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Questões acerca do livro “O Cérebro Social” de Michael S. Gazzaniga
1- O autor defende que o cérebro humano está organizado em unidades
modulares. Diga, de acordo com a perspectiva do autor, em que consiste este processo?
De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades
modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades
que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma
única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e
diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a
que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em
fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas
actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais
conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e
extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em
paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis,
para a nossa organização consciente.
Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir
comportamentos reais.
A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do
nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia
não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos,
contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses
que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie
possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”.
Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a
qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e
momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se
verificou.
Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério
esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de
comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que
existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é
responsável pela formação de crenças humanas.
À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento
guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social
abrangente.
Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num
dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse
comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que
daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores.
As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos
cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que
pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são
responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz
de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas
interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a
nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as
gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro
interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e
pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças
que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos
adoptados.
Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção
individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio.
A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma
característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta
certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a
interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida
falaciosa, de que possuímos livre arbítrio.
2- O autor apresenta no livro duas perspectivas acerca do modo de
funcionamento do cérebro e do modo como este reage à experiência. Nomeie-as e
explique-as suscintamente.
Watson defendia a teoria da tábua rasa, que afirma que todos os cérebros iniciam a
vida mais ou menos identicamente. E os seus pressupostos de vista baseavam-se em duas
considerações principais. A primeira era a de que a manipulação das contingências
(possibilidades) de recompensa pode constituir um poderoso determinante do comportamento,
especialmente nos animais. A segunda era a de a interacção com o meio ambiente confere ao
sistema nervoso a sua estrutura.
No entanto nesta altura as neurociências estavam a dar apenas os 1ºs passos e os
cientistas ignoravam em larga medida como o cérebro era constituído. De facto pode-se dizer
que Watson estava com efeito a ser encorajado pela noção biológica contemporânea de que o
cérebro era infinitamente moldável.
Nos inícios dos anos 30 a opinião vigente nas neurociências era a de que a função
antecede a forma, por ex: de que um braço teria que ser utilizado como baço antes de os
neurónios que o inervavam se tornarem específicos para aquele objectivo.
Os trabalhos de Sperry vieram ajudar a esclarecer as coisas. Ele demonstrou que as
intrincadas redes neuronais que gerem e controlam as extremidades são definidas durante o
desenvolvimento e são cuidadosamente formadas e constituídas sob o controlo de
mecanismos genéticos. As funções destes circuitos ficam estabelecidas muito cede na vida e
as suas capacidades são rigorosamente delimitadas e definidas nessa ocasião. A forma como o
cérebro adopta características psicológicas depende ñ só dos acidentes de percurso
relativamente ao meio exterior, como também da sua própria estrutura interna.
A ponta de lança da investigação de Sperry era a teoria de que os nervos se
desenvolvem de maneiras específicas até chegarem ao seu local de destino. Os nervos ao
encaminharem-se para um determinado membro foram já centralmente especificados por
intermédio de mecanismos controlados geneticamente.
O modelo de Sperry é de que a forma procede a função. (Actualmente existem várias
teorias sobre qual é exactamente o mecanismo biológico por intermédio do qual um nervo
sabe em que direcção se deverá desenvolver. A identificação do mecanismo ainda não foi
feita). Todavia não há duvida que o desenvolvimento do sistema neuronal se processa sob um
controlo genético rigoroso. A organização individual do cérebro encontra-se igualmente
submetida a um rígido controlo genético e não é facilmente perturbada por influências do
meio exterior.
Contudo é tb importante saber que um sistema biológico em desenvolvimento, como o
sistema nervosos, está submetido a um rigoroso, embora não inteiramente completo, controlo
genético. Um número considerável de influências ambientais exercem-se sobre o organismo,
forças externas da mãe e forças do meio exterior.
3- Segundo Gazzaniga, a arquitectura básica do cérebro só pode ser modificada
na fase inicial da sua vida ou em termos negativos. Para comprovar esta afirmação
foram efectuadas experiências. Nomeie e explique duas delas.
Uma das experiências efectuadas está relacionada com o sistema visual de gatos.
David Hubel e Torsten Wiesel descobriram que existe uma organização do córtex visual
idêntica, quer no gato adulto, quer no recém-nascido, que consiste em proporções
predeterminadas de células que respondem a uma orientação particular da luz e em zonas
periféricas escuras presentes no campo de visão real do gato. Algumas das células reagem a
linhas inclinadas para a esquerda, outras para a direita, algumas na vertical, outras na
horizontal e ainda outras em orientações que se encontram dentro desses limites. Outras
características incluem o número de células que recebem informação de um só olho, por
oposição a ambos os olhos. Subsequentemente, foi demonstrado por vários investigadores que
existe um período de tempo durante as primeiras semanas de vida do gatinho em que a
exposição a um meio visual anormal pode alterar a proporção de células destinadas a detectar
linhas com uma orientação específica. Assim, se o gato recém-nascido só vir linhas com uma
orientação vertical durante as três primeiras semanas de vida, haverá mais células a reagir a
linhas dessa orientação quando o gatinho é testado às dez semanas de vida. Linhas ou
contornos apresentados em orientações não verticais tenderão a não suscitar quaisquer
reacções. Se se efectuarem estas manipulações ambientais às dez semanas, por exemplo, elas
parecem não exercer qualquer efeito na organização normal do sistema visual. O período
crítico está passado.
A outra experiência foi realizada com um pássaro macho jovem, que aprende o seu
canto com o macho adulto. Se o pássaro macho jovem for exposto ao canto antes de perfazer
o primeiro ano de idade, aprenderá a melodia correcta. Se só a ouvir depois de ter completado
um ano, nunca mais será capaz de a aprender. O período crítico para a aprendizagem do canto
do pássaro é de um ano, o que se assemelha ao período de aprendizagem da linguagem e do
discurso nos seres humanos. Se uma criança não adquirir a linguagem até uma dada altura,
esta nunca se irá desenvolver normalmente.
4- Grande parte da actividade cognitiva humana tem lugar no córtex e, para que
este funcione com eficácia, a mielina tem de estar presente. Explique o que entende por
processo de mielinizaçao.
1.º é necessário dar uma breve explicação sobre o que é a mielina.
A mielina é uma substância que envolve os neurónios e forma em cada um deles uma
bainha – bainha de mielina. Esta bainha altera a microestrutura do neurónio e permite-lhe
transmitir os seus impulsos eléctricos mais eficazmente. Na sua ausência, o neurónio fica
vagaroso (algo que constitui um factor importante quando se está a investigar um aspecto
intrigante do desenvolvimento do cérebro como é a mielinização do córtex cerebral).
Assim sendo, para que a actividade cortical funcione com eficácia a mielinização tem de
estar presente.
Posto isto, pode dizer-se que a mielinização é a formação de uma bainha de mielina em
redor dos prolongamentos axonais das células nervosas.
O processo de mielinização ocorre lentamente, sendo que, algumas regiões do cérebro só
ficam totalmente completadas na 3.ª década da vida.
(O processo de mielinização é um processo lento e só atinge a maturidade naquelas áreas
do cérebro que são as principais responsáveis pelo conhecimento, mais ou menos na altura em
que uma competência específica se torna possível numa criança.)
Além disso, e a propósito deste assunto, o autor compara o cérebro a um computador. E
tal como um computador possui uma capacidade finita e não consegue processar mais
informação do que a que as suas unidades de memória comportam, também o organismo em
desenvolvimento só consegue executar uma tarefa psicológica quando o hardware neuronal
que possui se encontra em funcionamento.
5- Porque é que o cérebro em desenvolvimento é tão delicado que pode ser
refreado precocemente devido a uma interrupção ou lesão?
O cérebro em desenvolvimento inerva todas as áreas, o que quer dizer que existe
projecções entre as diferentes áreas do cérebro. estas projecções num cérebro jovem podem
ser sete vezes mais densas das que existem num cérebro adulto.
lesões cerebrais, seja em que hemisfério for, durante a infância provocam um
decréscimo marcado no qi verbal. esta conclusão é retirada da comparação entre o nível de qi
de uma criança que sofreu um lesão dos seus irmãos que nada sofreram.
as lesões na cabeça com consequências a nível do qi verbal são mais significativas se
estas ocorreram antes de um ano de idade. lesões que ocorrem após este período têm menos
consequências a nível do qi verbal.
estas observações vieram desvendar a grande complexidade que está inerente ao
desenvolvimento do cérebro.
o cérebro muito imaturo está a atravessar um estádio dinâmico tão delicado que
qualquer agressão ao seu padrão de crescimento “normal” pode provocar, ou podemos até
mesmo afirmar, provoca mesmo, uma ruptura no seu potencial ascendente. se por um lado, a
lesão ocorre numa fase em que se assume que o cérebro está mais habilitado a auto-reparar-se,
por outro, este é simultaneamente um período em que o cérebro está mais vulnerável a
qualquer desenvolvimento normal. da mesma forma, as sequelas de qualquer lesão que ocorra
em qualquer altura após o primeiro ano de idade têm menos a ver com a inteligência geral e
mais com as competências específicas. isto então quer dizer, que numa idade mais prematura
as funções especializadas de cada hemisfério se estão a exprimir, e que ficam
irreparavelmente danificadas ou até mesmo perdidas na sequência duma lesão cerebral.
a ideia que daqui se retira, é que o cérebro é como se fosse um quadro constituído por
um mosaico de centros neuronais (como nos diz o próprio autor) que se interrelacionam
delicadamente num processo dinâmico durante os primeiros anos de vida. os sectores ou áreas
do cérebro que não são responsáveis pela gestão das capacidades cognitivas do adulto estão
muito activos a estabelecer estes processos cognitivos em áreas específicas do cérebro durante
o período de desenvolvimento.
o cérebro encontra-se num turbilhão de actividades. contudo tão depressa como
começa, esta actividade termina no momento que as capacidades específicas do adulto
atingem o seu estádio final. após este sistema ter atingido a maturidade, muitas alterações a
nível da aprendizagem parecem ser restringidas.
após os primeiros anos de desenvolvimento, e por ocasião o surgimento da
adolescência do indivíduo, o cérebro fica neurologicamente constituído. os seus longos
circuitos de conexão transmitem informação de forma específica, e uma lesão nestes circuitos
provoca danos permanentes, não significando porém que uma recuperação é impossível.
contudo neste caso de lesões o que está em causa é o mecanismo de reparação. pensa-
se que as áreas não danificadas do cérebro comecem a regular o comportamento que está
perturbado ou foi apagado, normalmente através de uma nova estratégia comportamental.
então a reparação do cérebro não consiste em recuperar o tecido cerebral lesionado, mas sim
uma adaptação efectuada pelo tecido que não foi danificado. esta é a teoria “ materialista”.
6- São descritos estudos realizados sobre a dissociação cerebral em pacientes
com lesões do foro neurológico, que foram a base para a elaboração da teoria modular.
Refira do que se trata a dissociação cerebral.
Este termo de dissociação foi adoptado para descrever um procedimento cirúrgico no
qual são cortadas as conexões nervosas entre o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo.
Estas cirurgias foram efectuadas primeiro em gatos e macacos por Sperry e Myers, em que
tinham como objectivo isolar os trajectos neuronais através dos quais a informação visual
apresentada a um dos hemisférios se integrava na que era apresentada ao outro, eles
pretendiam desvendar quais os percursos responsáveis por essa integração. Em 1940, um
Neurocirurgião William Van Wagenen, efectuou está cirurgia em 26 pacientes epilépticos,
através da operação pretendiam controlar quais queres futuras crises a um único hemisfério
cerebral, deixando o outro isento de crises e em controlo, de modo a que o paciente não
sofresse uma convulsão generalizada. O corpo caloso é seccionado em uma ou em duas fases.
Nas primeiras operações realizadas por Wagnen , a comissura anterior era a de desligar os
dois hemisférios, a actividade conclusiva que começava num dos hemisférios não se
propagaria ao outro, deixando assim um dos hemisférios isento de convulsões e em controlo
do corpo.
7- Tendo em conta que um dos passos na dissociação cerebral consiste num corte
ao nível do corpo caloso, refira as implicações que esta ruptura suscita.
Antes de mais, julgo ser necessário definir corpo caloso. Segundo Gazzaniga, o
corpo caloso é, nos mamíferos a ponte que liga os dois hemisférios. É assim um
enorme feixe de fibras nervosas e que no caso de seccionamento cirúrgico do
cérebro é de fácil acesso. Segundo os estudos de Gazzaniga e Roger Sperry, estes
chegaram à conclusão que quando se divide o cérebro ou seja se secciona o corpo
caloso, os hemisférios não comunicam pois ficam separados, logo as funções da
linguagem se localizarem normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é
capaz de falar de coisas que o hemisfério esquerdo desconhece. Por exemplo: se se
mostrar à pessoa com o cérebro dividido estímulos que só vê no hemisfério direito,
esta não é capaz de o descrever verbalmente. Se se der ao hemisfério direito a
oportunidade de responder sem ter de falar, então comprova-se que o estímulo foi
registado. Se se introduzir na mão esquerda, que é a que envia informação sobre o
tacto ao hemisfério direito, alguns objectos, o paciente é capaz de identificá-los e
escolher o que faz par com uma imagem vista pelo hemisfério direito. Isto
significa que o hemisfério direito pode relacionar a percepção táctil de um objecto
com a lembrança de como o via momentos antes e escolher o objecto correcto. A
mão direita, pelo contrário, não pode fazer isto porque a sua informação sobre o
tacto vai para o hemisfério esquerdo que não viu o objecto.
Pode então concluir-se através das experiências realizadas que com o
seccionamento do corpo caloso, que liga os dois hemisférios origina 2 sistemas
mentais separados, cada um dos quais com a sua capacidade de aprender, recordar,
sentir emoções e funcionar.
8- Refira o primeiro caso clínico em que foi efectuada a primeira dissociação
cerebral e quais as consequências desta operação.
De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades
modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades
que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma
única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e
diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a
que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em
fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas
actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais
conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e
extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em
paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis,
para a nossa organização consciente.
Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir
comportamentos reais.
A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do
nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia
não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos,
contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses
que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie
possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”.
Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a
qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e
momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se
verificou.
Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério
esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de
comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que
existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é
responsável pela formação de crenças humanas.
À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento
guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social
abrangente.
Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num
dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse
comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que
daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores.
As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos
cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que
pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são
responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz
de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas
interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a
nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as
gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro
interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e
pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças
que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos
adoptados.
Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção
individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio.
A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma
característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta
certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a
interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida
falaciosa, de que possuímos livre arbítrio.
9- Quais as conclusões que se retiram relativamente às funções específicas de
cada hemisfério após a dissociação destes.
W.J. foi o 1º a revelar assimetrias interessantes naquilo que é designado por acto
visuo-espacial. Ao mostrar uma imagem a W.J. de um cubo e ao pedir-lhe que desenha-se. A
sua mão esquerda não teve qq problema em executar a tarefa. Mas já a mão direita se mostrou
incapaz de o fazer. O q nunca fora antes observado era a presença de uma função num dos
hemisférios paralelamente à sua ausência no outro.
A descoberta mais relevante era a dissociação de competências entre os dois
hemisférios. Daqui Gazzaniga concluiu que o hemisfério esquerdo é dominante no que diz
respeito aos processos da linguagem e que o hemisfério direito é dominante em termos das
tarefas visuo-estruturais. No entanto nos anos seguintes este conceito sofreu uma revisão
radical. Levy e Sperry afirmaram que o hemisfério direito estava especializado em processos
holistas e que o esquerdo era necessário p processos analíticos. Contudo Bogen revelou-se
mais prudente na interpretação dessas mesmas novas experiências. Preferia a expressão
“apositivo vs proposicional”, querendo com isto significar que o hemisfério direito recebe
estímulos e apõe-nos, ou compara-os, com informação anterior, funcionando de uma forma
mais automática e directa.
Seja como for, Levy, Bogen, Travarthen e Sperry estavam convencidos de que as
diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo eram reais e que deveriam ser entendidas à
luz do modo como tratavam, a informação.
Deste modo torna-se importante analisar as experiências que deram origem a estas
teorias. Numa das experiências utilizava-se aquilo a q se designa por figuras quiméricas. São
figuras com forma de duas meias-faces que, juntas, formam uma face completa, mas em que a
metade esquerda é o retrato da pessoa A e a metade direita o retrato da pessoa B. Indivíduos c
dissociação cerebral eram convidados a fixar um ponto no ecrã e então a figura quimérica era
projectada. Deste modo, o hemisfério esquerdo via a meia-face direita da pessoa B e o
hemisfério direito via a meia-face esquerda da pessoa A. Após a apresentação do estimulo,
pedia-se ao individuo que escolhesse, de um conjunto de faces, aquela que ele tinha visto.
Aquelas que eles seleccionavam eram, todas elas, as faces inteiras normais das meias faces.
Os resultados revelam que as faces apresentadas ao hemisfério direito eram
+frequentemente alvo de reacção do que aquelas que eram apresentadas ao esquerdo. Foi tb
comunicado que o hemisfério esquerdo dos indivíduos com dissociação cerebral revelava
grandes dificuldades em associar nomes às faces apresentadas durante a experência. Isto era
devido ao facto de o analisador das formas, que estava activo para este processamento de
estímulos, se encontrar no hemisfério direito e de o mecanismo de designação, localizado no
esquerdo, não conseguir coordenar as duas competências respectivas. Afirmavam igualmente
q qd o hemisfério esquerdo desses indivíduos era solicitado a descrever as faces, eles referiam
características especificas tais como se a figura tinha bigode ou usava óculos. Julgou-se que
isto comprovava a natureza analítica do hemisfério esquerdo qd em comparação c a análise
holista fornecida pelo hemisfério direito.
No entanto, há várias outras interpretações possíveis deste tipo de experiência. O facto
de os indivíduos favorecerem os estímulos do hemisfério direito não significa
necessariamente que o hemisfério direito esteja a reagir mais afirmativamente devido à
existência de um analisador de formas especializado. A razão poderia ser a de que ele
impõem-se simplesmente pq é capaz de reagir a estímulos daqueles, dado que é por definição,
um sistema de competências marcadamente limitadas.
Em 2º lugar, a observação de que os pacientes tinham dificuldade em associar nomes a
rostos, carece totalmente de sentido. Bem como a observação de que a discrição das faces
efectuada pelo hemisfério era analítica.
Para que se obtivesse uma maior margem de segurança, através da comparação de
varias interpretações de dados, efectuaram se + experiências.
Os 1ºs estudos foram efectuados por Joseph LeDoux e gazzaniga. Com o caso de W.J.
poder-se-ia afirmar que as descobertas eram comprovativas-, em que a mão esquerda, q é, ao
nível motor, aquela que é mais controlada pelo hemisfério direito, especializado neste tipo de
tarefas, é + hábil em desenhar do q a não esquerda, maioritariamente comandada pelo
hemisfério esquerdo, ou o da linguagem.
Qd Sperry, Bogen e Gazzaniga inicialmente apresentamos estes resultados, a nossa
ideia era q a diferença residia +propriamente na excussão da tarefa. Havia algo de especial na
faculdade do hemisfério direito em captar uma imagem visual e em instruir o sistema motor
do cérebro sobre como desenhar a figura correspondente ou como dispor os blocos de modo a
estes condizerem com o diagrama. O hemisfério possuía qq capacidade de ligação senso-
motora q o esquerdo não tinha. Sentiam q não era uma questão de o hemisfério direito ser
superior em termos de percepcionar os próprios objectos.
Anos depois trabalhando com os pacientes de Dartmouth, LeDoux e Gazzaniga
fizeram a investigação necessária e os resultados vieram basicamente confirmar a noção de q
o hemisfério direito estava especializado em algo no âmbito da execução, mas que não era
superior em termos da simples apresentação dos estímulos visuais.
No caso de P.S. nos dias imediatamente a seguir á operação não se detectava
ascendência de um hemisfério sobre o outro. No entanto ao repetir-se os testes (estimulo
quimérico) após 1ano, o hemisfério direito revelou-se + afirmativo ao longo desses testes e
deu a maior parte das respostas.
O mesmo resultado estava agora a ser detectado em grande nº de outros pacientes,
Gazzaniga pergunta-se pq?
O hemisfério esquerdo e o direito coabitam o mesmo crânio. No sistema nervoso
existe aquilo a que se chama “o percurso final comum”, um conceito que se refere ao grupo
de neurónios que partem do cérebro para inervar os braços e as pernas. Fazer corresponder
imagens de formas, faces e coisas semelhantes é algo que o cérebro direito consegue fazer.
