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Bíblico
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Imios os Direitos Reservados. Copyright <r> 1995 para a língua portuguesa da
t 'asa Publicadora das Assembléias de Deus.
C'apa: Hudson Silva
226.5 - João
Pearlman, Myer
PHAj João, o Hvangelho do Filho de Deus.../
Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.
p. 236. cm. 14x2 1
ISBN 85-263-0025-3
I. Comentário Bíblico. 2. João
CD D - 226.5 - João
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 33 1
20001-970, Rio de Janeiro, RJ. Brasil
I 1I dição/1995
índice
1. Jesus, Filho de Deus e C ria d o r....... 7
2. Os Primeiros Discípulos ................... 17
3. O Primeiro Milagre de Cristo .........27
4. Jesus e N ico d em o s...............................37
5. Jesus e a Mulher Sam aritana........... 49
6. O Paralítico do Tanque de Betesda .. 59
7. Jesus, o Juiz que FTá de V i r .............69
8. Jesus, o Pão da V id a ........................... 79
9. Jesus na Festa dos Tabernáculos ... 91
10. Jesus, o Libertador........................... 101
11. O Cego de N a sc e n ç a ...................... 109
12. Jesus, o Bom Pastor ......................... 119
13. A Ressurreição de L á z a ro .............. 131
14. Jesus é Ungido por M a ria .............. 141
15. Jesus, o Rei dos R e is........................151
16. Jesus, o Servo ......................................161
17. Jesus nos Dá o C o n so lad o r............171
18. Jesus É a V id e ira .............................. 181
19. Jesus, o In tercesso r.......................... 193
20. A Crucificação ....................................203
21. Jesus, o R cssurrcto.............................211
22. Jesus Dissipa as D úvidas................ 217
23. Jesus Aparece a Sete Discípulos
na G alilcia.............................................227
Jesus, Filho de
Deus e Criador
Texto: João 1.1-14
Introdução
Em João 20.31, o evangelista declara o seu propósito,
que c oferecer uma série de evidências que comprovem a
natureza c a missão divinas de Jesus. Os primeiros 18
versículos do livro são um prefácio cm que anuncia o seu
tema: “Como o Filho de Deus foi manifestado ao m undo” .
Este prefácio apresenta as três grandes idéias que percor­
rem o evangelho inteiro:
1. A revelação do Verbo, v. 1-4.
2. A rejeição do Verbo, v. 5-11.
3. A aceitação do Verbo, v. 12-14.
1 - A Revelação do Verbo (Jo 1.1-4)
/. Seu relacionam ento com Deus. “No princípio era o
Verbo”. Esta expressão nos leva de volta a Gênesis 1.1,
onde se lê: “No princípio criou Deus os céus e a terra.”
João nos informa que, na época da criação, o Verbo já
8 João, o Evangelho do Filho de Deus
existia: “E o Verbo estava com Deus”, existia cm relacio­
namento com Deus, o que sugere a eterna comunhão entre
o Pai e o Filho. “E o Verbo era Deus” não significa que o
Verbo é o Pai, porque o Pai e o Filho, sendo um quanto à
sua natureza, são, porém, distintos quanto às suas persona­
lidades. O Verbo c da mesm a natureza do Pai, ou seja,
divino.
A palavra do homem é o modo de ele se exprimir, de
se com unicar com outras pessoas. Pela sua palavra, faz
conhecidos seus pensamentos e sentimentos; pela sua pala­
vra, dá ordens c efetua a sua vontade. A palavra que ele
fala transmite o impacto do seu pensamento e caráter. Um
homem pode ser conhecido de modo completo pela sua
palavra, c ate um cego pode conhecê-lo perfeilamente as­
sim. Ver a pessoa não daria muitas informações quanto à
sua personalidade a alguém que não a tivesse ouvido falar.
A palavra da pessoa é seu caráter recebendo expressão. Da
m esm a forma, a “Palavra de Deus” (ou "Verbo de Deus”,
expressão que a tradução bíblica cm português emprega
quando se trata de uma referência direta a Jesus Cristo na
sua vida terrena) é sua maneira de exprimir sua inteligên­
cia, vontade c poder. Cristo é aquele Verbo, porque Deus
revelou sua atividade, vontade c propósito através dele, e
porque é por meio dele que Deus entra cm contato com o
mundo. Nós nos exprimimos por meio de palavras; o Deus
eterno se exprime através de seu Filho, que é “a expressa
imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Cristo c o Verbo de Deus
porque revela Deus, demonstrando-o pessoalmente. Ele não
somente traz a m ensagem de Deus - Ele é, pessoalmente,
a m ensagem de Deus.
Deus se revelara mediante a palavra dos profetas, e
através de sonhos, visões e manifestações temporárias. Os
homens, porém, ansiavam por uma resposta ainda mais
compreensível à sua pergunta: Como é Deus? Como res­
posta a esta pergunta, ocorreu o evento mais estupendo da
história do mundo: “E o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). O
Jesus, Filho de Deus e Criador 9
eterno Verbo de Deus tomou sobre si a natureza humana c
se fez homem, a fim de revelar o Deus eterno através de
uma personalidade humana (Hb 1.1,2). Assim sendo, dian­
te da pergunta “Como é D eus?”, o cristão responde: Deus
é como Cristo, porque Cristo c o Verbo - a expressão do
conceito que o próprio Deus faz de si mesmo.
2. Seu relacionam ento com a criação. “Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se
fez”. “Ele estava no princípio com Deus”, ou seja, já na
época em que o Universo estava para ser criado (cf. Hb
1.2; Cl 1.16; 1 Co 8.6). A quem falou Deus em Gênesis
1.26?
3. Seu relacionam ento com os homens. “Nele estava a
vida”. Ele dá vida a todos os organismos vivos, e guia todas
as operações da natureza. O Pai é fonte original da vida; e
toda a vida está reservada nElc, como numa cisterna de
armazenamento. O universo de coisas vivas veio a existir
por meio do Verbo, e é sustentado pelo seu poder. A cura
do paralítico (Jo 5.1-9) e a ressurreição de Lázaro são ilus­
trações do poder do Verbo.
“E a vida era a luz dos hom ens”. Toda a luz que já veio
aos homens mediante a consciência, a razão ou a profecia,
foi irradiada pelo Verbo de Deus, mesmo antes dele entrar
no mundo.
II - A R ejeição do Verbo (Jo 1.5-11)
7. Rejeitado como a luz dos homens. “E a luz resplan­
dece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” A luz
era derivada do Verbo, e pela capacidade recebida da parte
dEle podiam reconhecer o que era útil à sua natureza espi­
ritual. Mesmo assim, fecharam os olhos à Fonte da luz,
como o olho doentio que rejeita a luz natural, embora aquela
fosse a vida deles. A queda foi um obstáculo, na história da
humanidade, ao entendimento da Palavra de Deus, porque
envolveu o mundo em trevas morais e espirituais, de tal
10 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
modo que os homens, criados por Deus, não podiam mais
entender as instruções de seu Criador, tendo sido obscure-
cidas as suas mentes pelo efeito do pecado e da ignorância.
O pensam ento básico do trecho é interrom pido pelos
versículos 6-8, que enfatizam a posição de João Batista
com o testem unha c refletor da luz, e não com o M essias.
Alguns dos seus discípulos se apegaram tanto a ele que,
a despeito da advertência contida no testem unho que deu
de si m esm o em João 3.25-30, teim aram em sustentar
ser João Batista o M essias, e, posteriorm ente, form aram
a seita dos m andeus, da qual existem ainda seguidores
no Oriente.
V oltando ao pensam ento básico: “ Estava no m undo,
c o m undo foi leito por ele, e o m undo não o conheceu” .
Os hom ens tinham tão pouco entendim ento da origem
do seu ser, aprenderam tão pouco acerca da razão da sua
existência, que não reconheceram seu C riador quando
Ele surgiu no meio deles. A civilização rom ana regis­
trou seu nascim ento, lançou-o no cadastro dc pessoas
físicas para finalidades dc im postos, mas não tom ou o
m ínim o conhecim ento dEle com o sendo o próprio Deus
revelado cm seu meio.
2. R ejeitado com o M essias de Israel. “Veio para o
que era seu, c os seus não o receberam ” . Jesus ensinou
esta verdade na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-
43). Q ue tragédia! A nação que aguardava a vinda do
M essias, orando ardentem ente por este acontecim ento,
cantando e profetizando acerca da sua vinda, não quis
recebê-lo quando chegou! (C f Is 53.2,3; Lc 19.14; At
7.51,52).
I ll - A A ceitação do Verbo (Jo 1.12-14)
1. O dom da filiação. “Mas, a todos quantos o recebe­
ram, deu-lhes o poder de serem feitos filhos dc Deus; a
saber: aos que crêcm no seu nom e” . Estes vieram a ser
Jesus, 1'ilho de Deus e Criador 11
filhos de Deus, não por serem descendentes de Abraão (“não
nasceram do sangue”), nem por geração natural (“nem da
vontade da carne”), nem pelos seus próprios esforços (“nem
da vontade do varão”). Sua adoção na família divina foi
um dom gratuito c sobrenatural da parte de Deus, mediante
um a nova vida implantada neles pelo Espírito Santo, como
será e x p lic a d o ad ian te na e n tre v ista de Jesu s com
Nicodemos, no capítulo 3.
2. A visão da glória. “E o Verbo se fez carne, e habitou
entre nós”. Literalmente: “E o Verbo foi feito carne, e ta-
bernáculo entre nós” . O Filho de Deus habitou num taber-
náculo (“tenda”) entre nós, o tabernáculo sendo seu pró­
prio corpo (cf. Jo 2.19; 2 Co 5.1,4; 2 Pe 1.13,14). Assim
como a glória de Deus habitava no Tabernáculo antigo,
assim também, quando Cristo nasceu neste mundo, sua di­
vina natureza habitava no seu corpo como num templo.
“E vimos a sua glória” (caráter divino), não meramente
a glória externa revelada na transfiguração (2Pc 1.16,17),
mas, também, o esplendor do seu divino caráter. Não era
uma glória refletida, como a glória de um santo, e sim a
“glória do unigenito do Pai” . Um filho participa da mesma
natureza do pai; Cristo, como Filho de Deus, tem a própria
natureza de Deus. Este divino caráter estava “cheio de graça
e de verdade” . A graça é o favor divino, o amor inabalável
de Deus, a misericórdia divina, c a verdade não somente é
a fala leal, sincera c veraz, como também a conduta à al­
tura.
Por qual ato, ou meio, o Filho dc Deus veio a ser Filho
do homem? Qual milagre poderia trazer ao mundo “o se­
gundo hom em ”, que é o Senhor do Céu (1 Co 15.47)? A
resposta é que o Filho de Deus entrou no mundo, como
Filho do homem, por meio da concepção no ventre de Maria
mediante o Espírito Santo, independentemente de pai hu­
mano. No fato do nascimento virginal baseia-se a doutrina
da encarnação (Jo 1.14).
12 João, o Evangelho do Filho de Deus
IV - Ensinam entos Práticos
1. Cristo, a nossa Vida. “Nele estava a vida” . Cristo é
a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para que
tenham vida, e a tenham cm abundância” (Jo 10.10). Para
esta finalidade o Filho de Deus tornou-se Filho do homem:
a fim de que os filhos dos homens possam ser feitos filhos
dc Deus. “Quem tem o Filho, tem a vida”.
Esta vida dc Cristo cm nós precisa tomar a primazia;
enquanto subjugamos pela Fonte a vida do próprio-eu, sus­
tentamos a vida de Cristo em nós; quanto mais alimenta­
mos cm nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai
passando fome. Miguelângclo, o grande escultor, dizia das
lascas dc mármore que iam caindo em grandes quantidades
no chão do seu estúdio: “Enquanto o mármore vai se des­
gastando, a estátua vai crescendo.” Enquanto nós, m edian­
te a abnegação, tiramos lascas da nossa velha natureza, a
vida dc Cristo se torna manifesta cm nossos corpos m or­
tais.
Cristo, para ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da
poda: “Toda vara cm mim que não dá fruto, a lira; e limpa
toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15.2).
O objetivo da poda c canalizar a vida dc partes inúteis para
partes úteis. A parte da planta que antes monopolizava o
vigor da planta sem dar resultados, de repente c cortada, a
fim de que a seiva vital passe de modo ativo às partes
frutíferas. A abnegação c um tipo de poda espiritual medi­
ante a qual as energias antes malbaratadas em atividades
pecaminosas ou sem proveito são postas a serviço da vida
espiritual.
Enquanto conservarmos nosso contato com Cristo, que
é a nossa vida, temos a vida abundante. Se deliberadamen-
tc nos separamos dele, perdemos esta vida. A árvore não se
alasta da folha; é a folha que cai da árvore. Ciásto não
abandona ninguém; são os homens que o abandonam.
Jesus, Filho de Deus e Criador 13
Como nutrir a vida divina que há em nós? Pela leitura
da Palavra, pela oração, observando diligentemente todos
os meios da graça.
2. Cristo, nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que
alumia a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1.9). Por
que Jesus é comparado à luz?
2.7. A luz é pura. Brilha nos lugares mais imundos sem
perder sua pureza. Cristo foi chamado “o amigo dos peca­
dores”, sem que a mínima m ancha de pecado lhe tenha
maculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca
por elas ser vencida, obscurecida. Longe de afastá-lo dos
pecadores, sua pureza fez com que sentisse simpatia por
eles. Os verdadeiros homens de Deus sempre demonstram
ternura pelas pessoas que caíram cm erros.
2.2. A luz é meiga. A luz pode tocar numa teia de ara­
nha sem fazer tremer um único fio. Cristo sempre demons­
trava meiguicc ao tocar vidas quebradas, para sarar e não
para esmagar (cf. Mt 12.20). Todos os verdadeiros cristãos
são pessoas meigas, pacíficas (Tg 3.17). Muitas vezes o
conceito de poder se confunde com o da violência; a mei-
guicc, porem, é um poder construtivo.
2.3. A luz. revela. Quão grande é o alívio para o viajante
tateando na noite escura, quando rompe a aurora! Quão
grande a alegria para o peregrino nas sendas desta vida
quando a luz da revelação divina esclarece os problemas
da vida! “Eu sou a luz do mundo; quem m e segue não
andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
3. “O homem, este desconhecido". Foi este o título que
o cirurgião c cientista Dr. Alexis Carrel, de renome m un­
dial, deu a um livro seu que teve enorme aceitação. Nele,
indica que as dificuldades pelas quais a humanidade passa
são devidas ao fato de que o homem, sábio quando se trata
de invenções, é proporcional mente ignorante quanto à na­
tureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável
biólogo fez um a declaração semelhante. Expressou o re­
14 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
ceio de que a nossa civilização esteja caminhando para a
ruína porque o homem, com tantos conhecimentos quanto
ao emprego dos objetos materiais, ainda permanece sendo
um “mistério biológico” .
A razão por que o homem não conhece a si mesmo
é não conhecer o seu Criador. Assim como João escreveu:
“Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, c o mundo
não o conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no
hom em ” (Jo 2.25). Sabe, também, o que é melhor para o
homem. Seu jugo é suave porque, diferentemente do jugo
do pecado, se adapta à alma.
4. D eus m anifestado na carne. Narra-se a história de
um culto hindu, que, passeando dcsprcocupadamentc, foi
olhar de perto um formigueiro. Quando se abaixou, sua
sombra assustou as formigas e elas correram em todas as
direções. Tendo uma natureza simpática, o hindu pensou
consigo mesmo: “Gostaria de poder conversar com estas
pequenas criaturas, para dizer-lhes que não quero lhes fa­
zer nenhum mal”. Mais uma vez, aproximou-se delas, e
elas, como da primeira vez, se amedrontaram. Quando ele
recuou um pouco, recomeçaram as atividades do formiguei­
ro. Sua mente, como que brincava com o incidente: “G os­
taria de poder falar àquelas criaturinhas”, voltou a pensar.
Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com
elas mesmo se possuíssem inteligência; ainda que possuís­
sem uma língua, c que eu pudesse aprender tal língua, não
conseguida mc comunicar com elas, porque os meus pen­
samentos não são os pensamentos delas. Meus termos de
expressão não seriam compreensíveis a elas.” Sua im agi­
nação continuou trabalhando: “Se eu pudesse vir a ser uma
formiga como elas, c ainda reter minha própria personali­
dade c consciência, então, vivendo entre elas, conseguida
comunicar-me, e elas entenderíam pelo menos alguma coi­
sa dos meus pensam entos” . O seguinte pensamento raiou-
lhe de súbito: “E exatamente isto que estes ensinadores cris­
Jesus. Filho de Deus e Criador I5
tãos querem nos di/.er: que Deus se fez homem a fim de
revelar se a nós c salvar-nos” . E, assim, sob a influência da
própria ilustração que ele mesmo viu, o hindu veio a acei­
tar a fé cristã.
A encarnação c um mistério que desafia a lógica. Para
nossa fé, porém, basta sabermos que Deus se revelou por
meio de Cristo, a fim de abrir-nos o caminho da salvação.
Os Primeiros
Discípulos
Texto: João 1.35-42
Introdução
O apóstolo João declara o propósito de escrever seu
evangelho: “Listes, porem, foram registrados para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, c para que, crendo,
tenhais vida cm seu nom e” (Jo 20.31). João transmite-nos
todo o volume de testemunho que o convenceu, c a outros
da sua geração, quanto à divindade de Cristo, e tem confi­
ança de que outros, igualmcnte, serão inspirados com a
mesm a convicção.
O apóstolo apresenta três séries de testemunhos: 1) Os
milagres de Cristo, que chama dc “sinais”, porque dem ons­
tram a divindade de quem os opera. Quantos milagres
operados antes da crucificação João registra no seu livro?
2) As asseverações dc Jesus quanto à sua natureza e m is­
são. Note quantas vezes João registra as reivindicações dc
Jesus, que começam com as palavras “eu sou” . 3) João
registra os testemunhos de outras pessoas - de João Batista,
dos primeiros discípulos c daqueles que receberam a cura
da parte dc Jesus.
18 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
Este trecho c um exemplo da terceira série de evidenci­
as. Citam-se aqui os testemunhos de João Batista c Andrc,
irmão de Pedro.
Q uando Jesus em ergiu da vida particular para entrar
no m inistério público, não tinha nenhum adepto ou se­
guidor. Deus, porém, enviara um profeta para preparar o
cam inho diante dele - João Batista, para “preparar ao
Senhor um povo bem disposto” (Lc 1.17). Foi no meio
dos convertidos de João Batista que Jesus recebeu seus
prim eiros discípulos. Nosso trecho bíblico conta com o
três desses discípulos (inclusive o discípulo não m enci­
onado pelo nome) deixaram a escola preparatória de João
Batista para se tornarem estudantes da escola superior
de Jesus.
I - Uma D eclaração Que Cham a a Atenção
(Jo 1.35,36)
“No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos
seus discípulos [André c João]; c, vendo passar a Jesus,
disse: Fis aqui o Cordeiro de Deus” . Estudemos o significa­
do desta proclamação, examinando as palavras, uma por uma.
1. “EIS aqui o Cordeiro de Deus”. Fiteralmente, “veja”.
O evangelista apela ao pecador que veja o Crucificado e,
contemplando-o, lamente os pecados que causaram sua
morte.
2. “ Eis O Cordeiro de Deus” . Os sacrifícios de animais
não operavam a perfeita redenção, haja vista que sempre
tinham de ser repetidos. Nenhum sacerdote de Israel, can­
sado por causa do serviço ao redor do altar, podería voltar
para casa, dizendo: “Minha esposa, finalmente ofereci o
sacrifício final; o povo está completamente perdoado e
purificado” . No entanto, qualquer um dentre os sacerdotes
que obedeciam à fé (At 6.7) poderia ter dito isso, porque o
Cordeiro perfeito, do qual os demais eram apenas símbo­
los, já fora oferecido (cf. 11b 10.1 1,12).
Os Primeiros Discípulos 19
3. “Eis o C O RD EIRO dc Deus”. O cordeiro era um
animal sacrifical; João, portanto, identificava Jesus com o
Sacrifício enviado da parte dc Deus, “que tira o pecado do
m undo”. Leia Isaías 53, que c um ponto alto na doutrina
do sacrifício, por profetizar que o próprio Messias em pes­
soa havería dc se tornar a expiação pela raça humana.
Compare com Atos 8.32-35. Talvez João também se refe­
risse ao cordeiro da Páscoa (cf.l Co 5.7). No início do pe­
ríodo da Lei, há o cordeiro da Páscoa, cuja acciLação por
parte da nação de Israel redim iu-a do meio da nação gen­
tia; quase no fim do período da Lei, há outro Cordeiro,
rejeitado pelos israelitas - c, por causa deste pecado, fo­
ram espalhados entre os gentios.
4. “Lis o Cordeiro dc D E U S". U m a das mais marcantes
diferenças entre a fé cristã e o paganism o é que os
adoradores pagãos trazem sacrifícios na tentativa de se
reconciliarem com os seus deuses, enquanto a mensagem
do Evangelho declara que o próprio Deus enviou um sacri­
fício em nosso favor a fim de nos reconciliar consigo (Rm
8.32; 2 Co 5.19). Deus trouxe a nós o sacrifício que nos
coloca mais perto de Deus, e até o Antigo Testamento
apresenta a expiação como sendo a dádiva da graça divina:
“Porque a alma da carne está no sangue; pelo que vo-lo
tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas
almas” (Lv 17.11).
II - Um a Apresentação Inesquecível (Jo 1.37-39)
1. Os discípulos que procuram . “E os dois discípulos
ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.” A congregação
de João começou a deixá-lo; ele, no entanto, não sentiu
ciúmes porque, afinal, foi justam ente esta obra dc apontar
às pessoas o Messias que viera fazer: “E necessário que ele
cresça e que eu diminua” (cf. Jo 3.25-30). O fiel obreiro
cristão conduz as pessoas a Cristo, e não a si mesmo.
2. A pergunta perserutadora. “E Jesus, voltando-se c
vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais?” O
20 .hum, o Hvangelho do Filho dr Dens
Senhor não deixa que ninguém o siga cm vão; mostrará o
seu rosto àqueles que o seguem em sinceridade. Note que
as palavras "que buscais?” são um gracioso convite aos
que o procuram, para que abram o seu coração a Ele. Ele
a todos pergunta: "Que buscais?” Estão procurando verda­
de. poder, perdão, amor, paz, vitória, esperança, forças? Ele
pode nos oferecer tudo quanto buscamos e de que necessi­
tamos. Além disso, a pergunta é um desafio, no sentido de
ver se estamos procurando as coisas certas, porque ele
procura discípulos sinceros e que entendam o que estão
fazendo.
d. A pergunta tímida. "E eles disseram-lhe: Rabi (que,
traduzido quer dizer. Mestre), onde moras?” Apesar de se
sentirem um pouco acanhados na sua presença, os jovens
ficaram tão impressionados cm seu primeiro contato com
Jesus que desejavam saber mais acerca dele; queriam saber
o seu endereço, visando a uma visita mais prolongada.
Eição: não devemos nos limitar a uma olhada passageira
em Cristo; devemos saber onde Ele habita, para que nos
receba como hóspedes.
4. O convite gracioso. "E ele lhes disse: Vinde, e vede.”
Este convite é a melhor resposta aos que duvidam e aos
interessados é o apelo à experiência. Podemos dar às pes­
soas uma excelente receita culinária, c fazer grande esforço
de descrever quão delicioso é certo prato, mas nada se
compara com levar o próprio ouvinte a experimentar a
comida por si mesmo. “Provai, c vede que o Senhor é bom ”
(SI 34.8)
III - Um a Entrevista Que Transform a a Vida
(Jo 1.39)
“Foram, e viram onde morava, c ficaram com ele aque­
le dia” . O escritor inspirado não nos conta os detalhes
daquela inesquecível visita; sabemos, no entanto, que o
contato com o radiante Mestre contribuiu com algo de vital
Os Primeiros Discípulos 21
à vida de André. Nunca mais foi o mesmo depois daquela
entrevista. “Senti um calor estranho no meu coração”, dis­
se João Wesley, descrevendo seu primeiro contato vivo com
Cristo, c certamente André sentiu-se assim durante a sua
festa espiritual com o Mestre. Quem aceitar o convite de
Jesus (“Venha ver” ) receberá outro convite (“Venha cear”).
