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Capítulo 1: Piloto.
Olhava para a paisagem que estava para fora do carro em movimento. Seus fones de
ouvido funcionando melhor do que nunca tocando o mais novo sucesso do Lifehouse,
várias perguntas passavam pela sua cabeça. Angel, sua mãe, gritava para que ela
escutasse: “Estamos quase chegando! ”. Angel e Harry, seu irmão, pareciam felizes com
aquela situação. Mas em seu interior, Alice Johnson queria estar morta.
Após alguns minutos eles finalmente chegaram. Horas de viagem resultaram em uma
rua pacata diante de um sobrado antigo de tijolos vermelhos com um jardim cheio de
rosas e uma caixinha do correio que dizia: Campbell. Alice havia adormecido pouco
antes de chegarem. Harry deu um leve tapa em sua perna e com um grande sorriso no
rosto disse: “Chegamos Mortícia. ” Não era um dos melhores dias de Alice, o cabelo
castanho estava mal penteado, os olhos azuis inchados e a roupa suja com o último café
tomado em Nova York, tudo o que ela mais queria era sumir, fugir daquela cidade de
caipiras ou então entender o que diabos estava fazendo lá.
Naquela noite, Alice passou a sondar a casa. Preferiu não jantar. Reparava em tudo,
cada detalhe. Era um sobrado muito bonito, feito com materiais de primeira mão. Seu
quarto mais parecia um museu, na parede tom de creme desbotado haviam várias fotos
de três meninas que aparentavam ter a sua idade. As fotos estavam desgastadas pelo
tempo o que as faziam ser ainda mais belas. O quarto de Alice ficava no topo do
sobrado, a janela com uma poltrona em frente dava vista para a rua e o jardim que,
apesar do tempo, permanecia intacto. E por ali ficou. Alice olhava pela janela as estrelas
que naquela cidade de interior pareciam estar bem próximo dela, mas do que se via na
cidade que antes vivera. Novamente escutava Lifehouse no último volume e pensava o
que poderia ter feito sua mãe mudar drasticamente. Para ela, não havia nada de errado
em Nova York a não ser a ausência de seu pai que falecera há seis meses. Ela entedia o
sofrimento de sua mãe, mas mudar para aquela cidade já era demais, ainda por cima ir
morar em uma casa de uma completa desconhecida. Era estranho, para não dizer
trágico.
Na manhã seguinte, tudo estava cinzento demais. Nem parecia verão em Witchwood.
Alice despertou de um sonho bom que lembrava a casa em que viveu durante sua vida
toda. Olhou-se no espelho, mexeu na mala que estavam suas roupas, não havia desfeito
as malas por preguiça ou talvez por medo de tornar aquilo ainda mais real. Vestiu sua
blusa de camurça vinho e sua calça jeans destruída por ela mesma. O cabelo longo
ondulado parecia se comportar até aquele momento e os olhos azuis estavam mais azuis
do que de costume. Desceu as escadas e sentou à mesa na bela cozinha planejada e um
tanto metálica demais. Sua mãe servia o café. Harry mais feliz do que nunca com aquela
nova casa, afinal ele nunca foi fã de Nova York. Chegava a ser irritante pra ela aquela
felicidade de Harry e a paz que rondava sua mãe. Aquilo era tão absurdo que chegava a
ser sufocante.
- Resolveu que não vai haver mais greve de fome? – Disse Angel sentando-se à mesa.
- Não posso me privar de comer o necessário para a sobrevivência. – Alice revirou os
olhos como um ato de protesto.
- Veja pelo lado bom Ali, novos amigos! – Disse Harry sorrindo. – Você não tinha
amigos em Nova York.
- Quem precisa de amigos quando se tem aquela cidade?
- Todos precisam de amigos, filha.
- Eu não. – deu de ombros.
...
Alice olhava pela janela aquela montanha de pessoas em frente ao colégio que passaria
a frequentar, enquanto sua mãe tentava estacionar para que ela e Harry pudessem
descer. Bandeiras vermelhas com um grande lobo preto estampado estavam por toda
parte. Todos felizes com o primeiro dia de aula. A maioria dividida em grupos.
- Ouvi dizer que hoje inicia o grande jogo da temporada. – Disse Angel tentando
encontrar o olhar de Alice pelo retrovisor interno.
- Já pensou tem festa depois, Ali? – Harry claramente estava eufórico com essa
possibilidade.
Alice apenas suspirou. Angel finalmente parou o carro. Harry não hesitou e desceu sem
despedir.
- Parece que na cabeça dele já vivemos aqui por muito tempo, capaz de se perder. –
Disse Alice pegando a bolsa que estava ao seu lado.
- Se você se sentir perdida, procure uma menina chamada Megan. A diretora disse que
ela conhece tudo e todos. Pode te ajudar.
- E onde está a diretora que não vem me receber? – Encarou a mãe ironicamente.
- Nem todo mundo pode parar o que faz por você, menos Alice.
- Nos vemos à noite mãe. – Desceu do carro.
- Não se você for ao jogo. – Angel sorriu e foi embora.
Era tudo o que sua mãe queria, que ela esquecesse toda aquela birra e tentasse ver o lado
bom da cidade. Após passar na secretaria e pegar o número do seu armário e o horário
de suas aulas, Alice caminhou pelos corredores tentando encontrar o lugar onde
supostamente deveria deixar seus livros. Seu fone de ouvido no último volume tocando
Gravity da Sara Bareiles a fazia lembrar de quando escutara a música pela primeira vez.
Estava viajando com o pai e ele fez questão de escutar no rádio aquela música que de
início parecia ser irritante por ser tão lenta. Ficou paralisada em frente de um armário e
olhava em volta como se não pertencesse aquilo tudo. Na sua direção vinha um rapaz
alto, forte com o cabelo um pouco molhado e bagunçado de olhos verdes que pareciam
brilhar. Ele estava acompanhado por talvez cinco pessoas, mas naquele momento nada
disso importava. Alice encarava sua calça rasgada que dava a ele o ar de descolado. Da
mesma forma que ela o encarava, ele a olhava como se a conhecesse. Ele parou em
frente ao seu armário e começou a guardar seus livros enquanto olhava aquela moça que
tinha os olhos azuis mais lindos na opinião dele. Os dois pareciam estar em transe. Não
havia mundo ao redor. Apenas eles e os olhares que pareciam dizer o que a boca
paralisada era incapaz de mencionar. Aquele momento não durou mais do que alguns
segundos, mas dificilmente seria esquecido. Alice foi trazida de volta a realidade por
alguém que tirou seus fones de ouvido e a chamava ao fundo...
- Só fica sexy se você parar de encarar por muito tempo. – Disse o menino de cabelo
castanho escuro e sorriso largo. Tinha jeito de guardar em si a felicidade do mundo e a
beleza também. Alice voltou a sua atenção para ele. – Richard Thompson e você está
em frente ao meu armário. - Alice deu um passo à frente.
- Perdão. – Sorriu sem graça.
- Você pode me agradecer por ter te trazido de volta para a terra. O que foi aquela
olhada que você deu no “boy”?
- Que olhada?!
- Vai querer enganar o mestre da olhada sexy? Você praticamente engoliu o Daniel.
Foram os olhos não foi? Até eu queria aqueles olhos em mim! Aliás, aquele corpo
inteiro. Eu acompanhei a mudança dele, sabia? Ele é melhor amigo do mala do meu
irmão gêmeo. De vez em quando ele vai lá em casa e fica sem camisa, eu fico tomando
café e olhando eles jogarem futebol no jardim. Quanta perfeição...
- Você é gay?
- Não. Gosto de falar de homem porque ainda estou me descobrindo. Claro que sou gay
menina!
Nesse momento, uma garota se aproximou de ambos. Loira, magra na mediada certa e
de uma sensualidade única. Ela sorriu como se aquele sorriso fosse apenas o começo de
uma batalha. Mas quem estava brigando?
- É claro que ele é gay. O único e solitário gay da cidade, não é querido? – disse a
jovem.
- Megan, sempre reafirmando o que eu digo. Não preciso que seja meu papagaio,
querida. Acho que a... – olhou para Alice.
- Alice. Alice Johnson.
- A Ali já entendeu.
- Já que ela é tão esperta vamos esclarecer algumas coisas. – Dirigiu-se para Alice –
Primeiro, não é bonito ficar encarando os outros no primeiro dia de aula querida. Beira a
desespero. Segundo, não há vagas nas líderes de torcida, caso você queria ser minha
amiga, perdeu a chance. E terceiro, se quiser ter alguma relevância nessa escola, evite
andar com o purpurina saltitante, não é muito bom.
Richard cai em gargalhadas. Alice olhou para ele e riu também.
- Vamos recapitular Ali. Ela só fez esses três passos porque primeiro, ela está com
ciúmes de como o Daniel te olhou. Ela está eternamente na friendzone dele. Segundo,
antes de você negá-la como amiga, ela te negou, Megan. E terceiro, ela me difama
assim porque no fundo sabe quer ser como eu. Mas ela não nasceu homem.
- Eu tenho que voltar para as pessoas do meu convívio, já que nos esclarecemos. – Disse
Megan com um sorriso falso no rosto.
- Fique à vontade querida. – Richard retribui o sorriso com a mesma falsidade.
Megan caminhou de volta para o seu grupo em que estavam Daniel e Louise Collins,
James Thompson e Hanna, sua melhor amiga. Eles a olharam por um instante. Daniel
deu de ombros e caminhou sendo acompanhado pelos outros. Ao passar por Alice a
olhou mais uma vez e sorriu.
- Vocês pretendem ir pra cama quando? – Abriu o armário e guardou a mochila
retirando apenas o celular e um livro.
- No momento eu pretendo apenas achar o meu armário e ter meu primeiro dia nesse
colégio.
