Este artigo descreve o uso da prótese vertical expansível de titânio (VEPTR) para tratamento de escoliose neuromuscular sem fusão da coluna vertebral em 17 pacientes. Os resultados mostraram uma correção média de 40,5° da curva espinhal e redução de 60,6° na obliqüidade pélvica após a cirurgia com VEPTR, demonstrando a eficácia deste método no tratamento provisório desta condição.
1. ARTigo oRiginAL / oRiginAL ARTiCLE
Uso da prótese vertical expansível de titânio para costela
(VEPTR) como opção na instrumentação sem fusão para
tratamento da escoliose neuromuscular
The vertical expandable prosthetic titanium rib device (VEPTR)
as option in spine instrumentation without arthrodesis in the
treatment of neuromuscular scoliosis
Uso de la prótesis vertical expansible de titanio para costilla
(VEPTR como opción en la instrumentación sin fusión para
tratamiento de la escoliosis neuromuscular
Élcio Landim1
Paulo Tadeu Maia Cavali2
Marcus Alexandre Mello Santos3
Wagner Pasqualini4
Rodrigo Castello Branco Manhães Boechat5
Sergio Murilo dos Santos Andrade6
RESUMo ABSTRACT RESUMEn
Objetivo: demonstrar a experiência Objective: report results of vertical Objetivo: demostrar la experiencia del
do uso de prótese vertical expansível expandable prosthetic titanium ribs uso de la prótesis vertical expansible de
de titânio (VEPTR) como opção para (VEPTR) surgery in the treatment titanio (VEPTR) como opción, para el
tratamento sem fusão da coluna, em of neuromuscular scoliosis without tratamiento sin fusión de la columna, en
pacientes com escoliose neuromuscular. spinal fusion. Methods: a total of 17 pacientes con Escoliosis neuromuscular.
Métodos: o estudo envolveu 17 pa- patients (mean age 8 years; 3 to 13 Métodos: el estudio involucró 17 pa-
cientes (com média de idade de oito years) with neuromuscular scoliosis cientes (con promedio de edad de 8
anos; variando de três a 13 anos) que exceeding 40° of scoliosis measured años, variando de 3 a 13 años) que
apresentavam escoliose neuromuscular using the Cobb method and presenting presentaron escoliosis neuromuscular
com medida pelo método de Cobb, a Risser grade of 1 and 2 before VEPTR medida por el método de Cobb superior
superior a 40° e potencial de crescimento surgery. The degree of spinal curve a 40° y potencial de crecimiento (Risser
(Risser 1 e 2), tratados com VEPTR, was measured using the Coob method 1 y 2), tratados con VEPTR, por el
pelo Grupo de Escoliose da AACD before and after surgery. Results: Grupo de Escoliosis de la AACD de
de São Paulo e Grupo de Cirurgia da the postoperative mean correction São Paulo y el Grupo de Cirugía de la
Trabalho realizado no Grupo de Escoliose da Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD- São Paulo (SP), Brasil e Serviço de Cirurgia da Coluna da
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.
1
Professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil; Chefe do Grupo de
Escoliose da Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD – São Paulo (SP), Brasil.
2
Cirurgião de Coluna do Grupo de Escoliose da Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD – São Paulo (SP), Brasil e Departamento de Ortopedia e
Traumatologia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.
3
Cirurgião de Coluna do Grupo de Escoliose da Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD – São Paulo (SP), Brasil.
4
Cirurgião de Coluna do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.
5
Ortopedista, Grupo de Cirurgia de Coluna - Hospital XV – Curitiba (PR), Brasil.
6
Cirurgião do Grupo de Coluna do HUPES – Universidade Federal da Bahia – Salvador (BA), Brasil.
Não há conflitos de interesse.