O primeiro é para os que ainda não são do seu rebanho; o
segundo é para os que já entraram no seu aprisco.
IV - Uma G rande D escoberta (Jo 1.40)
André saiu daquela casa transbordando com uma pode­
rosa convicção e, enlevado pela descoberta que tanto o
emocionara, foi correndo falar com o seu irmão Pedro,
anunciando as novas que fariam palpitar o coração de qual­
quer verdadeiro israelita: “Achamos o M essias”. Muitos
judeus podem dizer, até hoje: “Cremos na vinda do M es­
sias, oramos c ansiamos por aquele acontecimento”, mas
nenhum judeu que não crê em Jesus pode dizer, juntam en­
te com André: “Achamos o M essias” .
Note que André veio a ser testemunha de Cristo no dia
da sua conversão. As coisas maravilhosas que Cristo sus­
surra nos ouvidos do homem, em segredo, ficam ardendo
no seu íntimo até que ele conte aos outros.
V - Um Serviço de Am or (Jo 1.42)
André não se restringiu a contar as novas: queria que
seu irmão as experimentasse por si mesmo. Lemos, portan­
to: “E levou-o a Jesus” - o serviço mais gentil que uma
pessoa pode fazer a outra. Não é necessário que alguém
seja grande pregador ou gênio espiritual para assim fazer.
André com eçou o trabalho em seu próprio lar: “Este
achou prim eiro a seu irmão” . O melhor preparo a um mis­
sionário é com eçar cm casa; se não conseguim os levar
22 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
outras pessoas a Cristo cm nossa própria terra, como o
faremos em outras terras? Quando o endemoninhado liber­
to por Jesus quis seguir viagem com Ele, o Mestre respon­
deu: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão
grandes coisas o Senhor te fez, e como leve misericórdia
de li" (Mc 5.19).
VI - Um a Recepção G raciosa (Jo 1.42)
“E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de
Jonas; tu serás chamado Celas (que quer dizer Pedro)."
Celas, em hebraico, quer dizer “pedra" ou “rocha". O que
Cristo quis dizer com isto?
I. Na Bíblia, a mudança de nome frequentemente sig­
nificava mudança da natureza da pessoa, da sua situação
ou experiência (Gn 32.28). Este encontro com Jesus se
constituiu em ponto crítico na vida de Pedro - a hora em
que ele passou a ser de Cristo.
Dan C raw lord conta acerca do valor que os Congoleses
dão a nomes:
“ O hom em que se tra n sfo rm a m u d a tam b ém de
nom e. Um jovem perto de mim recebeu um aum ento
salarial, e tom ou d inheiro ad ian tad o para co m p rar um
nom e. Para ele, o nom e era um p atrim ô n io tão valioso
com o um im óvel, p crtcn ccn d o -lh e com o se fosse seu
cachorro ou sua arm a. O jovem q u eria co m p rá-lo so-
lcncm entc, à vista. N atu ralm en te que p o ssu ía nom e,
m as achava seu nom e de n ascim en to por d em ais in ­
fantil: não c verdade que para dado por co n jectu ra, e
sem o co n sen tim en to dele? Não é verdade que o nom e
deve ser um legítim o reflexo do caráter da pessoa?...
Não c de se estranhar, portanto, que quando você diz
ao africano que no ecu terem os um a nova natureza,
este responde: ‘D evem os, portanto, receb er um nom e
n o v o ” ' (ver Ap 2.17).
Os Primeiros Discípulos 23
2. A m udança dc nome foi, ncslc caso, uma promessa
de poder transformador. Talvez Pedro pensasse, consigo
mesmo, na presença do Mestre: “Como poderei eu, homem
tie caráter fraco c instável, ser digno de entrar no reino do
Messias?” (cf. Lc 5.7,8). O Senhor, percebendo os temores
íntimos de Pedro, queria dizer: “Sei que o homem cham a­
do Simão é conheeidamente impulsivo, impetuoso e instá­
vel. Tenha, porém, bom ânimo. Assim como sei quem é
você, assim também sei o que você será. Venha a mim
assim como você é, c eu o farei uma pedra firme no meu
Reino. Como sinal desta promessa, seu nome será Celas.”
O Senhor sempre é o mesmo: recebe-nos em nossa fra­
queza, sabendo que poderá nos tornar fortes.
3. O novo nome foi sinal da autoridade de Cristo exercida
sobre Pedro, assim como um rei pode alterar o nome dc
alguém que levou cativo (cf. Dn 1.7). Daquele momento
em diante, Pedro ficou pertencendo a Cristo c, com lodo
amor, chamava-o de Mestre.
VII - Ensinam entos Práticos
1. A m aior necessidade do hom em . Sacrifícios, alta­
res c tem plos em todas as terras e época testificam esta
verdade: os hom ens sem pre sentiram o falo de as coisas
andarem erradas no seu relacionam ento com o poder
superior, e que a apresentação dc um sacrifício com d er­
ram am ento de sangue é necessária para retificar a situ­
ação. C ada pessoa que honestam ente exam inar o seu pró­
prio coração sentir-sc-á constrangida a dizer “A m ém !” à
declaração bíblica: “Pois todos pecaram c destituídos
estão da glória dc D eus” (Rm 3.23). M uitos rem édios
têm sido oferecidos para curar a falta de harm onia que
há na alm a hum ana; João Batista, porém, apontou o re­
m édio divino: “Eis o Cordeiro dc Deus, que tira o peca­
do do m undo!”
24 João, o Evangelho do Filho de Deus
2. Uma pergunta perscrutadora. “Que buscais?” Esta
pergunta sugere duas lições. 1) A necessidade de term os
nítida consciência de qual é o nosso objetivo na vida.
M uitas pessoas são levadas à deriva pela vida, im pulsi­
onadas pelas circunstancias; sabem quais as suas neces­
sidades im ediatas; não podem, porém , apontar um obje­
tivo suprem o para atingir, nem m encionar um grande
propósito que controle a sua vida. Jesus, para despertar
nas pessoas o reconhecim ento de quão fútil é a vida que
vão levam , pergunta-lhes: “Que buscais?” 2) A pergunta
desafia as pessoas a sc tornarem discípulos sérios. M ar­
cos Dods escreve:
“Cristo deseja scr seguido com toda a seriedade. T an ­
tos o seguem porque um a m ultidão está indo atrás dele,
levando outras pessoas consigo; tantos o seguem porque
está na moda, sem possuírem opinião própria; m uitos o
seguem com o por experiência, c vão ficando para trás
quando surge a prim eira dificuldade; muitos seguem com
idéias errôneas quanto àquilo que esperam da parte dElc...
Cristo não m anda ninguém em bora sim plesm ente pela
sua lentidão em entender quem é Ele e o que Ele tem
feito pelos pecadores. Com esta pergunta, no entanto,
nos faz entender que aquela atração vaga c m isteriosa
que, qual ímã escondido, atrai a ele as pessoas, deve ser
trocada por uma com preensão nítida quanto ao que nós
m esm os esperam os receber dElc para suprir as nossas
necessidades. Ele não rejeitará pessoa algum a que res­
ponda, com sinceridade; “B uscam os a Deus, buscam os a
santidade, buscam os serviço contigo, buscam os a ti."
J. “Vinde, e vede”. É um desafio aos que duvidam e
questionam. Certo cristão aceitou o desafio de um não-crente
para debater com ele em público. Depois do discurso do
não-crente, o cristão, sem falar uma palavra, tirou uma
laranja do bolso, descascou-a, comeu-a e depois pergun­
tou: “Bem, como estava a laranja?” “Como vou saber?”,
Os Primeiros Discípulos 25
retrucou o não-crente. “Nem sequer provei dela” . Respon­
deu o crente: “Como o senhor pode conhecer o Cristianis­
mo quando não o experimentou?”
Um interessado pode ouvir e ler acerca de Cristo; o
melhor caminho, no entanto, é chegar diretamente a Ele
para experimentar seu poder. Para se explicar aos índios da
floresta tropical o que c o gelo, mais Valeria um pedaço
para examinarem do que uma hora de preleções sohrc o
assunto.
4. Testem unho de Cristo. O testem unho de A ndrc su­
gere três lições: 1) “Este achou prim eiro a seu irm ão” .
Q uanto mais estreitos os laços de parentesco entre quem
testem unha e quem ouve, mais enfático será o testem u­
nho. Há mais força de convicção entre os que se conhe­
cem intim am ente do que na m ensagem falada cm públi­
co. Q uando alguém encontra Cristo de form a tão real
que sua alegria é tão óbvia com o quando encontra um
excelente em prego ou vaga universitária, seu testem u­
nho não deixará de convencer aos que o conhecem . 2) O
testem unho pessoal é prova da convicção pessoal; qu an ­
do alguém tem profunda convicção, não pode ficar tran-
qiiilo até com partilhá-la com outra pessoa. 3) O teste­
m unho pessoal faz parte do plano de Deus para a evan-
gclização do mundo. No século que se seguiu à era apos­
tólica, não houve notícia de “grandes” evangelistas c m is­
sionários; não há registro de cam panhas cvangelísticas
abrangendo cidades inteiras. A Igreja, no entanto, cres­
ceu com ritmo veloz. A explicação é que cada cristão
considerou ser dever e privilégio testem unhar de Cristo.
O escravo testem unhava perante seu dono; o operário,
ao seu com panheiro; o vendedor, aos seus fregueses; o
filho, aos pais. Os pastores, evangelistas c m issionários
se destacam na liderança da obra de ganhar almas para
Cristo, mas não podem ficar sem a colaboração dos m em ­
bros das suas congregações.
0 Primeiro Milagre
de Cristo:s t i r , . - .-• .:• . : -
Texto: João 2.1-11
Introdução
O milagre da transformação da água em vinho ilustra o
propósito do Evangelho de João, a saber: despertar a fc na
divindade de Cristo e em Cristo, eomo o Messias. João nos
conta eomo este milagre o convenceu, juntam ente com os
demais discípulos, da natureza divina de Cristo (2.1 1), e
registra o incidente para que a nossa fc também possa ser
despertada c aumentada.
I - A Feliz O casião (Jo 2.1,2)
"E, ao terceiro dia (do incidente em 1.51), fizeram-se
umas bodas em Caná da Galilcia, c estava ali a mãe de
Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos
(ver capítulo 1) para as bodas.” A presença do nosso Se­
nhor no casamento sugere as seguintes lições:
1. Jesus aprova a vida social. Jesus não era um religi­
oso sombrio com rosto desagradável que se esquivava do
contato com as pessoas. Com ia juntam ente com fariseus e
28 Joao, o Evangelho do EiIfio de Deus
publicanos com sociabilidade imparcial. Não consta ter
recusado a hospitalidade de quem quer que seja, a ponto de
os formalistas levantarem a acusação de ser ele “glutão e
bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” . Não
era verdadeira a acusação, mas pelo menos ressaltou a
verdade de que Cristo não aborrecia o convívio de grupos
sociais, e que gostava de estar com pessoas. Procurava a
companhia das pessoas a fim de espalhar a sua influência
e doutrina, c para deixar que as pessoas o conhecessem e,
por meio dele, à graça de Deus. O Senhor Jesus acreditava
cm “separação” tão profundam ente com o os próprios
fariseus (que formavam o partido “da separação” ); mas,
enquanto estes se afastavam dos pecadores e continuavam
a dar guarida ao pecado no coração (Mt 23.25-28), Jesus se
conservava separado do pecado c dava as boas-vindas aos
pecadores, a fim de salvá-los. Noutras palavras, ele estava
inferionneníe separado dos pecadores, enquanto mantinha
com eles contato exterior. Devemos seguir seu exemplo
nesta matéria. Somos o sal da terra, mas, a fim de sermos
eficazes, precisamos entrar em contato com aquilo que
precisa ser salgado; para sermos pescadores dos homens,
devemos ir para onde estão os peixes; para sermos luz do
mundo, devemos aparecer c brilhar.
2. Cristo aprova o casamento. Nenhum relacionamento
humano tipifica um mistério espiritual tão profundo (ver Jo
3.29; Mt 9.15; 22.1-14; 25.10; Ap 19.7; 22.17; 2 Co 11.2).
É digno, portanto, da mais elevada honra. Cristo previu,
também, que surgiríam na igreja aqueles que menospreza­
riam o casamento (1 Tm 4.3), ou que não perceberíam toda
a dignidade c honra da família cristã. Lição prática: a pre­
sença de Cristo é essencial ao casamento feliz.
3. Cristo aprova a alegria inocente. Em bora nosso
Senhor fosse homem de dores, carregando, lá no íntimo, o
fardo do pecado c da tristeza do mundo inteiro, parece que
era o lado alegre da sua natureza que ele apresentava às
O Primeiro M ilagre de Cristo 29
pessoas. Seu nascimento foi anunciado como boas-novas
dc grande alegria. Uma das suas exortações favoritas era:
Tende bom ânim o” ; a palavra “alegria” ocupava um lugar
de honra no seu vocabulário. Não há dúvida de que Ele
dirigia os pensamentos dos homens às realidades solenes
da vida, mas, ao mesmo tempo, oferecia-lhes gozo inefável
e cheio de glória. Uma ilustração do Reino dos Céus que
Ele freqiicntemente citava era a dc um banquete de casa­
mento, e quando os discípulos dc João queriam saber por
que os de Jesus não jejuavam, empregou a m esm a ilustra­
ção: “Então chegaram ao pé dele os discípulos de João,
dizendo: Por que jejuam os nós e os fariseus muitas vezes,
e os teus discípulos não jejuam ? E disse-lhes Jesus: Podem
porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o
esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será
tirado o esposo, c então jejuarão” (Mt 9.14,15).
II - A Falta Em baraçosa (Jo 2.3 5)
“E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não tem
vinho.” O esgotamento do suprimento dc vinho pode ter
surgido por três razões: o número inesperado dos discípu­
los de Cristo, o prolongamento da festa por sete dias, se­
gundo o costume ou as dificuldades financeiras do noivo c
da noiva.
7. A sugestão ansiosa. Maria, decerto, tem íntima cone­
xão com a família que celebrava o casamento, como sc
percebe do seu conhecimento da falta de vinho e das or­
dens que deu aos serventes. A falta de vinho em tal ocasião
seria uma desonra para o hospedeiro c para o casamento
que estava sendo festejado. Assim, Maria sussurrou, ansi­
osamente, a informação: “Não têm vinho” . Lembrando-se
das declarações proféticas feitas acerca da grandeza do seu
Filho (Lc 1.30-35), ela acreditava ter ele poderes suficien­
tes para suprir a necessidade e tirar o hospedeiro do em ba­
raço. Maria, vendo o seu Filho cercado pelos seus discípu­
30 João, o Evangelho do Filho de Deus
los, sente a esperança secreta que nutria cm silencio duran­
te tantos anos irromper em ardor flamejante, e volta-se a
ele, demonstrando uma bela fé cm seu poder para ajudar,
mesmo na pequena necessidade do momento. Será que ela
já p re s e n c ia ra a lg u m a m a n ife s ta ç ã o do seu p o d e r
miraculoso? Leia o versículo 11.
2. A firm e ressalva. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que te­
nho eu contigo? ainda não c chegada a minha hora” . Tal
linguagem não dá a entender nenhuma falta de respeito
porque a palavra “mulher”, equivalente a “senhora”, foi a
mesm a que Jesus dirigiu a ela nos momentos finais de sua
vida terrestre: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19.26J. Lra
um termo de respeito que se empregava ate quando se di­
rigia a uma rainha.
Mesmo assim, a linguagem dá a entender uma mudança
de relacionamento entre Jesus c Maria. Ela já não era “mãe”,
e sim “mulher”. O período de sujeição a Maria chegou ao
fim. Ele agora é o Messias, o Servo do Senhor, c seu re­
lacionamento é o de Messias c discípulo (cf. At 1.14).
Jesus, por assim dizer, indicava: “É verdade que o rela­
cionamento natural entre nós c o de mãe c filho; lembre-se,
porém, de que a minha vida é vivida na esfera de um re­
lacionamento mais alto (cf. Lc 2.48,49). Como Filho de
Deus, devo doravante agir e trabalhar segundo o tempo e
a maneira que meu Pai manda. O tempo c a maneira do
meu ministério dependem de considerações mais altas do
que as de carne c sangue” (cf. Ml 12.46-50).
Muitas vezes acontece que uma mãe chega ao reconhe­
cimento, talvez doloroso, de que quem foi seu “menino”
entrou num a esfera de vida mais ampla, além de influência
c controle, da qual ela não pode participar.
3. A hum ilde aquiescência. M aria rapidamente enten­
deu a situação e aceitou-a com doçura c humildade; em
seguida, disse aos serventes: “Fazei tudo quanto ele vos
disser” . Sua fé lançou mão daquela pequena centelha de
esperança - “ainda não” (v. 4) - e fê-la transformar-se em
O Primeiro Milagre cie Cristo 3 1
chama viva. Com firme confiança, apesar da suave cham a­
da de atenção recebida, M aria deixou tudo nas mãos de
.lesiis. Nós também devemos nos submeter a Ele, confian­
do que atenderá às nossas petições, e isto como c quando
lhe convier.
III - O Suprim ento M ilagroso (João 2.6-10)
“E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as pu­
rificações dos judeus (para lavarem-se cerimoniahnentc) e
cm cada uma cabiam dois ou três almudcs (ou metretas,
medida correspondente a 38 litros). Disse-lhes Jesus: Enchei
d ’água essas talhas. E cncheram-nas totalmentc.”
1. A realidade. As circunstâncias do milagre dissipam
qualquer dúvida quanto à sua realidade: as talhas eram
especificamente para água, não havendo a possibilidade de
se sugerir a presença de sedimentos no fundo que empres­
tassem o gosto de vinho à água; sua presença ali era nor­
mal, c não premeditada, de acordo com o costume dos
judeus de lavagem (Mt 15.2; Mc 7.2-4; Le 11.38); a quan­
tidade era enorme, muito mais do que se poderia ter trazido
secretamente; as talhas estavam vazias, e os empregados
sabiam que foi com água que passaram a enchê-las.
2. O m istério. O processo pelo qual a água foi transfor­
mada em vinho era divino; nenhuma palavra foi escrita sobre
o método da operação do milagre, nem sequer se menciona
que o milagre foi operado; simplesmente nos é informado
o que aconteceu antes e depois do milagre. Jesus não enun­
ciou qualquer palavra de ordem, nem empregou qualquer
meio: bastava o silencioso exercício da sua vontade para
que a matéria se transformasse segundo o seu beneplácito.
A operação do poder criador do Senhor Jesus foi feita
mediante sua simples vontade íntima.
3. A admiração. “E, logo que o mestre-sala provou a
água feita vinho [não sabendo donde viera, sc bem que o
sabiam os serventes que tinham tirado a água], chamou o
32 J ock), o Evangelho do Filho de Deus
mestre-sala ao esposo, c disse-lhe: Todo homem põe pri­
meiro o vinho bom e, quando já tem bebido bem, então o
inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”. O mes-
tre-sala, dirigindo o andamento da festa, não aludia a qual­
quer excesso da parte das pessoas presentes naquela festa
específica, porque Jesus não teria abençoado com sua pre­
sença qualquer bebedice. Simplesmente faz alusão ao costu­
me normal, mediante o qual os hóspedes, depois de uma su­
ficiência de vinho superior, já não poderíam discernir a infe­
rioridade do vinho oferecido no fim da festa.
IV - O Propósito Superior (Jo 2.11)
O propósito imediato de Jesus em operar o milagre era
libertar um jovem casal do embaraço c da vergonha. O
versículo 11 sugere o propósito superior do milagre: a re­
velação da glória de Cristo. "Jesus principiou assim os seus
sinais cm Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os
seus discípulos creram nele”. Foi esta a primeira dem ons­
tração do poder milagroso de Jesus, revelando a sua natu­
reza divina. lrrompcram-sc agora, visivelmente, a divina
natureza e a glória que antes se escondiam sob o vcu de
carne, e os discípulos viram “a sua glória, como a glória do
unigenito do Pai” (1.14). O milagre revelou a operação do
poder criador, cuja origem somente podería ter sido de Deus.
/. Aum entou-se a f é dos discípulos. “E os seus discípu­
los creram nele”. Já tinham crido; senão, não seriam discí­
pulos (1.50). Agora, porém, sua fé ficou mais profunda e
mais forte. Acreditavam em Jesus, porém agora mais do
que nunca. Nossa fé é aumentada (Lc 17.5) ao ver o Se­
nhor operando cm poder milagroso.
V - Ensinam entos Práticos
1. Poder através da obediência. Quando Jesus mandou
os serventes encherem as talhas d'água e levarem-nas até
O Primeiro Milagre de Cristo 33
i» mcstre-sala para suprir a falta dc vinho, estes teriam
molivos justos para se recusar a fazê-lo, ou para exigir al­
guma explicação ou garantia de que Jesus enfrentaria as
eonseqüências. Obedeceram assim mesmo, e sua fé obedi­
ente fez com que se tornassem colaboradores de um mila­
gre; ficaram sabendo que nenhum a ordem de Cristo é inú­
til ou sem propósito.
Nós também ternos que passar por experiências seme­
lhantes para aprendermos a m esm a lição. A Palavra de Deus
ordena que façamos coisas aparentemente desarrazoadas e
além das nossas possibilidades. Por exemplo, temos de ser
santos, embora saibamos que assim como o leopardo não
pode mudar suas manchas, não podemos, por nós mesmos,
purificar a nossa alma. Quase temos vontade de dizer: Como
pode a substância da natureza humana, que é como a água,
ser transformada cm vinho digno de ser derramado como
oferta no altar de Deus?
N osso papel é obedecer sem questionar ou exigir ex ­
plicações. Os servos tiraram a água, levaram -na ao mes-
tre-sala, c o Senhor fez o resto. A ssim com o a vontade
de C risto perm eou a água, até im buí-la de novas qua­
lidades, tam bém é sua vontade perm ear a nossa alma,
conform ando-a ao seu propósito. “Fazei tudo quanto ele
vos disser” - é este o segredo da operação de m ilagres.
Faça-o, em bora possa dar a im pressão dc estar g astan ­
do cm vão as suas energias, ou vir ser objeto de escár­
nio. Faça-o, em bora você não tenha em si m esm o a ca­
pacidade dc realizar o seu propósito. Faça-o totalm en-
tc, com o se fosse você o único obreiro, com o se Deus
não viesse suprir as suas faltas, de m odo que qualquer
falha da sua parte fosse fatal à obra. N ão fique esp e­
rando que D eus o faça, porque é em você e através de
você que Ele faz a sua obra entre os h om ens. N ão
podem os fazer a obra de D eus, e não é plano dc Deus
fazer a parte que destinou a nós.
34 João, o Evangelho do Filho de Deus
Excelente lema para o cristão encontra-se nestas pala­
vras: “Fazei tudo quanto ele vos disser!”
2. A santificação da vida diária. É significativo que
Cristo revelasse a glória do seu poder criador num banque­
te de casamento, ocasião festiva vinculada a um relaciona­
mento humano comum. Assim ficamos sabendo que Ele
não veio esmagar os sentimentos humanos: veio elevá-los
ao compartilhar deles; não veio destruir relações humanas:
veio enobrecê-las mediante a sua presença; não veio aca­
bar com os afazeres e convívios da vida coletiva: veio
purificá-los; não veio abolir inocentes alegrias e recreios:
veio santificá-los segundo os princípios do Reino de Deus.
Não podemos dividir nossas atividades em duas clas­
ses: a “espiritual” e a “secular” . Cada esfera da vida pode
c deve ser consagrada a Cristo. Se houver qualquer ativi­
dade ou aspecto da nossa vida sobre a qual não possamos
invocar a sua bênção (Cl 3.17), tal atividade ou c totalmen-
tc errada, ou contem elementos que precisam dc scr rem o­
vidos. Já convidamos nosso Senhor para nossa próxima
reunião de amigos? Ou será que a sua presença estragaria
nossos planos?