- Dê graças aos céus que você encontrou essa purpurina aqui. – Sorriu e olhou para a
tela do celular. – Vou adorar te acolher. – Pegou Alice pelo braço. – Mas antes vamos
salvar minha outra cria do irmão maluco dela.
Os dois caminharam pelo corredor indo em direção a sala da diretoria. Richard estava
frenético e Alice tentava acompanhar seus passos. Durante o passeio ele mencionou em
frases curtas que é irmão gêmeo de James, mas que eles são diferentes. Ele disse
também que é filho do prefeito, mas que o pai não o aceita muito e que sua fiel
companheira é sua mãe Alexia. Depois do nada mudou o assunto e falou do jogo de
abertura do campeonato que aconteceria à noite. Na verdade, era apenas um amistoso já
que o jogo importante aconteceria na sexta e acabou convidando Alice para o jogo e a
festa da fogueira que ocorreria na floresta da rodovia principal que servia como espécie
de iniciação para os calouros do ensino médio. Alice teve a impressão que em meio a
pressa de Richard acabou esbarrando em alguém, mas quando olhou para trás apenas
viu um vulto de jaqueta preta em meio à multidão de alunos.
Eles finalmente chegaram à porta da sala da diretoria. Sentada no banco de espera
estava uma menina de cabelo ruivo e traços delicados. Se existisse o título de princesa
da cidade, ela certamente ganharia na opinião de Alice. Richard gritou bem alto e a
abraçou.
- Senti sua falta, Mel. – apertou ainda mais a garota e soltou em seguida. – Achei outra
cria. Melody conheça Alice Johnson. – levou Melody até Alice.
Melody tocou a mão de Alice e sorri dizendo: “Me chamo Melody Miller e seja bem-
vinda.” Havia uma calmaria em torno de Melody. Ela transmitia uma energia boa e
Alice, por alguns instantes, estava reconsiderando algumas coisas sobre aquela cidade.
- Vejo que já são amigas. – abraçou as duas. – Acreditem ou não, esse vai ser o ano de
nossas vidas!
A porta da diretoria se abriu e de lá saiu um rapaz mais velho, no auge dos seus 23 anos
com um traje sport fino e o cabelo arrumado de um jeito meio bagunçado. Seus olhos
cor de mel penetrantes olhavam fixamente para Alice que ficou sem graça.
- Olá super estranho. – Richard disse e se colocou entre Alice e o rapaz.
- Vamos lembrar que me chamo Marcel e que eu não gosto de suas piadas.
- Não se cansa de vir aqui não? Já acabou faz tempo ensino médio pra você.
- Estava tratando de negócios, mas não te devo satisfação.
- Você já pode ir Marcel. Não há nada de novo por aqui. – disse Melody tentando fazê-
los parar com o atrito.
- Eu diria que esse rosto lindo nunca tinha visto por aqui. – Passou por Richard e
cumprimentou brevemente Alice.
- Alice Johnson.
- Da família do Bryan Johnson? – Alice consentiu. – Já ouvi muito sobre seu pai. Ele e
meu pai eram melhores amigos.
O sinal tocou mais alto que de costume.
- Podemos marcar um chá da tarde se você quiser, Marcel. É isso que gente velha faz. –
disse Richard puxando Alice pelo braço. – Aí você conta como adora sair com meninas
de colegial e jogá-las fora como lixo. Marcamos o encontro?
Alice e Melody riram.
- Acho que você deve ir irmão.
- Nos vemos por aí, Alice. – Marcel sorriu de jeito sedutor e foi embora.
- Me fala em qual feiticeira você foi, por favor Ali. Eu quero um pouco desse poder com
os boys.
- Já nasci com esse poder. – Sorriu.
- Vocês vão se dar muito bem com esse ego todo. – Disse Melody rindo dos dois.
...
O resto do dia foi tranquilo. Alice compareceu as aulas e cada vez mais fez afinidades
com Richard e Melody. Na parte da noite havia combinado com os dois de ir para o
jogo com eles. Eles a buscaram em casa, já que Richard tinha seu carro e adorava sair
por aí dirigindo pela cidade, ainda mais à noite.
O campo de futebol ficava próximo à escola e já estava lotado de estudantes do colégio
Witchwood e visitantes. Mas Melody, Alice e Richard conseguiram encontrar um lugar
bom para ver o jogo. O jogo não havia começado ainda. As líderes de torcida estavam
apresentando um número para aquecer a torcida para o amistoso. Ao som de Worth it,
Megan e suas seguidoras apresentavam um número bastante sensual. Enquanto elas
apresentavam, Richard reclamava do quanto aquilo era um apelo por atenção da parte de
Megan já que a menina achava que Daniel estava espiando do vestiário. Alice e Melody
não prestavam muito atenção no que ele dizia já que Melody contava para Alice como
foi sua viagem à Califórnia e Alice contava um pouco da sua vida em Nova York.
Quando o jogo estava prestes a começar Alice avistou Harry conversando com um
jovem de óculos que aparentava ter a mesma idade que o irmão. Segundo Richard ele se
chamava Elliot e era um dos meninos mais inteligentes do colégio. Alice se distraiu com
a cena e acabou esbarrando em uma menina de cabelo castanho escuro comprido e
magra que tentava caminhar pela arquibancada. A garota ao tocar sua mão se assustou e
quase caiu da arquibancada, se a não fosse pelo fato de que Melody a segurou.
- Você está bem? – Perguntou Alice preocupada.
- Eu ando meio ruim com os meus remédios. Só isso. – Sorriu numa tentativa de fazer
graça.
- Me chamo Alice. – disse em meio a berros.
- Eu sei. Quero dizer, sou Louise.
Richard observou as duas conversando e riu.
- Parece que os Collins têm uma coisa com você, Ali.
- Vejo que já conheceu meu irmão.
- Alta tensão sexual entre os dois Louise. – Melody empurrou Richard delicadamente
que riu da cara vermelha de Alice.
- Ele causa isso em muitas. – sorriu delicadamente. – Você pode ser a próxima
conquista dele Alice. Cuidado.
- Cuidado? É o sonho de qualquer garota ser a conquista do seu irmão. – Disse Richard
indignado.
- Só que ela não uma garota comum. Eu vi.
- Viu o que? – Perguntou Alice confusa.
- Você não gostaria de saber. – Sorriu e se afastou dos demais indo em direção aonde
estava Harry.
- Não liga Ali. Todo mundo diz que ela é meio maluca. As más línguas dizem também
que ela passou o verão todo em uma clínica para malucos. A família faz questão de
manter segredo já que são o exemplo de perfeição da cidade.
Alice encarou Louise por um instante e depois voltou, sua atenção para o jogo.
...
Ao final do jogo, os Wolves (jogadores que representam o colégio de Witchwood)
acabaram ganhando. O ponto da vitória foi feito por Daniel que era nada mais nada
menos que o capitão do time. Após o jogo a multidão se dispersou e os jogadores foram
para o vestiário se arrumar para o grande evento na fogueira. Como de costume, eram
sempre Daniel e James que estavam a frente das festas, logo em seguida era Megan. Os
três eram inseparáveis. Durante toda a movimentação do vestiário o assunto é tão
esperada festa e as ocasiões marcadas para ocorrer naquela noite.
- Essa festa tem que ser a melhor do início da temporada. – Disse James jogando a
toalha longe e ficando nu. James era quase do mesmo tamanho de Richard, o cabelo era
preto liso e vivia bagunçado. Seu corpo escultural era motivo para deixar todas as
meninas apaixonadas. Junto com Daniel fazia o terror pela cidade conquistando
corações e era visto com orgulho pelo pai.
- Você poderia cobrir suas partes James. – Disse Ethan, um rapaz que de vez em quando
era o terceiro elemento junto com Daniel e James. Ele trabalhava como garçom no
bar/café mais badalado da cidade chamado “Stowaway”. Perdeu os pais ainda novo no
acidente da prefeitura ocorrido há quase 17 anos. Vivia sob os cuidados do tio e
padrinho Logan Davis. Um rapaz de corpo atlético, olhos azuis marcantes e que passam
a imagem de angústia. Na maior parte dos dias se sentia deslocado em seu mundo.
- Há quem goste meu caro Ethan. Todas as meninas não esquecem desse meu corpo de
sedução, não é mesmo Dan? – Notou que Daniel estava estático encarando o espelho do
seu armário do vestiário. – Já deve estar pensando na transa de hoje. Vai ser no carro ou
na mata pinicando? – Riu e deu um tapa nas costas de Daniel.
- O que foi?
- Estávamos aqui nos perguntando o que a Tiffany viu em você. – Ethan caiu na
gargalhada.
- Ela viu o que faltou em todos vocês: um homem de verdade. – Sorriu de um jeito
malicioso.
- Você estava pensando se deve ou não repetir a dose hoje? – Disse James enquanto
colocava a cueca.
- Eu certamente irei repetir a dose hoje, mas estava pensando na garota nova.
- Esse é meu garoto! Conta tudo pro J aqui! Já marcou de finalizar com ela? Porque
aqueles olhares certamente foram as preliminares.
- Ainda nem falei com ela.
- Sem essa de ser pateta Dan. Nós dois sabemos que isso não acaba bem.
- Que tal vocês pararem de pegar no meu pé e agilizarem nossa ida para festa. Deixa que
do meu sexo eu cuido, James!
...
Mais tarde naquela noite praticamente todos os jovens da cidade estavam na floresta.
