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Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 269
1. Introdução
A única fonte que esclarece o complexo
problema da etnia árabe é o Antigo Testa-
mento.
Por mais que procuremos indicações so-
bre o assunto em pesquisas realizadas por
organismos categorizados, vamos terminar
fatalmente rendidos à narrativa bíblica, sur-
preendentemente coerente com a História
Antiga dos povos do Oriente Médio.
Assim, de acordo com a Bíblia, Abraão
gerou um filho com Hagar, escrava egípcia,
chamado Ismael e, com Sara, sua esposa le-
gítima, um outro filho chamado Isac, o qual
foi pai de Jacob (mais tarde chamado Isra-
el), que, por sua vez, gerou 13 filhos (12 ho-
mens, que deram origem às 12 tribos de Is-
rael, e uma mulher).
Abraão, a pedido de Sara, expulsou Ha-
gar e Ismael, sendo este último a origem da
raça árabe, distribuída ao Sul da então Ter-
ra de Canaã (daí o nome de cananeus), que
mais tarde seria chamada Palestina, e que
principalmente habitou a Península hoje
chamada Arábica.
Não há outra solução histórica até pro-
va em contrário.
Os árabes, da genealogia de Abraão e
descendentes de Sem, são por essa razão le-
gitimamente semitas, não cabendo mais dis-
Islamismo e Estado
Hugo Hortêncio de Aguiar é coronel refor-
mado do Exército e professor de línguas e his-
tória no âmbito do Médio Oriente.
Hugo Hortêncio de Aguiar
Sumário
1. Introdução. 2. Expansão e conquistas. 3. O
direito. 4. O Estado. 5. Conclusão.
Revista de Informação Legislativa270
cussão sobre isso. O que é muito discutido é
o conceito judaico de que os judeus, que têm
sua origem em Isac, filho ortodoxo, e da li-
nhagem de Judá, constituem o Povo Eleito
(de Deus), enquanto os árabes, também da
genealogia de Abraão, têm sua origem em
Ismael, filho dito bastardo. Eis, aí, com ori-
gem remota, uma divergência tradicional
entre as duas etnias. De passagem, quere-
mos lembrar aos leitores que Jesus de Naza-
ré, cujos dois mil anos (na verdade dois mil
e seis ou dois mil e sete) de nascimento esta-
mos comemorando com fé e entusiasmo, era
um autêntico judeu da linhagem de Judá,
embora o seu conceito de Povo de Deus te-
nha sido o de abrangência a todos os povos
e raças. Mas isso não é assunto para este
artigo.
O que mais interessa mesmo é que os
descendentes de Ismael se estabeleceram na
Península Arábica a partir do século XVII
antes de Cristo, ajustando-se às difíceis con-
dições de vida da região.
Em todas as áreas da península predo-
minava desde o início o regime monárquico
hereditário, autoritário, às vezes com pre-
dominância religiosa, às vezes leiga, e no
deserto, os beduínos, com regime tribal, não
menos autoritário.
Havia entre os habitantes crenças pri-
mitivas, semelhantes às de outros povos se-
míticos, com base no animismo, adorando
astros e objetos de todos os tipos.
As tribos adoravam várias divindades,
como também demônios, que lutavam con-
tra os deuses.
O termo Alá significava “deus”, mas
para qualquer divindade. Havia também
“deusas”.
A tribo Coreichita, que dominava a re-
gião da atual Meca, considerava Alá o seu
“Deus”, mas com uma diferença: ele era o
único, a divindade suprema, acima de to-
das as “deusas”.
Haviatambémsímbolosreligiosos,como
a Caaba, (o nome vem de cubo, sua forma) e
outros mais, de tempos imemoriais, lendá-
rios, com peregrinações tradicionais.
A própria Caaba era muito antiga e fa-
zia referências a Abraão, um símbolo do
monoteísmo.
Assim, apesar da variada liturgia, já ha-
via uma tendência monoteísta na região
onde Maomé nasceu e entrou em ação, por
volta dos 610 anos depois de Cristo.
O aproveitamento dessa tendência e a
condenação do animismo tradicional cons-
tituíram a base do Islamismo a que o profeta
acrescentou a reprovação total e severa de
todas as transgressões morais que abunda-
vam na península.
Tal foi a proeminência que Maomé, em
sua proclamação inicial, deu ao absolutis-
mo total, único, universal de Alá que a nova
religião foi chamada de Islã, isto é, “sub-
missão a Deus”. O adepto é o muslim ou
muçulmano (o mu indica, em árabe, o autor
da ação).
Não vamos acompanhar a vida tumul-
tuada de Maomé, nem também descrever o
Corão, Bíblia dos muçulmanos, pois no Bra-
sil há centenas de publicações de belo feitio,
esclarecendo o assunto. Vamos dar atenção
aos aspectos que nos ajudem a compreen-
der os atuais Estados muçulmanos, parti-
cularmente os árabes, no conturbado mo-
mento internacional que atravessamos.
