SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
A DEGRADAÇÃO SANITÁRIA E AMBIENTAL DA LAGOA IMBOASSICA
E SUA RELAÇÃO COM O AUMENTO DO GABARITO DOS PRÉDIOS
LOCALIZADOS EM SUA BACIA HIDROGRÁFICA
A lagoa Imboassica é sabidamente um dos ecossistemas mais
importantes do município de Macaé. Esta importância pode ser
atribuída seja por seu papel social como fonte de recursos pesqueiros
e como importante área de lazer tanto para a pesca desportiva
quanto para a prática de outros esportes e atividades de recreação
aquáticas; ou seja, também, como por ser um patrimônio histórico,
cultural e ambiental ímpar.
Não menos relevante é a sua beleza cênica, que já no século XIX
chamou a atenção de ilustres naturalistas e viajantes estrangeiros, os
quais produziram estudos e relatos que hoje nos ajudam a contar a
história de Macaé e região. Charles Darwin, por exemplo, nela
coletou espécimes de peixes que contribuíram para o avanço do
conhecimento científico que se tinha na época, além de ter descrito,
em seu diário de campo, paisagens de ecossistemas cada vez mais
escassos e que a Lagoa de Imboassica é ainda um dos poucos
remanescentes. Esta beleza cênica é, inclusive, um dos motivos
principais para a valorização imobiliária do seu entorno e também
atrativo para as atividades de turismo na cidade e em toda a região.
Somando-se a estas peculiaridades, a lagoa Imbossica tem sido
estudada por um grande número de cientistas de diferentes áreas do
saber do Brasil e do exterior, tornando-se um dos ecossistemas
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental em Macaé
aquáticos mais conhecidos cientificamente do nosso país. Os
resultados obtidos das pesquisas realizadas na lagoa Imbossica têm
sido divulgados em periódicos científicos nacionais e internacionais.
Por sua importância como berço de muitas tecnologias para a
recuperação de ambientes aquáticos, a lagoa Imboassica se encontra
entre as mais conhecidas do Brasil entre os cientistas ambientais.
Em que pese sua importância ecológica, econômica e social, a
lagoa Imboassica tem sido vítima do uso inadequado de sua bacia
hidrográfica. Este ecossistema tem sido, há mais três décadas,
progressivamente impactado por diferentes agentes antropogênicos.
Uma caraterística dos impactos sobre as condições ambientais da
lagoa Imboassica é que são, na quase totalidade, conseqüência do
forte processo de especulação imobiliária e de outras formas de usos
não racionais de seu entorno. Nas últimas duas décadas, grande
parte das áreas alagáveis da lagoa Imboassica foram aterradas para
dar lugar a loteamentos, construção de empreendimentos ligados à
cadeia produtiva do petróleo e plantação de pastos para atender o
agronegócio. Como resultado deste processo, a área ocupada pelo
espelho d’água atual da lagoa Imboassica corresponde, apenas à
cerca de 58% da área que esta lagoa tinha quando foi visitado por
Charles Darwin em 1831.
Como resultado da ocupação da Bacia Hidrográfica da Lagoa
Imboassica, ou seja, de seu processo crescente de urbanização,
passaram a ocorre também três processos que têm contribuído de
maneira significativa para a perda de suas características ecológicas
naturais, até o ponto no qual se encontra de total degradação
sanitária e ecológica. Estes processos são: lançamento de esgoto “in
natura”, assoreamento de bacia e aberturas artificiais da barra que a
separa do mar.
LANÇAMENTO DE ESGOTO “IN NATURA”
A carga de esgoto “in natura” que é lançada na lagoa
Imboassica tem sido crescente e proporcional ao crescimento da
ocupação humana em sua Bacia de Hidrográfica. A consequência do
fato de que a lagoa Imboassica atualmente tem como funçãoprincipal
receber e degradar o esgoto de grande parte da população macaense
foi transformá-la num ambiente impróprio para o banho, para a
prática de esportes aquáticos e com reduzido estoque de pescado,
especialmente aquele de interesse econômico. Não menos
importante é o fato de que a lagoa Imboasica é atualmente uma
fonte de agentes patogênicos causadores de doenças como diarréias,
hepatites, dermatoses, entre muitas outras doenças. Em outras
palavras, a lagoa Imboassica perdeu por completo suas funções
ambientais, com sérios desdobramentos ecológicos, econômicos e
sociais.
ASSOREAMENTO DE BACIA DA LAGOA IMBOASSICA
O assoreamento, ou seja, a preenchimento da bacia da
lagoaImbossica com sedimentos, especialmente argilas esta
diretamente relacionada com a ocupação desordenada de sua Bacia
Hidrográfica, especialmente na porção sul, próxima à região