Eles bebiam como se não houvessem amanhã. Arrisco dizer que alguns já mostravam
sinais de que iriam para o hospital depois dali. Vários carros estacionados próximos da
fogueira, casais mantendo relações dentro de alguns carros, outros preferiam expor a
céu aberto beijos e uso de drogas. Alice estava sentada diante da fogueira, seu copo de
cerveja estava praticamente vazio. Tentou avistar Richard, mas ele havia sumido junto
Melody fazia bastante tempo. Ela então resolveu ficar por ali, observando o fogo e
sentindo a música entrar em sua mente. Até que para caipiras, eles tinham um gosto
musical bom. As mais tocadas da noite eram músicas de sucesso com algum remix.
Passaram-se alguns minutos e Alice continuava ali, estática olhando a fogueira e de vez
em quando lembrando-se da sua infância. Sentiu que alguém sentara ao seu lado, olhou
sorrateiramente para as mãos da pessoa em questão. Segurava consigo dois copos de
cerveja, era um homem. Ao olhar para seu rosto viu que se tratava de Marcel, irmão de
Melody. Sorriu e voltou seu olhar para fogueira.
- Aceita esse outro copo? Não conseguirei beber dois ao mesmo tempo.
- O meu já havia acabado mesmo. – Disse e jogou o copo longe.
- No que estava pensando? – Entregou o copo para Alice que em um gole bebeu mais da
metade.
- No motivode eu estar nessa cidade.
- Veio de Nova York, não foi?
- Como sabe?
- Meu pai havia me dito sobre a vinda da sua família há uns três meses. Minha mãe tem
ajudado sua mãe em muitas coisas.
- Aquela casa entra em uma dessas coisas?
- O que há de errado com a casa?
- Além do fato de haver o nome Campbell escrito na caixa do correio, ela tem um
mistério lá.
- Deve ser porque a família que morava ali era um tanto misteriosa.
- Porque minha mãe resolveu comprar aquela casa então?
- Ela não comprou. Segundo o testamente de Ashley, aquela casa é da sua mãe por
direito.
- Por que alguém deixaria uma casa pra minha mãe?
- Elas eram inseparáveis. Ashley, Angel e Laurel, minha mãe. Minha mãe também fez
parte do testamento já que a Ashley não tinha família.
- Já ouvi falar da Ash. Minha mãe a chama assim. Então não devo reclamar do presente
dado. – Sorriu.
- Você tem um sorriso maravilhoso. – Tocou o rosto de Alice lentamente.
- Eu devo me preocupar com o rumo que isso vai dar?
- Não farei nada que você não queira. – Beijou o canto da boca de Alice. Alice o puxou
delicadamente e aos poucos eles se beijaram. Um beijo que se comparado a fogueira
queimava mais.
Naquele momento alguns assistiam a cena. Entre eles Daniel que estava acompanhado
por Megan, James, Ethan, Tiffany, Hanna, Mia e Emily. Assim como Tiffany e Hanna,
Mia e Emily eram seguidoras de Megan e integrantes do grupo de líderes de torcida.
Mia era a menina carismática e ingênua, todos a consideravam a protegida de Megan.
Emily era diferente das outras, alguns acreditavam que ela era lésbica e arriscavam dizer
que ela já tinha transado com Tiffany fazendo dela não mais virgem. Hanna era uma
versão de Megan de cabelo ruivo. Eram melhores amigas desde sempre, mas isso não
impedia que ela tivesse inveja de tudo que Megan conquistou. Tiffany, na opinião das
más línguas, era vista como a mais vadia e era o alvo da noite de Daniel, já ele havia
saído com várias meninas do colégio, exceto Megan e Hanna.
- O que ele faz aqui? – disse Daniel jogando seu copo de cerveja no chão com raiva.
- Deve ter vindo buscar a Melody. Irmã dele, lembra? – Megan tentava acalmá-lo.
- Essa não é uma festa para as pessoas que não são do colégio. Que tal mostrarmos isso
a ele, Dan? – disse James colocando a mão sobre o ombro de Daniel.
- Um susto não faria mal a ninguém.
- Ele nem está atrapalhando Daniel. – Notou Ethan.
- Lá vem você de novo com essa sua noção de certo Ethan. Ele está na nossa área. Está
na hora de o colocarmos no lugar dele. Estou com você, Dan. – Afirmou James.
- Assim como fizeram há alguns anos atrás? – As palavras de Louise atravessaram o
ouvido de Daniel e arranharam seus pensamentos. – Qual vai ser a ideia da vez? Um
simples susto ou vai ter morte envolvida?
Daniel encarou Louise. Apesar das palavras dela serem algo cortante em sua mente, ele
não mudou de ideia. Melody e Richard que a essa altura deram as caras, observavam o
semblante de Daniel como se esperassem uma catástrofe. Daniel pegou chave do carro
da mão de James e somiu em meio à multidão. James e Ethan tentaram acompanha-lo,
mas acabaram o perdendo de vista.
- Satisfeito James? Ele foi embora da própria festa por pilha sua e da “Carrie, a
estranha”. – disse Megan cruzando os braços como um ato de reprovação.
- A única estranha aqui é você Meg, querida. – Richard rebateu.
- Conhecendo o Dan como eu conheço, ele não foi embora. – Afirmou James.
Em um súbito instante todos notaram uma luz forte vindo de longe na direção da
fogueira. Algumas pessoas se dispersaram por medo de serem atingidas por aquilo. A
luz cada vez mais se aproximava. James conseguiu ver Daniel conduzindo o carro e
comemorou a atitude do amigo. Richard tentou avisar Alice, mas devido a música ela
não o escutou e continuou a beijar Marcel. Daniel buzinou forte ao ver que estava se
aproximando do casal. Megan percebeu que aquilo não passou de uma tentativa de
destruir o casal e sentiu raiva.
- Bem que esse carro poderia perder o controle. – Megan sussurrou no ouvido de Hanna
que riu.
Daniel tentou parar o carro ao perceber que está próximo demais. Alice tentou levantar
após finalmente ouvir o barulho e notar a cara das pessoas a sua volta, mas Marcel a
segurou, pois garantiu que Daniel iria parar o carro. “Aquilo não passa de um desafio” é
o que ele dizia a ela. Daniel não conseguiu parar o carro. Alguém puxou Alice para
longe de Marcel que acabou caindo. Na tentativa de não atingir ninguém Daniel desviou
o carro acertando Alice de raspão que caiu por cima da pessoa que a puxou. Tratava-se
de um rapaz forte de olhos azuis bem claros e rosto rosado que fazia contraste com a
jaqueta preta que ele usava. O rapaz caiu junto com Alice sobre uma pedra e bateu a
cabeça. Daniel acertou uma árvore com o carro.
...
Alice estava desacordada, não havia ferimentos graves nela, apenas alguns arranhões.
Todos a sua volta conversam e tentam reanimá-la. O rapaz que a puxou para longe de
Marcel estava ao seu lado checando seu pulso. Daniel estava dentro carro sendo
amparado por James e Ethan. Richard rasgou um pedaço da camisa de James e a
molhou com vodka para que Daniel pressionasse contra o ferimento em sua cabeça.
Daniel tentou se esquivar de James e Ethan para verificar se Alice estava bem, mas sem
sucesso.
Alice despertou aos poucos e conseguiu se sentar. Richard sentou em uma pedra ao lado
dela e segurou sua mão. A multidão se dispersou.
- Que susto você nos deu, pequena Ali. Nunca mais faça isso!
- Isso o que exatamente?
- Por onde posso começar? – Pressionou a mão no próprio queixo em um ato de
tentativa de reflexão. – Não beije mais o Marcel, não beba perto da fogueira, não
desmaie por muito tempo e não fuja da minha vista!
- Sinto muito Richard. – Riu.
- Foi sua primeira festa menina, você arrasou apesar de tudo.
Alice percebeu finalmente que o rapaz estava segurando o pulso e o olhou. O rapaz
mantinha os olhos fixos no pulso de Alice como se aquele olhar pudesse mudar alguma
coisa. Ele estava em transe completo. Ela tentava chamar a atenção dele, mas sem
sucesso. Ela voltou a sua atenção para Richard que sorriu e deixou os dois a sós.
- Vai ficar checando meu pulso pra sempre? – Sorriu sem graça.
- Eu posso até estar checando seu pulso mas presto atenção em tudo. Por exemplo, seu
amigo não está mais aqui. – Soltou o pulso de Alice e a olhou. Alice ficou
desconcertada com aquele olhar azul penetrante e corou. O rapaz levantou-se e ajudou
Alice a levantar. – Matthew. – Sorriu.
- Alice.
- Um conselho Alice, dá próxima vez que um rapaz te segurar enquanto um carro vem
na direção de vocês, eu espero que você dê um chute nele e fuja. Não posso sempre
salvar você.
- Poderia ter me deixado morrer já que resolveu jogar na cara. – Revirou os olhos.
- Não estou no meu melhor humor nessa cidade. Então apenas agradeça minha ajuda.
- Novo na cidade das maravilhas?
- Pode-se dizer que sim.
Alice notou que havia sangue na testa de Matthew. Ela pegou o lenço que estava
amarrado no cinto do short e pressionou contra o ferimento dele. Ele colocou a mão
sobre a dela que ficou sem graça e a retirou, o deixando segurar o lenço contra o
ferimento.
- Você deve cuidar disso aí.
- E você deve dizer ao seu namorado para ser menos maluco. – Olhou para Marcel que
estava atrás de Alice.
Alice se dirigiu a Marcel e Matthew deixou os dois a sós.
- Sinto muito, Ali. – abraçou Alice.
Alice empurrou Marcel e deu um tapa em seu ombro.
- Qual é o seu problema Marcel? Poderíamos ter morrido! E agora você vem com essa
de sinto muito? Você é doente!
- Foi tudo culpa daquele moleque! Vai ter volta.
- Olha a sua mentalidade! Querendo brigar com um menino do ensino médio. Qual é o
prêmio dessa guerra? Masculinidade? Porque isso é no mínimo falta de bom senso!
- Ali, por favor. Eu sinto muito. Vamos esquecer tudo isso...
