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- 1. 102 GLOBO RURAL | setembro 2014 setembro 2014 | GLOBO RURAL 103
COMO CRIAR
VIDA NA
FAZENDA
© FÁBIO ROSA SUSSEL/DIVULGAÇÃO
Atualmente, o mais indicado para cativeiro é o camarão-da-malásia
(Macrobrachium rosenbergii), que tem sabor mais leve em relação ao camarão
de água salgada e é também conhecido como pitu e lagostim-de-água-doce”
A quicultores brasileiros
têm na criação de ca-marão-
de-água-do-ce
uma opção para re-alizar
o manejo do crustáceo em
qualquer lugar país adentro. Sem
se limitar à costa litorânea, a prá-tica
em tanques escavados per-mite
a pulverização da atividade
pelo interior do território nacio-nal,
reduzindo custos logísticos e
obtendo preços mais competiti-vos
para as vendas do produto no
comércio local.
Pequenos produtores e com
pouca experiência, inclusive, po-dem
se beneficiar da criação fa-zendo
dela uma fonte de renda
extra. Lidar com o camarão-de-água-
doce não tem muitas exi-gências
e o seu manejo pode ser
realizado em sítios e chácaras,
desde que tenham condições ade-quadas,
como espaço para um am-biente
aquático e temperatura da
água acima de 20 oC durante, pelo
menos, seis meses consecutivos.
Em cativeiro, é comum o uso
de viveiros escavados com o fun-do
natural de terra, área na qual
o crustáceo habita e também se
alimenta. Sem sistema de drena-gem
eficiente, represas e açudes
são opções descartadas, pois pre-cisam
ser esvaziados para reali-zar
a despesca total – retirada de
todos os camarões no fim da fase
de engorda.
No entanto, caso ainda não te-nha
na propriedade, a construção
de tanques deve ser providencia-da,
sendo que a obra implicará uma
recuperação do capital investido
a longo prazo. Terreno plano, com
solo argiloso e disponibilidade de
água corrente e de qualidade são
outros fatores importantes para o
sucesso do manejo.
A criação do crustáceo tam-bém
tem boa adaptação ao sis-tema
integrado de cultivo com
peixes, diversificando a produ-ção
e ampliando as oportunida-des
de mercado ao empreende-
MÃOS À OBRA
>>> INÍCIO A recomendação para
iniciantes é adquirir de laborató-rios
comerciais camarões na fase
de pós-larva, com cerca de 1 cen-tímetro
de comprimento, quando
estão prontos para serem leva-dos
para os tanques de recria. O
processo de larvicultura, no qual
as larvas desovadas precisam
ser mantidas em água salobra
por cerca de 30 dias até ocorrer a
metamorfose para as pós-larvas
(correspondente aos alevinos), é
tecnicamente complexo e exige
altos investimentos.
>>> AMBIENTE Ideal com tempe-ratura
elevada, entre 28 ºC e 30 ºC,
pois o camarão-de-água-doce não
tolera abaixo de 15 ºC. São impor-tantes
para o manejo fatores co-mo
água de boa qualidade, abun-dante
e com renovação, pH entre 7
e 9, dureza de 20 a 150 miligramas
por litro e transparência de 20 a 40
centímetros; terreno com, no máxi-mo,
5% de declive e solo argiloso.
>>> TANQUES Dê preferência pa-ra
viveiros escavados com fundo de
terra. Podem ter área variável en-tre
250 e 5.000 metros quadrados
e profundidade de 90 centímetros
a 1,3 metro.
>>> POLICULTIVO É uma alterna-tiva
para incrementar a rentabili-dade
da criação. Dentro do mes-mo
viveiro, camarões e espécies
não carnívoras como tilápia, car-pa-
comum ou prateada e peixes
ornamentais podem ser criados li-vremente
em espaços diferentes
ou com instalação de tanques-re-des
para confinamento dos pei-xes.
Proteja os crustáceos de pre-dações
povoando o viveiro com as
pós-larvas do crustáceo, no mí-nimo,
15 dias antes da estocagem
com as demais espécies.
>>> CUIDADOS A densidade de es-tocagem
do camarão-da-malásia
não pode ser muito elevada, devi-do
ao risco de canibalismo da es-pécie.
Para o monocultivo, reco-menda-
se de oito a 12 pós-larvas
por metro quadrado. No policultivo,
deve variar entre três e seis cama-rões
por metro quadrado. A aduba-ção
química ou orgânica dos vivei-ros
periodicamente contribui para a
existência de micro-organismos no
fundo do viveiro.
