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REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O CAMINHO DA PESQUISA NO CURSO DE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIAA DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE PELOTAS
Elisabete da Silveira Ribeiro1
Andreia Barbosa dos Santos2
Michele Silveira Azevedo3
RESUMO: Este artigo pretende apresentar reflexões iniciais a respeito da trajetória do Curso
Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas, dando ênfase à
metodologia proposta pelo curso, pesquisa/ação, ou pesquisa/participante e seu reflexo na for-
mação docente.
PALAVRAS-CHAVE: GAPE/UFPel; Curso de Licenciatura em Pedagogia a distância da
Universidade Federal de Pelotas; Pesquisa .
Introdução
(…) Entendendo a formação não como algo que fazemos em alguns finais
de semana ou alguns semestres, mas formação como um processo
permanente, e formação como sendo um exercício, um entendimento
crítico daquilo que fazemos. Isto é, conseguir a prática que temos, a
experiência que temos e depois refletir sobre aquela experiência e prática
a fim de entender teoricamente o que significa(...)
Então, através desse tipo de trabalho profundamente sério, através de um
trabalho que é, ao mesmo tempo, gentil re pesado e sério e rigoroso,
precisamos formar permanentemente os professores sem manipulá-los.
FREIRE (p.209, 2003)
Somo professoras forjadas no GAPE/UFPel4
com formação no mestrado em
Educação da Universidade Federal de Pelotas. Trazemos este artigo como uma breve reflexão
a respeito do Curso Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de
Pelotas. Ele apresenta uma trajetória rápida de como foi a construção e como está se
desenvolvendo este.
1 Professora Pesquisadora do Curso de Licenciatura a distância da UFPel e professora da Educação Básica do
Estado do Rio Grande do Sul.
2 Professora Assistente do Curso de Pedagogia da Universidade do Recôncavo da Bahia.
3 Professora a distância do Curso de Licenciatura a distância da UFPel e professora da Educação Básica do
Estado do Rio Grande do Sul.
4 Grupo de Ação e Pesquisa em Educação Popular.
Neste artigo procuramos trazer uma breve reflexão a respeito do Curso Licenciatura
em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas. Ele apresenta uma trajetória
rápida de como foi à construção e como está se desenvolvendo este.
O referido curso tem a pretensão de trabalhar com a produção do conhecimento a
partir do ‘chão da escola’ e do envolvimento com a pesquisa desde o começo para tanto busca
em Paulo Freire, referenciais para esta tarefa que entendemos não ser tarefa fácil.
A proposta de algo novo centralizado na prática dialogada, levando em conta as
exigências da academia, e ainda sua tendência positivista e centralizadora das formas de
produção do conhecimento, que se constrói de cima para a base, entra em choque para a
proposta de se construir com os sujeitos, por meio da pesquisa, meios para que estes consigam
transformar sua realidade, destacamos aqui a grande colaboração do professor José Fernando
Kieling, coordenador do curso, falecido ano passado, em sua caminhada fomentou a discussão
na academia para a importância da pesquisa e seu papel para com os sujeitos.
Desta forma, com o objetivo já explicitado, dividimos nossa escrita da seguinte forma:
O caminho da pesquisa no CLPD, momento em que discutimos mais aprofundada mente a
metodologia proposta pelo curso de pedagogia a partir de então procuramos fazer o
fechamento de nossas primeiras reflexões.
O caminho da pesquisa no CLPD
Para nós o trabalho da pesquisa é a reflexão constante sobre as relações humanas em
suas trajetórias. Desde 2001 participávamos do Grupo de Ação e Pesquisa em Educação
Popular da Universidade Federal de Pelotas (GAPE/FAE/UFPel), no GAPE, composto por
professores da Educação Básica da rede pública de ensino e professores da UFPel, no grupo
produzíamos pesquisas nas escolas do campo e em escolas da periferia da cidade. A
centralidade das pesquisas era sempre baseada no cotidiano da prática educativa das referidas
escolas. A partir de nossas investigações e discussões elaboramos vários artigos de
especialização, dissertações de mestrado e algumas teses de doutorado.