- Sim, a começar o fato de eu ter dado trela pra você. – Alice saiu andando, porém
Marcel a puxou pelo braço de uma maneira brusca. Ela tentou se soltar, mas Marcel
apertou seu braço.
- Me solta! - Gritou Alice.
- Vamos conversar! – Gritou Marcel.
- Você está me machucando Marcel.
Richard afastou Marcel de Alice e ficou entre os dois. Melody abraçou Alice e manteve
ela afastada do irmão.
- Ela vai embora comigo, Marcel. Ela e a Mel. Acho que você já fez muito por hoje.
- Ninguém está culpando o Daniel.
- Ele teve culpa, mas ao contrário de você, ele não está agindo feito um louco. – deu as
costas para Marcel. – Vamos embora meninas.
Alice saiu acompanhada por Melody e Richard. Daniel a viu indo embora e tentou ir
falar com ela, mas foi impedido por Tiffany que surgiu em sua frente.
- Megan está destilando veneno pela floresta. Já mandou a maioria embora para que a
polícia não veja o caos que está aqui.
- Tio David vai me salvar. Ele manda aqui mais do que o delegado Will.
- Você e o James tem isso não é? Se livram de tudo. Inclusive daquele acidente...
- Você adora causar essas coisas! Eu tinha visto! Eu vi tudo! – esbravejou Louise
enquanto tentava socar Daniel, mas foi contida por ele. – Eu te odeio Dan. – relutou ao
ser contida por Daniel, mas acabou desistindo.
- Terminou? – soltou Louise. – Era pra ser só um susto. Não era para ter feridos.
- Marcel te jurou de morte. – disse Tiffany sussurrando no ouvido de Daniel. – Te
espero mais tarde na colina. – beijou o canto da boca de Daniel e foi embora.
Daniel reparou que Louise estava abalada e aquilo o despedaçou por dentro.
- Você não precisa ficar aqui Loui. Já pedi para o Ethan te levar pra casa.
- E como você pretende explicar tudo isso?
- Na certa será mais uma aventura minha e do James. Você não precisa estar aqui e ser
cúmplice. Eu sinto muito pelo que fiz. Eu não sou essa pessoa.
- Acho que a frase seria: eu não era essa pessoa. Você mudou muito. Não te reconheço
mais.
- Só porque não fui te visitar na clínica, não quer dizer que eu tenha me tornado um
monstro Louise!
- Não. Não é só isso. São todas as suas atitudes. Mas você não me deve desculpa, você
não me deve nada.
Megan passou por Louise acompanhada por Hanna que esbarrou nela de propósito. As
duas ficaramm ao lado de Daniel.
- Carrie, quero dizer, Loui querida, o Ethan está a sua espera pequena princesa. – Megan
disse com um sorriso cínico estampado em seu rosto.
- Devo ir antes que me torne algo parecido com vocês. – Louise caminhpu em direção a
Ethan que a esperava em sua moto velha. – O seu perdão está no correio dos Campbell
Dan. É bom que saiba.
Louise foi embora com Ethan. Daniel permaneceu ali esperando pela polícia e seu pai.
James deixou as garotas em casa e depois voltou para onde o amigo estava. A polícia
não demorou muito a chegar. Em resumo, Daniel explicou tudo para William, o jovem
delegado da cidade, ao lado de seu advogado e amigo da família, Logan Davis. Disse
que tudo aquilo não passou de um acidente e que não se repetiria. Pelo menos não pelos
próximos dias.
...
Aquela noite parecia não querer acabar. E para muitos talvez tenha sido o início de algo
mais longo. Quando chegou em sua casa, Alice só conseguia pensar em tudo que havia
vivido. De como Richard e Melody entraram de paraquedas em sua vida e neles sentiu o
conforto que precisava. Então era isso o significado de ter amigos? Uma paz
inexplicável? Era isso que ela sentia. O céu que antes fora cinzento, agora estava
carregado de estrelas e Witchwood não parecia tão ruim como no começo dessa história.
Ao contrário, ela demonstrava lá sua graça. De tudo que vivera, o que mais marcou
certamente foram aqueles olhos daqueles dois rapazes. Daniel e Matthew. Dois olhares
diferentes com jeitos diferentes, mas ainda sim penetrantes. Era como se eles quisessem
invadir sua alma e descobriram que através do olhar era mais fácil. Lá estava Alice entre
muitos devaneios diante da janela de seu quarto pensando em como escapou de algo
mais grave e ainda assim não entendia o que estava fazendo ali. Sua mãe nem
questionou os arranhões, pois Harry havia lhe dado cobertura mentindo soube o que de
fato aconteceu. Além disso, sua mãe estava feliz pelo fato de que finalmente ela estava
se entregando àquela cidade.
- Ali, você tem visita. – Disse Harry batendo na porta.
- Quem é a essa hora?
Alice desceu rapidamente e ao chegar no último degrau da escada deu de cara com o
inimaginável. Ele estava ali. Daniel Collins estava diante dela. Mais machucado do que
ela podia se lembrar, mas isso não tirava nem sequer um pouco da beleza dele. Suas
pernas imobilizaram, piscou duas vezes. Como ele sabia aonde ela morava? Essa cidade
tem horas que de amigável se torna bizarra.
- Podemos conversar? – Disse Daniel com a voz um tanto trêmula.
- Vamos lá fora.
Do jardim a noite parecia ainda mais bela. Não havia barulho ao redor. Era tudo tão
diferente de Nova York. Alice e Daniel sentaram-se no velho balanço que havia na
varanda. Alice encarava as estrelas, pois não conseguiria encarar aqueles olhos sem ter
raiva ou ter o momento mais idiota possível.
- Atrapalhei alguma coisa? – Daniel disse olhando para o rosto de Alice, concentrando-
se em seus lábios.
- Não.
- Eu tinha que pedir desculpas. O que eu fiz, aquilo que aconteceu não era para ter te
atingido. Digo, você não tem nada com essa minha briga com o Marcel. Apesar de que
beijar ele é o fundo do poço. – Riu numa tentativa de tirar a tensão de suas palavras.
- O que você tem a ver com quem eu beijo? – Alice não queria ser grossa, mas algo no
tom de voz de Daniel a fez esquecer de encarar as estrelas e decidiu tomar o rumo da
conversa, foi obrigada a olhar para ele.
Daniel não mais a olhava, apenas encarava suas mãos sobre a perna.
- Não quis parecer intrometido.
- O que realmente você quer comigo?
Daniel cogitou dizer que queria beijá-la, mas não estava disposto a levar um tapa tão
cedo.
- Eu preciso que você aceite minhas sinceras desculpas, Alice.
- Se eu disser que aceito, você vai embora?
- Acho que essa é minha deixa.
Daniel levantou-se e caminhou em direção ao seu carro. Alice o observou ir embora e se
deu conta do quão ruim foi aquela conversa.
- Daniel. – gritou.
Daniel a olhou.
- Eu aceito suas desculpas. Afinal, você me deu minha primeira lembrança coberta de
adrenalina sobre essa cidade.
- Daqui algum tempo você vai perceber que Witchwood não é esse amor de cidade que
aparenta. – Sorriu. – Tenha uma boa noite, Alice.
Daniel foi embora. De alguma forma aquela conversa trouxe uma nova paz para o
coração de Alice. Algo nele a fazia querer prestar atenção em cada palavra que ele
dissesse. Mas era só a primeira noite de muitas que ainda virão. E no momento Alice
estava disposta a entender o motivo pelo qual Ashley havia deixado aquela casa para
sua mãe.
...
Não muito longe dali, em um sobrado de traços modernos e cores claras na fachada
morava Megan. Hanna iria dormir na sua casa naquela noite. As duas já estavam se
organizando para dormir.
- Falei com o James. Está tudo bem com o Dan.
- Todos sabiam que ele não iria se encrencar Megan. James faz de tudo por ele, aposto
que falou com o pai para que o William pegasse leve com o Dan.
- De qualquer forma eu não consigo não me preocupar. Ele mudou muito. Quando que o
Daniel que conhecemos quase mataria duas pessoas?
- Marcel mereceu o susto. Tinha que ir na nossa festa se enrolar com uma menina que
pode ser a ficada em potencial dos meninos?
- Você quer dizer do Daniel. Eu sei o que eu vi. Ele ficou com ciúme dela. Algo que
nem pertence a ele. – Suspirou. - Aquele carro podia ter acertado ela. Não faria a menor
falta.
- Cuidado com o que fala Megan. Hoje o que você desejou virou realidade, não é todo
dia que isso acontecesse.
- Credo Han! Até parece que fiz aquilo acontecer. Não sou assim, quando eu quero
eliminar alguma coisa, eu não faço disso um show. – Sentou-se diante do espelho e
passou a escovar o cabelo. – Eu sou imperceptível e certeira. A pessoa nem saberá que
foi atingida. E quando finalmente ela perceber, a última coisa que conseguirá ver é meu
rosto. – olhou para Hanna que parece estar assustada.
- Pobre de quem possa estar no seu caminho. Por exemplo a Tiff.
– Vamos dormir, Han. Vamos dormir.
...
Tiffany esperou por Daniel na colina e ele não apareceu. Ela acabou por adormecer e já
era madrugada quando despertou após ouvir um barulho na esperança de que finalmente
seria ele e que tudo aquilo passava de um pequeno atraso.
- Dan é você? Que demora, meu amor! – Gritou alegre.
Nenhum sinal de Daniel. Estava ventando demais. Ao levantar do chão, Tiffany notou
que onde estava havia bastante sangue. Ao passar a mão em sua barriga notou um
ferimento grave perto de sua costela. Sua mão estava repleta de sangue. Entrou em
desespero.
- Socorro! Alguém pode me ajudar! Daniel!
