A Capoeira faz parte da cultura do povo brasileiro e que se
perpetua por outros povos ao longo das décadas, e essa herança
transcendental e cultural dá-se pelos elementos utilizados dentro
de um processo de transformação social. Não esquecendo de que
a arte capoeirística é Educação, Inclusão Social, Cultura de Paz,
Arte Marcial, Luta, Liberdade, Cultura, Musicalidade,
Gestualidade e acima de tudo traz valores dos nossos ancestrais
para a História do Brasil e do mundo, contribuindo para o
desenvolvimento pleno do ser, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e contribuindo para a formação de atitudes,
valores e saberes éticos.
1. Gerson Alexandre Soares (Mestre Cuscuz - Associação Arte e Dança)
Minervino Pereira Peixoto (Mestre Espinhela - UNICALEN)
Lidielvis Santiago do Nascimento (CM Pantera Negra - Grupo União Pernambuco de Capoeira)
Verônica de Holanda Santos (Aluna Batizada Paciência - Grupo Pernambuco Arte Cultural)
MANUAL DA CAPOEIRA DE PERNAMBUCO
IMORTAL, IMORTAL!!
2. MANUAL DA CAPOEIRA DE PERNAMBUCO
IMORTAL, IMORTAL!
RECIFE / 2020
Direitos Autorais à UNICALEN
Entidade ligada às Artes Marciais e em Defesa dos Direitos Sociais
Fundada em 10/05/1987 CNPJ nº 02.722.126/0001-03
Maiores infromações: E-mail: espinhela@gmail.com
3.
4. Lidielvis Santiago
CM Pantera Negra é o principal líder
do movimento de Unificação.
FOTOS DA CAPA
Marcondes Luiz Ferreira
Mestre Pirajá é o Iniciador da
Capoeira em Pernambuco em 1969.
5. DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho ao Mestre Velha Guarda, Marcondes Ferreira da Silva “Pirajá”, por ser o
atual pioneiro da Capoeira de Pernambuco desde 1958.
A todos do Bairro de Casa Amarela, berço da Capoeira de Pernambuco; ao Grêmio Recreativo
Cultural Escola de Samba Galeria do Ritmo, fundada em 1962, que sempre apoiou a Capoeira; a
todos que participaram e participam do Grupo Senzala de Capoeira, fundado pelo Mestre Pirajá
em 15/11/1969, e que hoje está ao comando do Mestre Poeta, Jorge, Sérgio, com apoio da
UNICALEN - http://mestrepiraja.blogspot.com/2009/10/o-mestre.html.
Aos pioneiros da capoeira Olindense: Mestres Marcus Vinicius Natal, que iniciou a Capoeira em
Valença-RJ em 1964, implantando em Olinda no ano de 1970 e, transmitindo seus conhecimentos
a seu Discípulo Marcos Coca-Cola; ao Mestre João Ferreira Mulatinho, que foi lembrado aos 7:
28 (sete minutos e vinte e oito segundos) do vídeo: ENTREVISTA DO MESTRE MARCOS COCA
COLA COM SEU MESTRE MARCUS NATAL NO DIA 29 DE MARÇO 2011 EM OLINDA NA
ACADEMIA DO MESTRE COCA COLA. PARA O PROGRAMA GINGA PERNAMBUCO
https://www.youtube.com/watch?v=2Ol7ef9P9hQ; ao Mestre Zumbi Bahia, vindo da Paraíba para
Pernambuco em 1979 - fundador do Boi Castanho - pioneiro da dança afro em Pernambuco,
também era o melhor folclorista da época, colaborando com a renovação na Capoeira; aos
Mestres: Bigode, Galvão, Lázaro, Paulo dos Prazeres, Celso Biriba.
Aos contemporâneos da década de 70: Raimundo Branco, Meia Noite, Meio dia, Espinhela, Teté,
Minervino, Izaque Poeta, Evandro, Pêu, Cuscuz, Criança, Surpresa, Titela, Géu, Curisco, Berilo,
Barrão, Toinho Pipoca e Batista.
Dedicamos também aos capoeiristas que acreditam na Capoeira como ferramenta de inclusão
social, educacional, da cultura de paz e da formação do cidadão brasileiro e, onde a Capoeira
como arte genuinamente brasileira, possa alcançar.
Aos brabos e valentões que nunca desistiram de suas lutas porque acreditaram que dias melhores
viriam, pois sabiam que a Capoeira de Pernambuco é Imortal...
In-Memorian: A todos àqueles capoeiristas que se foram e colaboraram com a Capoeira para que
ela não fosse esquecida: Luis Naval, Caranga, Marrom do Rotary, Cancão, Grandão, Caveira,
Marcos, D. Zefinha, Nel, Azambuja, Tungão. Guilherme, Sapo, Huk, Rogério Ginga, Vado,
Adivanilson Pipoca, Jáu, e muitos outros que foram prestar contas ao Nosso Pai Eterno.
Autor da dedicatória: Minervino Pereira Peixoto - Mestre Espinhela.
6. AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus, por nos dar a saúde e muita força para superar todas as
dificuldades.
A esse grupo de unificação da capoeira e todos os mestres e contramestres, além da direção e
administração desse grupo, que, incansavelmente, nos proporcionou as condições necessárias
para que alcançássemos nossos objetivos.
Aos mestres e contramestres por todo o tempo que se dedicaram a fomentar essa obra inédita
em nosso estado Pernambuco, desse processo para realização aqui do nosso estado.
Muito obrigado a todos que fizeram este trabalho.
Ao nosso mestre por toda dedicação e amor para nos ensinar esta arte.
Enfim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja de forma direta ou indireta,
fica nosso obrigado.
Autor dos agradecimentos: Marcos Aurélio Moreira (Mestre Coca-Cola).
7. “Vamos jogar Capoeira. Brigar não se ensina a ninguém. Quem bate hoje
esquece, amanhã apanha também.”
(Mestre Biriba)
“Ser mestre não é só ganhar, mas sim ter muito pra dar.”
(Mestre Catendê)
“Unidos somos forte, sozinho apenas um ponto de vista.”
(Mestre Marcos Coca-Cola)
“Sina: Antes do nascimento até ser criança eu fui a esperança; da
adolescência ao adulto aprendi muito, fiquei confuso; hoje ensino a todos,
mas não sei de tudo.”
(Mestre Espinhela, 1987)
“Quando canto me arrepio. Quando jogo eu viajo. Quando amanheço
agradeço a Deus pela Capoeira eu poder jogar.”
(Mestre Falcão – ASCAF)
“A Capoeira é os quatro elementos da natureza.”
(Mestre Tatu)
“Quem não conhece a Capoeira, não pode dar o seu valor.”
(Contramestre Binho)
“Pior do que parar um tempo na Capoeira... é permanecer nela parado”.
(Contramestre Capilé)
“Um homem sem cultura não passará adianta as raízes de sua terra.”
(Contramestre Pantera Negra)
8. LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Foto do Mestres Pastinha ................................................................ 22
Figura 2: Foto do Mestre Bimba....................................................................... 22
Figura 3: Foto do Porto do Recife, Armazém 11............................................... 23
Figura 4: Foto dos primeiros cordas vermelhas................................................ 27
Figura 5: Música do Grupo Senzala de Capoeira do Carnaval de 1970........... 28
Figura 6: Carteira do Grupo Senzala de Capoeira............................................ 29
Figura 7: Capoeira & Frevo............................................................................... 32
Figura 8: Mapa do Brasil com destaque para Pernambuco.............................. 35
Figura 9: Sistema de Graduação de Mestre Bimba.......................................... 36
Figura 10: Atual Bandeira de Pernambuco ........................................................ 38
Figura 11: Sistema de Graduação – Todas as Graduações / Adulto ................. 39
Figura 12: Sistema de Graduação – Todas as Graduações / Infantil ................ 39
Figura 13: Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana – Adulto........ 40
Figura 14: Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana – Infantil........ 41
Figura 15: Significado das Cores da Graduação da Unificação – Infantil........... 42
Figura 16: Significado das Cores da Graduação da Unificação – Adulto........... 43
Figura 17: Imagem do movimento - Ginga ......................................................... 51
Figura 18: Imagem do movimento - Aú .............................................................. 52
Figura 19: Imagem do movimento - Cocorinha................................................... 52
Figura 20: Imagem do movimento - Negativa..................................................... 53
Figura 21: Imagem do movimento - Rolê........................................................... 53
Figura 22: Imagem do movimento - Aplicação do Escorão ............................... 53
Figura 23: Imagem do movimento - Joelhada Frontal ....................................... 53
Figura 24: Imagem do movimento - Cotovelada ................................................ 54
Figura 25: Imagem do movimento - Galopante .................................................. 54
Figura 26: Imagem do movimento - Banda de Costas ....................................... 54
Figura 27: Imagem do movimento - Vingativa .................................................... 54
Figura 28: Imagem do movimento - Rasteira ..................................................... 55
Figura 29: Imagem do movimento - Tesoura de Frente ..................................... 55
Figura 30: 1ª Sequência de Bimba..................................................................... 58
Figura 31: 2ª Sequência de Bimba Parte 1a....................................................... 58
Figura 32: 2ª Sequência de Bimba Parte 1b....................................................... 58
Figura 33: 3ª Sequência de Bimba Parte 1a....................................................... 59
Figura 34: 3ª Sequência de Bimba Parte 1b....................................................... 59
Figura 35: 4ª Sequência de Bimba Parte 1a....................................................... 59
Figura 36: 4ª Sequência de Bimba Parte 1b....................................................... 59
9. Figura 37: 5ª Sequência de Bimba Parte 1a....................................................... 60
Figura 38: 5ª Sequência de Bimba Parte 1b....................................................... 60
Figura 39: 6ª Sequência de Bimba..................................................................... 60
Figura 40: 7ª Sequência de Bimba Parte 1a....................................................... 61
Figura 41: 7ª Sequência de Bimba Parte 1b....................................................... 61
Figura 42: 8ª Sequência de Bimba...................................................................... 61
Figura 43: Bananeira........................................................................................... 66
Figura 44: Balão de Lado.................................................................................... 66
Figura 45: Balão de Lado / Continuação............................................................. 67
Figura 46: Voo do Balão de Lado........................................................................ 67
Figura 47: Balão Cinturado................................................................................. 67
Figura 48: Balão Cinturado / Continuação.......................................................... 67
Figura 49: Coletânea Exercícios de Flexibilidade - Parte 1a ............................. 68
Figura 50: Coletânea Exercícios de Flexibilidade - Parte 1b.............................. 68
Figura 51: Coletânea Exercícios de Flexibilidade - Parte 2a.............................. 69
Figura 52: Coletânea Exercícios de Flexibilidade - Parte 2b.............................. 69
Figura 53: Coletânea Exercícios de Força - Parte 1a......................................... 70
Figura 54: Coletânea Exercícios de Força - Parte 1b......................................... 70
Figura 55: Coletânea Exercícios de Força - Parte 2a......................................... 70
Figura 56: Coletânea Exercícios de Força - Parte 2b......................................... 70
Figura 57: Coletânea Exercícios de Força - Parte 3a......................................... 71
Figura 58: Coletânea Exercícios de Força - Parte 3b......................................... 71
Figura 59: Coletânea Exercícios de Agilidade Parte 1a...................................... 72
Figura 60: Coletânea Exercícios de Agilidade Parte 1b...................................... 72
Figura 61: Coletânea Exercícios de Velocidade - Parte 1a................................. 73
Figura 62: Coletânea Exercícios de Velocidade - Parte 1b................................. 73
Figura 63: Coletânea Exercícios de Velocidade - Parte 2a................................. 74
Figura 64: Coletânea Exercícios de Velocidade - Parte 2b................................. 74
Figura 65: Coletânea Exercícios de Equilíbrio - Parte 1a................................... 75
Figura 66: Coletânea Exercícios de Equilíbrio - Parte 1b................................... 75
Figura 67: Coletânea Exercícios de Coordenação - Parte 1a............................. 76
Figura 68: Coletânea Exercícios de Coordenação - Parte 1b............................. 76
Figura 69: Todos os instrumentos musicais juntos............................................. 77
Figura 70: Berimbau............................................................................................ 78
Figura 71: Trio de Berimbau............................................................................... 78
Figura 72: Agogô de ferro................................................................................... 79
Figura 73: Agogô de Castanha do Pará............................................................. 79
Figura 74: Reco-reco ou Macumba..................................................................... 79
Figura 75: Pandeiro............................................................................................. 80
10. Figura 76: Atabaque............................................................................................ 80
Figura 77: Caxixis................................................................................................ 81
Figura 78: Flauta................................................................................................. 81
Figura 79: Violão................................................................................................. 81