AsrevelaçõesqueMaoméproclamou,de
essência moral puríssima, ensejaram, con-
tudo,umacompilaçãodesordenada1
.Sepro-
curarmos no Corão uma ordem dogmática
ou um código de preceitos de direito, vamos
chegar à conclusão de uma grande falta de
planificação e ordem lógica devida a diver-
sos fatores:
1) as revelações eram fragmentadas;
2) as revelações eram memorizadas pelo
profeta e nem sempre copiadas;
3) o material usado para a escrita era
precário e variado;
4) não havia, na época, “mentalidade”
de gravar para a posteridade;
5) a estrutura da língua árabe, que pos-
sui 3.276 raízes tri-literais (3 consoantes), e
cuja vocalização veio muito mais tarde, dan-
do origem a traduções diversas, fenômeno
Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 271
gramatical esse comum a todos os idiomas
semíticos no aspecto da vocalização;
6) a compilação e a redação do Corão,
feitasporOtmã,califagenrodeMaomé,acei-
tas oficialmente, contêm muitas divergên-
cias2
.
Com a morte de Maomé (632 DC), e em
conseqüência de um fracasso militar e de
um assassinato na dinastia familiar, houve
cisões no Islã, sendo a principal a dos “chii-
tas” (“chi’á” quer dizer partido), que repre-
sentam a tradição hereditária da família do
profeta no poder. Os que preconizam a su-
cessão fora do bloco familiar, a maioria, são
os “sunitas”, pois “suná” quer dizer fun-
damento, sentença do Islã3
.
A fundação do Islã, a expansão árabe, a
manutenção no poder e a conquista dos
países arabizados, tudo foi feito à custa de
intensos combates e de campanhas milita-
res, e as razões do sucesso desse espírito
guerreiro são as que veremos a seguir.
2. Expansão e conquistas
A expansão árabe, forçada inicialmente
pelas péssimas condições de vida na penín-
sula, teve na verdade várias outras causas
que são aceitas pela quase totalidade dos
autores como:
a) religiosas;
b) econômicas;
c) militares;
d) afinidade racial;
e) fraqueza dos adversários; e
f) a atitude dos conquistadores para com
os povos conquistados.
Vamos selecionar apenas alguns aspec-
tos que influíram decisivamente na estrutu-
ração dos estados árabes. Embora alguns
autores sejam de opinião que os adeptos de
Maomé, conhecedores do Islã, eram em pe-
queno número e que a tropa combatente era
constituída quase que de beduínos, a maio-
ria acredita que, pela simplicidade do Islã,
esses beduínos tinham uma noção exata da
vontade do profeta de levá-los ao combate,
para trazer o mundo todo para o reino de
Alá, que os premiaria, caso morressem pela
causa, com o paraíso. Maomé teria dito “ide
e combatei”. Eles, os beduínos, fizeram-no
muito bem, porque quase sempre combate-
ram em áreas próximas a desertos, ou nos
próprios desertos, em que eles eram mestres
na arte de guerrear.
Conquanto a expansão árabe tenha sido
uma vitoriosa campanha militar, somos for-
çados a reconhecer que foi realizada contra
povos conjunturalmente enfraquecidos, po-
bresedeculturalimitada4
aos seus peque-
nos núcleos. O único país da chamada cul-
tura ocidental conquistado em parte pelos
árabes foi a Espanha, onde permaneceram
por significativo período, mas lá não se
mantiveram. Assim, a expansão árabe, cujo
sucesso se deve a várias causas, foi feita em
princípio pela conquista bélica, seguida
imediatamente pela imposição do Islã como
religião oficial da nação conquistada, em-
bora tenha havido, quase sempre, uma gran-
de tolerância para com as minorias de ou-
tras seitas.
3. O direito
Nos países muçulmanos e, particular-
mente, nos países árabes, o direito é origi-
nalmente divino, já que a “Lei” foi revelada
a Maomé e tem um caráter muito especial,
diferente das nossas leis ocidentais. A lei,
nos países islâmicos, tanto atende às neces-
sidades espirituais como ao bem-estar tem-
poral dos adeptos.
Nos Estados ocidentais, cristãos, a imor-
talidade da alma, a vida eterna são atitudes
místicas para o cidadão, ditadas pelo livre
arbítrio. Nos países árabes, a imortalidade
da alma é um preceito legal, e o direito deve
proporcionarosmeiosparaqueocrenteatin-
ja em boas condições essa imortalidade.
Por outro lado, o direito deve proporcio-
nar os meios para o bem-estar dos muçul-
manos, bem como regular as punições para
os limites da liberdade individual. Como o
direito e paralelamente a moral são emana-
dos prevalentemente dodivino, é quase juri-
Revista de Informação Legislativa272
dicamente impossível sabermos onde termi-
na o direito e começa a moral, e vice-versa.
Acrescentando-se a isso as inúmeras e
significativas divergências de interpretação
do Corão, chegamos à conclusão de que a
lei, segundo a teoria muçulmana, depende
mais da consciência do indivíduo do que
dopoderdoEstado,queassumedessemodo
contornos político-administrativos espe-
ciais.