Tiffany acabou estremecendo, pois foi atingida por alguma coisa. Ela caiu sobre o
sangue relutando para não fechar os olhos e se arrastando no chão para fugir da coisa
que a estava perseguindo. Não conseguiu olhar para trás, estava muito apavorada. A
única coisa que fazia era pedir por socorro, porém sem forças não fazia mais do
sussurrar. Foi agarrada pelo pé e arrastada para um arbusto. A última coisa que se ouviu
naquela noite foi o grito cortante de uma menina que um dia havia sido supostamente a
vadia de Witchwood.

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  • 1. Capítulo 1: Piloto. Olhava para a paisagem que estava para fora do carro em movimento. Seus fones de ouvido funcionando melhor do que nunca tocando o mais novo sucesso do Lifehouse, várias perguntas passavam pela sua cabeça. Angel, sua mãe, gritava para que ela escutasse: “Estamos quase chegando! ”. Angel e Harry, seu irmão, pareciam felizes com aquela situação. Mas em seu interior, Alice Johnson queria estar morta. Após alguns minutos eles finalmente chegaram. Horas de viagem resultaram em uma rua pacata diante de um sobrado antigo de tijolos vermelhos com um jardim cheio de rosas e uma caixinha do correio que dizia: Campbell. Alice havia adormecido pouco antes de chegarem. Harry deu um leve tapa em sua perna e com um grande sorriso no rosto disse: “Chegamos Mortícia. ” Não era um dos melhores dias de Alice, o cabelo castanho estava mal penteado, os olhos azuis inchados e a roupa suja com o último café tomado em Nova York, tudo o que ela mais queria era sumir, fugir daquela cidade de caipiras ou então entender o que diabos estava fazendo lá. Naquela noite, Alice passou a sondar a casa. Preferiu não jantar. Reparava em tudo, cada detalhe. Era um sobrado muito bonito, feito com materiais de primeira mão. Seu quarto mais parecia um museu, na parede tom de creme desbotado haviam várias fotos de três meninas que aparentavam ter a sua idade. As fotos estavam desgastadas pelo tempo o que as faziam ser ainda mais belas. O quarto de Alice ficava no topo do sobrado, a janela com uma poltrona em frente dava vista para a rua e o jardim que, apesar do tempo, permanecia intacto. E por ali ficou. Alice olhava pela janela as estrelas que naquela cidade de interior pareciam estar bem próximo dela, mas do que se via na cidade que antes vivera. Novamente escutava Lifehouse no último volume e pensava o que poderia ter feito sua mãe mudar drasticamente. Para ela, não havia nada de errado em Nova York a não ser a ausência de seu pai que falecera há seis meses. Ela entedia o sofrimento de sua mãe, mas mudar para aquela cidade já era demais, ainda por cima ir morar em uma casa de uma completa desconhecida. Era estranho, para não dizer trágico. Na manhã seguinte, tudo estava cinzento demais. Nem parecia verão em Witchwood. Alice despertou de um sonho bom que lembrava a casa em que viveu durante sua vida toda. Olhou-se no espelho, mexeu na mala que estavam suas roupas, não havia desfeito as malas por preguiça ou talvez por medo de tornar aquilo ainda mais real. Vestiu sua blusa de camurça vinho e sua calça jeans destruída por ela mesma. O cabelo longo ondulado parecia se comportar até aquele momento e os olhos azuis estavam mais azuis do que de costume. Desceu as escadas e sentou à mesa na bela cozinha planejada e um tanto metálica demais. Sua mãe servia o café. Harry mais feliz do que nunca com aquela nova casa, afinal ele nunca foi fã de Nova York. Chegava a ser irritante pra ela aquela felicidade de Harry e a paz que rondava sua mãe. Aquilo era tão absurdo que chegava a ser sufocante. - Resolveu que não vai haver mais greve de fome? – Disse Angel sentando-se à mesa.
  • 2. - Não posso me privar de comer o necessário para a sobrevivência. – Alice revirou os olhos como um ato de protesto. - Veja pelo lado bom Ali, novos amigos! – Disse Harry sorrindo. – Você não tinha amigos em Nova York. - Quem precisa de amigos quando se tem aquela cidade? - Todos precisam de amigos, filha. - Eu não. – deu de ombros. ... Alice olhava pela janela aquela montanha de pessoas em frente ao colégio que passaria a frequentar, enquanto sua mãe tentava estacionar para que ela e Harry pudessem descer. Bandeiras vermelhas com um grande lobo preto estampado estavam por toda parte. Todos felizes com o primeiro dia de aula. A maioria dividida em grupos. - Ouvi dizer que hoje inicia o grande jogo da temporada. – Disse Angel tentando encontrar o olhar de Alice pelo retrovisor interno. - Já pensou tem festa depois, Ali? – Harry claramente estava eufórico com essa possibilidade. Alice apenas suspirou. Angel finalmente parou o carro. Harry não hesitou e desceu sem despedir. - Parece que na cabeça dele já vivemos aqui por muito tempo, capaz de se perder. – Disse Alice pegando a bolsa que estava ao seu lado. - Se você se sentir perdida, procure uma menina chamada Megan. A diretora disse que ela conhece tudo e todos. Pode te ajudar. - E onde está a diretora que não vem me receber? – Encarou a mãe ironicamente. - Nem todo mundo pode parar o que faz por você, menos Alice. - Nos vemos à noite mãe. – Desceu do carro. - Não se você for ao jogo. – Angel sorriu e foi embora. Era tudo o que sua mãe queria, que ela esquecesse toda aquela birra e tentasse ver o lado bom da cidade. Após passar na secretaria e pegar o número do seu armário e o horário de suas aulas, Alice caminhou pelos corredores tentando encontrar o lugar onde supostamente deveria deixar seus livros. Seu fone de ouvido no último volume tocando Gravity da Sara Bareiles a fazia lembrar de quando escutara a música pela primeira vez. Estava viajando com o pai e ele fez questão de escutar no rádio aquela música que de início parecia ser irritante por ser tão lenta. Ficou paralisada em frente de um armário e olhava em volta como se não pertencesse aquilo tudo. Na sua direção vinha um rapaz
  • 3. alto, forte com o cabelo um pouco molhado e bagunçado de olhos verdes que pareciam brilhar. Ele estava acompanhado por talvez cinco pessoas, mas naquele momento nada disso importava. Alice encarava sua calça rasgada que dava a ele o ar de descolado. Da mesma forma que ela o encarava, ele a olhava como se a conhecesse. Ele parou em frente ao seu armário e começou a guardar seus livros enquanto olhava aquela moça que tinha os olhos azuis mais lindos na opinião dele. Os dois pareciam estar em transe. Não havia mundo ao redor. Apenas eles e os olhares que pareciam dizer o que a boca paralisada era incapaz de mencionar. Aquele momento não durou mais do que alguns segundos, mas dificilmente seria esquecido. Alice foi trazida de volta a realidade por alguém que tirou seus fones de ouvido e a chamava ao fundo... - Só fica sexy se você parar de encarar por muito tempo. – Disse o menino de cabelo castanho escuro e sorriso largo. Tinha jeito de guardar em si a felicidade do mundo e a beleza também. Alice voltou a sua atenção para ele. – Richard Thompson e você está em frente ao meu armário. - Alice deu um passo à frente. - Perdão. – Sorriu sem graça. - Você pode me agradecer por ter te trazido de volta para a terra. O que foi aquela olhada que você deu no “boy”? - Que olhada?! - Vai querer enganar o mestre da olhada sexy? Você praticamente engoliu o Daniel. Foram os olhos não foi? Até eu queria aqueles olhos em mim! Aliás, aquele corpo inteiro. Eu acompanhei a mudança dele, sabia? Ele é melhor amigo do mala do meu irmão gêmeo. De vez em quando ele vai lá em casa e fica sem camisa, eu fico tomando café e olhando eles jogarem futebol no jardim. Quanta perfeição... - Você é gay? - Não. Gosto de falar de homem porque ainda estou me descobrindo. Claro que sou gay menina! Nesse momento, uma garota se aproximou de ambos. Loira, magra na mediada certa e de uma sensualidade única. Ela sorriu como se aquele sorriso fosse apenas o começo de uma batalha. Mas quem estava brigando? - É claro que ele é gay. O único e solitário gay da cidade, não é querido? – disse a jovem. - Megan, sempre reafirmando o que eu digo. Não preciso que seja meu papagaio, querida. Acho que a... – olhou para Alice. - Alice. Alice Johnson. - A Ali já entendeu.