Figura 80: Bandolim............................................................................................ 82
Figura 81: Viola................................................................................................... 82
Figura 82: Rabeca............................................................................................... 82
Figura 83: Banjo.................................................................................................. 82
Figura 84: Acordeão............................................................................................ 83
Figura 85: Saxofone............................................................................................ 83
Figura 86: Pífano................................................................................................. 83
Figura 87: Imagens de Partituras dos Toques do Berimbau............................... 86
Figura 88: O Cérebro Dançante.......................................................................... 96
Figura 89: Os Benefícios da Música para a Saúde............................................. 97
Figura 90: As 9 Partes do Cérebro Ativadas com a Música............................... 97
Figura 91: O Cérebro Musical............................................................................. 97
Figura 92: Um Cérebro Musical.......................................................................... 97
Figura 93: Quadro das Múltiplas Inteligências de Gardner................................. 101
Figura 94: Os Negros Lutando na Aquarela de Augustus Earle......................... 106
Figura 95: Óleo sobre tela de Johann Moritz Rugendas..................................... 106
Figura 96: Negros Volteadores........................................................................... 107
Figura 97: Imagem do quadro de Debret - 1824................................................ 107
Figura 98: Joueur d'Uruncungo Debret - 1826................................................... 107
Figura 99 Gravura de Johann Moritz Rugendas Intitulada San-Salvador.......... 108
Figura 100: Imagens de capas de livros infantis da literatura brasileira............... 109
Figura 101: Imagens de capas de livretos de literatura de cordel......................... 110
11. SUMÁRIO
1 Apresentação.......................................................................................................... 13
2 O que é Capoeira, afinal? ...................................................................................... 14
3 História da Capoeira – Possíveis Origens.............................................................. 16
4 O Termo “Capoeira”, de onde vem? ...................................................................... 20
5 Um pouco da História dos Mestres Pastinha e Bimba............................................ 22
6 História da Capoeira Pernambucana...................................................................... 23
7 Mestre Pirajá e o Grupo Senzala............................................................................ 26
8 A Capoeira e o Frevo Pernambucanos................................................................... 32
9 Um pouco sobre Pernambuco................................................................................ 35
10 Histórico do Sistema Ideário de Graduações......................................................... 36
11 Os Gestos e a Gestualidade Corporal dos Movimentos e Golpes da Capoeira…. 50
12 Tipos de Movimentos Corporais da Capoeira........................................................ 51
13 As Sequências de Ensino de Mestre Bimba........................................................... 57
14 Capoeira é Qualidade de Vida e Bem-estar........................................................... 68
15 Os Instrumentos Musicais Presentes na Capoeira................................................. 77
16 Os Toques e o Ritmo.............................................................................................. 84
17 Partituras dos Toques de Berimbau....................................................................... 86
18 Cantigas de Capoeira............................................................................................. 93
19 Tipos de Cantigas................................................................................................... 94
20 A Musicalidade da Capoeira................................................................................... 96
21 Principais Aspectos da Capoeira para a Formação do Ser.................................... 99
22 A Capoeira e as Inteligências Múltiplas de Gardner............................................... 101
23 A Capoeira e a Educação em Pernambuco............................................................ 105
24 Primeiros Vestígios da Capoeira por Meio da Iconografia...................................... 106
25 A Capoeira é Arte!! A Capoeira está em toda parte!! ............................................. 109
Considerações Finais............................................................................................. 111
Referências Bibliográficas...................................................................................... 112
Anexos.................................................................................................................... 119
Biografia dos Autores ............................................................................................ 139
13. 13
MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
1 APRESENTAÇÃO
Prezados capoeiristas e simpatizantes este é um trabalho de pesquisa que vem sendo feito há
anos e somente agora pôde ser concretizado. E para tanto, gostaríamos de lhes apresentar este
“Manual da Capoeira de Pernambuco Imortal, Imortal !!”, cuja finalidade é a de inspirar mais
pessoas a conhecerem o mundo da Capoeira.
A Capoeira faz parte da cultura do povo brasileiro e que se perpetua por outros povos ao longo
das décadas, e essa herança transcendental e cultural dá-se pelos elementos utilizados dentro de
um processo de transformação social. Não esquecendo de que a arte capoeirística é Educação,
Inclusão Social, Cultura de Paz, Arte Marcial, Luta, Liberdade, Cultura, Musicalidade,
Gestualidade e acima de tudo traz valores dos nossos ancestrais para a História do Brasil e do
mundo, contribuindo para o desenvolvimento pleno do ser, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e contribuindo para a formação de atitudes, valores e saberes éticos.
Mesmo tendo em solo pernambucano a Capoeira há décadas, ainda, não tínhamos um trabalho
deste tipo, onde todos pudessem entender um pouco mais dessa arte tão rica.
Nosso trabalho justifica-se como uma pequena contribuição à Capoeira, assim como àqueles
que venham fazer dela sua filosofia de vida e como, também, daqueles que já fazem dela sua
companhia inseparável.
Salientar que este trabalho não deve ser exaustivo e que ela sirva de exemplo para que
outros trabalhos venham a serem realizados em nome da cultura brasileira, em nome do povo
brasileiro e em nome desta arte tão linda, que é a CAPOEIRA.
Autora: Verônica de Holanda Santos
14. 14
MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
2 O QUE É CAPOEIRA, AFINAL?
Várias são as designações do termo Capoeira1, mas vamos dar início a esta parte com os
dizeres do Contramestre Klaus Brito do Grupo Escaleno: “Capoeira é estrada sem volta, onde a
porta do conhecimento se abre pra enriquecer a vida, com um saber sem fim. Onde aprendemos
que pra voar alto tem que colocar a mão no chão, que o som do berimbau não sai só da cabaça
e sim da alma. Nela a gente cai, levanta, aprendemos a seguir sempre em frente mesmo se a
virola quebrar. Sentimos o perigo passando no rosto, olhamos para ele, e com uma esquiva faz
ele passar. Você pode até sair da Capoeira, mas ela nunca vai sair de você. E mesmo no final da
vida, com cabelos brancos e muito saber, você nunca vai entender a Capoeira, mas ela sempre
vai entender você.”
Capoeira Dança e Arte: A arte se faz presente através da música, do ritmo, do canto, do
instrumento, da expressão corporal e das criatividades de movimentos (Floreios).
Capoeira Folclore: É uma expressão popular que faz parte da cultura genuinamente brasileira.
Capoeira Esporte: Como prática desportiva em 14/4/1941, Lei Federal 3.199, foi criado o
Departamento Nacional de Capoeira, junto a Confederação Brasileira de Pugilismo. Em 1953, foi
reconhecida novamente como desporto pela deliberação Nº 071 do Conselho Nacional do
desporto. Novo reconhecimento em 26/12/1972, foi homologada pelo STJD (Superior Tribunal de
Justiça Desportiva). Em fevereiro de 1995, foi reconhecida como Desporto de alto rendimento,
leis que sucederam à Lei Federal 3199: 6251: de 8/10/1975, Lei Zico Nº 3672, de 6/7/1993,
substituída pela Lei Pelé nº 9615 de 24/3/1998 e regulamento estabelecido pelo Decreto Federal
Nº 2774 de 29/4/1998; Lei Federal Nº 9696 de 1/9/1998.
Capoeira Educação: Apresenta-se como um elemento importante para a formação integral do
aluno, desenvolvendo o físico, o caráter, a personalidade e influenciando nas mudanças de
comportamento. Proporciona ainda um autoconhecimento e uma análise crítica das suas
potencialidades e limites. Na educação especial, a Capoeira encontra-se como frutífera e
promovendo a autoestima.
Capoeira é Cultura de Paz e Inclusão Social: “Na dinâmica do projeto de inclusão social, a
prática da Capoeira não se restringe apenas a mais uma atividade física dentro do âmbito escolar
e, sim, ela integraliza e promove a igualdade social, na medida que vislumbra a integração dos
sujeitos proativos numa perspectiva homogênea e amistosa (FILHO; SANTOS, 2018, p.2).”
Capoeira Lazer: Como prática não formal, através das “rodas” espontâneas, realizadas nas
praças, praias, colégios, universidades, festas etc.
1 Escreveremos Capoeira com C maiúsculo quando referir à prática esportiva e com c minúsculo quando for fazer referência
aos praticantes da arte capoeirística e em alguns momentos quando fizer referência ao termo por ele mesmo.
15. 15
MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
Capoeira Luta: Apresenta sua origem e sobrevivência através dos tempos, na sua forma mais
natural, como instrumento de defesa pessoal. Deverá ser ministrada com o objetivo de Capoeira
combate e de defesa. Segundo (BITTENCOURT, 2012, p. 18): “[...] Freyre afirmou que a mesma
surgiu como uma alternativa dos negros para suprir a falta de armas que, além de ser considerada
insígnia, [era] vantagem técnica de luta, chegando a se constituir em um importante recurso para
matar os brancos. Esta seria praticada, sobretudo, no ambiente urbano sendo o capoeirista um
dos reflexos socioculturais da decadência do patriarcado rural.”
Capoeira Arte Marcial: A Capoeira fez-se presente nas duas Guerras Mundiais e em 15 revoltas
em Pernambuco. Corrobora com nossa pesquisa a passagem do artigo de Vaz (2016, p. 79):
“Segundo Álvaro Pereira do Nascimento a Marinha de Guerra, em seus recrutamentos, tinha
dentre os vadios e malfeitores, capoeiras. Conforme consta em Relatório do Ministro da Marinha
(1888, Anexos).” E ainda com o mesmo autor: “Em 1865, o Brasil, junto com a Argentina e o
Uruguai, declarou guerra ao Paraguai. O Exército Brasileiro formou seus batalhões e, dentro
destes, um imenso número de capoeiras. Muitos foram ‘recrutados’ nas prisões; outros foram
agarrados à força nas ruas do Rio e das outras províncias; aos escravos, foi prometida a liberdade
no final do conflito (VAZ, 2016, p. 80).”
Capoeira Filosofia de vida: Muitos são os adeptos que se engajam de corpo e alma, criando
dessa forma uma filosofia de vida, tendo a Capoeira como elemento-símbolo, até mesmo
usando-a para a sua sobrevivência.
Capoeira Religião: É uma forma de Louvar a Deus, segundo os Salmos 149 e 150 da Bíblia
Sagrada, diz: “Louvem a Deus com cânticos e danças”, e é aí que entra a Capoeira. Lembrando
que alguns capoeiristas reverenciam os Orixás do Candomblé e Umbanda em rodas de Capoeira,
por isso qualquer Religião pode aderir à Capoeira e criar suas formas de louvor as suas Divindades
Espirituais. Ressaltar que CAPOEIRA NÃO É RELIGIÃO, quem tem religião são as pessoas que
praticam a Capoeira.
Obs.1: Apesar de termos enumerados algumas concepções de práticas de Capoeira em vários
ambientes, acreditamos que esta deverá ser ensinada globalmente, deixando que o educando
busque a sua identificação em quaisquer dessas formas. Caberá ao professor um papel relevante,
orientando a estimular para que o aluno possa aproveitar ao máximo toda a sua potencialidade.
Obs.2: A mensagem do Contramestre Klaus Brito foi enviada via WhatsApp para o Mestre
Espinhela e reenviada via WhatsApp para Verônica de Holanda Santos em 29/4/2020 às 17:27.
Fonte: Arquivo / UNICALEN
16. 16
MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
3 HISTÓRIA DA CAPOEIRA - POSSÍVEIS ORIGENS
Em relação à origem da Capoeira, ainda é muito controversa e muitas são as hipóteses, existem
entretanto três fortes correntes: a primeira informa que a Capoeira teria sido trazida pelos escravos
vindos da África, a segunda considera a Capoeira uma invenção dos escravos no Brasil e, a
terceira seria uma manifestação dos índios brasileiros.
Segundo (VAZ, 2016, p. 77): “Para a capoeira, apresentam-se três momentos importantes:
finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30 e 40 quando
ocorre sua liberação; década de 70 quando se torna oficialmente um esporte e o reconhecimento
como patrimônio imaterial do povo brasileiro.”