Em 2006 fomos desafiados pelo professor José Fernando Kieling, a pensar um Curso
de Pedagogia na Modalidade a distância para atingir a demanda reprimida do sul do país.
Ousamos dizer que professor Fernando, falecido ano passado, sonhava em revolucionar a
educação da região, tanto que desde 1995 estava envolvido em programas de formação de
professores, sendo o primeiro denominado Professores Leigos com os cursos de Pedagogia,
Geografia, Matemática e Letras e depois Professores em Serviço com o Curso de Pedagogia.
Assim Fernando insistia que o Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância o qual
planejávamos deveria ser construído centrado na pesquisa de entorno da escola, encharcado
das relações que constituem os jeitos próprios de se relacionar das pessoas de cada uma das
localidades das escolas púbicas envolvidas. Desse modo os educandos do CLPD iriam
ombrear junto com a escola e com a comunidade que a compõe desde o começo do Curso
utilizando um modo de pesquisa em que todos os envolvidos fossem sujeitos desse processo.
Importante destacar que o CLPD/UFPel surge do movimento de chegada e
implantação de novas universidades e/ou cursos de graduação federais a partir do governo de
Luís Inácio Lula da Silva, assim como a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia), a UNIPAMPA (Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul) entre outras
tantas espraiadas pelo Brasil com a intenção de levar a universidade onde ela nunca havia
chegado antes, atingindo milhares de pessoas até excluídas do ensino superior no Brasil.
Na construção do CLPD/UFPel nos reunimos muitas vezes no porão da faculdade de
Direito da UFPel onde planejávamos, discutindo, a partir de um projeto da professora Eliane
Póvoas Brito, como seria realizado este curso, que se diferenciava de outras licenciaturas por
buscar o chão da escola como base, para junto com as referências teóricas compreender a
realidade com síntese de múltiplas relações, de modo a que o currículo das escolas pudesse
ser envolvido por estes conhecimentos e trabalhar a partir destes, assim como os ligando aos
conhecimentos historicamente acumulados.
Para tanto fomos buscar autores que contribuíssem nessa construção e encontramos
uma base sólida em Freire, Orlando Fals Borda, Carlos Rodrigues Brandão, Gramsci entre
outros, com quem já dialogávamos desde o começo do GAPE.
O CLPD já começou de forma diferenciada, com a maioria de professores formadores,
a distância e presenciais forjados no trabalho da escola pública, com formação continuada por
dentro do próprio planejamento Curso e com a convicção de que a pesquisa precisa ser o
eixo central da formação de professores para que desse modo a universidade possa servir para
compreender, problematizar e juntamente com os sujeitos locais, ser agente de transformação
social. Percebendo os fatos como síntese das múltiplas relações que os geram.
Entendemos que todo movimento de mudança está integrado também a
enfrentamentos de interesses de ordem ideológica e política. Melo Neto (p. 14, 2004) a partir
do conceito gramisciano de hegemonia nos traz a importância de nos atentarmos para esses
elementos no que diz respeito à reflexão da universidade: “O enfrentamento político e
ideológico acontece, portanto, por meio de aparelhos veiculadores da luta ideológica e
política, os aparelhos de hegemonia. A universidade como um aparelho de hegemonia, é um
palco de disputas políticas e ideológicas” E neste caso não foi diferente. Nos fazíamos e ainda
fizemos a pergunta: é possível organizar um movimento de formação de professores a partir
do trabalho como eixo, numa perspectiva da educação popular? Não temos nenhuma certeza,
mas temos alguns indicativos a partir das turmas já formadas, de que esta formação pode e
deve ser na perspectiva de chão da escola e a intencionalidade de promover uma educação
que não sirva apenas ao mundo das ideias, por isso fizemos esta opção, que não é fácil, pois
está em constante movimento.
Assim é necessário perceber como os sujeitos singulares de determinado lugar se
percebem dentro da situação em que se encontram e isso só se consegue através de pesquisa,
senão partimos de preconceitos a respeito de dado fenômeno.
