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Salmos
LivroII
Silvio Dutra
NOV/2015
2
Sumário
Salmo 36 4
Salmo 37 7
Salmo 38 18
Salmo 39 21
Salmo 40 24
Salmo 41 28
Salmo 42 31
Salmo 43 34
Salmo 44 35
Salmo 45 38
Salmo 46 41
Salmo 47 43
Salmo 48 44
Salmo 49 44
Salmo 50 50
Salmo 51 53
Salmo 52 60
Salmo 53 63
Salmo 54 65
Salmo 55 74
Salmo 56 78
Salmo 57 81
Salmo 58 84
Salmo 59 87
3
Salmo 60 90
Salmo 61 93
Salmo 62 95
Salmo 63 98
Salmo 64 101
Salmo 65 104
Salmo 66 106
Salmo 67 109
Salmo 68 111
Salmo 69 115
Salmo 70 120
4
Salmo 36
Salmo de Davi
Atransgressão fala ao ímpio no íntimo do seu
coração; não há temor de Deus perante os seus olhos.
2 Porque em seus próprios olhos se lisonjeia, cuidando
que a sua iniquidade não será descoberta e detestada.
3 As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou
de ser prudente e de fazer o bem.
4 Maquina o mal na sua cama; põe-se em caminho que
não é bom; não odeia o mal.
5 A tua benignidade, Senhor, chega até os céus, e a tua
fidelidade até as nuvens.
6 A tua justiça é como os montes de Deus, os teus
juízos são como o abismo profundo. Tu, Senhor,
preservas os homens e os animais.
7 Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade! Os filhos
dos homens se refugiam à sombra das tuas asas.
8 Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás
beber da corrente das tuas delícias;
9 pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos
a luz.
10 Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e
a tua justiça aos retos de coração.
11 Não venha sobre mim o pé da soberba, e não me
mova a mão dos ímpios.
12 Ali caídos estão os que praticavam a iniquidade;
estão derrubados, e não se podem levantar.
5
A inclinação para o mal, ainda que dissimulada, pode dar
aos que são dominados por ela, a falsa sensação de que
jamais serão descobertos, nem odiados, porque o seu
orgulho lhes engana, e não permite enxergarem como
perversidade abominável a Deus, as obras que eles
praticam, as quais preferem chamar de estratagemas
políticos, lampejos de grande inteligência, de argúcia, e
outros adjetivos pomposos com o fim de se auto
justificarem, só que Deus sempre as chamará de
falsidade e obra de iniquidade.
É somente na luz do conhecimento do caráter de Deus e
da Sua santa vontade, que se pode discernir a corrupção
do coração, e além da luz da graça pô-la a descoberto,
também tem o poder de extirpá-la e fazer com que em
vez de trevas, tenhamos luz em nosso espírito e alma,
que nos habilita a fazer o que é bom.
Mas ao que foge da luz de Jesus, e ama as trevas da
iniquidade, até mesmo quando se deita em sua cama,
não concilia o sono porque fica maquinando a
perversidade, e ao levantar não poderá andar por
caminhos retos, e nem ter neles prazer, porque está
apegado ao mal.
Todavia, o Senhor permanece imutável em Seu caminho
de fidelidade, benignidade e justiça, pelas quais a terra
e o que ela contém são preservados.
O salmista cita o cuidado do Senhor até mesmo pelos
animais; e isto é um fato notório, que todo aquele que é
sensível para o bem, tem um sentimento terno para com
toda a criação e procura preservá-la e amá-la.
Somente o Senhor é o manancial de toda a vida, e só é
possível ver a luz das coisas espirituais andando na luz
do Senhor, que é Ele próprio.
6
Lembremos que Jesus disse de Si mesmo, ser a luz do
mundo.
Por isso a benignidade e a justiça do Senhor só podem
ser conhecidas pelos que são retos de coração, e que O
conhecem por uma experiência pessoal e íntima com
Ele.
Todavia, os obreiros da iniquidade serão derrubados e
destruídos, pelos juízos de Deus, e não lhes será dado
poderem se levantar, porque isto não lhes será
permitido pelo Senhor, que os sujeitará a uma
condenação eterna, como retribuição a todo o mal que
praticaram contra o próximo e contra a preservação das
obras das Suas mãos, das quais o homem é apenas
mordomo em sua breve passagem neste mundo.
7
Salmo 37
Salmo de Davi
Não te enfades por causa dos malfeitores, nem
tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.
2 Pois em breve murcharão como a relva, e secarão
como a erva verde.
3 Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na
terra, e te alimentarás em segurança.
4 Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o
que deseja o teu coração.
5 Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele
tudo fará.
6 E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu
direito como o meio-dia.
7 Descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades
por causa daquele que prospera em seu caminho, por
causa do homem que executa maus desígnios.
8 Deixa a ira, e abandona o furor; não te enfades, pois
isso só leva à prática do mal.
9 Porque os malfeitores serão exterminados, mas
aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra.
10 Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá;
atentarás para o seu lugar, e ele ali não estará.
11 Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na
abundância de paz.
12 O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range
os dentes,
13 mas o Senhor se ri do ímpio, pois vê que vem
chegando o seu dia.
8
14 Os ímpios têm puxado da espada e têm entesado o
arco, para derrubarem o poder e necessitado, e para
matarem os que são retos no seu caminho.
15 Mas a sua espada lhes entrará no coração, e os seus
arcos quebrados.
16 Mais vale o pouco que o justo tem, do que as
riquezas de muitos ímpios.
17 Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas o
Senhor sustém os justos.
18 O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança
deles permanecerá para sempre.
19 Não serão envergonhados no dia do mal, e nos dias
da fome se fartarão.
20 Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor
serão como a beleza das pastagens; desaparecerão, em
fumaça se desfarão.
21 O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo
se compadece e dá.
22 Pois aqueles que são abençoados pelo Senhor
herdarão a terra, mas aqueles que são por ele
amaldiçoados serão exterminados.
23 Confirmados pelo Senhor são os passos do homem
em cujo caminho ele se deleita;
24 ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor
lhe segura a mão.
25 Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi
desamparado o justo, nem a sua descendência a
mendigar o pão.
26 Ele é sempre generoso, e empresta, e a sua
descendência é abençoada.
27 Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada
permanente.
9
28 Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os
seus santos. Eles serão preservados para sempre, mas a
descendência dos ímpios será exterminada.
29 Os justos herdarão a terra e nela habitarão para
sempre.
30 A boca do justo profere sabedoria; a sua língua fala
o que é reto.
31 A lei do seu Deus está em seu coração; não
resvalarão os seus passos.
32 O ímpio espreita o justo, e procura matá-lo.
33 O Senhor não o deixará nas mãos dele, nem o
condenará quando for julgado.
34 Espera no Senhor, e segue o seu caminho, e ele te
exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os
ímpios forem exterminados.
35 Vi um ímpio cheio de prepotência, e a espalhar-se
como a árvore verde na terra natal.
36 Mas eu passei, e ele já não era; procurei-o, mas não
pôde ser encontrado.
37 Nota o homem íntegro, e considera o reto, porque
há para o homem de paz um porvir feliz.
38 Quanto aos transgressores, serão à uma destruídos,
e a posteridade dos ímpios será exterminada.
39 Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a
sua fortaleza no tempo da angústia.
40 E o Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios
e os salva, porquanto nele se refugiam.
Davi era de fato um homem sábio e um grande santo,
conforme podemos ver das palavras proferidas por ele
neste salmo.
Ele não era meramente sábio segundo a letra das
Escrituras, mas segundo tudo o que pôde aprender da
10
experiência prática da vida, em sua intima comunhão
com o Senhor.
Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em
muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a
viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando
viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus
fez com que ele encontrasse a ambos, e que os
percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio
e mais santo.
Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro
sucesso não consiste na realização de nossos próprios
projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder
neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque,
por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível
juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas
o deus deles, e que não colocaram, por conseguinte, a
sua confiança inteiramente no Senhor.
Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama,
riquezas e poder, e, no entanto, não permitiu que seu
coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía,
ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá-
los, quando se anda segundo a carne e não segundo o
espírito.
Davi diz aos homens que façam o bem, e que se
alimentem da verdade, agradando-se do Senhor,
porque somente assim fazendo, o coração poderá achar
a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os
desejos que serão achados no coração serão somente os
desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por
Ele próprio.
Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a
Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a
bom termo no que se refere à nossa caminhada.
11
Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos
ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande
objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a
condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa
justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio-
dia.
Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as
nossas causas, de modo que podemos achar nEle
descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos
que nos irritar com aqueles que prosperam em seus
caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus
intentos.
O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja
feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente
por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de
mente e de espírito em toda e qualquer circunstância.
Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver
impacientemente por coisa alguma, porque no fim o
resultado nunca será bom.
O cristão deve ter o temor do Senhor
permanentemente, e não imitar as obras das trevas,
porque Ele tem um juízo determinado contra todos os
que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor
herdarão a terra, conforme a Sua promessa.
Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do
Monte aos mansos?
Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto,
pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o
Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um
dia em que julgará toda a carne.
Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os
justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita
paz juntamente com o Senhor e uns com os outros.
12
Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais
que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo
de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado
somente caso se converta ao Senhor.
Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do
que a abundância de muitos ímpios, porque esta de
nada lhes valerá no dia do Juízo.
Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante
a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna.
Deus havia feito promessas específicas em tal sentido
para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade
eterna para com eles, conforme podemos ver em outras
passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles
a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o
Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que
se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua
mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo.
Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha
a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o
Senhor o sustentará.
Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o
bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna.
Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e
os preservará para sempre, conforme tem prometido de
não lançar fora a nenhum que venha a Ele.
Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra, mas
que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não
os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará
no juízo.
Davi estava falando de coisas escatológicas pelo
Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo
para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando
os ímpios fossem exterminados, e que eles serão
13
exterminados a um só tempo juntamente com a
descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios
quanto eles.
Vale a pena inserir no comentário deste salmo a
promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança
eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel
23.1-7:
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho
de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do
Deus de Jacó, o suave salmista de Israel.
2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está
na minha língua.
3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse:
Quando um justo governa sobre os homens, quando
governa no temor de Deus,
4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem
nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do
sol, a erva brota da terra.
5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque
estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem
ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a
minha salvação e todo o meu desejo?
6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se
lançam fora, porque não se pode tocar neles;
7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da
haste de uma lança; e a fogo serão totalmente
queimados no mesmo lugar.”
As últimas palavras proferidas por Davi são
extraordinárias e comprovam que ele havia sido
realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado
pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel,
sendo conhecido em todas as partes do mundo em
14
todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo
desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração,
guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele
usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através
da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu
governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o
fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois
dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel
(v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste
modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como
uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da
chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o caráter de todos os justos que
reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda
pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa,
dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus?
Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo
bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar
toda a minha salvação e todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão
na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que
pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi
estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é
devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca
de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma
aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o
desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a
Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi
prometida a Davi.
15
Na verdade, não há outra esperança de salvação senão
por meio das condições da aliança prometida a Davi.
Tanto que aqueles que permanecerem na condição de
filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com
Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como
espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos,
isto é, não se permitem serem transformados e
educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de
uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu
lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da
justiça dos magistrados terrenos, como também serão
sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que
os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e
devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o
próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço
para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e
Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que
corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é
a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um
servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como
Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa
terrena.
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o
próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o
seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas
Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a
16
Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados
pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de
Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual
as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca
poderão predominar sobre a Sua casa.