  • 4. - Já que ela é tão esperta vamos esclarecer algumas coisas. – Dirigiu-se para Alice – Primeiro, não é bonito ficar encarando os outros no primeiro dia de aula querida. Beira a desespero. Segundo, não há vagas nas líderes de torcida, caso você queria ser minha amiga, perdeu a chance. E terceiro, se quiser ter alguma relevância nessa escola, evite andar com o purpurina saltitante, não é muito bom. Richard cai em gargalhadas. Alice olhou para ele e riu também. - Vamos recapitular Ali. Ela só fez esses três passos porque primeiro, ela está com ciúmes de como o Daniel te olhou. Ela está eternamente na friendzone dele. Segundo, antes de você negá-la como amiga, ela te negou, Megan. E terceiro, ela me difama assim porque no fundo sabe quer ser como eu. Mas ela não nasceu homem. - Eu tenho que voltar para as pessoas do meu convívio, já que nos esclarecemos. – Disse Megan com um sorriso falso no rosto. - Fique à vontade querida. – Richard retribui o sorriso com a mesma falsidade. Megan caminhou de volta para o seu grupo em que estavam Daniel e Louise Collins, James Thompson e Hanna, sua melhor amiga. Eles a olharam por um instante. Daniel deu de ombros e caminhou sendo acompanhado pelos outros. Ao passar por Alice a olhou mais uma vez e sorriu. - Vocês pretendem ir pra cama quando? – Abriu o armário e guardou a mochila retirando apenas o celular e um livro. - No momento eu pretendo apenas achar o meu armário e ter meu primeiro dia nesse colégio. - Dê graças aos céus que você encontrou essa purpurina aqui. – Sorriu e olhou para a tela do celular. – Vou adorar te acolher. – Pegou Alice pelo braço. – Mas antes vamos salvar minha outra cria do irmão maluco dela. Os dois caminharam pelo corredor indo em direção a sala da diretoria. Richard estava frenético e Alice tentava acompanhar seus passos. Durante o passeio ele mencionou em frases curtas que é irmão gêmeo de James, mas que eles são diferentes. Ele disse também que é filho do prefeito, mas que o pai não o aceita muito e que sua fiel companheira é sua mãe Alexia. Depois do nada mudou o assunto e falou do jogo de abertura do campeonato que aconteceria à noite. Na verdade, era apenas um amistoso já que o jogo importante aconteceria na sexta e acabou convidando Alice para o jogo e a festa da fogueira que ocorreria na floresta da rodovia principal que servia como espécie de iniciação para os calouros do ensino médio. Alice teve a impressão que em meio a pressa de Richard acabou esbarrando em alguém, mas quando olhou para trás apenas viu um vulto de jaqueta preta em meio à multidão de alunos. Eles finalmente chegaram à porta da sala da diretoria. Sentada no banco de espera estava uma menina de cabelo ruivo e traços delicados. Se existisse o título de princesa
  • 5. da cidade, ela certamente ganharia na opinião de Alice. Richard gritou bem alto e a abraçou. - Senti sua falta, Mel. – apertou ainda mais a garota e soltou em seguida. – Achei outra cria. Melody conheça Alice Johnson. – levou Melody até Alice. Melody tocou a mão de Alice e sorri dizendo: “Me chamo Melody Miller e seja bem- vinda.” Havia uma calmaria em torno de Melody. Ela transmitia uma energia boa e Alice, por alguns instantes, estava reconsiderando algumas coisas sobre aquela cidade. - Vejo que já são amigas. – abraçou as duas. – Acreditem ou não, esse vai ser o ano de nossas vidas! A porta da diretoria se abriu e de lá saiu um rapaz mais velho, no auge dos seus 23 anos com um traje sport fino e o cabelo arrumado de um jeito meio bagunçado. Seus olhos cor de mel penetrantes olhavam fixamente para Alice que ficou sem graça. - Olá super estranho. – Richard disse e se colocou entre Alice e o rapaz. - Vamos lembrar que me chamo Marcel e que eu não gosto de suas piadas. - Não se cansa de vir aqui não? Já acabou faz tempo ensino médio pra você. - Estava tratando de negócios, mas não te devo satisfação. - Você já pode ir Marcel. Não há nada de novo por aqui. – disse Melody tentando fazê- los parar com o atrito. - Eu diria que esse rosto lindo nunca tinha visto por aqui. – Passou por Richard e cumprimentou brevemente Alice. - Alice Johnson. - Da família do Bryan Johnson? – Alice consentiu. – Já ouvi muito sobre seu pai. Ele e meu pai eram melhores amigos. O sinal tocou mais alto que de costume. - Podemos marcar um chá da tarde se você quiser, Marcel. É isso que gente velha faz. – disse Richard puxando Alice pelo braço. – Aí você conta como adora sair com meninas de colegial e jogá-las fora como lixo. Marcamos o encontro? Alice e Melody riram. - Acho que você deve ir irmão. - Nos vemos por aí, Alice. – Marcel sorriu de jeito sedutor e foi embora. - Me fala em qual feiticeira você foi, por favor Ali. Eu quero um pouco desse poder com os boys.
  • 6. - Já nasci com esse poder. – Sorriu. - Vocês vão se dar muito bem com esse ego todo. – Disse Melody rindo dos dois. ... O resto do dia foi tranquilo. Alice compareceu as aulas e cada vez mais fez afinidades com Richard e Melody. Na parte da noite havia combinado com os dois de ir para o jogo com eles. Eles a buscaram em casa, já que Richard tinha seu carro e adorava sair por aí dirigindo pela cidade, ainda mais à noite. O campo de futebol ficava próximo à escola e já estava lotado de estudantes do colégio Witchwood e visitantes. Mas Melody, Alice e Richard conseguiram encontrar um lugar bom para ver o jogo. O jogo não havia começado ainda. As líderes de torcida estavam apresentando um número para aquecer a torcida para o amistoso. Ao som de Worth it, Megan e suas seguidoras apresentavam um número bastante sensual. Enquanto elas apresentavam, Richard reclamava do quanto aquilo era um apelo por atenção da parte de Megan já que a menina achava que Daniel estava espiando do vestiário. Alice e Melody não prestavam muito atenção no que ele dizia já que Melody contava para Alice como foi sua viagem à Califórnia e Alice contava um pouco da sua vida em Nova York. Quando o jogo estava prestes a começar Alice avistou Harry conversando com um jovem de óculos que aparentava ter a mesma idade que o irmão. Segundo Richard ele se chamava Elliot e era um dos meninos mais inteligentes do colégio. Alice se distraiu com a cena e acabou esbarrando em uma menina de cabelo castanho escuro comprido e magra que tentava caminhar pela arquibancada. A garota ao tocar sua mão se assustou e quase caiu da arquibancada, se a não fosse pelo fato de que Melody a segurou. - Você está bem? – Perguntou Alice preocupada. - Eu ando meio ruim com os meus remédios. Só isso. – Sorriu numa tentativa de fazer graça. - Me chamo Alice. – disse em meio a berros. - Eu sei. Quero dizer, sou Louise. Richard observou as duas conversando e riu. - Parece que os Collins têm uma coisa com você, Ali. - Vejo que já conheceu meu irmão. - Alta tensão sexual entre os dois Louise. – Melody empurrou Richard delicadamente que riu da cara vermelha de Alice. - Ele causa isso em muitas. – sorriu delicadamente. – Você pode ser a próxima conquista dele Alice. Cuidado.
  • 7. - Cuidado? É o sonho de qualquer garota ser a conquista do seu irmão. – Disse Richard indignado. - Só que ela não uma garota comum. Eu vi. - Viu o que? – Perguntou Alice confusa. - Você não gostaria de saber. – Sorriu e se afastou dos demais indo em direção aonde estava Harry. - Não liga Ali. Todo mundo diz que ela é meio maluca. As más línguas dizem também que ela passou o verão todo em uma clínica para malucos. A família faz questão de manter segredo já que são o exemplo de perfeição da cidade. Alice encarou Louise por um instante e depois voltou, sua atenção para o jogo. ... Ao final do jogo, os Wolves (jogadores que representam o colégio de Witchwood) acabaram ganhando. O ponto da vitória foi feito por Daniel que era nada mais nada menos que o capitão do time. Após o jogo a multidão se dispersou e os jogadores foram para o vestiário se arrumar para o grande evento na fogueira. Como de costume, eram sempre Daniel e James que estavam a frente das festas, logo em seguida era Megan. Os três eram inseparáveis. Durante toda a movimentação do vestiário o assunto é tão esperada festa e as ocasiões marcadas para ocorrer naquela noite. - Essa festa tem que ser a melhor do início da temporada. – Disse James jogando a toalha longe e ficando nu. James era quase do mesmo tamanho de Richard, o cabelo era preto liso e vivia bagunçado. Seu corpo escultural era motivo para deixar todas as meninas apaixonadas. Junto com Daniel fazia o terror pela cidade conquistando corações e era visto com orgulho pelo pai. - Você poderia cobrir suas partes James. – Disse Ethan, um rapaz que de vez em quando era o terceiro elemento junto com Daniel e James. Ele trabalhava como garçom no bar/café mais badalado da cidade chamado “Stowaway”. Perdeu os pais ainda novo no acidente da prefeitura ocorrido há quase 17 anos. Vivia sob os cuidados do tio e padrinho Logan Davis. Um rapaz de corpo atlético, olhos azuis marcantes e que passam a imagem de angústia. Na maior parte dos dias se sentia deslocado em seu mundo. - Há quem goste meu caro Ethan. Todas as meninas não esquecem desse meu corpo de sedução, não é mesmo Dan? – Notou que Daniel estava estático encarando o espelho do seu armário do vestiário. – Já deve estar pensando na transa de hoje. Vai ser no carro ou na mata pinicando? – Riu e deu um tapa nas costas de Daniel. - O que foi? - Estávamos aqui nos perguntando o que a Tiffany viu em você. – Ethan caiu na gargalhada.