Recebido: 11/03/2007 Aprovado: 15/01/2008
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2. Uso da prótese vertical expansível de titânio para costela (VEPTR) como opção na instrumentação sem fusão para tratamento de escoliose neuromuscular 161
coluna da Universidade Estadual de rate in spinal curve degrees achieved columna de la Universidad Estadual de
Campinas. Foi realizada avaliação da by the patients treated with VEPTR Campinas. Fue realizada una evaluación
curva pelo método de Cobb no pré e measured with the Coob method was de la curva por el método de Cobb en
pós-operatório para avaliar o grau de 40, 5° and the mean reduction of the el pre y postoperatorio para evaluar
correção. Resultados: as correções ob- pelvic obliquity was 60, 6° compared el grado de corrección. Resultados:
tidas com o uso do VEPTR, medidas pelo to the degree of preoperatory postural las correcciones resultantes con el uso
método de Cobb, foi em média de 40,5º evaluation. Conclusion: patients who del VEPTR, medidas por el método
em relação à deformidade pré-operatória underwentVEPTRsurgerydemonstrated de Cobb fue en promedio de 40.5º en
e, uma diminuição média, de 60,6º na significantly improved postural correc- relación a la deformidad preoperatorio
obliqüidade pélvica. Conclusão: o mé- tion and health-related quality of life for y una disminución promedio de 60.6º en
todo mostrou-se útil, com correções the provisory treatment of congenital la oblicuidad pélvica. Conclusión: el
significativas, no tratamento provisório neuromuscular scoliosis. método se mostró útil, con correcciones
das Escolioses neuromusculares. significativas, en el tratamiento provisorio
de las Escoliosis neuromusculares.
DESCRITORES: Escoliose/ KEYWORDS: Scoliosis/therapy; DESCRIPTORES: Escoliosis/
terapia; Fusão vertebral/ Spinal fusion/methods; Spinal terapía; Fusión vertebral/
métodos; Fusão vertebral/ fusion/instrumentation; métodos; Fusión vertebral/
instrumentação; Próteses e Prostheses and implants instrumentación; Prótesis e
implantes implantes
inTRoDUÇÃo Porém, é uma modalidade de tratamento que apresenta
A escoliose neuromuscular acomete um grupo particular de riscos, os quais estão ligados à morbidade da cirurgia e
pacientes, que, devido suas doenças de base, apresentam risco anestésico5-6. Além disso, os estudos de Campbell2
deformidades vertebrais de comportamento distinto da indicam que uma artrodese espinhal, em crianças de até
escoliose idiopática. A progressão é freqüente e precoce, 5 anos de idade, comprometem a capacidade pulmonar ao
com curvaturas que pioram mesmo após a maturidade final do crescimento em torno de 50%.
esquelética. Deixados sem tratamento, esses pacientes são A cirurgia de correção de escoliose sem fusão
muito prejudicados, apresentando diminuição de seu nível pode oferecer vantagens que não são conseguidas nos
funcional e disfunção respiratória1. tratamentos convencionais, com o objetivo de interromper
Estudos mais recentes têm demonstrado que o a progressão da doença e permitindo o crescimento da
encurtamento do tronco e a hipoplasia da caixa torácica coluna. Trata-se de um princípio de tratamento que pode
não são as únicas conseqüências das deformidades de ser realizado de diferentes modos, incluindo: grampos de
coluna severas que acometem as crianças com menos inserção endoscópica, plicaturas nas convexidades das
de dez anos de idade. Sabe-se que o crescimento dos curvas e modulação do crescimento. Tais sistemas foram
pulmões é determinado pelos limites anatômicos do tórax bem demonstrados em estudos experimentais7-9.
e, portanto, qualquer deformidade da caixa torácica ou da A estabilização da coluna vertebral sem fusão, aplicada
coluna torácica, que reduza o volume do tórax, pode afetar em pacientes, foi inicialmente descrita por Harrington10
o tamanho dos pulmões na maturidade. A diminuição e apresentou resultados precários devido à fusão parcial
volumétrica do parênquima pulmonar também significa resultante da dissecção subperiosteal da musculatura
redução da quantidade de alvéolos, que, ao longo dos anos, paravertebral, por ocasião do acesso cirúrgico à coluna
levará à Síndrome de Insuficiência Torácica e óbito por cor vertebral. A ausência de suporte externo protegendo
pulmonale2. as hastes nessa técnica descrita também provocava
A escoliose é uma deformidade complexa e tridi- deslocamento dos ganchos e quebras nas hastes, levando à
mensional da coluna que pode ser tratada com órteses falha do procedimento.