3. O m elhor ainda está por vir. Chegaremos um dia a
falar ao Mestre aquilo que o mcstrc-sala falou ao noivo:
“Guardaste até agora o bom vinho” (cf. Pv 4.18). Por mais
cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passa­
dos de experiência cristã, o melhor ainda está no porvir.
Jesus guarda seu melhor vinho até ao fim; muitas almas
tristes c desiludidas vão sempre descobrindo que o mundo
faz exatamente o oposto, seduzindo as pessoas para que
sejam escravas do mundo, vítimas do mundo, mediante
promessas deslumbrantes c deleites dc curta duração que,
mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se
tornam insossos - c muitas vezes bem amargos! “Até no
riso lerá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza” (Pv
I 1.13). A coisa mais melancólica do mundo é a velhice
O Primeiro M ilagre de Cristo 35
vivida longe de Deus. c uma das eoisas mais belas, o cal-
inn pôr-do-sol que tantas vezes glorifica uma vida piedosa
que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações
suportadas com paciência, como lendo sido enviadas por
Ele... Em tal carreira, o fim é melhor do que o começo. E
quando a vida chegar ao fim, c passarmos à nossa morada
celestial, esta mesm a palavra brotará de nossos lábios, com
surpresa e gratidão, quando descobrirmos que tudo é m ui­
tíssimo melhor do que o melhor em nossa imaginação:
"Guardaste até agora o bom vinho".
4. A transform ação de coisas comuns. O mesmo Cristo
que transformou a água cm vinho vermelho e cintilante pode
transformar as coisasda vida cm bênçãos gloriosas. Ele pode
transformar a água da alegria terrestre no vinho da bem-
aventurança celestial. Ele pode transformar a água amarga
da tristeza no vinho de alegria. Pode lançar mão de uma
série de circunstâncias da vida que nos perturbam, trans­
formando-as cm brilhantes oportunidades.
Os deveres que cabem a nós, dia após dia, nos parecem
cansativos e monótonos? Levemo-los a Jesus, c Ele os trans­
figurará mediante a sua presença. Onde está Jesus, ali há
alegria.
Jesus e Nicodemos
Texto: João 3.1-21
Esboço e Exposição
Um dos propósitos que guiaram o escritor do quarto
evangelho foi o de registrar as impressões que o Senhor
Jesus deixou nas pessoas com quem leve contato. Em nos­
so segundo estudo, vimos como Jesus impressionou seus
discípulos com sua natureza c missão divinas; no terceiro
estudo, examinamos o milagre que os convenceu do seu
poder criador.
A conclusão do segundo capítulo, no entanto, refere-se
a outro tipo dc impressão que produziu um tipo de fé de
Cristo não julgava satisfatório: “E, estando ele cm Jerusa­
lém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais
que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não
confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2.23,24). Por
que o Senhor não encorajava a fé desse homens dc Jerusa­
lém ? Viu que eles não o en ten d iam ; re c o n h ec eu o
mundanismo nos seus corações c propósitos, e não permi­
tiu que entrassem na mesm a intimidade que já estabelecera
38 João, o Evangelho do Filho de Deus
com os cinco galileus dc coração singelo. Os judeus dc
Jerusalém estavam dispostos a ficar de acordo com qual­
quer pessoa que demonstrasse a probabilidade dc trazer hon­
ra à sua nação, e sua crença nEle era o crédito que os ho­
mens dão a um estadista cuja política apoiam. Se nosso
Senhor tivesse encorajado tais homens, mais tarde teriam
se decepcionado com Ele; foi melhor, portanto, que os ti­
vesse recebido de modo um pouco mais frio, dando-lhes
uma pausa para meditação. Realmcnte, os próprios mila­
gres dc Jesus estavam sendo um embaraço por atraírem o
tipo errado de pessoas - os homens superficiais e m unda­
nos (cf. Jo 4.48; 6.14-27,66).
Na pessoa dc N icodem os temos um exem plo de fé
imperfeita, pois o discipulado que produziu era secreto (cf.
Jo 19.38). M esmo assim, esta fé da parte de Nicodemos é
uma resposta antiga à objeção que os judeus dos nossos
dias levantam: “Se Jesus foi realmcnte o Messias, como é
que nenhum dos nossos estudiosos c sábios Leve o bom
senso suficiente para perceber este fato?” A resposta está
no Evangelho de João, no relatório da entrevista de Cristo
com Nicodem os e na declaração: “Apesar dc tudo, até
muitos dos principais creram nele, mas não o confessavam
por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinago­
ga” (Jo 12.42).
I - Contato Pessoal: o Pesquisador Distinto
(Jo 3.1,2)
“E h a v ia entre os fariseus um h o m em , ch am ad o
Nicodemos, príncipe dos judeus."
1. Um líder religioso. Nicodemos era um fariseu, m em ­
bro da fraternidade religiosa organizada sob juram ento
solene para observar escrupulosamente a lei e as tradições
dos antigos. Era membro do “partido ortodoxo” entre os
judeus. Era um “principal”, um membro do Sinédrio, da
corte eclesiástica do m undo judaico. Foi esta corte que
Jesus e N icodemos 39
condenou Jesus à morte, e da qual Saulo dc Tarso era, mui
provavelmente, membro.
2. Um inquiridor secreto. “Este foi ter de noite com
Jesus” . Fala-se da covardia de Nicodemos cm vir à noite.
Devemos, no entanto, dar valor ao fato dc ele ter procura­
do a Jesus, mesm o daquele modo. Mais tarde, foi ele quem
tomou sobre si a defesa de Jesus perante o Sinédrio (Jo
7.50,51) e ajudou a enterrar o seu corpo (Jo 19.39). Em
am bos os trechos, João volta a se referir ao fato dc
Nicodemos ter vindo a Jesus, da primeira vez, à noite.
Mostra, assim, que Nicodemos estava ficando mais firme
na fé, chegando a demonstrar mais devoção do que os
próprios discípulos que fugiram, quando veio ajudar a se­
pultar o corpo de Cristo.
3. Um inquiridor representativo. “Rabi, bem sabemos
que cs Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer
estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” . O plu­
ral “sabemos” permite-nos imaginar que talvez vários líde­
res religiosos, impressionados com os ensinamentos de Jesus
c querendo saber mais acerca dEle sem, no entanto, criar
uma sensação pública nem tomar partido publicamente,
tivessem nomeado Nicodemos para ser uma “comissão de
inquérito” de um só membro, de modo sigiloso (cf. Jo
12.42).
4. Uma alm a necessitada. As palavras iniciais de
Nicodemos revelam várias emoções lutando no seu íntimo,
e a declaração repentina dc Jesus (v. 3), longe dc ser uma
mudança de assunto, foi uma resposta - não às palavras,
mas sim ao coração de Nicodemos. Tais palavras revelam:
1) Fome espiritual: canseira com os cultos da sinagoga, sem
vida espiritual, aos quais frcqiicntava sem achar satisfação
para a sua fome. Sente que a glória se afastou dc Israel;
que há falta de visão; que o povo perece e que, por menos
que Nicodemos saiba sobre Jesus, seus ensinos lhe pene­
traram o coração, c ele acha que os milagres de Jesus com ­
40 João, o Evangelho do Filho de Deus
provam ser Ele Mestre vindo da parte de Deus. 2) Falta de
profunda de convicção. Nicodemos sente sua necessidade,
mas procura um m estre, mais do que um Salvador. A se­
melhança da mulher samaritana, quer a água da vida (Jo
4.15), mas precisa igualmente ficar sabendo que é um pe­
cador e que necessita ser purificado e transformado (Jo 4.16-
18). 3) Certa complacência quanto à sua própria pessoa,
como se dissesse a Jesus: "Creio que foste enviado para
restaurar o reino a Israel, e vim oferecer conselhos quanto
ao plano de ação e sugerir certas operações”. Provavelmente
considerava que ser israelita e filho de Abraão eram qua­
lificações suficientes para ser considerado membro do Reino
de Deus.
II - Explicação: o N ovo N ascim ento (Jo 3.3-10)
/. O fa to do novo n a scim en to . “Jesus resp o n d eu , e
d isse-lh e: Na v erd ad e, na v erd ad e tc digo que aq u ele
que não n ascer de no v o , não po d e ver o rein o de
D e u s ” . Jesus e x p lica que N ico d em o s não pode filiar-
se ao g ru p o dE le assim com o um a p e sso a filia-se a
u m a o rg a n iz a ç ã o q u a lq u e r. S er d isc íp u lo de Jesu s
dep en d e do tipo de vida que se leva. A causa de C risto
é a do R eino de D eus, onde não se pode e n trar sem
p a ssa r por um a tra n sfo rm a ç ã o esp iritu al. O R eino de
D eus era bem d ife re n te d aq u ilo que N ic o d em o s im a ­
g in av a, c o m odo de c sta b e lec c -lo e de c h a m a r p e s ­
soas a serem seus c id ad ão s ta m b é m
Jesus salientou a necessidade mais profunda e universal
do homem: uma m udança radical e completa da totalidade
da natureza e do caráter. A natureza total do hom em foi
torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta per­
versão se reflete na sua conduta individual e nos seus vá­
rios relacionamentos. Antes de poder viver uma vida que
agrade a Deus, sua natureza precisa passar por uma m u­
dança tão radical que é nada menos do que um segundo
Jesus e Nicodemos 41
nascimento. O homem não pode efetuar semelhante m u­
dança por si mesmo. A transformação deve vir de cima.
“Disse-lhe Nicodemos: Com o pode um homem nascer,
sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre dc
sua mãe, e nascer?” Nicodemos tem razão ao tirar a con­
clusão de que c necessário um milagre para alguém entrar
no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pen­
sava, decerto: “Sou um hom em com muitos anos de vida,
com hábitos dc pensar e viver bem arraigados em mim,
bem como muitas ligações sociais e costum es e idéias
antigos que nossos antepassados nos legaram. O nascimen­
to tal como tu falas é tão impossível quanto o nascimento
físico dc um hom em dc idade, tão prepóstero quanto seria
a idéia dc entrar segunda vez no ventre da mãe para nascer
de novo. A natureza hum ana não pode ser mudada desta
forma. Jeremias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o ctíopc
mudar a sua pele, ou o leopardo as suas m anchas?’ Sc é
esta a tua exigência para que sc possa entrar no leu Reino,
quem poderá ser considerado candidato aceitável?”
2. Os m eios do novo nascim ento. “Jesus respondeu: Na
verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da
água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”
Nascer da água significa passar por uma profunda experi­
ência dc purificação (cf. Ef 5.26). Nascer do Espírito sig­
nifica passar por uma profunda experiência de receber a
vida divina. A alma hum ana precisa ser lavada de toda
impureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar
pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da
regeneração c 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).
O ensino era novo e, ao mesmo tempo, antigo. “Não te
maravilhes dc te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus
respondeu, c disse-lhe: Tu cs mestre de Israel, e não sabes
isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Como você fica sur­
preso, como se eu pregasse alguma estranha doutrina? Ccr-
42 João, o Evangelho do Filho de Deus
lamente, como ensinador da Lei c dos Profetas, deve ter lido
da promessa de Deus anunciada por Ezcquicl: 'Então espa­
lharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, embora
Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de
Abraão, os membros da nação são impuros e, portanto, in­
dignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas,
antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer
da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e
receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a
Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nas­
cer de novo”.
J. A razão do novo nascim ento. Jesus não procurou
explicar o como do novo nascimento; explicou o porquê:
“O que c nascido da carne c carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito.” A carne e o Espírito pertencem a cam ­
pos diferentes, c um não pode produzir o outro. A natureza
hum ana pode gerar mais natureza humana, mas é somente
o Espírito Santo que pode produzir uma natureza espiritu­
al. A natureza humana nada poderá produzir além de natu­
reza humana, e nenhum a criatura pode se erguer acim a da
natureza que lhe c própria. A vida espiritual não pode ser
transmitida de pai para filho através da procriação natural;
é transmitida da parte de Deus para os homens mediante o
novo nascimento espiritual.
A natureza humana não pode se erguer acima daquilo
que ela é. Cada criatura tem certa natureza conforme sua
espécie, determinada por sua descendência. Esta natureza
que o animal recebe dos pais determina, logo de início, as
capacidades c a esfera da vida dele. A toupeira não pode
levantar majestoso vôo na direção do sol como se fosse
águia, c a ave que sai do ovo da águia não pode escavar
debaixo da terra como faz a toupeira. Nenhum curso de
treinamento poderá fazer com que a tartaruga corra tão
Jesus e Nicodemos 43
velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a
força do leão. Nenhum animal poderá agir de forma supe­
rior a sua própria natureza.
O m esm o princípio aplica-se ao hom em . O destino
supremo do hom em é viver com Deus para sempre; a
natureza hum ana, no entanto, não possui cm si as con­
dições necessárias para viver no R eino celestial; assim
sendo, a vida celestial tem de ser trazida do Céu para
transform ar a vida hum ana na terra, preparando-a para o
Reino de Deus.
4. () m istério do novo nascim ento. E m bora o com o
do novo nascim ento esteja além do alcance do raciocí­
nio hum ano, este m istério não precisa ser m otivo de
tropeço para N icodem os: “O vento assopra onde quer, e
ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para
onde vai; assim c todo aquele que é nascido do Espíri­
to.” Noutras palavras, o m ovim ento do vento é algo muito
real para nós, mas c m isterioso e além de nosso contro­
le; assim tam bém é a atuação do Espírito sobre a natu­
reza hum ana. Primeiro, o novo nascim ento é m isterioso
quanto à sua origem: “não sabes donde vem ” ; e, em se­
gundo lugar, há mistério quanto à sua consum ação: “não
sabes... para onde vai” . A ssim sendo, João escreve:
“A m ados, agora somos filhos de Deus, c ainda não é
m anifestado o que havem os de ser” (1 Jo 3.2). M esmo
assim, a atuação do Espírito é real: “O uves a sua voz”
(cf. At 2.3,4; 1 Co 12.7; G1 5.22,23).
III - Confirm ação: a Base do Novo Nascim ento
(Jo 3.11-15)
Duas perguntas devem ter naturalm ente ocorrido a
N icodem os: C om o Jesus sabe destas coisas? O que Ele
faz para levar as pessoas a experim entarem o novo nas­
cim ento?
44 João, o Evangelho do Filho de Deus
1. A experiência espiritual de Cristo. “Na verdade, na
v erd ad e te digo que nós d izem o s o que sab em o s e
testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testem u­
nho” (o plural “nós” talvez indique a presença de alguns
discípulos). Jesus, concebido mediante o Espírito Santo,
batizado no Espírito, cheio do poder do Espírito, continu-
amente movido pelo Espírito, podia falar com autoridade
cm matéria de Espírito. Que pena que tantos que profes­
sam ser seus seguidores tenham dogmatizado o assunto sem
desfrutar das operações do Espírito cm seu íntimo!
“Sc vos falei de coisas terrestres, c não crestes, como
crereis, se vos falar das c elestiais?” Jesus ex p lica a
Nicodem os que, se ele se preocupa apenas com a forma e
a matéria do novo nascimento, só poderia conversar sobre
coisas terrestres porque, embora o nascimento espiritual
venha de cima, ocorre na terra e faz parte dos fatos da
vida. A explicação do “com o” deste assunto tem a ver com
os etern o s p ro p ó sito s de D eus (coisas celestiais), e
Nicodemos não está pronto para tais ensinos, porque ainda
não aceitou o fato da necessidade do novo nascimento (coi­
sas terrenas).
2. A origem celestial de Cristo. “Ora ninguém subiu ao
céu, senão o que desceu do céu, o Eilho do homem, que
está no ecu”. Cristo tinha estado no Céu antes de sua m is­
são na terra, podendo, portanto, falar acerca de coisas
celestiais a partir de uma experiência pessoal.
Em bora “o Filho do homem, que está no céu”, estivesse
na terra, seu lar real sempre foi o Céu, e são celestiais sua
origem e natureza.
3. A obra expiatória de Cristo. Jesus já tratara de um
erro fundamental de Nicodemos c dos seus companheiros:
imaginavam que, pela sua conexão natural com o o povo
escolhido, teriam de se filiar ao Reino de Deus; o Senhor
Jesus, no entanto, declarou que devem entrar no Reino m e­
diante o novo nascimento. Agora dissipa o segundo erro:
Jesus e Nicodetnos 45
Nicodemos acreditava que o Messias, na sua vinda, seria
“levantado” ou exaltado num trono, para salvar Israel da
total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que, em
primeiro lugar, o Messias teria que ser levantado de modo
bem diferente: “E, como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o filho do homem seja levanta­
do; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado numa cruz
para salvar a nação do perecimento espiritual.
Qual a conexão entre a crucificação do Filho do ho­
mem e a regeneração dos filhos dos hom ens? Q uando
Deus criou o hom em e lhe soprou nas narinas o fôlego
da vida, transm itiu a este não som ente a vida m ental e
física, com o tam bém o Espírito Santo. A dão foi criado
perfeito, e certam ente deve Ler recebido o Espírito San­
to, pois sem ele a personalidade hum ana é incom pleta
diante de Deus. Q uando pecaram nossos prim eiros pais,
iniciou-se a m orte espiritual e deixou de habitar neles o
Espírito Santo. Quando, portanto, veio o R edentor, sua
m issão era restaurar ã hum anidade a presença do Espí­
rito. “Cristo nos resgatou da m aldição da lei, fazendo-se
m aldição por nós; porque está escrito: M aldito todo
aquele que for pendurado no m adeiro. Para que a bên­
ção de A braão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e
para que pela fé nós recebam os a prom essa do E spírito”
(G1 3.13,14). Cristo m orreu na cruz a fim de rem over o
obstáculo que não perm itia que a vida hum ana recebesse
a presença de Deus. Este obstáculo era o pecado.
V - Ensinam entos Práticos
/. Pregando o novo nascimento. Segue-se um esboço
de como se pode aplicar, de modo prático, a doutrina do
novo nascimento.
1.1. U m a vez que você reconhece a seriedade e a degra­
dação dos seus pecados e o poder que exercem sobre você,
46 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
sua situação dc impotência dos seus pecados, c que lhe
aguarda a eternidade no inferno, se você morrer no seu
atual estado de pecado;
1.2. E quando, com genuíno arrependimento, vocc acei­
ta a expiação mediante o sangue dc Jesus Cristo como sua
única esperança, recebendo Cristo de modo permanente c
sem reserva, como seu Salvador c Senhor, que pagou a
penalidade dos seus pecados, sofrendo em seu lugar;
1.3. Então ocorre dentro de vocc um tríplice milagre: 1)
Você c purificado dc todos os seus pecados; liberto do poder
deles sobre vocc; revestido da justiça dc Cristo. Você rece­
be esperança, paz, gozo e um novo propósito na vida - o dc
viver e trabalhar para ele, comissionado para ser seu em ­
baixador c testemunha por onde quer que você vá, dc tal
modo que sua vida se torna útil, necessária c cheia de es­
perança. Você recebe forças para vencer o “velho ho­
m em ” no seu íntimo, para viver a vida cristã c crescer na
graça. Por suas próprias forças, você fracassaria, mas,
mediante este milagre, pode ter absoluta certeza de que,
enquanto ele precisar de você nesta terra, ele o preservará,
sustentará, fortalecerá, guiará e protegerá.
2) Jesus Cristo vive em você, de m odo real e literal.
3) Você c regenerado. N a realidade, torna-se nova cri­
atura. Literalmente, nasceu de novo para entrar no Reino
de Cristo. Você se torna santo, um filho de Deus, membro
da igreja verdadeira.
1.4. Como resultado deste tríplice milagre, você é sal­
vo, dc modo literal e definitivo. Você tem a vida eterna, c
pertence ao Senhor. Agora, poderá com eçar a viver a vida
cristã - a vida “oculta juntam ente com Cristo” - em Deus.
2. Cristianismo, a religião do novo nascim ento. Nas
religiões pagãs, declara-se universalmente que o caráter
hum ano é imutável. Em bora tais religiões determinem pe­
nitências e rituais que oferecem ao hom em a esperança de
Jesus e Nicodem os 47
compensar os seus pecados, não existe nenhuma promessa
de haver vida e graça para transformar a sua natureza.
Somente a religião de Jesus Cristo toma a natureza decaída
do homem, regenerando-a mediante a vida de Deus, que
passa a habitar nele porque o seu Fundador é Pessoa di­
vina e viva, que salva totalmente os que por Ele chegam a
Deus.
Não há analogia entre a religião cristã e, o budismo e o
maometismo, no sentido de dizer: “Quem tem Buda tem a
vid a” . Os líd eres destas re lig iõ e s p o d em e x o rta r à
moralidade, estimular, impressionar, ensinai- e orientar, mas
nada de novo é acrescentado à alma de quem professa suas
doutrinas, que são desenvolvidas pelo hom em natural e
moral. O Cristianismo é tudo isso mais a divina Pessoa.
A missão do Senhor Jesus pode ser resumida na breve
proposição: Jesus Cristo veio ao mundo romper o poderio
do pecado e introduzir na raça humana uma nova fonte de
vida espiritual (cf. Gn 2.7; 1 Co 15.45; Jo 20.22; El 2.1).
E isto nos leva a pensar na missão dominante dos discípu­
los de Jesus - fazer com que homens pecaminosos sejam
transformados pelo poder de Deus.
Jesus e a Mulher
Samaritana
Texto: João 4.4-30
Introdução
Jesus deixou Jerusalém porque seus milagres estavam
atraindo as pessoas do tipo errado - espectadores curiosos
que tinham do Reino um conceito errado. Foi, portanto,
para os distritos rurais, onde o povo tinha mais simplicida­
de c seriedade de coração. Ali ganhou muitos, que se con­
verteram a Ele e aceitaram o batismo. Mais uma vez, po­
rém, seu próprio sucesso fez periclilar o propósito do seu
ministério. Os fariseus, ouvindo a notícia de que grandes
multidões acorriam ao seu batismo, ficaram com inveja e
alimentaram uma discussão entre os discípulos de Jesus e
os de João Batista (cf. Jo 3.25; 4.1,2). Jesus, desejando evitar
uma contenda com os fariseus, deixou a Judéia. Não havia
finalidade cm que ele se revelasse como Messias diante
dos fariseus, porque, com suas mentes cheias de idéias
preconcebidas, teriam entendido os seus ensinos de manei­
ra errada. Era diante de pessoas de mente sincera c coração
faminto como a mulher samaritana que Jesus se sentia li-
50 João, o Evangelho do Eilho de Deus
vrc para rcvclar-sc, cm ve/, dc entrar cm controvérsias te­
ológicas com os fariseus.
Este trecho, bem como o que estudamos no capítulo
anterior, são exemplos dos ensinamentos dc Cristo sobre o
poder rcgencrador do Espírito Santo. No capítulo anterior,
ouvimos Jesus instruindo Nicodcmos com respeito ao novo
nascimento; agora, estudaremos a sua entrevista com uma
mulher samaritana. Ele era um membro da sociedade que
desfrutava de grande respeito; ela, uma mulher proscrita.
Ela, era um homem da mais severa moralidade; ela, uma
mulher vivendo no pecado. Ele era um culto ensinador de
Israel; ela, uma analfabeta das classes inferiores. Ambos
têm a mesma necessidade - a transformação espiritual para
entrar no Reino dc Deus.
Este trecho descreve os passos mediante os quais o
supremo Conquistador de almas conseguiu a conversão da
mulher samaritana.
I - Conseguindo a A tenção (Jo 4.5-9)
“Eoi pois a uma cidade, dc Samaria, chamada Sicar, junto
da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava
ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assen­
tou-se assim junto da fonte. Era isto quase a hora sexta”.
Esta menção do cansaço dc Jesus é a evidencia de que,
quando compartilhou da natureza humana, o fez com toda
seriedade: realmente tomou sobre si nossa natureza, e ex­
perimentou todas as limitações e fraquezas a que a carne
humana está sujeita (menos as que são fruto direto do nosso
pecado). “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28) foi dito por aquElc
que sabia como é a dor dc músculos cansados e latcjanles.