Como regra não tem competência verbal. Assim, é estabelecido um acordo táctico: o
hemisfério esquerdo trata da linguagem e o direito executa as tarefas de correspondência mais
simples. Este tipo de solução comportamental pode induzir erradamente a pensar que as
formas de pensamento ou especialização dos hemisférios estão a ser atacadas qd, de facto não
estão.
Qt á generalização da observação informal de que os indivíduos c hemisférios
separados têm enormes dificuldades em associar nomes a rostos, conclui-se que tb isso não
passava de uma observação espúria. Em testes explicitamente efectuados p verificar se um
hemisfério tinha ou não mais dificuldade em fazer corresponder um nome a uma face, o
hemisfério esquerdo revelou ser tão capaz disso como o direito.
Em todo o caso continua a ver rumores persistentes de que pacientes c lesões do lado
direito sentem uma grande dificuldade de lembrarem-se de rostos normais que na maioria das
vezes se assemelham.
Num conjunto de estudos levados a cabo por Robin Yin, conclui-se que o hemisfério
direito desligado era excelente em detectar estes rostos, enquanto o desempenho do
hemisfério esquerdo se revelaria medíocre. Os pacientes V.P. e P.S. que possuíam
competência verbal tanto no hemisfério direito como no esquerdo, e J.W., que só a possuía no
hemisfério esquerdo, foram submetidos a testes neste âmbito. Em todos os pacientes o
hemisfério esquerdo executou esta tarefa imperfeitamente. Já o hemisfério direito considerou
este trabalho simples e efectuou-o bem.
A plasticidade do hemisfério direito aplicada a esta tarefa parece não estar presente na
percepção facial do hemisfério esquerdo. Este estudo parece confirmar a hipótese de que
existe, no hemisfério direito, um sistema especializado para controlar este tipo de
processamento de estímulos. Em pesquisas posteriores descobriu-se que esta aptidão especial
não é especifica p os rostos em si mesmos, mas antes p os estímulos que ultrapassam a
capacidade do sistema verbal em descrever a sua natureza.
Robert Nebes e outros chegaram à conclusão de que o cérebro direito era superior em
termos de aprender informação visual, na medida que ele parecia ser capaz de sintetizar os
elementos das figuras com maior eficácia.
Existe vários problemas c estas interpretações. Uma critica é apresentada Pela
DªMilner e pelo se colega Taylor que descobriram que a mão esquerda era capaz de
reconstruir formas tácteis sem sentido c mt maior acuidade do que a direita. 2ºestes há uma
propensão natural do cérebro p que possibilita à mão esquerda processar informação táctil de
difícil verbalização melhor do que a mão direita.
LeDoux e Gazzaniga reproduziram estes resultados em alguns pacientes, e a
propensão para processar informação táctil não verbal parece ser uma propriedade real e
superior do hemisfério direito. Mas o q tb demonstraram era q a assimetria não estava na
apreensão perceptiva em si mesma. Assim sendo, se o teste fosse totalmente efectuado na
modalidade visual, não se detectariam quaisquer assimetrias. Ou seja se a imagem de uma das
figuras irregulares de arame fosse apresentada quer ao hemisfério esquerdo quer ao direito, qq
deles conseguia apontar p a figura de arame correcta.
Estes foram os resultados que obtiveram c alguns pacientes, no entanto houve casos
em q não se detectou qq assimetria fossem quais fossem as circunstâncias.
10- Será que todos os pacientes revelam o mesmo tipo de assimetria
esquerda/direita neste tipo de tarefas?
Nem todos os cérebros estão organizados da mesma maneira. O cérebro possui uma
natureza modular e portanto muita da investigação sobre a dissociação cerebral deveria ser
encarada como uma técnica para revelar essa modularidade. Ou seja, para o autor, o mais
importante não é que o hemisfério direito faça isto ou que o esquerdo faça aquilo. Para ele, é
sim extremamente importante que, ao estudar pacientes cujos hemisférios cerebrais estão
desligados, podem-se observar determinadas faculdades mentais isoladamente. Por
conseguinte, é evidente que existem assimetrias no processamento de informação. Alguns
hemisférios revelam a assimetria e outros não. Há investigadores que sugerem que ela é de
natureza perceptual, enquanto que outros afirmam que se encontra ligada a uma resposta mais
manual. O autor interroga-se se ela não será mais aparente do que real e utiliza uma metáfora
do foro informático: será que essas assimetrias reflectem uma diferença de software ou uma
diferença mais estrutural, ou seja, de hardware entre ambos os hemisférios? Em vez de
pensarmos que o hemisfério direito possui um módulo especializado para o processamento
dessa informação, pode acontecer que o hemisfério esquerdo, naqueles casos em que se
constata que a sua capacidade natural para codificar um estímulo não o está a conseguir fazer
correctamente, atribua mais recursos a esta tentativa e, em consequência, se concentre menos
na simples tarefa de atentar naquelas características base do estímulo que permitiriam uma
subsequente correspondência perceptiva. O hemisfério direito, que não possui um aparelho de
gerar hipóteses tão rico, investe todos os seus recursos na simples tarefa em mãos e, como
resultado, comparativamente com o hemisfério esquerdo, ganharia pontos no que diz respeito
à tarefa perceptiva apoiada pela memória. De acordo com o autor, esta interpretação do
fenómeno é a que consegue actualmente explicar praticamente todas as questões relativas à
dicotomia esquerda/direita.
11- Explique por que é que os casos dos pacientes J.W.; V.P. e J.S. são
considerados casos raros.
Segundo Gazzaniga, estes três seres humanos são extraordinários. Isto porque possuíam
competência linguística no hemisfério direito.
É preciso ter em conta que o hemisfério direito está encarregue de funções tais como por
exemplo: a formação de imagens, a percepção das relações espaciais, exploração visual e
espacial, (orientação espacial e topográfica), reconhecimento de rostos, a atenção.
Enquanto que o hemisfério esquerdo é responsável por exemplo: pela linguagem, leitura,
escrita, cálculo, memórias verbais.
PS sofre de epilepsia. O seu nível de inteligência era médio/baixo e revelou-se normal
em todos os testes antes de lhe ter sido feita a operação de dissociação cerebral.
Conseguia facilmente identificar a informação sensorial apresentada, quer no seu campo
visual esquerdo quer no direito. O mesmo não acontecia com a informação táctil dirigida,
quer à mão esquerda quer à direita.
(A informação auditiva não pode ser testada devido a uma perda de audição pré-
existente no ouvido direito.)
Após um mês da operação foram-lhe feitos novamente testes ao corpo caloso.
Todas as faculdades usuais estavam presentes, (tal como a especialização lateral para
desenhar cubos, dispor blocos e outras capacidades do hemisfério direito). E, enquanto o seu
hemisfério esquerdo conseguia expressar-se verbalmente acerca das suas experiências, não o
conseguia fazer relativamente ao que se passava no hemisfério direito.
No entanto, ele podia compreender a linguagem no seu hemisfério direito. Além disso,
PS conseguia executar ordens que tinham sido dadas ao hemisfério direito. Portanto, o seu
hemisfério direito revelava-se capaz de reagir a comandos verbais.
No caso VP, quando o autor a conheceu, já havia sido submetida à operação. Neste caso,
esta tinha sido efectuada em duas fases – primeiro a metade anterior do corpo caloso e depois
a metade posterior – (em que a metade anterior do corpo caloso fora seccionada
aproximadamente 10 semanas antes de o mesmo ser feito à metade posterior).
O seu hemisfério direito estava especializado em determinadas tarefas e o seu hemisfério
esquerdo não tinha conhecimento do que se passava no direito.
Tal como PS, VP possuía uma enorme competência linguística no hemisfério direito. VP
também conseguia executar ordens, embora a princípio não conseguisse falar a partir do seu
hemisfério direito, era capaz de escrever mensagens sobre a informação que era apresentada
ao seu hemisfério direito desligado.
JW é um outro caso referenciado pelo autor.
Tal como PS e VP, JW conseguia compreender a linguagem no seu hemisfério direito,
mas no geral não era tão competente (hábil). Apesar disto, ele apresentava todas as outras
características habituais da separação dos hemisférios.
Portanto, o que o autor concluiu com estes três casos foi que: após a intervenção
cirúrgica, é normal verificar-se que o hemisfério esquerdo continua a possuir as suas
faculdades de discurso. A informação apresentada ao campo visual apropriado ou os objectos
que são colocados na mão direita, tudo isto é identificado com a facilidade habitual.
Mas, à excepção destes casos apresentados (PS, VP e JW), a informação projectada no
hemisfério direito não obtém qualquer reacção. O hemisfério direito não possui a faculdade da
linguagem e, a par com isso, revela uma inactividade impressionante.
(Isto não significa que estes hemisférios direitos não possuam sistemas especializados.
Podem-nos ter, só que torna-se praticamente impossível demonstrar a sua existência num
sistema cerebral que é tão incapaz de reagir abertamente).
(Em testes efectuados a estes pacientes, sabia-se que a informação apresentada a um só
hemisfério do paciente ficava inacessível ao outro (e esta ideia foi tomada como modelo de
como a consciência procede com a informação gerada por um esquema mental inconsciente).
Numa experiência (feita a estes pacientes) foram dadas instruções ao hemisfério direito
para que produzisse uma determinada resposta. O hemisfério esquerdo observou a resposta,
mas não sabia porque ocorria. Depois perguntavam ao paciente porque tinha reagido como
reagiu, mas como só o hemisfério esquerdo sabia falar, a resposta verbal reflectia a
compreensão que este hemisfério tinha da situação. Por vezes o hemisfério esquerdo dava
explicações como se soubesse porque ocorria a resposta. O paciente atribuía explicações a
situações como se tivesse percebido introspectivamente a causa da resposta, quando não era
isto que acontecia.
O hemisfério esquerdo é confrontado com a tarefa de ter que explicar um comportamento
que não foi originado por si, mas sim pelo hemisfério direito dissociado.
Chegou-se então à conclusão que as pessoas podem fazer muitas coisas por razões sobre
as quais não estão conscientes, porque o comportamento produz-se mediante mecanismos
cerebrais que funcionam inconscientemente, e uma das principais tarefas da consciência é
fazer com que a vida do indivíduo seja coerente, criando um conceito do eu. Portanto, o ser
humano é normalmente impelido a interpretar comportamentos reais e a construir uma teoria
sobre a razão porque eles ocorrem.)
12- De que modo o hemisfério esquerdo interpreta as actividades iniciadas pelo
hemisfério direito?
O autor para tentar responder a esta questão, baseou-se em várias experiências que ele
próprio realizou, de entre elas vou explicar uma que é muito relevante para se saber o modo
como o hemisfério esquerdo interpreta respostas do hemisfério direito.
Não se solicitou ao hemisfério direito que fornece-se uma resposta real, isto é que não
executa-se um movimento realmente corporal. Em vez disso fornece-se uma lista de palavras
ao hemisfério direito, estas palavras são palavras que o paciente conhece e fazem parte da
vida deste. Em seguida pede-se ao hemisfério direito que numa escala de sete pontos
relativamente a preferência, que atribua um valor a cada palavra. Neste pré - teste a resposta
do hemisfério direito baseia-se em apontar para um conjunto de sete cartões onde se
encontram as sete opções. Rapidamente se notou que o hemisfério direito gostava mais de
umas palavras do que outras.
Numa outra fase do teste, não é permitida a resposta manual. Em seu lugar, o
hemisfério esquerdo tem que se exprimir verbalmente após cada palavra ter sido emitida para
o hemisfério direito e atribuir uma classificação de um a sete à palavra. Neste caso, o
hemisfério esquerdo não tem realmente conhecimento de qual a palavra apresentada. Quando
tenta adivinhar, fá-lo em relação a algum sentimento que é gerado pelo hemisfério direito e
possivelmente comunicado ao esquerdo através dos restantes percursos cerebrais. A avaliação
efectuada pelo hemisfério esquerdo, das palavras apresentadas ao hemisfério direito foi
praticamente idêntica à que tinha sido directamente dada pelo hemisfério direito. Esta
experiência veio revelar que um sistema mental independente, neste caso o hemisfério direito
consegue reagir emocionalmente a um estímulo. Ele atribuiu uma valência, ou valor a um
estímulo, e esse valor quer positivo, quer negativo, consegue ser comunicado ao sistema
verbal do hemisfério esquerdo, sem que no entanto, o hemisfério esquerdo consiga dizer que
estímulo foi aquele que desencadeou a resposta emocional específica.
Conclusão:
As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral levam-nos, todas elas, a
concluir que o cérebro está organizado de forma modular e cada um dos módulos é capaz de
produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o sistema
verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu significado.
O hemisfério esquerdo dominante está empenhado na tarefa de interpretar tanto os
nossos comportamentos mais evidentes como as reacções emocionais menos manifestas, que
são produzidos por estes módulos independentes mentais do nosso cérebro. Ele elabora teorias
sobre o porquê da ocorrência desses comportamentos e fá-lo devido àquela necessidade do
sistema cerebral em manter a coerência em todos os nossos comportamentos.
Para finalizar, podemos ainda dizer, que o cérebro está organizado em termos de
módulos de processamento independentes, e cada um deles gera comportamentos. Estes
comportamentos que tanto pode ser internamente executados como externamente orientados
são então interpretados por procedimentos especiais não linguísticos, normalmente presentes
no hemisfério esquerdo. O módulo «interprete» vai então comunicar a hipótese que formulou
acerca da relação causal entre os factos, aos centros de linguagem localizados também no
hemisfério esquerdo, ao qual chamamos de hemisfério «falador».
13- Diga a que conclusões chegou o autor após as inúmeras experiências em
pacientes com dissociação cerebral.
Chegou-se a conclusão que quando se divide o cérebro deixa de existir comunicação
entre os dois lados do cérebro, devido ao facto das funções da linguagem se localizarem
normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é capaz de falar de coisas que o hemisfério
esquerdo conhece.
Geralmente um paciente com dissociação cerebral consegue nomear a informação que
lhe é apresentada no campo visual direito, mas não quando ela é no esquerdo.
As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral leva-nos todas elas a
concluir que o cérebro está organizado de forma modular e que cada um dos módulos é capaz
de produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o
sistema verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu
significado.
14- No livro, o autor apresenta um exemplo de um sujeito que ao fim de um dia
em que tudo parece estar a correr bem, acorda na manhã seguinte deprimido sem que
haja aparentemente qualquer razão para tal facto. Refira, de acordo com o autor, o
porquê desta mudança.
Como afirma Gazzaniga, este é um exemplo da vida quotidiana, segundo este o
cérebro mental está organizado em centenas ou até mesmo milhares de sistemas de
processamento modulares, e que esses módulos só conseguem habitualmente exprimir-
se através de actos reais e não de uma comunicação verbal, assim estes sistemas têm a
capacidade de recordar-se de acontecimentos, armazenar as reacções afectivas a esses
acontecimentos e reagir a estímulos associados a uma lembrança específica.
Gazzaniga explica esta mudança dizendo que um módulo não verbal foi de alguma
forma activado e em que as associações emocionais dos acontecimentos armazenados
nesse módulo foram comunicados ao sistema emocional do cérebro; pois todos os
seres humanos estão constantemente a ser condicionados no sentido de ter reacções
emocionais específicas, e os módulos do cérebro que armazenam, essa informação
podem ser activados e levados a exprimirem-se por diversas razões.
Assim neste caso especifico de depressão matinal de terça-feira é um humor negativo
que se sente, o que leva a que este comece a interpretar mais negativamente os
acontecimentos anteriores mesmo sendo neutros ou até mesmo positivos, como
resultado de ter que explicar essa disposição. Este caso, é um caso evidente de subtis
manipulações de humores e o modo como eles interagem para assim fazer alterar as
nossas opiniões sobre coisas, pessoas e acontecimentos. Mas a sua teoria estende-se a
comportamentos manifestos e é dado o seguinte exemplo: um homem casado que
acredita na fidelidade vai a uma festa. Bebe uns copos a mais e vai para a cama com
Suzy. O que ele fez foi participar num comportamento que vai contra aquilo em que
acredita. Como é que vai explicar o seu comportamento? De acordo com o autor, o que
aconteceu foi a alteração do seu juízo de valor sobre a fidelidade no casamento, ou
seja muitas pessoas são conseguem viver num estado de desacordo entre uma crença e
um comportamento, através de um poderoso mecanismo psicológico, algo terá de
ceder e, normalmente é a crença.
15- Em que consiste o teste Wada?
No teste WADA é injectado um anestésico de curta duração nas artérias do cérebro.
Devido ao modo como os vasos como os vasos cerebrais estão organizados, o produto
espalha-se por um dos hemisférios e não pelo outro. Esta técnica permite que se adormeça
temporariamente um dos hemisférios enquanto o outro permanece acordado. Foi concebida
com o objectivo de assegurar ao neurocirurgião que o hemisfério que, à partida parece ser
dominante em termos de linguagem, o é na realidade. O teste tem como resultado que o
hemisfério esquerdo, normalmente aquele que possui competência verbal, fica incapaz de
responder a ordens verbalizadas ou de produzir discurso. Quando o anestésico é injectado no
hemisfério não dominante, estes processos não são atingidos. Acontece por vezes que há
surpresas, e é muito importante que se esteja completamente seguro sobre qual dos
hemisférios é dominante em termos da linguagem, caso se esteja a contemplar uma
intervenção cirúrgica.
Nesta experiência, do teste WADA, o paciente está deitado totalmente consciente,
numa marquesa, esta é comandada electronicamente de modo a que o paciente possa ser
deslocado na horizontal sob a maquina de raios X, para permitir que o seu corpo e a sua
cabeça sejam fotografados.
Originalmente colocava-se uma agulha directamente na carótida, uma artéria que
percorre a parte lateral do pescoço. A carótida, uma artéria que percorre a parte lateral do
pescoço. A carótida esquerda constitui a principal alimentação do hemisfério esquerdo e a
carótida direita a do hemisfério direito. Este método deixou de ser usado porque, em alguns
casos, a agulha trazia uma substância (chamada placa) da parede da artéria que era em seguida
introduzida no cérebro, causando um bloqueio ou um enfarte que culminava num acidente
vascular cerebral. Actualmente é colocado um cateter numa artéria da perna em direcção ao
pescoço para finalmente, alcançar a carótida num dos lados do cérebro. Deste modo, se a
introdução da agulha na artéria fizer com que uma placa se solte, é uma artéria da perna que
fica bloqueada, algo muito menos grave do que um bloqueio numa das artérias do cérebro.
O neurorradiologista insere o cateter e acompanha o seu percurso até ao cérebro,
guiando-o através das artérias e afastando-o de desvios e becos sem saída. O paciente observa
o progresso do cateter pelo mesmo monitor que o medico.
Quando finalmente o cateter chega ao seu destino, está tudo a postos para se dar inicio
ao teste WADA. As mãos do paciente são mantidas no ar. Quando o produto começa a fazer
efeito, a mão do lado oposto ao do hemisfério anestesiado cai, num estado de paralisia
temporária. O outro hemisfério está acordado, tal como o aparelho motor do lado oposto do
corpo.
16- Lesões na zona parietal direita podem originar uma grande diversidade de
perturbações, como por exemplo, a translocalização em que o módulo funciona
deficientemente. Explique por que é que o módulo passa a funcionar deficientemente?
O cérebro esta organizado de tal modo que a informação se encontra armazenada em
módulos. Estes módulos podem efectuar cálculos, recordar, sentir emoções e agir. A forma
em que existem faz com que não lhes seja necessário estar em contacto com os sistemas de
linguagem natural e cognitivo, subjacentes ao acto consciente. Em sentido mais amplo, aquilo
que são considerados actos conscientes, são as recordações verbalmente etiquetadas que estão
associadas às interpretações que atribuímos aos nossos comportamentos.
A paciente Mrs Smith é um dos exemplos que aponta na direcção da teoria modular.
Esta apresentava lesões na zona parietal direita. Lesões situadas nesta região podem originar
uma grande diversidade de perturbações, entre as quais a tranlocação. Ela era uma doente do
Dr. Jerome Posner, do Memorial Sloan-Kettering em Nova Iorque. Este telefonou a
Gazzaniga um dia a dizer que tinham de ir ver esta doente e, devido aos seus sintomas
gravaram em vídeo a sessão de testes.
Mrs. Smith encontra-se no Memorial Hospital para ser submetida a uma intervenção
cirúrgica ao cérebro. Embora fosse uma mulher inteligente, com grande encanto e vivacidade,
julgava estar em Freeport, no Maine. Um dia na converssa com Gazzaniga este perguntou-
lhe onde estava, e ela respondeu-lhe, que estava em Freeport, no Maine, ele apontou para os
elevadores e perguntou-lhe o que era aquilo; ela respondeu: aquelas coisas são elevadores,
nem calcula quanto me custou pô-los na minha casa. Mas respondeu também sabe uma coisa
desde que aqui cheguei para ser operada ao cérebro, não havia médico que não me pergunta-
se onde eu estava, e eu respondia que estava spr em Freeport, no Maine. Cada vez que eu
dizia isso corrigiam-me e afirmavam que eu me encontrava no Memorial Sloan-Kettering, em
Nova Iorque. Qd isto já se arrastava hà uma semana, Dr. Posner disse-me p eu responder que
estava em Nova Iorque. No fundo, eles não se importavam nada se eu acreditava nisso ou não.