Conforme Paulo Freire (p.35 , 1981):
Se eu percebo a realidade como uma relação dialética entre objetividade e
subjetividade, então, eu preciso usar métodos de investigação que
envolvem as pessoas da área que está sendo estudada como
pesquisadores. Elas mesmas devem tomar parte nas investigações e não
servir como objetos passivos de um estudo. Se, como um sociólogo, eu
penso em mim como um cientista neutro ou imparcial, eu olharei as
pessoas e a realidade como um objeto de minha pesquisa. Assim, eu os
analiso como se o mundo fosse um laboratório anatômico no qual um
corpo é analisado.
São frequentes as críticas feitas ao curso, pois estávamos acostumados a graduações,
como as que nos formaram na universidade, que trabalham a partir de teorias clássicas, sem
muitas vezes fazer a conexão destas com a localidade em que estamos pesquisando ou na
melhor das hipóteses fazendo isso de forma preconceituosa e descolada da realidade, onde o
saber de experiência feita de que nos falava Freire é visto como um saber menor, sem valor. É
imprescindível lembrar também que não desprezamos o conhecimento clássico, apenas o
vamos utilizando conforme a necessidade de compreender determinada realidade nos faz buscá-lo.
Entretanto, é inegável que o modelo hegemônico que alguns cursos ainda insistem em
manter não está dando conta das contingências da escola e o que ainda se vê, neste caso, são
muitos acadêmicos que ao chegar a escola ficam desestruturados, pois o que encontram lá
pouco tem a ver com o que viram na universidade assim, seguidamente ouve-se a frase “eu
não estou preparado para enfrentar esta situação”.
A pesquisa comprometida com os sujeitos é um caminho que não é fácil de percorrer,
causa a insegurança do desconhecido, de se jogar na investigação e formar parceiras desde o
começo do curso de forma comprometida e por outro lado, de muito planejamento na
universidade a cada retorno dos estudantes, no sentido de buscarmos referências que possam
nos auxiliar a compreender os dados que vão chegando e ao mesmo tempo de planejar o
próximo movimento de trabalho proporcionando ao acadêmico o avanço na pesquisa. Deste
modo aprendemos todos o tempo inteiro.
Hoje com três turmas de Pedagogia a distância já formadas podemos ver os efeitos
dessa escolha que prima por uma educação popular baseada no cotidiano do trabalho docente
e das relações estabelecidas entre escola e comunidade. Os professores formados pelo CLPD
UFPel relatam que atualmente não conseguem começar um trabalho sem buscar conhecer a
realidade de entorno da escola para a partir de então buscar referenciais teóricos que os
auxiliem a problematizar e compreender aquele espaço, pois os sujeitos que produzem a vida
cotidianamente é que conhecem realmente as peculiaridades do lugar. Nos alegra saber que
em muitas cidades são considerados referencias, inclusive alguns que forma estudantes dessas
turmas agora são professores presenciais do CLPD.
Entretanto, cada turma que começa o trabalho é um desafio maior, pois já conhecemos
limites de propostas que foram feitas e que não resultaram em novos conhecimentos e ao
mesmo tempo temos que trabalhar com a insegurança dos novos acadêmicos que estão
acostumados a receber conhecimentos “prontos” e não percebem como conteúdo acadêmico a
investigação dos saberes locais. Buscamos referenciais que corroborem conosco para que
compreendam a necessidade da pesquisa e o movimento crescente e espiral desta.
Para Paulo Freire:
(…) fazendo pesquisa, eu estou educando e sendo educado com as
pessoas. Em retorno à área com o propósito de colocar em prática os
resultados de minha investigação, eu não estou apenas educando e sendo
educado: eu estou também pesquisando novamente porque para a
dimensão que nós colocamos em prática os planos resultantes da
investigação, nós mudamos os níveis de consciência das pessoas, e por
essa mudança, pesquisa-se outra vez. Assim, existe um movimento
dinâmico entre pesquisa e ação nos resultados da pesquisa.