“Veio uma mulher de Samaria tirar água; disse-lhe Je­
sus: D á-m e dc beber”. O propósito do Senhor era levar a
mulher necessitada à água espiritual que satisfaz a sede da
alma; assim, fez seu primeiro contato com ela ao pedir água.
Jesus e a M ulher Sam aritana 5 1
Ele de que tomar a iniciativa, porque a mulher, de si m es­
ma, não teria falado com Ele primeiro. Existiam quatro
barreiras que impediríam semelhante conversação, e que o
Senhor prim eiramente teria de romper. 1) A barreira do
sexo. Os próprios discípulos ficaram atônitos ao ver Cristo
agir contrariam ente às bem conhecidas atitudes de sua
época, falando assim a uma mulher cm público (v. 27).
Geralmente, os preconceitos dos rabinos proibiam que as
mulheres recebessem educação superior. 2) A barreira da
nacionalidade. Não havia comunicação entre os judeus e
os samaritanos. 3) A barreira do caráter moral. A mulher
samaritana sabia que nenhum rabino judeu chegaria perto
de uma pecadora como ela. 4) A barreira da ignorância.
No decurso da conversação, foram rompidas todas as
barreiras. A mulher recebeu novos horizontes para a sua vida,
seu caráter foi transformado, c sua alma, iluminada.
Note a habilidade do Senhor em abrir caminho para esta
conversação. Pediu um favor da parte dela, fazendo-a sentir-
se, por um momento, em condições de superioridade. M e­
diante um apelo à simpatia da mulher, criou ambiente apro­
priado para conversar sobre assuntos espirituais.
Foi uma grande surpresa para a mulher quando a pessoa
junto à fonte - que ela reconheceu como sendo um judeu - ,
fez um pedido a uma mulher samaritana de sua condição.
“Como, sendo tu judeu, mc pedes de beber a mim, que sou
samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os
samaritanos)” . Embora Jesus, como Messias, viesse da tri­
bo de Judá, nunca se chamou "Filho de Israel” ; sempre c
chamado de "Filho do homem  da humanidade inteira. Não
havia lugar cm sua mente c em seu coração para o precon­
ceito.
II - D espertando o Interesse (Jo 4.1 0 -1 4 )
7. O desafio surpreendente. A mulher samaritana apro­
veitou para se rir um pouco daquele judeu que, segundo
52 Joela, o Evangelho do Filho de Dens
pensava, fora forçado a mostrar franqueza c atnabilidadc
por causa da intensa sede que sentia, c de não ter condi­
ções de conseguir água. Surpreendeu-se, no entanto, por
I21c não se mostrar embaraçado; pelo contrário, suas pala­
vras c que a deixaram intrigada: “Se tu conheceras o dom
de Deus. c quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe
pedirías, e ele te daria água viva.”
“Se tu co n h eceras” . Há pessoas que não percebem
quantos poderes e oportunidades jazem escondidos ao
nosso redor. Por não reconhecerm os quantas bênçãos
se nos oferecem, perdem os milhares delas! “O meu povo
foi destruído, porque lhe faltou o co n h ecim en to ” (Os
4.6). A m ulher sam aritana estava falando face a face
com aquE le que satisfaria a todos os seus anseios de
paz c de vida - e não o sabia. Ilá m uitas pessoas que
passam pela vida bem perto daquilo que poderia re v o ­
lucionar sua existência, e ficam alheias á verdadeira
bcm -avcnlurança por falta de saber e de considerar. Em
dois assuntos, especificam ente, faltava conhecim ento à
m ulher.
1.1. Não conhecia o dom de Deus, aquilo que Deus
queria graciosamcntc dar a ela. A pobre mulher nem espe­
rava bênçãos da parte de Deus. Desiludida, esgotada, sem
caráter, sem alegria, praticava a enfadonha rotina dos ser­
viços diários. Ouvira falar sobre Deus, mas nem sequer
sonhava que Ele estivesse disposto a entrar na sua vida,
fazendo com que sua existência valesse a pena.
A água “viva” c a que flui ou que jorra de um a fonte
- a água cm m ovim ento, cm contraste com a água para­
da (ef. Gn 26.19; Zc 14.8). Sim boliza a vida divina que
flui m ediante o contato com Deus (Jr 2.13; Ap 7.17; 21.6;
22.1). A ssim com o a água natural satisfaz a sede física,
o Espírito Santo satisfaz a alm a que anseia por Deus (cf.
SI 42.1,2).
1.2. A mulher não conhecia a identidade daquele que
disse: “Dá-mc de beber” . A vinda do Messias era a espe­
Jesus e ei M ulher SamariUma 53
rança dos samaritanos, c não somente dos judeus, c ambas
as nações tiraram encorajamento c Ibrças desta promessa:
suportavam os males do presente, sustentados pela visão
do futuro, que se centralizava ao redor da Pessoa do M es­
sias. Agora, o Messias estava falando com esta mulher sem
que ela o percebesse. Muitos são os que têm familiaridade
com as palavras de Jesus, ouvindo-as como se escutassem
uma canção. Não são transformados, porém, porque não se
apercebem realmcnte de que as palavras que ouvem não
são as de um mestre humano, c sim as do próprio Filho de
Deus. Oxalá soubessem quem c o que lhes fala!
2. A pergunta feita com surpresa. Refutando a sugestão
de ela ser ignorante quanto ao dom de Deus, a mulher
responde: “Senhor, tu não tens com que a tirar, c o poço é
fundo; onde, pois, tens a água da vida?” A resposta a esta
pergunta se encontra nos versículos 13 c 14. Quanto a ser
acusada de ignorância sobre a Pessoa que fala com ela, a
mulher responde: “Es tu maior do que o nosso pai Jaeó,
que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus
filhos, c o seu gado?” Os versículos 25 c 26 respondem à
objeção da mulher. Como Nicodemos, objeta: “Como pode
suceder isto?” Quando se trata das coisas de Deus, os que
possuem boa educação não têm vantagem sobre os iletrados.
Todos, igualmenlc, precisam do “Espírito que provem de
Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gra-
tuilamente por Deus” (1 Co 2.12).
3. A com paração ejue ilumina. Jesus lança mão de uma
comparação para esclarecer o significado das suas palavras:
“Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas
aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede,
porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte d ’água
que salte para a vida eterna” . A água natural é mencionada
aqui como símbolo das fontes de prazer que há aqui na
terra, e que só proporcionam satisfação momentânea. A
totalidade da vida humana se compõe de desejos interim
tentes que recebem apenas parcial satisfação: anseios e
54 .loao, o Evangelho do Filho de Feus
sacicdadc, enfado e novos desejos fortes se seguem num
círculo vicioso. Realmente, nunca houve verdadeira satis­
fação para os desejos humanos; a alma humana nunca se
aquieta, senão cm Deus. As fontes da terra podem oferecer
satisfação temporária, mas c somente depois de o homem
ler achado a Deus que ele pode declarar ter satisfação com ­
pleta c eterna. Jesus ensina à mulher que a água no poço de
Jacó jaz sem vida ou movimento nas profundidades, en­
quanto a água celestial que ele oferece, embora fique nas
profundezas da personalidade humana, não fica parada ali;
vem brotando à superfície, revelando sua presença aos
outros, fluindo com mais e mais força até que, na vida do
porvir, o indivíduo recebe a plenitude desta benção.
A fonte fica no indivíduo. O prazer do mundano depen­
de das coisas externas; a Fonte da satisfação do cristão está
dentro dele, independe das circunstâncias. A vida eterna,
no Evangelho de João, é vinculada â fé cm Jesus (Jo 3);
provém da ação de com er da sua carne e beber do seu
sangue (Jo 6); é dádiva direta da parte dElc (Jo 10; 17).
Neste capítulo, é considerada como resultado da vida do
Espírito no homem, o fruto da vida espiritual, que é dife­
rente da vida humana cm qualidade, permanência e matu­
ridade.
Ill - A Consciência da Necessidade (Jo 4.15-18)
/. O pedido urgente. “Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-
me dessa água, para que eu não mais tenha sede, e não
venha aqui tirá-la.” A mulher ainda não havia percebido o
âmago do ensino de Jesus. Nem sequer sonhava que Ele,
falando sobre “água”, queria dizer algo diferente daquilo
que ela carregava no seu cântaro. Ela ainda não percebera
nada além dos seus desejos físicos e de suas necessidades
diárias. Começou a sentir a convicção de que aquele estra­
nho talvez a pudesse livrar da sua vida exaustiva de ter de
Jesus c a M ulher Samarilaiui S>
caminhar ate o poço com seu cântaro pesado. Seria um
alívio ter a água bem à mão! Embora não tivesse com pre­
endido o inteiro significado do dom prometido, entendeu,
pelo menos, que se lhe oferecia uma grande vantagem - e
seu desejo foi despertado.
2. Unia declaração perseruíadora. Agora, Jesus leva a
mulher a dar um passo adiante, despertando seu sentimen­
to de necessidade espiritual. Faz com que ela se recorde
de sua vergonhosa vida de pecados para que, esquecendo-
se da água do poço de Jacó, lenha sede daquilo que a ali­
viaria da sua vergonha c miséria. ‘‘Disse-lhe Jesus: Vai,
chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, c disse:
Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que
agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” .
Jesus trata do assunto do pecado a fim de que a mulher
veja a causa da sua infelicidade. A nova vida deve começar
com base na veracidade c na honestidade. O passado tem
que ser enfrentado, por mais desagradável que seja, e o
lixo da vida anterior deve ser varrido para longe.
IV - Cristo Revela a Si M esm o (Jo 4.1 9 -2 9 )
/. A expressão de perplexidade. A mulher, atônita dian­
te do discernimento de Jesus, exclama: ‘‘Senhor, vejo que
cs profeta”, c passa a levantar um problema religioso, da
controvérsia entre os samaritanos e judeus: “Nossos pais
adoravam neste monte [Gcrizim] e vós dizeis que é cm
Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” A pergunta surgiu
não somente do desejo de desviar o problema do pecado
dela para o campo de generalidades teológicas, como tam ­
bém de um real desejo de saber como procurar comunhão
com Deus e se erguer acima da sua baixa situação moral.
Aproveitou a presença de um profeta para esclarecer suas
dúvidas. Jesus, em resposta, mostrou que a verdadeira ado­
56 João, o Evangelho cio Eilho de Deus
ração c matéria dc atitudes certas, c nao do lugar certo; não
se trata de onde, c sim de como.
2. Cristo revelado. Cheia dc alegria pelas verdades que
ouve, a mulher se lembra do que se lhe contou acerca dc
um grande Mestre que haveria dc vir, enviado da parte de
Deus: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem;
quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o
sou, eu que falo contigo”. Jesus não podia se revelar aber-
lamentc aos fariseus porque estes não percebiam as própri­
as carências espirituais. No entanto, sempre estava dispos­
to a se lazer conhecido a todos aqueles que sentissem ne­
cessidade dElc (cf. Mt 11.25-27). Cristo sempre se revela
àqueles que amam a sua vinda. Foi assim que revelou-se
aos primeiros discípulos (Jo 1), c a Nicodemos (Jo 3.13;
9.35-38).
d. Começa o serviço cristão. A mulher imediatamente
tornou-se missionária do Profeta c Messias que acabara de
descobrir. “Deixou pois a mulher o seu cântaro” - mostran­
do que, na alegria de descobrir a Agua Viva, esquecera-se
da sua procura pela água natural _ “e foi â cidade, e disse
àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo
quanto tenho feito; porventura não c este o Cristo?” (cf. Jo
1.41). Nada mais natural do que alguém que recebeu a Agua
Viva para beber levar outros à mesm a Fonte.
V - Ensinam entos Práticos
1. Fontes escondidas. A mulher samaritana não sabia
que falava ao Messias, e que a poucos passos dela eslava
a Fonte de Agua Viva; mas sua ignorância não alterava a
realidade dos fatos. As águas do Rio Amazonas entram
oceano adentro com tanta força que ainda há água doce a
grande distância da praia. Certo navio não tinha mais água
potável a bordo, c os tripulantes, longe da terra firme, fi­
zeram sinal a outro navio, pedindo água. Demoraram mui-
Jesus e a M ulher SanuiriUuui 6 /
lo tempo para acreditarem na resposta: “Desçam os baldes
no oceano, porque é de água doce”. Finalmente experimen­
taram fazer isto e descobriram que realmente estavam cer­
cados por água doce. Nós também estamos cercados em
Iodos os lados por Deus, sustentados por Fdc e vivendo
nEle, c tantas vezes não tomamos conhecimento deste fato.
deixando de lançar nossos baldes para recebermos a pleni­
tude da sua graça. O Senhor Jesus abriu os olhos da mulher
samaritana para que ela enxergasse a fonte das águas vi­
vas, c fará o mesmo por nós. No cansaço, Fie nos mostrará
uma fonte de refrigério; na tristeza, uma fonte de consola­
ção; na e n fe rm id a d e , u m a fonte de cu ra; no
descncorajamento, uma fonte de esperança (cf. Gn 21.16-
19; Ex 17.1-6; Nm 20.9-11; Is 43.19).
2. Sede chi alma. “Qualquer que beber desta água torna­
rá a ter sede” . Se nos colocássemos de vigia numa esquina,
examinando o rosto de cada um dos inúmeros transeuntes,
veriamos escrito nos semblantes da maioria desassossego,
descontentamento insatisfação. A maioria das pessoas se­
gundo parece, sofre a dor das ânsias não satisfeitas. Procu­
rando a satisfação que seus corações tanto reclamam, uns
vão ao cinema, outros procuram as drogas, outros procu­
ram se esquecer dos problemas mediante vários tipos de
atividades febris. Se rcalmcnte soubessem ler seu próprio
coração, diriam, juntamente com o salmista: “A minha alma
tem sede de Deus, do Deus vivo” (SI 42.2). O Espírito Santo
é a Água Viva que satisfaz a alma, e Jesus Cristo veio a
este mundo para nos levar “para as fontes das águas da
vida” (Ap 7.17).
3. O Espírito que habita em nós. Spurgeon escreveu:
“O poder do Espírito Santo que habita cm nós é supe
rior a todos os reveses, como um rio que não pode ser
forçado a ficar debaixo da terra, por mais que procuremos
represá-lo... Quando o Senhor dá de beber a nossas almas,
58 João, o Evangelho do Eilho de Deus
das fontes que brotam da grande profundidade do seu pró­
prio amor eterno, quando nos dá a bênção de possuirmos
cm nosso íntimo um princípio vital de graça, nosso ermo
se regozija, e desabrocha cm flores como a roseira, c o
deserto ao nosso redor não pode murchar o nosso cresci­
mento verdejante; nossa alma fica sendo um oásis, mesmo
quando tudo ao nosso redor é secura infrutífera.
0 Paralítico do
Tanque de Betesda
Texto: João 5.1-14
Introdução
Como já notamos num estudo anterior, João chama os
milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da
divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são
selecionados pelo evangelista: a transformação da água em
vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do pa­
ralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multi­
dão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a res­
surreição de Lázaro.
Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que
nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o
doador da vida, e, como o paralítico oüviu a voz de Cristo
e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ou­
virão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25).
I - O Sinal (Jo 5.1-9)
I. A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém
há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em
60 Joao, o Evangelho do Filho de Deus
hebreu Bctcsda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia
uma multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados,
esperando o m ovim ento das águas. Porquanto um anjo
descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, c o
primeiro que ali descia, depois do movimento da água,
sarava de qualquer enfermidade que tivesse''. Trata-se de
uma fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que pos­
suía - poderes de cura, ao redor da qual alguma pessoa
benevolente edifieara cinco pórticos para servirem de abri­
go à multidão de enfermos que aguardava o movimento da
água.
A multidão ao redor do tanque faz lembrar que o m un­
do está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas
enfermidades, sendo, porém, todas elas doentes; sim boli­
za o mundo que se aglomera, com uma ansiedade que c
quase desespero, ao redor de qualquer coisa que prometa
solução, por mais vaga que seja, no sentido de ajudar e de
curar.
2. A pergunta que desperta a esperança. Num dia de
festa religiosa, Jesus se encaminhou para este “hospital
natural”. Assim como o olhar experiente do cirurgião rapi­
damente seleciona o pior caso na sala de espera da sua
clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um homem que,
havia trinta e oito anos, se achava enfermo”. Era um alei­
jado, provavelmente um paralítico. Passara todo esse tem ­
po esperando, ouvindo a conversa monótona dos outros en­
fermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que nin­
guém mais queria ouvir.
Jesus, chegando a este homem, aborda-o com a pergun­
ta emocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece es­
tranha porque, após trinta c oito anos de sofrimento e es­
pera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa
que o homem desejava. A pergunta, no entanto, tinha vá­
rias razões para ser feita:
2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara
tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança
O Paralítico do Tanque de Belesda 6 1
mirrara dentro dele, assim eomo era mirrado o seu corpo.
Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas
esperanças, ajudando-o a ter a fé necessária para receber a
cura.
2.2. Para despertar a Jé. Cristo não era como certos
milagreiros que operam suas maravilhas mediante um pre­
ço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da
pessoa. Quando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser
curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar
o corpo era transformar a alma, porque mesmo quando vivia
na terra era o Salvador e, como tal, requeria a fé como elo
espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note eomo
a cura neste caso foi acom panhada por uma advertência ao
homem, que deixasse de levar a vida de pecado que fora a
causa de sua aflição (v. 14).
2.4. Para testar a sinceridade do desejo. Q uando Je­
sus perguntou ao paralítico se queria ser curado, a p er­
gunta era sincera c real porque existem enferm os que
não desejam ser curados. Os m édicos se oferecem para
curar gratuitam ente as feridas do m endigo, eom o ato de
caridade, c são rejeitadas as suas ofertas; m esm o o en­
ferm o que não usa sua enferm idade com o fonte de ren­
da, m ediante a m endicância, tende a tirar vantagem da
sim patia e indulgência dos am igos, a ponto de o caráter
ficar tão fraco, que ele com eça esquivar-se do trabalho.
Há, portanto, m uitos que, por um a ou outra razão, pre­
ferem ter saúde fraca.
A pergunta de Cristo significava: “Você está disposto a
ser restaurado a uma condição que o capacitará a assumir
as tarefas e responsabilidades da vida?”
3. O m andam ento c/ne dá vida. Enquanto o homem res­
ponde, relembrando os anos de sofrimento e o lato de não
ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam
nos seus ouvidos: “Levanta-te, toma a tua cama, c anda”.
A primeira vista, pode-se imaginar ser uma zombaria man
62 João, o Evangelho do Filho de Deus
dar um paralítico levantar-se e andar; devemos, no entanto,
levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder
para curar o homem, c que o homem tinha fé em quem
falou com cic. O homem creu, e manifestou a sua fé m e­
diante um alo de obediência a um mandamento que parecia
impossível cumprir. Se Deus nos mandasse passar através
dc um muro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a
traspassá-lo como se fosse uma folha dc papel de seda,
sempre na condição de termos a certeza de que a ordem
partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz
respeito àquilo que sabemos ser a Palavra de Deus. O pa­
ralítico obedeceu c “logo aquele homem ficou são; e to­
mou a sua cama, e partiu”. A fé é o elo entre a incapaci­
dade humana e a onipotência divina.
II - A Sequela (Jo 5.10,11)
/. A condenação. Os milagres dc Jesus eram sinais, mas
nem sempre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou
as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos per­
ceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas
humanas (Jo 6). Curou o cego, demonstrando assim ser a
Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela
Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, mostran­
do ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no
Sinédrio o desejo dc matar o Autor da Vida. N a ocasião
aqui estudada, Jesus operou um milagre que demonstrou
ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c
a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar uma cura
no sábado! (v. 16).
"E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram
àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a
cam a” . Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas pala­
vras de Jeremias: “Guardai as vossas almas, e não tragais
cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). Naluralmente, a proi­
b i ç ã o dizia respeito a cargas que faziam parte de em preen­
O Paralítico cio Tanque de Belesda 63
dimentos comerciais, mas os judeus, no seu exagerado
literalismo, levaram o mandam ento ao extremo.
2. A vindicação. O homem lançou a responsabilidade
sobre Jesus, e respondeu: “Aquele que me curou, ele pró­
prio disse: Tom a a tua cama, c anda.” Noutras palavras:
“Foi aquele que me deu as minhas forças o mesm o que me
mandou como empregá-las.” Que lógica magnífica! Na sua
simplicidade, o homem acabou enunciando uma regra do
discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o
direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa
vida, é também a fonte da nossa lei.
Ensinam entos Práticos
/. C o n so la çã o no vale cie lágrim as. B etesd a, com
os seus p av ilh õ es cheios de en ferm o s de toda e s p é ­
cie, onde ecoam os su sp iro s e g em id o s de dor e d e ­
sespero, é um ex em p lo deste vale de lág rim as em que
v iv e m o s. No m e io da v id a , so m o s c e rc a d o s pela
m orte; no m eio da seg u ran ça, p o d em o s ser atingidos
pela c a la m id a d e ; no m eio da fartu ra, p o d e m o s ser
ap an h ad o s p ela m iséria. “ M as o hom em n asce p ara o
trabalho, co m o as faíscas das b rasas se lev an tam para
v o a r” (Jó 5.7).
Um provérbio de origem sérvia diz, com acerto: “Quem
quisesse chorar todos os males do mundo logo ficaria sem
olhos” .
Neste quadro triste, no entanto, brilha um raio de luz:
há alguém passando no meio dos doentes, perguntando a
cada um: “Queres ser curado?” Deus enviou Cristo a este
mundo para sarar nossos pecados e enfermidades, c para
nos mostrar o caminho de libertação, de vida e de paz!
Assim como o anjo agitava as águas para lhes dar poder
para curar, também o Filho de Deus oferece a fonte que loi
aberta para a casa de Davi para rem over o pecado e a
64 João. o Evangelho do Filho de Deus
impureza (Zc 13.1). Estas águas sc moviam somente cm
certos momentos, mas a expiação de Cristo está disponível
todo o tempo. Quanto às águas agitadas pelo anjo, somente
a pessoa que chegou primeiro teve a boa fortuna; na expi­
ação de Cristo, porem, o mundo inteiro está convidado a
entrar dc uma só vez.
2. A voz que transform a. O paralítico freqüentava o
tanque dc Betesda havia muitos anos, c viu muitas pessoas
receberem a cura enquanto ele permanecia tão doente como
no dia cm que chegou pela primeira vez. Esta situação c
típica de milhares de pessoas que frequentam as igrejas sem
receberem bênçãos: ainda estão tão fracas espiritualmente
como no dia em que começaram a ir à igreja. Na teoria,
creem no poder da graça divina; na prática, não têm fc cm
Deus suficiente para receberem milagres dc transformação
que fariam delas obreiros fortes e vigorosos na causa de
Deus.
Este milagre demonstra que há caminho mais curto para
a saúde do que a mera frequência às cerimônias da igreja.
E a voz dc Cristo que precisam ouvir. Muitos têm espera­
do por muito tempo ao lado da fonte chamada Batism o no
Espírito Santo. Veem as águas se agitarem e outras pesso­
as entrarem para receberem a bênção, enquanto outros se
sentem secos c sem poder. Depois, certo dia, ouvem a voz
do próprio Filho dc Deus e são imediatamente libertados
daquela interminável espera! O que importa na vida cristã
c ouvir a voz do Filho de Deus. Temos ouvido a sua voz
ultimamente?
J. A chamada à benevolência. “Senhor, não tenho ho­
mem algum que, quando a água c agitada, me meta no
tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes dc m im .”
