Este documento discute o impacto das novas tecnologias na educação. Apresenta perspectivas contrastantes sobre o uso de tecnologia em sala de aula e argumenta que ela pode ser uma ferramenta útil se guiada por princípios pedagógicos. Também aborda como as novas tecnologias influenciam a escrita e a literacia dos estudantes.
1. R E C E N S Ã O C R Í T I C A
I L D A P E R E I R A
N A T A L I N A R I B E I R O
2.
3. INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA
LÍNGUA PORTUGUESA E TECNOLOGIAS
DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
PROFª. MARIA HELENA CAMACHO
PROFª ROSÁRIO RODRIGUES
RECENSÃO CRÍTICA
ILDAPEREIRA
NATALINA RIBEIRO
BIBLIOGRAFIA:
WONG, Bárbara – Será k a lguagem ds testes tá a mudar?. In Jornal Público
de 19/11/2006, pág. 27.
BOTELHO, Fernanda – Textos e Literacias…. In Setúbal na Rede de 09/08/2006.
PAZ, João – Educação e Novas Tecnologias. In Setúbal na Rede de 17/04/2008.
BOTELHO, Fernanda – Globalização e Cidadania: reflexões soltas. In Setúbal na Rede
de 14/07/2005.
FIGUEIREDO, António – Novos media e velha aprendizagem. In Conferência em 18 e
19/10/ 2000 na Fundação Calouste Gulbenkian.
SETÚBAL
NOVEMBRO 2009
4. Durante a nossa leitura dos textos referidos em Bibliografia, torna-se evidente o grande impacto que as
novas tecnologias trouxeram sobre a Educação nos dias actuais – sendo a Internet, sem dúvida, a mais
revolucionária –, criando novas formas de aprendizagem, promovendo a disseminação do conhecimento
e, especialmente, a implementação de novas relações entre professor e aluno.
Educação e Tecnologias de João Vaz, é um artigo bastante ilustrativo dessas novas relações que, por
vezes, se deparam com duas visões completamente opostas sobre o assunto. Nele, é-nos apresentada a
dicotomia existente entre a educação e o uso das novas tecnologias em contexto educativo: por um lado,
deparamo-nos com o “conservadorismo” dos actores educativos mais velhos, que alegam não se
justificar os transtornos causados pela sua aplicação em sala de aula, atendendo a uma série de
condicionantes que teriam de ser ultrapassadas, tais como a sua falta de formação no domínio das novas
tecnologias, a reformulação de conteúdos, estratégias e materiais didácticos e, ainda, referem a falta de
recursos existentes nas escolas; por outro lado, contrariando, as gerações mais novas – utilizadoras
assíduas das novas tecnologias em variadas situações do quotidiano –, aparecem-nos aqui como
apoiantes incondicionais do seu uso em sala de aula, referindo as suas virtudes únicas.
João Vaz considera o uso das novas tecnologias importante para o processo educativo, aparecendo
como auxiliar eficaz do trabalho do professor e dos alunos, mas sem que estes descurem o primado da
pedagogia sobre a tecnologia, ou seja, a Internet não deve ser considerada como substituta de outras
práticas, como o relacionamento humano dentro da sala de aula, entre professor e aluno e entre
estudantes. O papel do professor continua a ser de vital importância no processo educativo
nomeadamente no que concerne a oferecer ao acto pedagógico uma orientação nas consultas e
pesquisas, de forma a que a informação retirada desse meio seja a mais proveitosa. No texto, Novos
media e velha aprendizagem, de António Dias de Figueiredo o autor apresenta, tal como João Vaz, as
novas tecnologias como sendo recurso inquestionável no processo educativo, considerando, no entanto,
que as aprendizagens advindas do seu uso são velhas e ultrapassadas – os saberes não se modificaram
com os tempos –, mas o que realmente se modificou foi a sua forma de transmissão. Contudo, quando
abordamos o tema sobre o uso das novas tecnologias em função de novos modelos de aprendizagem/
transmissão de saberes, uma outra questão poderá ser suscitada:
- a Internet proporciona a contextualização do ensino ou resume-se a uma transmissão de “conteúdos”
sistematizados?