(coletes) ou cirurgia com fusão espinhal para evitar a Relatos e descrições de outros autores sugeriam a
progressão da deformidade3-4. O tratamento conservador utilidade desta técnica em pacientes menores de dez anos
com órtese não é invasivo e mantém o movimento da coluna de idade, com graves deformidades vertebrais, que não
e sua mobilidade. Entretanto, não permite a correção das respondiam ao tratamento conservador com órteses e ainda
curvas e previne, modestamente, a sua progressão, sendo muito jovens para serem submetidos à artrodese de coluna
ainda menos efetivo nas deformidades neuromusculares vertebral11-12.
e oferecendo riscos, inclusive, como lesões cutâneas em Esse princípio de tratamento cirúrgico mostrou-se útil
crianças com déficit de sensibilidade. nas deformidades espinhais de etiologia neuromuscular e
O tratamento cirúrgico das escolioses, baseado na congênita acometendo crianças de baixa idade.
instrumentação da coluna e fusão, permite a adequada A fim de tratar pacientes com escoliose congênita em
correção da deformidade e prevenção de progressão. baixa idade e restrição do desenvolvimento do tórax em
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virtude da deformidade e de fusão de arcos costais foi ilíaco (Figura 1). O pós-operatório imediato foi realizado em
desenvolvido o dispositivo Vertical Expandable Prosthetic unidade de terapia intensiva com fisioterapia respiratória.
Titanium Rib (VEPTR), (Synthes Spine Co®., West Chester, Em todos os pacientes foi feita profilaxia antibiótica com
Pennsylvania, USA) ou Prótese Vertical Expansível de Cefalotina 100 mg/kg/dia por 48 horas e Amicacina 15mg/
Titânio. Tal implante permite a estabilização indireta kg/dia por 24 horas. Os alongamentos do sistema foram
de deformidades espinhais sem artrodese, com fixação realizados a cada quatro meses, também em ambiente
nas costelas, lâminas e pelve, permitindo até mesmo hospitalar, sob anestesia geral e com 48 horas de profilaxia
alongamentos. antibiótica. Em nenhum paciente foi utilizada proteção
Campbell2 sugere a aplicação do VEPTR em externa ou órtese no pós-operatório da cirurgia primária
deformidades espinhais neuromusculares em crianças, ou distrações. Todos mantiveram seu programa habitual de
funcionando como uma instrumentação indireta da reabilitação, apenas não sendo recomendados exercícios
coluna, sem artrodese13. Hell et al. trataram seis pacientes que envolvessem flexão do tronco. As transferências dos
demonstrando bons resultados na aplicação do VEPTR em pacientes de leito, cadeiras, ou deambulação foram mantidos
escoliose neuromuscular14. da maneira habitual após a colocação do VEPTR. A cada
No presente estudo, o objetivo é demonstrar a quatro meses era realizado alongamento do sistema com os
experiência inicial do uso do VEPTR como um tutor pacientes internados, a fim de obter melhora das correções
interno para o tratamento de escoliose sem fusão espinhal obtidas ou evitar sua piora (Figura 2).
em crianças portadoras de doenças neuromusculares.