4. O Estado
Em geral, qualquer instituição, em sua
organização final, traz marcas de sua ori-
gem, de seu desenvolvimento através dos
tempos, e de certos episódios especiais que
moldaram a sua estrutura.
Nenhuma outra organização assume em
toda a sua plenitude essa verdade como o
Estado árabe atual.
A primeira unidade político-administra-
tiva do mundo árabe, se é que assim merece
essa denominação, foi a Arábia que Maomé
deixou quando morreu em 632 depois de
Cristo.
De caráter absolutista, teocrático, o pro-
feta conseguiu transformar em nação, em-
bora incipiente, um povo semi-bárbaro, tri-
bal (não afeito a nenhuma autoridade cen-
tral), faminto, dominado por um animismo
natural, espalhado por uma península de
calor insuportável, de terras desoladas, que
ensejavam em seus habitantes um ânimo
precário.
Maomé realizou uma tarefa gigantesca,
umtrabalhomagistral,combrilho,inteligên-
cia e coragem. Combateu muito, sofrendo
derrotas freqüentes, mas utilizou a comuni-
cação (revelações) com perspicácia, sob a
bandeira da religião, único meio de agluti-
nação possível naquelas condições. Sua pre-
gação foi favorecida pelo fato de ele próprio,
Maomé, ser profundamente religioso e um
fiel crente de Alá.
Mas não designou sucessor, nem deixou
varão descendente, o que implicaria grave
problema, pois foi sob o signo da hereditari-
edade, então reinante, que se consolidou o
Estado árabe.
Com a morte de Maomé, apesar da lide-
rança e fidelidade da fé de seus sucessores
familiares, a nova nação ter-se-ia esfacela-
do em lutas internas e dissenções religiosas
se não fosse a efetivação de um fator de di-
mensões históricas, não somente para o
mundo muçulmano, mas para todo o mun-
do até então conhecido: a expansão territo-
rial árabe. Essa expansão trouxe a forma-
ção do Império Árabe, cujas origens já vi-
mos e cujo desenvolvimento passou pelas
invasões dos mongóis, pelas Cruzadas, pe-
los chamados séculos de colonização euro-
péia e por duas Grandes Guerras.
Há uma extensa literatura sobre a civili-
zação dos países islâmicos e a sua história,
o que nos autoriza a tratarmos logo do Esta-
do árabe atual.
Podemos garantir que, comparado com
outros, o Estado árabe não se transformou
significativamente com a história, guardan-
do um tradicionalismo inconteste, e suas
características são fruto dos traços marcan-
tes de suas origens e da surpreendente ex-
pansão de seu credo. Entre elas, podemos
citar:
1) o caráter centralizador, teocrático e
hereditário de seus governantes, sejam eles
“chiitas” ou “sunitas”;
2) o poder é sempre compartido pelo ele-
mento religioso, até mesmo nas formais de-
mocracias de inspiração ocidental;
3) em face de significativas divergências
de interpretação de textos corânicos, da luta
pelo poder das facções dissidentes, há gra-
ves conflitos entre os Estados árabes e, na
questão sucessória, até mesmo entre os
membros de uma dinastia familiar;
4) a ordenação jurídica do Estado árabe
é sui generispela prevalência do direito divi-
no. Desse modo, o cidadão, ou melhor, o
crente tem um diáfano horizonte de suas
prerrogativas com relação ao Paraíso, pois
depende muito da interpretação do Corão.
Veja-se o que pode suceder com indivíduos
ou grupos de indivíduos extremados, se o
Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 273
trecho seguinte (do Corão) for interpretado
radicalmente: “Certamente Deus não muda
a sorte de um povo até que o mesmo não
mude sua própria condição”. Felizmente
esses grupos são minoria, pois a grande
maioria islâmica sabe muito bem que o tre-
cho objetiva o bem-estar espiritual e materi-
al, mas pela força moral, único fundamento
da civilização;
5) a moral é rígida e remonta, de fato, a
procedimentos antiquados, mas, confesse-
mos, em alguns aspectos mais pura que a
nossa, dos ocidentais; e
6) como na maioria dos Estados árabes
há um tipo de economia elitista, a do petró-
leo, os manipuladores desse valioso produ-
to(emboraestatal)confundem-secomosele-
mentos da dinastia dominante, que, ligados
a poderosos grupos internacionais, possu-
em grandes fortunas. Empregam esse di-
nheiro em negócios rendosos, como hotéis
de alto luxo, comuns em todo o Oriente. Há
uma distância muito grande (maior que no
Ocidente) entre governantes e governados,
mas somente quanto às formalidades soci-
ais. Na verdade, os governantes, em geral,
procuramdaromáximodeassistênciaàque-
las populações desfavorecidas, não sabe-
mos se por amor a Alá, ou por temor de seus
crentes.
5. Conclusão
Procuramos ser sintéticos, evitando dis-
sertações monótonas e facilmente encontra-
das nas inúmeras publicações sobre o as-
sunto.