Aos poucos as pessoas vão se percebendo com autoria ao mesmo tempo em que
percebem os sujeitos do lugar e o produto de seu trabalho, como é o caso da estudante
Michela, do polo de Hulha Negra que produz a partir de um movimento de introdução a
pesquisa do CLPD uma poesia a respeito da produção de milho, cultura plantada na área rural
de Candiota. Ela escreve assim:
Milho verde cheiroso
que deixa meu almoço tão gostoso,
de que chão vieste tu?
O que não tinha terras
teu grão semeou
a mão que te prepara
pudim, bolo, cuscuz e pamonha,
(…) o trabalho do agricultor
feito com tanto amor e zelo
pra levar esse sabor
para as mãos da cozinheira.
Direto do assentamento
onde Sem Terras
trabalham ao relento,
pais e filhos na labuta
engrandecendo o Movimento (...)
Na realidade apresentada por Michela o milho aparece em múltiplas relações
promovidas pelos sujeitos que o produzem. Passamos a valorizar o conhecimento local nas
suas peculiaridades para que a partir destes, possamos a avançar em totalidades mais amplas,
que vão desde o plantação do milho, por exemplo, à forma como este produto chega a mesa
de quem vai saboreá-lo, já que isto não se dá de forma mágica, pois é permeado por muito
trabalho na maioria das vezes de sujeitos que ficam invisíveis quando este vira produto.
Para concluir
Entendemos a importância do CLPD primeiro por levar a universidade onde nunca
tinha ido antes, mas principalmente por pensar o ensino a partir da localidade em que está
ocorrendo diariamente e que como dizia Freire quem conhece a realidade do lugar são os
sujeitos que nela atuam diariamente.
Assim não temos como chegar com manuais prontos para cada lugar, mas vamos
ombreando e aprendendo junto com as pessoas que ali estão e aprendemos muito a cada dia,
pois temos experiências muito ricas que estão escondidas nos rincões deste país. E, também
qualificamos nossas discussões nas escolas públicas em que atuamos.
Referenciais:
FREIRE, Paulo e HORTON Myles. O Caminho se Faz Caminhando. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003.
_____________ in: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.) Pesquisa Participante. São
Paulo: editora brasiliense, 1981.
MELO NETO, João Francisco de. Extensão Universitária, Autogestão e Educação
Popular. João Pessoa: editora universitária/UFPB 2004.
Formação docente e pesquisa participativa no CLPD/UFPel

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Formação docente e pesquisa participativa no CLPD/UFPel

  • 1. REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O CAMINHO DA PESQUISA NO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIAA DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Elisabete da Silveira Ribeiro1 Andreia Barbosa dos Santos2 Michele Silveira Azevedo3 RESUMO: Este artigo pretende apresentar reflexões iniciais a respeito da trajetória do Curso Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas, dando ênfase à metodologia proposta pelo curso, pesquisa/ação, ou pesquisa/participante e seu reflexo na for- mação docente. PALAVRAS-CHAVE: GAPE/UFPel; Curso de Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas; Pesquisa . Introdução (…) Entendendo a formação não como algo que fazemos em alguns finais de semana ou alguns semestres, mas formação como um processo permanente, e formação como sendo um exercício, um entendimento crítico daquilo que fazemos. Isto é, conseguir a prática que temos, a experiência que temos e depois refletir sobre aquela experiência e prática a fim de entender teoricamente o que significa(...) Então, através desse tipo de trabalho profundamente sério, através de um trabalho que é, ao mesmo tempo, gentil re pesado e sério e rigoroso, precisamos formar permanentemente os professores sem manipulá-los. FREIRE (p.209, 2003) Somo professoras forjadas no GAPE/UFPel4 com formação no mestrado em Educação da Universidade Federal de Pelotas. Trazemos este artigo como uma breve reflexão a respeito do Curso Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas. Ele apresenta uma trajetória rápida de como foi a construção e como está se desenvolvendo este. 1 Professora Pesquisadora do Curso de Licenciatura a distância da UFPel e professora da Educação Básica do Estado do Rio Grande do Sul. 2 Professora Assistente do Curso de Pedagogia da Universidade do Recôncavo da Bahia. 3 Professora a distância do Curso de Licenciatura a distância da UFPel e professora da Educação Básica do Estado do Rio Grande do Sul. 4 Grupo de Ação e Pesquisa em Educação Popular.