MÉToDoS
De Janeiro de 2005 a Maio de 2006, foram tratados pelo
Grupo de Escoliose da AACD de São Paulo e Grupo
de Cirurgia de Coluna da Universidade Estadual de
Campinas, 31 pacientes portadores de deformidade
espi-nhal com o VEPTR (dispositivo em seu desenho de
quarta geração, desenvolvido pela Synthes Spine®, West
Chester, Pennsylvania). Nesse estudo, foram incluídos
17 casos que preencheram os critérios: deformidades com
Cobb superior a 40º ou escoliose neuromuscular progres- Figura 1 Figura 2
siva documentada; imaturidade esquelética (Risser Montagem habitualmente Alongamento do sistema
realizada na concavidade da
menor que 2); pacientes com insuficiência respiratória
escoliose Fonte: Campbell RM Jr et al.2
associada e comprovada clinicamente ou por exames
laboratoriais (gasometria, provas de função pulmonar) Fonte: Campbell RM Jr et al.2
ou de imagem (tomografia de tórax indicando reduzido
espaço pulmonar). Excluiu-se pacientes com defor-
midades graves no plano sagital. RESULTADoS
Do total de 17 pacientes, seis eram do sexo masculino
Avaliação pré-operatória e pós-operatória e 11 do sexo feminino. A média de idade encontrada no
Os dados a serem obtidos incluíram idade, tipo de doença grupo foi de oito anos, variando de 3 a 13 anos. As doenças
neuromuscular, magnitude da deformidade pelo método de neuromusculares encontradas incluíram: mielomeningocele
Cobb, flexibilidade da curva, obliqüidade pélvica, freqüência torácica, mielomeningocele lombar, paralisia cerebral,
de infecções respiratórias graves, dificuldade respiratória artrogripose e mielite transversa (Tabela 1).
prévia à cirurgia, necessidade de suporte ventilatório, valor Com relação a doenças respiratórias secundárias às
da correção obtido após a primeira cirurgia e nas sucessivas patologias neuromusculares primárias, observou-se dois
distrações do sistema, melhorias no padrão respiratório após casos de pacientes com dispnéia e infecções respiratórias
cirurgia e complicações ocorridas com o dispositivo. O graves repetidas, que necessitavam de máscara de O2
tempo de seguimento mínimo foi de oito meses. constante. Em um caso, a doença de base era mielite
As avaliações pré-operatória, pós-operatória imediata transversa e, em outro, paralisia cerebral.
e pós-operatória tardia das deformidades de coluna foram A média dos valores de Cobb encontrada foi de 80o
realizadas com radiografias para escoliose, em duas posições variando de 40º a 147º. O valor médio de Cobb obtido
(frente e lateral), em posição ortostática ou sentada, como nas radiografias em tração foi de 61,3º com variação de
de habitual no exame das deformidades vertebrais. 30º a 105º Em média, portanto, a flexibilidade das curvas
foi de 23,4% e as variações de Cobb sem tração e com
Técnica cirúrgica tração podem ser verificadas no Gráfico 1 e Tabela 1. Onze
Todos os pacientes foram submetidos à cirurgia sob anestesia geral pacientes apresentavam obliqüidade pélvica, com média
inalatória com colocação do VEPTR com uma ou duas hastes, de 24,1º (12º - 50º), conforme exemplo do paciente 16
em montagens com fixações do tipo costela-costela ou Costela- (Figuras 3 e 4).
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5. 164 Landim E, Cavali PTM, Santos MAM, Pasqualini W, Boechat RCBM, Andrade SMS
Figura 5
Paciente# 16, masculino,
três anos de idade,
mielomeningocele.
Pós-operatório imediato,
realizadas duas montagens
com o VEPTR tipo
costela-ilíaco corrigindo,
significativamente, a
deformidade espinhal e
a obliqüidade pélvica. O
paciente apresentou melhora
no equilíbrio de tronco e
habilidade para sentar
Figura 3 Figura 4
Paciente # 16, masculino, Paciente # 16, masculino,
três anos de idade, três anos de idade,
mielomeningocele. Valor do mielomeningocele. Observar
ângulo de Cobb 95º que no plano sagital do
(45º sob tração) paciente não apresenta
curvaturas acentuadas
Os valores de Cobb, obtidos com o uso do sistema
em radiografias de controle no pós-operatório imediato,
corresponderam em média a um ângulo de 47,6º (21º a
110º), perfazendo uma correção média de 32,4º ou de
40,5% em relação à deformidade original e em alguns
casos com uma correção superior, como exemplo do
paciente 16 (Figuras 5 e 6). Cada caso pode ter sua
correção imediata e tardia (primeiro alongamento) Figura 6
avaliado no Gráfico 2. Os valores angulares no pós- Paciente # 16, masculino,
operatório imediato aproximaram-se dos valores das três anos de idade,
radiografias com tração na maioria dos casos, havendo mielomeningocele. A imagem
tendência à diminuição do potencial de correção das demonstra o posicionamento
curvas em fase tardia e no primeiro alongamento com dos dispositivos no perfil
quatro meses.