É vasto o universo de quem se aventura a pesquisar a Capoeira. Arte que apresenta registros
iconográficos e documentais desde o século 18. Essa arte tem diversas vertentes ensinadas por
mestres, contramestres, professores e instrutores. Além disso, cobre um amplo território
geográfico que mapeia os cinco continentes, uma vez que as rodas de Capoeira estão difundidas
em mais de 150 países.
Podemos descrever a Capoeira como uma mistura de arte, lutas, jogo e que tem grande riqueza
de musicalidade que sua origem ainda é uma incógnita, pois alguns dizem que veio com os negros
africanos, outros autores afirmam que foi invenção dos negros no Brasil e uma terceira linha diz
que seria um ritual indígena.
Mesmo tendo origens controversas, as origens da Capoeira remetem a basicamente três
hipóteses:
1. A Capoeira nasceu na África Central e foi trazida intacta por africanos escravizados
para o Brasil.
2. A Capoeira é criação de escravos quilombolas no Brasil.
3. A Capoeira é criação dos índios, daí a origem do vocábulo que nomeia o jogo.
Todas as três hipóteses geram controvérsias. Mesmo que estudos recentes tenham
comprovado a existência de danças guerreiras similares à Capoeira, não apenas na África Central,
mas em outros países que fizeram parte da diáspora negra (a ladja da Martinica é uma delas).
Por fim, a patente indígena na criação da Capoeira é uma hipótese de difícil sustentação. Não
há documentação ou mesmo relatos de índios que reivindiquem essa paternidade. O termo
“capoeira” faz parte da língua tupi e significa “mato ralo”, o que remete a uma das explicações
sobre sua origem. Diz respeito ao mito do escravo fugitivo que surpreenderia seus algozes na
capoeira, local da cilada. Além de ter uma lógica de difícil assimilação, a do perseguido que inverte
a situação e submete o perseguidor, as raízes etimológicas também são controversas e apontam
para outra possível origem da arte.
17. 17
MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
Em seu livro clássico, Waldeloir Rego expõe hipóteses de Henrique de Beaurepaire Rohan e
Brasil Gerson tendo como base Capão, do qual Adolfo Coelho tirou o étimo de capoeira para o
português, Beaurepaire Rohan faz o mesmo para o vocábulo capoeira na acepção brasileira,
apresentando em defesa de sua opinião a seguinte explicação: “Como o exercício da Capoeira,
entre dois indivíduos que se batem por mero divertimento, se parece um tanto com a briga de
galos, não duvido que este vocábulo tenha sua origem em Capão, do mesmo modo que damos
em português o nome da capoeira a qualquer espécie de cesto em que se metem galinhas.”
Em (CÂMARA CASCUDO, 1967, p.179-89), em Folclore do Brasil, declara que a Capoeira teria
suas raízes em Angola, onde há um cerimonial de iniciação de nome Efundula, que é realizado
entre os Mucopes do sul do país. Cujo cerimonial é parte da festa da puberdade das meninas que
passam à condição maioritária de mulher e estando aptas para o casamento e à procriação. E é
justamente nesta cerimônia que os rapazes disputam as moças lutando o N’golo, também
denominado de dança da zebra. O vencedor da luta terá o direito de escolher com quem quer se
casar entre as iniciadas.
Vários estudos mostram que a Capoeira não foi documentada em nenhum país do continente
africano, isso fortalece ainda mais a ideia de que a Capoeira teve mesmo sua origem em território
brasileiro sendo uma mistura de danças, lutas, rituais e instrumentos musicais oriundos da África.
O que na verdade só certifica que vindo ou não pronta da África, ela tem suas raízes africanas
bem nítidas.
3.1 Capoeira: de proibida à liberta
Na República de Marechal Deodoro da Fonseca a Capoeira foi proibida no primeiro Código
Penal da República. O Código Lei Nº 487 de 11 de outubro de 1890, refere-se claramente em
vários dos seus Artigos, aos capoeiras. O Capítulo XIII, se intitula: “dos vadios de Capoeira”. Seu
artigo Nº 402, assim começa: “Fazer nas ruas e Praças públicas exercício de agilidade e destreza
corporal conhecida pela denominação de alguma banda ou Malta.” O artigo Nº 404 é mais severo:
“Se esse exercício de capoeiragem perpetra homicídio, praticar lesão corporal, perturbar a
ordem, a tranquilidade ou a segurança pública ou for encontrado com arma, incorrerá
cumulativamente nas penas caminhadas para tais crime.”
Muito tempo se passou, até que o presidente Getúlio Vargas deu uma grande investida por volta
da década de trinta, onde buscava apoio popular e, com isso implanta ideais “Nacionalistas”2
2
Defende um Estado autoritário e nacionalista que promova a "regeneração nacional", com base no lema "Deus, Pátria e
Família”. As ideias fascistas chegam ao Brasil nos anos 20, propagam-se a partir do sul do país e dão origem a pequenos
núcleos de militantes. Logo, o movimento é apoiado por setores direitistas das classes médias, dos latifundiários e dos
industriais.
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e a “retórica do corpo3”, com isso libera uma série de manifestações populares bastante praticadas
por boa parte da população como o Candomblé e a Capoeira. E foi também nessa mesma época
que estava sendo criada por Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, a Luta Regional Baiana
(hoje conhecida como Capoeira Regional e que foi inspirada na Capoeira praticada
tradicionalmente, hoje a Capoeira Angola, e em uma luta chamada Batuque) que conquistava
cada dia mais adeptos e, “aos olhos” de Vargas se encaixava perfeitamente em seus ideais.
Assim libera-se a Capoeira e o candomblé, mas somente em recinto fechado o que faz surgir a
primeira academia de Capoeira, o Centro de Cultura Física, fundada por Mestre Bimba onde viria
a iniciar da graduação na Capoeira para tentar equiparar a Capoeira às outras lutas e para
transformá-la em esporte, também dando uma postura menos maliciosa, utilizando uniforme e
assim conquistando uma classe média para o novo “esporte nacional”.
É quando no ano de 1937 promulga o novo código penal por meio do Decreto-lei nº 3688, que
dá à Capoeira uma vivência livre e sem repressões populares e/ou militares. Com a saída da
ilegalidade e o respeito conquistado fez com que a Capoeira tivesse uma liberdade nas ruas e
tomasse espaço dentro das academias e em muitas instituições de ensino.
A Capoeira vem ganhando a cada dia uma maior visibilidade tanto dentro quanto fora do
território brasileiro. É sabido que em novembro de 2014, a “Roda de Capoeira” foi reconhecida
como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
3.2 A Capoeira e os Maltas
Os já libertos, entre um serviço e outro se reuniam nas esquinas e jogavam Capoeira para se
distraírem e ocuparem o tempo, aproveitando para reclamar de sua condição social através das
músicas. Muitos desses grupos de ex-escravos se reuniram em bandos organizados que furtavam,
roubavam e matavam, chamados de Maltas.
Como os escravos foram libertados pelo Império, esses grupos se achavam em dívida com o
imperador e trataram de defender a Monarquia contra a República, influenciados, é claro, por
políticos. Esse período entre o fim do Império e o início da República marca a idade de ouro da
Capoeira. Os grupos faziam arruaças em comícios republicanos, fraudavam eleições e
provocavam badernas, no Rio como também em Recife e Salvador, levando o pânico à população.
3
A ‘retórica do corpo’ de Vargas consistia no seguinte: ele imaginava que para ter uma sociedade organizada, que funcionasse
como uma máquina, era necessário que as pessoas (e os corpos destas pessoas) fossem educadas para isto desde pequenas.
Pensando assim, ele criou a obrigatoriedade do ensino da Educação Física nas escolas, e imaginou que a capoeira poderia ser
um apoio popular. Mas não uma capoeira nos moldes tradicionais de malandragem /ritual/brincadeira/arte e sim como
esporte/luta ‘sério’, com método de ensino semelhante à hierarquia do exército e uma mentalidade de acordo com os objetivos
da ‘nova’ sociedade: competição, objetividade, técnica e burocracia. Estas características são, justamente, as que vão crescer
e fazer sucesso durante toda a ‘era das academias’, deixando em segundo plano as características originais da capoeira –
vadiação, ritual, malandragem” (CAPOEIRA, 51, 1998).
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3.3 Maraná a Dança da Guerra
As cartas do escrivão Francis Patris, que acompanhava o cortejo do príncipe Mauricio de
Nassau durante a invasão Holandesa, descrevem entre muitos obstáculos para a ocupação do
território brasileiro a resistência dos habitantes do Brasil.
Negros comandados por Henrique Dias, portugueses por Vidal de Negreiros, Índios Potiguares
comandados por Felipe Camarão, o “Índio Poti”. Esses índios usavam durante o confronto, além
de flechas borduna4, lanças e tacapes, os pés e as mãos desferindo golpes mortais, destacando-
se por sua valentia e ferocidade.
Pertencia a cultura potiguara a dança da guerra Maraná, que avaliava o nível de valentia. Em
círculos, os guerreiros com perneiras de conchas compunham um compasso ao bater com os pés
e as mãos, invocando seus antepassados, acompanhado de atabaques de troncos com pele de
Anta, chocalhos e marimbas, em quanto que dois guerreiros se confrontavam ao centro com
golpes de pernas, cotoveladas e movimentos que imitavam os animais.
3.4 N’Golo ou Dança da Zebra
A Dança da zebra ou N’Golo de origem do povo “Mucope” do sul da Angola, que ocorria durante
a “Efundula” (festa da puberdade), onde os adolescentes formam uma roda; com uma dupla ao
centro desferindo coices e cabeçadas um no outro, até que um era derrubado no solo, essa luta
é oriunda das observações dos negros, dos machos das zebras nas disputas das fêmeas, no
período do cio, onde os machos lutam com mordidas, cabeçadas e coices. Com a “revolta dos
Malês”, na Bahia, formada pelos Negros Malês em 25 de fevereiro de 1835 que foi reprimida pelos
Portugueses, que castigaram mutilando os líderes, e enviou um navio para África e outro dos
rebeldes para a América Central. Em Cuba e Martinica os males fundiram com a dos navios e
negros dos canaviais dando origem ao “Mani”, em cuba e “Ladva”, em Martinica. O N’Golo levado
pelos angolanos para Palmares fundiu-se com a Maraná surgindo a Capoeira.
Cartas do Jesuíta Antônio Gonçalves para os superiores de Lisboa, em 1735, descreve um luta
que os índios praticavam antes de qualquer conflito, em forma de roda dois a dois usando os
braços, pernas, cotoveladas, joelhadas, e usando todo corpo como armas (convento de Santo
Inácio de Loyola, anais das missões no Brasil. Tomo III pág. 128).
O escrito Holandês Gaspar Barleus descreve no livro “Rerum Per Octenium in Brasília-1647, a
luta dos índios tupis praticada no litoral brasileiro” chamado de maraná, luta de guerra, só existem
dois exemplares, um no EUA e outro no Brasil.
Fonte: Arquivo / UNICALEN
4
Flecha borduna: cacete cilíndrico longo usado pelos indígenas como arma de ataque, defesa ou caça.
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4 O TERMO “CAPOEIRA”, DE ONDE VEM?
Semanticamente falando, o vocábulo comporta várias acepções, conforme consta do dicionário
de Aurélio Buarque e Holanda Ferreira: Capoeira1, s.f. – Gaiola grande ou casinhola onde se
criam e alojam capões e outras aves domésticas; Capoeira2 , s.f. – Terreno em que o mato foi
roçado ou queimado para cultivo da terra ou para outro fim. Jogo atlético constituído por um
sistema de ataque e defesa (...). Capoeiragem, s.f. – Sistema de luta dos capoeiras. Capoeirada,
s.f. - Conjunto de capoeiristas. Capoeirano, s.f. – Morador de terras de capoeira.”
São várias as explicações para o termo “Capoeira”. No entanto, é de aceitação geral a hipótese
do jogo de agilidade corporal ter sido o instrumento utilizado pelos escravos fugitivos da defesa
contra seus perseguidores, representados pela figura do capitão-do-mato. E era no mato que
travava a luta decisiva. No entanto, outras acepções do termo existem e para tanto, iremos nos
apoiar nas informações trazidas por Campos (2001, p.21): “o vocábulo capoeira tem sido tratado
por vários estudiosos. Em 1712, ele foi registrado pela primeira vez por Raphael Bluteau em seu
Vocabulário Português e Latino, seguido por Antonio Moraes Silva no Dicionário da Língua
Portuguesa de 1813.”