  • 2. Neste artigo procuramos trazer uma breve reflexão a respeito do Curso Licenciatura em Pedagogia a distância da Universidade Federal de Pelotas. Ele apresenta uma trajetória rápida de como foi à construção e como está se desenvolvendo este. O referido curso tem a pretensão de trabalhar com a produção do conhecimento a partir do ‘chão da escola’ e do envolvimento com a pesquisa desde o começo para tanto busca em Paulo Freire, referenciais para esta tarefa que entendemos não ser tarefa fácil. A proposta de algo novo centralizado na prática dialogada, levando em conta as exigências da academia, e ainda sua tendência positivista e centralizadora das formas de produção do conhecimento, que se constrói de cima para a base, entra em choque para a proposta de se construir com os sujeitos, por meio da pesquisa, meios para que estes consigam transformar sua realidade, destacamos aqui a grande colaboração do professor José Fernando Kieling, coordenador do curso, falecido ano passado, em sua caminhada fomentou a discussão na academia para a importância da pesquisa e seu papel para com os sujeitos. Desta forma, com o objetivo já explicitado, dividimos nossa escrita da seguinte forma: O caminho da pesquisa no CLPD, momento em que discutimos mais aprofundada mente a metodologia proposta pelo curso de pedagogia a partir de então procuramos fazer o fechamento de nossas primeiras reflexões. O caminho da pesquisa no CLPD Para nós o trabalho da pesquisa é a reflexão constante sobre as relações humanas em suas trajetórias. Desde 2001 participávamos do Grupo de Ação e Pesquisa em Educação Popular da Universidade Federal de Pelotas (GAPE/FAE/UFPel), no GAPE, composto por professores da Educação Básica da rede pública de ensino e professores da UFPel, no grupo produzíamos pesquisas nas escolas do campo e em escolas da periferia da cidade. A centralidade das pesquisas era sempre baseada no cotidiano da prática educativa das referidas escolas. A partir de nossas investigações e discussões elaboramos vários artigos de especialização, dissertações de mestrado e algumas teses de doutorado. Em 2006 fomos desafiados pelo professor José Fernando Kieling, a pensar um Curso de Pedagogia na Modalidade a distância para atingir a demanda reprimida do sul do país. Ousamos dizer que professor Fernando, falecido ano passado, sonhava em revolucionar a educação da região, tanto que desde 1995 estava envolvido em programas de formação de professores, sendo o primeiro denominado Professores Leigos com os cursos de Pedagogia, Geografia, Matemática e Letras e depois Professores em Serviço com o Curso de Pedagogia. Assim Fernando insistia que o Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância o qual
  • 3. planejávamos deveria ser construído centrado na pesquisa de entorno da escola, encharcado das relações que constituem os jeitos próprios de se relacionar das pessoas de cada uma das localidades das escolas púbicas envolvidas. Desse modo os educandos do CLPD iriam ombrear junto com a escola e com a comunidade que a compõe desde o começo do Curso utilizando um modo de pesquisa em que todos os envolvidos fossem sujeitos desse processo. Importante destacar que o CLPD/UFPel surge do movimento de chegada e implantação de novas universidades e/ou cursos de graduação federais a partir do governo de Luís Inácio Lula da Silva, assim como a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), a UNIPAMPA (Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul) entre outras tantas espraiadas pelo Brasil com a intenção de levar a universidade onde ela nunca havia chegado antes, atingindo milhares de pessoas até excluídas do ensino superior no Brasil. Na construção do CLPD/UFPel nos reunimos muitas vezes no porão da faculdade de Direito da UFPel onde planejávamos, discutindo, a partir de um projeto da professora Eliane Póvoas Brito, como seria realizado este curso, que se diferenciava de outras licenciaturas por buscar o chão da escola como base, para junto com as referências teóricas compreender a realidade com síntese de múltiplas relações, de modo a que o currículo das escolas pudesse ser envolvido por estes conhecimentos e trabalhar a partir destes, assim como os ligando