Este é um caso de uma mulher inteligente com um módulo a funcionar
deficientemente como resultado da sua lesão cerebral. A contribuição desse módulo consistia
em fornecer informação sobre a sua localização em tempo real no espaço. Ou seja, a
disfunção desse módulo forçava-a a ter que explicar determinados factos bizarros
relativamente á sua localização no espaço, algo que ela fazia sem hesitação.
17- O hemisfério direito do Homem não possui habitualmente a faculdade da
linguagem. Os três pacientes referidos pelo autor anteriormente (J.W.; P.S. e V.P.), por
razões ainda não muito claras, possuem competência linguística no hemisfério direito e
dado que os dois hemisférios estão desligados, este afirma que se consegue estudar
aquilo que a linguagem confere ao sistema neuronal que habitualmente não a possui.
Permitirá a linguagem que o hemisfério direito faça tudo aquilo que ela permite ao
esquerdo?
Nestes três pacientes, o sistema de linguagem aparenta ser muito fluido. Todos eles possuem
um léxico rico, não sendo o do hemisfério direito significativamente diferente do do esquerdo.
Dois dos pacientes conseguem também efectuar um certo processamento sintáctico e dois
deles possuem competência verbal e linguística no hemisfério direito. Um exemplo fascinante
de um caso ocorrido com J.W., que é um paciente que compreende tanto a linguagem escrita
como a falada com o seu hemisfério direito, embora não consiga, por enquanto, falar a partir
dele. O autor emite uma palavra para o seu hemisfério direito e, para que ele indique se captou
a palavra e os seus vários significados, o autor pede-lhe apenas que desenhe com a sua mão
esquerda uma imagem da palavra que o autor mostrou. O paciente protesta que a instrução do
autor não tem sentido, porque o hemisfério esquerdo não viu absolutamente nada e assim,
como é que ele pode desenhar seja o que for? O autor tenta persuadi-lo e diz ao paciente para
deixar a sua mão esquerda tentar. Assim, ele desenha com toda a precisão uma imagem que
representa a palavra emitida, que foi bicicleta. No entanto, o paciente diz que não sabe por
que desenhou aquilo e que o desenho da bicicleta lhe parece um pássaro. Esta é uma situação
experimental em que o hemisfério esquerdo não viu nada. Ele não recebeu qualquer estímulo.
Para demonstrar mais uma vez a competência linguística do seu hemisfério direito, o autor
pediu a J.W. que em vez de desenhar a palavra emitida, desenhe a imagem daquilo que se
costuma pôr por cima dela. A palavra emitida foi cavalo e o desenho foi uma sela. Depois
pede-se ao paciente que desenhe a palavra emitida e ele desenha o cavalo, exclamando que
aquilo então era uma sela. Se alguém observasse o modo como o hemisfério direito de J.W.
responde às questões, diria que ele possui os requisitos necessários para ser consciente no
sentido humano da palavra. E, no entanto, este hemisfério, embora tenha todas essas
capacidades linguísticas, não consegue fazer uma simples inferência. Se o autor apresentar as
palavras alfinete e dedo ao seu hemisfério direito para que J.W. as combine de modo a obter
um novo significado ou fazer uma simples inferência dessas duas palavras, o hemisfério
direito fracassa. A tarefa é simples, porque a palavra sangrar encontra-se defronte do paciente
a par com outras opções possíveis. Se for a partir do hemisfério direito, ele responde ao acaso,
enquanto que o seu hemisfério esquerdo considera a tarefa trivial. E mais espantoso ainda é
que se for emitida a palavra sangrar, o hemisfério direito consegue defini-la. Apresenta ainda
outras incapacidades importantes, como o não resolver puzzles geométricos simples. O que
concluir? Primeiro, que um sistema de linguagem rico não significa necessariamente que
exista conhecimento. A linguagem enquanto linguagem pouco significado tem. Há outros
sistemas que coincidem com a linguagem e que são os que efectuam os verdadeiros cálculos e
as tomadas de decisão. A linguagem apenas transmite os resultados destes outros processos
que existem concomitantemente com ela no hemisfério esquerdo, mas que parecem estar
ausentes do hemisfério direito. Existem sistemas neuronais únicos no hemisfério esquerdo dos
seres humanos que compelem o sistema cerebral, que comunica com o meio exterior, a
conferir sentido aos diversos comportamentos produzidos pelos seres humanos. Inerentes a
este processo encontram-se as crenças das pessoas sobre a natureza do seu eu, que se tornam
tanto mais multidimensionais quanto mais diversificados forem os comportamentos dos
módulos mentais. Ainda de acordo com o autor, a presença de crenças na nossa espécie
resulta da forma como o cérebro está construído.
18- Relativamente à forma como o cérebro exprime as recordações, o autor
apresenta o exemplo do seu próprio pai, que sofreu um AVC no hemisfério esquerdo,
resultando daí aquilo que os psicólogos designam por “dissociação”. Explique este caso
específico.
O AVC que o pai do autor sofreu no hemisfério esquerdo, embora pequeno, foi o
suficiente para o deixar incapacitado temporariamente.
Em 24 horas, um homem enérgico e vibrante transformou-se numa pessoa às portas da
morte. Ficou totalmente afásico e incapaz de obedecer a uma instrução, quer escrita quer
falada, por mais simples que fosse.
Subitamente, todo este processo começou a regredir e com o passar dos dias todas as
suas faculdades regressaram.
O que realmente lhe tinha acontecido era que o AVC tinha sido afinal um enfarte num
pequeno ramo arterial de uma das artérias cerebrais posteriores, e o efeito reticular causara
mais propriamente uma dilatação do tecido contíguo do que uma lesão real. À medida que
essa dilatação diminuía, o tecido neuronal e as redes circundantes começaram novamente a
funcionar.
Posto isto, durante o período de convalescença do senhor, o autor resolveu fazer-lhe uma
série de observações.
Pediu ao pai que identificasse uma série de objectos do quarto em que se encontrava.
Tudo corria bem até que lhe mostrou um cravo. Neste caso o senhor disse então que não sabia
o que isso era. No entanto, o mais extraordinário era que foi capaz de dizer que era uma flor e
de a descrever. Mesmo após o autor ter pronunciado três palavras, sendo uma delas a palavra
cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor. Depois do autor lhe dizer que a
resposta certa seria cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor.
Passados alguns momentos Gazzaniga perguntou ao pai se se lembrava de qual era a flor
que tinha plantado na sua casa no fim-de-semana anterior. Não conseguiu dizer qual era, no
entanto fez uma descrição pormenorizada do local e dia em que a tinha plantado, assim como
quem estava presente nesse momento.
O facto dele ser um excelente jardineiro e da flor em causa ser uma das suas preferidas,
não contribuiu para que a situação melhorasse. Mesmo depois do autor ter dito o nome tudo
continuou na mesma.
Cerca de seis horas mais tarde, o senhor começou a dizer o nome de cada uma das
plantas da sala onde se encontrava, o seu género e espécie, voltando tudo ao normal.
Esta fase específica é, portanto, chamada pelos psicólogos por “dissociação”. Entre aspas
porque na verdade a dissociação que ocorreu deu-se devido ao AVC e não devido a uma
operação de dissociação aos hemisférios.
O autor explica este fenómeno. O pai do autor não conseguia dizer o nome da flor, no
entanto, era capaz de fornecer todas as outras informações acerca dela.
O que acontecia era que os circuitos, módulos que processam estes aspectos do estímulo,
se encontravam a funcionar. O que não funcionava era o módulo, ou o circuito neuronal, que
armazenava o nome.
(Não era apenas uma simples questão de identificação porque, embora ele conseguisse
designar outros objectos com facilidade, não reconhecia um objecto em particular, mesmo que
alguém lhe dissesse o seu nome.)
Este tipo de observação não só apoia a tese da modularidade, como também sugere que
as modularidades são altamente específicas. O tempo, o espaço, o afecto entre outras
dimensões de um estímulo têm todos que estar codificados, e aparentemente estão-no em
diferentes áreas do cérebro.
19- O autor apresenta o caso do paciente H.M. que sofria de epilepsia não
controlada. Naquela época (1950) pensava-se que a remoção cirúrgica do hipocampo
iria mitigar esta doença. No entanto, os efeitos na sua memória foram devastadores.
Explicite tais consequências.
H.M. Foi um dos primeiros doentes epilépticos e dos últimos a ser submetido a uma
intervenção cirúrgica deste género.
Como é característica dos amnésicos, h.m. Não se conseguia lembrar de nada por mais
de dez minutos. Uma série de testes formais à memória foi-lhe ministrada, e esses testes
vieram confirmar a sua história clínica qualitativa e forneceram os perfis quantitativos exactos
da sua profunda patologia. A partir desses resultados chegou-se à conclusão que havia um
fundamento neurológico real para a concepção dos psicólogos experimentais de um processo
faseado na formação da memória. Haveria então um sistema de memória de curto prazo que
recebia a informação nova, a testava e em seguida a transferia para ser armazenada na
memória de longo prazo. A estrutura que está profundamente envolvida nesta transferência da
memória de curto prazo para a armazenagem de longo prazo é o hipocampo. H.m. Consegui-a
evocar acontecimentos passados pois a sua memória de longo prazo estava intacta, e recordar-
se de informação recente num curto espaço de tempo, cerca de dez minutos, mas não
conseguia transferir essa informação do sistema de curto prazo para o de longo prazo. Esta
análise demonstrou que uma lesão cerebral específica numa região específica (o hipocampo)
produzia uma amnésia anterógrada. Todos aqueles acontecimentos ocorridos após a lesão se
ter verificado eram codificados na memória, na medida em que a lesão provocara uma
disfunção no sistema cerebral que consolida a informação.
H.m. Aprendeu a «desenhar ao espelho», ou seja, aprender a melhorar as suas aptidões
gráficas ao olhar para figuras geométricas através de um espelho que invertia a percepção das
formas. Deste modo, quando a mão guiava o lápis para o canto esquerdo de um rectângulo,
era reflectida no espelho como movendo-se para o direito. H.m. Aprendeu a executar esta
tarefa, conseguindo manter a sua boa execução de um dia para o outro, embora não se
recordasse de que a efectuara anteriormente.
Podemos concluir deste exemplo, que uma espécie qualquer de informação tinha
conseguido inserir-se no se cérebro e que o fracasso em armazená-la não era total. As tarefas
que h.m. Tinha originalmente que executar implicavam uma componente motora muito forte,
constituindo uma prova de que a memória relativa aos actos motores era diferente daquela que
dizia respeito a acontecimentos mais episódicos.
20- Como aparecem os problemas de memória?
Problemas de memória são vulgares nos idosos e manifestam-se na demência.
Aparecem em alcoólicos e como resultado de traumatismos cranianos. Verificam-se muitas
vezes problemas de memória após uma paragem cardíaca, na sequência de acidentes
cardiovasculares, no aparecimento de tumores cerebrais e em inúmeros outros problemas, tais
como herpes simplex encephalitis.
21- Refira os progressos da neurorradiologia referidos no livro.
A TAC (tomografia axial computorizada) foi inventada pelos ingleses e parcialmente
financiada pelos Beatles. Este dispositivo tornasse bastante notável, e tem como
função fazer incidir os raios x e quase todos os planos e cabeça que se torna necessário
estudar para detectar a presença de tecido patológico, por exemplo os pacientes de
memoria podem através da TAC ser neurologicamente melhor definidos, ou seja
podem detectar em que tecido está a patologia e assim poder-se fazer um tratamento
eficaz. Contudo a TAC regista apenas as lesões ínfimas ou seja podem estabelecer-se
correlações ilegítimas entre uma perturbação de memória e as estruturas cerebrais que
são responsáveis por ela, podendo assim deixar escapar totalmente lesões reais, não
são por isso, suficientemente precisas.
No entanto, existe um outro dispositivo, o aparelho de tomografia por emissão de
positrões, também conhecido por Pet scanner, que tal como a TAC, tira fotografias do
cérebro vivo em diversos planos, no entanto a TAC apresenta perfis do modo como o
cérebro está na realidade a funcionar, isto através de uma medição precisa de
parâmetros biológicos como o nível de fluxo sanguíneo, o metabolismo celular ou o
volume de sangue que é fornecido a áreas especificas. Tudo é efectuado por meio de
câmaras especiais, sensíveis à radioactividade que foram estrategicamente colocadas
em torno da cabeça de modo a poderem detectar-se compostos marcados de
radioactividade que foram previamente injectados ou inalados pelo paciente.
Assim estes compostos como visam medir coisas diferentes assim também são
diferentes quanto à sua natureza química, mas tem em comum a facto de os químicos
os terem formulado como compostos emissores de positrões, ou seja um composto
emite um positrão que vai colidir com um electrão e é aniquilado.
Desta colisão resultam 2 raios gama que saem em seguida do tecido cerebral num
ângulo de 180º, a câmara sensível à radiação detecta esses raios e transmite-os para um
enorme computador que, por sua vez calcula em que local do cérebro esse
acontecimento se deu, é reconstruída assim uma imagem que pode dizer-se que é um
mapa metabólico do cérebro vivo. Um outro dispositivo de imagiologia fez a sua
entrada na medicina, este baseado no princípio de Ressonância Magnética Nuclear
(NMR); as imagens que este aparelho consegue produzir são deslumbrantes e expõem
detalhes prodigiosos da estrutura anatómica. Revela por exemplo, se numa pessoa com
dissociação cerebral, esta é ou não total. Pode dizer-se em jeito de conclusão que neste
momento existe uma tecnologia médica que permite uma medição mais sensível das
patologias cerebrais o que facilita também a utilização para a localização dos nossos
módulos ocultos, por exemplo o PET desvendou patologias cuja a detecção através da
TAC havida falhado completamente.
22- Como é que a relação entre a energia psicológica e a energia biológica
poderão estar deterioradas no caso de amnésia?
Talvez porque alguns dos processos psicológicos automáticos, como a codificação
temporal da informação, tentem reunir os recursos energéticos diminuídos de um cérebro
lesionado. Podendo haver nos pacientes um decréscimo global da actividade biológica do
cérebro representado por uma redução geral do fluxo sanguíneo. Uma possibilidade é a de que
estes marcadores biológicos possam permitir a identificação dos módulos específicos que
participam nos diversos aspectos do funcionamento da memória.
23- Especifique a forma como Gazzaniga adapta a teoria de Freud à teoria
modular.
Sempre houve teorias acerca do comportamento humano, as mais importantes das quais forma
formuladas por Freud.
A sua teoria geral da psicodinâmica abunda em hipóteses sobre as causas subjacentes
ao nossos comportamento e sobre as nossas vidas privadas mentais. Um dos princípios
básicos da teoria freudiana é o de que os processos inconscientes são importantes na
orientação do comportamento. Estes processos inconscientes podem reflectir atitudes que nós
não desejamos admitir que possuímos. E, no entanto, muitos dos nossos actos são explicados
por essas atitudes e pela nossa necessidade de satisfazer esses impulsos. À sua maneira, Freud
pressagiou/anteviu muita da moderna teoria cognitiva. Ele recusava-se a aceitar a noção de
um processo consciente unificado e já defendia, no princípio deste século, um sistema mental
diversificado e compartimentado.
Gazzaniga diz que se pode facilmente adaptar as ideias de Freud à teoria dos módulos
se for substituído o seu conceito de “processo inconsciente” pela ideia que expõem de
“módulos mentais co-conscientes mas não verbais. Porém, uma tendência para reagir ou uma
decisão para actuar, por parte de um módulo mental não verbal, não é inconsciente. É até
muito consciente, muito capaz de realizar um acto. Uma das suas características, a de não
poder comunicar internamente com os sistemas de linguagem e de conhecimento do
hemisfério dominante, não devia ser codificada de “inconsciente”. A não ser com aquela
única correcção à formulação de Freud, muito daquilo que ele afirma que é importante na vida
mental pode ser analisado à luz dos modernos termos mecanicistas.
Na actual psicologia experimental, começou recentemente a ser posto em evidencia o
conceito de processamento inconsciente. Operacionalmente, isto significa que estão a ser
aplicados aos pacientes estímulos experimentais, a que eles são incapazes de referir
verbalmente, mas que, no entanto, influenciam no modo como reagem subsequentemente. É a
versão científica do velho fenómeno da percepção subliminal.
A par com isto encontra-se a noção dos processos automáticos. À medida que novas
informações vão sendo armazenadas nos nossos cérebros, processos automáticos asseguram a
sua marcação de acordo com o momento, no tempo, em que ocorreram. Atribuir uma ordem
temporal às informações é um processo inconsciente que, no entanto, ocorre normalmente
durante o estádio de vigília consciente.
24- Holtzman e Gazzaniga efectuaram uma experiência com J.W. com o objectivo
de esclarecer questões sobre os processos inconscientes relacionados com a teoria
modular. Explique suscintamente em que consistiram essas experiências.
Foi pedido a J.W. que fixasse um ponto e emitiu-se um 1 ou um 2 no hemisfério
esquerdo ou no direito. Quando o número é projectado no hemisfério esquerdo é identificado
verbalmente sem dificuldade. O que é intrigante é que, tendo o hemisfério esquerdo do sujeito
conhecimento de que o hemisfério direito também está a ver um 1 ou um 2, consegue dizer
com precisão qual dos dois números está a ser projectado no hemisfério direito quando se faz
o teste a este. Por várias razões sabe-se que o hemisfério direito de J.W. não possui
competência verbal. Mas, de alguma forma o hemisfério direito consegue formular o
comportamento verbal correcto no esquerdo. Será possível que o hemisfério direito tenha tido
acesso ao sistema verbal/motor esquerdo e aí depositado a informação correcta para a resposta
verbalizada, mas que essa informação não esteja acessível ao processo consciente do
hemisfério esquerdo? Este estudo sugere que ao se emitir o número 1 ou 2 para o hemisfério
esquerdo, se ele é capaz de aceder à informação no sistema de linguagem, deveria também ser
capaz de acertar na resposta correcta. Porém, ele não o consegue. Neste tipo de tarefa, o
hemisfério esquerdo actua aleatoriamente. Esta dissociação evidencia que um sistema
consciente não tem acesso a toda a informação que rege aquilo que se considera ser uma
reacção consciente.
25- Em que consiste o fenómeno visão cega?
A “visão cega” é uma patologia observada em doentes que sofreram lesões nos centros
visuais corticais do cérebro.
Pensa-se que as áreas do cérebro que processam a informação visual se encontram nos
lobos occipitais, localizados na região posterior do crânio.
»»» A informação chega a esses centros por intermédio da retina que, (através de uma
intrincada rede de relés neuronais no seu próprio seio,) envia a informação em primeiro lugar
para o corpo geniculado lateral. Este é uma estrutura laminar (em camadas) no tálamo e
constitui a primeira paragem no caminho para o (todo poderoso) córtex visual primário. Este
(córtex visual primário) recebe informação exclusivamente do mesencéfalo, do corpo
geniculado lateral e que, após processar essa informação, ele envia para outras áreas corticais
a fim de ser submetia a uma análise posterior.
Segundo esta representação simplista que o autor apresenta, do sistema visual, quando
um indivíduo sofre uma lesão no lobo occipital fica cego. A ligação mais importante entre o
olho e as outras regiões do cérebro fica interrompida devido à lesão.
No entanto, os primeiros relatos clínicos sobre a “visão cega” afirmavam que estes
pacientes conseguiam ver imperfeitamente nessa vasta mancha cega. E, o que era mais
interessante na natureza dessa visão, era o facto de eles conscientemente afirmarem que não
conseguiam ver nada. No entanto, se se lhes pedisse que apontassem, quer com os olhos, quer
com as mãos, para um estímulo apresentado na mancha cega, tanto a mão como os olhos se
desviavam para a direcção correcta, daí o termo “visão cega”.
Sintetizando, os pacientes que sofrem de “visão cega” têm lesões no lobo occipital e
ficam cegos e quando lhes é solicitado que apontem com os olhos e com a mão para a
direcção de um estímulo apresentado na mancha cega, desviam os olhos e a mão na direcção
correcta.
26- Qual a contribuição da experiência efectuada a B.H. que sofria de visão cega
para um melhor conhecimento do cérebro?