>>> ALIMENTAÇÃO O camarão-de-
água-doce gosta de comer
tanto animais quanto vegetais. Po-rém,
forneça rações peletizadas ou
extrusadas de alta densidade pa-ra
camarões marinhos. Como afun-dam,
facilitam para os camarões
que se alimentam somente no fun-do
do viveiro, onde também conso-mem
como um complemento ba-rato
micro-organismos bentônicos
– crustáceos, moluscos, larvas de
insetos aquáticos, entre outros.
>>> PRODUÇÃO Adote a despesca
seletiva a partir do quarto mês de-pois
do povoamento. Aos seis me-ses
de criação, realize a despes-ca
total. Em seguida, lave os cama-rões
por dois minutos em solução
de cloro a 5 miligramas por litro de
água limpa. Para um choque térmi-co,
faça a imersão deles em água
gelada. Perecíveis, os crustáce-os
podem ser mantidos em gelo
por, no máximo, dois a três dias e a
uma temperatura de cerca de 0 ºC.
Além desse prazo, devem ser sub-metidos
a um congelamento rápi-do
e permanecer à -20 ºC por até
seis meses.
Criação mínima: 100
milheiros de pós-larvas
para povoar 1 hectare de
espelho d’água
Custo: pode variar de
R$ 20 mil a R$ 50 mil
por hectare de espelho
d’água, dependendo da
infraestrutura existente na
propriedade
Retorno: pode chegar a
7 anos, mas geralmente
é de 4 a 5 anos entre os
investimentos mais altos
Despesca: a seletiva ocorre
a partir de 4 meses e a total
aos 6 meses de criação
RAIO X
Texto João Mathias * Consultores Marcello Villar Boock e Helcio Luis de Almeida Marques*
Com carne nobre e de alto valor comercial, o crustáceo pode ser
criado em tanques escavados pelo sistema de policultivo com peixes
*Marcello Villar Boock é doutor em aquicultura e
pesquisador científico da UPD de Pirassununga,
Polo Apta Centro-Leste, Rua Virgílio Baggio, 85, CEP
13641-004, Pirassununga (SP), tel. (19) 3565-1200,
marcelloboock@apta.sp.gov; e Helcio Luis de
Almeida Marques, doutor e pesquisador científico
do Instituto de Pesca, Av. Francisco Matarazzo, 455,
Parque da Água Branca, Caixa Postal 61070, CEP
05001-970, São Paulo (SP), hlamarques@gmail.com
ONDE ADQUIRIR: Aquicultura PL Brasil, Piedade
(SP), tels. (15) 98127-7999 e (15) 99712-2124;
contato@caminhodasaguas.com; Fazenda Santa
Helena, Silva Jardim (RJ), tels. (22) 2668-0414, (22)
9930-3235, (21) 8181-0589 e (27) 8165-0836,
pointcamarao@gmail.com; Cooperativa dos
Aquicultores do Espírito Santo, São Domingos (ES),
ceaqcooperativa@ig.com.br, inespandolfi2006@
yahoo.com.br, tel. (27) 3742-1065; e gtcad.word-press.
com/tag/venda-de-pos-larvas/
MAIS INFORMAÇÕES: Criação de camarão de água
doce. Mallasen, Margarete. Editora Funep, www.
funep.org.br/visualizar_livro.php?idlivro=173
dor. No policultivo, o camarão-de-água-
doce ainda consome parte
dos resíduos gerados pelos peixes
e os restos de ração, sem a neces-sidade
de alimento específico em
viveiro com três a seis camarões
por metro quadrado.
Apesar da possibilidade de vi-ver
em todas as regiões brasilei-ras,
o camarão-de-água-doce
não é recomendado onde o inver-no
se prolonga por vários meses.
Os custos com alimentação e mão
de obra são os que mais pesam, já
que a ração tem preço elevado e os
tanques precisam de manutenção
constante. Contudo, considerado
de carne nobre, o crustáceo tem
valor comercial alto.
Entre cinco e seis meses de vi-da,
o camarão atinge de 25 a 30
gramas, peso ideal para iniciar a
comercialização. Pós-larva, re-sultado
da evolução das ovas em
dois meses, é outro produto que
serve para abastecer novos cria-dores.
Atualmente, o mais indica-do
para cativeiro é o camarão-da-
-malásia (Macrobrachium rosen-bergii),
que tem sabor mais leve em
relação ao camarão de água salga-da.
Também conhecido como pi-tu
e lagostim-de-água-doce, tem
produção destacada nos Estados
do Espírito Santo, Rio de Janeiro e
São Paulo.
Camarão-de-água-doce