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na
Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador
da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas
da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava
para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo,
no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas
de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a
vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança
perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a
Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi
falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura
e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós
aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é
uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter,
manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada
e segura (v. 5). Esta aliança está bem ordenada por Deus
em todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta
ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições
dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a
17
glória de Deus, de modo que se a obra não for
completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um
Consolador para promover a santidade e o conforto dos
cristãos. Está ordenado também QUE TODA
TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A
QUALQUER DOS ALIANÇADOS. Por isso Jesus afirma que
não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier
a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada nas
mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador. E se diz
que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada
por Deus. Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir
pecadores ao céu. Ela está tão bem estruturada, que
qualquer um deles pode ter a certeza de que estará
sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de
aperfeiçoamento será concluída no céu.
Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja
concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é
de fato para pecadores, e não para quem se considera
perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados
sejam chamados agora a se empenharem na prática da
justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados são
seguras, e operarão de acordo com as condições
estabelecidas em relação à necessidade de
arrependimento e fé. A aplicação particular destas
misericórdias para santificar os cristãos é segura. É
segura porque é suficiente. Nada mais do que isto nos
salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade
de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de
Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa
da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende.
18
Salmo 38
Salmo de Davi
ÓSenhor, não me repreendas na tua ira, nem me
castigues no teu furor.
2 Porque as tuas flechas se cravaram em mim, e sobre
mim a tua mão pesou.
3 Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua
cólera; nem há saúde nos meus ossos, por causa do
meu pecado.
4 Pois já as minhas iniquidades submergem a minha
cabeça; como carga pesada excedem as minhas forças.
5 As minhas chagas se tornam fétidas e purulentas, por
causa da minha loucura.
6 Estou encurvado, estou muito abatido, ando
lamentando o dia todo.
7 Pois os meus lombos estão cheios de ardor, e não há
coisa sã na minha carne.
8 Estou gasto e muito esmagado; dou rugidos por causa
do desassossego do meu coração.
9 Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu
suspirar não te é oculto.
10 O meu coração está agitado; a minha força me falta;
quanto à luz dos meus olhos, até essa me deixou.
11 Os meus amigos e os meus companheiros
afastaram-se da minha chaga; e os meus parentes se
põem à distância.
12 Também os que buscam a minha vida me armam
laços, e os que procuram o meu mal dizem coisas
perniciosas,
19
13 Mas eu, como um surdo, não ouço; e sou qual um
mudo que não abre a boca.
14 Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja
boca há com que replicar.
15 Mas por ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus,
responderás.
16 Rogo, pois: Ouve-me, para que eles não se regozijem
sobre mim e não se engrandeçam contra mim quando
resvala o meu pé.
17 Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está
sempre comigo.
18 Confesso a minha iniquidade; entristeço-me por
causa do meu pecado.
19 Mas os meus inimigos são cheios de vida e são
fortes, e muitos são os que sem causa me odeiam.
20 Os que tornam o mal pelo bem são meus
adversários, porque eu sigo o que é bom.
21 Não me desampares, ó Senhor; Deus meu, não te
alongues de mim.
22 Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação.
Este salmo revela o modo muito sério que Davi
considerava o pecado.
Não o reputava como coisa pequena, sem importância,
como os que se desculpam por causa da fraqueza da
natureza terrena.
Ele não fazia isto porque bem conhecia qual é o poder
muito superior da graça de Deus, ao poder do pecado,
de forma que nunca se permitiria ficar vencido pelo
pecado, sabendo que seria uma grande afronta para o
Senhor rejeitar a concessão de tão grande graça que Ele
mantém a disposição de todos os Seus filhos.
20
Isto era também grande em Davi, porque se podemos
dizer dele que teve uma vida cheia de percalços,
podemos também dizer que foi grande em se
arrepender diante do Senhor.
Com isto, ele achava até mesmo em suas fraquezas,
oportunidade de exaltar e engrandecer o Senhor, por se
diminuir a seus próprios olhos, e reconhecer a sua total
pobreza de espírito, ao mesmo tempo que recorria à
graça do Senhor para ser perdoado.
É preciso aprendermos com ele nesta parte, porque
muitos se deixam atormentar por seus pecados, não por
causa de terem entristecido ao Senhor, mas porque se
sentem desonrados por si mesmos, e se entregam a
autocomiserações que são na verdade altas expressões
de justiça própria e de incredulidade na bondade,
misericórdia, amor e poder de Deus, em nos perdoar e
aceitar.
Davi, ao contrário disto, reconhecia a sua culpa, e tinha
o Senhor sempre por justo em tudo o que lhe sucedia,
no entanto, se entregava inteiramente ao Seu cuidado,
sabendo que é muito bondoso e misericordioso, e isto é
fé na prática, é honra na prática, e disto o Senhor se
agrada.
21
Salmo 39
Salmo de Davi
Disse eu: Guardarei os meus caminhos para não
pecar com a minha língua; guardarei a minha boca com
uma mordaça, enquanto o ímpio estiver diante de
mim.
2 Com silêncio fiquei qual um mundo; calava-me
mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou.
3 Abraseou-se-me dentro de mim o meu coração;
enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então com a
minha língua, dizendo;
4 Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a
medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil
sou.
5 Eis que mediste os meus dias a palmos; o tempo da
minha vida é como que nada diante de ti. Na verdade,
todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente
vaidade.
6 Na verdade, todo homem anda qual uma sombra; na
verdade, em vão se inquieta, amontoa riquezas, e não
sabe quem as levará.
7 Agora, pois, Senhor, que espero eu? a minha
esperança está em ti.
8 Livra-me de todas as minhas transgressões; não me
faças o opróbrio do insensato.
9 Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és
que agiste,
10 Tira de sobre mim o teu flagelo; estou desfalecido
pelo golpe da tua mão.
22
11 Quando com repreensões castigas o homem por
causa da iniquidade, destróis, como traça, o que ele
tem de precioso; na verdade todo homem é vaidade.
12 Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus
ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas
lágrimas, porque sou para contigo como um estranho,
um peregrino como todos os meus pais.
13 Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento,
antes que me vá e não exista mais.
Davi era um grande rei. Fez proezas com o Senhor e
estendeu as fronteiras de Israel para além das nações
pagãs ímpias.
Todavia, sua alma era como a de uma criança na
presença do Senhor, não no que tange a fazer criancices,
mas como quem se colocava debaixo do cuidado de
Deus inteiramente, tal como um bebê no colo de sua
mãe.
Chega a comover o nosso coração tão grande
humildade, e ainda por cima na pessoa de um rei.
Seu coração era muito diferente do de muitos
governantes, que cegados pelo poder, esquecem até
mesmo que morrerão um dia, e por isso vivem na
prepotência e arrogância como se fossem viver para
sempre neste mundo, e que não terão que prestar
contas a ninguém de seus atos, mesmo ao Criador.
Contudo, como Davi era um rei segundo o coração de
Deus, recebeu dEle sabedoria para que seu coração não
se exaltasse, e sabia que a sua vida, apesar de ser rei,
seria breve neste mundo como a de qualquer outro
mortal, pois é tal como nuvem que passa.
Não era a velhice e nem o ter que partir deste mundo
que o amedrontava, mas o fato de não viver com isto em
23
perspectiva, de modo que viesse a perder o temor
devido ao Senhor.
Ele sabia que depois desta vida a sua única herança seria
a mesma que ele havia tido enquanto em vida, a saber,
o próprio Senhor.
Deus era a sua herança neste mundo e era a única
herança que ele desejava ter consigo quando daqui
partisse.
Então ele pediu ao Senhor que lhe desse reconhecer
sempre qual era a sua fragilidade.
Como era o próprio Senhor a sua única esperança, então
lhe pediu também que o livrasse de todas as suas
iniquidades, para que não se tornasse o opróbrio do
insensato.
Como agradava a Davi se rebaixar diante do Senhor, por
isso Ele o exaltou sobremaneira, porque a quem se
humilha, Ele dá mais graça.
Ele não queria viver pecando, nem naquelas coisas que
muitos consideram mínimas.
Ele não queria pecar por falta de prudência quando
estivesse na presença do ímpio, quando instigados por
eles podemos falar coisas que não convêm a santos, e o
dito da nossa boca passa a ser precipitado.
Por isso Davi decidiu colocar uma mordaça em sua boca
quando estivesse na presença do ímpio.
24
Salmo 40
Salmo de Davi
Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou
para mim e ouviu o meu clamor.
2 Também me tirou duma cova de destruição, dum
charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha,
firmou os meus passos.
3 Pôs na minha boca um cântico novo, um hino ao
nosso Deus; muitos verão isso e temerão, e confiarão
no Senhor.
4 Bem-aventurado o homem que faz do Senhor a sua
confiança, e que não atenta para os soberbos nem para
os apóstatas mentirosos.
5 Muitas são, Senhor, Deus meu, as maravilhas que
tens operado e os teus pensamentos para conosco;
ninguém há que se possa comparar a ti; eu quisera
anunciá-los, e manifestá-los, mas são mais do que se
podem contar.
6 Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos;
holocausto e oferta de expiação pelo pecado não
reclamaste.
7 Então disse eu: Eis aqui venho; no rolo do livro está
escrito a meu respeito:
8 Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim,
a tua lei está dentro do meu coração.
9 Tenho proclamado boas-novas de justiça na grande
congregação; eis que não retive os meus lábios;
10 Não ocultei dentro do meu coração a tua justiça;
apregoei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi
25
da grande congregação a tua benignidade e a tua
verdade.
11 Não detenhas para comigo, Senhor a tua
compaixão; a tua benignidade e a tua fidelidade
sempre me guardem.
12 Pois males sem número me têm rodeado; as minhas
iniquidades me têm alcançado, de modo que não posso
ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha
cabeça, pelo que desfalece o meu coração.
13 Digna-te, Senhor, livra-me; Senhor, apressa-te em
meu auxílio.
14 Sejam à uma envergonhados e confundidos os que
buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e
confundam-se os que me desejam o mal.
15 Desolados sejam em razão da sua afronta os que me
dizem: Ah! Ah!
16 Regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te
buscam. Digam continuamente os que amam a tua
salvação: Engrandecido seja o Senhor.
17 Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o
Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu
libertador; não te detenhas, ó Deus meu.
Davi era tipo de Jesus não somente quanto ao Seu
governo justo, como também por ser um rei justo que se
desviava do mal. Guardadas as devidas proporções, o
reino de Davi era um tipo do reino de Cristo, que não é
deste mundo.
Como o reino do Senhor não vem com aparência visível,
porque é eminentemente espiritual em nossos
corações, então, aqueles que andam por vista e não por
fé, jamais verão tal reino, e não poderão compreender
as realidades e virtudes espirituais que o compõem, que
26
são, no entanto, a coisa mais real e imutável para
aqueles que são participantes do reino, porque sabem
que tudo o mais passará, mas as realidades para as quais
as palavras de Cristo apontam, jamais passarão.
Por isso Davi podia ter tal convicção em relação às coisas
futuras, pertencentes ao reino do Senhor, porque estas
lhes eram reveladas por Deus ao seu espírito.
Por isso dispunha seu coração a se inclinar sempre para
as coisas de Deus, para a justiça, para a pureza, para a
bondade, para a santidade, porque bem sabia que não é
para o Senhor que pende a confiança dos arrogantes e
afeiçoados à mentira.
E ao se referir a estas coisas estava pensando na
maldade extrema que está apegada ao coração dos
perversos, e que por fim será a própria espada que os
destruirá no dia do grande Juízo de Deus.
Tão identificado estava em figura o reinado de Davi com
o de Cristo, pelo desígnio de Deus, que lhe foi dado ter
uma revelação específica neste salmo, como em outros,
acerca da total devoção de Jesus ao Pai, para fazer a Sua
vontade, quanto a reinar sobre o Seu povo, tal como
Davi fizera em seus dias:
Isto demonstra então claramente que esta questão de
ser um rei segundo o coração de Deus, tal como Davi e
Jesus, não é devida a meras atitudes externas que
expressem decisões justas, mas ter a lei de Deus escrita
no próprio coração, e se agradar em fazer a Sua vontade,
para proclamar as boas novas da salvação, que é
mediante a justificação pela graça, mediante a fé, à
grande congregação dos justos, ou seja, daqueles que
crerão na pregação destas boas novas para que sejam
salvos.