conhecida como Parque de Tubos, tanto na parte localizada no
município de Macaé como na parte da Chamada Zona de Negócios do
município de Rio das Ostras. Nesta região ocorre constantemente
revolvimento de terras para fins de construção de galpões e outras
edificações ligadas principalmente à economia do petróleo. No
período das chuvas parte considerável do barro destas áreas é
transportado pelas águas para o rio Imboassica e deste para a lagoa
Imboassica, onde ocorre sedimentação, tornando progressivamente
a lagoa mais rasa. Este fenômeno é facilmente perceptível através da
cor avermelhada que as águas do rio e da lagoa Imboassica assumem
durante o período de chuvas.
Os dados obtidos pelos pesquisadores do NUPEM/UFRJ
apontam para a perda constante de profundidade e o consequente
avanço dos bancos de plantas aquáticas, como a Taboa, em direção à
parte central da lagoa. Este avanço das plantas aquáticas contribui
para a perda de espelho d’água da lagoa Imboassica. Cálculos
realizados pelos pesquisadores do NUPEM/UFRJ, no ano de 2006,
indicaram que persistindo o processo de assoreamento nas taxas
verificadas, em aproximadamente 130 anos o espelho d’água da
lagoa Imboassica terá sido substituído por um brejo poluído e/ou
contaminado, caso o lançamento de esgoto não seja interrompido.
Destaca-se que novos cálculos realizados em 2011 apontam não mais
para 130 anos, mas sim para 90 anos, demonstrando o agravamento
da situação nestes últimos anos.
ABERTURAS ARTIFICIAIS DA BARRA QUE A SEPARA DO MAR
As aberturas artificiais da barra que separa a lagoa Imboassica
do mar tem sido realizada praticamente todos os anos e não
raramente mais de uma vez ao ano. Este procedimento é para
reduzir, rapidamente, o nível da agua da lagoa Imboassica e desta
maneira evitar a inundações dos imóveis, que foram construídos em
áreas de aterro dentro deste ecossistema ou que foram construídos
nas suas áreas de inundação.
Estudos pioneiros realizados pela equipe de pesquisadores do
NUPEM/UFRJ demostraram que as aberturas artificiais da barra
representam um grande impacto negativo à lagoa Imboassica. Entre
estes impactos destacam-se:
a) a desestruturação das comunidades aquáticas, com grandes
prejuízos às comunidades de peixes de elevado valor econômico;
b) aceleração do processo de assoreamento;
c) aceleração da expansão da área ocupada pelas plantas
aquáticas como a taboa etc.; e
d) aumento repentino e considerável da degradação sanitária
devido a redução drástica da capacidade da lagoa em diluir o esgoto.
CONCLUSÃO
Concluindo, pode ser afirmado que o aumento do gabarito dos
prédios na Praia do Pecado e o consequente aumento da população
da Bacia Hidrográfica de Imboassica sem a devida implementação de
medidas realmente eficazes - como a coleta e tratamento de todos os
esgotos que são lançados atualmente na neste corpo d’ água –
agravará ainda mais o quadro que já é de gravidade elevadíssima no
tocante as suas caraterísticas ecológicas e sanitárias.
Nas discussões sobre a temática de ocupação da Bacia
Hidrográfica de rios e lagos no Brasil é comum gestores públicos,
empresários e políticos, geralmente ligados aos interesses
imobiliários, afirmarem que após a construção dos prédios irão tratar
todos os esgotos gerados pela população que irá ocupar os imóveis
construídos.
Deve ser destacado, no entanto, que quando as estações de
tratamento de esgoto são construídas (casos muito raros no Brasil),
estas são de baixo custo e se caracterizam por possuir apenas o
primeiro estágio, que visa apenas retirar parte da matéria orgânica
contida nos esgotos. Desta maneira estas estações lançam efluentes
nos ambientes aquáticos totalmente impróprios do ponto de vista
ecológico, pois ainda contêm elevadas concentrações de compostos
orgânicos e ricos em fosfato e em nitrogênio. Com estas
características os efluentes são capazes de prover o crescimento
descontrolado - denominado de eutrofização artificial - de algas e
outros vegetais e desta maneira continuar a degradação do ambiente
aquático.
Sendo assim, recomendamos que iniciativas que levam à
promoção do adensamento da Bacia Hidrográfica da lagoa
Imboassica devam ser implementadas somente quando as questões
de saneamento básico, que atualmente estão muito precárias,
estejam totalmente equacionadas. Esta recomendação é de
fundamental importância para a preservação do pouco que ainda
resta de ecossistemas importantes como a lagoa Imboassica.
Macaé, 23 de maio de 2013.
Dr. Francisco de Assis Esteves
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Professor Titular