A outra proposição de que se tem notícia é a de José de Alencar, em 1865, primeira edição de
Iracema. Propôs Alencar, para o vocábulo Capoeira, o tupi Caa-Apuam-era, traduzido por tupi
Co-puera, significado “roça velha”. Para Macedo Soares o vocábulo vem simplesmente do guarani
Caápuêra, “mato que foi”, atualmente, “mato miúdo que nasceu no lugar do mato virgem que se
derrubou”. J. Barbosa Rodrigues, no século passado, propôs no seu livro Paranduba Amazonense
a forma Caapoêra. Já para Visconde de Porto Seguro, o termo certo é Capoêra.
Atualmente, são quase unânimes os tupinólogos em aceitarem o étimo Caá, “mato, floresta
virgem”, mais Puêra, pretérito nominal que quer dizer “o que foi, e o que não existe mais.”
Waldeloir do Rego realizou o primeiro ensaio sócio etnográfico sobre a Capoeira no ano de
1968, fazendo uma análise etimológica sobre a expressão “Capoeira” e aponta três versões, a
citar: a origem africana, a brasileira e a indígena. Desse modo, verificamos o caráter polissêmico
do termo “Capoeira”.
É na versão dada à origem indígena, ou seja, no significado dado ao signo linguístico "capuera"
que temos o significado de: "[...] significa mato virgem que já não é, que foi botado abaixo e em
seu Iugar nasceu mato fino e raso. Neste local os escravos se escondiam para a emboscada
(WALDELOIR, 1968).”
Já no significado seguinte temos a seguinte passagem: "[...] espécie de cesto onde se metem
as galinhas. Os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto
não abria, divertiam-se jogando Capoeira. Por uma metonímia, o nome da coisa passou para o
nome da pessoa com ela relacionada” (WALDELOIR, 1968). De acordo com a explicação de
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Waldeloir no que concerne à origem africana, temos a seguinte passagem de Barão, (1999, p. 48):
“[...] Esta colocação apresenta o cenário onde o jogo da Capoeira possivelmente desenvolveu-se.
O sentido da origem da Capoeira enquadrando-se numa situação de escravidão urbana e
relacionada as atividades dos escravos de ganho.”
Ainda relacionada à essa acepção (BARÃO, 1999), a autora informa que Bretas realizou um
estudo em relação às profissões de presos por estarem jogando Capoeira no final do século
passado e, de acordo com os processos policiais da Casa de Detenção do Rio de Janeiro. O
estudo aponta que os índices, em primeiro Iugar, é dos presos identificados como "trabalhadores",
que é todo aquele de forma genérica, e em segundo lugar estão os "vendedores de folhas".
Referindo-se àqueles que levavam as cestas, denominadas 'capoeiras'. Sendo assim, entende-se
que os personagens denominados 'capoeiras' eram trabalhadores, escravos de ganho, que no
período de não-trabalho jogavam Capoeira.
Em outra acepção do termo temos a versão que seria uma possível ‘imitação da natureza’,
como escreveu Waldeloir (1968): “[...] uma espécie de perdiz pequena. Outro argumento para o
vocábulo é a existência, no Brasil, de uma ave chamada capoeira (Odontophores Capueira-
Spix), anda sempre em bandos e no chão, o macho da capoeira é muito ciumento e por isso trava
lutas tremendas com o rival que ousa entrar em seus domínios. Partindo dessa premissa, os
passos de destreza desta luta, as negaças, foram comparadas com os homens que na luta
simulada para divertimento lançavam mão apenas da agilidade.”
Inúmeras pesquisas tentam buscar a origem da Capoeira, posto que, por mais que se debata
a respeito, não é tarefa simples ou fácil, mesmo que alguns pesquisadores afirmem ser, a
Capoeira, do período escravocrata brasileiro, sendo uma via da origem, mas não a única.
Segundo Barão (1999, p. 11): “Pesquisar a Capoeira é sempre um empreendimento ambicioso,
pois esta é uma prática polissêmica, que traz diversas possibilidades de interpretações,
considerada, ao mesmo tempo, como luta, arte, esporte, religião, entre outras definições.” A autora
ainda desperta para a seguinte definição sobre a Capoeira: “A origem da Capoeira como 'luta de
libertação' aponta para o seguinte aspecto: a força daqueles que estão em situação de opressão,
abaixo e a margem da estrutura. Podemos perceber essa característica, desde a origem desta
prática entre africanos trazidos como escravos ao Brasil, assim como, grande parte dos seus
praticantes contemporâneos, os "sobreviventes da periferia", que vivem numa situação de
opressão (BARÃO, 1999, p. 31).
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5 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS MESTRES PASTINHA E BIMBA
5.1 Mestre Pastinha – Defensor da Capoeira Primitiva “Angola”
Foto 1: Mestre Pastinha
Fonte: http://velhosmestres.com.br
Mestre Pastinha interessado em cultivar a Capoeira,
extinguiu a violência, introduzindo esta Capoeira
Angola, com lealdade aos companheiros de jogo,
obediência às regras e aos fundamentos, colocando
toda beleza e brilho no jogo que se pratica atualmente,
onde se usa o expressionismo corporal espiritualizando
e materializando no eu de cada qual, ela tem arte, ela
faz parte para coletividade de todos Esportes.
Foi legítimo representante da Capoeira primitiva no
Brasil e no Mundo. Faleceu aos 92 anos, 7 meses e 8
dias, no dia 13 de Novembro de 1981.
5.2 Mestre Bimba – Criador da “Capoeira Regional baiana”
Figura 2: Foto de Mestre Bimba / 1966
Fonte: http://portalcapoeira.com
Criada a Regional, Bimba deu sua maior
contribuição à Capoeira: criou um método
de ensino para essa, coisa que até então
não existia: “o capoeirista aprendia de
oitiva” dizia o mestre. O que caracterizava
a Capoeira regional era sua “sequência de
ensino” esta sequência e uma série de
exercícios físicos completos e organizados
em um número de lições básicas e
eficientes.
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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6 HISTÓRIA DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA
O início da história da Capoeira em Recife pode-se dizer que estava mais para sangrenta que
para arte ou jogo. De acordo com Marques (2012), os crimes com os quais a Capoeira estava
correlacionada eram quase sempre lesões corporais leves, graves, portes de armas, “distúrbios”,
“arruaças”, “vagabundagens” e homicídios. A utilização de facas pelos capoeiristas e outros
criminosos no Recife fez com que os jornais noticiassem verdadeiros duelos à base da bicuda e
do cacete. Em 1904, o Correio do Recife, por exemplo, citava que diversos “moleques” jogavam
Capoeira armados de facas de ponta e cacete na Campina do Bodé, bairro de São José
(MARQUES, 2012, p. 35).
Figura 3: Foto do Porto do Recife / Armazém 11
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco
Infelizmente por vezes, o termo Capoeira era dado como qualidade pejorativa aos indivíduos
qualificados como capoeiras na metade do século XIX. E ainda com Marques: “[...] As teias de
capoeiragem tecidas entre os capoeiras e as forças armadas podem ser vistas em Recife,
sobretudo, quando os diversos batalhões no Recife saíam ou regressavam de seus exercícios,
marchas e desfiles (MARQUES, 2012, p.47).”
6.1 Quilombo dos Palmares
A maior resistência socioeconômica e política da história do Brasil, quase cem anos lutando
pelo direito à vida e à liberdade, na Serra da Barriga, hoje estado da Alagoas. Em 1650, um grupo
de escravos se rebelou no engenho de Pianco, capitania de Pernambuco, liderada pelo Príncipe
Negro Angolano “Zumba” que os conduziu para o Alto da Serra da Barriga, onde ficava a aldeia
de nação Potiguar “Palmares”, liderada pelo cacique Canindé e a Xamã Akutirene. A velha
feiticeira previu que um certo dia surgiria de grande rio um grande Rei que imortalizaria Palmares.
Com sua grande liderança foi eleito Rei “Ganga” de Palmares. Dentro de poucos anos a população
negra passou de 70%, a dos principais quilombos, que ao todo foram oito (Amaro, Akutirene
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Macaco, Aqualtene, Danbraga, Subupira, Adalaquituxe), 25% de Índios e 5% de Portugueses
Brancos foragidos (Mestiços, portugueses, Franceses e Espanhóis).
Toda essa miscigenação racial criou uma cultura étnica, religiosa, dialeto, Capoeira, culinária,
relações culturais onde a terra era patrimônio de todos e as decisões de Ganga eram decididas
pelo concílio dos anciões Zama, que representava os patriarcas de cada família.
Palmares foi a maior república socialista de América, formava um arco-íris racial do povo
Brasileiro (Negros, Mamelucos, Índios, Cafuzos, Sararás, Mulatos e Brancos etc.) nessa
sociedade surgiu a Capoeira com a fusão das culturas negras, indígenas e brancas. O negro
contribuiu com o N’Golo, a ginga, mandinga, com seus instrumentais, pandeiro quadrado,
atabaque Islâmico, agogô e mais tarde o berimbau (urocongo). Os Índios com as marimbas,
xererê, atabaque de tronco oco e pele de anta, com movimentos que imitavam os animais.
Ouviu-se falar de Capoeira pela primeira vez durante as invasões holandesas, em 1624, quando
os índios, e Negros escravos, (as duas primeiras vítimas da colonização). Aproveitando-se da
confusão gerada, fugiram para as matas, aumentando o contingente dos Quilombos dos
Palmares. Salientamos que o primeiro Quilombo registrado foi em Pernambuco (Cumbi) no ano
de 1558.
Em 1678 foi registrado a chegada de Ganga Zumba, Rei dos Palmares ao Recife onde foi
recebido pelo então Governador Souza de Castro. Por várias vezes Ganga-Zumba com seus
guerreiros maus vestidos chegaram a Recife, convidado pelo Governo de Pernambuco a respeito
de muitos escravos fugirem para os Quilombos e deixando grandes prejuízos para os fazendeiros,
que precisavam da monocultura escrava. Do acordo firmado entre Zumba e o Governo
Constituinte, nada foi cumprido por parte do poder Constituído. Também durante uma dessas
visitas Ganga-Zumba foi envenenado pelos seus próprios colaboradores manipulados pelo
Governo Pernambucano.
6.2 Zumbi
Assumindo o comando o guerreiro Zumbi quando criança havia sido raptado por Bandeirantes
ou Caçadores de Escravos e criado por um Padre em Recife, que aos 15 anos já era coroinha e,
aos 25 anos fugiu para os Quilombos dos Palmares ficando no lugar de Ganga-Zumba, mas foi
morto no dia 20 de Novembro de 1695 pelo perverso Domingos Jorge Velho. A sua cabeça foi
colocada em sal e enfiada em um poste na frente da Igreja do Carmo para mostrar a seus
seguidores que seu defensor havia sido vencido. Hoje existe o monumento do mesmo, e a data
de sua morte é comemorada o dia da Consciência Negra. Segundo a lenda, Zumbi era um nato
lutador de Capoeira. O Reinado de Zumbi Durou 14 anos.
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6.3 Quilombos em Pernambuco
No Brasil, ainda existem comunidades negras rurais remanescentes dos quilombos, frutos de
um processo social que nunca foi estático e que enfrenta até hoje inúmeros desafios no que se
refere à cidadania e identidade cultural. Gomes (2015) organizou em um quadro por ordem
alfabética as comunidades quilombolas reconhecidas e certificadas no Brasil considerando os
estados da federação no qual estão identificadas 174 comunidades em Pernambuco conforme se
observa no quadro a seguir:
Pernambuco:
Município X Quantidade de comunidades quilombolas:
Afogados da Ingazeira: 4; Afrânio: 1; Agrestina: 3; Águas Belas: 3; Alagoinha: 2; Arcoverde: 11;
Betânia: 6; Bezerros: 2; Bom Conselho: 6; Brejão: 2; Buíque: 2; Cabo de Santo Agostinho: 2;
Cabrobó: 5; Capoeiras: 5; Carnaíba: 4; Carnaubeira da Penha: 3; Casinhas: 1; Catende: 1; Cupira:
1;/ Custódia: 18; Floresta: 2; Garanhuns: 8; Goiana: 1; Iati: 1; Ibimirim: 1; Iguaraci: 1; Inajá: 1;
Ingazeira: 2; Itacuruba: 3; Lago dos Gatos: 2; Lagoa do Carro: 1; Lagoa Grande: 1; Mirandiba: 13;
Olinda: 1; Orocó: 5; Panelas: 2; Passira: 3; Pesqueira: 1; Petrolândia: 1; Petrolina: 2; Quixaba: 1;
Recife: 1; Rio Formoso: 1; Salgadinho: 2; Salgueiro: 5; Saldá: 1; Santa Maria da Boa Vista: 3; São
bento do Una: 9; São José do Egito: 1; Sertânia: 8; Terra Nova: 2; Triunfo: 5 e Vicência: 1.