27
Jesus não tinha pecado, mas Davi estava sujeito ao
pecado e não escondeu este fato em seus salmos, mas
ele tinha por alvo o mesmo alvo de Cristo, que era o de
glorificar o nome de Deus, pelo seu testemunho de boas
obras de justiça diante dos homens, e por isso levava tão
a sério os seus pecados, porque não deixava que
criassem raízes e se alastrassem, antes mortificava a
todos eles, orando insistentemente ao Senhor que
fizesse nele tal trabalho de purificação, para que o Seu
nome fosse magnificado, pelo testemunho de sua
própria vida santificada por Deus, diante de todos os
homens.
28
Salmo 41
Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o
Senhor o livrará no dia do mal.
2 O Senhor o guardará, e o conservará em vida; será
abençoado na terra; tu, Senhor não o entregarás à
vontade dos seus inimigos.
3 O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe
amaciarás a cama na sua doença.
4 Disse eu da minha parte: Senhor, compadece-te de
mim, sara a minha alma, pois pequei contra ti.
5 Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo:
Quando morrerá ele, e perecerá o seu nome?
6 E, se algum deles vem ver-me, diz falsidades; no seu
coração amontoa a maldade; e quando ele sai, é disso
que fala.
7 Todos os que me odeiam cochicham entre si contra
mim; contra mim maquinam o mal, dizendo:
8 Alguma coisa ruim se lhe apega; e agora que está
deitado, não se levantará mais.
9 Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto
confiava, e que comia do meu pão, levantou contra
mim o seu calcanhar.
10 Mas tu, Senhor, compadece-te de mim e levanta-
me, para que eu lhes retribua.
11 Por isso conheço eu que te deleitas em mim, por
não triunfar de mim o meu inimigo
12 Quanto a mim, tu me sustentas na minha
integridade, e me colocas diante da tua face para
sempre.
29
13 Bendito seja o Senhor Deus de Israel de eternidade a
eternidade. Amém e amém.
Neste Salmo, Davi se encontrava enfermo, e mesmo na
fraqueza que é produzida pela doença, não se deixou
agradar pelas palavras vãs dos falsos consoladores,
porque mesmo em fraqueza a sua alma justa abominava
o pecado.
Agradava-lhe a companhia dos santos e dos justos.
Ele conhecia o que era a maldade no coração do homem,
porque mesmo aqueles que lhe visitavam, por motivo
de cumprimento de uma mera norma social, mas não
por um sincero desejo do coração, falavam mal dele
pelas costas, logo que saíam da sua presença, e se
regozijavam pelo fato de estar muito enfermo.
Possivelmente deveriam diagnosticar a causa da
enfermidade como sendo falta de fé, ou algum pecado
cometido por Davi, com o intuito de lhe infamar o nome.
Contudo, o Senhor assistia a Davi no seu leito de
enfermidade e lhe afofava a cama.
Mais do que ser sarado do corpo Davi aspirava ser
sarado em sua alma, sendo perdoado dos seus pecados,
para que os seus inimigos não tivessem motivo para
falar mal dele.
Mas quando foi que ele havia deixado de acudir ao
necessitado?
Então, necessitado que ele estava naquela hora, tinha a
certeza, de que o Senhor, cuja bondade era maior do
que a dele, lhe acudiria também, tal como ele havia
acudido a outros. E portanto, lhe protegeria e
preservaria a vida, contrariando as expectativas de seus
inimigos em relação a ele.
30
Eles o odiavam a ponto de rosnarem como cães, e
apostavam na sua morte.
Mesmo o seu amigo íntimo, em quem havia depositado
a sua confiança, e que comia à sua mesa, havia
levantado contra ele o seu calcanhar, tal como Judas
havia feito com nosso Senhor.
Homens cobiçosos passam por amigos até o dia em que
veem surgir alguma oportunidade para assumirem a
posição de honra daqueles que se fizeram “amigos” por
conveniência interesseira.
Davi estava bem instruído acerca disto e pôde se
acautelar deles nas orações que dirigia ao Senhor para
livrá-lo de tais homens; mas aqueles que são ingênuos,
crédulos, e que não podem discernir nem as próprias
faltas, bem como as más intenções de outros,
certamente haverão de cair nos laços que lhes forem
armados por tais ímpios, tal logo observem o menor
sinal de fraqueza neles.
31
Salmo 42
Salmo dos filhos de Coré
Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim
a minha alma anseia por ti, ó Deus!
2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;
quando entrarei e verei a face de Deus?
3 As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e
de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde
está o teu Deus?
4 Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me
de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão
à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma
multidão que festejava.
5 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda
o louvarei pela salvação que há na sua presença.
6 Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma está
abatida; porquanto me lembrarei de ti desde a terra do
Jordão, e desde o Hermom, desde o monte Mizar.
7 Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas
catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado
sobre mim.
8 Contudo, de dia o Senhor ordena a sua bondade, e de
noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da
minha vida.
9 A Deus, a minha rocha, digo: Por que te esqueceste
de mim? por que ando em pranto por causa da
opressão do inimigo?
32
10 Como com ferida mortal nos meus ossos me
afrontam os meus adversários, dizendo-me
continuamente: Onde está o teu Deus?
11 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda
o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus.
Este salmo mistura as alegrias das visitações da presença
de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições
e injúrias que sofremos neste mundo, por causa do
nosso amor a Ele.
Esta, é na verdade, a experiência de todos os que andam
de fato na presença de Deus.
Somente andando com Deus se pode entender porque o
salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas
ondas e vagas passaram sobre mim” referindo-se às
provações e tribulações, e logo após diz: “contudo, o
SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia,
e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus
da minha vida”; e ainda, imediatamente depois: “Digo a
Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por
que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos
meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os
meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu
Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma?
Por que te perturbas dentro de mim?”, e finalmente,
logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé:
“Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu
auxílio e Deus meu.”
Sem comunhão com Deus não se pode entender isto,
porque sua bênção não significa ausência de tribulações.
Ao contrário, importa que todo aquele que crê em Cristo
e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por
33
meio de muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo
Paulo, porque é com elas que a alma é quebrantada, o
ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à
de Cristo, para que se possa experimentar as doces
consolações da presença do Senhor, que são tão
vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas
são estas visitações de Deus, que não as trocaríamos por
nenhuma riqueza deste mundo, nem mesmo por todas
elas.
Por isso o salmista declara no início deste salmo que
havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor,
da mesma forma que a corça sedenta procura pelas
correntes das águas.
Porque a sua sede é do Deus vivo, e não propriamente
das bênçãos que Ele possa lhe dar, porque nem mesmo
estas podem saciar a sede da alma, senão somente a Sua
própria presença.
A alma não acha descanso ou sossego quando o Senhor
não manifesta a Sua presença nela.
Deste modo, o salmista sente saudades dos momentos
de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se
dirigiam para louvar ao Senhor na Sua casa.
Contudo, ele repreendia as tristezas da sua alma pela
ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que
haveria de estar de novo na Sua presença, porque Ele
não tem prazer em se manter ausente daqueles que O
buscam e O amam com um coração sincero, com fome e
sede de justiça, porque tem prazer em saciar aos tais,
conforme tem prometido fazer.
34
Salmo 43
Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa
contra uma nação ímpia; livra-me do homem
fraudulento e iníquo.
2 Pois tu és o Deus da minha fortaleza; por que me
rejeitaste? por que ando em pranto por causa da
opressão do inimigo?
3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem;
levem-me elas ao teu santo monte, e à tua habitação.
4 Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha
grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, ó Deus,
Deus meu.
5 Por que estás abatida, ó minha alma? e por que te
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda
o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus.
A alma justa e santa não pode achar conforto longe dos
louvores de Deus. Afinal, não foi criada para estar
debaixo de desassossegos, temores e inseguranças, mas
para estar quieta, tranquila e sossegada na fortaleza que
é o nosso Deus. Então o salmista expressa os
sentimentos de sua alma abatida pela ausência
temporária que estava sentindo da presença de Deus,
enquanto debaixo das opressões produzidas por seus
inimigos. Contudo, o salmista repreendeu as tristezas da
sua alma, porque tinha a convicção de que haveria de
estar de novo diante dEle, porque não tem prazer em se
manter ausente daqueles que O buscam com um
coração sincero.
35
Salmo 44
Salmo dos filhos de Coré
ÓDeus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, nossos
pais nos têm contado os feitos que realizaste em seus
dias, nos tempos da antiguidade.
2 Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles
plantaste; afligiste os povos, mas a eles estendes-te
largamente.
3 Pois não foi pela sua espada que conquistaram a
terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua
destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto te
agradaste deles.
4 Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena livramento para
Jacó.
5 Por ti derrubamos os nossos adversários; pelo teu
nome pisamos os que se levantam contra nós.
6 Pois não confio no meu arco, nem a minha espada me
pode salvar.
7 Mas tu nos salvaste dos nossos adversários, e
confundiste os que nos odeiam.
8 Em Deus é que nos temos gloriado o dia todo, e
sempre louvaremos o teu nome.
9 Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste, e não sais
com os nossos exércitos.
10 Fizeste-nos voltar as costas ao inimigo e aqueles que
nos odeiam nos despojam à vontade.
11 Entregaste-nos como ovelhas para alimento, e nos
espalhaste entre as nações.
36
12 Vendeste por nada o teu povo, e não lucraste com o
seu preço.
13 Puseste-nos por opróbrio aos nossos vizinhos, por
escárnio e zombaria àqueles que estão à roda de nós.
14 Puseste-nos por provérbio entre as nações, por
ludíbrio entre os povos.
15 A minha ignomínia está sempre diante de mim, e a
vergonha do meu rosto me cobre,
16 à voz daquele que afronta e blasfema, à vista do
inimigo e do vingador.
17 Tudo isto nos sobreveio; todavia não nos
esquecemos de ti, nem nos houvemos falsamente
contra o teu pacto.
18 O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos
passos se desviaram das tuas veredas,
19 para nos teres esmagado onde habitam os chacais, e
nos teres coberto de trevas profundas.
20 Se nos tivéssemos esquecido do nome do nosso
Deus, e estendido as nossas mãos para um deus
estranho,
21 porventura Deus não haveria de esquadrinhar isso?
pois ele conhece os segredos do coração.
22 Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia
todo; somos considerados como ovelhas para o
matadouro.
23 Desperta! por que dormes, Senhor? Acorda! não nos
rejeites para sempre.
24 Por que escondes o teu rosto, e te esqueces da
nossa tribulação e da nossa angústia?
25 Pois a nossa alma está abatida até o pó; o nosso
corpo pegado ao chão.
26 Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por tua
benignidade.
37
O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus
para o livramento do Seu povo, e para lhe dar vitória
sobre as nações inimigas, porque ele queria se fortalecer
para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse os
israelitas das presentes condições de opressão que eles
estavam sofrendo por parte do inimigo. Isto serve de
exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas
angústias presentes, deve trazer em recordação os
grandes feitos de Deus do passado, para que possa ter
esperança de que os terá também no presente.
O jugo pesado da opressão não pode pesar por muito
tempo naqueles que temem verdadeiramente ao
Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as
suas angústias. Ele o fará conforme as orações que Lhe
forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe livramento,
para que reconheçam que é pela força do Seu próprio
braço que eles são livrados e amparados, de modo que
o Seu grande nome seja glorificado por eles.
Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar
nossa mente e coração somente com os grandes feitos
que o Senhor tem operado nos nossos próprios dias,
mas também com aqueles que Ele operou no passado,
porque os fizera para o nosso conhecimento, de modo
que não apenas o glorifiquemos, como também a nossa
fé nEle possa ser aumentada.
38
Salmo 45
Salmo dos filhos de Coré
Omeu coração trasborda de boas palavras; dirijo os
meus versos ao rei; a minha língua é qual pena de um
hábil escriba.
