2. Livro Dos Espíritos
614. Que se deve entender por lei natural?
“A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira
para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve
fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela
se afasta.”
3. Livro dos espíritos!!
648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis
de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso,
igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?
Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés, podendo abranger todas
as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por
isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros
sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere
o que quer que seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao
homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras.”
4. Lei do Trabalho
O trabalho é essencial para o avanço intelectual e moral dos espíritos
encarnados. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento. Sem
o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância quanto à
inteligência. Tudo na natureza trabalha. O sol envolve o mundo em seus
raios. Os vegetais absorvem luz solar, CO2 e água, ajudando a atmosfera
com a liberação de oxigênio.
Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra
oportunidade de o praticar. Basta que se esteja em relações com outras
pessoas para que se tenha ocasião de fazer o bem.
Não nos esqueçamos, por fim, que Deus nos ajuda, na medida em que nos
esforçamos na busca do que precisamos. Tudo concorrerá em nosso favor
se trabalharmos com afinco, humildade, fé e confiança.
Não há milagres: as grandes obras, conquistas e vitórias são frutos,
unicamente, do trabalho digno.
5. Lei de Reprodução
Com o passar dos tempos, e como consequência da lei da reprodução, as
espécies animais e vegetais se aperfeiçoam, substituindo-se as mais primitivas
por outras mais avançadas.
Um exemplo é o próprio homem que evoluiu ao longo dos tempos e sua
constituição genética e física sofreu inúmeras transformações. Ao comparar o
diâmetro da caixa craniana (cabeça) do homem atual com nossos ancestrais
primitivos, observa-se como ela aumentou de tamanho.
Hoje o homem possui a predominância da inteligência sobre a força física,
contrário ao que ocorria no passado.
Essa adaptação ocorre através de mudanças na constituição genética, sendo
fundamental para isso a reprodução dos seres.
6. Lei de Conservação
O instinto de conservação é uma lei da natureza pois todos os seres vivos o
possuem, qualquer que seja o seu grau de inteligência.
Nos irracionais o instinto de conservação funciona equilibradamente,
obedecendo a controles automáticos, sem maiores problemas. Superado o
perigo, voltam à normalidade.
No ser humano o mecanismo é mais complexo. A dificuldade reside em nosso
despreparo. É natural que, em face de uma ameaça o instinto de conservação
mobilize defesas, colocando-nos de prontidão, despertos, ativos ao máximo.
Entretanto, trata-se de um estado de exceção que deve ser prontamente
superado ou nos esgotaremos, favorecendo a evolução de desajustes físicos e
psíquicos.
Consequentemente, de forma natural, em havendo o abuso, haverá a
responsabilização proporcional.
7. Lei de Destruição
A destruição é uma lei da Natureza, porque é necessário que tudo se destrua
para renascer e se regenerar. Isso a que chamamos destruição não é mais que
a transformação, cujo objetivo é a renovação e melhoria dos seres vivos.
Muito embora a destruição, enquanto transformação, seja imprescindível
para a regeneração dos seres, a natureza lhes dá os meios de preservação e
conservação para que nada ocorra antes do tempo justo. Se assim não fosse, a
destruirão não seria então renovação, já que estaria entravando o
desenvolvimento do princípio inteligente, prematuro então para tais
progressos.
A destruição que ultrapassar os limites de segurança e necessidade, como o
da caça enquanto mero lazer, por exemplo, revela o atraso moral do espírito,
pois que toda destruição sem um objetivo útil denota uma transgressão às
Leis de Deus.
Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da
lei de Deus.
8. Lei de Sociedade
O homem é um animal social como disse com acerto Aristóteles.
Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles
se completam uns aos outros. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros,
são feitos para viver em sociedade e não isolados.
No entanto, mesmo que o homem encontre satisfação na vida de isolamento,
não pode viver uma consciência feliz aquele que não é útil a ninguém, que
vive para si mesmo tão somente, sem concorrer para o bem-estar da
sociedade.
Aqueles que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso
do mundo estão assumindo, na verdade, uma atitude de egoísmo. E mesmo
aquele que se isola com o fim de expiar faltas, também incide em erro, de vez
que o isolamento faz a pessoa cair em outro mal, o da omissão, pois deixa de
praticar a lei do amor e da caridade. Fazer maior bem que o mal que se tenha
feito, essa é a melhor expiação.
