que vemos hoje em eventos não é apenas quantitativamente maior, mas espelha uma produção própria dos pesquisadores da educação no Brasil em contraposição a uma ampla maioria de manuais e adaptações de literatura estrangeira que predominava nos anos de 1970. Mas não é apenas porque julgamos essa nostalgia insustentável que nos esforçamos para desconstruí-la. Fazemo-lo porque julgamos que, em áreas como a edu- cação,historicamentevinculadaàextensãoequeapenas mais recentemente vem construindo uma trajetória de produção científica consistente, essa nostalgia pode contribuir para a desmobilização e para um retrocesso nessa trajetória. Nossa preocupação tem-se intensifi- cado recentemente, na medida em que se ampliam as demandas de diversas naturezas sobre a pós-graduação e sobre os seus docentes, especialmente das universida- des públicas. Ainda que compreendamos e julguemos relevantes muitas das demandas de inserção social que vêm sendo lançadas aos programas, entendemos que nossa principal função é fazer bem aquilo que nos competeeparaoquerecebemosfinanciamentopúblico: formar professores/pesquisadores e produzir conheci- mento socializado. É pela competência com que temos desempenhado essas funções que somos respeitados pelas comunidades acadêmicas e socialmente, e esse respeito é nosso principal capital. Referências bibliográficas BOYM, Stevlana. The future of nostalgia. New York: Basic, 2001. BRASIL– CAPES. Documento da área de educação. Brasília: CA- PES, 2004. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/capes/portal/ conteudo/2003_038_Doc_Area.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2009. BRASIL – CNPq. Desenvolvimento científico e formação de recursos humanos. Brasília: CNPq, 1983. CAMERON, Catherine M.; GATEWOOD, John B. The authentic interior: questing Gemeinschaft in post-industrial society. Human Organization, v. 53, p. 21-32, 1994. CÓRDOVA, Rogério de Andrade; GUSSO, Divonzir Arthur; LUNA, Sérgio Vasconcelos de. A pós-graduação na América Latina: o caso brasileiro. Brasília: UNESCO/CRESALC/MEC/ SESu/CAPES, 1986. CUNHA, LuizAntonioA. Ideias sobre avaliação. Boletim ANPEd, v. 7, n. 5, 6, p. 10-12, 1985. FÁVERO, Osmar. Situação atual e tendências de reestruturação dos programas de pós-graduação em educação. Revista da Facul- dade de Educação da USP, v. 22, n. 1, p. 51-88, jan./jun. 1996. A pesquisa em educação no Brasil Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 175 2prova-mioloRBE.indd 175 17/5/2010 10:12:40
  • 11. _______. Pós-graduação em educação: avaliação e perspectivas. Revista de Educação Pública, v. 18, n. 37, p. 311-327, maio/ago. 2009. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. HORTA, José Silvério Baía. Prefácio. In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Netto (Org.). A bússola do escrever: desafios e estratégias de teses e dissertações. São Paulo: Cortez; Florianópolis: UFSC, 2002. ________.; MORAES, Maria Célia Marcondes de. O sistema CAPES de avaliação da pós-graduação: da área de educação à grande área de ciências humanas. Revista Brasileira de Educação, n. 30, p. 95-116, 2005. KUENZER,Acácia; MORAES, Maria Célia Marcondes de.Temas e tramas na pós-graduação em educação. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 93, p. 1.341-1.362, set./dez. 2005. LACLAU, Ernesto. Power and representation. In: POSTER, Mark. Politics, theory and contemporary culture. New York: Columbia University Press, 1993. _______; MOUFFE, Chantal. Hegemonia y estratégia socialista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004. LOPES, Alice Casimiro. Discursos nas políticas de currículo. Currículo sem fronteiras, v. 6, n. 2, p. 33-52, jul./dez. 2006. MOUFFE, Chantal. La paradoxa democrática. Barcelona: Gedisa, 2003. SGUISSARDI, Valdemar. A avaliação defensiva no “modelo CA- PES de avaliação”. É possível conciliar avaliação educativa com processos de regulação e controle do Estado?. Perspectiva, v. 24, n. 1, p. 49-88, jan./jun. 2006. VELHO, Gilberto. As ciências sociais nos últimos 20 anos: três perspectivas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 35, p. 1-18, fev. 1997. ELIZABETH MACEDO, doutora em educação pela Uni- versidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadora adjunta da área de educação na CAPES. Publicações recentes: em coautoria com LOPES, Alice Casimiro. Políticas de currículo em seus múltiplos contextos (São Paulo: Cortez, 2006) e Políticas de currículo no Brasil e em Portugal (Porto: Profedições, 2008). Como produto de convênio CAPES/FCT, organizou Políticas curriculares e dinâmi- cas educativas no Brasil e em Portugal (Porto: LIVPSIC, 2008). Pesquisa em andamento: “Currículo de ciências: uma abordagem cultural”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail: beth- macedo@pobox.com CLARILZA PRADO DE SOUSA, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica da São Paulo, é profes- sora do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma universidade e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, onde coordenada o Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade. É atualmente coordenadora da área de educação na CAPES. Publicações recentes: em coautoria com VILLAS-BOAS, Lúcia, Representações sociais sobre o trabalho docente (Aveiro: Universidade de Aveiro, 2009), Avaliação do rendimento escolar (Campinas: Papirus, 2008). Como produto de convênio entre diferentes universidades nacionais e europeias, é uma das organizadoras de Educação e trabalho: representações, competências e trajectórias (Aveiro: Universidade de Aveiro, 2007). Pesquisa em andamento: “Representações sociais de estu- dantes universitários (pedagogia e licenciatura) sobre o trabalho do professor”, financiado pela Fundação Carlos Chagas e pela Fondation Maison des Sciences de l’Homme. E-mail: clarilza. prado@uol.com.br Recebido em outubro de 2009 Aprovado em dezembro de 2009 Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa 176 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 2prova-mioloRBE.indd 176 17/5/2010 10:12:40
  • 12. timate ends. That is, what are the pos- sibilities of conciliation between bu- reaucratic management, inherent to the system, and democratic management, demanded by university autonomy? It affirms that the tension revealed by the debate should be understood from this perspective. Key words: postgraduate studies; re- search; evaluation El debate sobre la pesquisa y la evaluación del postgrado en la educación El texto introduce las comunicaciones hechas en la mesa de apertura del IX Encuentro de Pesquisa de la Región Sudeste, realizado en la Universidad de São Carlos, en julio de 2009. En principio se destaca la importancia del debate a respecto del postgrado brasi- leño, en términos de la producción de la pesquisa calificada y de la impor- tancia de la evaluación dirigida por la CAPES. Se coloca en discusión el dilema por el que enfrenta actualmen- te: ¿cuáles son los límites impuestos por la necesaria burocratización y la libertad democrática de buscar reali- zar sus últimos fines? O sea, ¿cuáles son las posibilidades de conciliación entre la gestión burocrática, propia del sistema, y la gestión democrática, exigida inclusive por la autonomía uni- versitaria? Afirma que es desde esta perspectiva que debe ser entendida la tensión revelada en el debate. Palabras clave: posgrado; pesquisa; evaluación Elizabeth Macedo e Clarilza Prado de Sousa A pesquisa em educação no Brasil O artigo debate a política de pós-gra- duação na área de educação, entenden- do-a, a partir de E. Laclau e C. Mouffe, como politização incessante habitada pela indecidibilidade. Analisando tex- tos recentes produzidos no processo de avaliação dos programas no âmbito Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 201 Resumos/Abstracts/Resumens 2prova-mioloRBE.indd 201 17/5/2010 10:12:42
  • 13. da CAPES, considera possível com- preender a formação provisória de consensos em torno de noções como a qualidade da pós-graduação entendida como significante vazio preenchido por meio de articulações hegemônicas. As autoras, após um breve quadro do siste- ma a partir dos resultados da avaliação do triênio 2004-2006, analisam dois aspectos que julgam centrais para o preenchimento da noção de qualidade: a articulação dos programas em torno de linhas de pesquisa e a produção/ disseminação do conhecimento. Em relação à articulação, defendem que as linhas podem ser entendidas como uma expressão da forma como os progra- mas estão pensando o próprio campo da educação, num exercício que tem envolvido interdisciplinaridade e flexi- bilidade. Quanto à produção/dissemi- nação do conhecimento, discordam de tese corrente de que a avaliação da pós- graduação tem levado a área a um pro- dutivismo desenfreado, entendendo-a como nostalgia