2 Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; a graça
se derramou nos teus lábios; por isso Deus te abençoou
para sempre.
3 Cinge a tua espada à coxa, ó valente, na tua glória e
majestade.
4 E em tua majestade cavalga vitoriosamente pela
causa da verdade, da mansidão e da justiça, e a tua
destra te ensina coisas terríveis.
5 As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos
do rei; os povos caem debaixo de ti.
6 O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos
séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino.
7 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso
Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do
que a teus companheiros.
8 Todas as tuas vestes cheiram a mirra a aloés e a
cássia; dos palácios de marfim os instrumentos de
cordas e te alegram.
9 Filhas de reis estão entre as tuas ilustres donzelas; à
tua mão direita está a rainha, ornada de ouro de Ofir.
10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-
te do teu povo e da casa de teu pai.
11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu
senhor, presta-lhe, pois, homenagem.
39
12 A filha de Tiro estará ali com presentes; os ricos do
povo suplicarão o teu favor.
13 A filha do rei está esplendente lá dentro do palácio;
as suas vestes são entretecidas de ouro.
14 Em vestidos de cores brilhantes será conduzida ao
rei; as virgens, suas companheiras que a seguem, serão
trazidas à tua presença.
15 Com alegria e regozijo serão trazidas; elas entrarão
no palácio do rei.
16 Em lugar de teus pais estarão teus filhos; tu os farás
príncipes sobre toda a terra.
17 Farei lembrado o teu nome de geração em geração;
pelo que os povos te louvarão eternamente.
O autor de Hebreus (1.9) aplica este Salmo a nosso
Senhor Jesus Cristo, sendo entronizado pelo Pai com
uma unção que a nenhum outro foi concedida, e revela
que a majestade de Jesus Cristo exige que para se estar
debaixo do Seu governo, é necessário deixar a
dependência de pais e mães, tal qual os nubentes que
deixam o lar paterno, para se unirem em casamento.
Aqui está declarado de modo evidente o mesmo que
Jesus ensinou quanto a que o nosso amor por Ele deve
ser maior do que o amor que temos por pai, mãe ou
qualquer outro familiar, e até mesmo pela nossa própria
vida, para que sejamos achados dignos de sermos Seus
discípulos.
Ninguém e nada deve ser, portanto, colocado pelos seus
servos, em maior estima do que a que é devida a Ele.
Na verdade, não se trata de uma comparação de pessoas
ou coisas, mas de se ter um grande amor ao Senhor, à
sua majestade e formosura real.
40
Então o salmista declara que é ao Rei Jesus que está
dedicando esta composição que ele fizera em Sua honra.
O motivo deste grande Rei ser exaltado é declarado: por
Ele cavalgar prosperamente pela causa da verdade e da
justiça, e não para pilhar reinos para aumentar suas
riquezas terrenas, como costumam fazer os reis
terrenos; suas flechas não são disparadas para produzir
mortes, mas para submeter o coração dos Seus inimigos
em todos os povos, a Ele, porque o Seu trono é para todo
o sempre, porque Ele é Deus, e o cetro com que rege as
nações é de equidade, porque não faz acepção de
pessoas, porque ama a justiça e odeia a iniquidade.
É citada no salmo as bodas do Cordeiro, que é Rei, com
a Sua igreja, e estas serão um ato solene e de grande
honra ao qual estarão presentes as virgens vigilantes
que tinham óleo em suas lâmpadas para aguardarem o
Noivo.
As nações o servirão quando estabelecer o Seu trono de
justiça na terra, e lhe trarão riquezas e presentes, e
aqueles que estiverem a Seu lado reinarão juntamente
com Ele para sempre.
41
Salmo 46
Salmo dos filhos de Coré
Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem
presente na angústia.
2 Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude,
e ainda que os montes se projetem para o meio dos
mares;
3 ainda que as águas rujam e espumem, ainda que os
montes se abalem pela sua braveza.
4 Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus,
o lugar santo das moradas do Altíssimo.
5 Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a
ajudará desde o raiar da alva.
6 Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua
voz, e a terra se derrete.
7 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó
é o nosso refúgio.
8 Vinde contemplai as obras do Senhor, as desolações
que tem feito na terra.
9 Ele faz cessar as guerras até os confins da terra;
quebra o arco e corta a lança; queima os carros no
fogo.
10 Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado
entre as nações, sou exaltado na terra.
11 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó
é o nosso refúgio.
42
Este salmo contrasta a firmeza e solidez eterna do reino
de Deus, com a instabilidade dos reinos deste mundo, e
até mesmo da própria terra.
A firmeza das coisas terrenas, que são naturais e que se
desgastam pelo uso, não pode sequer ser comparada
com a cidade celestial cujo fundamento é Deus, sendo
Ele próprio o nosso refúgio e fortaleza, e socorro sempre
presente nas tribulações, daqueles que buscam refúgio
nEle.
O Senhor não somente protege dos perigos externos,
como também fortalece com graça o nosso coração,
para que não tema qualquer circunstância difícil.
E eleva o espírito às regiões celestiais onde há alegria e
paz, à visão do rio de água viva que está meio da cidade
onde habita o Altíssimo.
A morada de Deus não pode ser abalada, porque Ele está
no meio dela.
Quando o cristão está assentado nas regiões celestes
juntamente com Cristo, por uma real comunhão com
Ele, estando arrebatado em espírito para além dos
tumultos e incertezas deste mundo, ele fica aquietado
porque sabe que o Senhor está exaltado entre as nações
e em toda a terra, sendo Ele o auxílio, socorro e refúgio
do Seu povo.
43
Salmo 47
Salmo dos filhos de Coré
Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com
voz de júbilo.
2 Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei
sobre toda a terra.
3 Ele nos sujeitou povos e nações sob os nossos pés.
4 Escolheu para nós a nossa herança, a glória de Jacó, a
quem amou.
5 Deus subiu entre aplausos, o Senhor subiu ao som de
trombeta.
6 Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai
louvores ao nosso Rei, cantai louvores.
7 Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com
salmo.
8 Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre
o seu santo trono.
9 Os príncipes dos povos se reúnem como povo do
Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos
da terra; ele é sumamente exaltado.
Este salmo é uma profecia relativa ao reino futuro do
Messias sobre toda a terra, porque nunca se viu antes, e
não será visto até que Jesus volte, todas as nações
submetidas a Ele. O salmo prenuncia os louvores e
aclamações que ocorrerão por ocasião da entronização
de nosso Senhor diante de todas as nações, quando
estas se reunirão ao povo de Deus, para adorarem o Rei
de toda a terra no milênio.
44
Salmos 48 e 49
Salmos dos filhos de Coré
Salmo 48
1 Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na
cidade do nosso Deus, no seu monte santo.
2 De bela e alta situação, alegria de toda terra é o
monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei.
3 Nos palácios dela Deus se fez conhecer como alto
refúgio.
4 Pois eis que os reis conspiraram; juntos vieram
chegando.
5 Viram-na, e então ficaram maravilhados; ficaram
assombrados e se apressaram em fugir.
6 Aí se apoderou deles o tremor, sentiram dores como
as de uma parturiente.
7 Com um vento oriental quebraste as naus de Társis.
8 Como temos ouvido, assim vimos na cidade do
Senhor dos exércitos, na cidade do nosso Deus; Deus a
estabelece para sempre.
9 Temos meditado, ó Deus, na tua benignidade no
meio do teu templo.
10 Como é o teu nome, ó Deus, assim é o teu louvor até
os confins da terra; de retidão está cheia a tua destra.
11 Alegre-se o monte Sião, regozijem-se as filhas de
Judá, por causa dos teus juízos.
12 Dai voltas a Sião, ide ao redor dela; contai as suas
torres.
45
13 Notai bem os seus antemuros, percorrei os seus
palácios, para que tudo narreis à geração seguinte.
14 Porque este Deus é o nosso Deus para todo o
sempre; ele será nosso guia até a morte.
Salmo 49
1 Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos,
todos os habitantes do mundo,
2 quer humildes quer grandes, tanto ricos como
pobres.
3 A minha boca falará a sabedoria, e a meditação do
meu coração será de entendimento.
4 Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; decifrarei
o meu enigma ao som da harpa.
5 Por que temeria eu nos dias da adversidade, ao
cercar-me a iniquidade dos meus perseguidores,
6 dos que confiam nos seus bens e se gloriam na
multidão das suas riquezas?
7 Nenhum deles de modo algum pode remir a seu
irmão, nem por ele dar um resgate a Deus,
8 (pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que
os seus recursos não dariam;)
9 para que continuasse a viver para sempre, e não visse
a cova.
10 Sim, ele verá que até os sábios morrem, que
perecem igualmente o néscio e o estúpido, e deixam a
outros os seus bens.
11 O pensamento íntimo deles é que as suas casas são
perpétuas e as suas habitações de geração em geração;
dão às suas terras os seus próprios nomes.
46
12 Mas o homem, embora esteja em honra, não
permanece; antes é como os animais que perecem.
13 Este é o destino dos que confiam em si mesmos; o
fim dos que se satisfazem com as suas próprias
palavras.
14 Como ovelhas são arrebanhados ao Seol; a morte os
pastoreia; ao romper do dia os retos terão domínio
sobre eles; e a sua formosura se consumirá no Seol,
que lhes será por habitação.
15 Mas Deus remirá a minha alma do poder do Seol,
pois me receberá.
16 Não temas quando alguém se enriquece, quando a
glória da sua casa aumenta.
17 Pois, quando morrer, nada levará consigo; a sua
glória não descerá após ele.
18 Ainda que ele, enquanto vivo, se considera feliz e os
homens o louvam quando faz o bem a si mesmo,
19 ele irá ter com a geração de seus pais; eles nunca
mais verão a luz
20 Mas o homem, embora esteja em honra, não
permanece; antes é como os animais que perecem.
Estaremos comentando estes salmos em conjunto.
Quão duro e corrompido é o coração carnal para que
possa entender qual é a verdadeira natureza da glória.
O homem se aplica a fazer coisas grandiosas,
espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que
seu coração seja inteiramente dominado pela glória
destas coisas terrenas que ele fabrica pela sua própria
imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há
uma glória ao redor dele, criada pelo próprio Deus,
numa grandiosidade que não pode ser igualada, quer na
sua variedade e formas, quer na sua própria essência.
47
Veja as estrelas do céu. O próprio firmamento. As
árvores, suas flores e frutos. Os animais que enchem
tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em
sua grande variedade e preciosidade. Tão grandes e
numerosas são as obras de Deus que não podem ser
mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se
glorie nelas, porque afinal, não são obras de suas
próprias mãos. Então, endurecido para a beleza da
criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras
criadas pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de
idolatria. Da pior das idolatrias, porque está centrada no
culto de si mesmo, de sua própria inteligência,
capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o
grande alerta de Deus pronunciado pelo profeta em Sua
Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na
sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se
glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar,
glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu
sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na
terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.”
(Jer 9.23,24). Na verdade, o homem, em sua presente
condição de estar sujeito ao pecado, não tem nada do
que se gloriar em si mesmo, senão do que se
envergonhar e se humilhar diante do Senhor para que
seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo
preservado, e mantendo o seu coração na humildade,
possa fazer uma justa avaliação da verdadeira glória,
que se encontra somente no próprio Senhor. Como diz o
salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de
ser louvado na sua cidade, no seu monte belo e
sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o monte
Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber,
Jerusalém. É somente naquilo que se refere a Deus e que
48
pertence ao Seu culto, que devemos nos gloriar, assim
como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor,
não propriamente pelas edificações propriamente ditas,
mas por ser o lugar dedicado ao Seu serviço e adoração.
Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo que
o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos
nos gloriar somente nEle.