Em resposta à questão supracitada, esse autor apresenta-nos o papel que os novos media representam no
universo da Educação, pelas suas potencialidades de interacção através da Internet, onde podemos
constatar a existência de um leque multidimensional de oportunidades de auto-educação e de educação à
distância, tanto na idade escolar como ao longo da vida. Considera que, actualmente, a Internet e a Web,
quando sujeitas a uma pedagogia taylorista – em que o conhecimento se transforma unicamente em
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5. “conteúdo” –, apresentam-se como um espaço virtual propício à exposição das “ burocracias
mecanicistas do passado”, como fontes de oferta gratuita de “conteúdos sistematizados” sem estarem
submetidos a uma exploração criteriosamente contextualizada, o que é possível acontecer – a interacção
em “ambientes culturalmente ricos em actividade” –, se não ignorarmos que, através dos novos media,
se torna possível o encontro com novos contextos sociais e culturais de aprendizagem, abertos à
exploração de novas abordagens.
Sobre esse poder “tecnológico” mobilizador de massas, João Vaz ainda refere que a diversidade de
utilizações que se disponibilizam via Net ao serviço das várias comunidades, mobilizam até as famílias
na interacção com os filhos e criam inclusivamente uma maior proximidade entre pais e escola.
Todavia, não podemos resumir a importância da multidimensionalidade do universo tecnológico só à
Educação em sentido académico. A consequente globalização do conhecimento e a simultaneidade da
informação são ganhos inestimáveis para a Humanidade, o que se torna bem patente no texto de
Fernanda Botelho, Globalização e cidadania: reflexões soltas. Nele, a globalização surge-nos associada
a um processo de grandes mudanças de ordem cultural e civilizacional derivados da universalização das
novas tecnologias e dos movimentos migratórios, obrigando desta forma, segundo a autora, a uma
reconfiguração da Educação como forma de adaptação às novas realidades.
Do processo de globalização emergiram novas necessidades de comunicação entre os povos,
resultando daí uma valorização acrescida que se traduz num maior estímulo à aprendizagem das línguas
e à sua divulgação, tal como o domínio das várias culturas.
Desta forma, a aprendizagem da língua é-nos apresentada como meio valorizado de interacção pessoal
e intercultural e não só como objecto de estudo em si mesma.
Além dos vários aspectos positivos, segundo Fernanda Botelho, estas mudanças também se revestem
de aspectos negativos, nomeadamente, a exclusão social derivada do uso das novas tecnologias que
coloca novas exigências e qualificações que milhões de cidadãos não possuem, “impedindo-os da
assumpção plena da sua cidadania”.
Neste texto, o conceito de cidadania aparece-nos num sentido de identidade plural, mais amplo de
interesses.
De acordo com a autora, surgem, em resposta à implementação da Declaração de Bolonha, as reformas
previstas, tendo como objectivo a inovação e qualidade do ensino superior, considerando os desafios
apresentados pelo mundo actual, no domínio científico-tecnológico. Assim, a educação assume uma
importância vital oferecendo condições às populações que visem uma maior igualdade a nível
económico e científico-social, com especial relevância para o contributo oferecido pelo domínio das
línguas.
É no final do texto de Fernanda de Botelho, Textos e Literacias, que, atendendo à complexidade do
meio comunicacional das sociedades actuais, a autora reforça a ideia do papel da Educação e a
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6. necessidade emergente de se atingir objectivos educativos mais amplos, enquanto forma de “assegurar a
todos os estudantes as aprendizagens e competências que lhes permitam participar activamente na vida
social”, evidenciando agora a importância fulcral da aprendizagem da Literacia e as consequentes
mudanças reflectidas na área de ensino-aprendizagem do Português.
Faz uma abordagem ao papel privilegiado que a cultura da literacia tem tido em detrimento de outras
formas de significação, nomeadamente o oral, sendo, segundo a sua argumentação, essencial que se dê o
alargamento desse conceito de literacia de forma a que nela seja incorporado variedades de formas
textuais e discursos associados aos media, enquanto tecnologias construtoras de significado que, na
actualidade, estão presentes em diversos campos da vida social e que exigem o domínio de variadas
competências.