aos conhecimentos historicamente acumulados. Para tanto fomos buscar autores que contribuíssem nessa construção e encontramos uma base sólida em Freire, Orlando Fals Borda, Carlos Rodrigues Brandão, Gramsci entre outros, com quem já dialogávamos desde o começo do GAPE. O CLPD já começou de forma diferenciada, com a maioria de professores formadores, a distância e presenciais forjados no trabalho da escola pública, com formação continuada por dentro do próprio planejamento Curso e com a convicção de que a pesquisa precisa ser o eixo central da formação de professores para que desse modo a universidade possa servir para compreender, problematizar e juntamente com os sujeitos locais, ser agente de transformação social. Percebendo os fatos como síntese das múltiplas relações que os geram. Entendemos que todo movimento de mudança está integrado também a enfrentamentos de interesses de ordem ideológica e política. Melo Neto (p. 14, 2004) a partir do conceito gramisciano de hegemonia nos traz a importância de nos atentarmos para esses elementos no que diz respeito à reflexão da universidade: “O enfrentamento político e ideológico acontece, portanto, por meio de aparelhos veiculadores da luta ideológica e política, os aparelhos de hegemonia. A universidade como um aparelho de hegemonia, é um palco de disputas políticas e ideológicas” E neste caso não foi diferente. Nos fazíamos e ainda
  • 4. fizemos a pergunta: é possível organizar um movimento de formação de professores a partir do trabalho como eixo, numa perspectiva da educação popular? Não temos nenhuma certeza, mas temos alguns indicativos a partir das turmas já formadas, de que esta formação pode e deve ser na perspectiva de chão da escola e a intencionalidade de promover uma educação que não sirva apenas ao mundo das ideias, por isso fizemos esta opção, que não é fácil, pois está em constante movimento. Assim é necessário perceber como os sujeitos singulares de determinado lugar se percebem dentro da situação em que se encontram e isso só se consegue através de pesquisa, senão partimos de preconceitos a respeito de dado fenômeno. Conforme Paulo Freire (p.35 , 1981): Se eu percebo a realidade como uma relação dialética entre objetividade e subjetividade, então, eu preciso usar métodos de investigação que envolvem as pessoas da área que está sendo estudada como pesquisadores. Elas mesmas devem tomar parte nas investigações e não servir como objetos passivos de um estudo. Se, como um sociólogo, eu penso em mim como um cientista neutro ou imparcial, eu olharei as pessoas e a realidade como um objeto de minha pesquisa. Assim, eu os analiso como se o mundo fosse um laboratório anatômico no qual um corpo é analisado. São frequentes as críticas feitas ao curso, pois estávamos acostumados a graduações, como as que nos formaram na universidade, que trabalham a partir de teorias clássicas, sem muitas vezes fazer a conexão destas com a localidade em que estamos pesquisando ou na melhor das hipóteses fazendo isso de forma preconceituosa e descolada da realidade, onde o saber de experiência feita de que nos falava Freire é visto como um saber menor, sem valor. É imprescindível lembrar também que não desprezamos o conhecimento clássico, apenas o vamos utilizando conforme a necessidade de compreender determinada realidade nos faz buscá-lo. Entretanto, é inegável que o modelo hegemônico que alguns cursos ainda insistem em manter não está dando conta das contingências da escola e o que ainda se vê, neste caso, são muitos acadêmicos que ao chegar a escola ficam desestruturados, pois o que encontram lá pouco tem a ver com o que viram na universidade assim, seguidamente ouve-se a frase “eu não estou preparado para enfrentar esta situação”. A pesquisa comprometida com os sujeitos é um caminho que não é fácil de percorrer, causa a insegurança do desconhecido, de se jogar na investigação e formar parceiras desde o começo do curso de forma comprometida e por outro lado, de muito planejamento na universidade a cada retorno dos estudantes, no sentido de buscarmos referências que possam