  • 8. - Ela viu o que faltou em todos vocês: um homem de verdade. – Sorriu de um jeito malicioso. - Você estava pensando se deve ou não repetir a dose hoje? – Disse James enquanto colocava a cueca. - Eu certamente irei repetir a dose hoje, mas estava pensando na garota nova. - Esse é meu garoto! Conta tudo pro J aqui! Já marcou de finalizar com ela? Porque aqueles olhares certamente foram as preliminares. - Ainda nem falei com ela. - Sem essa de ser pateta Dan. Nós dois sabemos que isso não acaba bem. - Que tal vocês pararem de pegar no meu pé e agilizarem nossa ida para festa. Deixa que do meu sexo eu cuido, James! ... Mais tarde naquela noite praticamente todos os jovens da cidade estavam na floresta. Eles bebiam como se não houvessem amanhã. Arrisco dizer que alguns já mostravam sinais de que iriam para o hospital depois dali. Vários carros estacionados próximos da fogueira, casais mantendo relações dentro de alguns carros, outros preferiam expor a céu aberto beijos e uso de drogas. Alice estava sentada diante da fogueira, seu copo de cerveja estava praticamente vazio. Tentou avistar Richard, mas ele havia sumido junto Melody fazia bastante tempo. Ela então resolveu ficar por ali, observando o fogo e sentindo a música entrar em sua mente. Até que para caipiras, eles tinham um gosto musical bom. As mais tocadas da noite eram músicas de sucesso com algum remix. Passaram-se alguns minutos e Alice continuava ali, estática olhando a fogueira e de vez em quando lembrando-se da sua infância. Sentiu que alguém sentara ao seu lado, olhou sorrateiramente para as mãos da pessoa em questão. Segurava consigo dois copos de cerveja, era um homem. Ao olhar para seu rosto viu que se tratava de Marcel, irmão de Melody. Sorriu e voltou seu olhar para fogueira. - Aceita esse outro copo? Não conseguirei beber dois ao mesmo tempo. - O meu já havia acabado mesmo. – Disse e jogou o copo longe. - No que estava pensando? – Entregou o copo para Alice que em um gole bebeu mais da metade. - No motivode eu estar nessa cidade. - Veio de Nova York, não foi? - Como sabe?
  • 9. - Meu pai havia me dito sobre a vinda da sua família há uns três meses. Minha mãe tem ajudado sua mãe em muitas coisas. - Aquela casa entra em uma dessas coisas? - O que há de errado com a casa? - Além do fato de haver o nome Campbell escrito na caixa do correio, ela tem um mistério lá. - Deve ser porque a família que morava ali era um tanto misteriosa. - Porque minha mãe resolveu comprar aquela casa então? - Ela não comprou. Segundo o testamente de Ashley, aquela casa é da sua mãe por direito. - Por que alguém deixaria uma casa pra minha mãe? - Elas eram inseparáveis. Ashley, Angel e Laurel, minha mãe. Minha mãe também fez parte do testamento já que a Ashley não tinha família. - Já ouvi falar da Ash. Minha mãe a chama assim. Então não devo reclamar do presente dado. – Sorriu. - Você tem um sorriso maravilhoso. – Tocou o rosto de Alice lentamente. - Eu devo me preocupar com o rumo que isso vai dar? - Não farei nada que você não queira. – Beijou o canto da boca de Alice. Alice o puxou delicadamente e aos poucos eles se beijaram. Um beijo que se comparado a fogueira queimava mais. Naquele momento alguns assistiam a cena. Entre eles Daniel que estava acompanhado por Megan, James, Ethan, Tiffany, Hanna, Mia e Emily. Assim como Tiffany e Hanna, Mia e Emily eram seguidoras de Megan e integrantes do grupo de líderes de torcida. Mia era a menina carismática e ingênua, todos a consideravam a protegida de Megan. Emily era diferente das outras, alguns acreditavam que ela era lésbica e arriscavam dizer que ela já tinha transado com Tiffany fazendo dela não mais virgem. Hanna era uma versão de Megan de cabelo ruivo. Eram melhores amigas desde sempre, mas isso não impedia que ela tivesse inveja de tudo que Megan conquistou. Tiffany, na opinião das más línguas, era vista como a mais vadia e era o alvo da noite de Daniel, já ele havia saído com várias meninas do colégio, exceto Megan e Hanna. - O que ele faz aqui? – disse Daniel jogando seu copo de cerveja no chão com raiva. - Deve ter vindo buscar a Melody. Irmã dele, lembra? – Megan tentava acalmá-lo. - Essa não é uma festa para as pessoas que não são do colégio. Que tal mostrarmos isso a ele, Dan? – disse James colocando a mão sobre o ombro de Daniel.
  • 10. - Um susto não faria mal a ninguém. - Ele nem está atrapalhando Daniel. – Notou Ethan. - Lá vem você de novo com essa sua noção de certo Ethan. Ele está na nossa área. Está na hora de o colocarmos no lugar dele. Estou com você, Dan. – Afirmou James. - Assim como fizeram há alguns anos atrás? – As palavras de Louise atravessaram o ouvido de Daniel e arranharam seus pensamentos. – Qual vai ser a ideia da vez? Um simples susto ou vai ter morte envolvida? Daniel encarou Louise. Apesar das palavras dela serem algo cortante em sua mente, ele não mudou de ideia. Melody e Richard que a essa altura deram as caras, observavam o semblante de Daniel como se esperassem uma catástrofe. Daniel pegou chave do carro da mão de James e somiu em meio à multidão. James e Ethan tentaram acompanha-lo, mas acabaram o perdendo de vista. - Satisfeito James? Ele foi embora da própria festa por pilha sua e da “Carrie, a estranha”. – disse Megan cruzando os braços como um ato de reprovação. - A única estranha aqui é você Meg, querida. – Richard rebateu. - Conhecendo o Dan como eu conheço, ele não foi embora. – Afirmou James. Em um súbito instante todos notaram uma luz forte vindo de longe na direção da fogueira. Algumas pessoas se dispersaram por medo de serem atingidas por aquilo. A luz cada vez mais se aproximava. James conseguiu ver Daniel conduzindo o carro e comemorou a atitude do amigo. Richard tentou avisar Alice, mas devido a música ela não o escutou e continuou a beijar Marcel. Daniel buzinou forte ao ver que estava se aproximando do casal. Megan percebeu que aquilo não passou de uma tentativa de destruir o casal e sentiu raiva. - Bem que esse carro poderia perder o controle. – Megan sussurrou no ouvido de Hanna que riu. Daniel tentou parar o carro ao perceber que está próximo demais. Alice tentou levantar após finalmente ouvir o barulho e notar a cara das pessoas a sua volta, mas Marcel a segurou, pois garantiu que Daniel iria parar o carro. “Aquilo não passa de um desafio” é o que ele dizia a ela. Daniel não conseguiu parar o carro. Alguém puxou Alice para longe de Marcel que acabou caindo. Na tentativa de não atingir ninguém Daniel desviou o carro acertando Alice de raspão que caiu por cima da pessoa que a puxou. Tratava-se de um rapaz forte de olhos azuis bem claros e rosto rosado que fazia contraste com a jaqueta preta que ele usava. O rapaz caiu junto com Alice sobre uma pedra e bateu a cabeça. Daniel acertou uma árvore com o carro. ...
  • 11. Alice estava desacordada, não havia ferimentos graves nela, apenas alguns arranhões. Todos a sua volta conversam e tentam reanimá-la. O rapaz que a puxou para longe de Marcel estava ao seu lado checando seu pulso. Daniel estava dentro carro sendo amparado por James e Ethan. Richard rasgou um pedaço da camisa de James e a molhou com vodka para que Daniel pressionasse contra o ferimento em sua cabeça. Daniel tentou se esquivar de James e Ethan para verificar se Alice estava bem, mas sem sucesso. Alice despertou aos poucos e conseguiu se sentar. Richard sentou em uma pedra ao lado dela e segurou sua mão. A multidão se dispersou. - Que susto você nos deu, pequena Ali. Nunca mais faça isso! - Isso o que exatamente? - Por onde posso começar? – Pressionou a mão no próprio queixo em um ato de tentativa de reflexão. – Não beije mais o Marcel, não beba perto da fogueira, não desmaie por muito tempo e não fuja da minha vista! - Sinto muito Richard. – Riu. - Foi sua primeira festa menina, você arrasou apesar de tudo. Alice percebeu finalmente que o rapaz estava segurando o pulso e o olhou. O rapaz mantinha os olhos fixos no pulso de Alice como se aquele olhar pudesse mudar alguma coisa. Ele estava em transe completo. Ela tentava chamar a atenção dele, mas sem sucesso. Ela voltou a sua atenção para Richard que sorriu e deixou os dois a sós. - Vai ficar checando meu pulso pra sempre? – Sorriu sem graça. - Eu posso até estar checando seu pulso mas presto atenção em tudo. Por exemplo, seu amigo não está mais aqui. – Soltou o pulso de Alice e a olhou. Alice ficou desconcertada com aquele olhar azul penetrante e corou. O rapaz levantou-se e ajudou Alice a levantar. – Matthew. – Sorriu. - Alice. - Um conselho Alice, dá próxima vez que um rapaz te segurar enquanto um carro vem na direção de vocês, eu espero que você dê um chute nele e fuja. Não posso sempre salvar você. - Poderia ter me deixado morrer já que resolveu jogar na cara. – Revirou os olhos. - Não estou no meu melhor humor nessa cidade. Então apenas agradeça minha ajuda. - Novo na cidade das maravilhas? - Pode-se dizer que sim.
  • 12. Alice notou que havia sangue na testa de Matthew. Ela pegou o lenço que estava amarrado no cinto do short e pressionou contra o ferimento dele. Ele colocou a mão sobre a dela que ficou sem graça e a retirou, o deixando segurar o lenço contra o ferimento. - Você deve cuidar disso aí. - E você deve dizer ao seu namorado para ser menos maluco. – Olhou para Marcel que estava atrás de Alice. Alice se dirigiu a Marcel e Matthew deixou os dois a sós. - Sinto muito, Ali. – abraçou Alice. Alice empurrou Marcel e deu um tapa em seu ombro. - Qual é o seu problema Marcel? Poderíamos ter morrido! E agora você vem com essa de sinto muito? Você é doente! - Foi tudo culpa daquele moleque! Vai ter volta. - Olha a sua mentalidade! Querendo brigar com um menino do ensino médio. Qual é o prêmio dessa guerra? Masculinidade? Porque isso é no mínimo falta de bom senso! - Ali, por favor. Eu sinto muito. Vamos esquecer tudo isso... - Sim, a começar o fato de eu ter dado trela pra você. – Alice saiu andando, porém Marcel a puxou pelo braço de uma maneira brusca. Ela tentou se soltar, mas Marcel apertou seu braço. - Me solta! - Gritou Alice. - Vamos conversar! – Gritou Marcel. - Você está me machucando Marcel. Richard afastou Marcel de Alice e ficou entre os dois. Melody abraçou Alice e manteve ela afastada do irmão. - Ela vai embora comigo, Marcel. Ela e a Mel. Acho que você já fez muito por hoje. - Ninguém está culpando o Daniel. - Ele teve culpa, mas ao contrário de você, ele não está agindo feito um louco. – deu as costas para Marcel. – Vamos embora meninas. Alice saiu acompanhada por Melody e Richard. Daniel a viu indo embora e tentou ir falar com ela, mas foi impedido por Tiffany que surgiu em sua frente. - Megan está destilando veneno pela floresta. Já mandou a maioria embora para que a polícia não veja o caos que está aqui.