As complicações incluíram infecção profunda em três
pacientes, sendo que todos
os pacientes foram tratados gráfico 2 - Variação do Cobb no pré-operatório, r-X sob tração, pós-
em regime hospitalar com operatório imeiato e pós-operatório tardio
antibioticoterapia endove-
nosa e desbridamento da ferida
no centro cirúrgico. Em dois
casos não houve resolução do
quadro e ocorreu exposição
do im-plante, que foi retirado
com resolução da infecção,
sendo optado aguardar pa-
ra realizar fusão espinhal
definitiva. O terceiro paci-
ente com infecção também
apresentou exposição do
implante, que foi resolvido
com procedimento de ci-
rurgia plástica de rotação de
retalho miocutâneo. Outra
complicação foi a fratura
de costela no ponto de
inserção da parte proximal
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6. Uso da prótese vertical expansível de titânio para costela (VEPTR) como opção na instrumentação sem fusão para tratamento de escoliose neuromuscular 165
do dispositivo. Ocorreu na primeira semana de pós- de alongamento com acesso limitado ao ponto de distração
operatório com paciente apresentando dor intensa em do implante. As distrações eram realizadas enquanto
região posterior da costela e perda da correção obtida. fosse necessário até o crescimento do tronco do paciente
Houve necessidade de reintervenção com colocação do e maturidade esquelética, quando, então, era realizada a
gancho de costela do dispositivo em arco costal mais fusão espinhal definitiva. Muitos casos evoluíram com
proximal e resistente, havendo boa evolução. Os casos fusão espinhal espontânea devido à desperiostização e,
em que houve remoção do implante correspondem além de ser freqüente a soltura dos ganchos nos pontos
ao paciente # 1 e ao paciente # 2, e as deformidades distais da instrumentação e de infecções10. Outros
retornaram aos valores iniciais, antes das intervenções. estudos demonstraram o elevado índice de complicações
A taxa de complicação observada foi, portanto, de com quebra dos implantes e soltura em 15 casos de 16
23,5%. pacientes operados (93,75%) e que foram acompanhados
por dois anos. A freqüência de infecção atingiu 25% dos
DiSCUSSÃo casos tratados15.
Estudos já demonstraram a aplicação do VEPTR na As desvantagens do VEPTR incluem a baixa capa-
Síndrome de Jarcho-Levin, que envolve escoliose congênita cidade do implante de se moldar em contornos sagitais
e fusão de costelas e que as distrações na concavidade exagerados, contra-indicando o seu uso nesses casos, por
das curvas produziam crescimento de barras ósseas (não impossibilidade técnica. A desperiostização da costela
segmentadas). Logo, sua indicação em deformidades também deve ser evitada, pois isso facilita a fratura da
congênitas é bem fundamentada12-13. costela onde se prendem os ganchos. Nessa série, um caso
O sistema VEPTR também encontrou sua aplicação como sofreu fratura de costela com necessidade de reintervenção
tutor interno no tratamento da escoliose neuromuscular14. na primeira semana de pós-operatório, não prejudicando o
Experiências recentes em pacientes portadores de doenças grau de correção obtido.