Fonte: VERARDI, Cláudia Albuquerque. Quilombo do Catucá: Malunguinho e a resistência escrava em
Pernambuco. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:
<http://basilio.fundaj.gov.br//>. Acesso em: 29 de março de 2020.
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7 MESTRE PIRAJÁ E O GRUPO SENZALA
7.1 Marcondes Luiz Ferreira (Conde Pirajá)
Marcondes Luiz Ferreira (Conde Pirajá) o Pioneiro da Capoeira em Pernambuco desde a
década de 50. Iniciou na capoeiragem em 1958 com um senhor chamado Luiz Naval, no Visgueiro
hoje chamado Vasco da Gama. Nessa capoeiragem não havia berimbau e, a luta era praticada
com tambor de madeira e couro de boi e palmas incentivando a dupla de contendores enfrentarem-
se, em forma de gingas, que eram passos laterais, bem como passos frontais em formas de
tombos como se estivesse embriagado; para frente aplicando ataque, e para traz em fuga.
No início de 1966, Mestre Pirajá ingressou no Corpo de Fuzileiros Naval, servindo em Salvador,
onde teve a oportunidade de conhecer o espaço físico do Senhor Manoel dos Reis Machados,
renomado Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional Baiana, como também grandes
capoeiristas da época, dentre eles o Mestre Caiçara, Valdemar da Paixão, Vermelho, Di-Mola,
Fernandinho, Nego Teles, Manoel e outros.
No mesmo ano foi transferido para o Rio de Janeiro, onde conheceu e, conviveu com outros
capoeiristas, que estavam começando a se organizar criando vários grupos, tendo permanecido
com Mestre Travassos e Mestre Veludo, participando da criação do Grupo Pequeno Mestre no
Bairro do Barreto em Niterói.
7.2 Grupo Senzala
Em 1969, por ocasião de ter vindo de férias a sua Terra Natal, Recife-Pernambuco, procurou
saber se no estado havia capoeirista ou grupos. Em todo estado de Pernambuco só encontrou
Capoeira em Prazeres com um Jovem chamado Paulo Guiné e, em Olinda com outro chamado
Marco Coca-Cola.
Neste mesmo ano fundou o Grupo Senzala de Capoeira, no qual fundiu a capoeiragem que
aprendeu quando jovem em Pernambuco. Colocou golpes e mandinga da Angola e golpes com
as cinturas desprezadas e gravatas da Capoeira Regional Baiana, inclusive, colocou o berimbau
que era usado pelos capoeiristas baianos
Denominando a sua criação de “Anglo-Regional” ou Capoeira Pernambucana, passando a
ensinar esta fusão a 16 colegas de infância com a maior aderência por parte da comunidade.
Até hoje é jogado esse estilo em todo o mundo, sem rótulo e sem lembrar seu criador.
Em fins de 1972, retornou definitivamente para Pernambuco, passando a ensinar a crianças,
adolescentes e adultos dos Morros e Altos de Casa Amarela. Transformando a Capoeira como
forma de lazer e terapia ocupacional para melhorar a formação de nossa sociedade com a prática
da “Capoeira Pernambucana”.
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No Carnaval de 1973 saiu com uma ala de berimbau e capoeiristas jogando a Anglo-Regional
na Escola Gigante do Samba.
Na época iniciaram dezenas de alunos participando de aulas teóricas, práticas, cursos, exames,
e apresentações de Capoeira em todo Estado, divulgando a Capoeira Pernambucana.
Já Em 1981, existiam 7 (sete) Academias de Capoeira em todo Estado de Pernambuco, “Grupo
Senzala de Capoeira” no Morro da Conceição, Instrutor Pirajá; “Studio de Arte Física” em Boa
viagem, Instrutores: Mulatinho e Bigode; “Viva a Bahia” Bairro do Prado, Instrutor: Galvão; “Grupo
Cajueiro Seco de Capoeira” em Prazeres, Instrutor: Paulo de Prazeres ou Paulo Guiné; “Grupo
Marco Coca-Cola de Capoeira” em casa Caiada – Olinda; “Grupo Lázaro Africano de Capoeira”
no Amaro Branco – e Boi Castanho em Casa Forte, Instrutor Zumbi Bahia.
Figura 4: Foto dos primeiros cordas vermelhas
Fonte: Arquivo / UNICALEN
A foto acima é uma verdadeira relíquia da Capoeira pernambucana, pois foi tirada em 1987. É
a foto dos primeiros cordas vermelhas formados pelo Grupo Senzala de Capoeira.
Nesta época na rua Gervásio Pires, foi criado um Centro para os do Recife com os instrutores:
Zumbi Bahia e Mulatinho. Neste mesmo ano, mês de Agosto, havia entrado em contato com o
Instrutor Zulu de Brasília - DF. Reuniu-se com os líderes dos grupos acima citados no objetivo de
modificar as cordas que eram nas cores da Bandeira Brasileira, passando a ser conforme as cores
dos Orixás da Umbanda com irradiação nas cores: Azul= Iemanjá; Marrom= Xangô, Verde=
Oxóssi; Amarelo= Oxum; Roxo= Iansã; Vermelho= Ogum; Branco= Oxalá. Onde os instrutores
dos grupos acima, passaram a usar cordas vermelhas, e os mais graduados passaram usar corda
marrom, foi aí que houve evasão de graduados que não aderiram ao novo sistema de graduação
até hoje.
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Figura 5: Música do Grupo Senzala de Capoeira do Carnaval de 1970.
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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Figura 6: Carteira do Grupo Senzala de Capoeira
Fonte: Kohl, 2012, p. 221.
No ano de 1986, data que na época já existia Mestres Cordas Vermelhas formados em outros
estados do Brasil, o Mestre Conde Pirajá, foi novamente o pioneiro a convocar uma bancada de
Mestres corda vermelha, são eles: João Mulatinho do Bairro de Boa Viagem; de Santo Amaro,
Zumbi Bahia; Paulo Guiné de Prazeres; Galvão, bairro do Prado; Marcos Coca-cola de Olinda.
Todos com seus auxiliares para examinar os graduados Cancão e Espinhela. Dessa primeira
turma, em 10 de Maio de 1987, na sede da Escola de Samba Galeria do Ritmo, através de exames
e planos de aulas, só cinco (05) conseguiram chegar à corda vermelha, que era a maior graduação
na época, recebendo o Título de “Instrutor”: Cancão, Espinhela, Duvalle, Barrão, Todo-duro, que
hoje divulga a existência da Capoeira Pernambucana em vários estados do Brasil e dezenas de
países.
O Mestre Conde Pirajá é o Primeiro Membro fundador e Presidente do Conselho Superior de
Mestres da UNICALEN; Primeiro Presidente e Mentor da Associação dos Capoeiras Pernambuco
(ASSOCAPE) com sede na Casa da Cultura.
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
7.3 Mestre Pirajá em Literatura de Cordel
MESTRE PIRAJÁ O MITO
(Cordel escrito em Janeiro de 1982)
Amigo preste atenção
No que vou lhe falar,
Vai lhe servi de lição
Peço para me escutar
Se você me escutar
Vai sair ganhando
É só você esperar
E comigo ir contando.
Vou falar de um assunto
Que vai chamar atenção
Que é muito badalado
No Morro da Conceição.
É da nossa capoeira
Que agora vou lembrar
Pode parecer besteira
Mesmo assim eu vou contar.
No quilombo dos Palmares
Escondidos Negros dançou
E dela também fez luta
E contra o Branco usou.
Até que um dia o branco
Por lei fez o negro irmão
E estudou a capoeira
Jogo da libertação
Para jogar a capoeira
Um mestre tem que ensinar
Capoeira não besteira
Nem coisa de se brincar.
Vou falar de um grande Mestre
O seu nome digo já
Conhecido lá no morro
Como Conde Pirajá.
Ensinou foi muita gente
Em quase todo o Brasil
É bastante experiente
Bom, amigo e gentil.
Capoeira de Angola
Também a regional
Se aprende com um Mestre
O jogo é sensacional.
Agora vou lhe falar
Dos alunos do mestre
Eles são bons de jogar
São uns cabras bons da peste.
Tem cuscuz, tem espinhela
Tem Luiz touro e Pêu também
Caboclo, Morcego e Pácua
Outros alunos ele tem.
Trouxe sua capoeira
Da África para o Brasil
O branco fazendo asneiras
Por medo a proibiu.
Mas o negro por ser forte
Praticou as escondidas
Enfrentando até a morte
Do branco as investidas.
Capoeira minha gente
Não tem discriminação
É jogo bem praticado
No morro da conceição.
No morro da conceição
Bairro de Casa Amarela
Mora o mestre Pirajá
Cuscuz, Luiz, Pêu e Espinhela.
Quem gosta de capoeira
E deseja praticar
Só basta subir no morro
Procurar o Pirajá.
O Cuscuz é destemido
Modesto e com razão
Aprendeu a capoeira
No Morro da Conceição
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
Capoeira meu amigo
Vou ti dizer como é,
Tanto joga homem
Como menino e mulher.
A Capoeira que há anos
Ficou muito reduzida
Proibida pelos brancos
Não pode ser reconhecida.
Sugiram seus seguidores
Por todo nosso Brasil
Mas também em Pernambuco
Foi que a arte expandiu
Capoeira meu amigo
É arte dança e vibração
É considerada um jogo
Jogo de libertação.
Aos outros que eu não falei
Peço agora meu perdão
Se estiver aqui presente
Por favor levante a mão.
Vou deixar o meu aviso
Por favor esqueça não
Capoeira meu amigo
É jogo de libertação.
No nosso Brasil colônia
Como diz Lá na história
Foi bastante praticada
Guarde isso na memória.
Veio o negro como escravo
Trabalhar no meu Brasil
Tirado de sua terra
Pela ponta do fuzil.
Mestre Pêu é pescador
Joga boa capoeira
Faz parte da UNICALEN
É amigo a vida inteira.
Agora vou lhe falar
O meu nome é Espinhela
Desde novo sou valente
Não gosto de fazer trela.
Agradeço ao leitor
Em nome do Pai do Céu
Peço um pequeno favor
Que divulgue este cordel.
OBS: Este cordel foi inscrito no mês de Janeiro de 1982, por Admilson Barros e Casimiro Junior,
com apoio do Grupo Senzala de Capoeira, e associação dos Moradores do Morro da Conceição,
Centro de Comunicação do Córrego José Grande, Adaptado por Mestre Espinhela em 1987.
UNICALEN – Pernambuco imortal, imortal!
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8 A CAPOEIRA E O FREVO PERNAMBUCANOS
Figura 7: Capoeira & Frevo
Fonte: http://terreitodegriots.blogspot.com / Acesso em 10/03/2018
8.1 O frevo e a Capoeira: origens
O frevo nasceu entre o final do século XIX e início do século XX, em Recife e Olinda
(Pernambuco), época em que a Capoeira foi proibida na região, vista como uma prática marginal,
como mostra o recorte de uma publicação da época do Diário de Pernambuco (edição de 15 de
dezembro de 1864), em que se transcreve um ofício do coronel comandante das armas: "Pelo
reprovado costume adotado pelos escravos nesta cidade, de acompanharem as músicas militares,
dando a uma ou a outra vivas e morras, apareceram desagradáveis conflitos e isto há muito.
Ontem, o partidista de uma dessas músicas - Melquíades - preto, escravo, deu, no meio dos gritos
de um e outro lado, uma facada no pardo, também escravo Elias, dizendo-se ser o ofensor
partidista de uma das músicas e ofensor de outra."