Abordamos as origens do Islamismo e
doEstadoÁrabe,bemcomoprocuramostra-
çar um perfil do atual Estado, focalizando
algumas marcas de sua cultura jurídica. Não
poderíamos, contudo, na atual conjuntura,
deixardeaplicaressasmodestasobservações
aos graves acontecimentos que se desenro-
lam, para interesse dos prezados leitores.
Em face do exposto, já podemos agora
compreender facilmente por que represen-
tantes ocidentais, quando vão ao Oriente
Médio intermediar tensões entre Estados,
levam uma maleta com argumentos consa-
grados como: democracia, cidadania, direi-
tos humanos e outros desse porte, e voltam
com esses mesmos valores na maleta e “as
mãos vazias”, isto é, sem a obtenção de re-
sultados positivos.
Não é que esses valores não existam nos
países daquela região. Existem, sim, mas
com outra dimensão, apreciados sob outra
ótica e atendendo a outras prioridades. Não
podemos medi-los com o nosso metro. Com
a globalização, o radicalismo islâmico está
sendo beneficiado de vários modos, pois
seus adeptos têm mais oportunidades para
ações extremadas, em face da maior facili-
dade de transporte, comunicações e de aqui-
sição de tecnologias. Além disso, pelas ima-
gens de pobreza e desigualdade social de
outros países do mundo, como os da Améri-
ca Latina, estão recebendo uma injeção de
populismo, bem aproveitada para granjear
a simpatia das populações do Terceiro
Mundo.
Por outro lado, o fundamentalismo islâ-
mico também está sendo abalado em certos
países, com as mulheres mais liberais e na
busca da igualdade social.
No momento histórico atual, os radicais
islâmicos vêm aproveitando muito bem as
facilidades da globalização, já citadas.
Não temos dúvida, porém, de que as de-
mocracias autênticas, em bloco, na presente
conjuntura, ou em outra decorrente da atu-
al, sempre levarão vantagem contra quais-
quer grupos ou governos que as confron-
tem, tal a superioridade tecnológica que
possuem, embora ao preço de enormes sa-
crifícios.
O nosso receio é que, graças a essa mes-
ma tecnologia e a alguns notórios avanços
científicos,quepodemconfundiraconsciên-
cia cristã tradicional, haja uma implosão
social em país do bloco ocidental, como de-
corrência da crescente e alarmante deterio-
ração dos costumes.
Isso é possível, a médio ou longo prazo,
para qualquer país do lado de cá, desenvol-
Revista de Informação Legislativa274
vido ou não, pois será devido, em grande
parte, à globalização de programas corrosi-
vos, violentando os mais elementares prin-
cípios morais do indivíduo, da família, da
sociedade e da civilização como um todo. A
outra razão, e talvez a mais influente, é a
falta de convicção religiosa dos responsá-
veis pela comunicação, nos mais variados
canais da informação.
Contra o terrorismo biológico, ou quími-
co, ou mesmo nuclear, as democracias au-
tênticas, agindo em conjunto, possuem ar-
senal científico eficaz para neutralizar os
efeitos nocivos do agente externo provoca-
dor, apesar dos fatais reveses iniciais.
Mas, se o agente microbiano for endóge-
no, gerado e desenvolvido internamente, e o
tecido social tiver perdido a imunidade pela
ausência dos imprescindíveis valores trans-
cendentais, a infecção estará disseminada
por todo o organismo nacional.
E o choque séptico será irreversível.
Contudo, nem tudo tem perspectiva tão
sombria. Temos a esperança de que o Deus
do Universo, que é o mesmo dos judeus, dos
cristãos e dos muçulmanos, bem como de
outras religiões minoritárias, e que “escreve
certo por linhas tortas”, como diz a sabedo-
ria popular, tenha permitido a ocorrência
dos trágicos acontecimentos a que assisti-
mos recentemente (cuja crueldade faria in-
veja a Gengis Khã) para que a humanidade
faça, enquanto é tempo, uma reciclagem es-
Notas
1
...desordenada, o que não é uma “prerrogativa”
somente da doutrina islâmica.
2
Sempre aprecem divergências nos textos bási-
cos de várias seitas religiosas. Contudo, algumas
são aparentes, outras nem existem; são fruto de
uma inadequada interpretação de quem lê.
3
Por isso, alguns autores “julgam” equivoca-
damente os sunitas como fundamentalistas e os
chiitas como um tipo de partido político. A dife-
rença, porém, dá-se quanto ao direito à sucessão,
ao “parentesco” com a genealogia de Maomé. Hou-
ve e há outras cisões no Islã, como, por exemplo, os
Ismaelitas, chamados “imames”, isto é, “enviados”.
Os Ismaelitas, chamados também “septimania-
nos”, só aceitam a sucessão até o sétimo “imam”,
que significa “califa” ou “chefe da comunidade dos
crentes”. Os sunitas e os chiitas aceitam doze “ima-
mes”, mas os últimos dão ao “imam” um grande
valor espiritual, pois o consideram da linha suces-
sória do profeta, ao contrário dos sunitas. As duas
correntes são fundamentalistas. A grande diferen-
ça é na linha sucessória.