É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos,
quando maravilhados lhe falavam acerca da beleza do
templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído do
templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os
seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do
templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em
verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre
pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não
está interessado na beleza exterior das coisas que
fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso
corpo e vestimentas, senão no interior do nosso
coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando. É
neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira
glória, e não na das coisas que são passageiras, como por
exemplo a da própria flor, que tem a sua glória, mas não
devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que:
“Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória
como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;”
(I Pe 1.24).
Falando de flores, os homens costumam usá-las como
adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam
grandes somas de dinheiro, para se gloriarem não
propriamente no que fizeram, mas uns sobre os outros,
na superação que não tem limite de se desejar mostrar
que se é mais do que os outros, naquilo que realizam.
Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar,
49
porque as mesmas flores que adornam seus festejos
carnais, são também usadas para adornarem suas
sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso,
porque o seu coração não está ligado continuamente na
simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não
conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que
eles consideram grandes, e que aos olhos de Deus não
passam de abominação, por causa do desejo de glória
que há em seus corações pervertidos pela soberba.
A glória efêmera das torres, dos palácios, das naus
terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição
que virá da parte do Senhor sobre toda a terra.
Deveríamos ser então sensatos e não colocarmos o
nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que
são do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na
terra, haverão de ser abatidos pelo Senhor, e aos
mansos fará com que herdem a terra para sempre.
50
Salmo 50
OPoderoso, o Senhor Deus, fala e convoca a terra
desde o nascer do sol até o seu ocaso.
2 Desde Sião, a perfeição da formosura. Deus
resplandece.
3 O nosso Deus vem, e não guarda silêncio; diante dele
há um fogo devorador, e grande tormenta ao seu
redor.
4 Ele intima os altos céus e a terra, para o julgamento
do seu povo:
5 Congregai os meus santos, aqueles que fizeram
comigo um pacto por meio de sacrifícios.
6 Os céus proclamam a justiça dele, pois Deus mesmo é
Juiz.
7 Ouve, povo meu, e eu falarei; ouve, ó Israel, e eu te
protestarei: Eu sou Deus, o teu Deus.
8 Não te repreendo pelos teus sacrifícios, pois os teus
holocaustos estão de contínuo perante mim.
9 Da tua casa não aceitarei novilho, nem bodes dos
teus currais.
10 Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre
milhares de outeiros.
11 Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se
move no campo é meu.
12 Se eu tivesse fome, não to diria pois meu é o mundo
e a sua plenitude.
13 Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de
bodes?
14 Oferece a Deus por sacrifício ações de graças, e paga
ao Altíssimo os teus votos;
51
15 e invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu
me glorificarás.
16 Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitares os
meus estatutos, e em tomares o meu pacto na tua
boca,
17 visto que aborreces a correção, e lanças as minhas
palavras para trás de ti?
18 Quando vês um ladrão, tu te comprazes nele; e tens
parte com os adúlteros.
19 Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua trama
enganos.
20 Tu te sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho
de tua mãe.
21 Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que
na verdade eu era como tu; mas eu te arguirei, e tudo
te porei à vista.
22 Considerai pois isto, vós que vos esqueceis de Deus,
para que eu não vos despedace, sem que haja quem
vos livre.
23 Aquele que oferece por sacrifício ações de graças me
glorifica; e àquele que bem ordena o seu caminho eu
mostrarei a salvação de Deus.
É de fato admirável, que sem a iluminação do Espírito
Santo, o homem não pode entender esta carta escrita
por Deus para a humanidade que é a Bíblia.
São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz
contra aqueles que colocam sua confiança em ritos e
cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira vida
piedosa, de um coração transformado e santificado; e
todavia muitos não se dão por avisados e continuam
pensando que estão agradando a Deus por meramente
se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos.
52
O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um
conforme as Suas obras, quando julgar o mundo por
meio do padrão da vida de Jesus Cristo.
Não era, portanto, nos animais que eram oferecidos por
Israel no Velho Testamento, que eles deveriam fazer o
fim mesmo do ato de culto deles a Deus, porque todos
os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a
carne deles e nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício
no qual eles deveriam concentrar a atenção deles era
nas ações de graças e nos votos que tinham para com o
Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento
dos Seus mandamentos. Somente agindo assim,
invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam
livrados por Ele, e em consequência O glorificariam,
como é do Seu propósito em relação ao Seu povo. Mas
não deviam contar com isto, enquanto colocassem a
confiança deles meramente nos sacrifícios de animais
que Lhe ofereciam, e nos demais cultos externos
exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não
eram acompanhados por uma verdadeira piedade de
coração. Quanto aos ímpios então, nem sequer lhes
daria qualquer atenção quando repetiam os Seus
preceitos e afirmavam de boca que estavam aliançados
ao Senhor, porque aborreciam a disciplina e rejeitavam
as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no
adultério, eram maldizentes e difamadores, e como
poderiam esperar contar com o favor de Deus enquanto
permaneciam escravizados a estes pecados e a outros?
Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações
de graças, pelo reconhecimento de tudo o que o Senhor
tem feito, e que preparam o seu caminho para andarem
somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que
vissem a Sua salvação.
53
Salmo 51
Salmo de Davi quando Natã veio ter com ele depois de
ter pecado com Bate-Seba
Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua
benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo
a multidão das tuas misericórdias.
2 Lava-me completamente da minha iniquidade, e
purifica-me do meu pecado.
3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu
pecado está sempre diante de mim.
4 Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau
diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em
falares, e inculpável em julgares.
5 Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me
concedeu minha mãe.
6 Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-
me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha
alma.
7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e
ficarei mais alvo do que a neve.
8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem
os ossos que esmagaste.
9 Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas
as minhas iniquidades.
10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em
mim um espírito estável.
11 Não me lances fora da tua presença, e não retire de
mim o teu santo Espírito.
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12 Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me
com um espírito voluntário.
13 Então ensinarei aos transgressores os teus
caminhos, e pecadores se converterão a ti.
14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da
minha salvação, e a minha língua cantará alegremente
a tua justiça.
15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca
proclamará o teu louvor.
16 Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te
oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias.
17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito
quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não
desprezarás, ó Deus.
18 Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade;
edifica os muros de Jerusalém.
19 Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos
holocaustos e das ofertas queimadas; então serão
oferecidos novilhos sobre o teu altar.
Este salmo revela a profundidade da graça de Deus que
é oferecida para perdoar os nossos pecados, por mais
terríveis que eles sejam, tal como o de Davi, ao qual se
reporta.
A mão potente do Senhor que pesou sobre Davi por mais
de onze meses, desde o seu pecado de adultério com
Bate-Seba, se transformou em mão de graça
perdoadora, sem que Davi nada fizesse de meritório
para tal, senão somente reconhecer e confessar o seu
pecado, o que não havia feito naqueles onze meses, não
meramente porque estivesse endurecido, mas porque
não lhe foi concedido graça para arrependimento pelo
Senhor, para que ele pudesse sair de debaixo da tristeza
55
e opressão de espírito, em que se encontrava, as quais
ele descreve neste salmo.
Davi sabia que o adultério era pecado.
Que o que havia feito a Urias foi um ato covarde e
abominável de assassinato traiçoeiro.
Todavia, conseguiu crer que havia de fato sido perdoado
por Deus, conforme lhe havia declarado o profeta Natã,
depois dele ter confessado o seu pecado.
Temos que crer na bondade de Deus para perdoar os
nossos pecados, ainda que nossa alma tenha
permanecido em densas trevas por um longo período,
nos impedindo que pudéssemos dar um só passo
adiante na nossa comunhão com o Senhor.
A perseverança nos impõe que creiamos mesmo contra
a esperança. Porque é assim fazendo que se chega a
agradar a Deus, e que se move o Seu coração em nosso
favor.
Quando Natã disse a Davi que ele não morreria porque
a sua transgressão havia sido perdoada por Deus, apesar
das muitas terríveis consequências e sequelas que
seriam decorrentes da mesma, Davi não se limitou a
dizer a Deus muito obrigado.
Ou então a ficar simplesmente contente com a notícia
de que havia sido perdoado.
Ele necessitava sentir a restauração da sua comunhão
com o Senhor, pela testificação do Espírito Santo se
movendo no seu interior, e voltando a lhe dar a antiga
unção e alegria que ele havia perdido por causa do seu
pecado.
Então ele se pôs a clamar e a orar pedindo a Deus que
tivesse misericórdia dele, segundo a Sua benignidade e
segundo a multidão das Suas misericórdias, e que
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apagasse as suas transgressões, por meio da
manifestação de tal benignidade e misericórdia.
Ele pediu além disso que o Senhor o lavasse
completamente da sua iniquidade e que o purificasse do
seu pecado.
Porque ele conhecia agora a profundidade do seu
pecado, porque este estivera sempre diante dele, e foi
um pecado contra Deus, porque era uma ofensa contra
as suas leis relativas ao adultério e ao homicídio, de
modo que Deus seria justo no que julgasse contra ele,
que havia agido como um malfeitor.
Ele não tinha como se justificar diante do Senhor, e não
havia nada que pudesse desculpá-lo perante Ele, pelos
seus atos, porque como todo homem, era pecador,
concebido em pecado desde o ventre de sua mãe.
Mas Deus se compraz na verdade no íntimo e no
recôndito lhe fez conhecer a sabedoria, porque sondou
o seu coração e por meio do profeta Natã, revelou o que
ele havia ocultado a seus próprios olhos, pensando que
tinha direito de fazer tais coisas por causa da autoridade
que tinha como rei.
Ele sabia que não poderia ter alegria espiritual, e ser
livrado do sentimento de que seus ossos haviam sido
esmagados pelo juízo de Deus, caso Ele não o
purificasse, e o lavasse, para que ficasse mais alvo do
que a neve.
Por isso pediu ao Senhor que escondesse o rosto dos
seus pecados, não para não levá-los em conta, mas para
que os esquecesse através do perdão, que apagaria
todas as suas iniquidades, e criaria nele um coração
puro, e renovaria mais uma vez nele um espírito
inabalável, qual como o que possuía antes de ter
pecado.
57
Como ele havia perdido a alegria da salvação, por ter
entristecido (apagado) o Espírito Santo, se sentia
repelido da presença do Senhor, e por isso Lhe pediu
humildemente que restaurasse a sua vida espiritual,
criando nele o mesmo espírito voluntário com o qual
sempre Lhe havia servido.
Se o Senhor lhe concedesse esta bênção, então ele
poderia ensinar aos transgressores os caminhos de
Deus, e eles se converteriam a Ele, pelo próprio
testemunho de lhe ter sido perdoado tão horrível
pecado.
Não para incentivá-los a continuarem pecando
contando com o perdão, porque bem sabia que de Deus
não se zomba, e nem pode ser enganado, mas para que
soubessem que há disponibilidade de graça e perdão
suficientes para perdoar a todos os que buscarem viver
em retidão perante Ele.
Jesus pagou o preço altíssimo para o nosso perdão,
sofrendo a terrível pena em nosso lugar, quando morreu
na cruz.
Então, sucedeu a Davi, o mesmo que ocorreria com
Paulo no futuro, em seus argumentos para encorajar as
pessoas a crerem no perdão de Jesus, porque se ele,
perseguidor da Igreja, que era o principal dos pecadores,
foi perdoado por Ele, então isto comprovava que estava
disposto a perdoar a qualquer um que confiasse nEle
como Salvador.
Tal foi o horror gerado no espírito de Davi pelos juízos
que o Senhor havia trazido sobre ele, e agora o grande
constrangimento pelo Seu amor, que em vez de ordenar
a sua morte por apedrejamento, conforme exigia a Lei,
usando de graça para com ele, perdoando o seu pecado,
que Davi pediu que o Senhor o livrasse para o futuro de
58
cometer crimes de sangue, tal como fizera com Urias,
para que a sua língua pudesse exaltar a justiça do
Senhor, que tem uma demanda com os homicidas.