De origem afro-brasileira, como não poderia deixar de ser, essa riquíssima manifestação surgiu
do encontro da música com a dança nas comemorações carnavalescas. Era antes um ritmo
musical, fusão entre maxixes, dobrados e as clássicas marchinhas. Era quente, botava o povo
para ferver, "frever": "efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande
massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval" (recorte do livro
"Vocabulário Pernambucano", de Pereira da Costa)
Pedro Abib, em seu texto "Festa, Capoeira, Frevo e Samba" diz que: "O frevo, que ao que tudo
indica, surgiu a partir dos blocos carnavalescos do Recife e Olinda, no início do século XX, onde
a rivalidade entre essas agremiações, fazia com que houvesse o enfrentamento entre elas,
quando os caminhos se cruzavam durante a festa. Por isso, a necessidade de haver valentões
dispostos a esses enfrentamentos – geralmente capoeiristas, que iam à frente desses cordões e,
ao som das orquestras de metais e percussão, evoluíam com seus passos ágeis e coreografias
bem desenhadas, dando origem à essa dança tão popular no carnaval de Recife e Olinda."
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8.2 Nascimento do Passo: Entre o Frevo e a Capoeira
Francisco do Nascimento Filho, mais conhecido por Mestre Nascimento do Passo ou
simplesmente Nascimento do Passo, nasceu no dia 28 de dezembro de 1936, no município de
Benjamin Constant, estado do Amazonas. Chegou ao Recife em 1949, escondido nos porões do
navio Almirante Alexandrino, que fazia cabotagem no litoral brasileiro.
No Recife, viveu algum tempo na rua por não ter moradia fixa nem profissão definida.
Trabalhou na informalidade como engraxate e carregador de fretes. Dormiu em bancos de praças
e só pode alugar um quarto de pensão, que ficava por trás da sede do Clube Vassourinhas,
quando conseguiu seu primeiro emprego fixo na residência de um casal de alemães. Dessa
proximidade nasceu seu interesse pelo frevo e foi nos ensaios do clube que ele aprendeu a
dançá-lo, tornando-se, mais tarde, uma paixão para toda vida.
Muitas pessoas se lançavam prazerosamente nessa dança executando passos como “tesoura”,
“parafuso”, “dobradiça” e alguns outros, ainda sem nome, que a criatividade e as pernas dos
dançarinos permitiam executar. Além de ser um excelente passista de frevo, Nascimento do
Passo, também, era um excelente capoeirista.
Em reconhecimento ao seu trabalho, Nascimento do Passo recebeu os títulos de Cidadão do
Recife, em 1998 e de Cidadão de Pernambuco, em 2000.
Nascimento do Passo morreu em 2 de setembro de 2009, deixando sua marca viva na história
do carnaval de Pernambuco.
8.3 O carnaval, o frevo e a Capoeira: histórias que se entrelaçam
Durante os desfiles de carnaval, era costume que capoeiristas abrissem o caminho para que a
bandinha instrumental passasse entre os foliões. Daí que vários golpes de Capoeira foram
incorporados na dança, que é uma das mais complexas que tenho notícias no Brasil, e possui
mais de cem passos, sendo necessário bastante condicionamento físico e habilidade para ser
executada.
Os mais conhecidos destes são: Rabo de Arraia, Locomotiva, Dobradiça, Fogareiro, Capoeira,
Tesoura, Mola, Ferrolho e Parafuso.
Outro elemento estético do atual frevo que teve sua origem na capoeiragem, foram as
sombrinhas que outrora eram velhos guarda-chuvas rasgados, usados pelos capoeiristas como
arma de ataque e defesa, já que a prática da Capoeira estava proibida. Com o passar do tempo,
os guarda-chuvas foram se transformando em pequenas sombrinhas coloridas.
O hábito de usar sombrinha começou com os capoeiristas, pois acompanhavam as saídas das
bandas militares no carnaval do Recife no fim do século 19.
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
As sombrinhas eram comumente usadas como arma de ataque e defesa e o frevo como dança
surgiu a partir desses homens pobres e taxados de violentos. Os foliões começaram a imitar os
movimentos dos capoeiristas, que abriam caminho para as bandas e enganavam a polícia com
seus passos. Foi daí que surgiu os primeiros passos do frevo.
Hoje em dia o frevo é considerado Patrimônio Imaterial da Humanidade, pela Unesco, tornou-
se símbolo da folia pernambucana.
É muito importante olharmos para a origem do frevo e perceber que nem sempre foi uma dança
de pessoas com roupas brilhantes e sombrinhas coloridas. Sua origem foi liminar. Foi resistência
e necessidade de extravasar uma vida de exclusão e marginalidade do povo negro, do povo da
Capoeira.
Capoeira é dança, luta, arma de empoderamento e resistência. Sua história se desenhou pelo
Brasil afora, contribuindo para transformação e a construção da identidade de cada região do país.
Sites acessados para esse tópico:
Fonte 1: http://terreitodegriots.blogspot.com / Acesso em 27/03/2018
Fonte 2: ANDRADE, Maria do Carmo. Nascimento do Passo. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco,
Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>./ Acesso em 15 de setembro de 2018
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
9 UM POUCO SOBRE PERNAMBUCO
Pernambuco é a sétima unidade federativa mais populosa do Brasil, e possui o décimo maior
PIB do país e o maior PIB per capita entre os estados nordestinos. Já sua capital, Recife, é sede
da concentração urbana mais rica e populosa do Norte-Nordeste. Também fazem parte do seu
território os arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo. Sua capital é Recife
e a sede administrativa é o Palácio do Campo das Princesas.
Figura 8: Mapa do Brasil com destaque para Pernambuco
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br
Conhecido por sua ativa e rica
cultura popular, Pernambuco é
berço de várias manifestações
tradicionais, como a Capoeira, o
coco, o frevo e o maracatu, bem
como detentor de um vasto
patrimônio histórico, artístico e
arquitetônico, sobretudo no que
se refere ao período colonial.
9.1 Etimologia do nome Pernambuco
A origem do nome Pernambuco é controversa. Alguns estudiosos afirmam que vem da
aglutinação dos termos tupis para’nã, que quer dizer “rio grande” ou “mar”, e buka, “buraco”.
Assim, Pernambuco seria um “buraco no mar”, referindo-se ao Canal de Santa Cruz na Ilha de
Itamaracá ou à abertura que existe nos arrecifes entre Olinda e o Recife.
Segundo outros afirmam, era a denominação nas línguas indígenas locais da época do
descobrimento para o pau-brasil. Uma terceira hipótese adviria também do tupi, paranãbuku, isto
é, “rio comprido”, uma provável alusão ao rio das capivaras, o Capibaribe, já que mapas primitivos
assinalam um tal “rio Pernambuco” ao norte do Cabo de Santo Agostinho. Há ainda uma quarta
hipótese, aventada pelo pesquisador Jacques Ribemboim, segundo a qual a etimologia teria
origem na língua portuguesa: o Canal de Santa Cruz, no início do século XVI, era conhecido como
"Boca de Fernão" (referência ao explorador de pau-brasil Fernão de Noronha), e os índios
possivelmente o chamavam de algo próximo a "Pernão Boca" ou "Pernambuka", que teria dado
origem ao nome Pernambuco.
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br
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10 HISTÓRICO DO SISTEMA IDEÁRIO DE GRADUAÇÕES
A partir de agora, vamos explanar sobre alguns sistemas de graduações das muitas
existentes em Pernambuco. Salientar que os sistemas que serão mencionadas neste manual,
NÃO SÃO E NUNCA FORAM OS ÚNICOS SISTEMAS DE GRADUAÇÕES EXISTENTES EM
PERNAMBUCO.
1º é o sistema de graduação de Mestre Bimba; 2º é o sistema de graduação que leva as cores
da bandeira brasileira; 3º é o sistema de graduação que tem as cores dos Orixás da Umbanda; 4º
é a proposta pelo Sistema de Unificação da Capoeira de Pernambuco, que tem por base as cores
da bandeira pernambucana.
10.1 Sistema de Graduação de Mestre Bimba
Figura 9: Sistema de Graduação de Mestre Bimba
Fonte: http//capoeiramestrebimba.com.br
10.2 Sistema de Graduação “Brasileirinha”
As cores dessa graduação foram baseadas nas cores da Bandeira Nacional Brasileira,
estabelecida de forma lógica, conforme a maior concentração ou quantidade dessa cor em nossa
bandeira, sendo a primeira cor verde, depois o amarelo e o azul. A cor branca só entra no nível
de mestre.
10.3 A Graduação Zulu: Pelas Cores dos Orixás
A graduação Zulu, que traz as cores dos orixás.
Hierarquizar a ordem das cores que vieram compor o Sistema de Graduações Orixás da Umbanda
com irradiação nas cores: Azul= Iemanjá; Marrom= Xangô; Verde= Oxossi; Amarelo= Oxum;
Roxo= Iansã; Vermelho= Ogum; Branco= Oxalá.
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10.4 Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana
10.4.1 Motivos da Unificação
Idealizador da Unificação: Lidielvis Santiago do Nascimento (Contramestre Pantera Negra –
Grupo União Pernambuco de Capoeira / PE).
“Diante de divergências nas rodas de Capoeira em todo o estado de Pernambuco em relação
às cores das cordas, já que a cor da corda relata a graduação de quem a usa e, por tanto, não
conseguindo identificar a cor usada da corda à graduação do capoeirista, resolveu-se implantar
um sistema novo de graduação.
Desse modo, propôs-se um sistema que Unificação da Capoeira de Pernambuco, onde os
capoeiristas usassem, apenas, as cores que são utilizadas em nossa bandeira pernambucana,
com o propósito de não mais haver divergências, mas sim de haver um sistema onde todos
saibam “quem é quem” e, sendo assim, poder tratá-los como tal.
Por tanto, dentro do exposto supracitado, aos 17 de janeiro de 2020 foi proposto o Sistema de
Unificação da Capoeira de Pernambuco para que todos, sem tirar nem pôr, esteja padronizado
em suas cordas com as cores da bandeira de Pernambuco e não mais haver dúvidas em relação
às cores de cordas e suas respectivas graduações”.
Autor: Lidielvis Santiago – Contramestre Pantera Negra
Cúmplice da idealização: Minervino Pereira – Mestre Espinhela
“Desde cedo entendo-me com a Capoeira no ano 1974 e, as referências que temos são Mestre
Vicente Ferreira Pastinha e Mestre Bimba e os sistemas de graduações que usamos foram
criados fora de nosso Estado.
Na tarde do dia 17/01/2020, fui convidado pelo Contramestre Pantera Negra via WhatsApp,
para participar da Unificação das graduações da Capoeira de Pernambuco, onde tem uma
adversidade de cores, e foram proposto várias graduações pela bandeira de Pernambuco via
WhatsApp, para depois marcar uma reunião e fazer uma votação por aclamação na presença
dos interessados, usando as cores da bandeira de nosso Estado. Foi feita a primeira reunião no
dia 01/03/2020 na Academia do Mestre Cuscuz para resolver 10 itens da Unificação, depois foi
marcada uma reunião presencial para concluir a votação, pois com o sistema online poderia
haver fraude, o que veio a ocorrer no dia 15/03/2020 no espaço físico do Armazém 10, próximo
ao Marco Zero do Recife, houve a finalização desta votação presencial e foi onde, eu, Mestre
Espinhela, dei a ideia deste Manual para demonstrar em detalhes o Sistema de Graduação do
Sistema da Capoeira de Pernambuco Imortal, Imortal!”.
Autor: Minervino Pereira – Mestre Espinhela
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10.4.2 História da Bandeira Pernambucana
Revolução Pernambucana (1817)
A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos Padres", foi
um movimento emancipacionista que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco. Dentre
as suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades
maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu
séquito recém chegados ao Brasil — a Capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da
Colônia, era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear
salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas
locais(como a seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados,
gerando grande descontentamento no povo pernambucano. Foi o único movimento libertário do
período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo
revolucionário de tomada do poder.
Figura 10: Atual Bandeira de Pernambuco
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br
A atual bandeira de Pernambuco, originada na
bandeira da revolução de 1817, foi oficializada
pelo decreto nº 459, de 23 de fevereiro de
1917, pelo governador Manuel Antônio
Pereira Borba, na comemoração do
centenário da revolução. A única modificação
foi adoção de apenas uma estrela,
caracterizando o estado no conjunto da
Federação
Significado dos Elementos que Compõem a Bandeira
A cor azul do retângulo superior: simboliza a grandeza do céu;
A cor branca: simboliza a paz;
O arco-íris: em suas três cores (verde, vermelha e amarelo): simboliza a união do povo
pernambucano;
A estrela: caracteriza o Estado no conjunto da Federação;
O sol: representa a força e a energia de Pernambuco;
A cruz: representa a fé na justiça e no entendimento.