“Não tenho ninguém” - estas palavras exprimem quanta
solidão e egoísmo existem no mundo. Dc todos aqueles já
curados por meio daquela fonte, não sobrou nenhum que
emprestasse ao seu antigo companheiro de dores um pouco
O Paralítico do Tanque de Belesda 65
da sua força recém-adquirida, para colocá-lo na água na
hora certa. Quão triste seria este mundo se não existisse
ninguém que sentisse prazer em ajudar ao próximo! O ego­
ísmo faz com que o mundo seja um lugar muito pequeno,
um cantinho muito frio, infrutífero e escuro. Não há dúvi­
da de que este mundo c lugar de egoísmo, mas ainda há
boa quantidade de genuína bondade entre os homens.
Jesus Cristo veio ao mundo para lançar o saneamento
que é o amor nas águas amargas do egoísmo, sendo que
“andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do
diabo” (At 10.38). Os seguidores de Jesus seguem o seu
exemplo, e têm compaixão do homem sozinho e abando­
nado que não tem ninguém para ajudá-lo a chegar às águas
que o saram. “Quando te converteres, fortalece os teus ir­
mãos”. Quem já foi curado por Cristo se preocupará em
cuidar para que outras pessoas se dirijam à mesm a fonte de
bênçãos; não havendo esta vontade, é porque lhe falta a
energia sobrenatural que aquece e comove o coração com
o divinal amor que tem longo alcance.
4. “Q ueres fic a r são?” É surpreendente o número dc
pessoas que não se interessam em obter saúde, por falta de
desejo de assumir as responsabilidades que a vida acarreta.
Existem muitos cristãos, também, que estão dispostos a
permanecer espiritualmente paralíticos porque recuam di­
ante do serviço cristão árduo que sc requer dos seguidores
dc Cristo. Muitos há que não querem ser feitos espiritual-
mente sãos, porque se esquivam das obrigações da vida
cristã; outros hesitam em buscar uma cxpcricncia mais
profunda por medo de surgirem, juntamente com ela, no­
vas exigências morais. Outros, ainda, não aceitam para si
a consagração total, receando que o Senhor os mande para
o campo missionário. “Queres ficar são?” é uma pergunta
que nos perseruta, c que significa: “Queres ser capacitado
para o que há dc mais puro e nobre na vida?” O Mestre
continua falando ao nosso coração: “Queres ser santifica­
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Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus

  • 1. M Y E R P E A R L t
  • 4. Imios os Direitos Reservados. Copyright <r> 1995 para a língua portuguesa da t 'asa Publicadora das Assembléias de Deus. C'apa: Hudson Silva 226.5 - João Pearlman, Myer PHAj João, o Hvangelho do Filho de Deus.../ Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995. p. 236. cm. 14x2 1 ISBN 85-263-0025-3 I. Comentário Bíblico. 2. João CD D - 226.5 - João Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 33 1 20001-970, Rio de Janeiro, RJ. Brasil I 1I dição/1995
  • 5. índice 1. Jesus, Filho de Deus e C ria d o r....... 7 2. Os Primeiros Discípulos ................... 17 3. O Primeiro Milagre de Cristo .........27 4. Jesus e N ico d em o s...............................37 5. Jesus e a Mulher Sam aritana........... 49 6. O Paralítico do Tanque de Betesda .. 59 7. Jesus, o Juiz que FTá de V i r .............69 8. Jesus, o Pão da V id a ........................... 79 9. Jesus na Festa dos Tabernáculos ... 91 10. Jesus, o Libertador........................... 101 11. O Cego de N a sc e n ç a ...................... 109 12. Jesus, o Bom Pastor ......................... 119 13. A Ressurreição de L á z a ro .............. 131 14. Jesus é Ungido por M a ria .............. 141 15. Jesus, o Rei dos R e is........................151 16. Jesus, o Servo ......................................161 17. Jesus nos Dá o C o n so lad o r............171
  • 6. 18. Jesus É a V id e ira .............................. 181 19. Jesus, o In tercesso r.......................... 193 20. A Crucificação ....................................203 21. Jesus, o R cssurrcto.............................211 22. Jesus Dissipa as D úvidas................ 217 23. Jesus Aparece a Sete Discípulos na G alilcia.............................................227
  • 7. Jesus, Filho de Deus e Criador Texto: João 1.1-14 Introdução Em João 20.31, o evangelista declara o seu propósito, que c oferecer uma série de evidências que comprovem a natureza c a missão divinas de Jesus. Os primeiros 18 versículos do livro são um prefácio cm que anuncia o seu tema: “Como o Filho de Deus foi manifestado ao m undo” . Este prefácio apresenta as três grandes idéias que percor­ rem o evangelho inteiro: 1. A revelação do Verbo, v. 1-4. 2. A rejeição do Verbo, v. 5-11. 3. A aceitação do Verbo, v. 12-14. 1 - A Revelação do Verbo (Jo 1.1-4) /. Seu relacionam ento com Deus. “No princípio era o Verbo”. Esta expressão nos leva de volta a Gênesis 1.1, onde se lê: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” João nos informa que, na época da criação, o Verbo já
  • 8. 8 João, o Evangelho do Filho de Deus existia: “E o Verbo estava com Deus”, existia cm relacio­ namento com Deus, o que sugere a eterna comunhão entre o Pai e o Filho. “E o Verbo era Deus” não significa que o Verbo é o Pai, porque o Pai e o Filho, sendo um quanto à sua natureza, são, porém, distintos quanto às suas persona­ lidades. O Verbo c da mesm a natureza do Pai, ou seja, divino. A palavra do homem é o modo de ele se exprimir, de se com unicar com outras pessoas. Pela sua palavra, faz conhecidos seus pensamentos e sentimentos; pela sua pala­ vra, dá ordens c efetua a sua vontade. A palavra que ele fala transmite o impacto do seu pensamento e caráter. Um homem pode ser conhecido de modo completo pela sua palavra, c ate um cego pode conhecê-lo perfeilamente as­ sim. Ver a pessoa não daria muitas informações quanto à sua personalidade a alguém que não a tivesse ouvido falar. A palavra da pessoa é seu caráter recebendo expressão. Da m esm a forma, a “Palavra de Deus” (ou "Verbo de Deus”, expressão que a tradução bíblica cm português emprega quando se trata de uma referência direta a Jesus Cristo na sua vida terrena) é sua maneira de exprimir sua inteligên­ cia, vontade c poder. Cristo é aquele Verbo, porque Deus revelou sua atividade, vontade c propósito através dele, e porque é por meio dele que Deus entra cm contato com o mundo. Nós nos exprimimos por meio de palavras; o Deus eterno se exprime através de seu Filho, que é “a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Cristo c o Verbo de Deus porque revela Deus, demonstrando-o pessoalmente. Ele não somente traz a m ensagem de Deus - Ele é, pessoalmente, a m ensagem de Deus. Deus se revelara mediante a palavra dos profetas, e através de sonhos, visões e manifestações temporárias. Os homens, porém, ansiavam por uma resposta ainda mais compreensível à sua pergunta: Como é Deus? Como res­ posta a esta pergunta, ocorreu o evento mais estupendo da história do mundo: “E o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). O
  • 9. Jesus, Filho de Deus e Criador 9 eterno Verbo de Deus tomou sobre si a natureza humana c se fez homem, a fim de revelar o Deus eterno através de uma personalidade humana (Hb 1.1,2). Assim sendo, dian­ te da pergunta “Como é D eus?”, o cristão responde: Deus é como Cristo, porque Cristo c o Verbo - a expressão do conceito que o próprio Deus faz de si mesmo. 2. Seu relacionam ento com a criação. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. “Ele estava no princípio com Deus”, ou seja, já na época em que o Universo estava para ser criado (cf. Hb 1.2; Cl 1.16; 1 Co 8.6). A quem falou Deus em Gênesis 1.26? 3. Seu relacionam ento com os homens. “Nele estava a vida”. Ele dá vida a todos os organismos vivos, e guia todas as operações da natureza. O Pai é fonte original da vida; e toda a vida está reservada nElc, como numa cisterna de armazenamento. O universo de coisas vivas veio a existir por meio do Verbo, e é sustentado pelo seu poder. A cura do paralítico (Jo 5.1-9) e a ressurreição de Lázaro são ilus­ trações do poder do Verbo. “E a vida era a luz dos hom ens”. Toda a luz que já veio aos homens mediante a consciência, a razão ou a profecia, foi irradiada pelo Verbo de Deus, mesmo antes dele entrar no mundo. II - A R ejeição do Verbo (Jo 1.5-11) 7. Rejeitado como a luz dos homens. “E a luz resplan­ dece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” A luz era derivada do Verbo, e pela capacidade recebida da parte dEle podiam reconhecer o que era útil à sua natureza espi­ ritual. Mesmo assim, fecharam os olhos à Fonte da luz, como o olho doentio que rejeita a luz natural, embora aquela fosse a vida deles. A queda foi um obstáculo, na história da humanidade, ao entendimento da Palavra de Deus, porque envolveu o mundo em trevas morais e espirituais, de tal
  • 10. 10 Joao, o Evangelho do Filho de Deus modo que os homens, criados por Deus, não podiam mais entender as instruções de seu Criador, tendo sido obscure- cidas as suas mentes pelo efeito do pecado e da ignorância. O pensam ento básico do trecho é interrom pido pelos versículos 6-8, que enfatizam a posição de João Batista com o testem unha c refletor da luz, e não com o M essias. Alguns dos seus discípulos se apegaram tanto a ele que, a despeito da advertência contida no testem unho que deu de si m esm o em João 3.25-30, teim aram em sustentar ser João Batista o M essias, e, posteriorm ente, form aram a seita dos m andeus, da qual existem ainda seguidores no Oriente. V oltando ao pensam ento básico: “ Estava no m undo, c o m undo foi leito por ele, e o m undo não o conheceu” . Os hom ens tinham tão pouco entendim ento da origem do seu ser, aprenderam tão pouco acerca da razão da sua existência, que não reconheceram seu C riador quando Ele surgiu no meio deles. A civilização rom ana regis­ trou seu nascim ento, lançou-o no cadastro dc pessoas físicas para finalidades dc im postos, mas não tom ou o m ínim o conhecim ento dEle com o sendo o próprio Deus revelado cm seu meio. 2. R ejeitado com o M essias de Israel. “Veio para o que era seu, c os seus não o receberam ” . Jesus ensinou esta verdade na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33- 43). Q ue tragédia! A nação que aguardava a vinda do M essias, orando ardentem ente por este acontecim ento, cantando e profetizando acerca da sua vinda, não quis recebê-lo quando chegou! (C f Is 53.2,3; Lc 19.14; At 7.51,52). I ll - A A ceitação do Verbo (Jo 1.12-14) 1. O dom da filiação. “Mas, a todos quantos o recebe­ ram, deu-lhes o poder de serem feitos filhos dc Deus; a saber: aos que crêcm no seu nom e” . Estes vieram a ser
  • 11. Jesus, 1'ilho de Deus e Criador 11 filhos de Deus, não por serem descendentes de Abraão (“não nasceram do sangue”), nem por geração natural (“nem da vontade da carne”), nem pelos seus próprios esforços (“nem da vontade do varão”). Sua adoção na família divina foi um dom gratuito c sobrenatural da parte de Deus, mediante um a nova vida implantada neles pelo Espírito Santo, como será e x p lic a d o ad ian te na e n tre v ista de Jesu s com Nicodemos, no capítulo 3. 2. A visão da glória. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Literalmente: “E o Verbo foi feito carne, e ta- bernáculo entre nós” . O Filho de Deus habitou num taber- náculo (“tenda”) entre nós, o tabernáculo sendo seu pró­ prio corpo (cf. Jo 2.19; 2 Co 5.1,4; 2 Pe 1.13,14). Assim como a glória de Deus habitava no Tabernáculo antigo, assim também, quando Cristo nasceu neste mundo, sua di­ vina natureza habitava no seu corpo como num templo. “E vimos a sua glória” (caráter divino), não meramente a glória externa revelada na transfiguração (2Pc 1.16,17), mas, também, o esplendor do seu divino caráter. Não era uma glória refletida, como a glória de um santo, e sim a “glória do unigenito do Pai” . Um filho participa da mesma natureza do pai; Cristo, como Filho de Deus, tem a própria natureza de Deus. Este divino caráter estava “cheio de graça e de verdade” . A graça é o favor divino, o amor inabalável de Deus, a misericórdia divina, c a verdade não somente é a fala leal, sincera c veraz, como também a conduta à al­ tura. Por qual ato, ou meio, o Filho dc Deus veio a ser Filho do homem? Qual milagre poderia trazer ao mundo “o se­ gundo hom em ”, que é o Senhor do Céu (1 Co 15.47)? A resposta é que o Filho de Deus entrou no mundo, como Filho do homem, por meio da concepção no ventre de Maria mediante o Espírito Santo, independentemente de pai hu­ mano. No fato do nascimento virginal baseia-se a doutrina da encarnação (Jo 1.14).
  • 12. 12 João, o Evangelho do Filho de Deus IV - Ensinam entos Práticos 1. Cristo, a nossa Vida. “Nele estava a vida” . Cristo é a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham cm abundância” (Jo 10.10). Para esta finalidade o Filho de Deus tornou-se Filho do homem: a fim de que os filhos dos homens possam ser feitos filhos dc Deus. “Quem tem o Filho, tem a vida”. Esta vida dc Cristo cm nós precisa tomar a primazia; enquanto subjugamos pela Fonte a vida do próprio-eu, sus­ tentamos a vida de Cristo em nós; quanto mais alimenta­ mos cm nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai passando fome. Miguelângclo, o grande escultor, dizia das lascas dc mármore que iam caindo em grandes quantidades no chão do seu estúdio: “Enquanto o mármore vai se des­ gastando, a estátua vai crescendo.” Enquanto nós, m edian­ te a abnegação, tiramos lascas da nossa velha natureza, a vida dc Cristo se torna manifesta cm nossos corpos m or­ tais. Cristo, para ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da poda: “Toda vara cm mim que não dá fruto, a lira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15.2). O objetivo da poda c canalizar a vida dc partes inúteis para partes úteis. A parte da planta que antes monopolizava o vigor da planta sem dar resultados, de repente c cortada, a fim de que a seiva vital passe de modo ativo às partes frutíferas. A abnegação c um tipo de poda espiritual medi­ ante a qual as energias antes malbaratadas em atividades pecaminosas ou sem proveito são postas a serviço da vida espiritual. Enquanto conservarmos nosso contato com Cristo, que é a nossa vida, temos a vida abundante. Se deliberadamen- tc nos separamos dele, perdemos esta vida. A árvore não se alasta da folha; é a folha que cai da árvore. Ciásto não abandona ninguém; são os homens que o abandonam.
  • 13. Jesus, Filho de Deus e Criador 13 Como nutrir a vida divina que há em nós? Pela leitura da Palavra, pela oração, observando diligentemente todos os meios da graça. 2. Cristo, nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1.9). Por que Jesus é comparado à luz? 2.7. A luz é pura. Brilha nos lugares mais imundos sem perder sua pureza. Cristo foi chamado “o amigo dos peca­ dores”, sem que a mínima m ancha de pecado lhe tenha maculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca por elas ser vencida, obscurecida. Longe de afastá-lo dos pecadores, sua pureza fez com que sentisse simpatia por eles. Os verdadeiros homens de Deus sempre demonstram ternura pelas pessoas que caíram cm erros. 2.2. A luz é meiga. A luz pode tocar numa teia de ara­ nha sem fazer tremer um único fio. Cristo sempre demons­ trava meiguicc ao tocar vidas quebradas, para sarar e não para esmagar (cf. Mt 12.20). Todos os verdadeiros cristãos são pessoas meigas, pacíficas (Tg 3.17). Muitas vezes o conceito de poder se confunde com o da violência; a mei- guicc, porem, é um poder construtivo. 2.3. A luz. revela. Quão grande é o alívio para o viajante tateando na noite escura, quando rompe a aurora! Quão grande a alegria para o peregrino nas sendas desta vida quando a luz da revelação divina esclarece os problemas da vida! “Eu sou a luz do mundo; quem m e segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12). 3. “O homem, este desconhecido". Foi este o título que o cirurgião c cientista Dr. Alexis Carrel, de renome m un­ dial, deu a um livro seu que teve enorme aceitação. Nele, indica que as dificuldades pelas quais a humanidade passa são devidas ao fato de que o homem, sábio quando se trata de invenções, é proporcional mente ignorante quanto à na­ tureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável biólogo fez um a declaração semelhante. Expressou o re­
  • 14. 14 Joao, o Evangelho do Filho de Deus ceio de que a nossa civilização esteja caminhando para a ruína porque o homem, com tantos conhecimentos quanto ao emprego dos objetos materiais, ainda permanece sendo um “mistério biológico” . A razão por que o homem não conhece a si mesmo é não conhecer o seu Criador. Assim como João escreveu: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, c o mundo não o conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no hom em ” (Jo 2.25). Sabe, também, o que é melhor para o homem. Seu jugo é suave porque, diferentemente do jugo do pecado, se adapta à alma. 4. D eus m anifestado na carne. Narra-se a história de um culto hindu, que, passeando dcsprcocupadamentc, foi olhar de perto um formigueiro. Quando se abaixou, sua sombra assustou as formigas e elas correram em todas as direções. Tendo uma natureza simpática, o hindu pensou consigo mesmo: “Gostaria de poder conversar com estas pequenas criaturas, para dizer-lhes que não quero lhes fa­ zer nenhum mal”. Mais uma vez, aproximou-se delas, e elas, como da primeira vez, se amedrontaram. Quando ele recuou um pouco, recomeçaram as atividades do formiguei­ ro. Sua mente, como que brincava com o incidente: “G os­ taria de poder falar àquelas criaturinhas”, voltou a pensar. Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com elas mesmo se possuíssem inteligência; ainda que possuís­ sem uma língua, c que eu pudesse aprender tal língua, não conseguida mc comunicar com elas, porque os meus pen­ samentos não são os pensamentos delas. Meus termos de expressão não seriam compreensíveis a elas.” Sua im agi­ nação continuou trabalhando: “Se eu pudesse vir a ser uma formiga como elas, c ainda reter minha própria personali­ dade c consciência, então, vivendo entre elas, conseguida comunicar-me, e elas entenderíam pelo menos alguma coi­ sa dos meus pensam entos” . O seguinte pensamento raiou- lhe de súbito: “E exatamente isto que estes ensinadores cris­
  • 15. Jesus. Filho de Deus e Criador I5 tãos querem nos di/.er: que Deus se fez homem a fim de revelar se a nós c salvar-nos” . E, assim, sob a influência da própria ilustração que ele mesmo viu, o hindu veio a acei­ tar a fé cristã. A encarnação c um mistério que desafia a lógica. Para nossa fé, porém, basta sabermos que Deus se revelou por meio de Cristo, a fim de abrir-nos o caminho da salvação.
  • 16. Os Primeiros Discípulos Texto: João 1.35-42 Introdução O apóstolo João declara o propósito de escrever seu evangelho: “Listes, porem, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, c para que, crendo, tenhais vida cm seu nom e” (Jo 20.31). João transmite-nos todo o volume de testemunho que o convenceu, c a outros da sua geração, quanto à divindade de Cristo, e tem confi­ ança de que outros, igualmcnte, serão inspirados com a mesm a convicção. O apóstolo apresenta três séries de testemunhos: 1) Os milagres de Cristo, que chama dc “sinais”, porque dem ons­ tram a divindade de quem os opera. Quantos milagres operados antes da crucificação João registra no seu livro? 2) As asseverações dc Jesus quanto à sua natureza e m is­ são. Note quantas vezes João registra as reivindicações dc Jesus, que começam com as palavras “eu sou” . 3) João registra os testemunhos de outras pessoas - de João Batista, dos primeiros discípulos c daqueles que receberam a cura da parte dc Jesus.
  • 17. 18 Joao, o Evangelho do Filho de Deus Este trecho c um exemplo da terceira série de evidenci­ as. Citam-se aqui os testemunhos de João Batista c Andrc, irmão de Pedro. Q uando Jesus em ergiu da vida particular para entrar no m inistério público, não tinha nenhum adepto ou se­ guidor. Deus, porém, enviara um profeta para preparar o cam inho diante dele - João Batista, para “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1.17). Foi no meio dos convertidos de João Batista que Jesus recebeu seus prim eiros discípulos. Nosso trecho bíblico conta com o três desses discípulos (inclusive o discípulo não m enci­ onado pelo nome) deixaram a escola preparatória de João Batista para se tornarem estudantes da escola superior de Jesus. I - Uma D eclaração Que Cham a a Atenção (Jo 1.35,36) “No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos [André c João]; c, vendo passar a Jesus, disse: Fis aqui o Cordeiro de Deus” . Estudemos o significa­ do desta proclamação, examinando as palavras, uma por uma. 1. “EIS aqui o Cordeiro de Deus”. Fiteralmente, “veja”. O evangelista apela ao pecador que veja o Crucificado e, contemplando-o, lamente os pecados que causaram sua morte. 2. “ Eis O Cordeiro de Deus” . Os sacrifícios de animais não operavam a perfeita redenção, haja vista que sempre tinham de ser repetidos. Nenhum sacerdote de Israel, can­ sado por causa do serviço ao redor do altar, podería voltar para casa, dizendo: “Minha esposa, finalmente ofereci o sacrifício final; o povo está completamente perdoado e purificado” . No entanto, qualquer um dentre os sacerdotes que obedeciam à fé (At 6.7) poderia ter dito isso, porque o Cordeiro perfeito, do qual os demais eram apenas símbo­ los, já fora oferecido (cf. 11b 10.1 1,12).