B.h. Era uma mulher que tinha sofrido de aneurisma no lobo occipital direito. Ia ser
submetida a uma intervenção cirúrgica para a reparação da artéria deteriorada e durante a
operação, dada a localização do aneurisma, teriam de ser sacrificados segmentos dos lobos
occipital direito. Como consequência, partes da visão do seu campo visual esquerdo tornar-se-
iam não funcionais ou cegas, embora as suas outras estruturas visuais permanecessem intactas
e normais. Sofria então de visão cega como denomina o autor.
Holtzman com o seu medidor de olhos contribuiu para que a experiência se realizasse.
Este sistema consiste num dispositivo altamente sensível que mede a posição exacta dos
olhos. Holtzman com o seu dispositivo queria limitar estímulos visuais apenas à mancha cega
que resultara da lesão cirúrgica. Se a luz dos estímulos se propagasse para a parte sã da retina,
qualquer afirmação de processamento visual em termos de visão cega ficaria comprometida.
Com este aparelho, se o paciente move os olhos de modo a que o estímulo fique dentro da
zona sã da retina, o computador detecta o movimento no seu início e imediatamente apaga a
emissão do estímulo.
A experiência baseava-se então em quatro x dispostos em forma de um quadrado eram
apresentados à mancha cega do campo visual do paciente. Seguindo uma determinada
instrução, um dos quatro x era iluminado, devendo o paciente mover os seus olhos na sua
direcção. Observou-se que quando o teste era feito no seu campo visual bom ela executava-o
na perfeição. Contudo quando b.h. Tentou efectuar a experiência com a luz na mancha cega
do seu campo visual, e foi de facto incapaz de levar a cabo, sem ser após de milhares de
tentativas.
B.h. Possui-a também todas aquelas estruturas ou seja, os outros módulos. E daqui
surge o porquê destes não se encarregarem de executar esta tarefa? Pensou-se então que talvez
o módulo localizado na parte mediana do cérebro só funcionasse quando recebia informação
do córtex visual que se encontra por cima. Ou seja é devastador um módulo trabalhar
isoladamente. Em geral os módulos funcionam como parte de um sistema interactivo
alargado.
Baseando-se em também noutras experiências feitas em pacientes com dissociação
cerebral, notou-se que o hemisfério esquerdo não conseguiu comunicar verbalmente qual dos
x tinha sido iluminado no campo visual esquerdo. O campo visual esquerdo projectar para o
hemisfério direito não trouxe qualquer surpresa, mas a surpresa foi a descoberta de que
quando o hemisfério esquerdo era solicitado a mover os olhos para o x no campo visual
direito, que correspondia ao x que estimulara o hemisfério oposto, os olhos deslocavam-se
para a posição correcta. Dava então a entender que os módulos sub corticais conseguiam
desempenhar esta tarefa e que o faziam fora do mecanismo de controlo consciente. Deste
modo constatou-se o modo como a informação sobra a localização espacial é tratada por um
só destes módulos e como ele controla os olhos permitindo uma resposta coordenada.
Confirmou-se ainda que os módulos que tratam a informação espacial são diferentes
dos que manipulam a informação perceptual. Por exemplo, se no caso de termos os x
tivéssemos figuras geométricas, a comparação entre os hemisférios deixava de ser possível,
pois os módulos sub corticais apenas tratam da informação espacial, não da geométrica.
27- Cortando-se o corpo caloso em duas secções, pode-se estudar o fenómeno de
transferência parcial. J.W. é um exemplo deste processo. Explicite este caso.
J.W. foi o primeiro paciente a ser submetido a uma intervenção e em que foi
acompanhado em todos os passos do processo.
Apenas se cortarem parte dos cabos neuronais porque permite examinar a
possibilidade de uma transferência parcial da informação, isto é, se são apenas alguns dos
módulos que conseguem comunicar do hemisfério direito para o esquerdo.
1º foi efectuado a J.W. um teste pré-operação, em que eram projectadas palavras e
imagens de toda a espécie para cada um dos hemisférios e, tal como um cérebro intacto e
normal o faria, o hemisfério esquerdo conseguia comunicar instantaneamente a informação
visual que era apresentada exclusivamente ao direito. Verificaram que todos os cabos entre os
seus hemisférios estavam a funcionar.
De seguida J.W. foi submetido a operação em que 1º seccionaram a parte posterior do
corpo caloso, ao fazer-se isto esta a desligar a parte do sistema visual que normalmente
transmite para o hemisfério esquerdo a imagem sensorial real de um estimulo que foi
apresentado ao hemisfério direito. Os dois lobos occipitais deixam geralmente de conseguir
comunicar directamente entre si a informação sensorial primária. Neste caso especifico os
estímulos do hemisfério direito registavam uma precisão de apenas 28 %. Contudo, com o
passar do tempo, essa passagem aumentou e J.W. chegou a conseguir identificar bastante bem
os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Concluíram com este caso que não parecia
estar a haver transferência da informação- base sobre o estimulo.
O hemisfério esquerdo obtém pedaços de informação e em seguida arrisca uma
resposta sobre aquilo que o estímulo poderá ser.
Ex: palavra “cavaleiro ” e o hemisfério esquerdo, o que possui competência verbal,
desenvolveu uma estratégia para lidar com determinados aspectos cognitivos do estímulo, que
pareciam não estar a ser transmitidos, e respondia:”Tenho uma imagem na minha mente, não
consigo dizê-la.”
Algumas semanas depois completaram o seccionamento do feixe de fibras e J.W.
perdeu a faculdade de identificar os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Era como se
os diversos módulos do hemisférico direito que processavam as associações cognitivas dos
estímulos tivessem deixado de ter acesso aos restantes feixes de fibras entre os hemisférios.
Mas convém salientar que J.W. é um caso pouco comum pois o seu hemisfério direito
é capaz de processar estímulos verbais.
28- Refira as conclusões retiradas das experiências efectuadas a J.W.; P.S. e V.P.?
As conclusões retiradas das experiências efectuadas foram elaboradas após os
pacientes terem sido submetidos (NMR) em que nos casos de J.W. e P.S. revelaram
estar totalmente dissociados, em que a imagem mostrava nitidamente que o corpo
caloso tivera sida completamente seccionado, porém no exame NMR do paciente V.P.,
este revelou inadvertidamente que o cirurgião tinha poupado uma porção diminuta do
corpo caloso posterior e uma porção igualmente pequena do corpo caloso anterior,
estes dois segmentos encontram-se afastados um do outro e estão implicados em
diferentes funções, o posterior em funções visuais.
Tal como acontecia com J.W., V.P. não efectuava a transferência de informação
perceptual, o que levava a pensar que não restara parte do corpo caloso suficiente que
desse azo àqueles processos, desta forma pensa-se que o corpo caloso anterior possa
estar implicado na transferência da informação semântica neste tipo de casos. Por
exemplo V.P. é incapaz de ajuizar se duas palavras uma das quais apresentada ao
hemisfério esquerdo e outra ao direito, estão relacionadas.
29- Para explicar a forma como os preconceitos humanos se enraízam, ou, pelo
contrário desaparecem do nosso sistema de crenças o autor recorre à teoria de
dissonância cognitiva de Festinger. Explique em que consiste esta teoria.
Compreender os processos mentais que dão origem a crenças como preconceitos
permite-nos estabelecer um elo entre a nossa actual compreensão dos mecanismos cerebrais e
aquilo que sabemos acerca dos processos psicológicos.
Muitas das nossas crenças, sobretudo as que adquirimos no princípio da nossa vida,
são-nos impostas mecanicamente.
Porque as pessoas não conseguem viver num estado de dissonância entre uma crença e
um comportamento real, algo terá que ceder, e é normalmente o valor da crença. Este é o
ponto fundamental da teoria da dissonância cognitiva de Festinger. O estado de dissonância
não é tolerado pelo organismo.
Estes conflitos surgem, 2º Gazzaniga, porque o nosso cérebro está estruturado em
módulos independentes, cada um dos quais é passível de acção e de executar actividades que
testam e contratestam as crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas de linguagem e do
conhecimento do nosso hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um
módulo mental que formula um comportamento, modulo esse que consegue funcionar
independentemente do sistema dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo.
30- Aquilo que, todavia, nunca fica bem claro na teoria da dissonância é a razão
pela qual um organismo adopta, à partida, um comportamento que é antagónico a uma
crença. Por que razão surgem todos estes conflitos?
2ºFestinguer a teoria da dissonância refere que quando uma crença e um comportamento
entram em conflito, ou a crença muda para se adaptar ao comportamento, ou é o
comportamento que se altera para se harmonizar com acrença. É normalmente a crença que
sofre a modificação.
Segundo Gazzaniga o nosso cérebro está estruturado em módulos independentes, cada
um dos quais é passível de acção e de executar actividades que testam e contratestam as
crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas da linguagem e do conhecimento do nosso
hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um módulo mental que formula
um comportamento, modulo esse que consegue funcionar independentemente do sistema
dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo.
Contudo esta teoria tem outras facetas. Outra das suas implicações é que uma das
vantagens de o cérebro estar organizado do modo como Gazzaniga propõe é permitir que os
nossos princípios estejam constantemente a ser testados e contratestados. O ser humano que
reage e que explora terá maiores probabilidades de estar continuamente a reavivar as suas
crenças, ao passo que o sedentário/parado/inactivo as terá em menor grau. Se o cérebro fosse
um sistema monolítico, com todos os módulos numa completa intercomunicação interna,
então o valor que atribuímos às nossas crenças nunca se alteraria. E a cultura humana estaria
assim destinada a repetir os movimentos das gerações anteriores de uma forma reflexa. Por
conseguinte, o incessante duelo entre o conhecimento e o comportamento, tão activo na
formação de princípios de cada um de nós, emerge como uma característica muito especial da
nossa espécie.
A teoria da dissonância cognitiva foi formulada à mais de 25anos, e tem resistido à
passagem do tempo, os progressos na investigação do cérebro não só sublinham a sua
validade, como também sugerem que o ser humano que adopta um comportamento poucas
oportunidades teria para um mecanismo alternativo de controlo. O organismo esforça-se por
obter coerência entre as crenças que articula e os seus actos. O hemisfério esquerdo
interpretativo e dominante tenta manter ordem e coerência entre os seus módulos mentais, (o
seu círculo eleitoral mental).
Um 2ºaspecto importante da teoria da dissonância, que tem sempre que se verificar
para que esta se revele eficaz, é o de que as pessoas devem adoptar livremente o
comportamento que entrará em dissonância com uma crença anterior. Por ex. se alguém for
forçado , sob ameaça de morte, a cometer um crime, não é de surpreender que a anterior fé da
pessoa na lei e na ordem fique intacta. Se, no entanto, alguém for facilmente induzido a
cometer um primeiro crime, a sua atitude perante esse tipo de comportamento irá muito
provavelmente alterar-se e ele passará a considerar afinal este acto como não tão responsável.
Cohen demonstrou que uma justificação externa é insuficiente para adoptar aquilo que
os investigadores (Festinger e Carlsmith) designaram por comportamento contra-atitudinal.
Na experiência Cohen, solicitou a estudantes de Yale que escrevessem um ensaio sobre a
actuação da polícia. Todos os estudantes haviam condenado vigorosamente o comportamento
da polícia qd esta dispersara um manifestação de estudantes, pois consideravam que ela se
comportara de uma forma demasiado brutal. Os estudantes foram distribuídos por 4grupos,
um dos quais recebia 10dólares pelo ensaio, o 2ºgrupo 5, o 3º1 e o ultimo apenas 50centimos.
Após terem acabado de escrever o ensaio, procedeu-se à medição das atitudes de cada um dos
grupos em relação à polícia. Os estudantes pertencentes ao grupo que recebera a menor soma
de dinheiro (justificação externa para as suas acções) eram os mais positivos em termos
daquela atitude, ao passo que os outro grupos tinham alterado as suas opiniões em menor
grau, sendo que o grupo dos 10 dólares praticamente não as modificara.
Os estudos revelam que um comportamento tem que ser fortemente percepcionado
como de livre vontade para ter autoridade quando participa na modificação de uma crença.
Aqueles comportamentos cuja execução é percepcionada como devendo-se maioritariamente,
a pressões exteriores, não desencadeiam o processo de redução de dissonância e, como tal,
não ameaçam o sistema de crenças.
31- As teorias mais modernas defendem que a nossa espécie é pessoalmente
responsável pelas suas acções e que nós possuímos livre arbítrio. Explicite o conceito de
livre arbítrio.
A suposição mais directa e relevante da questão do livre arbítrio partiu do inglês Donald M.
Mackay. Ele defende que a nossa espécie é pessoalmente responsável pelas suas acções e que
nós possuímos livre arbítrio. Ele desenvolve a noção de indeterminação lógica, uma
característica particular de uma máquina de processamento de informação tal como o cérebro
humano, que encarna um agente cognitivo e é este facto que vem possibilitar o conceito do
livre arbítrio. A tese de Mackay aceita o pressuposto da civilização ocidental de que a
consciência pessoal é produto de um sistema cognitivo unificado e a acção humana é o
resultado de um sistema cerebral monolítico. No entanto, esta formulação pode ser adaptada à
teoria dos módulos mentais individuais, em que cada um é passível de acção e resposta. A sua
análise podia conferir a indeterminação lógica a qualquer um dos módulos mentais do
cérebro. Mas, se por um lado, o raciocínio de Mackay parece conferir bases cientificas sólidas
ao conceito de livre arbítrio, por outro lado carece da realidade psicológica que o autor
procura, pois não engloba a questão de se saber por que razão os comportamentos
autoproduzidos têm influencia nas crenças pessoais, enquanto os condicionalismos expostos
do exterior não o têm. Para o autor, o livre arbítrio resulta do facto de o ser humano acreditar
que age livremente em 99% dos seus comportamentos, o que implica que o comportamento
despoletado por um módulo tenha de ser justificado pelo sistema de crenças da pessoa. Isto
sugere que um sistema composto por módulos mentais que agem independentemente uns dos
outros, mas que juntos formam uma confederação mental, atribui muito provavelmente a um
sistema cognitivo a tarefa de definir e assegurar uma teoria sobre os actos desta. Faz parte
deste processo o livre arbítrio do organismo, porque sem ele o sentido psicológico dominante
dos seres humanos seria que a vida mental é um caos gerado ao acaso e que nada pode ser
justificado, muito menos um comportamento inconsciente.
32- O autor debate as implicações da teoria modular sob a perspectiva
arqueológica. Refira que conclusões retirou o autor da análise destes vestígios
arqueológicos?
Ao estudar a pré-história é possível procurar dados ou pistas de universais primitivos que
podem não só contribuir para a descoberta de variáveis cerebrais ou culturais que expliquem a
cultura humana, como também, realçar mecanismos cerebrais emergentes, responsáveis pela
especialização de funções no hemisfério esquerdo.
A teoria do autor é de que os vestígios arqueológicos sugerem que as áreas específicas do
cérebro evoluíram de modo a poderem desempenhar funções específicas, que por seu lado,
vieram dar origem a novas faculdades na nossa espécie.
Estas faculdades, como as da inferência e da estética, estão manifestamente presentes no
Homo sapiens sapiens. Sendo que, podemos fazer remontar as suas origens até ao Homo
erectus, senão mesmo mais longe. Isto porque, a par com o desenvolvimento da capacidade de
inferência e tudo o que esta implicava em termos de progressos mais rápidos e mais eficazes
contra os mistérios do meio ambiente, surge uma apetência estética. Os objectos não tinham
apenas que ser eficazes a um nível funcional, mas também tinham que ser atraentes.
As posteriores capacidades cognitivas surgiram lentamente.
Na pré-história, o homem primitivo estava mais apto a produzir reacções associativas do
que a fazer inferências, porque não havia história nem experiência anterior. (Havia apenas
uma reacção subjectiva aos acontecimentos e o conflito era praticamente inexistente porque
todos comungavam da mesma informação e, como tal, desenvolviam as mesmas crenças em
relação à natureza e ao mundo.)
Porém, no momento em que a inferência (deduções/induções/conclusões) se tornou
possível, nasceu o homem moderno, destinado a um modo de vida bastante árduo.
A faculdade de fazer inferências levou à formação de crenças, não só sobre o seu próprio
comportamento, mas também sobre o seu grupo. Isto também fez com que o Homem se
tornasse independente das influências do meio ambiente.
Portanto, as áreas específicas do cérebro (módulos) evoluíram de modo a poder
desempenhar funções específicas que, por sua vez, vieram dar origem a novas faculdades na
nossa espécie (como a inferência e a estética que remontam ao Homo erectus.)
Nada acontece em termos psicológicos até a região cerebral apropriada no cérebro
humano moderno em evolução se ter tornado psicologicamente funcional.
33- Quais as teorias que visam explicar as mudanças que ocorreram na
progressão ascendente das realizações humanas em tempo real?
Estas são duas teorias que visam explicar o modo como se deu a evolução humana.
Segundo a teoria de pernas para o ar um organismo possui um conjunto de
capacidades de resposta geneticamente controladas e estas podem ser apropriadamente
moldadas e seleccionadas pelo lugar/meio onde vive o organismo.
Após variadíssimas experiências efectuadas em animais, nas organizações sociais de
várias espécies, consegue-se explicar claramente as complexidades sociais do seu
comportamento. Os animais que fizeram parte desta experiência como é o caso das formigas,
dos lobos e dos babuínos, vivem uma relação dinâmica e largamente recíproca com o meio,
porque a sua inteligência não é suficiente para qualquer outro tipo de existência. Ou seja, eles
não são capazes de se isolar do um meio ambiente de uma forma significativa, dando a certeza
que o meio exerce um papel poderoso e determinante na selecção das capacidades máximas
destes organismos.
Esta perspectiva esclarece determinados processos do mundo biológico. Na opinião do
autor é uma teoria inadequada para explicar a evolução humana.
Segundo a teoria de cima para baixo as alterações geneticamente induzidas no cérebro
são o elemento chave da história do homem. A crescente capacidade do cérebro humano para
fazer inferências, que os veio-o diferenciar de tudo o que tinha existido anteriormente no reino
animal. A capacidade de inferência que consiste em combinar duas variáveis novas numa
hipótese sobre as prováveis causas dos acontecimentos, é igualmente o substrato da
formulação de crenças. Esta capacidade de fazer inferências é uma capacidade somente capaz
de ser feita pelo homem, e a faculdade que mais provavelmente se liga a determinados
sistemas específicos do cérebro humano. A posse desta faculdade libertou o homem do rígido
domínio do meio ambiente. Com o aparecimento do cérebro mais complexo do homem de
neanderthal e, por último do homo sapiens sapiens ou homem moderno, a faculdade de fazer
inferências desabrochou até atingir o seu ponto máximo actual, em que a inferência se tornou
tão automática como qualquer reflexo neuronal periférico.
34- Foi David Premack que enunciou a importância das preferências enquanto
motivação para acção. Serão as preferências assim tão importantes na motivação do
comportamento?
Este autor fez várias experiências, uma delas foi com macacos e todas as experiências
ele concluiu que uma resposta mais provável vem reforçar uma resposta menos provável e
nunca inversamente. As preferências nos seres humanos podem ser sistematicamente
manipuladas por um psicólogo inteligente. Podem ser reforçadas, invertidas, diluídas. Embora
baseadas em sistemas muito antigos do cérebro, elas desempenham um papel crucial nos
complexos processos psicológicos que contribuem para a formulação das crenças humanas.
35- Como se processam as crenças no cérebro?
Gazzaniga após ter realizado os estudos com pacientes do foro neurológico, defende
que o cérebro está organizado em unidades (módulos) que funcionam de uma relativamente
independente e que trabalham em paralelo, ou seja, quando a informação invade o nosso
cérebro é decomposta em fragmentos sobre os quais diversos sistemas começam logo a
trabalhar. Estas actividades funcionam na maioria das vezes independentemente dos nossos
eus verbais conscientes e de forma paralela com o nosso pensamento consciente. No que diz
respeito aos sistemas de crenças, os estudos desenvolvidos são na sua maioria da
responsabilidade de escritores e filósofos e poucos de investigadores científicos. No entanto,
os estudos recentes vieram alterar este ponto de vista, essencialmente aqueles que incidem
sobre os pacientes com lesões do foro neurológico. A este respeito, Gazzaniga defende que o
nosso cérebro tem uma componente especial, que apelida de “Interprete”, que é responsável
pela elaboração de infinitas teorias para explicar comportamentos considerados inconstantes
produzidos pelo nosso eu. A dinâmica que existe entre os módulos da nossa mente e o nosso
“intérprete”, que se encontra no nosso hemisfério esquerdo, é responsável pela formação de
crenças. Crenças estas que funcionam para a nossa espécie como um mecanismo para deixar
de estar inserida numa simples relação tipo reflexo com recompensas e penalizações da
sociedade. No entanto, podem ser alteradas através da nossa percepção pessoal de que agimos
livremente e em resposta a uma série de pressões sociais.