neuromusculares foram publicadas, com casuística de Os resultados prévios da aplicação do método foram
seis pacientes, demonstrando que o tratamento com esse satisfatórios, uma vez que se obteve uma correção média
implante provocava melhorias significativas dos valores de 40,5% nas deformidades, superando os valores obtidos
angulares das deformidades e da habilidade de sentar nas radiografias sob tração. Houve também melhora média
desses pacientes14. de 60,6% na obliqüidade pélvica, que resultou numa
Nos 17 pacientes do presente estudo, as correções melhoria da habilidade de sentar de todos os pacientes. As
obtidas no primeiro pós-operatório foram semelhantes correções obtidas nas cirurgias tardias para alongamento
ou superiores aos valores angulares nas radiografias do sistema foram menos significativas, podendo indicar
com tração na maior parte dos casos, ou seja, treze que as curvas estão próximas do limite de correção sem
deles. Todos esses pacientes apresentaram melhora na a intervenção direta na coluna vertebral. Cada caso pode
habilidade de sentar obtendo-se resultados semelhantes ter sua correção imediata e tardia (primeiro alongamento)
à literatura14. Os casos que apresentaram piora nas avaliada no Gráfico 2. Os valores angulares no pós-
deformidades angulares na evolução tardia se explicam operatório imediato superaram, portanto, os valores das
pela remoção das montagens devido quadros de infecção radiografias sob tração na maioria dos casos, havendo
local sem resposta ao tratamento. Casos onde a correção tendência à diminuição do potencial de correção das
obtida não foi semelhante ou superior aos valores de curvas em fases de alongamento, que permaneceram
radiografias com tração podem ser explicados pela curva numa média de Cobb de 54,8º, valor próximo ao obtido
de aprendizado da técnica. Essas variações podem ser na primeira cirurgia.
vistas no Gráfico 2. A taxa global de complicações no presente estudo é
Vantagens observadas nesta técnica, em relação às de 23,5%, incluindo três casos com infecção e um caso
demais formas de insturmentação sem fusão, incluíram com fratura da costela proximal em que se fixava o
o acesso paravertebral sem desperiostização da coluna, dispositivo. Campbell2 apresenta 27 pacientes em uso do
o que, em crianças, por si só, produzia fusão espinhal. A VEPTR com seguimento mínimo de três anos havendo
técnica também é pouco invasiva, leva a sangramento não 1,9% de infecção em média nos seus procedimentos
significativo e permite a realização das distrações por meio cirúrgicos. Entretanto, o referido autor apresentou apenas
de pequeno acesso, apenas sobre uma parte do dispositivo. cinco pacientes sem nenhum tipo de complicação e a mais
Além disso, em nenhum momento há a necessidade de uso comum foi a soltura do gancho fixo à costela proximal.
de órtese ou algum outro tipo de suporte externo. Neste estudo, houve um menor índice de soltura do
A técnica de instrumentação sem fusão de Harrington, implante por fratura de costela, provavelmente devido ao
Marchetti et al. e Moe et al.10-12 envolvia a dissecção fato de o tempo de seguimento ser restrito a oito meses.
subperiostal nas vértebras da extremidade da curva, Os maiores índices de infecção desse estudo podem
com colocação de ganchos. A haste para unir esses dois ser explicados pelo perfil de pacientes, uma vez que os
ganchos era inserida no subcutâneo. O paciente era portadores de mielomeningocele são sabidamente um
mantido em alguma imobilização externa e em intervalos grupo que apresenta maior risco de desenvolver infecções
de quatro ou seis meses era realizado novo procedimento pós-operatórias.
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7. 166 Landim E, Cavali PTM, Santos MAM, Pasqualini W, Boechat RCBM, Andrade SMS
ConCLUSÃo
O VEPTR mostrou-se útil no tratamento provisório das
escolioses neuromusculares e na função de um tutor interno
temporário. Correções significativas foram obtidas com
cirurgia de baixa morbidade e sustentadas por período de oito
meses. Estudos futuros com maior amostragem e maior tempo
de seguimento poderão demonstrar a aplicação do sistema por
tempo prolongado, até a maturidade esquelética.
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