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singa
Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singaGestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singa
Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singaLeidiana Alves
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos HídricosAna Barros
 
ANÁLISE AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU
ANÁLISE  AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU  ANÁLISE  AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU
ANÁLISE AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU Luciano Soprani
 
Águas Subterrâneas
Águas SubterrâneasÁguas Subterrâneas
Águas SubterrâneasCarlos Gomes
 
Histórico da Lagoa da Pampulha
Histórico da Lagoa da PampulhaHistórico da Lagoa da Pampulha
Histórico da Lagoa da PampulhaAdriana Gotschalg
 
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluição
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluiçãoCiências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluição
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluiçãoelonvila
 
Trabalho escrito poluição aquática
Trabalho escrito poluição aquáticaTrabalho escrito poluição aquática
Trabalho escrito poluição aquáticaMaria Paredes
 
Gestão das Águas da Pampulha
Gestão das Águas da PampulhaGestão das Águas da Pampulha
Gestão das Águas da PampulhaAdriana Gotschalg
 
AlteraçãO Da Qualidade Da áGua
AlteraçãO Da Qualidade Da áGuaAlteraçãO Da Qualidade Da áGua
AlteraçãO Da Qualidade Da áGuaNuno Correia
 
Intrusão marinha aula6
Intrusão marinha aula6Intrusão marinha aula6
Intrusão marinha aula6Giovanna Ortiz
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos Hídricosverasanches
 
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentados
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentadosAula- Recursos hídricos- Exercícios comentados
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentadosjoao paulo
 
Cbh Sobradinho / Bahia
Cbh Sobradinho / BahiaCbh Sobradinho / Bahia
Cbh Sobradinho / Bahiacbhsf
 
Trabalho académico recurso hidricos portugueses
Trabalho académico   recurso hidricos portuguesesTrabalho académico   recurso hidricos portugueses
Trabalho académico recurso hidricos portuguesesMário Silva
 

Mais procurados (20)

Aula 1
Aula 1Aula 1
Aula 1
 
Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singa
Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singaGestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singa
Gestão participativa dos recursos hídricos da bacia da lagoa do campelo singa
 
Questões sobre água
Questões sobre águaQuestões sobre água
Questões sobre água
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos Hídricos
 
ANÁLISE AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU
ANÁLISE  AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU  ANÁLISE  AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU
ANÁLISE AMBIENTAL DO RIO PIRAQUÊ-AÇU
 
A Agua
A AguaA Agua
A Agua
 
Águas Subterrâneas
Águas SubterrâneasÁguas Subterrâneas
Águas Subterrâneas
 
Histórico da Lagoa da Pampulha
Histórico da Lagoa da PampulhaHistórico da Lagoa da Pampulha
Histórico da Lagoa da Pampulha
 
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluição
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluiçãoCiências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluição
Ciências do Ambiente - Cap 2 - Meio aquático: Características e poluição
 
Trabalho escrito poluição aquática
Trabalho escrito poluição aquáticaTrabalho escrito poluição aquática
Trabalho escrito poluição aquática
 
Gestão das Águas da Pampulha
Gestão das Águas da PampulhaGestão das Águas da Pampulha
Gestão das Águas da Pampulha
 
Aguas subterrâneas
Aguas subterrâneasAguas subterrâneas
Aguas subterrâneas
 
Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em PortugalGestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal
 
Agua Bioecologia
Agua    BioecologiaAgua    Bioecologia
Agua Bioecologia
 
AlteraçãO Da Qualidade Da áGua
AlteraçãO Da Qualidade Da áGuaAlteraçãO Da Qualidade Da áGua
AlteraçãO Da Qualidade Da áGua
 