4
O termo “cultura limitada” deve ser entendi-
do mais no sentido tecnológico, de desenvolvimen-
to material ou utilitário. Quanto ao lado humanís-
tico, a cultura oriental, e particularmente a dos ára-
bes, possui traços marcantes na filosofia, na músi-
ca e nas artes que a projetaram no cenário mundial.
A apreciação de uma cultura como um todo, por
parte de um observador de um lado do Globo em
relação ao outro, é sempre imperfeita, tal a diversi-
dade de valores que influem na avaliação.
piritual, sem a qual não será possível a ob-
tenção da força moral necessária para a sal-
vaguarda da civilização.

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Islamismo e estado

  • 1. Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 269 1. Introdução A única fonte que esclarece o complexo problema da etnia árabe é o Antigo Testa- mento. Por mais que procuremos indicações so- bre o assunto em pesquisas realizadas por organismos categorizados, vamos terminar fatalmente rendidos à narrativa bíblica, sur- preendentemente coerente com a História Antiga dos povos do Oriente Médio. Assim, de acordo com a Bíblia, Abraão gerou um filho com Hagar, escrava egípcia, chamado Ismael e, com Sara, sua esposa le- gítima, um outro filho chamado Isac, o qual foi pai de Jacob (mais tarde chamado Isra- el), que, por sua vez, gerou 13 filhos (12 ho- mens, que deram origem às 12 tribos de Is- rael, e uma mulher). Abraão, a pedido de Sara, expulsou Ha- gar e Ismael, sendo este último a origem da raça árabe, distribuída ao Sul da então Ter- ra de Canaã (daí o nome de cananeus), que mais tarde seria chamada Palestina, e que principalmente habitou a Península hoje chamada Arábica. Não há outra solução histórica até pro- va em contrário. Os árabes, da genealogia de Abraão e descendentes de Sem, são por essa razão le- gitimamente semitas, não cabendo mais dis- Islamismo e Estado Hugo Hortêncio de Aguiar é coronel refor- mado do Exército e professor de línguas e his- tória no âmbito do Médio Oriente. Hugo Hortêncio de Aguiar Sumário 1. Introdução. 2. Expansão e conquistas. 3. O direito. 4. O Estado. 5. Conclusão.
  • 2. Revista de Informação Legislativa270 cussão sobre isso. O que é muito discutido é o conceito judaico de que os judeus, que têm sua origem em Isac, filho ortodoxo, e da li- nhagem de Judá, constituem o Povo Eleito (de Deus), enquanto os árabes, também da genealogia de Abraão, têm sua origem em Ismael, filho dito bastardo. Eis, aí, com ori- gem remota, uma divergência tradicional entre as duas etnias. De passagem, quere- mos lembrar aos leitores que Jesus de Naza- ré, cujos dois mil anos (na verdade dois mil e seis ou dois mil e sete) de nascimento esta- mos comemorando com fé e entusiasmo, era um autêntico judeu da linhagem de Judá, embora o seu conceito de Povo de Deus te- nha sido o de abrangência a todos os povos e raças. Mas isso não é assunto para este artigo. O que mais interessa mesmo é que os descendentes de Ismael se estabeleceram na Península Arábica a partir do século XVII antes de Cristo, ajustando-se às difíceis con- dições de vida da região. Em todas as áreas da península predo- minava desde o início o regime monárquico hereditário, autoritário, às vezes com pre- dominância religiosa, às vezes leiga, e no deserto, os beduínos, com regime tribal, não menos autoritário. Havia entre os habitantes crenças pri- mitivas, semelhantes às de outros povos se- míticos, com base no animismo, adorando astros e objetos de todos os tipos. As tribos adoravam várias divindades, como também demônios, que lutavam con- tra os deuses. O termo Alá significava “deus”, mas para qualquer divindade. Havia também “deusas”. A tribo Coreichita, que dominava a re- gião da atual Meca, considerava Alá o seu “Deus”, mas com uma diferença: ele era o único, a divindade suprema, acima de to- das as “deusas”. Haviatambémsímbolosreligiosos,como a Caaba, (o nome vem de cubo, sua forma) e outros mais, de tempos imemoriais, lendá- rios, com peregrinações tradicionais. A própria Caaba era muito antiga e fa- zia referências a Abraão, um símbolo do monoteísmo. Assim, apesar da variada liturgia, já ha- via uma tendência monoteísta na região onde Maomé nasceu e entrou em ação, por volta dos 610 anos depois de Cristo. O aproveitamento dessa tendência e a condenação do animismo tradicional cons- tituíram a base do Islamismo a que o profeta acrescentou a reprovação total e severa de todas as transgressões morais que abunda- vam na península. Tal foi a proeminência que Maomé, em sua proclamação inicial, deu ao absolutis- mo total, único, universal de Alá que a nova religião foi chamada de Islã, isto é, “sub- missão a Deus”. O adepto é o muslim ou muçulmano (o mu indica, em árabe, o autor da ação). Não vamos acompanhar a vida tumul- tuada de Maomé, nem também descrever o Corão, Bíblia dos muçulmanos, pois no Bra- sil há centenas de publicações de belo feitio, esclarecendo o assunto. Vamos dar atenção aos aspectos que