Davi orou também pedindo a Deus que abrisse de novo
os seus lábios para que o louvasse, compondo hinos de
louvor, conforme lhe eram dados pelo Espírito, porque
naqueles onze meses, a sua harpa ficou desafinada e os
seus lábios permaneceram emudecidos, porque o
Espírito já não se movia nele, lhe dando motivos para
louvar ao seu Deus.
Assim, ele ofereceu a Deus o seu espírito quebrantado e
o seu coração compungido e contrito, porque sabia que
não seriam desprezados pelo Senhor, como sucederia
com sacrifícios de animais que não fossem
acompanhados por tal quebrantamento de espírito.
Finalmente, ele lembra que não se tratava apenas de
restaurar a sua vida, mas a da própria nação de Israel
que era liderada por ele, e que certamente ficara
impactada negativamente por causa do desagrado de
Deus em relação ao seu pecado, e por isso lhe pediu que
fizesse bem a Sião, segundo a Sua boa vontade.
E uma vez restaurada a religião do coração tanto dele,
quanto da nação, então poderiam se empenhar no culto
cerimonial de apresentação de holocaustos e sacrifícios,
que seriam então, agora, agradáveis a Deus.
O Senhor conhecia perfeitamente a Davi.
Sabia quão grande e sincero era o seu desejo de agradá-
lo em tudo.
E viu como não podendo o diabo tentá-lo e fazê-lo cair
no orgulho pelas vitórias de Davi nas guerras; pela
grande prosperidade que o Senhor lhe havia dado em
todo o seu reino; aproveitou-se e levou vantagem sobre
ele quando o fez fixar seus olhos numa mulher que
59
tomava banho nua à frente da sacada do seu palácio
real.
O Senhor vira como por todos os meios o diabo tentara
a Davi por longos anos, especialmente nas grandes
perseguições e traições que recebeu da parte de Saul e
de muitos dos seus conterrâneos, e como Davi resistira
bravamente a tudo aquilo por amor do Seu nome, e para
que este fosse glorificado ainda que à custa dos grandes
sofrimentos que teve que suportar, então o Senhor se
compadeceu dele, e Seu coração se encheu de
misericórdia pelo Seu mavioso salmista, que agora se
encontrava esmagado debaixo do peso do seu pecado.
Por isso não pôde resistir por muito tempo e lhe enviou
o profeta Natã para que fosse restaurado e levantado
novamente por Ele.
O mesmo o Senhor Jesus tem feito com todos aqueles
do Seu povo que O amam sinceramente, e que desejam
servi-lo acima dos seus próprios interesses.
Ele os levantará se porventura caírem, porque se
compadecerá deles, tal como havia se compadecido de
Davi no passado.
60
Salmo 52
Salmo de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a
Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote
Aimeleque
Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso?
pois a bondade de Deus subsiste em todo o tempo.
2 A tua língua maquina planos de destruição, como
uma navalha afiada, ó tu que usas de dolo.
3 Tu amas antes o mal do que o bem, e o mentir do que
o falar a verdade.
4 Amas todas as palavras devoradoras, ó língua
fraudulenta.
5 Também Deus te esmagará para sempre; arrebatar-
te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á
da terra dos viventes.
6 Os justos o verão e temerão; e se rirão dele, dizendo:
7 Eis aqui o homem que não tomou a Deus por sua
fortaleza; antes confiava na abundância das suas
riquezas, e se fortalecia na sua perversidade.
8 Mas eu sou qual oliveira verde na casa de Deus;
confio na bondade de Deus para sempre e
eternamente.
9 Para sempre te louvarei, porque tu isso fizeste, e
proclamarei o teu nome, porque é bom diante de teus
santos.
Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel
22.
61
Davi se encontrava na caverna de Adulão, quando
deixou a cidade de Nobe, fugindo do rei Saul.
Saul estava acusando Davi injustamente de estar
conspirando contra a sua vida.
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque,
afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus
para ser rei sobre todo Israel.
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele
daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal,
e aquela acusação não era procedente de modo
nenhum.
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote
Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de
Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi
inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada
sabia sobre o assunto de que Davi estava fugindo do rei
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul
como uma mentira, em razão do grande ódio que ele
vinha alimentando contra Davi e considerou que todos
os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua
alegada conspiração contra ele.
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e
transgressão, pois não somente ordenou a morte de
todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e
cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo
escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de
Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também
matou à espada homens, mulheres, meninos e até
mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas
daquela cidade.
O rei que deveria cuidar da segurança do povo do
Senhor estava fazendo com grande injustiça,
exatamente o oposto do que exigia o seu cargo.
62
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus,
pois os que matam de tal modo injusto, pela espada
também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde
com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara
sobre ele.
Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as
palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira
confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer
juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida.
Nós vemos que a providência divina inspirou tais
palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue,
que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo,
mas a verdade que ele contém é uma verdade universal
e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa
ímpia, no caso, a de Doegue.
63
Salmo 53
Diz o néscio no seu coração: Não há Deus.
Corromperam-se e cometeram abominável iniquidade;
não há quem faça o bem.
2 Deus olha lá dos céus para os filhos dos homens, para
ver se há algum que tenha entendimento, que busque
a Deus.
3 Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram
imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um.
4 Acaso não têm conhecimento os que praticam a
iniquidade, os quais comem o meu povo como se
comessem pão, e não invocam a Deus?
5 Eis que eles se acham em grande pavor onde não há
motivo de pavor, porque Deus espalhará os ossos
daqueles que se acampam contra ti; tu os confundirás,
porque Deus os rejeitou.
6 Quem dera que de Sião viesse a salvação de Israel!
Quando Deus fizer voltar os cativos do seu povo, então
se regozijará Jacó e se alegrará Israel.
Este Salmo de Davi revela as opressões que existem na
terra por causa daqueles que não temem a Deus, porque
na sua insensatez produzida pelo endurecimento do
pecado, pensam que Deus não existe, e por isso se
corrompem e praticam a iniquidade, em tão grande
proporção que o salmista chega a afirmar que ao
contemplar a terra desde o céu, Deus não encontra um
só que faça o bem dentre estes que atacam o Seu povo.
64
Mas estes que a ninguém temem são tomados de
grande pavor porque o Senhor lhes sitia e os dispersa e
envergonha, porque os tem rejeitado.
Davi sabia que haverá uma restauração na terra, quando
o Messias estiver entronizado em Sião, quando todos os
obreiros da iniquidade serão exterminados por Deus, e
expulsos da terra, e por isso ele suspira neste salmo pela
chegada deste dia, quando Deus restaurará a sorte dos
justos, para que exultem e se alegrem na Sua presença.
65
Salmo 54
Salmo de Davi quando os zifeus o delataram a Saul
Salva-me, ó Deus, pelo teu nome, e faze-me justiça
pelo teu poder.
2 Ó Deus, ouve a minha oração, dá ouvidos às palavras
da minha boca.
3 Porque homens insolentes se levantam contra mim, e
violentos procuram a minha vida; eles não põem a
Deus diante de si.
4 Eis que Deus é o meu ajudador; o Senhor é quem
sustenta a minha vida.
5 Faze recair o mal sobre os meus inimigos; destrói-os
por tua verdade.
6 De livre vontade te oferecerei sacrifícios; louvarei o
teu nome, ó Senhor, porque é bom.
7 Porque tu me livraste de toda a angústia; e os meus
olhos viram a ruína dos meus inimigos.
Nós temos o registro de duas delações realizadas pelos
zifeus, a saber, em I Samuel 23.19-29, e em I Samuel
26.1:
“19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo:
Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em
Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de
Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme
todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo
nas mãos do rei.
66
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor,
porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o
lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque
me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos
os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para
mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser
que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos
os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de
Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto
de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo
isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no
deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de
Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus
homens da outra banda. E Davi se apressava para
escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus
homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os
prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-
te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao
encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se
chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de
En-Gedi.” (I Sm 23.19-29)
Quando Davi se encontrava numa região do deserto de
Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para
fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois
67
Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança
de Davi em Deus (v. 16) e lhe disse da sua convicção de
que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque
sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia
renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu
próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em
importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha
outros planos para ele, pois viria também a morrer
numa batalha contra os filisteus juntamente com seu
pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de
Saul quando assumisse o reino, e isto certamente seria
feito não porque Jônatas não reunisse qualidades
morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela
confusão política e a dificuldade que seria a de o povo
aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono,
ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de
acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse
divisões sérias e profundas que se prolongariam durante
todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências não
foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de
Israel, tanto que teve que reinar em princípio, somente
sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse
reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda
a nação.
Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de
Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus,
também denunciaram a presença de Davi entre eles a
Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi
e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se
deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado
68
com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede
ainda maior de sangue Saul insistiu na perseguição e foi
também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus
homens percorriam um lado do monte em que Davi se
encontrava, este com seus homens se deslocavam no
lado oposto do monte, de modo que um encontro entre
eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a
providência de Deus operando, pois certamente o
Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez
com que Saul tivesse que suspender e adiar a
perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi
chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra
hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor Davi
não tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para
uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto Davi estava sendo duramente espiado pelos
zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele
grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras deste
Salmo 54 e as do Salmo 63, nos quais vemos que a sua
confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto
homens perversos e interesseiros se levantavam contra
ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para
recompensar o justo e castigar os perversos.
Vejamos agora o texto de I Samuel 26.1-11:
“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não
está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte
de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife,
levando consigo três mil homens escolhidos de Israel,
para buscar a Davi no deserto de Zife.
69
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de
Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no
deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao
deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha
chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se
tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul
e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul
estava deitado dentro do acampamento, e o povo
estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a
Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou:
Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu
Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que
Saul estava deitado, dormindo dentro do
acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à
sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao
redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas
mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na
terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda
vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem
pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar
inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o
ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para
a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a
mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a
70
lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-
nos.” (I Sm 26.1-11)
Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na
ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe
que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui
de novo em perseguição a ele, pois foi incitado pelos
zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar
o local em que Davi se encontrava.
E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte
do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao
local onde estavam acampados e pegou a lança e a bilha
d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou
consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava
pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um
só golpe, porque aquilo, segundo ele, só poderia ser
obra de Deus, entregando Saul nas mãos de Davi.
Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar
pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da
Palavra, pois a nenhum israelita era dado por Deus agir
contra aqueles que Ele havia constituído como
autoridade sobre eles e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de
Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer
dos homens que haviam se juntado a ele, mas isto seria
feito por uma obra direta da parte de Deus, como foi o
caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural,
ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de
Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a grande
lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste
aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer
71
pessoa permanece debaixo da exclusiva autoridade de
Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido
de autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir
sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo qual
deve morrer.
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens
do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para
lhe facilitar as coisas para matá-lo, mas para livrar o
próprio Davi de ser surpreendido por eles, e também
para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria
à Sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso
vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros servos
de Deus são colocados à prova, para que se veja se
amarão os seus inimigos ou se procurarão se vingar
deles quando têm oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é um
mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o
vemos também no Antigo Testamento:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do
teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar
à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança,
eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Temos, portanto, esta ordem de não nos vingarmos, da
parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lo, não
dando o devido acatamento à Sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do homem
(Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua
própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus.
E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
72
Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o
próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito
sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e
também certamente prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19 que Saul
saiu em perseguição a Davi desta vez mais pela incitação
dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que
pela sua própria iniciativa, e por isso Davi impôs um
anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a
persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois
quando Satanás perde um instrumento de perseguição
ele tentará reavivá-la em outros.
Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é contra
carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar
com alguns de seus inimigos, que a intensidade da
perseguição será abrandada, pois isto não se encontra
na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos
demônios, que se levantam contra os servos de Deus,
ainda que os poderes das trevas estejam também
debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo
permitido atuar contra os santos senão naquilo que lhes
for permitido por Deus.