Intrusão marinha aula6
Intrusão marinha aula6Intrusão marinha aula6
Intrusão marinha aula6
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos Hídricos
 
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentados
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentadosAula- Recursos hídricos- Exercícios comentados
Aula- Recursos hídricos- Exercícios comentados
 
Cbh Sobradinho / Bahia
Cbh Sobradinho / BahiaCbh Sobradinho / Bahia
Cbh Sobradinho / Bahia
 
Trabalho académico recurso hidricos portugueses
Trabalho académico   recurso hidricos portuguesesTrabalho académico   recurso hidricos portugueses
Trabalho académico recurso hidricos portugueses
 

Semelhante a Degradação da lagoa e sua relação com o gabarito dos prédios

Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.Marina Godoy
 
Samuel Barrêto
Samuel BarrêtoSamuel Barrêto
Samuel Barrêtoambev
 
Renaturalização de rios e córregos no município de São Paulo
Renaturalização de rios e córregos no município de São PauloRenaturalização de rios e córregos no município de São Paulo
Renaturalização de rios e córregos no município de São PauloRios e Ruas
 
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docx
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docxDESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docx
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docxssuser3bcdae
 
Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de CursoTrabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de CursoFábio Erler
 
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...ambev
 
Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em PortugalGestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em PortugalLaura Pinto
 
recursosmaritimos_2.doc
recursosmaritimos_2.docrecursosmaritimos_2.doc
recursosmaritimos_2.docAida Cunha
 
Poluição de água eutrofização
Poluição de água   eutrofizaçãoPoluição de água   eutrofização
Poluição de água eutrofizaçãogeehrodrigues
 
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...grupoc1
 

Semelhante a Degradação da lagoa e sua relação com o gabarito dos prédios (20)

Gestão de bacias hidrográficas
Gestão de bacias hidrográficasGestão de bacias hidrográficas
Gestão de bacias hidrográficas
 
Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
Impactos Ambientais - Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
 
Informativo insp 72
Informativo insp   72Informativo insp   72
Informativo insp 72
 
Meioambiente2questoes
Meioambiente2questoesMeioambiente2questoes
Meioambiente2questoes
 
Meioambiente2questoes
Meioambiente2questoesMeioambiente2questoes
Meioambiente2questoes
 
Carta _ Dois lados da moeda
Carta _ Dois lados da moeda  Carta _ Dois lados da moeda
Carta _ Dois lados da moeda
 
Relatório
RelatórioRelatório
Relatório
 
Samuel Barrêto
Samuel BarrêtoSamuel Barrêto
Samuel Barrêto
 
Oceanos e mares
Oceanos e maresOceanos e mares
Oceanos e mares
 
Renaturalização de rios e córregos no município de São Paulo
Renaturalização de rios e córregos no município de São PauloRenaturalização de rios e córregos no município de São Paulo
Renaturalização de rios e córregos no município de São Paulo
 
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docx
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docxDESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docx
DESTRUIÇÃO DA HIDROSFERA.docx
 
Alteracoesnahidrosfera
AlteracoesnahidrosferaAlteracoesnahidrosfera
Alteracoesnahidrosfera
 
Trabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de CursoTrabalho de Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso
 
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...
Nascentes do Brasil – Proteção e recuperação de nascentes e áreas de recarga ...
 
Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em PortugalGestão dos Recursos Hídricos em Portugal
Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal
 
Daniel grisotto
Daniel grisottoDaniel grisotto
Daniel grisotto
 
recursosmaritimos_2.doc
recursosmaritimos_2.docrecursosmaritimos_2.doc
recursosmaritimos_2.doc
 
Poluição de água eutrofização
Poluição de água   eutrofizaçãoPoluição de água   eutrofização
Poluição de água eutrofização
 
Água - Geografia 9ºAno
Água - Geografia 9ºAnoÁgua - Geografia 9ºAno
Água - Geografia 9ºAno
 
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...
A NOSSA VIAGEM AO ENCONTRO DO CONHECIMENTO...
 