nos ajudem a compreen- der os atuais Estados muçulmanos, parti- cularmente os árabes, no conturbado mo- mento internacional que atravessamos. AsrevelaçõesqueMaoméproclamou,de essência moral puríssima, ensejaram, con- tudo,umacompilaçãodesordenada1 .Sepro- curarmos no Corão uma ordem dogmática ou um código de preceitos de direito, vamos chegar à conclusão de uma grande falta de planificação e ordem lógica devida a diver- sos fatores: 1) as revelações eram fragmentadas; 2) as revelações eram memorizadas pelo profeta e nem sempre copiadas; 3) o material usado para a escrita era precário e variado; 4) não havia, na época, “mentalidade” de gravar para a posteridade; 5) a estrutura da língua árabe, que pos- sui 3.276 raízes tri-literais (3 consoantes), e cuja vocalização veio muito mais tarde, dan- do origem a traduções diversas, fenômeno
  • 3. Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 271 gramatical esse comum a todos os idiomas semíticos no aspecto da vocalização; 6) a compilação e a redação do Corão, feitasporOtmã,califagenrodeMaomé,acei- tas oficialmente, contêm muitas divergên- cias2 . Com a morte de Maomé (632 DC), e em conseqüência de um fracasso militar e de um assassinato na dinastia familiar, houve cisões no Islã, sendo a principal a dos “chii- tas” (“chi’á” quer dizer partido), que repre- sentam a tradição hereditária da família do profeta no poder. Os que preconizam a su- cessão fora do bloco familiar, a maioria, são os “sunitas”, pois “suná” quer dizer fun- damento, sentença do Islã3 . A fundação do Islã, a expansão árabe, a manutenção no poder e a conquista dos países arabizados, tudo foi feito à custa de intensos combates e de campanhas milita- res, e as razões do sucesso desse espírito guerreiro são as que veremos a seguir. 2. Expansão e conquistas A expansão árabe, forçada inicialmente pelas péssimas condições de vida na penín- sula, teve na verdade várias outras causas que são aceitas pela quase totalidade dos autores como: a) religiosas; b) econômicas; c) militares; d) afinidade racial; e) fraqueza dos adversários; e f) a atitude dos conquistadores para com os povos conquistados. Vamos selecionar apenas alguns aspec- tos que influíram decisivamente na estrutu- ração dos estados árabes. Embora alguns autores sejam de opinião que os adeptos de Maomé, conhecedores do Islã, eram em pe- queno número e que a tropa combatente era constituída quase que de beduínos, a maio- ria acredita que, pela simplicidade do Islã, esses beduínos tinham uma noção exata da vontade do profeta de levá-los ao combate, para trazer o mundo todo para o reino de Alá, que os premiaria, caso morressem pela causa, com o paraíso. Maomé teria dito “ide e combatei”. Eles, os beduínos, fizeram-no muito bem, porque quase sempre combate- ram em áreas próximas a desertos, ou nos próprios desertos, em que eles eram mestres na arte de guerrear. Conquanto a expansão árabe tenha sido uma vitoriosa campanha militar, somos for- çados a reconhecer que foi realizada contra povos conjunturalmente enfraquecidos, po- bresedeculturalimitada4 aos seus peque- nos núcleos. O único país da chamada cul- tura ocidental conquistado em parte pelos árabes foi a Espanha, onde permaneceram por significativo período, mas lá não se mantiveram. Assim, a expansão árabe, cujo sucesso se deve a várias causas, foi feita em princípio pela conquista bélica, seguida imediatamente pela imposição do Islã como religião oficial da nação conquistada, em- bora tenha havido, quase sempre, uma gran- de tolerância para com as minorias de ou- tras seitas. 3. O direito Nos países muçulmanos e, particular- mente, nos países árabes, o direito é origi- nalmente divino, já que a “Lei” foi revelada a Maomé e tem um caráter muito especial, diferente das nossas leis ocidentais. A lei, nos países islâmicos, tanto atende às neces- sidades espirituais como ao bem-estar tem- poral dos adeptos. Nos Estados ocidentais, cristãos, a imor- talidade da alma, a vida eterna são atitudes místicas para o cidadão, ditadas pelo livre arbítrio. Nos países árabes, a imortalidade da alma é um preceito legal, e o direito deve proporcionarosmeiosparaqueocrenteatin- ja em boas condições essa imortalidade. Por outro lado, o direito deve proporcio- nar os meios para o bem-estar dos muçul- manos, bem como regular as punições para os limites da liberdade individual. Como o direito e paralelamente a moral são emana- dos prevalentemente dodivino, é quase juri-