9. Lei de Progresso
O progresso é lei natural, cuja ação se faz sentir em tudo no universo. Ela
atua em toda a criação, desde o átomo até o anjo. Quer estejamos encarnados
ou desencarnados, todos estaremos sujeitos à lei do progresso.
O homem traz em si o gérmen do seu aperfeiçoamento. Por isso, é impelido a
progredir incessantemente.
O progresso é uma força viva da natureza, não estando no homem o poder de
sustá-lo pelas leis oriundas de seu egoísmo e orgulho. Quando muito o
embaraça, mas sempre está sofrendo a sua ação construtiva. Os abalos físicos
e morais que sofre a humanidade de tempos em tempos são a mostra de sua
presença transformadora.
É verdade que ainda estamos longe de equilibrar o progresso intelectual com
o moral, mas a finalidade do homem na terra é justamente esta. Às vezes é
preciso que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a
necessidade do bem e das reformas.
10. Lei de Igualdade
Todos os homens são iguais perante Deus, que os criou simples e ignorantes,
e perante a lei natural, pois os direitos são para todos.
O que à primeira vista pode parecer uma injustiça a variedade e desigualdade
de aptidões é a prova maior da harmonia divina, expressa em sua lei de
progresso.
A diversidade de aptidões facilita o desenvolvimento da solidariedade entre
todos, pois aquilo que um não faz o outro faz, e no final, todos precisam uns
dos outros, entendendo-se que só na troca é que se desenvolve o amor
fraterno e o respeito mútuo.
Portanto, as condições de desigualdade social são criadas pelo homem e não
determinadas por Deus. Nascem geralmente do abuso no campo do egoísmo e
do orgulho e se desfazem através do mecanismo reencarnatório. A única
desigualdade natural é a do merecimento e que dá nascimento à hierarquia
moral.
11. Lei de Liberdade
É da natureza do Espírito a necessidade de se libertar. Como a liberdade
absoluta não existe, vive a criatura situações em que deve obedecer. Na raiz
da obediência por imposição residem as primeiras sementes da rebeldia.
Esta harmonia só será restabelecida pelo conhecimento, compreensão e
observância da lei divina ou natural.
Este é o caminho que o Espírito realiza, através da linha do princípio e
finalidade. Quanto mais livre do seu inconsciente mais responsável se torna o
indivíduo pelo que faça; quanto mais sabe mais deve fazer.
E quanto a liberdade de pensamento, é uma condição básica para o Espírito
sentir-se livre. A espontaneidade e a criatividade, que são fatores espirituais,
devem sempre estar presentes no pensamento da criatura, evitando que ela se
robotize, apenas repetindo em circuito fechado, o que lhe imprimem, através
dos modernos meios de massificação.
12. Lei de Justiça, Amor e Caridade
Faz parte da natureza intrínseca do Espírito a noção e o sentimento de
justiça, que se desenvolvem na medida que o progresso moral avança. A lei de
justiça se manifesta de maneira diferente entre os homens em face da mistura
das paixões e dos interesses pessoais e de grupos, que a caricaturam.
Basicamente ela consiste em cada homem respeitar os direitos do outro,
conforme o ensinamento cristão: “fazei aos outros o que quereríeis vos
fizessem”. Como o homem deve viver em sociedade, nascem-lhe obrigações
de relacionamento que preveem respeito aos direitos do próximo
Caridade é o amor em ação. O verdadeiro sentido da caridade está na
benemerência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e
perdão das ofensas. Portanto, não está apenas na ajuda material aos
desafortunados sociais, está também presente no amor aos inimigos, que
significa perdoar-lhes as ofensas, quase sempre nascidas da ignorância, do
orgulho e da vaidade, retribuindo-lhes o mal com o bem.
13. Conclusão
Sem dúvidas, compreender e seguir a lei natural não é fácil, porém, estamos
nesse plano justamente para isso. Inclusive, fomos nós mesmos que
colaboramos para que nossa sociedade chegasse ao ponto que está hoje,
materializada e individualista.
Portanto, é imperativo nosso esforço no caminho contrário. E o
conhecimento e aplicação desse conjunto de leis é a única rota
verdadeiramente segura.
Prova de que misericórdia divina nunca abonda e tudo provê.