Degradação da lagoa e sua relação com o gabarito dos prédios

  • 1. A DEGRADAÇÃO SANITÁRIA E AMBIENTAL DA LAGOA IMBOASSICA E SUA RELAÇÃO COM O AUMENTO DO GABARITO DOS PRÉDIOS LOCALIZADOS EM SUA BACIA HIDROGRÁFICA A lagoa Imboassica é sabidamente um dos ecossistemas mais importantes do município de Macaé. Esta importância pode ser atribuída seja por seu papel social como fonte de recursos pesqueiros e como importante área de lazer tanto para a pesca desportiva quanto para a prática de outros esportes e atividades de recreação aquáticas; ou seja, também, como por ser um patrimônio histórico, cultural e ambiental ímpar. Não menos relevante é a sua beleza cênica, que já no século XIX chamou a atenção de ilustres naturalistas e viajantes estrangeiros, os quais produziram estudos e relatos que hoje nos ajudam a contar a história de Macaé e região. Charles Darwin, por exemplo, nela coletou espécimes de peixes que contribuíram para o avanço do conhecimento científico que se tinha na época, além de ter descrito, em seu diário de campo, paisagens de ecossistemas cada vez mais escassos e que a Lagoa de Imboassica é ainda um dos poucos remanescentes. Esta beleza cênica é, inclusive, um dos motivos principais para a valorização imobiliária do seu entorno e também atrativo para as atividades de turismo na cidade e em toda a região. Somando-se a estas peculiaridades, a lagoa Imbossica tem sido estudada por um grande número de cientistas de diferentes áreas do saber do Brasil e do exterior, tornando-se um dos ecossistemas UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental em Macaé
  • 2. aquáticos mais conhecidos cientificamente do nosso país. Os resultados obtidos das pesquisas realizadas na lagoa Imbossica têm sido divulgados em periódicos científicos nacionais e internacionais. Por sua importância como berço de muitas tecnologias para a recuperação de ambientes aquáticos, a lagoa Imboassica se encontra entre as mais conhecidas do Brasil entre os cientistas ambientais. Em que pese sua importância ecológica, econômica e social, a lagoa Imboassica tem sido vítima do uso inadequado de sua bacia hidrográfica. Este ecossistema tem sido, há mais três décadas, progressivamente impactado por diferentes agentes antropogênicos. Uma caraterística dos impactos sobre as condições ambientais da lagoa Imboassica é que são, na quase totalidade, conseqüência do forte processo de especulação imobiliária e de outras formas de usos não racionais de seu entorno. Nas últimas duas décadas, grande parte das áreas alagáveis da lagoa Imboassica foram aterradas para dar lugar a loteamentos, construção de empreendimentos ligados à cadeia produtiva do petróleo e plantação de pastos para atender o agronegócio. Como resultado deste processo, a área ocupada pelo espelho d’água atual da lagoa Imboassica corresponde, apenas à cerca de 58% da área que esta lagoa tinha quando foi visitado por Charles Darwin em 1831. Como resultado da ocupação da Bacia Hidrográfica da Lagoa Imboassica, ou seja, de seu processo crescente de urbanização, passaram a ocorre também três processos que têm contribuído de maneira significativa para a perda de suas características ecológicas naturais, até o ponto no qual se encontra de total degradação sanitária e ecológica. Estes processos são: lançamento de esgoto “in
  • 3. natura”, assoreamento de bacia e aberturas artificiais da barra que a separa do mar. LANÇAMENTO DE ESGOTO “IN NATURA” A carga de esgoto “in natura” que é lançada na lagoa Imboassica tem sido crescente e proporcional ao crescimento da ocupação humana em sua Bacia de Hidrográfica. A consequência do fato de que a lagoa Imboassica atualmente tem como funçãoprincipal receber e degradar o esgoto de grande parte da população macaense foi transformá-la num ambiente impróprio para o banho, para a prática de esportes aquáticos e com reduzido estoque de pescado, especialmente aquele de interesse econômico. Não menos importante é o fato de que a lagoa Imboasica é atualmente uma fonte de agentes patogênicos causadores de doenças como diarréias, hepatites, dermatoses, entre muitas outras doenças. Em outras palavras, a lagoa Imboassica perdeu por completo suas funções ambientais, com sérios desdobramentos ecológicos, econômicos e sociais. ASSOREAMENTO DE BACIA DA LAGOA IMBOASSICA O assoreamento, ou seja, a preenchimento da bacia da lagoaImbossica com sedimentos, especialmente argilas esta diretamente relacionada com a ocupação desordenada de sua Bacia Hidrográfica, especialmente na porção sul, próxima à região conhecida como Parque de Tubos, tanto na parte localizada no município de Macaé como na parte da Chamada Zona de Negócios do município de Rio das Ostras. Nesta região ocorre constantemente revolvimento de terras para fins de construção de galpões e outras edificações ligadas principalmente à economia do petróleo. No período das chuvas parte considerável do barro destas áreas é