36- Por que surgiram as crenças religiosas?
A natureza e a origem das crenças religiosas possuem uma história intrigante e
interpretável que frisa a centralidade de um mecanismo psicológico localizado no cérebro.
Gazzaniga diz que as crenças religiosas eram inevitáveis e que tiveram que surgir assim que o
intérprete do hemisfério esquerdo se desenvolveu e começou reflexivamente à procura da
consistência e de compreensão. Arquitectaram-se explicações e criaram-se instituições para
gerir e regulamentar as questões da existência humana e da origem cósmica. Uma vez
implementadas, e dado o seu forte poder coercivo, estas instituições continuaram vivas.
O autor diz também que a aceitação destas crenças que-não-são-deste-mundo se deve a
uma outra capacidade do cérebro humano que é a aptidão para o pensamento mágico. Isto é, a
existência no cérebro humano de uma zona que, quando lesionada, causa alterações profundas
no psiquismo humano. Uma lesão nessa região, que pode ocorrer por inúmeras razoes, tende a
provocar a modificação em três comportamentos. Este “síndroma do lobo temporal” foi
primeiramente descrito pelo já falecido Norman Gerschwind, da Harvard Medical Scool. Na
sua forma básica, a lesão cerebral causa uma intensificação das convicções religiosas, um
desejo de escrever aprofundadamente (hipergrafia) e a prática de actividades sexuais bizarras.
A realidade deste síndroma não é nada divertida. Aquilo que nos interessa é a vertente
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Cérebro social

  • 1. Questões acerca do livro “O Cérebro Social” de Michael S. Gazzaniga 1- O autor defende que o cérebro humano está organizado em unidades modulares. Diga, de acordo com a perspectiva do autor, em que consiste este processo? De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis, para a nossa organização consciente. Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir comportamentos reais. A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos, contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”. Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se verificou. Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que
  • 2. existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é responsável pela formação de crenças humanas. À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social abrangente. Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores. As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos adoptados. Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio. A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida falaciosa, de que possuímos livre arbítrio.
  • 3. 2- O autor apresenta no livro duas perspectivas acerca do modo de funcionamento do cérebro e do modo como este reage à experiência. Nomeie-as e explique-as suscintamente. Watson defendia a teoria da tábua rasa, que afirma que todos os cérebros iniciam a vida mais ou menos identicamente. E os seus pressupostos de vista baseavam-se em duas considerações principais. A primeira era a de que a manipulação das contingências (possibilidades) de recompensa pode constituir um poderoso determinante do comportamento, especialmente nos animais. A segunda era a de a interacção com o meio ambiente confere ao sistema nervoso a sua estrutura. No entanto nesta altura as neurociências estavam a dar apenas os 1ºs passos e os cientistas ignoravam em larga medida como o cérebro era constituído. De facto pode-se dizer que Watson estava com efeito a ser encorajado pela noção biológica contemporânea de que o cérebro era infinitamente moldável. Nos inícios dos anos 30 a opinião vigente nas neurociências era a de que a função antecede a forma, por ex: de que um braço teria que ser utilizado como baço antes de os neurónios que o inervavam se tornarem específicos para aquele objectivo. Os trabalhos de Sperry vieram ajudar a esclarecer as coisas. Ele demonstrou que as intrincadas redes neuronais que gerem e controlam as extremidades são definidas durante o desenvolvimento e são cuidadosamente formadas e constituídas sob o controlo de mecanismos genéticos. As funções destes circuitos ficam estabelecidas muito cede na vida e as suas capacidades são rigorosamente delimitadas e definidas nessa ocasião. A forma como o cérebro adopta características psicológicas depende ñ só dos acidentes de percurso relativamente ao meio exterior, como também da sua própria estrutura interna. A ponta de lança da investigação de Sperry era a teoria de que os nervos se desenvolvem de maneiras específicas até chegarem ao seu local de destino. Os nervos ao encaminharem-se para um determinado membro foram já centralmente especificados por intermédio de mecanismos controlados geneticamente. O modelo de Sperry é de que a forma procede a função. (Actualmente existem várias teorias sobre qual é exactamente o mecanismo biológico por intermédio do qual um nervo sabe em que direcção se deverá desenvolver. A identificação do mecanismo ainda não foi feita). Todavia não há duvida que o desenvolvimento do sistema neuronal se processa sob um controlo genético rigoroso. A organização individual do cérebro encontra-se igualmente
  • 4. submetida a um rígido controlo genético e não é facilmente perturbada por influências do meio exterior. Contudo é tb importante saber que um sistema biológico em desenvolvimento, como o sistema nervosos, está submetido a um rigoroso, embora não inteiramente completo, controlo genético. Um número considerável de influências ambientais exercem-se sobre o organismo, forças externas da mãe e forças do meio exterior. 3- Segundo Gazzaniga, a arquitectura básica do cérebro só pode ser modificada na fase inicial da sua vida ou em termos negativos. Para comprovar esta afirmação foram efectuadas experiências. Nomeie e explique duas delas. Uma das experiências efectuadas está relacionada com o sistema visual de gatos. David Hubel e Torsten Wiesel descobriram que existe uma organização do córtex visual idêntica, quer no gato adulto, quer no recém-nascido, que consiste em proporções predeterminadas de células que respondem a uma orientação particular da luz e em zonas periféricas escuras presentes no campo de visão real do gato. Algumas das células reagem a linhas inclinadas para a esquerda, outras para a direita, algumas na vertical, outras na horizontal e ainda outras em orientações que se encontram dentro desses limites. Outras características incluem o número de células que recebem informação de um só olho, por oposição a ambos os olhos. Subsequentemente, foi demonstrado por vários investigadores que existe um período de tempo durante as primeiras semanas de vida do gatinho em que a exposição a um meio visual anormal pode alterar a proporção de células destinadas a detectar linhas com uma orientação específica. Assim, se o gato recém-nascido só vir linhas com uma orientação vertical durante as três primeiras semanas de vida, haverá mais células a reagir a linhas dessa orientação quando o gatinho é testado às dez semanas de vida. Linhas ou contornos apresentados em orientações não verticais tenderão a não suscitar quaisquer reacções. Se se efectuarem estas manipulações ambientais às dez semanas, por exemplo, elas parecem não exercer qualquer efeito na organização normal do sistema visual. O período crítico está passado. A outra experiência foi realizada com um pássaro macho jovem, que aprende o seu canto com o macho adulto. Se o pássaro macho jovem for exposto ao canto antes de perfazer o primeiro ano de idade, aprenderá a melodia correcta. Se só a ouvir depois de ter completado
  • 5. um ano, nunca mais será capaz de a aprender. O período crítico para a aprendizagem do canto do pássaro é de um ano, o que se assemelha ao período de aprendizagem da linguagem e do discurso nos seres humanos. Se uma criança não adquirir a linguagem até uma dada altura, esta nunca se irá desenvolver normalmente. 4- Grande parte da actividade cognitiva humana tem lugar no córtex e, para que este funcione com eficácia, a mielina tem de estar presente. Explique o que entende por processo de mielinizaçao. 1.º é necessário dar uma breve explicação sobre o que é a mielina. A mielina é uma substância que envolve os neurónios e forma em cada um deles uma bainha – bainha de mielina. Esta bainha altera a microestrutura do neurónio e permite-lhe transmitir os seus impulsos eléctricos mais eficazmente. Na sua ausência, o neurónio fica vagaroso (algo que constitui um factor importante quando se está a investigar um aspecto intrigante do desenvolvimento do cérebro como é a mielinização do córtex cerebral). Assim sendo, para que a actividade cortical funcione com eficácia a mielinização tem de estar presente. Posto isto, pode dizer-se que a mielinização é a formação de uma bainha de mielina em redor dos prolongamentos axonais das células nervosas. O processo de mielinização ocorre lentamente, sendo que, algumas regiões do cérebro só ficam totalmente completadas na 3.ª década da vida. (O processo de mielinização é um processo lento e só atinge a maturidade naquelas áreas do cérebro que são as principais responsáveis pelo conhecimento, mais ou menos na altura em que uma competência específica se torna possível numa criança.) Além disso, e a propósito deste assunto, o autor compara o cérebro a um computador. E tal como um computador possui uma capacidade finita e não consegue processar mais informação do que a que as suas unidades de memória comportam, também o organismo em desenvolvimento só consegue executar uma tarefa psicológica quando o hardware neuronal que possui se encontra em funcionamento.
  • 6. 5- Porque é que o cérebro em desenvolvimento é tão delicado que pode ser refreado precocemente devido a uma interrupção ou lesão? O cérebro em desenvolvimento inerva todas as áreas, o que quer dizer que existe projecções entre as diferentes áreas do cérebro. estas projecções num cérebro jovem podem ser sete vezes mais densas das que existem num cérebro adulto. lesões cerebrais, seja em que hemisfério for, durante a infância provocam um decréscimo marcado no qi verbal. esta conclusão é retirada da comparação entre o nível de qi de uma criança que sofreu um lesão dos seus irmãos que nada sofreram. as lesões na cabeça com consequências a nível do qi verbal são mais significativas se estas ocorreram antes de um ano de idade. lesões que ocorrem após este período têm menos consequências a nível do qi verbal. estas observações vieram desvendar a grande complexidade que está inerente ao desenvolvimento do cérebro. o cérebro muito imaturo está a atravessar um estádio dinâmico tão delicado que qualquer agressão ao seu padrão de crescimento “normal” pode provocar, ou podemos até mesmo afirmar, provoca mesmo, uma ruptura no seu potencial ascendente. se por um lado, a lesão ocorre numa fase em que se assume que o cérebro está mais habilitado a auto-reparar-se, por outro, este é simultaneamente um período em que o cérebro está mais vulnerável a qualquer desenvolvimento normal. da mesma forma, as sequelas de qualquer lesão que ocorra em qualquer altura após o primeiro ano de idade têm menos a ver com a inteligência geral e mais com as competências específicas. isto então quer dizer, que numa idade mais prematura as funções especializadas de cada hemisfério se estão a exprimir, e que ficam irreparavelmente danificadas ou até mesmo perdidas na sequência duma lesão cerebral. a ideia que daqui se retira, é que o cérebro é como se fosse um quadro constituído por um mosaico de centros neuronais (como nos diz o próprio autor) que se interrelacionam delicadamente num processo dinâmico durante os primeiros anos de vida. os sectores ou áreas do cérebro que não são responsáveis pela gestão das capacidades cognitivas do adulto estão muito activos a estabelecer estes processos cognitivos em áreas específicas do cérebro durante o período de desenvolvimento. o cérebro encontra-se num turbilhão de actividades. contudo tão depressa como começa, esta actividade termina no momento que as capacidades específicas do adulto
  • 7. atingem o seu estádio final. após este sistema ter atingido a maturidade, muitas alterações a nível da aprendizagem parecem ser restringidas. após os primeiros anos de desenvolvimento, e por ocasião o surgimento da adolescência do indivíduo, o cérebro fica neurologicamente constituído. os seus longos circuitos de conexão transmitem informação de forma específica, e uma lesão nestes circuitos provoca danos permanentes, não significando porém que uma recuperação é impossível. contudo neste caso de lesões o que está em causa é o mecanismo de reparação. pensa- se que as áreas não danificadas do cérebro comecem a regular o comportamento que está perturbado ou foi apagado, normalmente através de uma nova estratégia comportamental. então a reparação do cérebro não consiste em recuperar o tecido cerebral lesionado, mas sim uma adaptação efectuada pelo tecido que não foi danificado. esta é a teoria “ materialista”. 6- São descritos estudos realizados sobre a dissociação cerebral em pacientes com lesões do foro neurológico, que foram a base para a elaboração da teoria modular. Refira do que se trata a dissociação cerebral. Este termo de dissociação foi adoptado para descrever um procedimento cirúrgico no qual são cortadas as conexões nervosas entre o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo. Estas cirurgias foram efectuadas primeiro em gatos e macacos por Sperry e Myers, em que tinham como objectivo isolar os trajectos neuronais através dos quais a informação visual apresentada a um dos hemisférios se integrava na que era apresentada ao outro, eles pretendiam desvendar quais os percursos responsáveis por essa integração. Em 1940, um Neurocirurgião William Van Wagenen, efectuou está cirurgia em 26 pacientes epilépticos, através da operação pretendiam controlar quais queres futuras crises a um único hemisfério cerebral, deixando o outro isento de crises e em controlo, de modo a que o paciente não sofresse uma convulsão generalizada. O corpo caloso é seccionado em uma ou em duas fases. Nas primeiras operações realizadas por Wagnen , a comissura anterior era a de desligar os dois hemisférios, a actividade conclusiva que começava num dos hemisférios não se propagaria ao outro, deixando assim um dos hemisférios isento de convulsões e em controlo do corpo.
  • 8. 7- Tendo em conta que um dos passos na dissociação cerebral consiste num corte ao nível do corpo caloso, refira as implicações que esta ruptura suscita. Antes de mais, julgo ser necessário definir corpo caloso. Segundo Gazzaniga, o corpo caloso é, nos mamíferos a ponte que liga os dois hemisférios. É assim um enorme feixe de fibras nervosas e que no caso de seccionamento cirúrgico do cérebro é de fácil acesso. Segundo os estudos de Gazzaniga e Roger Sperry, estes chegaram à conclusão que quando se divide o cérebro ou seja se secciona o corpo caloso, os hemisférios não comunicam pois ficam separados, logo as funções da linguagem se localizarem normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é capaz de falar de coisas que o hemisfério esquerdo desconhece. Por exemplo: se se mostrar à pessoa com o cérebro dividido estímulos que só vê no hemisfério direito, esta não é capaz de o descrever verbalmente. Se se der ao hemisfério direito a oportunidade de responder sem ter de falar, então comprova-se que o estímulo foi registado. Se se introduzir na mão esquerda, que é a que envia informação sobre o tacto ao hemisfério direito, alguns objectos, o paciente é capaz de identificá-los e escolher o que faz par com uma imagem vista pelo hemisfério direito. Isto significa que o hemisfério direito pode relacionar a percepção táctil de um objecto com a lembrança de como o via momentos antes e escolher o objecto correcto. A mão direita, pelo contrário, não pode fazer isto porque a sua informação sobre o tacto vai para o hemisfério esquerdo que não viu o objecto. Pode então concluir-se através das experiências realizadas que com o seccionamento do corpo caloso, que liga os dois hemisférios origina 2 sistemas mentais separados, cada um dos quais com a sua capacidade de aprender, recordar, sentir emoções e funcionar. 8- Refira o primeiro caso clínico em que foi efectuada a primeira dissociação cerebral e quais as consequências desta operação. De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades
  • 9. que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis, para a nossa organização consciente. Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir comportamentos reais. A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos, contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”. Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se verificou. Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é responsável pela formação de crenças humanas. À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social abrangente. Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse
  • 10. comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores. As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos adoptados. Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio. A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida falaciosa, de que possuímos livre arbítrio. 9- Quais as conclusões que se retiram relativamente às funções específicas de cada hemisfério após a dissociação destes. W.J. foi o 1º a revelar assimetrias interessantes naquilo que é designado por acto visuo-espacial. Ao mostrar uma imagem a W.J. de um cubo e ao pedir-lhe que desenha-se. A sua mão esquerda não teve qq problema em executar a tarefa. Mas já a mão direita se mostrou incapaz de o fazer. O q nunca fora antes observado era a presença de uma função num dos hemisférios paralelamente à sua ausência no outro.