Em resposta a essas necessidades emergentes da sociedade contemporânea, a autora apresenta-nos o
conceito de multiliteracias como complemento ao conceito de literacia tradicional – resumida à escrita,
leitura e cálculo – uma vez que nela são incorporados outros modos de representação mais amplos que
conduzem a uma efectiva construção do conhecimento.
Quando nos referimos a Literacia, e não nos querendo desviar do tema central, temos obrigatoriamente
que nos referir à Literacia de Informação a qual se apresenta, hoje, como uma competência chave a que
não podemos (devemos) ficar alheios. Este é o nosso mundo, o mundo de informação; encontra-se
presente em todas as nossas actividades sob as mais variadas formas. Desta nova realidade, emerge o
conceito de multiliteracias, dando lugar ao cruzamento de conteúdos bastante diversos, competências,
atitudes e valores.
Um facto é indiscutível, as novas tecnologias da informação e do conhecimento aliados à Internet
vieram revolucionar o nosso mundo – sobretudo o dos mais jovens – de forma permanente.
Com o advento destes novos instrumentos de tecnologia, surgiu uma nova geração de adolescentes e
jovens “tecnodependentes”, isto é, o início da adolescência cedo marca o uso de aparelhos tecnológicos
que são deslocados religiosamente para os seus lugares de eleição. Resultante deste acesso massivo e
generalizado de toda esta parafernália tecnológica, surge a inovadora e controversa expressão escrita nos
textos SMS.
No texto da Bárbara Wong é evidente a referência ao papel das novas tecnologias nos jovens da
actualidade, com especial relevância para a banalização que estes fazem desta forma abreviada de escrita
: escrita alternativa adaptada a meios de comunicação, onde essa língua ainda dá os primeiros passos. A
grande questão central debruça-se sobre a aceitação ou não do uso dessa forma de escrita abreviada em
contextos formais de ensino.
Deparamo-nos com a relutância total de alguns docentes em aceitar a sua utilização seja em que
contexto for devido à desestruturação provocada na língua, evidenciando a importância de se preservar a
norma – apresentam-nos como códigos emergentes que parecem questionar barreiras tradicionais entre a
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7. oralidade e a escrita; outros há que demonstram alguma “tolerância” para com o uso abreviado da
linguagem desde que esta fique restrita a situações informais, como conversas com amigos via Net.
Outros ainda há que ponderam aceitar o seu uso em algumas disciplinas, mas não em exames de Língua
Portuguesa ou de Literatura.
Contudo, o consenso é unânime entre a classe docente: o uso abreviado da língua não é o conceito
correcto de leitura e escrita.
Após lermos e reflectirmos sobre este texto, pensamos que esta nova expressão de escrita terá toda a
viabilidade desde que sujeita a um território definido. Todo o processo de aceitação passa pela
participação consciente e responsável da família e da escola em definir claramente a fronteira que o
jovem adolescente deve respeitar entre a linguagem abreviada do telemóvel e a escrita necessariamente
rigorosa no contexto escolar; aprendem a fazer essa distinção e usam as duas linguagens em situações
adequadas.
Como profissionais da área da Educação com vários anos de experiência, deparámo-nos, durante a
leitura destes textos, com muitos “factos reais” com que nos confrontamos diariamente junto das nossas
crianças – estamos a referir-nos a crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico. Torna-se constatação assídua,
o transporte de algumas das novas tecnologias dentro das suas malitas: telemóveis, Mp 3, Mp 4, jogos
virtuais. E também são frequentes os comentários que fazem sobre as horas que permanecem “imersos”
frente ao computador. Esta é indiscutivelmente a nova realidade social: um mundo totalmente
informatizado que nos atrevemos a dizer, quase começa no berço!
Para finalizarmos, podemos colocar uma questão à laia de quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
E essa questão será a seguinte:
- somos nós perseguidos pelas novas tecnologias, que devido à sua constante evolução, dela somos
totalmente dependentes , ou somos nós que corremos obsessiva e avidamente atrás das novas
descobertas tecnológicas , as quais representam para todos nós uma necessidade fundamental no
presente?
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