restauradora. Palavras-chave: pós-graduação; ava- liação; política educacional. Educational research in Brazil This paper discusses the graduate educational policy in the area of edu- cation, considering it, based on E. Laclau and C. Mouffe, to be incessant politization imbued with undecidabil- ity. Analyzing recent texts produced in the process of evaluating programs in the sphere of CAPES, it considers it possible to understand the provisional formation of consensuses around no- tions like quality of graduate courses seen as an empty signifier filled by hegemonic articulations. The authors, after a brief summary of the system based on the results of the 2004-2006 three-year evaluation, analyze two aspects that they feel are crucial for filling in the notion of quality: the articulation of the programs around the research lines and the production/ dissemination of knowledge. As for the articulation, they maintain that the lines can be seen as an expression of the way in which the programs are thinking the actual field of educa- tion, in an exercise that has involved interdisciplinarity and flexibility. As for the production/dissemination of knowledge, they disagree with the current theory that the evaluation of graduate courses has led the area to an unrestrained productivism, seeing it as restorative nostalgia. Key words: graduate educational poli- cy; evaluation; educational policy. La pesquisa en la educación en Brasil El artículo discute la política de postgrado en el área de la educación, entendiéndola a partir de E. Laclau y C. Mouffe, como la politización ince- sante habitada por lo que no se puede decir o explicar. Analizando textos recientes producidos en el proceso de evaluación de los programas en el ámbito de CAPES, considera posible comprender la formación provisoria de consensos alrededor de nociones como la cualidad del postgrado en- tendido como significante vacío, com- pletado por medio de articulaciones hegemónicas. Las autoras, después de un breve cuadro del sistema, a partir de los resultados de la evaluación del trienio 2004-2006, analizan dos aspectos que consideran centrales para completar la noción de calidad: la articulación de los programas en torno a líneas de pesquisa y a la pro- ducción/diseminación del conocimien- to. Con relación a la articulación, defienden que las líneas pueden ser entendidas como una expresión de la forma de como los programas están pensando en el propio campo de la educación, en un ejercicio que ha envuelto interdisciplinariedad y fle- xibilidad. En cuanto a la producción/ diseminación del conocimiento, dis- cuerdan de la tesis corriente de que la evaluación del postgrado ha llevado al área a un productivismo desenfre- nado, entendiéndola como nostalgia restauradora. Palabras claves: postgrado; evalua- ción; política educativa. Paolo Nosella A pesquisa em educação: um balanço da produção dos programas de pós- graduação A pós-graduação no Brasil foi criada no ano de 1965. Antes disso, a pro- dução das pesquisas em educação pouco se desenvolvia em instituições universitárias. Duas características fundamentais qualificam as pesquisas produzidas nos programas de pós-gra- duação em educação de 1965 a 1985: a escolarização da produção da pesquisa, decorrência da institucionalização da pós-graduação, e o desenvolvimento de um forte pensamento crítico, como reação aos governos militares. Os anos de 1985 até hoje se caracterizam pela consolidação e expansão da pós- graduação e as pesquisas desse período são teoricamente marcadas pela cha- mada crise dos paradigmas. Muitos pesquisadores, criticando os estudos sobre sociedade e educação, por não conseguirem abarcar a complexidade e a diversidade do real, partiram para a proposta de um pluralismo epistemoló- gico e temático, privilegiando o estudo de objetos singulares. O desafio teórico hoje é articular o particular escolar (dado empírico) com o movimento geral da história (totalidade). Há tam- bém outros desafios, como aprimorar o texto ou a “narração” dos relatórios, modificar a avaliação dos programas de pós-graduação em educação feita pela CAPES e institucionalizar a pesquisa nas novas universidades do país. Palavras-chave: educação; pesquisa; programas de pós-graduação em edu- cação; avaliação. 202 Revista Brasileira de Educação  v. 15  n. 43  jan./abr. 2010 Resumos/Abstracts/Resumens 2prova-mioloRBE.indd 202 17/5/2010 10:12:42