  • 18. Os Primeiros Discípulos 19 3. “Eis o C O RD EIRO dc Deus”. O cordeiro era um animal sacrifical; João, portanto, identificava Jesus com o Sacrifício enviado da parte dc Deus, “que tira o pecado do m undo”. Leia Isaías 53, que c um ponto alto na doutrina do sacrifício, por profetizar que o próprio Messias em pes­ soa havería dc se tornar a expiação pela raça humana. Compare com Atos 8.32-35. Talvez João também se refe­ risse ao cordeiro da Páscoa (cf.l Co 5.7). No início do pe­ ríodo da Lei, há o cordeiro da Páscoa, cuja acciLação por parte da nação de Israel redim iu-a do meio da nação gen­ tia; quase no fim do período da Lei, há outro Cordeiro, rejeitado pelos israelitas - c, por causa deste pecado, fo­ ram espalhados entre os gentios. 4. “Lis o Cordeiro dc D E U S". U m a das mais marcantes diferenças entre a fé cristã e o paganism o é que os adoradores pagãos trazem sacrifícios na tentativa de se reconciliarem com os seus deuses, enquanto a mensagem do Evangelho declara que o próprio Deus enviou um sacri­ fício em nosso favor a fim de nos reconciliar consigo (Rm 8.32; 2 Co 5.19). Deus trouxe a nós o sacrifício que nos coloca mais perto de Deus, e até o Antigo Testamento apresenta a expiação como sendo a dádiva da graça divina: “Porque a alma da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas” (Lv 17.11). II - Um a Apresentação Inesquecível (Jo 1.37-39) 1. Os discípulos que procuram . “E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.” A congregação de João começou a deixá-lo; ele, no entanto, não sentiu ciúmes porque, afinal, foi justam ente esta obra dc apontar às pessoas o Messias que viera fazer: “E necessário que ele cresça e que eu diminua” (cf. Jo 3.25-30). O fiel obreiro cristão conduz as pessoas a Cristo, e não a si mesmo. 2. A pergunta perserutadora. “E Jesus, voltando-se c vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais?” O
  • 19. 20 .hum, o Hvangelho do Filho dr Dens Senhor não deixa que ninguém o siga cm vão; mostrará o seu rosto àqueles que o seguem em sinceridade. Note que as palavras "que buscais?” são um gracioso convite aos que o procuram, para que abram o seu coração a Ele. Ele a todos pergunta: "Que buscais?” Estão procurando verda­ de. poder, perdão, amor, paz, vitória, esperança, forças? Ele pode nos oferecer tudo quanto buscamos e de que necessi­ tamos. Além disso, a pergunta é um desafio, no sentido de ver se estamos procurando as coisas certas, porque ele procura discípulos sinceros e que entendam o que estão fazendo. d. A pergunta tímida. "E eles disseram-lhe: Rabi (que, traduzido quer dizer. Mestre), onde moras?” Apesar de se sentirem um pouco acanhados na sua presença, os jovens ficaram tão impressionados cm seu primeiro contato com Jesus que desejavam saber mais acerca dele; queriam saber o seu endereço, visando a uma visita mais prolongada. Eição: não devemos nos limitar a uma olhada passageira em Cristo; devemos saber onde Ele habita, para que nos receba como hóspedes. 4. O convite gracioso. "E ele lhes disse: Vinde, e vede.” Este convite é a melhor resposta aos que duvidam e aos interessados é o apelo à experiência. Podemos dar às pes­ soas uma excelente receita culinária, c fazer grande esforço de descrever quão delicioso é certo prato, mas nada se compara com levar o próprio ouvinte a experimentar a comida por si mesmo. “Provai, c vede que o Senhor é bom ” (SI 34.8) III - Um a Entrevista Que Transform a a Vida (Jo 1.39) “Foram, e viram onde morava, c ficaram com ele aque­ le dia” . O escritor inspirado não nos conta os detalhes daquela inesquecível visita; sabemos, no entanto, que o contato com o radiante Mestre contribuiu com algo de vital
  • 20. Os Primeiros Discípulos 21 à vida de André. Nunca mais foi o mesmo depois daquela entrevista. “Senti um calor estranho no meu coração”, dis­ se João Wesley, descrevendo seu primeiro contato vivo com Cristo, c certamente André sentiu-se assim durante a sua festa espiritual com o Mestre. Quem aceitar o convite de Jesus (“Venha ver” ) receberá outro convite (“Venha cear”). O primeiro é para os que ainda não são do seu rebanho; o segundo é para os que já entraram no seu aprisco. IV - Uma G rande D escoberta (Jo 1.40) André saiu daquela casa transbordando com uma pode­ rosa convicção e, enlevado pela descoberta que tanto o emocionara, foi correndo falar com o seu irmão Pedro, anunciando as novas que fariam palpitar o coração de qual­ quer verdadeiro israelita: “Achamos o M essias”. Muitos judeus podem dizer, até hoje: “Cremos na vinda do M es­ sias, oramos c ansiamos por aquele acontecimento”, mas nenhum judeu que não crê em Jesus pode dizer, juntam en­ te com André: “Achamos o M essias” . Note que André veio a ser testemunha de Cristo no dia da sua conversão. As coisas maravilhosas que Cristo sus­ surra nos ouvidos do homem, em segredo, ficam ardendo no seu íntimo até que ele conte aos outros. V - Um Serviço de Am or (Jo 1.42) André não se restringiu a contar as novas: queria que seu irmão as experimentasse por si mesmo. Lemos, portan­ to: “E levou-o a Jesus” - o serviço mais gentil que uma pessoa pode fazer a outra. Não é necessário que alguém seja grande pregador ou gênio espiritual para assim fazer. André com eçou o trabalho em seu próprio lar: “Este achou prim eiro a seu irmão” . O melhor preparo a um mis­ sionário é com eçar cm casa; se não conseguim os levar
  • 21. 22 Joao, o Evangelho do Filho de Deus outras pessoas a Cristo cm nossa própria terra, como o faremos em outras terras? Quando o endemoninhado liber­ to por Jesus quis seguir viagem com Ele, o Mestre respon­ deu: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como leve misericórdia de li" (Mc 5.19). VI - Um a Recepção G raciosa (Jo 1.42) “E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Celas (que quer dizer Pedro)." Celas, em hebraico, quer dizer “pedra" ou “rocha". O que Cristo quis dizer com isto? I. Na Bíblia, a mudança de nome frequentemente sig­ nificava mudança da natureza da pessoa, da sua situação ou experiência (Gn 32.28). Este encontro com Jesus se constituiu em ponto crítico na vida de Pedro - a hora em que ele passou a ser de Cristo. Dan C raw lord conta acerca do valor que os Congoleses dão a nomes: “ O hom em que se tra n sfo rm a m u d a tam b ém de nom e. Um jovem perto de mim recebeu um aum ento salarial, e tom ou d inheiro ad ian tad o para co m p rar um nom e. Para ele, o nom e era um p atrim ô n io tão valioso com o um im óvel, p crtcn ccn d o -lh e com o se fosse seu cachorro ou sua arm a. O jovem q u eria co m p rá-lo so- lcncm entc, à vista. N atu ralm en te que p o ssu ía nom e, m as achava seu nom e de n ascim en to por d em ais in ­ fantil: não c verdade que para dado por co n jectu ra, e sem o co n sen tim en to dele? Não é verdade que o nom e deve ser um legítim o reflexo do caráter da pessoa?... Não c de se estranhar, portanto, que quando você diz ao africano que no ecu terem os um a nova natureza, este responde: ‘D evem os, portanto, receb er um nom e n o v o ” ' (ver Ap 2.17).
  • 22. Os Primeiros Discípulos 23 2. A m udança dc nome foi, ncslc caso, uma promessa de poder transformador. Talvez Pedro pensasse, consigo mesmo, na presença do Mestre: “Como poderei eu, homem tie caráter fraco c instável, ser digno de entrar no reino do Messias?” (cf. Lc 5.7,8). O Senhor, percebendo os temores íntimos de Pedro, queria dizer: “Sei que o homem cham a­ do Simão é conheeidamente impulsivo, impetuoso e instá­ vel. Tenha, porém, bom ânimo. Assim como sei quem é você, assim também sei o que você será. Venha a mim assim como você é, c eu o farei uma pedra firme no meu Reino. Como sinal desta promessa, seu nome será Celas.” O Senhor sempre é o mesmo: recebe-nos em nossa fra­ queza, sabendo que poderá nos tornar fortes. 3. O novo nome foi sinal da autoridade de Cristo exercida sobre Pedro, assim como um rei pode alterar o nome dc alguém que levou cativo (cf. Dn 1.7). Daquele momento em diante, Pedro ficou pertencendo a Cristo c, com lodo amor, chamava-o de Mestre. VII - Ensinam entos Práticos 1. A m aior necessidade do hom em . Sacrifícios, alta­ res c tem plos em todas as terras e época testificam esta verdade: os hom ens sem pre sentiram o falo de as coisas andarem erradas no seu relacionam ento com o poder superior, e que a apresentação dc um sacrifício com d er­ ram am ento de sangue é necessária para retificar a situ­ ação. C ada pessoa que honestam ente exam inar o seu pró­ prio coração sentir-sc-á constrangida a dizer “A m ém !” à declaração bíblica: “Pois todos pecaram c destituídos estão da glória dc D eus” (Rm 3.23). M uitos rem édios têm sido oferecidos para curar a falta de harm onia que há na alm a hum ana; João Batista, porém, apontou o re­ m édio divino: “Eis o Cordeiro dc Deus, que tira o peca­ do do m undo!”
  • 23. 24 João, o Evangelho do Filho de Deus 2. Uma pergunta perscrutadora. “Que buscais?” Esta pergunta sugere duas lições. 1) A necessidade de term os nítida consciência de qual é o nosso objetivo na vida. M uitas pessoas são levadas à deriva pela vida, im pulsi­ onadas pelas circunstancias; sabem quais as suas neces­ sidades im ediatas; não podem, porém , apontar um obje­ tivo suprem o para atingir, nem m encionar um grande propósito que controle a sua vida. Jesus, para despertar nas pessoas o reconhecim ento de quão fútil é a vida que vão levam , pergunta-lhes: “Que buscais?” 2) A pergunta desafia as pessoas a sc tornarem discípulos sérios. M ar­ cos Dods escreve: “Cristo deseja scr seguido com toda a seriedade. T an ­ tos o seguem porque um a m ultidão está indo atrás dele, levando outras pessoas consigo; tantos o seguem porque está na moda, sem possuírem opinião própria; m uitos o seguem com o por experiência, c vão ficando para trás quando surge a prim eira dificuldade; muitos seguem com idéias errôneas quanto àquilo que esperam da parte dElc... Cristo não m anda ninguém em bora sim plesm ente pela sua lentidão em entender quem é Ele e o que Ele tem feito pelos pecadores. Com esta pergunta, no entanto, nos faz entender que aquela atração vaga c m isteriosa que, qual ímã escondido, atrai a ele as pessoas, deve ser trocada por uma com preensão nítida quanto ao que nós m esm os esperam os receber dElc para suprir as nossas necessidades. Ele não rejeitará pessoa algum a que res­ ponda, com sinceridade; “B uscam os a Deus, buscam os a santidade, buscam os serviço contigo, buscam os a ti." J. “Vinde, e vede”. É um desafio aos que duvidam e questionam. Certo cristão aceitou o desafio de um não-crente para debater com ele em público. Depois do discurso do não-crente, o cristão, sem falar uma palavra, tirou uma laranja do bolso, descascou-a, comeu-a e depois pergun­ tou: “Bem, como estava a laranja?” “Como vou saber?”,
  • 24. Os Primeiros Discípulos 25 retrucou o não-crente. “Nem sequer provei dela” . Respon­ deu o crente: “Como o senhor pode conhecer o Cristianis­ mo quando não o experimentou?” Um interessado pode ouvir e ler acerca de Cristo; o melhor caminho, no entanto, é chegar diretamente a Ele para experimentar seu poder. Para se explicar aos índios da floresta tropical o que c o gelo, mais Valeria um pedaço para examinarem do que uma hora de preleções sohrc o assunto. 4. Testem unho de Cristo. O testem unho de A ndrc su­ gere três lições: 1) “Este achou prim eiro a seu irm ão” . Q uanto mais estreitos os laços de parentesco entre quem testem unha e quem ouve, mais enfático será o testem u­ nho. Há mais força de convicção entre os que se conhe­ cem intim am ente do que na m ensagem falada cm públi­ co. Q uando alguém encontra Cristo de form a tão real que sua alegria é tão óbvia com o quando encontra um excelente em prego ou vaga universitária, seu testem u­ nho não deixará de convencer aos que o conhecem . 2) O testem unho pessoal é prova da convicção pessoal; qu an ­ do alguém tem profunda convicção, não pode ficar tran- qiiilo até com partilhá-la com outra pessoa. 3) O teste­ m unho pessoal faz parte do plano de Deus para a evan- gclização do mundo. No século que se seguiu à era apos­ tólica, não houve notícia de “grandes” evangelistas c m is­ sionários; não há registro de cam panhas cvangelísticas abrangendo cidades inteiras. A Igreja, no entanto, cres­ ceu com ritmo veloz. A explicação é que cada cristão considerou ser dever e privilégio testem unhar de Cristo. O escravo testem unhava perante seu dono; o operário, ao seu com panheiro; o vendedor, aos seus fregueses; o filho, aos pais. Os pastores, evangelistas c m issionários se destacam na liderança da obra de ganhar almas para Cristo, mas não podem ficar sem a colaboração dos m em ­ bros das suas congregações.
  • 25. 0 Primeiro Milagre de Cristo:s t i r , . - .-• .:• . : - Texto: João 2.1-11 Introdução O milagre da transformação da água em vinho ilustra o propósito do Evangelho de João, a saber: despertar a fc na divindade de Cristo e em Cristo, eomo o Messias. João nos conta eomo este milagre o convenceu, juntam ente com os demais discípulos, da natureza divina de Cristo (2.1 1), e registra o incidente para que a nossa fc também possa ser despertada c aumentada. I - A Feliz O casião (Jo 2.1,2) "E, ao terceiro dia (do incidente em 1.51), fizeram-se umas bodas em Caná da Galilcia, c estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos (ver capítulo 1) para as bodas.” A presença do nosso Se­ nhor no casamento sugere as seguintes lições: 1. Jesus aprova a vida social. Jesus não era um religi­ oso sombrio com rosto desagradável que se esquivava do contato com as pessoas. Com ia juntam ente com fariseus e
  • 26. 28 Joao, o Evangelho do EiIfio de Deus publicanos com sociabilidade imparcial. Não consta ter recusado a hospitalidade de quem quer que seja, a ponto de os formalistas levantarem a acusação de ser ele “glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” . Não era verdadeira a acusação, mas pelo menos ressaltou a verdade de que Cristo não aborrecia o convívio de grupos sociais, e que gostava de estar com pessoas. Procurava a companhia das pessoas a fim de espalhar a sua influência e doutrina, c para deixar que as pessoas o conhecessem e, por meio dele, à graça de Deus. O Senhor Jesus acreditava cm “separação” tão profundam ente com o os próprios fariseus (que formavam o partido “da separação” ); mas, enquanto estes se afastavam dos pecadores e continuavam a dar guarida ao pecado no coração (Mt 23.25-28), Jesus se conservava separado do pecado c dava as boas-vindas aos pecadores, a fim de salvá-los. Noutras palavras, ele estava inferionneníe separado dos pecadores, enquanto mantinha com eles contato exterior. Devemos seguir seu exemplo nesta matéria. Somos o sal da terra, mas, a fim de sermos eficazes, precisamos entrar em contato com aquilo que precisa ser salgado; para sermos pescadores dos homens, devemos ir para onde estão os peixes; para sermos luz do mundo, devemos aparecer c brilhar. 2. Cristo aprova o casamento. Nenhum relacionamento humano tipifica um mistério espiritual tão profundo (ver Jo 3.29; Mt 9.15; 22.1-14; 25.10; Ap 19.7; 22.17; 2 Co 11.2). É digno, portanto, da mais elevada honra. Cristo previu, também, que surgiríam na igreja aqueles que menospreza­ riam o casamento (1 Tm 4.3), ou que não perceberíam toda a dignidade c honra da família cristã. Lição prática: a pre­ sença de Cristo é essencial ao casamento feliz. 3. Cristo aprova a alegria inocente. Em bora nosso Senhor fosse homem de dores, carregando, lá no íntimo, o fardo do pecado c da tristeza do mundo inteiro, parece que era o lado alegre da sua natureza que ele apresentava às
  • 27. O Primeiro M ilagre de Cristo 29 pessoas. Seu nascimento foi anunciado como boas-novas dc grande alegria. Uma das suas exortações favoritas era: Tende bom ânim o” ; a palavra “alegria” ocupava um lugar de honra no seu vocabulário. Não há dúvida de que Ele dirigia os pensamentos dos homens às realidades solenes da vida, mas, ao mesmo tempo, oferecia-lhes gozo inefável e cheio de glória. Uma ilustração do Reino dos Céus que Ele freqiicntemente citava era a dc um banquete de casa­ mento, e quando os discípulos dc João queriam saber por que os de Jesus não jejuavam, empregou a m esm a ilustra­ ção: “Então chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuam os nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam ? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, c então jejuarão” (Mt 9.14,15). II - A Falta Em baraçosa (Jo 2.3 5) “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não tem vinho.” O esgotamento do suprimento dc vinho pode ter surgido por três razões: o número inesperado dos discípu­ los de Cristo, o prolongamento da festa por sete dias, se­ gundo o costume ou as dificuldades financeiras do noivo c da noiva. 7. A sugestão ansiosa. Maria, decerto, tem íntima cone­ xão com a família que celebrava o casamento, como sc percebe do seu conhecimento da falta de vinho e das or­ dens que deu aos serventes. A falta de vinho em tal ocasião seria uma desonra para o hospedeiro c para o casamento que estava sendo festejado. Assim, Maria sussurrou, ansi­ osamente, a informação: “Não têm vinho” . Lembrando-se das declarações proféticas feitas acerca da grandeza do seu Filho (Lc 1.30-35), ela acreditava ter ele poderes suficien­ tes para suprir a necessidade e tirar o hospedeiro do em ba­ raço. Maria, vendo o seu Filho cercado pelos seus discípu­
  • 28. 30 João, o Evangelho do Filho de Deus los, sente a esperança secreta que nutria cm silencio duran­ te tantos anos irromper em ardor flamejante, e volta-se a ele, demonstrando uma bela fé cm seu poder para ajudar, mesmo na pequena necessidade do momento. Será que ela já p re s e n c ia ra a lg u m a m a n ife s ta ç ã o do seu p o d e r miraculoso? Leia o versículo 11. 2. A firm e ressalva. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que te­ nho eu contigo? ainda não c chegada a minha hora” . Tal linguagem não dá a entender nenhuma falta de respeito porque a palavra “mulher”, equivalente a “senhora”, foi a mesm a que Jesus dirigiu a ela nos momentos finais de sua vida terrestre: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19.26J. Lra um termo de respeito que se empregava ate quando se di­ rigia a uma rainha. Mesmo assim, a linguagem dá a entender uma mudança de relacionamento entre Jesus c Maria. Ela já não era “mãe”, e sim “mulher”. O período de sujeição a Maria chegou ao fim. Ele agora é o Messias, o Servo do Senhor, c seu re­ lacionamento é o de Messias c discípulo (cf. At 1.14). Jesus, por assim dizer, indicava: “É verdade que o rela­ cionamento natural entre nós c o de mãe c filho; lembre-se, porém, de que a minha vida é vivida na esfera de um re­ lacionamento mais alto (cf. Lc 2.48,49). Como Filho de Deus, devo doravante agir e trabalhar segundo o tempo e a maneira que meu Pai manda. O tempo c a maneira do meu ministério dependem de considerações mais altas do que as de carne c sangue” (cf. Ml 12.46-50). Muitas vezes acontece que uma mãe chega ao reconhe­ cimento, talvez doloroso, de que quem foi seu “menino” entrou num a esfera de vida mais ampla, além de influência c controle, da qual ela não pode participar. 3. A hum ilde aquiescência. M aria rapidamente enten­ deu a situação e aceitou-a com doçura c humildade; em seguida, disse aos serventes: “Fazei tudo quanto ele vos disser” . Sua fé lançou mão daquela pequena centelha de esperança - “ainda não” (v. 4) - e fê-la transformar-se em
  • 29. O Primeiro Milagre cie Cristo 3 1 chama viva. Com firme confiança, apesar da suave cham a­ da de atenção recebida, M aria deixou tudo nas mãos de .lesiis. Nós também devemos nos submeter a Ele, confian­ do que atenderá às nossas petições, e isto como c quando lhe convier. III - O Suprim ento M ilagroso (João 2.6-10) “E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as pu­ rificações dos judeus (para lavarem-se cerimoniahnentc) e cm cada uma cabiam dois ou três almudcs (ou metretas, medida correspondente a 38 litros). Disse-lhes Jesus: Enchei d ’água essas talhas. E cncheram-nas totalmentc.” 1. A realidade. As circunstâncias do milagre dissipam qualquer dúvida quanto à sua realidade: as talhas eram especificamente para água, não havendo a possibilidade de se sugerir a presença de sedimentos no fundo que empres­ tassem o gosto de vinho à água; sua presença ali era nor­ mal, c não premeditada, de acordo com o costume dos judeus de lavagem (Mt 15.2; Mc 7.2-4; Le 11.38); a quan­ tidade era enorme, muito mais do que se poderia ter trazido secretamente; as talhas estavam vazias, e os empregados sabiam que foi com água que passaram a enchê-las. 2. O m istério. O processo pelo qual a água foi transfor­ mada em vinho era divino; nenhuma palavra foi escrita sobre o método da operação do milagre, nem sequer se menciona que o milagre foi operado; simplesmente nos é informado o que aconteceu antes e depois do milagre. Jesus não enun­ ciou qualquer palavra de ordem, nem empregou qualquer meio: bastava o silencioso exercício da sua vontade para que a matéria se transformasse segundo o seu beneplácito. A operação do poder criador do Senhor Jesus foi feita mediante sua simples vontade íntima. 3. A admiração. “E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho [não sabendo donde viera, sc bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água], chamou o
  • 30. 32 J ock), o Evangelho do Filho de Deus mestre-sala ao esposo, c disse-lhe: Todo homem põe pri­ meiro o vinho bom e, quando já tem bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”. O mes- tre-sala, dirigindo o andamento da festa, não aludia a qual­ quer excesso da parte das pessoas presentes naquela festa específica, porque Jesus não teria abençoado com sua pre­ sença qualquer bebedice. Simplesmente faz alusão ao costu­ me normal, mediante o qual os hóspedes, depois de uma su­ ficiência de vinho superior, já não poderíam discernir a infe­ rioridade do vinho oferecido no fim da festa. IV - O Propósito Superior (Jo 2.11) O propósito imediato de Jesus em operar o milagre era libertar um jovem casal do embaraço c da vergonha. O versículo 11 sugere o propósito superior do milagre: a re­ velação da glória de Cristo. "Jesus principiou assim os seus sinais cm Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele”. Foi esta a primeira dem ons­ tração do poder milagroso de Jesus, revelando a sua natu­ reza divina. lrrompcram-sc agora, visivelmente, a divina natureza e a glória que antes se escondiam sob o vcu de carne, e os discípulos viram “a sua glória, como a glória do unigenito do Pai” (1.14). O milagre revelou a operação do poder criador, cuja origem somente podería ter sido de Deus. /. Aum entou-se a f é dos discípulos. “E os seus discípu­ los creram nele”. Já tinham crido; senão, não seriam discí­ pulos (1.50). Agora, porém, sua fé ficou mais profunda e mais forte. Acreditavam em Jesus, porém agora mais do que nunca. Nossa fé é aumentada (Lc 17.5) ao ver o Se­ nhor operando cm poder milagroso. V - Ensinam entos Práticos 1. Poder através da obediência. Quando Jesus mandou os serventes encherem as talhas d'água e levarem-nas até
  • 31. O Primeiro Milagre de Cristo 33 i» mcstre-sala para suprir a falta dc vinho, estes teriam molivos justos para se recusar a fazê-lo, ou para exigir al­ guma explicação ou garantia de que Jesus enfrentaria as eonseqüências. Obedeceram assim mesmo, e sua fé obedi­ ente fez com que se tornassem colaboradores de um mila­ gre; ficaram sabendo que nenhum a ordem de Cristo é inú­ til ou sem propósito. Nós também ternos que passar por experiências seme­ lhantes para aprendermos a m esm a lição. A Palavra de Deus ordena que façamos coisas aparentemente desarrazoadas e além das nossas possibilidades. Por exemplo, temos de ser santos, embora saibamos que assim como o leopardo não pode mudar suas manchas, não podemos, por nós mesmos, purificar a nossa alma. Quase temos vontade de dizer: Como pode a substância da natureza humana, que é como a água, ser transformada cm vinho digno de ser derramado como oferta no altar de Deus? N osso papel é obedecer sem questionar ou exigir ex ­ plicações. Os servos tiraram a água, levaram -na ao mes- tre-sala, c o Senhor fez o resto. A ssim com o a vontade de C risto perm eou a água, até im buí-la de novas qua­ lidades, tam bém é sua vontade perm ear a nossa alma, conform ando-a ao seu propósito. “Fazei tudo quanto ele vos disser” - é este o segredo da operação de m ilagres. Faça-o, em bora possa dar a im pressão dc estar g astan ­ do cm vão as suas energias, ou vir ser objeto de escár­ nio. Faça-o, em bora você não tenha em si m esm o a ca­ pacidade dc realizar o seu propósito. Faça-o totalm en- tc, com o se fosse você o único obreiro, com o se Deus não viesse suprir as suas faltas, de m odo que qualquer falha da sua parte fosse fatal à obra. N ão fique esp e­ rando que D eus o faça, porque é em você e através de você que Ele faz a sua obra entre os h om ens. N ão podem os fazer a obra de D eus, e não é plano dc Deus fazer a parte que destinou a nós.