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10.4.3 Sistema de Graduação da Unificação com as Cores da Bandeira Pernambucana
Sistema de Graduação Adulto
Figura 11: Sistema de Graduação – Todas as Graduações / Adulto
Sistema de Graduação Infantil
Figura 12: Sistema de Graduação – Todas as Graduações / Infantil
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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10.4.4 As Cores do Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana
Modalidade Juvenil / Adulto
Figura 13: Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana – Adulto / Juvenil
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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Modalidade Infantil
Figura 14: Sistema de Graduação da Unificação Pernambucana – Infantil
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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10.5 Significado das Cores da Graduação do Sistema da Unificação Pernambucana
10.5.1 Significado das Cores – Modalidades Infantil e Juvenil / Adulto
Figura 15: Significado das Cores da Graduação da Unificação - Infantil
SISTEMA DE GRADUAÇÃO DA UNIFICAÇÃO DE PERNAMBUCO – 2020
GRADUAÇÃO INFANTIL
CORDA SIGNIFICADO DAS CORES
1ª Etapa – 1ª Fase
Verde e branca: É a solidificação do aprendizado. É desta graduação
que sairá a transformação e o alicerce, já que é a primeira corda que ele
recebe em seu Batizado.
2ª Etapa – 2ª Fase
Amarela e branca: A valorização e o despertar para a consciência do
aprendizado, que será desenvolvido a partir desta graduação.
3ª Etapa – 3ª Fase
Azul e branca: Significa a consciência da imensidão do caminha a
percorrer.
4ª Etapa – 4ª Fase
Verde, amarela e branca: Valorização do aprendizado juntamente ao
despertar da consciência do caminho a percorrer.
5ª Etapa – 5ª Fase
Verde, azul e branca: É a solidificação e aprimoramento do aprendizado
que se dá em conjunto com a imensidão do caminho que se tem a
percorrer.
6ª Etapa – 6ª Fase
Amarela, azul e branca: Transformação de estágio para se formar.
7ª Etapa – 7ª Fase
Verde, amarela, azul e branca: É a consciência do longo caminho que
se tem a percorrer.
Fonte: Arquivo / UNICALEN
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
Figura 16: Significado das Cores da Graduação da Unificação – Juvenil / Adulto
Fonte: Arquivo / UNICALEN
SISTEMA DE GRADUAÇÃO DA UNIFICAÇÃO DE PERNAMBUCO
GRADUAÇÃO JUVENIL / ADULTO
CORDA SIGNIFICADO DAS CORES
Verde (Aluno Batizado): A floresta – Significa um dos pulmões do mundo. É a solidificação do
aprendizado. É desta graduação que sairá a transformação e o alicerce, já que é a primeira
corda que o aluno recebe em seu Batizado.
Amarelo (Aluno Avançado): O sol – Significa a valorização e o despertar para a consciência do
aprendizado que será desenvolvido a partir desta graduação.
Azul (Aluno Adiantado): O mar – Significa a consciência da imensidão do caminha a percorrer
Verde e Amarelo (Aluno Intermediário): É a junção da floresta com o sol, ou seja, valorização
do aprendizado juntamente ao despertar da consciência do caminho a percorrer.
Verde e azul (Aluno Graduado): É a junção da floresta com o mar, onde a solidificação e
aprimoramento do aprendizado se dá em conjunto com a imensidão do caminho que ainda se
tem a percorrer.
Amarelo e azul (Aluno Estagiário): Transformação e valorização da próxima etapa do caminho
a percorrer.
Verde, amarelo e azul (Formado): Significa a valorização e a consciência da imensidão do
caminho a percorrer.
Verde e vermelha (Instrutor): É nesta graduação que o capoeirista procura superar a dor física
e psicológica e permanecer na busca dos conhecimentos e da defesa dos ideais.
Amarela e vermelha (Professor): Cicatrizes – é nesta graduação que busca a sabedoria, força
e o conhecimento.
Azul e vermelha (Contramestre): Simboliza a vida, estagiário para a Maestria.
Vermelho (Mestre 1º Grau): Justiça - “Sangue de Luta” – É a fase em que o capoeirista adquire
a consciência da responsabilidade que tem com a Capoeira, procurando conduzir o seu trabalho
e as suas decisões com justiça.
Vermelho e Branco (Mestre 2º Grau):Justiça e Paz: Transformação – É nesta graduação que o
capoeirista procura desenvolver todo o seu potencial, no sentido de agregar valores e manter
os ideais da Capoeira, uma vez que está na fase de preparação para assumir a graduação
máxima dentro do sistema de graduação da unificação pernambucana. Outrossim, é necessário
decidir com precisão, acerto, honestidade, lealdade, respeito e acima de tudo com sabedoria,
inteligência e imparcialidade.
Branca (Mestre Velha Guarda) - Paz: Simboliza resistência à opressão, à luta e a sobrevivência
dos antepassados que renasce no presente com sabedoria tendo como leme: força, garra e
determinação.
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10.6 Sugestões de Critérios Avaliativos do Sistema de Graduação da Unificação
RECOMENDAÇÕES OPERACIONAIS: 1º) Graduação de Formado: idade mínima de 18 anos;
2º) Graduação de Instrutor: idade mínima de 20 anos; 3º) Graduação de Professor: idade mínima
de 25 anos; 4º) Graduação de Contramestre ou mestrando: idade mínima de 30 anos; 5º)
Graduação de Mestre 1º grau: idade mínima de 35 anos; 6º) Graduação de Mestre de 2º grau:
idade mínima de 45 anos; 7º) Graduação de Mestre 3º grau - Veterano ou Velha Guarda: idade
mínima de 53 anos.
1ª Obs.: Poderão ser alterados os termos acima citados mediantes casos especiais ou
excepcionais onde o Mestre responsável levará a questão a ser analisada e avaliada pelo
Conselheiro de Mestre da Unificação de Graduações de Pernambuco, que será formado por uma
bancada de Mestres de 2º e 3º grau.
2ª Obs.: A Graduação de Formado permitirá ministrar aulas oficiais em academias, escolas,
associações etc. e, na supervisão de um mais graduado. O Estagiário, também, poderá ministrar
aulas oficiais.
3ª Obs.: Visando a NÃO entrar em conflitos de nomenclaturas, a graduação azul/vermelha ficará
livre para seu portador escolher o nome do título entre Contramestre e Mestrando, assim não
rebaixando essa graduação em nenhum lugar do mundo.
1ª ETAPA DE EXAME: ALUNO BATIZADO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Porque escolheu a Capoeira? O que é a Capoeira para você?
PARTE FÍSICA: Gingar bastante do modo que achar melhor; queda de quatro saindo no Rolê;
cocorinha saindo no aú; negativa saindo na ginga; meia lua de frente completando com meia lua
de compasso; benção saindo na mola; queixada lateral completando com armada; ponteiro com
esquiva; jogo de Angola; como se comportar na roda; como chamar outro jogador; comprar jogo;
como dar a volta ao mundo; como sair do jogo; jogo de Banguela. Conseguir realizar a 1ª
Sequência da Capoeira Regional Baiana: (Ver na página 58 deste manual).
PARTE MUSICAL: Chamada do Berimbau; fazer 3 coro da música da academia; toque de Angola
no berimbau; pandeiro; atabaque e bater palmas.
2ª ETAPA DE EXAME: ALUNO AVANÇADO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Escrever um artigo, texto ou dissertação sobre o que o examinador pedir.
PARTE FÍSICA: Ginga; esquivas; meia lua de compasso; queda de rins; martelo; resistência;
chute na lua; martelo; meia lua de frente; cruz de carreira; giro; cabeçada; bochecha; galopantes;
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
resistência com tesoura de frente; benção; ponteiro; encruzilhadas; vingativas; coice de mula;
como se comportar na roda; como chamar outro jogador; comprar jogo; como dar a volta ao
mundo; como sair do jogo; fazer um jogo de Angola; jogo de Banguela; jogo solo. Conseguir
realizar: 1ª e 2ª Sequências da Capoeira Regional Baiana (Ver na página 58 deste manual).
PARTE MUSICAL: Chamada do berimbau; fazer 3 coro da música da academia; toque de Angola
no berimbau; pandeiro; atabaque; agogô e bater palmas. E ainda tocar no berimbau: Angola, São
Bento Pequeno, São Bento Grande de Angola e cantar música do grupo.
3ª ETAPA DE EXAME: ALUNO ADIANTADO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Prova oral: Brasil Pré - Colonial e Brasil Colônia; Histórico; Angola e Regional.
Escrever um artigo, texto ou dissertação sobre o que o examinador pedir.
PARTE FÍSICA: Ginga; queda de quatro; negativas; tranco; pulo do gato; macaco; corta capim;
tombo da ladeira; tesoura de costa; rabo de arraia solto; rabo de arraia amarrado; armada; martelo
rodado; parafuso; godeme; cotovelada; asfixiantes; chapa de frente; crucifixo; banda de frente;
banda de costa; banda trançada; queixada de frente; como se comportar na roda; como chamar
outro jogador; comprar jogo; como dar a volta ao mundo; como sair do jogo; fazer um jogo de
Angola; jogo de Banguela; jogo solo. Conseguir realizar 1ª, 2ª e 3ª Sequências da Capoeira
Regional Baiana (Ver nas páginas 58 - 59 deste manual).
PARTE MUSICAL: Chamada do Berimbau; fazer 3 coro da música da academia no berimbau,
pandeiro e atabaque; toque de Angola, Banguela, São Bento Pequeno, São Bento Grande,
Cavalaria, Iuna e Regional; bater palmas.
4ª ETAPA DE EXAME: ALUNO INTERMEDIÁRIO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Brasil Pré-Colonial e Brasil Colônia; saber fazer jogo de Angola e Regional.
PARTE FÍSICA: Ginga; chapa de frente; chapa lateral; chapa de costa; chapa giratória;
cabeçadas; cotoveladas; cutilas; joelhadas; escala; quebra-pescoço; voo do morcego; forquilha;
direto; gancho; kiper; arrastão; baianada; boca de calça; chute na lua; esporão; calcanheira. Saber
fazer jogo de Angola e Regional. Conseguir realizar :1ª, 2ª, 3ª e 4ª Sequências da Capoeira
Regional. (Ver nas páginas 58 - 59 deste manual).
PARTE MUSICAL: Toque de Angola; São Bento Pequeno; São Bento Grande de Angola; São
Bento de Regional; Banguela; Cavalaria; Idalina. Saber tocar os instrumentos musicais: atabaque;
pandeiro; reco-reco; agogô e saber cantar duas músicas.
5ª ETAPA DE EXAME: ALUNO GRADUADO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
PARTE TEÓRICA: Escrever um artigo sobre o que a mesa examinadora pedir.
PARTE FÍSICA: Gingas; aú; rolamentos; ponte; cocorinha; mortal; trava; tranco; paulistinha;
palhaço; gravatas; cabeçadas; balão de lado; torções; chapa de chão; chibata; passa pé; rasteira
de frente; rasteira de costa; chapéu de couro; chamada da palma; bananeira; arqueado; dentinho;
balão do aú. E ainda conseguir realizar: 1ª, 2ª,3ª, 4ª e 5ª Sequências da Capoeira Regional Baiana
(Ver nas páginas 58 - 60 deste manual).
PARTE MUSICAL: Toque de Angola; São Bento Pequeno; São Bento Grande de Angola; São
Bento de Regional; Banguela; Cavalaria; Iuna. Saber tocar os seguintes instrumentos musicais:
atabaque; pandeiro; reco-reco; agogô e saber cantar duas músicas e duas ladainhas.
6ª ETAPA DE EXAME: ALUNO ESTAGIÁRIO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 1 ANO DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Escrever um artigo sobre o que a mesa examinadora pedir.
PARTE FÍSICA: Ginga; leque; esquiva; mola; ponte; mortal; tesoura de frente; tesoura de costa;
cruzilha; tombo da ladeira; cruz de carreira; kiper; balão da gravata; balão de lado; dentinho;
arqueado; voo do morcego; quebra-pescoço; direto; arrastão; crucifixo; cutila; meia lua de
compasso; meia lua de frente; chamada da cócoras. Conseguir realizar: 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e a 6ª
Sequências da Capoeira Regional Baiana (Ver nas páginas 58 - 60 deste manual).