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por Davi
nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos
zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos
de Israel, da presença do Senhor, para que indo buscar
refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar
por força das circunstâncias os falsos deuses que eles
adoravam, de modo que não fosse acusado de
ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar
homenagens aos seus deuses.
73
É sob esta perspectiva que nós podemos entender o
significado das palavras que ele proferiu no verso 19:
“Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele
uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens,
malditos sejam perante o Senhor, pois eles me
expulsaram hoje para que eu não tenha parte na
herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros
deuses.”.
Como não era certamente o Senhor quem estava
incitando aquela perseguição, então esta somente
poderia estar sendo movida pelos seus inimigos.
74
Salmo 55
Salmo de Davi
Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração, e não te
escondas da minha súplica.
2 Atende-me, e ouve-me; agitado estou, e ando
perplexo,
3 por causa do clamor do inimigo e da opressão do
ímpio; pois lançam sobre mim iniquidade, e com furor
me perseguem.
4 O meu coração confrange-se dentro de mim, e
terrores de morte sobre mim caíram.
5 Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me
envolveu.
6 Pelo que eu disse: Ah! quem me dera asas como de
pomba! então voaria, e encontraria descanso.
7 Eis que eu fugiria para longe, e pernoitaria no
deserto.
8 Apressar-me-ia a abrigar-me da fúria do vento e da
tempestade.
9 Destrói, Senhor, confunde as suas línguas, pois vejo
violência e contenda na cidade.
10 Dia e noite andam ao redor dela, sobre os seus
muros; também iniquidade e malícia estão no meio
dela.
11 Há destruição lá dentro; opressão e fraude não se
apartam das suas ruas.
12 Pois não é um inimigo que me afronta, então eu
poderia suportá-lo; nem é um adversário que se exalta
contra mim, porque dele poderia esconder-me;
75
13 mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e
meu amigo íntimo.
14 Conservávamos juntos tranquilamente, e em
companhia andávamos na casa de Deus.
15 A morte os assalte, e vivos desçam ao Seol; porque
há maldade na sua morada, no seu próprio íntimo.
16 Mas eu invocarei a Deus, e o Senhor me salvará.
17 De tarde, de manhã e ao meio-dia me queixarei e
me lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.
18 Livrará em paz a minha vida, de modo que ninguém
se aproxime de mim; pois há muitos que contendem
contra mim.
19 Deus ouvirá; e lhes responderá aquele que está
entronizado desde a antiguidade; porque não há neles
nenhuma mudança, e tampouco temem a Deus.
20 Aquele meu companheiro estendeu a sua mão
contra os que tinham paz com ele; violou o seu pacto.
21 A sua fala era macia como manteiga, mas no seu
coração havia guerra; as suas palavras eram mais
brandas do que o azeite, todavia eram espadas
desembainhadas.
22 Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá;
nunca permitirá que o justo seja abalado.
23 Mas tu, ó Deus, os farás descer ao poço da perdição;
homens de sangue e de traição não viverão metade dos
seus dias; mas eu em ti confiarei.
É bem provável que Davi tenha escrito este salmo
quando Aitofel e seu filho Absalão conspiravam contra a
sua vida para lhe tomarem o reino.
Aitofel foi o Judas do Velho Testamento, que figurava
entre os principais conselheiros de Davi, e que
76
frequentemente ia com ele ao templo para acompanhar
as devoções de Davi ao Senhor.
No entanto, Aitofel era um hipócrita bem disfarçado, tal
como Judas, que na verdade odiava as devoções de Davi,
tanto quanto Judas odiava as do Senhor Jesus.
Então, logo se lhe deparara a oportunidade para
levantar o seu calcanhar contra Davi, entrou em
conspiração com Absalão contra ele, dando-lhe o
conselho de se deitar com as concubinas de seu pai, e
que lhe desse o comando das tropas para que
pessoalmente matasse Davi, que se encontrava exausto
com seus homens, na fuga que estava empreendendo
no deserto.
Conselho este que foi transtornado pela providência de
Deus, por intermédio de Husai, que aconselhou Absalão
a aguardar um pouco mais, e que ele próprio, e não
Aitofel comandasse o exército que perseguiria Davi.
Este contexto bem explica o lamento que é expressado
neste salmo, por um coração terrivelmente traído e
perseguido pela crueldade e falsidade dos homens.
As palavras de lisonja de Aitofel, que Davi chama de
palavras mais brandas que o azeite, procedentes de uma
boca mais macia que a manteiga, escondiam na verdade
a guerra que estava no seu coração contra ele e Israel, e
eram, portanto, como espadas desembainhadas prontas
a matar.
Então Davi estaria orando incessantemente a Deus
naquela hora de grande crise, fazendo-o pela manhã, ao
meio-dia e à tarde, para colocar diante dEle as suas
queixas e lamentações, porque sabia que o Senhor
ouviria a sua voz.
E a pior dor que Davi sentia naquela hora era a da traição
de Aitofel, a quem ele havia feito somente o bem, e a
77
quem confiara a intimidade da sua alma, e então
expressou sua tristeza e decepção com as seguintes
palavras:
“Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse,
eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta
contra mim, pois dele eu me esconderia; mas és tu,
homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo
amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e
íamos com a multidão à Casa de Deus.”.
Contudo não se deixaria vencer por tais sentimentos e
buscaria renovo de forças no Seu Deus, conforme o
expressou tanto no início deste salmo quanto na sua
parte final, na qual declarou:
“Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá;
jamais permitirá que o justo seja abalado. Tu, porém, ó
Deus, os precipitarás à cova profunda; homens
sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos
seus dias; eu, todavia, confiarei em ti.”.
78
Salmo 56
Salmo de Davi quando os filisteus o prenderam em
Gate
Compadece-te de mim, ó Deus, pois homens me
calcam aos pés e, pelejando, me aflingem o dia todo.
2 Os meus inimigos me calcam aos pés o dia todo, pois
são muitos os que insolentemente pelejam contra mim.
3 No dia em que eu temer, hei de confiar em ti.
4 Em Deus, cuja palavra eu louvo, em Deus ponho a
minha confiança e não terei medo;
5 Todos os dias torcem as minhas palavras; todos os
seus pensamentos são contra mim para o mal.
6 Ajuntam-se, escondem-se, espiam os meus passos,
como que aguardando a minha morte.
7 Escaparão eles por meio da sua iniquidade? Ó Deus,
derruba os povos na tua ira!
8 Tu contaste as minhas aflições; põe as minhas
lágrimas no teu odre; não estão elas no teu livro?
9 No dia em que eu te invocar retrocederão os meus
inimigos; isto eu sei, que Deus está comigo.
10 Em Deus, cuja palavra eu louvo, no Senhor, cuja
palavra eu louvo,
11 em Deus ponho a minha confiança, e não terei
medo; que me pode fazer o homem?
12 Sobre mim estão os votos que te fiz, ó Deus; eu te
oferecerei ações de graças;
13 pois tu livraste a minha alma da morte. Não livraste
também os meus pés de tropeçarem, para que eu ande
diante de Deus na luz da vida?
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  • 2. 2 Sumário Salmo 36 4 Salmo 37 7 Salmo 38 18 Salmo 39 21 Salmo 40 24 Salmo 41 28 Salmo 42 31 Salmo 43 34 Salmo 44 35 Salmo 45 38 Salmo 46 41 Salmo 47 43 Salmo 48 44 Salmo 49 44 Salmo 50 50 Salmo 51 53 Salmo 52 60 Salmo 53 63 Salmo 54 65 Salmo 55 74 Salmo 56 78 Salmo 57 81 Salmo 58 84 Salmo 59 87
  • 3. 3 Salmo 60 90 Salmo 61 93 Salmo 62 95 Salmo 63 98 Salmo 64 101 Salmo 65 104 Salmo 66 106 Salmo 67 109 Salmo 68 111 Salmo 69 115 Salmo 70 120
  • 4. 4 Salmo 36 Salmo de Davi Atransgressão fala ao ímpio no íntimo do seu coração; não há temor de Deus perante os seus olhos. 2 Porque em seus próprios olhos se lisonjeia, cuidando que a sua iniquidade não será descoberta e detestada. 3 As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou de ser prudente e de fazer o bem. 4 Maquina o mal na sua cama; põe-se em caminho que não é bom; não odeia o mal. 5 A tua benignidade, Senhor, chega até os céus, e a tua fidelidade até as nuvens. 6 A tua justiça é como os montes de Deus, os teus juízos são como o abismo profundo. Tu, Senhor, preservas os homens e os animais. 7 Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade! Os filhos dos homens se refugiam à sombra das tuas asas. 8 Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias; 9 pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz. 10 Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça aos retos de coração. 11 Não venha sobre mim o pé da soberba, e não me mova a mão dos ímpios. 12 Ali caídos estão os que praticavam a iniquidade; estão derrubados, e não se podem levantar.
  • 5. 5 A inclinação para o mal, ainda que dissimulada, pode dar aos que são dominados por ela, a falsa sensação de que jamais serão descobertos, nem odiados, porque o seu orgulho lhes engana, e não permite enxergarem como perversidade abominável a Deus, as obras que eles praticam, as quais preferem chamar de estratagemas políticos, lampejos de grande inteligência, de argúcia, e outros adjetivos pomposos com o fim de se auto justificarem, só que Deus sempre as chamará de falsidade e obra de iniquidade. É somente na luz do conhecimento do caráter de Deus e da Sua santa vontade, que se pode discernir a corrupção do coração, e além da luz da graça pô-la a descoberto, também tem o poder de extirpá-la e fazer com que em vez de trevas, tenhamos luz em nosso espírito e alma, que nos habilita a fazer o que é bom. Mas ao que foge da luz de Jesus, e ama as trevas da iniquidade, até mesmo quando se deita em sua cama, não concilia o sono porque fica maquinando a perversidade, e ao levantar não poderá andar por caminhos retos, e nem ter neles prazer, porque está apegado ao mal. Todavia, o Senhor permanece imutável em Seu caminho de fidelidade, benignidade e justiça, pelas quais a terra e o que ela contém são preservados. O salmista cita o cuidado do Senhor até mesmo pelos animais; e isto é um fato notório, que todo aquele que é sensível para o bem, tem um sentimento terno para com toda a criação e procura preservá-la e amá-la. Somente o Senhor é o manancial de toda a vida, e só é possível ver a luz das coisas espirituais andando na luz do Senhor, que é Ele próprio.
  • 6. 6 Lembremos que Jesus disse de Si mesmo, ser a luz do mundo. Por isso a benignidade e a justiça do Senhor só podem ser conhecidas pelos que são retos de coração, e que O conhecem por uma experiência pessoal e íntima com Ele. Todavia, os obreiros da iniquidade serão derrubados e destruídos, pelos juízos de Deus, e não lhes será dado poderem se levantar, porque isto não lhes será permitido pelo Senhor, que os sujeitará a uma condenação eterna, como retribuição a todo o mal que praticaram contra o próximo e contra a preservação das obras das Suas mãos, das quais o homem é apenas mordomo em sua breve passagem neste mundo.
  • 7. 7 Salmo 37 Salmo de Davi Não te enfades por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. 2 Pois em breve murcharão como a relva, e secarão como a erva verde. 3 Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança. 4 Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. 5 Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. 6 E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu direito como o meio-dia. 7 Descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa maus desígnios. 8 Deixa a ira, e abandona o furor; não te enfades, pois isso só leva à prática do mal. 9 Porque os malfeitores serão exterminados, mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. 10 Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; atentarás para o seu lugar, e ele ali não estará. 11 Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz. 12 O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes, 13 mas o Senhor se ri do ímpio, pois vê que vem chegando o seu dia.