  • 32. 34 João, o Evangelho do Filho de Deus Excelente lema para o cristão encontra-se nestas pala­ vras: “Fazei tudo quanto ele vos disser!” 2. A santificação da vida diária. É significativo que Cristo revelasse a glória do seu poder criador num banque­ te de casamento, ocasião festiva vinculada a um relaciona­ mento humano comum. Assim ficamos sabendo que Ele não veio esmagar os sentimentos humanos: veio elevá-los ao compartilhar deles; não veio destruir relações humanas: veio enobrecê-las mediante a sua presença; não veio aca­ bar com os afazeres e convívios da vida coletiva: veio purificá-los; não veio abolir inocentes alegrias e recreios: veio santificá-los segundo os princípios do Reino de Deus. Não podemos dividir nossas atividades em duas clas­ ses: a “espiritual” e a “secular” . Cada esfera da vida pode c deve ser consagrada a Cristo. Se houver qualquer ativi­ dade ou aspecto da nossa vida sobre a qual não possamos invocar a sua bênção (Cl 3.17), tal atividade ou c totalmen- tc errada, ou contem elementos que precisam dc scr rem o­ vidos. Já convidamos nosso Senhor para nossa próxima reunião de amigos? Ou será que a sua presença estragaria nossos planos? 3. O m elhor ainda está por vir. Chegaremos um dia a falar ao Mestre aquilo que o mcstrc-sala falou ao noivo: “Guardaste até agora o bom vinho” (cf. Pv 4.18). Por mais cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passa­ dos de experiência cristã, o melhor ainda está no porvir. Jesus guarda seu melhor vinho até ao fim; muitas almas tristes c desiludidas vão sempre descobrindo que o mundo faz exatamente o oposto, seduzindo as pessoas para que sejam escravas do mundo, vítimas do mundo, mediante promessas deslumbrantes c deleites dc curta duração que, mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se tornam insossos - c muitas vezes bem amargos! “Até no riso lerá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza” (Pv I 1.13). A coisa mais melancólica do mundo é a velhice
  • 33. O Primeiro M ilagre de Cristo 35 vivida longe de Deus. c uma das eoisas mais belas, o cal- inn pôr-do-sol que tantas vezes glorifica uma vida piedosa que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações suportadas com paciência, como lendo sido enviadas por Ele... Em tal carreira, o fim é melhor do que o começo. E quando a vida chegar ao fim, c passarmos à nossa morada celestial, esta mesm a palavra brotará de nossos lábios, com surpresa e gratidão, quando descobrirmos que tudo é m ui­ tíssimo melhor do que o melhor em nossa imaginação: "Guardaste até agora o bom vinho". 4. A transform ação de coisas comuns. O mesmo Cristo que transformou a água cm vinho vermelho e cintilante pode transformar as coisasda vida cm bênçãos gloriosas. Ele pode transformar a água da alegria terrestre no vinho da bem- aventurança celestial. Ele pode transformar a água amarga da tristeza no vinho de alegria. Pode lançar mão de uma série de circunstâncias da vida que nos perturbam, trans­ formando-as cm brilhantes oportunidades. Os deveres que cabem a nós, dia após dia, nos parecem cansativos e monótonos? Levemo-los a Jesus, c Ele os trans­ figurará mediante a sua presença. Onde está Jesus, ali há alegria.
  • 34. Jesus e Nicodemos Texto: João 3.1-21 Esboço e Exposição Um dos propósitos que guiaram o escritor do quarto evangelho foi o de registrar as impressões que o Senhor Jesus deixou nas pessoas com quem leve contato. Em nos­ so segundo estudo, vimos como Jesus impressionou seus discípulos com sua natureza c missão divinas; no terceiro estudo, examinamos o milagre que os convenceu do seu poder criador. A conclusão do segundo capítulo, no entanto, refere-se a outro tipo dc impressão que produziu um tipo de fé de Cristo não julgava satisfatório: “E, estando ele cm Jerusa­ lém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2.23,24). Por que o Senhor não encorajava a fé desse homens dc Jerusa­ lém ? Viu que eles não o en ten d iam ; re c o n h ec eu o mundanismo nos seus corações c propósitos, e não permi­ tiu que entrassem na mesm a intimidade que já estabelecera
  • 35. 38 João, o Evangelho do Filho de Deus com os cinco galileus dc coração singelo. Os judeus dc Jerusalém estavam dispostos a ficar de acordo com qual­ quer pessoa que demonstrasse a probabilidade dc trazer hon­ ra à sua nação, e sua crença nEle era o crédito que os ho­ mens dão a um estadista cuja política apoiam. Se nosso Senhor tivesse encorajado tais homens, mais tarde teriam se decepcionado com Ele; foi melhor, portanto, que os ti­ vesse recebido de modo um pouco mais frio, dando-lhes uma pausa para meditação. Realmcnte, os próprios mila­ gres dc Jesus estavam sendo um embaraço por atraírem o tipo errado de pessoas - os homens superficiais e m unda­ nos (cf. Jo 4.48; 6.14-27,66). Na pessoa dc N icodem os temos um exem plo de fé imperfeita, pois o discipulado que produziu era secreto (cf. Jo 19.38). M esmo assim, esta fé da parte de Nicodemos é uma resposta antiga à objeção que os judeus dos nossos dias levantam: “Se Jesus foi realmcnte o Messias, como é que nenhum dos nossos estudiosos c sábios Leve o bom senso suficiente para perceber este fato?” A resposta está no Evangelho de João, no relatório da entrevista de Cristo com Nicodem os e na declaração: “Apesar dc tudo, até muitos dos principais creram nele, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinago­ ga” (Jo 12.42). I - Contato Pessoal: o Pesquisador Distinto (Jo 3.1,2) “E h a v ia entre os fariseus um h o m em , ch am ad o Nicodemos, príncipe dos judeus." 1. Um líder religioso. Nicodemos era um fariseu, m em ­ bro da fraternidade religiosa organizada sob juram ento solene para observar escrupulosamente a lei e as tradições dos antigos. Era membro do “partido ortodoxo” entre os judeus. Era um “principal”, um membro do Sinédrio, da corte eclesiástica do m undo judaico. Foi esta corte que
  • 36. Jesus e N icodemos 39 condenou Jesus à morte, e da qual Saulo dc Tarso era, mui provavelmente, membro. 2. Um inquiridor secreto. “Este foi ter de noite com Jesus” . Fala-se da covardia de Nicodemos cm vir à noite. Devemos, no entanto, dar valor ao fato dc ele ter procura­ do a Jesus, mesm o daquele modo. Mais tarde, foi ele quem tomou sobre si a defesa de Jesus perante o Sinédrio (Jo 7.50,51) e ajudou a enterrar o seu corpo (Jo 19.39). Em am bos os trechos, João volta a se referir ao fato dc Nicodemos ter vindo a Jesus, da primeira vez, à noite. Mostra, assim, que Nicodemos estava ficando mais firme na fé, chegando a demonstrar mais devoção do que os próprios discípulos que fugiram, quando veio ajudar a se­ pultar o corpo de Cristo. 3. Um inquiridor representativo. “Rabi, bem sabemos que cs Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” . O plu­ ral “sabemos” permite-nos imaginar que talvez vários líde­ res religiosos, impressionados com os ensinamentos de Jesus c querendo saber mais acerca dEle sem, no entanto, criar uma sensação pública nem tomar partido publicamente, tivessem nomeado Nicodemos para ser uma “comissão de inquérito” de um só membro, de modo sigiloso (cf. Jo 12.42). 4. Uma alm a necessitada. As palavras iniciais de Nicodemos revelam várias emoções lutando no seu íntimo, e a declaração repentina dc Jesus (v. 3), longe dc ser uma mudança de assunto, foi uma resposta - não às palavras, mas sim ao coração de Nicodemos. Tais palavras revelam: 1) Fome espiritual: canseira com os cultos da sinagoga, sem vida espiritual, aos quais frcqiicntava sem achar satisfação para a sua fome. Sente que a glória se afastou dc Israel; que há falta de visão; que o povo perece e que, por menos que Nicodemos saiba sobre Jesus, seus ensinos lhe pene­ traram o coração, c ele acha que os milagres de Jesus com ­
  • 37. 40 João, o Evangelho do Filho de Deus provam ser Ele Mestre vindo da parte de Deus. 2) Falta de profunda de convicção. Nicodemos sente sua necessidade, mas procura um m estre, mais do que um Salvador. A se­ melhança da mulher samaritana, quer a água da vida (Jo 4.15), mas precisa igualmente ficar sabendo que é um pe­ cador e que necessita ser purificado e transformado (Jo 4.16- 18). 3) Certa complacência quanto à sua própria pessoa, como se dissesse a Jesus: "Creio que foste enviado para restaurar o reino a Israel, e vim oferecer conselhos quanto ao plano de ação e sugerir certas operações”. Provavelmente considerava que ser israelita e filho de Abraão eram qua­ lificações suficientes para ser considerado membro do Reino de Deus. II - Explicação: o N ovo N ascim ento (Jo 3.3-10) /. O fa to do novo n a scim en to . “Jesus resp o n d eu , e d isse-lh e: Na v erd ad e, na v erd ad e tc digo que aq u ele que não n ascer de no v o , não po d e ver o rein o de D e u s ” . Jesus e x p lica que N ico d em o s não pode filiar- se ao g ru p o dE le assim com o um a p e sso a filia-se a u m a o rg a n iz a ç ã o q u a lq u e r. S er d isc íp u lo de Jesu s dep en d e do tipo de vida que se leva. A causa de C risto é a do R eino de D eus, onde não se pode e n trar sem p a ssa r por um a tra n sfo rm a ç ã o esp iritu al. O R eino de D eus era bem d ife re n te d aq u ilo que N ic o d em o s im a ­ g in av a, c o m odo de c sta b e lec c -lo e de c h a m a r p e s ­ soas a serem seus c id ad ão s ta m b é m Jesus salientou a necessidade mais profunda e universal do homem: uma m udança radical e completa da totalidade da natureza e do caráter. A natureza total do hom em foi torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta per­ versão se reflete na sua conduta individual e nos seus vá­ rios relacionamentos. Antes de poder viver uma vida que agrade a Deus, sua natureza precisa passar por uma m u­ dança tão radical que é nada menos do que um segundo
  • 38. Jesus e Nicodemos 41 nascimento. O homem não pode efetuar semelhante m u­ dança por si mesmo. A transformação deve vir de cima. “Disse-lhe Nicodemos: Com o pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre dc sua mãe, e nascer?” Nicodemos tem razão ao tirar a con­ clusão de que c necessário um milagre para alguém entrar no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pen­ sava, decerto: “Sou um hom em com muitos anos de vida, com hábitos dc pensar e viver bem arraigados em mim, bem como muitas ligações sociais e costum es e idéias antigos que nossos antepassados nos legaram. O nascimen­ to tal como tu falas é tão impossível quanto o nascimento físico dc um hom em dc idade, tão prepóstero quanto seria a idéia dc entrar segunda vez no ventre da mãe para nascer de novo. A natureza hum ana não pode ser mudada desta forma. Jeremias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o ctíopc mudar a sua pele, ou o leopardo as suas m anchas?’ Sc é esta a tua exigência para que sc possa entrar no leu Reino, quem poderá ser considerado candidato aceitável?” 2. Os m eios do novo nascim ento. “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Nascer da água significa passar por uma profunda experi­ ência dc purificação (cf. Ef 5.26). Nascer do Espírito sig­ nifica passar por uma profunda experiência de receber a vida divina. A alma hum ana precisa ser lavada de toda impureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da regeneração c 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). O ensino era novo e, ao mesmo tempo, antigo. “Não te maravilhes dc te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus respondeu, c disse-lhe: Tu cs mestre de Israel, e não sabes isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Como você fica sur­ preso, como se eu pregasse alguma estranha doutrina? Ccr-
  • 39. 42 João, o Evangelho do Filho de Deus lamente, como ensinador da Lei c dos Profetas, deve ter lido da promessa de Deus anunciada por Ezcquicl: 'Então espa­ lharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, embora Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de Abraão, os membros da nação são impuros e, portanto, in­ dignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas, antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nas­ cer de novo”. J. A razão do novo nascim ento. Jesus não procurou explicar o como do novo nascimento; explicou o porquê: “O que c nascido da carne c carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” A carne e o Espírito pertencem a cam ­ pos diferentes, c um não pode produzir o outro. A natureza hum ana pode gerar mais natureza humana, mas é somente o Espírito Santo que pode produzir uma natureza espiritu­ al. A natureza humana nada poderá produzir além de natu­ reza humana, e nenhum a criatura pode se erguer acim a da natureza que lhe c própria. A vida espiritual não pode ser transmitida de pai para filho através da procriação natural; é transmitida da parte de Deus para os homens mediante o novo nascimento espiritual. A natureza humana não pode se erguer acima daquilo que ela é. Cada criatura tem certa natureza conforme sua espécie, determinada por sua descendência. Esta natureza que o animal recebe dos pais determina, logo de início, as capacidades c a esfera da vida dele. A toupeira não pode levantar majestoso vôo na direção do sol como se fosse águia, c a ave que sai do ovo da águia não pode escavar debaixo da terra como faz a toupeira. Nenhum curso de treinamento poderá fazer com que a tartaruga corra tão
  • 40. Jesus e Nicodemos 43 velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a força do leão. Nenhum animal poderá agir de forma supe­ rior a sua própria natureza. O m esm o princípio aplica-se ao hom em . O destino supremo do hom em é viver com Deus para sempre; a natureza hum ana, no entanto, não possui cm si as con­ dições necessárias para viver no R eino celestial; assim sendo, a vida celestial tem de ser trazida do Céu para transform ar a vida hum ana na terra, preparando-a para o Reino de Deus. 4. () m istério do novo nascim ento. E m bora o com o do novo nascim ento esteja além do alcance do raciocí­ nio hum ano, este m istério não precisa ser m otivo de tropeço para N icodem os: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim c todo aquele que é nascido do Espíri­ to.” Noutras palavras, o m ovim ento do vento é algo muito real para nós, mas c m isterioso e além de nosso contro­ le; assim tam bém é a atuação do Espírito sobre a natu­ reza hum ana. Primeiro, o novo nascim ento é m isterioso quanto à sua origem: “não sabes donde vem ” ; e, em se­ gundo lugar, há mistério quanto à sua consum ação: “não sabes... para onde vai” . A ssim sendo, João escreve: “A m ados, agora somos filhos de Deus, c ainda não é m anifestado o que havem os de ser” (1 Jo 3.2). M esmo assim, a atuação do Espírito é real: “O uves a sua voz” (cf. At 2.3,4; 1 Co 12.7; G1 5.22,23). III - Confirm ação: a Base do Novo Nascim ento (Jo 3.11-15) Duas perguntas devem ter naturalm ente ocorrido a N icodem os: C om o Jesus sabe destas coisas? O que Ele faz para levar as pessoas a experim entarem o novo nas­ cim ento?
  • 41. 44 João, o Evangelho do Filho de Deus 1. A experiência espiritual de Cristo. “Na verdade, na v erd ad e te digo que nós d izem o s o que sab em o s e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testem u­ nho” (o plural “nós” talvez indique a presença de alguns discípulos). Jesus, concebido mediante o Espírito Santo, batizado no Espírito, cheio do poder do Espírito, continu- amente movido pelo Espírito, podia falar com autoridade cm matéria de Espírito. Que pena que tantos que profes­ sam ser seus seguidores tenham dogmatizado o assunto sem desfrutar das operações do Espírito cm seu íntimo! “Sc vos falei de coisas terrestres, c não crestes, como crereis, se vos falar das c elestiais?” Jesus ex p lica a Nicodem os que, se ele se preocupa apenas com a forma e a matéria do novo nascimento, só poderia conversar sobre coisas terrestres porque, embora o nascimento espiritual venha de cima, ocorre na terra e faz parte dos fatos da vida. A explicação do “com o” deste assunto tem a ver com os etern o s p ro p ó sito s de D eus (coisas celestiais), e Nicodemos não está pronto para tais ensinos, porque ainda não aceitou o fato da necessidade do novo nascimento (coi­ sas terrenas). 2. A origem celestial de Cristo. “Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Eilho do homem, que está no ecu”. Cristo tinha estado no Céu antes de sua m is­ são na terra, podendo, portanto, falar acerca de coisas celestiais a partir de uma experiência pessoal. Em bora “o Filho do homem, que está no céu”, estivesse na terra, seu lar real sempre foi o Céu, e são celestiais sua origem e natureza. 3. A obra expiatória de Cristo. Jesus já tratara de um erro fundamental de Nicodemos c dos seus companheiros: imaginavam que, pela sua conexão natural com o o povo escolhido, teriam de se filiar ao Reino de Deus; o Senhor Jesus, no entanto, declarou que devem entrar no Reino m e­ diante o novo nascimento. Agora dissipa o segundo erro:
  • 42. Jesus e Nicodetnos 45 Nicodemos acreditava que o Messias, na sua vinda, seria “levantado” ou exaltado num trono, para salvar Israel da total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que, em primeiro lugar, o Messias teria que ser levantado de modo bem diferente: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levanta­ do; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado numa cruz para salvar a nação do perecimento espiritual. Qual a conexão entre a crucificação do Filho do ho­ mem e a regeneração dos filhos dos hom ens? Q uando Deus criou o hom em e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, transm itiu a este não som ente a vida m ental e física, com o tam bém o Espírito Santo. A dão foi criado perfeito, e certam ente deve Ler recebido o Espírito San­ to, pois sem ele a personalidade hum ana é incom pleta diante de Deus. Q uando pecaram nossos prim eiros pais, iniciou-se a m orte espiritual e deixou de habitar neles o Espírito Santo. Quando, portanto, veio o R edentor, sua m issão era restaurar ã hum anidade a presença do Espí­ rito. “Cristo nos resgatou da m aldição da lei, fazendo-se m aldição por nós; porque está escrito: M aldito todo aquele que for pendurado no m adeiro. Para que a bên­ ção de A braão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebam os a prom essa do E spírito” (G1 3.13,14). Cristo m orreu na cruz a fim de rem over o obstáculo que não perm itia que a vida hum ana recebesse a presença de Deus. Este obstáculo era o pecado. V - Ensinam entos Práticos /. Pregando o novo nascimento. Segue-se um esboço de como se pode aplicar, de modo prático, a doutrina do novo nascimento. 1.1. U m a vez que você reconhece a seriedade e a degra­ dação dos seus pecados e o poder que exercem sobre você,
  • 43. 46 Joao, o Evangelho do Filho de Deus sua situação dc impotência dos seus pecados, c que lhe aguarda a eternidade no inferno, se você morrer no seu atual estado de pecado; 1.2. E quando, com genuíno arrependimento, vocc acei­ ta a expiação mediante o sangue dc Jesus Cristo como sua única esperança, recebendo Cristo de modo permanente c sem reserva, como seu Salvador c Senhor, que pagou a penalidade dos seus pecados, sofrendo em seu lugar; 1.3. Então ocorre dentro de vocc um tríplice milagre: 1) Você c purificado dc todos os seus pecados; liberto do poder deles sobre vocc; revestido da justiça dc Cristo. Você rece­ be esperança, paz, gozo e um novo propósito na vida - o dc viver e trabalhar para ele, comissionado para ser seu em ­ baixador c testemunha por onde quer que você vá, dc tal modo que sua vida se torna útil, necessária c cheia de es­ perança. Você recebe forças para vencer o “velho ho­ m em ” no seu íntimo, para viver a vida cristã c crescer na graça. Por suas próprias forças, você fracassaria, mas, mediante este milagre, pode ter absoluta certeza de que, enquanto ele precisar de você nesta terra, ele o preservará, sustentará, fortalecerá, guiará e protegerá. 2) Jesus Cristo vive em você, de m odo real e literal. 3) Você c regenerado. N a realidade, torna-se nova cri­ atura. Literalmente, nasceu de novo para entrar no Reino de Cristo. Você se torna santo, um filho de Deus, membro da igreja verdadeira. 1.4. Como resultado deste tríplice milagre, você é sal­ vo, dc modo literal e definitivo. Você tem a vida eterna, c pertence ao Senhor. Agora, poderá com eçar a viver a vida cristã - a vida “oculta juntam ente com Cristo” - em Deus. 2. Cristianismo, a religião do novo nascim ento. Nas religiões pagãs, declara-se universalmente que o caráter hum ano é imutável. Em bora tais religiões determinem pe­ nitências e rituais que oferecem ao hom em a esperança de
  • 44. Jesus e Nicodem os 47 compensar os seus pecados, não existe nenhuma promessa de haver vida e graça para transformar a sua natureza. Somente a religião de Jesus Cristo toma a natureza decaída do homem, regenerando-a mediante a vida de Deus, que passa a habitar nele porque o seu Fundador é Pessoa di­ vina e viva, que salva totalmente os que por Ele chegam a Deus. Não há analogia entre a religião cristã e, o budismo e o maometismo, no sentido de dizer: “Quem tem Buda tem a vid a” . Os líd eres destas re lig iõ e s p o d em e x o rta r à moralidade, estimular, impressionar, ensinai- e orientar, mas nada de novo é acrescentado à alma de quem professa suas doutrinas, que são desenvolvidas pelo hom em natural e moral. O Cristianismo é tudo isso mais a divina Pessoa. A missão do Senhor Jesus pode ser resumida na breve proposição: Jesus Cristo veio ao mundo romper o poderio do pecado e introduzir na raça humana uma nova fonte de vida espiritual (cf. Gn 2.7; 1 Co 15.45; Jo 20.22; El 2.1). E isto nos leva a pensar na missão dominante dos discípu­ los de Jesus - fazer com que homens pecaminosos sejam transformados pelo poder de Deus.
  • 45. Jesus e a Mulher Samaritana Texto: João 4.4-30 Introdução Jesus deixou Jerusalém porque seus milagres estavam atraindo as pessoas do tipo errado - espectadores curiosos que tinham do Reino um conceito errado. Foi, portanto, para os distritos rurais, onde o povo tinha mais simplicida­ de c seriedade de coração. Ali ganhou muitos, que se con­ verteram a Ele e aceitaram o batismo. Mais uma vez, po­ rém, seu próprio sucesso fez periclilar o propósito do seu ministério. Os fariseus, ouvindo a notícia de que grandes multidões acorriam ao seu batismo, ficaram com inveja e alimentaram uma discussão entre os discípulos de Jesus e os de João Batista (cf. Jo 3.25; 4.1,2). Jesus, desejando evitar uma contenda com os fariseus, deixou a Judéia. Não havia finalidade cm que ele se revelasse como Messias diante dos fariseus, porque, com suas mentes cheias de idéias preconcebidas, teriam entendido os seus ensinos de manei­ ra errada. Era diante de pessoas de mente sincera c coração faminto como a mulher samaritana que Jesus se sentia li-
  • 46. 50 João, o Evangelho do Eilho de Deus vrc para rcvclar-sc, cm ve/, dc entrar cm controvérsias te­ ológicas com os fariseus. Este trecho, bem como o que estudamos no capítulo anterior, são exemplos dos ensinamentos dc Cristo sobre o poder rcgencrador do Espírito Santo. No capítulo anterior, ouvimos Jesus instruindo Nicodcmos com respeito ao novo nascimento; agora, estudaremos a sua entrevista com uma mulher samaritana. Ele era um membro da sociedade que desfrutava de grande respeito; ela, uma mulher proscrita. Ela, era um homem da mais severa moralidade; ela, uma mulher vivendo no pecado. Ele era um culto ensinador de Israel; ela, uma analfabeta das classes inferiores. Ambos têm a mesma necessidade - a transformação espiritual para entrar no Reino dc Deus. Este trecho descreve os passos mediante os quais o supremo Conquistador de almas conseguiu a conversão da mulher samaritana. I - Conseguindo a A tenção (Jo 4.5-9) “Eoi pois a uma cidade, dc Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assen­ tou-se assim junto da fonte. Era isto quase a hora sexta”. Esta menção do cansaço dc Jesus é a evidencia de que, quando compartilhou da natureza humana, o fez com toda seriedade: realmente tomou sobre si nossa natureza, e ex­ perimentou todas as limitações e fraquezas a que a carne humana está sujeita (menos as que são fruto direto do nosso pecado). “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28) foi dito por aquElc que sabia como é a dor dc músculos cansados e latcjanles. “Veio uma mulher de Samaria tirar água; disse-lhe Je­ sus: D á-m e dc beber”. O propósito do Senhor era levar a mulher necessitada à água espiritual que satisfaz a sede da alma; assim, fez seu primeiro contato com ela ao pedir água.