  • 4. Revista de Informação Legislativa272 dicamente impossível sabermos onde termi- na o direito e começa a moral, e vice-versa. Acrescentando-se a isso as inúmeras e significativas divergências de interpretação do Corão, chegamos à conclusão de que a lei, segundo a teoria muçulmana, depende mais da consciência do indivíduo do que dopoderdoEstado,queassumedessemodo contornos político-administrativos espe- ciais. 4. O Estado Em geral, qualquer instituição, em sua organização final, traz marcas de sua ori- gem, de seu desenvolvimento através dos tempos, e de certos episódios especiais que moldaram a sua estrutura. Nenhuma outra organização assume em toda a sua plenitude essa verdade como o Estado árabe atual. A primeira unidade político-administra- tiva do mundo árabe, se é que assim merece essa denominação, foi a Arábia que Maomé deixou quando morreu em 632 depois de Cristo. De caráter absolutista, teocrático, o pro- feta conseguiu transformar em nação, em- bora incipiente, um povo semi-bárbaro, tri- bal (não afeito a nenhuma autoridade cen- tral), faminto, dominado por um animismo natural, espalhado por uma península de calor insuportável, de terras desoladas, que ensejavam em seus habitantes um ânimo precário. Maomé realizou uma tarefa gigantesca, umtrabalhomagistral,combrilho,inteligên- cia e coragem. Combateu muito, sofrendo derrotas freqüentes, mas utilizou a comuni- cação (revelações) com perspicácia, sob a bandeira da religião, único meio de agluti- nação possível naquelas condições. Sua pre- gação foi favorecida pelo fato de ele próprio, Maomé, ser profundamente religioso e um fiel crente de Alá. Mas não designou sucessor, nem deixou varão descendente, o que implicaria grave problema, pois foi sob o signo da hereditari- edade, então reinante, que se consolidou o Estado árabe. Com a morte de Maomé, apesar da lide- rança e fidelidade da fé de seus sucessores familiares, a nova nação ter-se-ia esfacela- do em lutas internas e dissenções religiosas se não fosse a efetivação de um fator de di- mensões históricas, não somente para o mundo muçulmano, mas para todo o mun- do até então conhecido: a expansão territo- rial árabe. Essa expansão trouxe a forma- ção do Império Árabe, cujas origens já vi- mos e cujo desenvolvimento passou pelas invasões dos mongóis, pelas Cruzadas, pe- los chamados séculos de colonização euro- péia e por duas Grandes Guerras. Há uma extensa literatura sobre a civili- zação dos países islâmicos e a sua história, o que nos autoriza a tratarmos logo do Esta- do árabe atual. Podemos garantir que, comparado com outros, o Estado árabe não se transformou significativamente com a história, guardan- do um tradicionalismo inconteste, e suas características são fruto dos traços marcan- tes de suas origens e da surpreendente ex- pansão de seu credo. Entre elas, podemos citar: 1) o caráter centralizador, teocrático e hereditário de seus governantes, sejam eles “chiitas” ou “sunitas”; 2) o poder é sempre compartido pelo ele- mento religioso, até mesmo nas formais de- mocracias de inspiração ocidental; 3) em face de significativas divergências de interpretação de textos corânicos, da luta pelo poder das facções dissidentes, há gra- ves conflitos entre os Estados árabes e, na questão sucessória, até mesmo entre os membros de uma dinastia familiar; 4) a ordenação jurídica do Estado árabe é sui generispela prevalência do direito divi- no. Desse modo, o cidadão, ou melhor, o crente tem um diáfano horizonte de suas prerrogativas com relação ao Paraíso, pois depende muito da interpretação do Corão. Veja-se o que pode suceder com indivíduos ou grupos de indivíduos extremados, se o
  • 5. Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001 273 trecho seguinte (do Corão) for interpretado radicalmente: “Certamente Deus não muda a sorte de um povo até que o mesmo não mude sua própria condição”. Felizmente esses grupos são minoria, pois a grande maioria islâmica sabe muito bem que o tre- cho objetiva o bem-estar espiritual e materi- al, mas pela força moral, único fundamento da civilização; 5) a moral é rígida e remonta, de fato, a procedimentos antiquados, mas, confesse- mos, em alguns aspectos mais pura que a nossa, dos ocidentais; e 6) como na maioria dos Estados árabes há um tipo de economia elitista, a do petró- leo, os manipuladores desse valioso produ- to(emboraestatal)confundem-secomosele- mentos da dinastia dominante, que, ligados a poderosos grupos internacionais, possu- em grandes fortunas. Empregam esse di- nheiro em negócios rendosos, como hotéis de alto luxo, comuns em todo o Oriente. Há uma distância muito grande (maior que no Ocidente) entre governantes e governados, mas somente quanto às formalidades soci- ais. Na verdade, os governantes, em geral, procuramdaromáximodeassistênciaàque- las populações desfavorecidas, não sabe- mos se por amor a Alá, ou por temor de seus crentes. 