PARTE MUSICAL: Toque de Angola; São Bento Pequeno; São Bento Grande de Angola; São
Bento de Regional; Banguela; Cavalaria; Iuna. E ainda saber tocar os instrumentos musicais:
atabaque; pandeiro; reco-reco; agogô; Cantar duas músicas e duas ladainhas.
7ª ETAPA DE EXAME: FORMADO
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 2 ANOS DE TREINO
PARTE TEÓRICA: Escrever um artigo sobre o que a mesa examinadora pedir.
PARTE FÍSICA: Ginga; esquivas; aú; queda-de-quatro; queda-de-rins; cocorinha; pulo-do-gato;
resistência; negativas; mola; ponte; macaco; trava; palhaço; pião-mão-cabeça; suicídio; mortal;
rolê; giro; rolamentos; chamadas da cócoras; calcanheira; palma; cruz; cabeçada; bananeira,
torções, leque; baú ou tranco; bandas-costas-frente-trançada; rasteiras-frente-costas; tesouras-
frente-costas; cruzilha; corta-capim; paulistinha; passa pé ou rodo; “s” dobrado; cruz-de-carreira;
kiper; crucifixo; arrastão; boca de calça; baianada; vingativa; gravata alta, baixa; balão; cintura
desprezada; arqueado; dentinho; balão de lado; apanhada; tombo-da-ladeira; torções; benção;
ponteiro; martelo; chute na lua; queixadas-frente-lateral; armada; rabo de arraia-souto-amarrado;
chapa-frente-lateral-chão-giro; calcanheira; chibata; meia lua-frente-compasso; bochecho;
cabeçada; coice de mula ou sapinho; esporão; escorão; parafuso; martelo rodado; quebra
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
pescoço; voo do morcego; cutilas; godeme5; cotoveladas; joelhadas; escala; forquilha; asfixiante
ou direto; galopante ou tapão. Conseguir realizar: 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª,6ª, e a 7ª Sequências da
Capoeira Regional Baiana (Ver nas páginas 58 - 61 deste manual).
E ainda:
1º) Ter certo diálogo com alunos sobre a história da escravidão, quilombo, e trajetória da Capoeira;
os fundamentos da Angola e métodos da Regional; tradição; uniforme; entrada e saída da roda
etc. / 2º) Volume de jogo: destreza, variedade, objetividade, eficiência etc./ Técnica: perfeição dos
movimentos e efeitos típicos, condições físicas e conhecimento da lesão que os golpes podem
provocar etc.; harmonia do jogo conforme o toque e ritmo; entrosamento entre ataque e defesa
etc.; / 3º) Conhecimento dos instrumentos, como instalar na roda, toques, cânticos, noções de
Primeiros Socorros.
PARTE MUSICAL: Toque de Angola; São Bento Pequeno; São Bento Grande de Angola; São
Bento de Regional; Banguela; Santa Maria; Cavalaria; Iuna; Amazonas; Idalina; Samba de Angola.
Saber tocar os instrumentos musicais: atabaque; pandeiro; reco-reco; agogô e saber cantar duas
músicas e duas ladainhas.
8ª ETAPA DE EXAME: INSTRUTOR
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser aluno formado / Ter idade mínima de 20 anos / Conhecimentos prático e teórico avançado da
Capoeiragem I (Exame Técnico) / Ter 2° grau completo / Curso de 1° socorros (40 horas) (T/P) /
Curso de didática aplicada ao ensino de Capoeira I (20 horas) / Noções de aplicação de ensino. /
Método de ensino / Noções de anatomia (40 horas) / Divisões da anatomia humana (06 H) / Divisão
do corpo humano (04 H) / Osteologia básica (10 H) / Miologia básica (10) / Angiologia básica (10)
/ Curso de História da Capoeira I (10 horas) / Origem da Capoeira / Estilos da Capoeira e seus
principais expoentes / Vertentes da Capoeira contemporânea.
9ª ETAPA DE EXAME: PROFESSOR
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser Instrutor / Conhecimento prático e teórico da capoeiragem II (Exame Técnico) /Ter o 2º Grau
completo / Curso Didático Aplicado ao ensino da Capoeira – II (20 horas) / Finalidades e Objetivos
de Ensino / Plano de Aula / Avaliação de Aula / Curso de Biologia Aplicada à Capoeira (40 horas)
/ Instrução de Anatomia e Fisiologia da Célula Animal (10 horas) /Sistemas Orgânicos (10 horas)
/ Bases Biológicas do Exercício Físico (20 horas) / Curso de organização Desportiva Aplicada à
5 O termo sofre variação gomedi ou godeme, onde irá depender do local e do grupo de Capoeira.
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
Capoeira I (20 horas) / Conceituações e Princípios gerais /Organização de Competição / Órgãos
Desportivos / Forma de Competições (Torneios e Campeonatos) / Introdução à Competição de
Capoeira / Curso de História da Capoeira II (20 horas) / As Grandes Navegações / História Política
do Descobrimento à República do Brasil / Descobrimento / Brasil Colônia / Brasil Império /
Independência do Brasil / História da Escravidão no Brasil /Escravidão Indígena / Escravidão
Negra / Tráfico de Escravos / Quilombo dos Palmares / Leis de Libertação.
10ª ETAPA DE EXAME: CONTRAMESTRE
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser Professor / Conhecimento Prático e Teórico Avançado da Capoeiragem III (Exame Técnico) /
Ter 2º Grau Completo /Curso Noções de Psicologia do Desenvolvimento da Criança (40 horas) /
Curso Introdução ao Treinamento Desportivo (20 horas) / Curso de história da Capoeira III (20
horas) / Capoeira no Brasil: Pré-Colonial, Império, Velha República, Nova República, Atualidade/
Curso de Credenciamento de Avaliadores (20 horas).
11ª ETAPA DE EXAME: MESTRE 1º GRAU
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser Contramestre / Conhecimento Prático e teórico Avançado da Capoeiragem IV (Exame
Técnico) /Ter 2º Grau Completo / Curso Noções de Psicomotricidade (20 horas) /Curso de
Psicologia Geral (20 horas) / Cursos Técnicas de Dinâmica de Grupo (20 horas) / Curso Noções
de Direito Aplicado à Capoeira (20 horas) / Curso de História da Capoeira IV (20 horas) /
Desportização da Capoeira No Brasil, nos Estados e Municípios / Desportização da Capoeira
Mundial / Curso de Credenciamento de Avaliadores (20 horas).
12ª ETAPA DE EXAME: MESTRE 2º GRAU
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser Mestre 1º Grau / Conhecimento Prático e teórico Avançado da Capoeiragem IV (Exame
Técnico) / Ter 2º Grau Completo / Curso Noções de Psicomotricidade (20 horas) /Curso de
Psicologia Geral (20 horas) /Cursos Técnicas de Dinâmica de Grupo (20 horas) /Curso Noções de
Direito Aplicado a Capoeira (20 horas) / Curso de História da Capoeira IV (20 horas) /
Desportização da Capoeira No Brasil, nos Estados e Municípios /Desportização da Capoeira
Mundial / Curso de Credenciamento de Avaliadores (20 horas).
13ª ETAPA DE EXAME: MESTRE 3º GRAU, VETERANO OU VELHA GUARDA
Proposta do IDEAL do tempo MÍNIMO para a graduação - 5 ANOS DE TREINO
Ser Mestre Vermelho e Branco / Conhecimento Prático e teórico Avançado da Capoeiragem IV
(Exame Técnico) / Ter 2º Grau Completo / Curso Noções de Psicomotricidade (20 horas) / Curso
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
de Psicologia Geral (20 horas) /Cursos Técnicas de Dinâmica de Grupo (20 horas) / Curso Noções
de Direito Aplicado a Capoeira (20 horas) / Curso de História da Capoeira IV (20 horas) /
Desportização da Capoeira no Brasil, nos Estados, e Municípios / Desportização da Capoeira
Mundial / Curso de Credenciamento de Avaliadores (20 horas).
10.7 Grade de Cursos de Qualificação para algumas Graduações dentro do Sistema da
Unificação Pernambucana
1. Primeiro Socorro (Tendo duas grades):
a) Noções básica de Primeiro Socorro e b) Primeiro Socorro
O curso visa ampliar os conhecimentos, ajudando aos profissionais da Capoeira em relação à
possíveis problemas que podem ocorrer pela prática da arte marcial, tais como: pequenas fraturas,
torções etc.
2. Curso de Oratória
O curso de oratória tem como objetivo desenvolver por meio de uma metodologia moderna,
participativa e colaborativas a competência e habilidades de se posicionar na fala com
naturalidade em público.
3. Curso de Português Instrumental
O curso oferece ume estudo ampliado e técnicas para compreender e interpretar composições
textuais, ampliando o domínio da língua portuguesa.
Visa ajudar o capoeirista no domínio da língua escrita.
4. Linguística
O curso aborda os conceitos de fala, língua e linguagem, comunicação e texto. Apresenta os
elementos da comunicação e as funções da linguagem dentro do universo do texto verbal e não-
verbal, destacando a importância da variação linguística. As noções de texto e a tipologia textual
dão estrutura para o conhecimento de vários tipos de textos até a prática de leitura e redação.
5. História de Pernambuco / História da África / História do Brasil e História Geral
O curso deverá abordar os conteúdos básicos sobre História da África, do Brasil, de
Pernambuco e do Mundo. Entrelaçando a história às origens da Capoeira.
6. Geografia
O curso deverá explanar sobre a geografia de Pernambuco e do Brasil para um melhor
conhecimento e entendimento por parte dos participantes do início da Capoeira em nosso
país.
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MANUAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA IMORTAL, IMORTAL! 1ª EDIÇÃO. RECIFE-PE. 2020. 140 PÁGINAS.
11 OS GESTOS E A GESTUALIDADE CORPORAL DOS MOVIMENTOS E GOLPES DA
CAPOEIRA
A Capoeira é uma das práticas corporais mais presentes no Brasil, com mais de 6 milhões de
praticantes, além de ser difundida internacionalmente – em mais de 170 países. Sua importância
também pode ser denotada por ter sido, no ano de 2008, identificada como bem cultural, registrado
pelo governo brasileiro, tornando-se patrimônio nacional, por indicação do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/MinC), órgão do Ministério da Cultura (OLIVEIRA; LEAL,
2009).
Em um jogo de Capoeira, os saberes do corpo nem sempre são transmitidos de modo explícito,
é no silêncio do gesto, no movimento do corpo, no espaço físico que tudo vai acontecendo. E é
onde os indivíduos se afirmam enquanto seres capazes de perpetuar a tradição que partilham,
interagem, comunicam, produzem e afirmam a Capoeira como elemento da cultura que
potencializa os sentidos e significados da gestualidade nos jogos de Capoeira. São relações que,
em alguns momentos, revelam e em outros, escondem saberes que determinam a passagem do
signo à expressividade.
Gestos são movimentos corporais. Então, se a Capoeira envolve movimentos corporais que
significam algo para um outro em inter-relação, em um grupo social (capoeiristas), podemos
defender a Capoeira também como uma linguagem cuja variação linguística está no sentido de
cada gesto e na nomenclatura de cada movimento.
Para (MCNEILL, 1992): “os gestos são essenciais na comunicação e inseparáveis na linguagem
verbal; o ato espontâneo de mover as mãos, os braços e a cabeça durante a comunicação é
entendido como gesto”.
Um dos maiores mestres de Capoeira do passado histórico foi Vicente Ferreira Pastinha, que
deixou grande legado e ensinamentos. Conforme Decanio Filho (1997), “a Capoeira Angola só
pode ser ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa. O negócio é aproveitar os gestos livres
e próprios de cada um”. Quando se pretende ensinar ou aprender movimentos corporais na
Capoeira, deve-se seguir sua leveza, intuição e assim, a pessoa expressará sua própria versão
da Capoeira, já que o dançar (gingar) na Capoeira permite a criação de uma forma individual de
movimentos.
As técnicas corporais da Capoeira contribuem para um aprendizado que comunica valores
éticos e culturais. Se compararmos a Capoeira a uma linguagem, os movimentos seriam as letras
e o jogo, as frases completas.