  • 11. A descoberta mais relevante era a dissociação de competências entre os dois hemisférios. Daqui Gazzaniga concluiu que o hemisfério esquerdo é dominante no que diz respeito aos processos da linguagem e que o hemisfério direito é dominante em termos das tarefas visuo-estruturais. No entanto nos anos seguintes este conceito sofreu uma revisão radical. Levy e Sperry afirmaram que o hemisfério direito estava especializado em processos holistas e que o esquerdo era necessário p processos analíticos. Contudo Bogen revelou-se mais prudente na interpretação dessas mesmas novas experiências. Preferia a expressão “apositivo vs proposicional”, querendo com isto significar que o hemisfério direito recebe estímulos e apõe-nos, ou compara-os, com informação anterior, funcionando de uma forma mais automática e directa. Seja como for, Levy, Bogen, Travarthen e Sperry estavam convencidos de que as diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo eram reais e que deveriam ser entendidas à luz do modo como tratavam, a informação. Deste modo torna-se importante analisar as experiências que deram origem a estas teorias. Numa das experiências utilizava-se aquilo a q se designa por figuras quiméricas. São figuras com forma de duas meias-faces que, juntas, formam uma face completa, mas em que a metade esquerda é o retrato da pessoa A e a metade direita o retrato da pessoa B. Indivíduos c dissociação cerebral eram convidados a fixar um ponto no ecrã e então a figura quimérica era projectada. Deste modo, o hemisfério esquerdo via a meia-face direita da pessoa B e o hemisfério direito via a meia-face esquerda da pessoa A. Após a apresentação do estimulo, pedia-se ao individuo que escolhesse, de um conjunto de faces, aquela que ele tinha visto. Aquelas que eles seleccionavam eram, todas elas, as faces inteiras normais das meias faces. Os resultados revelam que as faces apresentadas ao hemisfério direito eram +frequentemente alvo de reacção do que aquelas que eram apresentadas ao esquerdo. Foi tb comunicado que o hemisfério esquerdo dos indivíduos com dissociação cerebral revelava grandes dificuldades em associar nomes às faces apresentadas durante a experência. Isto era devido ao facto de o analisador das formas, que estava activo para este processamento de estímulos, se encontrar no hemisfério direito e de o mecanismo de designação, localizado no esquerdo, não conseguir coordenar as duas competências respectivas. Afirmavam igualmente q qd o hemisfério esquerdo desses indivíduos era solicitado a descrever as faces, eles referiam características especificas tais como se a figura tinha bigode ou usava óculos. Julgou-se que
  • 12. isto comprovava a natureza analítica do hemisfério esquerdo qd em comparação c a análise holista fornecida pelo hemisfério direito. No entanto, há várias outras interpretações possíveis deste tipo de experiência. O facto de os indivíduos favorecerem os estímulos do hemisfério direito não significa necessariamente que o hemisfério direito esteja a reagir mais afirmativamente devido à existência de um analisador de formas especializado. A razão poderia ser a de que ele impõem-se simplesmente pq é capaz de reagir a estímulos daqueles, dado que é por definição, um sistema de competências marcadamente limitadas. Em 2º lugar, a observação de que os pacientes tinham dificuldade em associar nomes a rostos, carece totalmente de sentido. Bem como a observação de que a discrição das faces efectuada pelo hemisfério era analítica. Para que se obtivesse uma maior margem de segurança, através da comparação de varias interpretações de dados, efectuaram se + experiências. Os 1ºs estudos foram efectuados por Joseph LeDoux e gazzaniga. Com o caso de W.J. poder-se-ia afirmar que as descobertas eram comprovativas-, em que a mão esquerda, q é, ao nível motor, aquela que é mais controlada pelo hemisfério direito, especializado neste tipo de tarefas, é + hábil em desenhar do q a não esquerda, maioritariamente comandada pelo hemisfério esquerdo, ou o da linguagem. Qd Sperry, Bogen e Gazzaniga inicialmente apresentamos estes resultados, a nossa ideia era q a diferença residia +propriamente na excussão da tarefa. Havia algo de especial na faculdade do hemisfério direito em captar uma imagem visual e em instruir o sistema motor do cérebro sobre como desenhar a figura correspondente ou como dispor os blocos de modo a estes condizerem com o diagrama. O hemisfério possuía qq capacidade de ligação senso- motora q o esquerdo não tinha. Sentiam q não era uma questão de o hemisfério direito ser superior em termos de percepcionar os próprios objectos. Anos depois trabalhando com os pacientes de Dartmouth, LeDoux e Gazzaniga fizeram a investigação necessária e os resultados vieram basicamente confirmar a noção de q o hemisfério direito estava especializado em algo no âmbito da execução, mas que não era superior em termos da simples apresentação dos estímulos visuais. No caso de P.S. nos dias imediatamente a seguir á operação não se detectava ascendência de um hemisfério sobre o outro. No entanto ao repetir-se os testes (estimulo
  • 13. quimérico) após 1ano, o hemisfério direito revelou-se + afirmativo ao longo desses testes e deu a maior parte das respostas. O mesmo resultado estava agora a ser detectado em grande nº de outros pacientes, Gazzaniga pergunta-se pq? O hemisfério esquerdo e o direito coabitam o mesmo crânio. No sistema nervoso existe aquilo a que se chama “o percurso final comum”, um conceito que se refere ao grupo de neurónios que partem do cérebro para inervar os braços e as pernas. Fazer corresponder imagens de formas, faces e coisas semelhantes é algo que o cérebro direito consegue fazer. Como regra não tem competência verbal. Assim, é estabelecido um acordo táctico: o hemisfério esquerdo trata da linguagem e o direito executa as tarefas de correspondência mais simples. Este tipo de solução comportamental pode induzir erradamente a pensar que as formas de pensamento ou especialização dos hemisférios estão a ser atacadas qd, de facto não estão. Qt á generalização da observação informal de que os indivíduos c hemisférios separados têm enormes dificuldades em associar nomes a rostos, conclui-se que tb isso não passava de uma observação espúria. Em testes explicitamente efectuados p verificar se um hemisfério tinha ou não mais dificuldade em fazer corresponder um nome a uma face, o hemisfério esquerdo revelou ser tão capaz disso como o direito. Em todo o caso continua a ver rumores persistentes de que pacientes c lesões do lado direito sentem uma grande dificuldade de lembrarem-se de rostos normais que na maioria das vezes se assemelham. Num conjunto de estudos levados a cabo por Robin Yin, conclui-se que o hemisfério direito desligado era excelente em detectar estes rostos, enquanto o desempenho do hemisfério esquerdo se revelaria medíocre. Os pacientes V.P. e P.S. que possuíam competência verbal tanto no hemisfério direito como no esquerdo, e J.W., que só a possuía no hemisfério esquerdo, foram submetidos a testes neste âmbito. Em todos os pacientes o hemisfério esquerdo executou esta tarefa imperfeitamente. Já o hemisfério direito considerou este trabalho simples e efectuou-o bem. A plasticidade do hemisfério direito aplicada a esta tarefa parece não estar presente na percepção facial do hemisfério esquerdo. Este estudo parece confirmar a hipótese de que existe, no hemisfério direito, um sistema especializado para controlar este tipo de processamento de estímulos. Em pesquisas posteriores descobriu-se que esta aptidão especial
  • 14. não é especifica p os rostos em si mesmos, mas antes p os estímulos que ultrapassam a capacidade do sistema verbal em descrever a sua natureza. Robert Nebes e outros chegaram à conclusão de que o cérebro direito era superior em termos de aprender informação visual, na medida que ele parecia ser capaz de sintetizar os elementos das figuras com maior eficácia. Existe vários problemas c estas interpretações. Uma critica é apresentada Pela DªMilner e pelo se colega Taylor que descobriram que a mão esquerda era capaz de reconstruir formas tácteis sem sentido c mt maior acuidade do que a direita. 2ºestes há uma propensão natural do cérebro p que possibilita à mão esquerda processar informação táctil de difícil verbalização melhor do que a mão direita. LeDoux e Gazzaniga reproduziram estes resultados em alguns pacientes, e a propensão para processar informação táctil não verbal parece ser uma propriedade real e superior do hemisfério direito. Mas o q tb demonstraram era q a assimetria não estava na apreensão perceptiva em si mesma. Assim sendo, se o teste fosse totalmente efectuado na modalidade visual, não se detectariam quaisquer assimetrias. Ou seja se a imagem de uma das figuras irregulares de arame fosse apresentada quer ao hemisfério esquerdo quer ao direito, qq deles conseguia apontar p a figura de arame correcta. Estes foram os resultados que obtiveram c alguns pacientes, no entanto houve casos em q não se detectou qq assimetria fossem quais fossem as circunstâncias. 10- Será que todos os pacientes revelam o mesmo tipo de assimetria esquerda/direita neste tipo de tarefas? Nem todos os cérebros estão organizados da mesma maneira. O cérebro possui uma natureza modular e portanto muita da investigação sobre a dissociação cerebral deveria ser encarada como uma técnica para revelar essa modularidade. Ou seja, para o autor, o mais importante não é que o hemisfério direito faça isto ou que o esquerdo faça aquilo. Para ele, é sim extremamente importante que, ao estudar pacientes cujos hemisférios cerebrais estão desligados, podem-se observar determinadas faculdades mentais isoladamente. Por conseguinte, é evidente que existem assimetrias no processamento de informação. Alguns hemisférios revelam a assimetria e outros não. Há investigadores que sugerem que ela é de natureza perceptual, enquanto que outros afirmam que se encontra ligada a uma resposta mais
  • 15. manual. O autor interroga-se se ela não será mais aparente do que real e utiliza uma metáfora do foro informático: será que essas assimetrias reflectem uma diferença de software ou uma diferença mais estrutural, ou seja, de hardware entre ambos os hemisférios? Em vez de pensarmos que o hemisfério direito possui um módulo especializado para o processamento dessa informação, pode acontecer que o hemisfério esquerdo, naqueles casos em que se constata que a sua capacidade natural para codificar um estímulo não o está a conseguir fazer correctamente, atribua mais recursos a esta tentativa e, em consequência, se concentre menos na simples tarefa de atentar naquelas características base do estímulo que permitiriam uma subsequente correspondência perceptiva. O hemisfério direito, que não possui um aparelho de gerar hipóteses tão rico, investe todos os seus recursos na simples tarefa em mãos e, como resultado, comparativamente com o hemisfério esquerdo, ganharia pontos no que diz respeito à tarefa perceptiva apoiada pela memória. De acordo com o autor, esta interpretação do fenómeno é a que consegue actualmente explicar praticamente todas as questões relativas à dicotomia esquerda/direita. 11- Explique por que é que os casos dos pacientes J.W.; V.P. e J.S. são considerados casos raros. Segundo Gazzaniga, estes três seres humanos são extraordinários. Isto porque possuíam competência linguística no hemisfério direito. É preciso ter em conta que o hemisfério direito está encarregue de funções tais como por exemplo: a formação de imagens, a percepção das relações espaciais, exploração visual e espacial, (orientação espacial e topográfica), reconhecimento de rostos, a atenção. Enquanto que o hemisfério esquerdo é responsável por exemplo: pela linguagem, leitura, escrita, cálculo, memórias verbais. PS sofre de epilepsia. O seu nível de inteligência era médio/baixo e revelou-se normal em todos os testes antes de lhe ter sido feita a operação de dissociação cerebral. Conseguia facilmente identificar a informação sensorial apresentada, quer no seu campo visual esquerdo quer no direito. O mesmo não acontecia com a informação táctil dirigida, quer à mão esquerda quer à direita.
  • 16. (A informação auditiva não pode ser testada devido a uma perda de audição pré- existente no ouvido direito.) Após um mês da operação foram-lhe feitos novamente testes ao corpo caloso. Todas as faculdades usuais estavam presentes, (tal como a especialização lateral para desenhar cubos, dispor blocos e outras capacidades do hemisfério direito). E, enquanto o seu hemisfério esquerdo conseguia expressar-se verbalmente acerca das suas experiências, não o conseguia fazer relativamente ao que se passava no hemisfério direito. No entanto, ele podia compreender a linguagem no seu hemisfério direito. Além disso, PS conseguia executar ordens que tinham sido dadas ao hemisfério direito. Portanto, o seu hemisfério direito revelava-se capaz de reagir a comandos verbais. No caso VP, quando o autor a conheceu, já havia sido submetida à operação. Neste caso, esta tinha sido efectuada em duas fases – primeiro a metade anterior do corpo caloso e depois a metade posterior – (em que a metade anterior do corpo caloso fora seccionada aproximadamente 10 semanas antes de o mesmo ser feito à metade posterior). O seu hemisfério direito estava especializado em determinadas tarefas e o seu hemisfério esquerdo não tinha conhecimento do que se passava no direito. Tal como PS, VP possuía uma enorme competência linguística no hemisfério direito. VP também conseguia executar ordens, embora a princípio não conseguisse falar a partir do seu hemisfério direito, era capaz de escrever mensagens sobre a informação que era apresentada ao seu hemisfério direito desligado. JW é um outro caso referenciado pelo autor. Tal como PS e VP, JW conseguia compreender a linguagem no seu hemisfério direito, mas no geral não era tão competente (hábil). Apesar disto, ele apresentava todas as outras características habituais da separação dos hemisférios. Portanto, o que o autor concluiu com estes três casos foi que: após a intervenção cirúrgica, é normal verificar-se que o hemisfério esquerdo continua a possuir as suas faculdades de discurso. A informação apresentada ao campo visual apropriado ou os objectos que são colocados na mão direita, tudo isto é identificado com a facilidade habitual.
  • 17. Mas, à excepção destes casos apresentados (PS, VP e JW), a informação projectada no hemisfério direito não obtém qualquer reacção. O hemisfério direito não possui a faculdade da linguagem e, a par com isso, revela uma inactividade impressionante. (Isto não significa que estes hemisférios direitos não possuam sistemas especializados. Podem-nos ter, só que torna-se praticamente impossível demonstrar a sua existência num sistema cerebral que é tão incapaz de reagir abertamente). (Em testes efectuados a estes pacientes, sabia-se que a informação apresentada a um só hemisfério do paciente ficava inacessível ao outro (e esta ideia foi tomada como modelo de como a consciência procede com a informação gerada por um esquema mental inconsciente). Numa experiência (feita a estes pacientes) foram dadas instruções ao hemisfério direito para que produzisse uma determinada resposta. O hemisfério esquerdo observou a resposta, mas não sabia porque ocorria. Depois perguntavam ao paciente porque tinha reagido como reagiu, mas como só o hemisfério esquerdo sabia falar, a resposta verbal reflectia a compreensão que este hemisfério tinha da situação. Por vezes o hemisfério esquerdo dava explicações como se soubesse porque ocorria a resposta. O paciente atribuía explicações a situações como se tivesse percebido introspectivamente a causa da resposta, quando não era isto que acontecia. O hemisfério esquerdo é confrontado com a tarefa de ter que explicar um comportamento que não foi originado por si, mas sim pelo hemisfério direito dissociado. Chegou-se então à conclusão que as pessoas podem fazer muitas coisas por razões sobre as quais não estão conscientes, porque o comportamento produz-se mediante mecanismos cerebrais que funcionam inconscientemente, e uma das principais tarefas da consciência é fazer com que a vida do indivíduo seja coerente, criando um conceito do eu. Portanto, o ser humano é normalmente impelido a interpretar comportamentos reais e a construir uma teoria sobre a razão porque eles ocorrem.)
  • 18. 12- De que modo o hemisfério esquerdo interpreta as actividades iniciadas pelo hemisfério direito? O autor para tentar responder a esta questão, baseou-se em várias experiências que ele próprio realizou, de entre elas vou explicar uma que é muito relevante para se saber o modo como o hemisfério esquerdo interpreta respostas do hemisfério direito. Não se solicitou ao hemisfério direito que fornece-se uma resposta real, isto é que não executa-se um movimento realmente corporal. Em vez disso fornece-se uma lista de palavras ao hemisfério direito, estas palavras são palavras que o paciente conhece e fazem parte da vida deste. Em seguida pede-se ao hemisfério direito que numa escala de sete pontos relativamente a preferência, que atribua um valor a cada palavra. Neste pré - teste a resposta do hemisfério direito baseia-se em apontar para um conjunto de sete cartões onde se encontram as sete opções. Rapidamente se notou que o hemisfério direito gostava mais de umas palavras do que outras. Numa outra fase do teste, não é permitida a resposta manual. Em seu lugar, o hemisfério esquerdo tem que se exprimir verbalmente após cada palavra ter sido emitida para o hemisfério direito e atribuir uma classificação de um a sete à palavra. Neste caso, o hemisfério esquerdo não tem realmente conhecimento de qual a palavra apresentada. Quando tenta adivinhar, fá-lo em relação a algum sentimento que é gerado pelo hemisfério direito e possivelmente comunicado ao esquerdo através dos restantes percursos cerebrais. A avaliação efectuada pelo hemisfério esquerdo, das palavras apresentadas ao hemisfério direito foi praticamente idêntica à que tinha sido directamente dada pelo hemisfério direito. Esta experiência veio revelar que um sistema mental independente, neste caso o hemisfério direito consegue reagir emocionalmente a um estímulo. Ele atribuiu uma valência, ou valor a um estímulo, e esse valor quer positivo, quer negativo, consegue ser comunicado ao sistema verbal do hemisfério esquerdo, sem que no entanto, o hemisfério esquerdo consiga dizer que estímulo foi aquele que desencadeou a resposta emocional específica. Conclusão: As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral levam-nos, todas elas, a concluir que o cérebro está organizado de forma modular e cada um dos módulos é capaz de produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o sistema verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu significado.
  • 19. O hemisfério esquerdo dominante está empenhado na tarefa de interpretar tanto os nossos comportamentos mais evidentes como as reacções emocionais menos manifestas, que são produzidos por estes módulos independentes mentais do nosso cérebro. Ele elabora teorias sobre o porquê da ocorrência desses comportamentos e fá-lo devido àquela necessidade do sistema cerebral em manter a coerência em todos os nossos comportamentos. Para finalizar, podemos ainda dizer, que o cérebro está organizado em termos de módulos de processamento independentes, e cada um deles gera comportamentos. Estes comportamentos que tanto pode ser internamente executados como externamente orientados são então interpretados por procedimentos especiais não linguísticos, normalmente presentes no hemisfério esquerdo. O módulo «interprete» vai então comunicar a hipótese que formulou acerca da relação causal entre os factos, aos centros de linguagem localizados também no hemisfério esquerdo, ao qual chamamos de hemisfério «falador». 13- Diga a que conclusões chegou o autor após as inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral. Chegou-se a conclusão que quando se divide o cérebro deixa de existir comunicação entre os dois lados do cérebro, devido ao facto das funções da linguagem se localizarem normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é capaz de falar de coisas que o hemisfério esquerdo conhece. Geralmente um paciente com dissociação cerebral consegue nomear a informação que lhe é apresentada no campo visual direito, mas não quando ela é no esquerdo. As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral leva-nos todas elas a concluir que o cérebro está organizado de forma modular e que cada um dos módulos é capaz de produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o sistema verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu significado.
  • 20. 14- No livro, o autor apresenta um exemplo de um sujeito que ao fim de um dia em que tudo parece estar a correr bem, acorda na manhã seguinte deprimido sem que haja aparentemente qualquer razão para tal facto. Refira, de acordo com o autor, o porquê desta mudança. Como afirma Gazzaniga, este é um exemplo da vida quotidiana, segundo este o cérebro mental está organizado em centenas ou até mesmo milhares de sistemas de processamento modulares, e que esses módulos só conseguem habitualmente exprimir- se através de actos reais e não de uma comunicação verbal, assim estes sistemas têm a capacidade de recordar-se de acontecimentos, armazenar as reacções afectivas a esses acontecimentos e reagir a estímulos associados a uma lembrança específica. Gazzaniga explica esta mudança dizendo que um módulo não verbal foi de alguma forma activado e em que as associações emocionais dos acontecimentos armazenados nesse módulo foram comunicados ao sistema emocional do cérebro; pois todos os seres humanos estão constantemente a ser condicionados no sentido de ter reacções emocionais específicas, e os módulos do cérebro que armazenam, essa informação podem ser activados e levados a exprimirem-se por diversas razões. Assim neste caso especifico de depressão matinal de terça-feira é um humor negativo que se sente, o que leva a que este comece a interpretar mais negativamente os acontecimentos anteriores mesmo sendo neutros ou até mesmo positivos, como resultado de ter que explicar essa disposição. Este caso, é um caso evidente de subtis manipulações de humores e o modo como eles interagem para assim fazer alterar as nossas opiniões sobre coisas, pessoas e acontecimentos. Mas a sua teoria estende-se a comportamentos manifestos e é dado o seguinte exemplo: um homem casado que acredita na fidelidade vai a uma festa. Bebe uns copos a mais e vai para a cama com Suzy. O que ele fez foi participar num comportamento que vai contra aquilo em que acredita. Como é que vai explicar o seu comportamento? De acordo com o autor, o que aconteceu foi a alteração do seu juízo de valor sobre a fidelidade no casamento, ou seja muitas pessoas são conseguem viver num estado de desacordo entre uma crença e um comportamento, através de um poderoso mecanismo psicológico, algo terá de ceder e, normalmente é a crença.
  • 21. 15- Em que consiste o teste Wada? No teste WADA é injectado um anestésico de curta duração nas artérias do cérebro. Devido ao modo como os vasos como os vasos cerebrais estão organizados, o produto espalha-se por um dos hemisférios e não pelo outro. Esta técnica permite que se adormeça temporariamente um dos hemisférios enquanto o outro permanece acordado. Foi concebida com o objectivo de assegurar ao neurocirurgião que o hemisfério que, à partida parece ser dominante em termos de linguagem, o é na realidade. O teste tem como resultado que o hemisfério esquerdo, normalmente aquele que possui competência verbal, fica incapaz de responder a ordens verbalizadas ou de produzir discurso. Quando o anestésico é injectado no hemisfério não dominante, estes processos não são atingidos. Acontece por vezes que há surpresas, e é muito importante que se esteja completamente seguro sobre qual dos hemisférios é dominante em termos da linguagem, caso se esteja a contemplar uma intervenção cirúrgica. Nesta experiência, do teste WADA, o paciente está deitado totalmente consciente, numa marquesa, esta é comandada electronicamente de modo a que o paciente possa ser deslocado na horizontal sob a maquina de raios X, para permitir que o seu corpo e a sua cabeça sejam fotografados. Originalmente colocava-se uma agulha directamente na carótida, uma artéria que percorre a parte lateral do pescoço. A carótida, uma artéria que percorre a parte lateral do pescoço. A carótida esquerda constitui a principal alimentação do hemisfério esquerdo e a carótida direita a do hemisfério direito. Este método deixou de ser usado porque, em alguns casos, a agulha trazia uma substância (chamada placa) da parede da artéria que era em seguida introduzida no cérebro, causando um bloqueio ou um enfarte que culminava num acidente vascular cerebral. Actualmente é colocado um cateter numa artéria da perna em direcção ao pescoço para finalmente, alcançar a carótida num dos lados do cérebro. Deste modo, se a introdução da agulha na artéria fizer com que uma placa se solte, é uma artéria da perna que fica bloqueada, algo muito menos grave do que um bloqueio numa das artérias do cérebro. O neurorradiologista insere o cateter e acompanha o seu percurso até ao cérebro, guiando-o através das artérias e afastando-o de desvios e becos sem saída. O paciente observa o progresso do cateter pelo mesmo monitor que o medico.