  • 5. nos auxiliar a compreender os dados que vão chegando e ao mesmo tempo de planejar o próximo movimento de trabalho proporcionando ao acadêmico o avanço na pesquisa. Deste modo aprendemos todos o tempo inteiro. Hoje com três turmas de Pedagogia a distância já formadas podemos ver os efeitos dessa escolha que prima por uma educação popular baseada no cotidiano do trabalho docente e das relações estabelecidas entre escola e comunidade. Os professores formados pelo CLPD UFPel relatam que atualmente não conseguem começar um trabalho sem buscar conhecer a realidade de entorno da escola para a partir de então buscar referenciais teóricos que os auxiliem a problematizar e compreender aquele espaço, pois os sujeitos que produzem a vida cotidianamente é que conhecem realmente as peculiaridades do lugar. Nos alegra saber que em muitas cidades são considerados referencias, inclusive alguns que forma estudantes dessas turmas agora são professores presenciais do CLPD. Entretanto, cada turma que começa o trabalho é um desafio maior, pois já conhecemos limites de propostas que foram feitas e que não resultaram em novos conhecimentos e ao mesmo tempo temos que trabalhar com a insegurança dos novos acadêmicos que estão acostumados a receber conhecimentos “prontos” e não percebem como conteúdo acadêmico a investigação dos saberes locais. Buscamos referenciais que corroborem conosco para que compreendam a necessidade da pesquisa e o movimento crescente e espiral desta. Para Paulo Freire: (…) fazendo pesquisa, eu estou educando e sendo educado com as pessoas. Em retorno à área com o propósito de colocar em prática os resultados de minha investigação, eu não estou apenas educando e sendo educado: eu estou também pesquisando novamente porque para a dimensão que nós colocamos em prática os planos resultantes da investigação, nós mudamos os níveis de consciência das pessoas, e por essa mudança, pesquisa-se outra vez. Assim, existe um movimento dinâmico entre pesquisa e ação nos resultados da pesquisa. Aos poucos as pessoas vão se percebendo com autoria ao mesmo tempo em que percebem os sujeitos do lugar e o produto de seu trabalho, como é o caso da estudante Michela, do polo de Hulha Negra que produz a partir de um movimento de introdução a pesquisa do CLPD uma poesia a respeito da produção de milho, cultura plantada na área rural de Candiota. Ela escreve assim: Milho verde cheiroso que deixa meu almoço tão gostoso,
  • 6. de que chão vieste tu? O que não tinha terras teu grão semeou a mão que te prepara pudim, bolo, cuscuz e pamonha, (…) o trabalho do agricultor feito com tanto amor e zelo pra levar esse sabor para as mãos da cozinheira. Direto do assentamento onde Sem Terras trabalham ao relento, pais e filhos na labuta engrandecendo o Movimento (...) Na realidade apresentada por Michela o milho aparece em múltiplas relações promovidas pelos sujeitos que o produzem. Passamos a valorizar o conhecimento local nas suas peculiaridades para que a partir destes, possamos a avançar em totalidades mais amplas, que vão desde o plantação do milho, por exemplo, à forma como este produto chega a mesa de quem vai saboreá-lo, já que isto não se dá de forma mágica, pois é permeado por muito trabalho na maioria das vezes de sujeitos que ficam invisíveis quando este vira produto. Para concluir Entendemos a importância do CLPD primeiro por levar a universidade onde nunca tinha ido antes, mas principalmente por pensar o ensino a partir da localidade em que está ocorrendo diariamente e que como dizia Freire quem conhece a realidade do lugar são os sujeitos que nela atuam diariamente. Assim não temos como chegar com manuais prontos para cada lugar, mas vamos ombreando e aprendendo junto com as pessoas que ali estão e aprendemos muito a cada dia, pois temos experiências muito ricas que estão escondidas nos rincões deste país. E, também qualificamos nossas discussões nas escolas públicas em que atuamos. Referenciais: FREIRE, Paulo e HORTON Myles. O Caminho se Faz Caminhando. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. _____________ in: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.) Pesquisa Participante. São Paulo: editora brasiliense, 1981. MELO NETO, João Francisco de. Extensão Universitária, Autogestão e Educação Popular. João Pessoa: editora universitária/UFPB 2004.