  • 4. transportado pelas águas para o rio Imboassica e deste para a lagoa Imboassica, onde ocorre sedimentação, tornando progressivamente a lagoa mais rasa. Este fenômeno é facilmente perceptível através da cor avermelhada que as águas do rio e da lagoa Imboassica assumem durante o período de chuvas. Os dados obtidos pelos pesquisadores do NUPEM/UFRJ apontam para a perda constante de profundidade e o consequente avanço dos bancos de plantas aquáticas, como a Taboa, em direção à parte central da lagoa. Este avanço das plantas aquáticas contribui para a perda de espelho d’água da lagoa Imboassica. Cálculos realizados pelos pesquisadores do NUPEM/UFRJ, no ano de 2006, indicaram que persistindo o processo de assoreamento nas taxas verificadas, em aproximadamente 130 anos o espelho d’água da lagoa Imboassica terá sido substituído por um brejo poluído e/ou contaminado, caso o lançamento de esgoto não seja interrompido. Destaca-se que novos cálculos realizados em 2011 apontam não mais para 130 anos, mas sim para 90 anos, demonstrando o agravamento da situação nestes últimos anos. ABERTURAS ARTIFICIAIS DA BARRA QUE A SEPARA DO MAR As aberturas artificiais da barra que separa a lagoa Imboassica do mar tem sido realizada praticamente todos os anos e não raramente mais de uma vez ao ano. Este procedimento é para reduzir, rapidamente, o nível da agua da lagoa Imboassica e desta maneira evitar a inundações dos imóveis, que foram construídos em áreas de aterro dentro deste ecossistema ou que foram construídos nas suas áreas de inundação. Estudos pioneiros realizados pela equipe de pesquisadores do NUPEM/UFRJ demostraram que as aberturas artificiais da barra
  • 5. representam um grande impacto negativo à lagoa Imboassica. Entre estes impactos destacam-se: a) a desestruturação das comunidades aquáticas, com grandes prejuízos às comunidades de peixes de elevado valor econômico; b) aceleração do processo de assoreamento; c) aceleração da expansão da área ocupada pelas plantas aquáticas como a taboa etc.; e d) aumento repentino e considerável da degradação sanitária devido a redução drástica da capacidade da lagoa em diluir o esgoto. CONCLUSÃO Concluindo, pode ser afirmado que o aumento do gabarito dos prédios na Praia do Pecado e o consequente aumento da população da Bacia Hidrográfica de Imboassica sem a devida implementação de medidas realmente eficazes - como a coleta e tratamento de todos os esgotos que são lançados atualmente na neste corpo d’ água – agravará ainda mais o quadro que já é de gravidade elevadíssima no tocante as suas caraterísticas ecológicas e sanitárias. Nas discussões sobre a temática de ocupação da Bacia Hidrográfica de rios e lagos no Brasil é comum gestores públicos, empresários e políticos, geralmente ligados aos interesses imobiliários, afirmarem que após a construção dos prédios irão tratar todos os esgotos gerados pela população que irá ocupar os imóveis construídos. Deve ser destacado, no entanto, que quando as estações de tratamento de esgoto são construídas (casos muito raros no Brasil), estas são de baixo custo e se caracterizam por possuir apenas o
  • 6. primeiro estágio, que visa apenas retirar parte da matéria orgânica contida nos esgotos. Desta maneira estas estações lançam efluentes nos ambientes aquáticos totalmente impróprios do ponto de vista ecológico, pois ainda contêm elevadas concentrações de compostos orgânicos e ricos em fosfato e em nitrogênio. Com estas características os efluentes são capazes de prover o crescimento descontrolado - denominado de eutrofização artificial - de algas e outros vegetais e desta maneira continuar a degradação do ambiente aquático. Sendo assim, recomendamos que iniciativas que levam à promoção do adensamento da Bacia Hidrográfica da lagoa Imboassica devam ser implementadas somente quando as questões de saneamento básico, que atualmente estão muito precárias, estejam totalmente equacionadas. Esta recomendação é de fundamental importância para a preservação do pouco que ainda resta de ecossistemas importantes como a lagoa Imboassica. Macaé, 23 de maio de 2013. Dr. Francisco de Assis Esteves Universidade Federal do Rio de Janeiro Professor Titular