  • 22. Quando finalmente o cateter chega ao seu destino, está tudo a postos para se dar inicio ao teste WADA. As mãos do paciente são mantidas no ar. Quando o produto começa a fazer efeito, a mão do lado oposto ao do hemisfério anestesiado cai, num estado de paralisia temporária. O outro hemisfério está acordado, tal como o aparelho motor do lado oposto do corpo. 16- Lesões na zona parietal direita podem originar uma grande diversidade de perturbações, como por exemplo, a translocalização em que o módulo funciona deficientemente. Explique por que é que o módulo passa a funcionar deficientemente? O cérebro esta organizado de tal modo que a informação se encontra armazenada em módulos. Estes módulos podem efectuar cálculos, recordar, sentir emoções e agir. A forma em que existem faz com que não lhes seja necessário estar em contacto com os sistemas de linguagem natural e cognitivo, subjacentes ao acto consciente. Em sentido mais amplo, aquilo que são considerados actos conscientes, são as recordações verbalmente etiquetadas que estão associadas às interpretações que atribuímos aos nossos comportamentos. A paciente Mrs Smith é um dos exemplos que aponta na direcção da teoria modular. Esta apresentava lesões na zona parietal direita. Lesões situadas nesta região podem originar uma grande diversidade de perturbações, entre as quais a tranlocação. Ela era uma doente do Dr. Jerome Posner, do Memorial Sloan-Kettering em Nova Iorque. Este telefonou a Gazzaniga um dia a dizer que tinham de ir ver esta doente e, devido aos seus sintomas gravaram em vídeo a sessão de testes. Mrs. Smith encontra-se no Memorial Hospital para ser submetida a uma intervenção cirúrgica ao cérebro. Embora fosse uma mulher inteligente, com grande encanto e vivacidade, julgava estar em Freeport, no Maine. Um dia na converssa com Gazzaniga este perguntou- lhe onde estava, e ela respondeu-lhe, que estava em Freeport, no Maine, ele apontou para os elevadores e perguntou-lhe o que era aquilo; ela respondeu: aquelas coisas são elevadores, nem calcula quanto me custou pô-los na minha casa. Mas respondeu também sabe uma coisa desde que aqui cheguei para ser operada ao cérebro, não havia médico que não me pergunta- se onde eu estava, e eu respondia que estava spr em Freeport, no Maine. Cada vez que eu dizia isso corrigiam-me e afirmavam que eu me encontrava no Memorial Sloan-Kettering, em
  • 23. Nova Iorque. Qd isto já se arrastava hà uma semana, Dr. Posner disse-me p eu responder que estava em Nova Iorque. No fundo, eles não se importavam nada se eu acreditava nisso ou não. Este é um caso de uma mulher inteligente com um módulo a funcionar deficientemente como resultado da sua lesão cerebral. A contribuição desse módulo consistia em fornecer informação sobre a sua localização em tempo real no espaço. Ou seja, a disfunção desse módulo forçava-a a ter que explicar determinados factos bizarros relativamente á sua localização no espaço, algo que ela fazia sem hesitação. 17- O hemisfério direito do Homem não possui habitualmente a faculdade da linguagem. Os três pacientes referidos pelo autor anteriormente (J.W.; P.S. e V.P.), por razões ainda não muito claras, possuem competência linguística no hemisfério direito e dado que os dois hemisférios estão desligados, este afirma que se consegue estudar aquilo que a linguagem confere ao sistema neuronal que habitualmente não a possui. Permitirá a linguagem que o hemisfério direito faça tudo aquilo que ela permite ao esquerdo? Nestes três pacientes, o sistema de linguagem aparenta ser muito fluido. Todos eles possuem um léxico rico, não sendo o do hemisfério direito significativamente diferente do do esquerdo. Dois dos pacientes conseguem também efectuar um certo processamento sintáctico e dois deles possuem competência verbal e linguística no hemisfério direito. Um exemplo fascinante de um caso ocorrido com J.W., que é um paciente que compreende tanto a linguagem escrita como a falada com o seu hemisfério direito, embora não consiga, por enquanto, falar a partir dele. O autor emite uma palavra para o seu hemisfério direito e, para que ele indique se captou a palavra e os seus vários significados, o autor pede-lhe apenas que desenhe com a sua mão esquerda uma imagem da palavra que o autor mostrou. O paciente protesta que a instrução do autor não tem sentido, porque o hemisfério esquerdo não viu absolutamente nada e assim, como é que ele pode desenhar seja o que for? O autor tenta persuadi-lo e diz ao paciente para deixar a sua mão esquerda tentar. Assim, ele desenha com toda a precisão uma imagem que representa a palavra emitida, que foi bicicleta. No entanto, o paciente diz que não sabe por que desenhou aquilo e que o desenho da bicicleta lhe parece um pássaro. Esta é uma situação experimental em que o hemisfério esquerdo não viu nada. Ele não recebeu qualquer estímulo. Para demonstrar mais uma vez a competência linguística do seu hemisfério direito, o autor
  • 24. pediu a J.W. que em vez de desenhar a palavra emitida, desenhe a imagem daquilo que se costuma pôr por cima dela. A palavra emitida foi cavalo e o desenho foi uma sela. Depois pede-se ao paciente que desenhe a palavra emitida e ele desenha o cavalo, exclamando que aquilo então era uma sela. Se alguém observasse o modo como o hemisfério direito de J.W. responde às questões, diria que ele possui os requisitos necessários para ser consciente no sentido humano da palavra. E, no entanto, este hemisfério, embora tenha todas essas capacidades linguísticas, não consegue fazer uma simples inferência. Se o autor apresentar as palavras alfinete e dedo ao seu hemisfério direito para que J.W. as combine de modo a obter um novo significado ou fazer uma simples inferência dessas duas palavras, o hemisfério direito fracassa. A tarefa é simples, porque a palavra sangrar encontra-se defronte do paciente a par com outras opções possíveis. Se for a partir do hemisfério direito, ele responde ao acaso, enquanto que o seu hemisfério esquerdo considera a tarefa trivial. E mais espantoso ainda é que se for emitida a palavra sangrar, o hemisfério direito consegue defini-la. Apresenta ainda outras incapacidades importantes, como o não resolver puzzles geométricos simples. O que concluir? Primeiro, que um sistema de linguagem rico não significa necessariamente que exista conhecimento. A linguagem enquanto linguagem pouco significado tem. Há outros sistemas que coincidem com a linguagem e que são os que efectuam os verdadeiros cálculos e as tomadas de decisão. A linguagem apenas transmite os resultados destes outros processos que existem concomitantemente com ela no hemisfério esquerdo, mas que parecem estar ausentes do hemisfério direito. Existem sistemas neuronais únicos no hemisfério esquerdo dos seres humanos que compelem o sistema cerebral, que comunica com o meio exterior, a conferir sentido aos diversos comportamentos produzidos pelos seres humanos. Inerentes a este processo encontram-se as crenças das pessoas sobre a natureza do seu eu, que se tornam tanto mais multidimensionais quanto mais diversificados forem os comportamentos dos módulos mentais. Ainda de acordo com o autor, a presença de crenças na nossa espécie resulta da forma como o cérebro está construído.
  • 25. 18- Relativamente à forma como o cérebro exprime as recordações, o autor apresenta o exemplo do seu próprio pai, que sofreu um AVC no hemisfério esquerdo, resultando daí aquilo que os psicólogos designam por “dissociação”. Explique este caso específico. O AVC que o pai do autor sofreu no hemisfério esquerdo, embora pequeno, foi o suficiente para o deixar incapacitado temporariamente. Em 24 horas, um homem enérgico e vibrante transformou-se numa pessoa às portas da morte. Ficou totalmente afásico e incapaz de obedecer a uma instrução, quer escrita quer falada, por mais simples que fosse. Subitamente, todo este processo começou a regredir e com o passar dos dias todas as suas faculdades regressaram. O que realmente lhe tinha acontecido era que o AVC tinha sido afinal um enfarte num pequeno ramo arterial de uma das artérias cerebrais posteriores, e o efeito reticular causara mais propriamente uma dilatação do tecido contíguo do que uma lesão real. À medida que essa dilatação diminuía, o tecido neuronal e as redes circundantes começaram novamente a funcionar. Posto isto, durante o período de convalescença do senhor, o autor resolveu fazer-lhe uma série de observações. Pediu ao pai que identificasse uma série de objectos do quarto em que se encontrava. Tudo corria bem até que lhe mostrou um cravo. Neste caso o senhor disse então que não sabia o que isso era. No entanto, o mais extraordinário era que foi capaz de dizer que era uma flor e de a descrever. Mesmo após o autor ter pronunciado três palavras, sendo uma delas a palavra cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor. Depois do autor lhe dizer que a resposta certa seria cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor. Passados alguns momentos Gazzaniga perguntou ao pai se se lembrava de qual era a flor que tinha plantado na sua casa no fim-de-semana anterior. Não conseguiu dizer qual era, no entanto fez uma descrição pormenorizada do local e dia em que a tinha plantado, assim como quem estava presente nesse momento.
  • 26. O facto dele ser um excelente jardineiro e da flor em causa ser uma das suas preferidas, não contribuiu para que a situação melhorasse. Mesmo depois do autor ter dito o nome tudo continuou na mesma. Cerca de seis horas mais tarde, o senhor começou a dizer o nome de cada uma das plantas da sala onde se encontrava, o seu género e espécie, voltando tudo ao normal. Esta fase específica é, portanto, chamada pelos psicólogos por “dissociação”. Entre aspas porque na verdade a dissociação que ocorreu deu-se devido ao AVC e não devido a uma operação de dissociação aos hemisférios. O autor explica este fenómeno. O pai do autor não conseguia dizer o nome da flor, no entanto, era capaz de fornecer todas as outras informações acerca dela. O que acontecia era que os circuitos, módulos que processam estes aspectos do estímulo, se encontravam a funcionar. O que não funcionava era o módulo, ou o circuito neuronal, que armazenava o nome. (Não era apenas uma simples questão de identificação porque, embora ele conseguisse designar outros objectos com facilidade, não reconhecia um objecto em particular, mesmo que alguém lhe dissesse o seu nome.) Este tipo de observação não só apoia a tese da modularidade, como também sugere que as modularidades são altamente específicas. O tempo, o espaço, o afecto entre outras dimensões de um estímulo têm todos que estar codificados, e aparentemente estão-no em diferentes áreas do cérebro. 19- O autor apresenta o caso do paciente H.M. que sofria de epilepsia não controlada. Naquela época (1950) pensava-se que a remoção cirúrgica do hipocampo iria mitigar esta doença. No entanto, os efeitos na sua memória foram devastadores. Explicite tais consequências. H.M. Foi um dos primeiros doentes epilépticos e dos últimos a ser submetido a uma intervenção cirúrgica deste género. Como é característica dos amnésicos, h.m. Não se conseguia lembrar de nada por mais de dez minutos. Uma série de testes formais à memória foi-lhe ministrada, e esses testes vieram confirmar a sua história clínica qualitativa e forneceram os perfis quantitativos exactos da sua profunda patologia. A partir desses resultados chegou-se à conclusão que havia um
  • 27. fundamento neurológico real para a concepção dos psicólogos experimentais de um processo faseado na formação da memória. Haveria então um sistema de memória de curto prazo que recebia a informação nova, a testava e em seguida a transferia para ser armazenada na memória de longo prazo. A estrutura que está profundamente envolvida nesta transferência da memória de curto prazo para a armazenagem de longo prazo é o hipocampo. H.m. Consegui-a evocar acontecimentos passados pois a sua memória de longo prazo estava intacta, e recordar- se de informação recente num curto espaço de tempo, cerca de dez minutos, mas não conseguia transferir essa informação do sistema de curto prazo para o de longo prazo. Esta análise demonstrou que uma lesão cerebral específica numa região específica (o hipocampo) produzia uma amnésia anterógrada. Todos aqueles acontecimentos ocorridos após a lesão se ter verificado eram codificados na memória, na medida em que a lesão provocara uma disfunção no sistema cerebral que consolida a informação. H.m. Aprendeu a «desenhar ao espelho», ou seja, aprender a melhorar as suas aptidões gráficas ao olhar para figuras geométricas através de um espelho que invertia a percepção das formas. Deste modo, quando a mão guiava o lápis para o canto esquerdo de um rectângulo, era reflectida no espelho como movendo-se para o direito. H.m. Aprendeu a executar esta tarefa, conseguindo manter a sua boa execução de um dia para o outro, embora não se recordasse de que a efectuara anteriormente. Podemos concluir deste exemplo, que uma espécie qualquer de informação tinha conseguido inserir-se no se cérebro e que o fracasso em armazená-la não era total. As tarefas que h.m. Tinha originalmente que executar implicavam uma componente motora muito forte, constituindo uma prova de que a memória relativa aos actos motores era diferente daquela que dizia respeito a acontecimentos mais episódicos. 20- Como aparecem os problemas de memória? Problemas de memória são vulgares nos idosos e manifestam-se na demência. Aparecem em alcoólicos e como resultado de traumatismos cranianos. Verificam-se muitas vezes problemas de memória após uma paragem cardíaca, na sequência de acidentes cardiovasculares, no aparecimento de tumores cerebrais e em inúmeros outros problemas, tais como herpes simplex encephalitis.
  • 28. 21- Refira os progressos da neurorradiologia referidos no livro. A TAC (tomografia axial computorizada) foi inventada pelos ingleses e parcialmente financiada pelos Beatles. Este dispositivo tornasse bastante notável, e tem como função fazer incidir os raios x e quase todos os planos e cabeça que se torna necessário estudar para detectar a presença de tecido patológico, por exemplo os pacientes de memoria podem através da TAC ser neurologicamente melhor definidos, ou seja podem detectar em que tecido está a patologia e assim poder-se fazer um tratamento eficaz. Contudo a TAC regista apenas as lesões ínfimas ou seja podem estabelecer-se correlações ilegítimas entre uma perturbação de memória e as estruturas cerebrais que são responsáveis por ela, podendo assim deixar escapar totalmente lesões reais, não são por isso, suficientemente precisas. No entanto, existe um outro dispositivo, o aparelho de tomografia por emissão de positrões, também conhecido por Pet scanner, que tal como a TAC, tira fotografias do cérebro vivo em diversos planos, no entanto a TAC apresenta perfis do modo como o cérebro está na realidade a funcionar, isto através de uma medição precisa de parâmetros biológicos como o nível de fluxo sanguíneo, o metabolismo celular ou o volume de sangue que é fornecido a áreas especificas. Tudo é efectuado por meio de câmaras especiais, sensíveis à radioactividade que foram estrategicamente colocadas em torno da cabeça de modo a poderem detectar-se compostos marcados de radioactividade que foram previamente injectados ou inalados pelo paciente. Assim estes compostos como visam medir coisas diferentes assim também são diferentes quanto à sua natureza química, mas tem em comum a facto de os químicos os terem formulado como compostos emissores de positrões, ou seja um composto emite um positrão que vai colidir com um electrão e é aniquilado. Desta colisão resultam 2 raios gama que saem em seguida do tecido cerebral num ângulo de 180º, a câmara sensível à radiação detecta esses raios e transmite-os para um enorme computador que, por sua vez calcula em que local do cérebro esse acontecimento se deu, é reconstruída assim uma imagem que pode dizer-se que é um mapa metabólico do cérebro vivo. Um outro dispositivo de imagiologia fez a sua entrada na medicina, este baseado no princípio de Ressonância Magnética Nuclear (NMR); as imagens que este aparelho consegue produzir são deslumbrantes e expõem detalhes prodigiosos da estrutura anatómica. Revela por exemplo, se numa pessoa com
  • 29. dissociação cerebral, esta é ou não total. Pode dizer-se em jeito de conclusão que neste momento existe uma tecnologia médica que permite uma medição mais sensível das patologias cerebrais o que facilita também a utilização para a localização dos nossos módulos ocultos, por exemplo o PET desvendou patologias cuja a detecção através da TAC havida falhado completamente. 22- Como é que a relação entre a energia psicológica e a energia biológica poderão estar deterioradas no caso de amnésia? Talvez porque alguns dos processos psicológicos automáticos, como a codificação temporal da informação, tentem reunir os recursos energéticos diminuídos de um cérebro lesionado. Podendo haver nos pacientes um decréscimo global da actividade biológica do cérebro representado por uma redução geral do fluxo sanguíneo. Uma possibilidade é a de que estes marcadores biológicos possam permitir a identificação dos módulos específicos que participam nos diversos aspectos do funcionamento da memória. 23- Especifique a forma como Gazzaniga adapta a teoria de Freud à teoria modular. Sempre houve teorias acerca do comportamento humano, as mais importantes das quais forma formuladas por Freud. A sua teoria geral da psicodinâmica abunda em hipóteses sobre as causas subjacentes ao nossos comportamento e sobre as nossas vidas privadas mentais. Um dos princípios básicos da teoria freudiana é o de que os processos inconscientes são importantes na orientação do comportamento. Estes processos inconscientes podem reflectir atitudes que nós não desejamos admitir que possuímos. E, no entanto, muitos dos nossos actos são explicados por essas atitudes e pela nossa necessidade de satisfazer esses impulsos. À sua maneira, Freud pressagiou/anteviu muita da moderna teoria cognitiva. Ele recusava-se a aceitar a noção de um processo consciente unificado e já defendia, no princípio deste século, um sistema mental diversificado e compartimentado. Gazzaniga diz que se pode facilmente adaptar as ideias de Freud à teoria dos módulos se for substituído o seu conceito de “processo inconsciente” pela ideia que expõem de
  • 30. “módulos mentais co-conscientes mas não verbais. Porém, uma tendência para reagir ou uma decisão para actuar, por parte de um módulo mental não verbal, não é inconsciente. É até muito consciente, muito capaz de realizar um acto. Uma das suas características, a de não poder comunicar internamente com os sistemas de linguagem e de conhecimento do hemisfério dominante, não devia ser codificada de “inconsciente”. A não ser com aquela única correcção à formulação de Freud, muito daquilo que ele afirma que é importante na vida mental pode ser analisado à luz dos modernos termos mecanicistas. Na actual psicologia experimental, começou recentemente a ser posto em evidencia o conceito de processamento inconsciente. Operacionalmente, isto significa que estão a ser aplicados aos pacientes estímulos experimentais, a que eles são incapazes de referir verbalmente, mas que, no entanto, influenciam no modo como reagem subsequentemente. É a versão científica do velho fenómeno da percepção subliminal. A par com isto encontra-se a noção dos processos automáticos. À medida que novas informações vão sendo armazenadas nos nossos cérebros, processos automáticos asseguram a sua marcação de acordo com o momento, no tempo, em que ocorreram. Atribuir uma ordem temporal às informações é um processo inconsciente que, no entanto, ocorre normalmente durante o estádio de vigília consciente. 24- Holtzman e Gazzaniga efectuaram uma experiência com J.W. com o objectivo de esclarecer questões sobre os processos inconscientes relacionados com a teoria modular. Explique suscintamente em que consistiram essas experiências. Foi pedido a J.W. que fixasse um ponto e emitiu-se um 1 ou um 2 no hemisfério esquerdo ou no direito. Quando o número é projectado no hemisfério esquerdo é identificado verbalmente sem dificuldade. O que é intrigante é que, tendo o hemisfério esquerdo do sujeito conhecimento de que o hemisfério direito também está a ver um 1 ou um 2, consegue dizer com precisão qual dos dois números está a ser projectado no hemisfério direito quando se faz o teste a este. Por várias razões sabe-se que o hemisfério direito de J.W. não possui competência verbal. Mas, de alguma forma o hemisfério direito consegue formular o comportamento verbal correcto no esquerdo. Será possível que o hemisfério direito tenha tido acesso ao sistema verbal/motor esquerdo e aí depositado a informação correcta para a resposta verbalizada, mas que essa informação não esteja acessível ao processo consciente do
  • 31. hemisfério esquerdo? Este estudo sugere que ao se emitir o número 1 ou 2 para o hemisfério esquerdo, se ele é capaz de aceder à informação no sistema de linguagem, deveria também ser capaz de acertar na resposta correcta. Porém, ele não o consegue. Neste tipo de tarefa, o hemisfério esquerdo actua aleatoriamente. Esta dissociação evidencia que um sistema consciente não tem acesso a toda a informação que rege aquilo que se considera ser uma reacção consciente. 25- Em que consiste o fenómeno visão cega? A “visão cega” é uma patologia observada em doentes que sofreram lesões nos centros visuais corticais do cérebro. Pensa-se que as áreas do cérebro que processam a informação visual se encontram nos lobos occipitais, localizados na região posterior do crânio. »»» A informação chega a esses centros por intermédio da retina que, (através de uma intrincada rede de relés neuronais no seu próprio seio,) envia a informação em primeiro lugar para o corpo geniculado lateral. Este é uma estrutura laminar (em camadas) no tálamo e constitui a primeira paragem no caminho para o (todo poderoso) córtex visual primário. Este (córtex visual primário) recebe informação exclusivamente do mesencéfalo, do corpo geniculado lateral e que, após processar essa informação, ele envia para outras áreas corticais a fim de ser submetia a uma análise posterior. Segundo esta representação simplista que o autor apresenta, do sistema visual, quando um indivíduo sofre uma lesão no lobo occipital fica cego. A ligação mais importante entre o olho e as outras regiões do cérebro fica interrompida devido à lesão. No entanto, os primeiros relatos clínicos sobre a “visão cega” afirmavam que estes pacientes conseguiam ver imperfeitamente nessa vasta mancha cega. E, o que era mais interessante na natureza dessa visão, era o facto de eles conscientemente afirmarem que não conseguiam ver nada. No entanto, se se lhes pedisse que apontassem, quer com os olhos, quer com as mãos, para um estímulo apresentado na mancha cega, tanto a mão como os olhos se desviavam para a direcção correcta, daí o termo “visão cega”. Sintetizando, os pacientes que sofrem de “visão cega” têm lesões no lobo occipital e ficam cegos e quando lhes é solicitado que apontem com os olhos e com a mão para a