  • 47. Jesus e a M ulher Sam aritana 5 1 Ele de que tomar a iniciativa, porque a mulher, de si m es­ ma, não teria falado com Ele primeiro. Existiam quatro barreiras que impediríam semelhante conversação, e que o Senhor prim eiramente teria de romper. 1) A barreira do sexo. Os próprios discípulos ficaram atônitos ao ver Cristo agir contrariam ente às bem conhecidas atitudes de sua época, falando assim a uma mulher cm público (v. 27). Geralmente, os preconceitos dos rabinos proibiam que as mulheres recebessem educação superior. 2) A barreira da nacionalidade. Não havia comunicação entre os judeus e os samaritanos. 3) A barreira do caráter moral. A mulher samaritana sabia que nenhum rabino judeu chegaria perto de uma pecadora como ela. 4) A barreira da ignorância. No decurso da conversação, foram rompidas todas as barreiras. A mulher recebeu novos horizontes para a sua vida, seu caráter foi transformado, c sua alma, iluminada. Note a habilidade do Senhor em abrir caminho para esta conversação. Pediu um favor da parte dela, fazendo-a sentir- se, por um momento, em condições de superioridade. M e­ diante um apelo à simpatia da mulher, criou ambiente apro­ priado para conversar sobre assuntos espirituais. Foi uma grande surpresa para a mulher quando a pessoa junto à fonte - que ela reconheceu como sendo um judeu - , fez um pedido a uma mulher samaritana de sua condição. “Como, sendo tu judeu, mc pedes de beber a mim, que sou samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)” . Embora Jesus, como Messias, viesse da tri­ bo de Judá, nunca se chamou "Filho de Israel” ; sempre c chamado de "Filho do homem da humanidade inteira. Não havia lugar cm sua mente c em seu coração para o precon­ ceito. II - D espertando o Interesse (Jo 4.1 0 -1 4 ) 7. O desafio surpreendente. A mulher samaritana apro­ veitou para se rir um pouco daquele judeu que, segundo
  • 48. 52 Joela, o Evangelho do Filho de Dens pensava, fora forçado a mostrar franqueza c atnabilidadc por causa da intensa sede que sentia, c de não ter condi­ ções de conseguir água. Surpreendeu-se, no entanto, por I21c não se mostrar embaraçado; pelo contrário, suas pala­ vras c que a deixaram intrigada: “Se tu conheceras o dom de Deus. c quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirías, e ele te daria água viva.” “Se tu co n h eceras” . Há pessoas que não percebem quantos poderes e oportunidades jazem escondidos ao nosso redor. Por não reconhecerm os quantas bênçãos se nos oferecem, perdem os milhares delas! “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o co n h ecim en to ” (Os 4.6). A m ulher sam aritana estava falando face a face com aquE le que satisfaria a todos os seus anseios de paz c de vida - e não o sabia. Ilá m uitas pessoas que passam pela vida bem perto daquilo que poderia re v o ­ lucionar sua existência, e ficam alheias á verdadeira bcm -avcnlurança por falta de saber e de considerar. Em dois assuntos, especificam ente, faltava conhecim ento à m ulher. 1.1. Não conhecia o dom de Deus, aquilo que Deus queria graciosamcntc dar a ela. A pobre mulher nem espe­ rava bênçãos da parte de Deus. Desiludida, esgotada, sem caráter, sem alegria, praticava a enfadonha rotina dos ser­ viços diários. Ouvira falar sobre Deus, mas nem sequer sonhava que Ele estivesse disposto a entrar na sua vida, fazendo com que sua existência valesse a pena. A água “viva” c a que flui ou que jorra de um a fonte - a água cm m ovim ento, cm contraste com a água para­ da (ef. Gn 26.19; Zc 14.8). Sim boliza a vida divina que flui m ediante o contato com Deus (Jr 2.13; Ap 7.17; 21.6; 22.1). A ssim com o a água natural satisfaz a sede física, o Espírito Santo satisfaz a alm a que anseia por Deus (cf. SI 42.1,2). 1.2. A mulher não conhecia a identidade daquele que disse: “Dá-mc de beber” . A vinda do Messias era a espe­
  • 49. Jesus e ei M ulher SamariUma 53 rança dos samaritanos, c não somente dos judeus, c ambas as nações tiraram encorajamento c Ibrças desta promessa: suportavam os males do presente, sustentados pela visão do futuro, que se centralizava ao redor da Pessoa do M es­ sias. Agora, o Messias estava falando com esta mulher sem que ela o percebesse. Muitos são os que têm familiaridade com as palavras de Jesus, ouvindo-as como se escutassem uma canção. Não são transformados, porém, porque não se apercebem realmcnte de que as palavras que ouvem não são as de um mestre humano, c sim as do próprio Filho de Deus. Oxalá soubessem quem c o que lhes fala! 2. A pergunta feita com surpresa. Refutando a sugestão de ela ser ignorante quanto ao dom de Deus, a mulher responde: “Senhor, tu não tens com que a tirar, c o poço é fundo; onde, pois, tens a água da vida?” A resposta a esta pergunta se encontra nos versículos 13 c 14. Quanto a ser acusada de ignorância sobre a Pessoa que fala com ela, a mulher responde: “Es tu maior do que o nosso pai Jaeó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, c o seu gado?” Os versículos 25 c 26 respondem à objeção da mulher. Como Nicodemos, objeta: “Como pode suceder isto?” Quando se trata das coisas de Deus, os que possuem boa educação não têm vantagem sobre os iletrados. Todos, igualmenlc, precisam do “Espírito que provem de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gra- tuilamente por Deus” (1 Co 2.12). 3. A com paração ejue ilumina. Jesus lança mão de uma comparação para esclarecer o significado das suas palavras: “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte d ’água que salte para a vida eterna” . A água natural é mencionada aqui como símbolo das fontes de prazer que há aqui na terra, e que só proporcionam satisfação momentânea. A totalidade da vida humana se compõe de desejos interim tentes que recebem apenas parcial satisfação: anseios e
  • 50. 54 .loao, o Evangelho do Filho de Feus sacicdadc, enfado e novos desejos fortes se seguem num círculo vicioso. Realmente, nunca houve verdadeira satis­ fação para os desejos humanos; a alma humana nunca se aquieta, senão cm Deus. As fontes da terra podem oferecer satisfação temporária, mas c somente depois de o homem ler achado a Deus que ele pode declarar ter satisfação com ­ pleta c eterna. Jesus ensina à mulher que a água no poço de Jacó jaz sem vida ou movimento nas profundidades, en­ quanto a água celestial que ele oferece, embora fique nas profundezas da personalidade humana, não fica parada ali; vem brotando à superfície, revelando sua presença aos outros, fluindo com mais e mais força até que, na vida do porvir, o indivíduo recebe a plenitude desta benção. A fonte fica no indivíduo. O prazer do mundano depen­ de das coisas externas; a Fonte da satisfação do cristão está dentro dele, independe das circunstâncias. A vida eterna, no Evangelho de João, é vinculada â fé cm Jesus (Jo 3); provém da ação de com er da sua carne e beber do seu sangue (Jo 6); é dádiva direta da parte dElc (Jo 10; 17). Neste capítulo, é considerada como resultado da vida do Espírito no homem, o fruto da vida espiritual, que é dife­ rente da vida humana cm qualidade, permanência e matu­ ridade. Ill - A Consciência da Necessidade (Jo 4.15-18) /. O pedido urgente. “Disse-lhe a mulher: Senhor, dá- me dessa água, para que eu não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.” A mulher ainda não havia percebido o âmago do ensino de Jesus. Nem sequer sonhava que Ele, falando sobre “água”, queria dizer algo diferente daquilo que ela carregava no seu cântaro. Ela ainda não percebera nada além dos seus desejos físicos e de suas necessidades diárias. Começou a sentir a convicção de que aquele estra­ nho talvez a pudesse livrar da sua vida exaustiva de ter de
  • 51. Jesus c a M ulher Samarilaiui S> caminhar ate o poço com seu cântaro pesado. Seria um alívio ter a água bem à mão! Embora não tivesse com pre­ endido o inteiro significado do dom prometido, entendeu, pelo menos, que se lhe oferecia uma grande vantagem - e seu desejo foi despertado. 2. Unia declaração perseruíadora. Agora, Jesus leva a mulher a dar um passo adiante, despertando seu sentimen­ to de necessidade espiritual. Faz com que ela se recorde de sua vergonhosa vida de pecados para que, esquecendo- se da água do poço de Jacó, lenha sede daquilo que a ali­ viaria da sua vergonha c miséria. ‘‘Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, c disse: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” . Jesus trata do assunto do pecado a fim de que a mulher veja a causa da sua infelicidade. A nova vida deve começar com base na veracidade c na honestidade. O passado tem que ser enfrentado, por mais desagradável que seja, e o lixo da vida anterior deve ser varrido para longe. IV - Cristo Revela a Si M esm o (Jo 4.1 9 -2 9 ) /. A expressão de perplexidade. A mulher, atônita dian­ te do discernimento de Jesus, exclama: ‘‘Senhor, vejo que cs profeta”, c passa a levantar um problema religioso, da controvérsia entre os samaritanos e judeus: “Nossos pais adoravam neste monte [Gcrizim] e vós dizeis que é cm Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” A pergunta surgiu não somente do desejo de desviar o problema do pecado dela para o campo de generalidades teológicas, como tam ­ bém de um real desejo de saber como procurar comunhão com Deus e se erguer acima da sua baixa situação moral. Aproveitou a presença de um profeta para esclarecer suas dúvidas. Jesus, em resposta, mostrou que a verdadeira ado­
  • 52. 56 João, o Evangelho cio Eilho de Deus ração c matéria dc atitudes certas, c nao do lugar certo; não se trata de onde, c sim de como. 2. Cristo revelado. Cheia dc alegria pelas verdades que ouve, a mulher se lembra do que se lhe contou acerca dc um grande Mestre que haveria dc vir, enviado da parte de Deus: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo”. Jesus não podia se revelar aber- lamentc aos fariseus porque estes não percebiam as própri­ as carências espirituais. No entanto, sempre estava dispos­ to a se lazer conhecido a todos aqueles que sentissem ne­ cessidade dElc (cf. Mt 11.25-27). Cristo sempre se revela àqueles que amam a sua vinda. Foi assim que revelou-se aos primeiros discípulos (Jo 1), c a Nicodemos (Jo 3.13; 9.35-38). d. Começa o serviço cristão. A mulher imediatamente tornou-se missionária do Profeta c Messias que acabara de descobrir. “Deixou pois a mulher o seu cântaro” - mostran­ do que, na alegria de descobrir a Agua Viva, esquecera-se da sua procura pela água natural _ “e foi â cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não c este o Cristo?” (cf. Jo 1.41). Nada mais natural do que alguém que recebeu a Agua Viva para beber levar outros à mesm a Fonte. V - Ensinam entos Práticos 1. Fontes escondidas. A mulher samaritana não sabia que falava ao Messias, e que a poucos passos dela eslava a Fonte de Agua Viva; mas sua ignorância não alterava a realidade dos fatos. As águas do Rio Amazonas entram oceano adentro com tanta força que ainda há água doce a grande distância da praia. Certo navio não tinha mais água potável a bordo, c os tripulantes, longe da terra firme, fi­ zeram sinal a outro navio, pedindo água. Demoraram mui-
  • 53. Jesus e a M ulher SanuiriUuui 6 / lo tempo para acreditarem na resposta: “Desçam os baldes no oceano, porque é de água doce”. Finalmente experimen­ taram fazer isto e descobriram que realmente estavam cer­ cados por água doce. Nós também estamos cercados em Iodos os lados por Deus, sustentados por Fdc e vivendo nEle, c tantas vezes não tomamos conhecimento deste fato. deixando de lançar nossos baldes para recebermos a pleni­ tude da sua graça. O Senhor Jesus abriu os olhos da mulher samaritana para que ela enxergasse a fonte das águas vi­ vas, c fará o mesmo por nós. No cansaço, Fie nos mostrará uma fonte de refrigério; na tristeza, uma fonte de consola­ ção; na e n fe rm id a d e , u m a fonte de cu ra; no descncorajamento, uma fonte de esperança (cf. Gn 21.16- 19; Ex 17.1-6; Nm 20.9-11; Is 43.19). 2. Sede chi alma. “Qualquer que beber desta água torna­ rá a ter sede” . Se nos colocássemos de vigia numa esquina, examinando o rosto de cada um dos inúmeros transeuntes, veriamos escrito nos semblantes da maioria desassossego, descontentamento insatisfação. A maioria das pessoas se­ gundo parece, sofre a dor das ânsias não satisfeitas. Procu­ rando a satisfação que seus corações tanto reclamam, uns vão ao cinema, outros procuram as drogas, outros procu­ ram se esquecer dos problemas mediante vários tipos de atividades febris. Se rcalmcnte soubessem ler seu próprio coração, diriam, juntamente com o salmista: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (SI 42.2). O Espírito Santo é a Água Viva que satisfaz a alma, e Jesus Cristo veio a este mundo para nos levar “para as fontes das águas da vida” (Ap 7.17). 3. O Espírito que habita em nós. Spurgeon escreveu: “O poder do Espírito Santo que habita cm nós é supe rior a todos os reveses, como um rio que não pode ser forçado a ficar debaixo da terra, por mais que procuremos represá-lo... Quando o Senhor dá de beber a nossas almas,
  • 54. 58 João, o Evangelho do Eilho de Deus das fontes que brotam da grande profundidade do seu pró­ prio amor eterno, quando nos dá a bênção de possuirmos cm nosso íntimo um princípio vital de graça, nosso ermo se regozija, e desabrocha cm flores como a roseira, c o deserto ao nosso redor não pode murchar o nosso cresci­ mento verdejante; nossa alma fica sendo um oásis, mesmo quando tudo ao nosso redor é secura infrutífera.
  • 55. 0 Paralítico do Tanque de Betesda Texto: João 5.1-14 Introdução Como já notamos num estudo anterior, João chama os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transformação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do pa­ ralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multi­ dão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a res­ surreição de Lázaro. Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o doador da vida, e, como o paralítico oüviu a voz de Cristo e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ou­ virão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25). I - O Sinal (Jo 5.1-9) I. A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em
  • 56. 60 Joao, o Evangelho do Filho de Deus hebreu Bctcsda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia uma multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados, esperando o m ovim ento das águas. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, c o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse''. Trata-se de uma fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que pos­ suía - poderes de cura, ao redor da qual alguma pessoa benevolente edifieara cinco pórticos para servirem de abri­ go à multidão de enfermos que aguardava o movimento da água. A multidão ao redor do tanque faz lembrar que o m un­ do está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas enfermidades, sendo, porém, todas elas doentes; sim boli­ za o mundo que se aglomera, com uma ansiedade que c quase desespero, ao redor de qualquer coisa que prometa solução, por mais vaga que seja, no sentido de ajudar e de curar. 2. A pergunta que desperta a esperança. Num dia de festa religiosa, Jesus se encaminhou para este “hospital natural”. Assim como o olhar experiente do cirurgião rapi­ damente seleciona o pior caso na sala de espera da sua clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo”. Era um alei­ jado, provavelmente um paralítico. Passara todo esse tem ­ po esperando, ouvindo a conversa monótona dos outros en­ fermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que nin­ guém mais queria ouvir. Jesus, chegando a este homem, aborda-o com a pergun­ ta emocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece es­ tranha porque, após trinta c oito anos de sofrimento e es­ pera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa que o homem desejava. A pergunta, no entanto, tinha vá­ rias razões para ser feita: 2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança
  • 57. O Paralítico do Tanque de Belesda 6 1 mirrara dentro dele, assim eomo era mirrado o seu corpo. Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas esperanças, ajudando-o a ter a fé necessária para receber a cura. 2.2. Para despertar a Jé. Cristo não era como certos milagreiros que operam suas maravilhas mediante um pre­ ço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da pessoa. Quando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar o corpo era transformar a alma, porque mesmo quando vivia na terra era o Salvador e, como tal, requeria a fé como elo espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note eomo a cura neste caso foi acom panhada por uma advertência ao homem, que deixasse de levar a vida de pecado que fora a causa de sua aflição (v. 14). 2.4. Para testar a sinceridade do desejo. Q uando Je­ sus perguntou ao paralítico se queria ser curado, a p er­ gunta era sincera c real porque existem enferm os que não desejam ser curados. Os m édicos se oferecem para curar gratuitam ente as feridas do m endigo, eom o ato de caridade, c são rejeitadas as suas ofertas; m esm o o en­ ferm o que não usa sua enferm idade com o fonte de ren­ da, m ediante a m endicância, tende a tirar vantagem da sim patia e indulgência dos am igos, a ponto de o caráter ficar tão fraco, que ele com eça esquivar-se do trabalho. Há, portanto, m uitos que, por um a ou outra razão, pre­ ferem ter saúde fraca. A pergunta de Cristo significava: “Você está disposto a ser restaurado a uma condição que o capacitará a assumir as tarefas e responsabilidades da vida?” 3. O m andam ento c/ne dá vida. Enquanto o homem res­ ponde, relembrando os anos de sofrimento e o lato de não ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam nos seus ouvidos: “Levanta-te, toma a tua cama, c anda”. A primeira vista, pode-se imaginar ser uma zombaria man
  • 58. 62 João, o Evangelho do Filho de Deus dar um paralítico levantar-se e andar; devemos, no entanto, levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder para curar o homem, c que o homem tinha fé em quem falou com cic. O homem creu, e manifestou a sua fé m e­ diante um alo de obediência a um mandamento que parecia impossível cumprir. Se Deus nos mandasse passar através dc um muro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a traspassá-lo como se fosse uma folha dc papel de seda, sempre na condição de termos a certeza de que a ordem partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz respeito àquilo que sabemos ser a Palavra de Deus. O pa­ ralítico obedeceu c “logo aquele homem ficou são; e to­ mou a sua cama, e partiu”. A fé é o elo entre a incapaci­ dade humana e a onipotência divina. II - A Sequela (Jo 5.10,11) /. A condenação. Os milagres dc Jesus eram sinais, mas nem sempre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos per­ ceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas humanas (Jo 6). Curou o cego, demonstrando assim ser a Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, mostran­ do ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no Sinédrio o desejo dc matar o Autor da Vida. N a ocasião aqui estudada, Jesus operou um milagre que demonstrou ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar uma cura no sábado! (v. 16). "E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a cam a” . Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas pala­ vras de Jeremias: “Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). Naluralmente, a proi­ b i ç ã o dizia respeito a cargas que faziam parte de em preen­
  • 59. O Paralítico cio Tanque de Belesda 63 dimentos comerciais, mas os judeus, no seu exagerado literalismo, levaram o mandam ento ao extremo. 2. A vindicação. O homem lançou a responsabilidade sobre Jesus, e respondeu: “Aquele que me curou, ele pró­ prio disse: Tom a a tua cama, c anda.” Noutras palavras: “Foi aquele que me deu as minhas forças o mesm o que me mandou como empregá-las.” Que lógica magnífica! Na sua simplicidade, o homem acabou enunciando uma regra do discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa vida, é também a fonte da nossa lei. Ensinam entos Práticos /. C o n so la çã o no vale cie lágrim as. B etesd a, com os seus p av ilh õ es cheios de en ferm o s de toda e s p é ­ cie, onde ecoam os su sp iro s e g em id o s de dor e d e ­ sespero, é um ex em p lo deste vale de lág rim as em que v iv e m o s. No m e io da v id a , so m o s c e rc a d o s pela m orte; no m eio da seg u ran ça, p o d em o s ser atingidos pela c a la m id a d e ; no m eio da fartu ra, p o d e m o s ser ap an h ad o s p ela m iséria. “ M as o hom em n asce p ara o trabalho, co m o as faíscas das b rasas se lev an tam para v o a r” (Jó 5.7). Um provérbio de origem sérvia diz, com acerto: “Quem quisesse chorar todos os males do mundo logo ficaria sem olhos” . Neste quadro triste, no entanto, brilha um raio de luz: há alguém passando no meio dos doentes, perguntando a cada um: “Queres ser curado?” Deus enviou Cristo a este mundo para sarar nossos pecados e enfermidades, c para nos mostrar o caminho de libertação, de vida e de paz! Assim como o anjo agitava as águas para lhes dar poder para curar, também o Filho de Deus oferece a fonte que loi aberta para a casa de Davi para rem over o pecado e a
  • 60. 64 João. o Evangelho do Filho de Deus impureza (Zc 13.1). Estas águas sc moviam somente cm certos momentos, mas a expiação de Cristo está disponível todo o tempo. Quanto às águas agitadas pelo anjo, somente a pessoa que chegou primeiro teve a boa fortuna; na expi­ ação de Cristo, porem, o mundo inteiro está convidado a entrar dc uma só vez. 2. A voz que transform a. O paralítico freqüentava o tanque dc Betesda havia muitos anos, c viu muitas pessoas receberem a cura enquanto ele permanecia tão doente como no dia cm que chegou pela primeira vez. Esta situação c típica de milhares de pessoas que frequentam as igrejas sem receberem bênçãos: ainda estão tão fracas espiritualmente como no dia em que começaram a ir à igreja. Na teoria, creem no poder da graça divina; na prática, não têm fc cm Deus suficiente para receberem milagres dc transformação que fariam delas obreiros fortes e vigorosos na causa de Deus. Este milagre demonstra que há caminho mais curto para a saúde do que a mera frequência às cerimônias da igreja. E a voz dc Cristo que precisam ouvir. Muitos têm espera­ do por muito tempo ao lado da fonte chamada Batism o no Espírito Santo. Veem as águas se agitarem e outras pesso­ as entrarem para receberem a bênção, enquanto outros se sentem secos c sem poder. Depois, certo dia, ouvem a voz do próprio Filho dc Deus e são imediatamente libertados daquela interminável espera! O que importa na vida cristã c ouvir a voz do Filho de Deus. Temos ouvido a sua voz ultimamente? J. A chamada à benevolência. “Senhor, não tenho ho­ mem algum que, quando a água c agitada, me meta no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes dc m im .” “Não tenho ninguém” - estas palavras exprimem quanta solidão e egoísmo existem no mundo. Dc todos aqueles já curados por meio daquela fonte, não sobrou nenhum que emprestasse ao seu antigo companheiro de dores um pouco
  • 61. O Paralítico do Tanque de Belesda 65 da sua força recém-adquirida, para colocá-lo na água na hora certa. Quão triste seria este mundo se não existisse ninguém que sentisse prazer em ajudar ao próximo! O ego­ ísmo faz com que o mundo seja um lugar muito pequeno, um cantinho muito frio, infrutífero e escuro. Não há dúvi­ da de que este mundo c lugar de egoísmo, mas ainda há boa quantidade de genuína bondade entre os homens. Jesus Cristo veio ao mundo para lançar o saneamento que é o amor nas águas amargas do egoísmo, sendo que “andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo” (At 10.38). Os seguidores de Jesus seguem o seu exemplo, e têm compaixão do homem sozinho e abando­ nado que não tem ninguém para ajudá-lo a chegar às águas que o saram. “Quando te converteres, fortalece os teus ir­ mãos”. Quem já foi curado por Cristo se preocupará em cuidar para que outras pessoas se dirijam à mesm a fonte de bênçãos; não havendo esta vontade, é porque lhe falta a energia sobrenatural que aquece e comove o coração com o divinal amor que tem longo alcance. 4. “Q ueres fic a r são?” É surpreendente o número dc pessoas que não se interessam em obter saúde, por falta de desejo de assumir as responsabilidades que a vida acarreta. Existem muitos cristãos, também, que estão dispostos a permanecer espiritualmente paralíticos porque recuam di­ ante do serviço cristão árduo que sc requer dos seguidores dc Cristo. Muitos há que não querem ser feitos espiritual- mente sãos, porque se esquivam das obrigações da vida cristã; outros hesitam em buscar uma cxpcricncia mais profunda por medo de surgirem, juntamente com ela, no­ vas exigências morais. Outros, ainda, não aceitam para si a consagração total, receando que o Senhor os mande para o campo missionário. “Queres ficar são?” é uma pergunta que nos perseruta, c que significa: “Queres ser capacitado para o que há dc mais puro e nobre na vida?” O Mestre continua falando ao nosso coração: “Queres ser santifica­