5. Conclusão Procuramos ser sintéticos, evitando dis- sertações monótonas e facilmente encontra- das nas inúmeras publicações sobre o as- sunto. Abordamos as origens do Islamismo e doEstadoÁrabe,bemcomoprocuramostra- çar um perfil do atual Estado, focalizando algumas marcas de sua cultura jurídica. Não poderíamos, contudo, na atual conjuntura, deixardeaplicaressasmodestasobservações aos graves acontecimentos que se desenro- lam, para interesse dos prezados leitores. Em face do exposto, já podemos agora compreender facilmente por que represen- tantes ocidentais, quando vão ao Oriente Médio intermediar tensões entre Estados, levam uma maleta com argumentos consa- grados como: democracia, cidadania, direi- tos humanos e outros desse porte, e voltam com esses mesmos valores na maleta e “as mãos vazias”, isto é, sem a obtenção de re- sultados positivos. Não é que esses valores não existam nos países daquela região. Existem, sim, mas com outra dimensão, apreciados sob outra ótica e atendendo a outras prioridades. Não podemos medi-los com o nosso metro. Com a globalização, o radicalismo islâmico está sendo beneficiado de vários modos, pois seus adeptos têm mais oportunidades para ações extremadas, em face da maior facili- dade de transporte, comunicações e de aqui- sição de tecnologias. Além disso, pelas ima- gens de pobreza e desigualdade social de outros países do mundo, como os da Améri- ca Latina, estão recebendo uma injeção de populismo, bem aproveitada para granjear a simpatia das populações do Terceiro Mundo. Por outro lado, o fundamentalismo islâ- mico também está sendo abalado em certos países, com as mulheres mais liberais e na busca da igualdade social. No momento histórico atual, os radicais islâmicos vêm aproveitando muito bem as facilidades da globalização, já citadas. Não temos dúvida, porém, de que as de- mocracias autênticas, em bloco, na presente conjuntura, ou em outra decorrente da atu- al, sempre levarão vantagem contra quais- quer grupos ou governos que as confron- tem, tal a superioridade tecnológica que possuem, embora ao preço de enormes sa- crifícios. O nosso receio é que, graças a essa mes- ma tecnologia e a alguns notórios avanços científicos,quepodemconfundiraconsciên- cia cristã tradicional, haja uma implosão social em país do bloco ocidental, como de- corrência da crescente e alarmante deterio- ração dos costumes. Isso é possível, a médio ou longo prazo, para qualquer país do lado de cá, desenvol-
  • 6. Revista de Informação Legislativa274 vido ou não, pois será devido, em grande parte, à globalização de programas corrosi- vos, violentando os mais elementares prin- cípios morais do indivíduo, da família, da sociedade e da civilização como um todo. A outra razão, e talvez a mais influente, é a falta de convicção religiosa dos responsá- veis pela comunicação, nos mais variados canais da informação. Contra o terrorismo biológico, ou quími- co, ou mesmo nuclear, as democracias au- tênticas, agindo em conjunto, possuem ar- senal científico eficaz para neutralizar os efeitos nocivos do agente externo provoca- dor, apesar dos fatais reveses iniciais. Mas, se o agente microbiano for endóge- no, gerado e desenvolvido internamente, e o tecido social tiver perdido a imunidade pela ausência dos imprescindíveis valores trans- cendentais, a infecção estará disseminada por todo o organismo nacional. E o choque séptico será irreversível. Contudo, nem tudo tem perspectiva tão sombria. Temos a esperança de que o Deus do Universo, que é o mesmo dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos, bem como de outras religiões minoritárias, e que “escreve certo por linhas tortas”, como diz a sabedo- ria popular, tenha permitido a ocorrência dos trágicos acontecimentos a que assisti- mos recentemente (cuja crueldade faria in- veja a Gengis Khã) para que a humanidade faça, enquanto é tempo, uma reciclagem es- Notas 1 ...desordenada, o que não é uma “prerrogativa” somente da doutrina islâmica. 2 Sempre aprecem divergências nos textos bási- cos de várias seitas religiosas. Contudo, algumas são aparentes, outras nem existem; são fruto de uma inadequada interpretação de quem lê. 3 Por isso, alguns autores “julgam” equivoca- damente os sunitas como fundamentalistas e os chiitas como um tipo de partido político. A dife- rença, porém, dá-se quanto ao direito à sucessão, ao “parentesco” com a genealogia de Maomé. Hou- ve e há outras cisões no Islã, como, por exemplo, os Ismaelitas, chamados “imames”, isto é, “enviados”. Os Ismaelitas, chamados também “septimania- nos”, só aceitam a sucessão até o sétimo “imam”, que significa “califa” ou “chefe da comunidade dos crentes”. Os sunitas e os chiitas aceitam doze “ima- mes”, mas os últimos dão ao “imam” um grande valor espiritual, pois o consideram da linha suces- sória do profeta, ao contrário dos sunitas. As duas correntes são fundamentalistas. A grande diferen- ça é na linha sucessória. 4 O termo “cultura limitada” deve ser entendi- do mais no sentido tecnológico, de desenvolvimen- to material ou utilitário. Quanto ao lado humanís- tico, a cultura oriental, e particularmente a dos ára- bes, possui traços marcantes na filosofia, na músi- ca e nas artes que a projetaram no cenário mundial. A apreciação de uma cultura como um todo, por parte de um observador de um lado do Globo em relação ao outro, é sempre imperfeita, tal a diversi- dade de valores que influem na avaliação. piritual, sem a qual não será possível a ob- tenção da força moral necessária para a sal- vaguarda da civilização.