  • 32. direcção de um estímulo apresentado na mancha cega, desviam os olhos e a mão na direcção correcta. 26- Qual a contribuição da experiência efectuada a B.H. que sofria de visão cega para um melhor conhecimento do cérebro? B.h. Era uma mulher que tinha sofrido de aneurisma no lobo occipital direito. Ia ser submetida a uma intervenção cirúrgica para a reparação da artéria deteriorada e durante a operação, dada a localização do aneurisma, teriam de ser sacrificados segmentos dos lobos occipital direito. Como consequência, partes da visão do seu campo visual esquerdo tornar-se- iam não funcionais ou cegas, embora as suas outras estruturas visuais permanecessem intactas e normais. Sofria então de visão cega como denomina o autor. Holtzman com o seu medidor de olhos contribuiu para que a experiência se realizasse. Este sistema consiste num dispositivo altamente sensível que mede a posição exacta dos olhos. Holtzman com o seu dispositivo queria limitar estímulos visuais apenas à mancha cega que resultara da lesão cirúrgica. Se a luz dos estímulos se propagasse para a parte sã da retina, qualquer afirmação de processamento visual em termos de visão cega ficaria comprometida. Com este aparelho, se o paciente move os olhos de modo a que o estímulo fique dentro da zona sã da retina, o computador detecta o movimento no seu início e imediatamente apaga a emissão do estímulo. A experiência baseava-se então em quatro x dispostos em forma de um quadrado eram apresentados à mancha cega do campo visual do paciente. Seguindo uma determinada instrução, um dos quatro x era iluminado, devendo o paciente mover os seus olhos na sua direcção. Observou-se que quando o teste era feito no seu campo visual bom ela executava-o na perfeição. Contudo quando b.h. Tentou efectuar a experiência com a luz na mancha cega do seu campo visual, e foi de facto incapaz de levar a cabo, sem ser após de milhares de tentativas. B.h. Possui-a também todas aquelas estruturas ou seja, os outros módulos. E daqui surge o porquê destes não se encarregarem de executar esta tarefa? Pensou-se então que talvez o módulo localizado na parte mediana do cérebro só funcionasse quando recebia informação do córtex visual que se encontra por cima. Ou seja é devastador um módulo trabalhar
  • 33. isoladamente. Em geral os módulos funcionam como parte de um sistema interactivo alargado. Baseando-se em também noutras experiências feitas em pacientes com dissociação cerebral, notou-se que o hemisfério esquerdo não conseguiu comunicar verbalmente qual dos x tinha sido iluminado no campo visual esquerdo. O campo visual esquerdo projectar para o hemisfério direito não trouxe qualquer surpresa, mas a surpresa foi a descoberta de que quando o hemisfério esquerdo era solicitado a mover os olhos para o x no campo visual direito, que correspondia ao x que estimulara o hemisfério oposto, os olhos deslocavam-se para a posição correcta. Dava então a entender que os módulos sub corticais conseguiam desempenhar esta tarefa e que o faziam fora do mecanismo de controlo consciente. Deste modo constatou-se o modo como a informação sobra a localização espacial é tratada por um só destes módulos e como ele controla os olhos permitindo uma resposta coordenada. Confirmou-se ainda que os módulos que tratam a informação espacial são diferentes dos que manipulam a informação perceptual. Por exemplo, se no caso de termos os x tivéssemos figuras geométricas, a comparação entre os hemisférios deixava de ser possível, pois os módulos sub corticais apenas tratam da informação espacial, não da geométrica. 27- Cortando-se o corpo caloso em duas secções, pode-se estudar o fenómeno de transferência parcial. J.W. é um exemplo deste processo. Explicite este caso. J.W. foi o primeiro paciente a ser submetido a uma intervenção e em que foi acompanhado em todos os passos do processo. Apenas se cortarem parte dos cabos neuronais porque permite examinar a possibilidade de uma transferência parcial da informação, isto é, se são apenas alguns dos módulos que conseguem comunicar do hemisfério direito para o esquerdo. 1º foi efectuado a J.W. um teste pré-operação, em que eram projectadas palavras e imagens de toda a espécie para cada um dos hemisférios e, tal como um cérebro intacto e normal o faria, o hemisfério esquerdo conseguia comunicar instantaneamente a informação visual que era apresentada exclusivamente ao direito. Verificaram que todos os cabos entre os seus hemisférios estavam a funcionar. De seguida J.W. foi submetido a operação em que 1º seccionaram a parte posterior do corpo caloso, ao fazer-se isto esta a desligar a parte do sistema visual que normalmente
  • 34. transmite para o hemisfério esquerdo a imagem sensorial real de um estimulo que foi apresentado ao hemisfério direito. Os dois lobos occipitais deixam geralmente de conseguir comunicar directamente entre si a informação sensorial primária. Neste caso especifico os estímulos do hemisfério direito registavam uma precisão de apenas 28 %. Contudo, com o passar do tempo, essa passagem aumentou e J.W. chegou a conseguir identificar bastante bem os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Concluíram com este caso que não parecia estar a haver transferência da informação- base sobre o estimulo. O hemisfério esquerdo obtém pedaços de informação e em seguida arrisca uma resposta sobre aquilo que o estímulo poderá ser. Ex: palavra “cavaleiro ” e o hemisfério esquerdo, o que possui competência verbal, desenvolveu uma estratégia para lidar com determinados aspectos cognitivos do estímulo, que pareciam não estar a ser transmitidos, e respondia:”Tenho uma imagem na minha mente, não consigo dizê-la.” Algumas semanas depois completaram o seccionamento do feixe de fibras e J.W. perdeu a faculdade de identificar os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Era como se os diversos módulos do hemisférico direito que processavam as associações cognitivas dos estímulos tivessem deixado de ter acesso aos restantes feixes de fibras entre os hemisférios. Mas convém salientar que J.W. é um caso pouco comum pois o seu hemisfério direito é capaz de processar estímulos verbais. 28- Refira as conclusões retiradas das experiências efectuadas a J.W.; P.S. e V.P.? As conclusões retiradas das experiências efectuadas foram elaboradas após os pacientes terem sido submetidos (NMR) em que nos casos de J.W. e P.S. revelaram estar totalmente dissociados, em que a imagem mostrava nitidamente que o corpo caloso tivera sida completamente seccionado, porém no exame NMR do paciente V.P., este revelou inadvertidamente que o cirurgião tinha poupado uma porção diminuta do corpo caloso posterior e uma porção igualmente pequena do corpo caloso anterior, estes dois segmentos encontram-se afastados um do outro e estão implicados em diferentes funções, o posterior em funções visuais. Tal como acontecia com J.W., V.P. não efectuava a transferência de informação perceptual, o que levava a pensar que não restara parte do corpo caloso suficiente que desse azo àqueles processos, desta forma pensa-se que o corpo caloso anterior possa
  • 35. estar implicado na transferência da informação semântica neste tipo de casos. Por exemplo V.P. é incapaz de ajuizar se duas palavras uma das quais apresentada ao hemisfério esquerdo e outra ao direito, estão relacionadas. 29- Para explicar a forma como os preconceitos humanos se enraízam, ou, pelo contrário desaparecem do nosso sistema de crenças o autor recorre à teoria de dissonância cognitiva de Festinger. Explique em que consiste esta teoria. Compreender os processos mentais que dão origem a crenças como preconceitos permite-nos estabelecer um elo entre a nossa actual compreensão dos mecanismos cerebrais e aquilo que sabemos acerca dos processos psicológicos. Muitas das nossas crenças, sobretudo as que adquirimos no princípio da nossa vida, são-nos impostas mecanicamente. Porque as pessoas não conseguem viver num estado de dissonância entre uma crença e um comportamento real, algo terá que ceder, e é normalmente o valor da crença. Este é o ponto fundamental da teoria da dissonância cognitiva de Festinger. O estado de dissonância não é tolerado pelo organismo. Estes conflitos surgem, 2º Gazzaniga, porque o nosso cérebro está estruturado em módulos independentes, cada um dos quais é passível de acção e de executar actividades que testam e contratestam as crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas de linguagem e do conhecimento do nosso hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um módulo mental que formula um comportamento, modulo esse que consegue funcionar independentemente do sistema dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo. 30- Aquilo que, todavia, nunca fica bem claro na teoria da dissonância é a razão pela qual um organismo adopta, à partida, um comportamento que é antagónico a uma crença. Por que razão surgem todos estes conflitos? 2ºFestinguer a teoria da dissonância refere que quando uma crença e um comportamento entram em conflito, ou a crença muda para se adaptar ao comportamento, ou é o comportamento que se altera para se harmonizar com acrença. É normalmente a crença que sofre a modificação.
  • 36. Segundo Gazzaniga o nosso cérebro está estruturado em módulos independentes, cada um dos quais é passível de acção e de executar actividades que testam e contratestam as crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas da linguagem e do conhecimento do nosso hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um módulo mental que formula um comportamento, modulo esse que consegue funcionar independentemente do sistema dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo. Contudo esta teoria tem outras facetas. Outra das suas implicações é que uma das vantagens de o cérebro estar organizado do modo como Gazzaniga propõe é permitir que os nossos princípios estejam constantemente a ser testados e contratestados. O ser humano que reage e que explora terá maiores probabilidades de estar continuamente a reavivar as suas crenças, ao passo que o sedentário/parado/inactivo as terá em menor grau. Se o cérebro fosse um sistema monolítico, com todos os módulos numa completa intercomunicação interna, então o valor que atribuímos às nossas crenças nunca se alteraria. E a cultura humana estaria assim destinada a repetir os movimentos das gerações anteriores de uma forma reflexa. Por conseguinte, o incessante duelo entre o conhecimento e o comportamento, tão activo na formação de princípios de cada um de nós, emerge como uma característica muito especial da nossa espécie. A teoria da dissonância cognitiva foi formulada à mais de 25anos, e tem resistido à passagem do tempo, os progressos na investigação do cérebro não só sublinham a sua validade, como também sugerem que o ser humano que adopta um comportamento poucas oportunidades teria para um mecanismo alternativo de controlo. O organismo esforça-se por obter coerência entre as crenças que articula e os seus actos. O hemisfério esquerdo interpretativo e dominante tenta manter ordem e coerência entre os seus módulos mentais, (o seu círculo eleitoral mental). Um 2ºaspecto importante da teoria da dissonância, que tem sempre que se verificar para que esta se revele eficaz, é o de que as pessoas devem adoptar livremente o comportamento que entrará em dissonância com uma crença anterior. Por ex. se alguém for forçado , sob ameaça de morte, a cometer um crime, não é de surpreender que a anterior fé da pessoa na lei e na ordem fique intacta. Se, no entanto, alguém for facilmente induzido a cometer um primeiro crime, a sua atitude perante esse tipo de comportamento irá muito provavelmente alterar-se e ele passará a considerar afinal este acto como não tão responsável.
  • 37. Cohen demonstrou que uma justificação externa é insuficiente para adoptar aquilo que os investigadores (Festinger e Carlsmith) designaram por comportamento contra-atitudinal. Na experiência Cohen, solicitou a estudantes de Yale que escrevessem um ensaio sobre a actuação da polícia. Todos os estudantes haviam condenado vigorosamente o comportamento da polícia qd esta dispersara um manifestação de estudantes, pois consideravam que ela se comportara de uma forma demasiado brutal. Os estudantes foram distribuídos por 4grupos, um dos quais recebia 10dólares pelo ensaio, o 2ºgrupo 5, o 3º1 e o ultimo apenas 50centimos. Após terem acabado de escrever o ensaio, procedeu-se à medição das atitudes de cada um dos grupos em relação à polícia. Os estudantes pertencentes ao grupo que recebera a menor soma de dinheiro (justificação externa para as suas acções) eram os mais positivos em termos daquela atitude, ao passo que os outro grupos tinham alterado as suas opiniões em menor grau, sendo que o grupo dos 10 dólares praticamente não as modificara. Os estudos revelam que um comportamento tem que ser fortemente percepcionado como de livre vontade para ter autoridade quando participa na modificação de uma crença. Aqueles comportamentos cuja execução é percepcionada como devendo-se maioritariamente, a pressões exteriores, não desencadeiam o processo de redução de dissonância e, como tal, não ameaçam o sistema de crenças. 31- As teorias mais modernas defendem que a nossa espécie é pessoalmente responsável pelas suas acções e que nós possuímos livre arbítrio. Explicite o conceito de livre arbítrio. A suposição mais directa e relevante da questão do livre arbítrio partiu do inglês Donald M. Mackay. Ele defende que a nossa espécie é pessoalmente responsável pelas suas acções e que nós possuímos livre arbítrio. Ele desenvolve a noção de indeterminação lógica, uma característica particular de uma máquina de processamento de informação tal como o cérebro humano, que encarna um agente cognitivo e é este facto que vem possibilitar o conceito do livre arbítrio. A tese de Mackay aceita o pressuposto da civilização ocidental de que a consciência pessoal é produto de um sistema cognitivo unificado e a acção humana é o resultado de um sistema cerebral monolítico. No entanto, esta formulação pode ser adaptada à teoria dos módulos mentais individuais, em que cada um é passível de acção e resposta. A sua análise podia conferir a indeterminação lógica a qualquer um dos módulos mentais do
  • 38. cérebro. Mas, se por um lado, o raciocínio de Mackay parece conferir bases cientificas sólidas ao conceito de livre arbítrio, por outro lado carece da realidade psicológica que o autor procura, pois não engloba a questão de se saber por que razão os comportamentos autoproduzidos têm influencia nas crenças pessoais, enquanto os condicionalismos expostos do exterior não o têm. Para o autor, o livre arbítrio resulta do facto de o ser humano acreditar que age livremente em 99% dos seus comportamentos, o que implica que o comportamento despoletado por um módulo tenha de ser justificado pelo sistema de crenças da pessoa. Isto sugere que um sistema composto por módulos mentais que agem independentemente uns dos outros, mas que juntos formam uma confederação mental, atribui muito provavelmente a um sistema cognitivo a tarefa de definir e assegurar uma teoria sobre os actos desta. Faz parte deste processo o livre arbítrio do organismo, porque sem ele o sentido psicológico dominante dos seres humanos seria que a vida mental é um caos gerado ao acaso e que nada pode ser justificado, muito menos um comportamento inconsciente. 32- O autor debate as implicações da teoria modular sob a perspectiva arqueológica. Refira que conclusões retirou o autor da análise destes vestígios arqueológicos? Ao estudar a pré-história é possível procurar dados ou pistas de universais primitivos que podem não só contribuir para a descoberta de variáveis cerebrais ou culturais que expliquem a cultura humana, como também, realçar mecanismos cerebrais emergentes, responsáveis pela especialização de funções no hemisfério esquerdo. A teoria do autor é de que os vestígios arqueológicos sugerem que as áreas específicas do cérebro evoluíram de modo a poderem desempenhar funções específicas, que por seu lado, vieram dar origem a novas faculdades na nossa espécie. Estas faculdades, como as da inferência e da estética, estão manifestamente presentes no Homo sapiens sapiens. Sendo que, podemos fazer remontar as suas origens até ao Homo erectus, senão mesmo mais longe. Isto porque, a par com o desenvolvimento da capacidade de inferência e tudo o que esta implicava em termos de progressos mais rápidos e mais eficazes contra os mistérios do meio ambiente, surge uma apetência estética. Os objectos não tinham apenas que ser eficazes a um nível funcional, mas também tinham que ser atraentes.
  • 39. As posteriores capacidades cognitivas surgiram lentamente. Na pré-história, o homem primitivo estava mais apto a produzir reacções associativas do que a fazer inferências, porque não havia história nem experiência anterior. (Havia apenas uma reacção subjectiva aos acontecimentos e o conflito era praticamente inexistente porque todos comungavam da mesma informação e, como tal, desenvolviam as mesmas crenças em relação à natureza e ao mundo.) Porém, no momento em que a inferência (deduções/induções/conclusões) se tornou possível, nasceu o homem moderno, destinado a um modo de vida bastante árduo. A faculdade de fazer inferências levou à formação de crenças, não só sobre o seu próprio comportamento, mas também sobre o seu grupo. Isto também fez com que o Homem se tornasse independente das influências do meio ambiente. Portanto, as áreas específicas do cérebro (módulos) evoluíram de modo a poder desempenhar funções específicas que, por sua vez, vieram dar origem a novas faculdades na nossa espécie (como a inferência e a estética que remontam ao Homo erectus.) Nada acontece em termos psicológicos até a região cerebral apropriada no cérebro humano moderno em evolução se ter tornado psicologicamente funcional. 33- Quais as teorias que visam explicar as mudanças que ocorreram na progressão ascendente das realizações humanas em tempo real? Estas são duas teorias que visam explicar o modo como se deu a evolução humana. Segundo a teoria de pernas para o ar um organismo possui um conjunto de capacidades de resposta geneticamente controladas e estas podem ser apropriadamente moldadas e seleccionadas pelo lugar/meio onde vive o organismo. Após variadíssimas experiências efectuadas em animais, nas organizações sociais de várias espécies, consegue-se explicar claramente as complexidades sociais do seu comportamento. Os animais que fizeram parte desta experiência como é o caso das formigas, dos lobos e dos babuínos, vivem uma relação dinâmica e largamente recíproca com o meio, porque a sua inteligência não é suficiente para qualquer outro tipo de existência. Ou seja, eles não são capazes de se isolar do um meio ambiente de uma forma significativa, dando a certeza que o meio exerce um papel poderoso e determinante na selecção das capacidades máximas destes organismos.
  • 40. Esta perspectiva esclarece determinados processos do mundo biológico. Na opinião do autor é uma teoria inadequada para explicar a evolução humana. Segundo a teoria de cima para baixo as alterações geneticamente induzidas no cérebro são o elemento chave da história do homem. A crescente capacidade do cérebro humano para fazer inferências, que os veio-o diferenciar de tudo o que tinha existido anteriormente no reino animal. A capacidade de inferência que consiste em combinar duas variáveis novas numa hipótese sobre as prováveis causas dos acontecimentos, é igualmente o substrato da formulação de crenças. Esta capacidade de fazer inferências é uma capacidade somente capaz de ser feita pelo homem, e a faculdade que mais provavelmente se liga a determinados sistemas específicos do cérebro humano. A posse desta faculdade libertou o homem do rígido domínio do meio ambiente. Com o aparecimento do cérebro mais complexo do homem de neanderthal e, por último do homo sapiens sapiens ou homem moderno, a faculdade de fazer inferências desabrochou até atingir o seu ponto máximo actual, em que a inferência se tornou tão automática como qualquer reflexo neuronal periférico. 34- Foi David Premack que enunciou a importância das preferências enquanto motivação para acção. Serão as preferências assim tão importantes na motivação do comportamento? Este autor fez várias experiências, uma delas foi com macacos e todas as experiências ele concluiu que uma resposta mais provável vem reforçar uma resposta menos provável e nunca inversamente. As preferências nos seres humanos podem ser sistematicamente manipuladas por um psicólogo inteligente. Podem ser reforçadas, invertidas, diluídas. Embora baseadas em sistemas muito antigos do cérebro, elas desempenham um papel crucial nos complexos processos psicológicos que contribuem para a formulação das crenças humanas. 35- Como se processam as crenças no cérebro? Gazzaniga após ter realizado os estudos com pacientes do foro neurológico, defende que o cérebro está organizado em unidades (módulos) que funcionam de uma relativamente independente e que trabalham em paralelo, ou seja, quando a informação invade o nosso cérebro é decomposta em fragmentos sobre os quais diversos sistemas começam logo a trabalhar. Estas actividades funcionam na maioria das vezes independentemente dos nossos eus verbais conscientes e de forma paralela com o nosso pensamento consciente. No que diz
  • 41. respeito aos sistemas de crenças, os estudos desenvolvidos são na sua maioria da responsabilidade de escritores e filósofos e poucos de investigadores científicos. No entanto, os estudos recentes vieram alterar este ponto de vista, essencialmente aqueles que incidem sobre os pacientes com lesões do foro neurológico. A este respeito, Gazzaniga defende que o nosso cérebro tem uma componente especial, que apelida de “Interprete”, que é responsável pela elaboração de infinitas teorias para explicar comportamentos considerados inconstantes produzidos pelo nosso eu. A dinâmica que existe entre os módulos da nossa mente e o nosso “intérprete”, que se encontra no nosso hemisfério esquerdo, é responsável pela formação de crenças. Crenças estas que funcionam para a nossa espécie como um mecanismo para deixar de estar inserida numa simples relação tipo reflexo com recompensas e penalizações da sociedade. No entanto, podem ser alteradas através da nossa percepção pessoal de que agimos livremente e em resposta a uma série de pressões sociais. 36- Por que surgiram as crenças religiosas? A natureza e a origem das crenças religiosas possuem uma história intrigante e interpretável que frisa a centralidade de um mecanismo psicológico localizado no cérebro. Gazzaniga diz que as crenças religiosas eram inevitáveis e que tiveram que surgir assim que o intérprete do hemisfério esquerdo se desenvolveu e começou reflexivamente à procura da consistência e de compreensão. Arquitectaram-se explicações e criaram-se instituições para gerir e regulamentar as questões da existência humana e da origem cósmica. Uma vez implementadas, e dado o seu forte poder coercivo, estas instituições continuaram vivas. O autor diz também que a aceitação destas crenças que-não-são-deste-mundo se deve a uma outra capacidade do cérebro humano que é a aptidão para o pensamento mágico. Isto é, a existência no cérebro humano de uma zona que, quando lesionada, causa alterações profundas no psiquismo humano. Uma lesão nessa região, que pode ocorrer por inúmeras razoes, tende a provocar a modificação em três comportamentos. Este “síndroma do lobo temporal” foi primeiramente descrito pelo já falecido Norman Gerschwind, da Harvard Medical Scool. Na sua forma básica, a lesão cerebral causa uma intensificação das convicções religiosas, um desejo de escrever aprofundadamente (hipergrafia) e a prática de actividades sexuais bizarras. A realidade deste síndroma não é nada divertida. Aquilo que nos interessa é a vertente do comportamento religioso deste síndroma. Não somente são as convicções religiosas que se