  • 13. - Tio David vai me salvar. Ele manda aqui mais do que o delegado Will. - Você e o James tem isso não é? Se livram de tudo. Inclusive daquele acidente... - Você adora causar essas coisas! Eu tinha visto! Eu vi tudo! – esbravejou Louise enquanto tentava socar Daniel, mas foi contida por ele. – Eu te odeio Dan. – relutou ao ser contida por Daniel, mas acabou desistindo. - Terminou? – soltou Louise. – Era pra ser só um susto. Não era para ter feridos. - Marcel te jurou de morte. – disse Tiffany sussurrando no ouvido de Daniel. – Te espero mais tarde na colina. – beijou o canto da boca de Daniel e foi embora. Daniel reparou que Louise estava abalada e aquilo o despedaçou por dentro. - Você não precisa ficar aqui Loui. Já pedi para o Ethan te levar pra casa. - E como você pretende explicar tudo isso? - Na certa será mais uma aventura minha e do James. Você não precisa estar aqui e ser cúmplice. Eu sinto muito pelo que fiz. Eu não sou essa pessoa. - Acho que a frase seria: eu não era essa pessoa. Você mudou muito. Não te reconheço mais. - Só porque não fui te visitar na clínica, não quer dizer que eu tenha me tornado um monstro Louise! - Não. Não é só isso. São todas as suas atitudes. Mas você não me deve desculpa, você não me deve nada. Megan passou por Louise acompanhada por Hanna que esbarrou nela de propósito. As duas ficaramm ao lado de Daniel. - Carrie, quero dizer, Loui querida, o Ethan está a sua espera pequena princesa. – Megan disse com um sorriso cínico estampado em seu rosto. - Devo ir antes que me torne algo parecido com vocês. – Louise caminhpu em direção a Ethan que a esperava em sua moto velha. – O seu perdão está no correio dos Campbell Dan. É bom que saiba. Louise foi embora com Ethan. Daniel permaneceu ali esperando pela polícia e seu pai. James deixou as garotas em casa e depois voltou para onde o amigo estava. A polícia não demorou muito a chegar. Em resumo, Daniel explicou tudo para William, o jovem delegado da cidade, ao lado de seu advogado e amigo da família, Logan Davis. Disse que tudo aquilo não passou de um acidente e que não se repetiria. Pelo menos não pelos próximos dias. ...
  • 14. Aquela noite parecia não querer acabar. E para muitos talvez tenha sido o início de algo mais longo. Quando chegou em sua casa, Alice só conseguia pensar em tudo que havia vivido. De como Richard e Melody entraram de paraquedas em sua vida e neles sentiu o conforto que precisava. Então era isso o significado de ter amigos? Uma paz inexplicável? Era isso que ela sentia. O céu que antes fora cinzento, agora estava carregado de estrelas e Witchwood não parecia tão ruim como no começo dessa história. Ao contrário, ela demonstrava lá sua graça. De tudo que vivera, o que mais marcou certamente foram aqueles olhos daqueles dois rapazes. Daniel e Matthew. Dois olhares diferentes com jeitos diferentes, mas ainda sim penetrantes. Era como se eles quisessem invadir sua alma e descobriram que através do olhar era mais fácil. Lá estava Alice entre muitos devaneios diante da janela de seu quarto pensando em como escapou de algo mais grave e ainda assim não entendia o que estava fazendo ali. Sua mãe nem questionou os arranhões, pois Harry havia lhe dado cobertura mentindo soube o que de fato aconteceu. Além disso, sua mãe estava feliz pelo fato de que finalmente ela estava se entregando àquela cidade. - Ali, você tem visita. – Disse Harry batendo na porta. - Quem é a essa hora? Alice desceu rapidamente e ao chegar no último degrau da escada deu de cara com o inimaginável. Ele estava ali. Daniel Collins estava diante dela. Mais machucado do que ela podia se lembrar, mas isso não tirava nem sequer um pouco da beleza dele. Suas pernas imobilizaram, piscou duas vezes. Como ele sabia aonde ela morava? Essa cidade tem horas que de amigável se torna bizarra. - Podemos conversar? – Disse Daniel com a voz um tanto trêmula. - Vamos lá fora. Do jardim a noite parecia ainda mais bela. Não havia barulho ao redor. Era tudo tão diferente de Nova York. Alice e Daniel sentaram-se no velho balanço que havia na varanda. Alice encarava as estrelas, pois não conseguiria encarar aqueles olhos sem ter raiva ou ter o momento mais idiota possível. - Atrapalhei alguma coisa? – Daniel disse olhando para o rosto de Alice, concentrando- se em seus lábios. - Não. - Eu tinha que pedir desculpas. O que eu fiz, aquilo que aconteceu não era para ter te atingido. Digo, você não tem nada com essa minha briga com o Marcel. Apesar de que beijar ele é o fundo do poço. – Riu numa tentativa de tirar a tensão de suas palavras. - O que você tem a ver com quem eu beijo? – Alice não queria ser grossa, mas algo no tom de voz de Daniel a fez esquecer de encarar as estrelas e decidiu tomar o rumo da conversa, foi obrigada a olhar para ele.
  • 15. Daniel não mais a olhava, apenas encarava suas mãos sobre a perna. - Não quis parecer intrometido. - O que realmente você quer comigo? Daniel cogitou dizer que queria beijá-la, mas não estava disposto a levar um tapa tão cedo. - Eu preciso que você aceite minhas sinceras desculpas, Alice. - Se eu disser que aceito, você vai embora? - Acho que essa é minha deixa. Daniel levantou-se e caminhou em direção ao seu carro. Alice o observou ir embora e se deu conta do quão ruim foi aquela conversa. - Daniel. – gritou. Daniel a olhou. - Eu aceito suas desculpas. Afinal, você me deu minha primeira lembrança coberta de adrenalina sobre essa cidade. - Daqui algum tempo você vai perceber que Witchwood não é esse amor de cidade que aparenta. – Sorriu. – Tenha uma boa noite, Alice. Daniel foi embora. De alguma forma aquela conversa trouxe uma nova paz para o coração de Alice. Algo nele a fazia querer prestar atenção em cada palavra que ele dissesse. Mas era só a primeira noite de muitas que ainda virão. E no momento Alice estava disposta a entender o motivo pelo qual Ashley havia deixado aquela casa para sua mãe. ... Não muito longe dali, em um sobrado de traços modernos e cores claras na fachada morava Megan. Hanna iria dormir na sua casa naquela noite. As duas já estavam se organizando para dormir. - Falei com o James. Está tudo bem com o Dan. - Todos sabiam que ele não iria se encrencar Megan. James faz de tudo por ele, aposto que falou com o pai para que o William pegasse leve com o Dan. - De qualquer forma eu não consigo não me preocupar. Ele mudou muito. Quando que o Daniel que conhecemos quase mataria duas pessoas? - Marcel mereceu o susto. Tinha que ir na nossa festa se enrolar com uma menina que pode ser a ficada em potencial dos meninos?
  • 16. - Você quer dizer do Daniel. Eu sei o que eu vi. Ele ficou com ciúme dela. Algo que nem pertence a ele. – Suspirou. - Aquele carro podia ter acertado ela. Não faria a menor falta. - Cuidado com o que fala Megan. Hoje o que você desejou virou realidade, não é todo dia que isso acontecesse. - Credo Han! Até parece que fiz aquilo acontecer. Não sou assim, quando eu quero eliminar alguma coisa, eu não faço disso um show. – Sentou-se diante do espelho e passou a escovar o cabelo. – Eu sou imperceptível e certeira. A pessoa nem saberá que foi atingida. E quando finalmente ela perceber, a última coisa que conseguirá ver é meu rosto. – olhou para Hanna que parece estar assustada. - Pobre de quem possa estar no seu caminho. Por exemplo a Tiff. – Vamos dormir, Han. Vamos dormir. ... Tiffany esperou por Daniel na colina e ele não apareceu. Ela acabou por adormecer e já era madrugada quando despertou após ouvir um barulho na esperança de que finalmente seria ele e que tudo aquilo passava de um pequeno atraso. - Dan é você? Que demora, meu amor! – Gritou alegre. Nenhum sinal de Daniel. Estava ventando demais. Ao levantar do chão, Tiffany notou que onde estava havia bastante sangue. Ao passar a mão em sua barriga notou um ferimento grave perto de sua costela. Sua mão estava repleta de sangue. Entrou em desespero. - Socorro! Alguém pode me ajudar! Daniel! Tiffany acabou estremecendo, pois foi atingida por alguma coisa. Ela caiu sobre o sangue relutando para não fechar os olhos e se arrastando no chão para fugir da coisa que a estava perseguindo. Não conseguiu olhar para trás, estava muito apavorada. A única coisa que fazia era pedir por socorro, porém sem forças não fazia mais do sussurrar. Foi agarrada pelo pé e arrastada para um arbusto. A última coisa que se ouviu naquela noite foi o grito cortante de uma menina que um dia havia sido supostamente a vadia de Witchwood.