  • 8. 8 14 Os ímpios têm puxado da espada e têm entesado o arco, para derrubarem o poder e necessitado, e para matarem os que são retos no seu caminho. 15 Mas a sua espada lhes entrará no coração, e os seus arcos quebrados. 16 Mais vale o pouco que o justo tem, do que as riquezas de muitos ímpios. 17 Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas o Senhor sustém os justos. 18 O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre. 19 Não serão envergonhados no dia do mal, e nos dias da fome se fartarão. 20 Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor serão como a beleza das pastagens; desaparecerão, em fumaça se desfarão. 21 O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo se compadece e dá. 22 Pois aqueles que são abençoados pelo Senhor herdarão a terra, mas aqueles que são por ele amaldiçoados serão exterminados. 23 Confirmados pelo Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; 24 ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão. 25 Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão. 26 Ele é sempre generoso, e empresta, e a sua descendência é abençoada. 27 Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada permanente.
  • 9. 9 28 Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os seus santos. Eles serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada. 29 Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre. 30 A boca do justo profere sabedoria; a sua língua fala o que é reto. 31 A lei do seu Deus está em seu coração; não resvalarão os seus passos. 32 O ímpio espreita o justo, e procura matá-lo. 33 O Senhor não o deixará nas mãos dele, nem o condenará quando for julgado. 34 Espera no Senhor, e segue o seu caminho, e ele te exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os ímpios forem exterminados. 35 Vi um ímpio cheio de prepotência, e a espalhar-se como a árvore verde na terra natal. 36 Mas eu passei, e ele já não era; procurei-o, mas não pôde ser encontrado. 37 Nota o homem íntegro, e considera o reto, porque há para o homem de paz um porvir feliz. 38 Quanto aos transgressores, serão à uma destruídos, e a posteridade dos ímpios será exterminada. 39 Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia. 40 E o Senhor os ajuda e os livra; ele os livra dos ímpios e os salva, porquanto nele se refugiam. Davi era de fato um homem sábio e um grande santo, conforme podemos ver das palavras proferidas por ele neste salmo. Ele não era meramente sábio segundo a letra das Escrituras, mas segundo tudo o que pôde aprender da
  • 10. 10 experiência prática da vida, em sua intima comunhão com o Senhor. Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus fez com que ele encontrasse a ambos, e que os percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio e mais santo. Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro sucesso não consiste na realização de nossos próprios projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas o deus deles, e que não colocaram, por conseguinte, a sua confiança inteiramente no Senhor. Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, riquezas e poder, e, no entanto, não permitiu que seu coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía, ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá- los, quando se anda segundo a carne e não segundo o espírito. Davi diz aos homens que façam o bem, e que se alimentem da verdade, agradando-se do Senhor, porque somente assim fazendo, o coração poderá achar a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os desejos que serão achados no coração serão somente os desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por Ele próprio. Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a bom termo no que se refere à nossa caminhada.
  • 11. 11 Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio- dia. Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as nossas causas, de modo que podemos achar nEle descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos que nos irritar com aqueles que prosperam em seus caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus intentos. O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de mente e de espírito em toda e qualquer circunstância. Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver impacientemente por coisa alguma, porque no fim o resultado nunca será bom. O cristão deve ter o temor do Senhor permanentemente, e não imitar as obras das trevas, porque Ele tem um juízo determinado contra todos os que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor herdarão a terra, conforme a Sua promessa. Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do Monte aos mansos? Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um dia em que julgará toda a carne. Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita paz juntamente com o Senhor e uns com os outros.
  • 12. 12 Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado somente caso se converta ao Senhor. Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do que a abundância de muitos ímpios, porque esta de nada lhes valerá no dia do Juízo. Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna. Deus havia feito promessas específicas em tal sentido para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade eterna para com eles, conforme podemos ver em outras passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo. Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o Senhor o sustentará. Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna. Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e os preservará para sempre, conforme tem prometido de não lançar fora a nenhum que venha a Ele. Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra, mas que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará no juízo. Davi estava falando de coisas escatológicas pelo Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando os ímpios fossem exterminados, e que eles serão
  • 13. 13 exterminados a um só tempo juntamente com a descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios quanto eles. Vale a pena inserir no comentário deste salmo a promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel 23.1-7: “1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do Deus de Jacó, o suave salmista de Israel. 2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha língua. 3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus, 4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do sol, a erva brota da terra. 5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo? 6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles; 7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no mesmo lugar.” As últimas palavras proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo em
  • 14. 14 todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1). Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2). Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15). Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4). Assim, é descrito o caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?”. Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”. Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
  • 15. 15 Na verdade, não há outra esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi. Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e educados na justiça por Deus. Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar (v. 6,7). As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará. Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios. Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que corre no sangue. Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3). Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena. O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a
  • 16. 16 Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações. Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar sobre a Sua casa. E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação. Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi. A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre. Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi: “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3). É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna. Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua. Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5). Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a
  • 17. 17 glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ela o será no céu. E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS. Por isso Jesus afirma que não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador. E se diz que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada por Deus. Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu. Ela está tão bem estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu. Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados são seguras, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé. A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura. É segura porque é suficiente. Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende.
  • 18. 18 Salmo 38 Salmo de Davi ÓSenhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor. 2 Porque as tuas flechas se cravaram em mim, e sobre mim a tua mão pesou. 3 Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua cólera; nem há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado. 4 Pois já as minhas iniquidades submergem a minha cabeça; como carga pesada excedem as minhas forças. 5 As minhas chagas se tornam fétidas e purulentas, por causa da minha loucura. 6 Estou encurvado, estou muito abatido, ando lamentando o dia todo. 7 Pois os meus lombos estão cheios de ardor, e não há coisa sã na minha carne. 8 Estou gasto e muito esmagado; dou rugidos por causa do desassossego do meu coração. 9 Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu suspirar não te é oculto. 10 O meu coração está agitado; a minha força me falta; quanto à luz dos meus olhos, até essa me deixou. 11 Os meus amigos e os meus companheiros afastaram-se da minha chaga; e os meus parentes se põem à distância. 12 Também os que buscam a minha vida me armam laços, e os que procuram o meu mal dizem coisas perniciosas,
  • 19. 19 13 Mas eu, como um surdo, não ouço; e sou qual um mudo que não abre a boca. 14 Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja boca há com que replicar. 15 Mas por ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus, responderás. 16 Rogo, pois: Ouve-me, para que eles não se regozijem sobre mim e não se engrandeçam contra mim quando resvala o meu pé. 17 Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está sempre comigo. 18 Confesso a minha iniquidade; entristeço-me por causa do meu pecado. 19 Mas os meus inimigos são cheios de vida e são fortes, e muitos são os que sem causa me odeiam. 20 Os que tornam o mal pelo bem são meus adversários, porque eu sigo o que é bom. 21 Não me desampares, ó Senhor; Deus meu, não te alongues de mim. 22 Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação. Este salmo revela o modo muito sério que Davi considerava o pecado. Não o reputava como coisa pequena, sem importância, como os que se desculpam por causa da fraqueza da natureza terrena. Ele não fazia isto porque bem conhecia qual é o poder muito superior da graça de Deus, ao poder do pecado, de forma que nunca se permitiria ficar vencido pelo pecado, sabendo que seria uma grande afronta para o Senhor rejeitar a concessão de tão grande graça que Ele mantém a disposição de todos os Seus filhos.
  • 20. 20 Isto era também grande em Davi, porque se podemos dizer dele que teve uma vida cheia de percalços, podemos também dizer que foi grande em se arrepender diante do Senhor. Com isto, ele achava até mesmo em suas fraquezas, oportunidade de exaltar e engrandecer o Senhor, por se diminuir a seus próprios olhos, e reconhecer a sua total pobreza de espírito, ao mesmo tempo que recorria à graça do Senhor para ser perdoado. É preciso aprendermos com ele nesta parte, porque muitos se deixam atormentar por seus pecados, não por causa de terem entristecido ao Senhor, mas porque se sentem desonrados por si mesmos, e se entregam a autocomiserações que são na verdade altas expressões de justiça própria e de incredulidade na bondade, misericórdia, amor e poder de Deus, em nos perdoar e aceitar. Davi, ao contrário disto, reconhecia a sua culpa, e tinha o Senhor sempre por justo em tudo o que lhe sucedia, no entanto, se entregava inteiramente ao Seu cuidado, sabendo que é muito bondoso e misericordioso, e isto é fé na prática, é honra na prática, e disto o Senhor se agrada.
  • 21. 21 Salmo 39 Salmo de Davi Disse eu: Guardarei os meus caminhos para não pecar com a minha língua; guardarei a minha boca com uma mordaça, enquanto o ímpio estiver diante de mim. 2 Com silêncio fiquei qual um mundo; calava-me mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou. 3 Abraseou-se-me dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava acendeu-se o fogo; então com a minha língua, dizendo; 4 Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou. 5 Eis que mediste os meus dias a palmos; o tempo da minha vida é como que nada diante de ti. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade. 6 Na verdade, todo homem anda qual uma sombra; na verdade, em vão se inquieta, amontoa riquezas, e não sabe quem as levará. 7 Agora, pois, Senhor, que espero eu? a minha esperança está em ti. 8 Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio do insensato. 9 Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és que agiste, 10 Tira de sobre mim o teu flagelo; estou desfalecido pelo golpe da tua mão.
  • 22. 22 11 Quando com repreensões castigas o homem por causa da iniquidade, destróis, como traça, o que ele tem de precioso; na verdade todo homem é vaidade. 12 Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas lágrimas, porque sou para contigo como um estranho, um peregrino como todos os meus pais. 13 Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome alento, antes que me vá e não exista mais. Davi era um grande rei. Fez proezas com o Senhor e estendeu as fronteiras de Israel para além das nações pagãs ímpias. Todavia, sua alma era como a de uma criança na presença do Senhor, não no que tange a fazer criancices, mas como quem se colocava debaixo do cuidado de Deus inteiramente, tal como um bebê no colo de sua mãe. Chega a comover o nosso coração tão grande humildade, e ainda por cima na pessoa de um rei. Seu coração era muito diferente do de muitos governantes, que cegados pelo poder, esquecem até mesmo que morrerão um dia, e por isso vivem na prepotência e arrogância como se fossem viver para sempre neste mundo, e que não terão que prestar contas a ninguém de seus atos, mesmo ao Criador. Contudo, como Davi era um rei segundo o coração de Deus, recebeu dEle sabedoria para que seu coração não se exaltasse, e sabia que a sua vida, apesar de ser rei, seria breve neste mundo como a de qualquer outro mortal, pois é tal como nuvem que passa. Não era a velhice e nem o ter que partir deste mundo que o amedrontava, mas o fato de não viver com isto em
  • 23. 23 perspectiva, de modo que viesse a perder o temor devido ao Senhor. Ele sabia que depois desta vida a sua única herança seria a mesma que ele havia tido enquanto em vida, a saber, o próprio Senhor. Deus era a sua herança neste mundo e era a única herança que ele desejava ter consigo quando daqui partisse. Então ele pediu ao Senhor que lhe desse reconhecer sempre qual era a sua fragilidade. Como era o próprio Senhor a sua única esperança, então lhe pediu também que o livrasse de todas as suas iniquidades, para que não se tornasse o opróbrio do insensato. Como agradava a Davi se rebaixar diante do Senhor, por isso Ele o exaltou sobremaneira, porque a quem se humilha, Ele dá mais graça. Ele não queria viver pecando, nem naquelas coisas que muitos consideram mínimas. Ele não queria pecar por falta de prudência quando estivesse na presença do ímpio, quando instigados por eles podemos falar coisas que não convêm a santos, e o dito da nossa boca passa a ser precipitado. Por isso Davi decidiu colocar uma mordaça em sua boca quando estivesse na presença do ímpio.
  • 24. 24 Salmo 40 Salmo de Davi Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor. 2 Também me tirou duma cova de destruição, dum charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. 3 Pôs na minha boca um cântico novo, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e temerão, e confiarão no Senhor. 4 Bem-aventurado o homem que faz do Senhor a sua confiança, e que não atenta para os soberbos nem para os apóstatas mentirosos. 5 Muitas são, Senhor, Deus meu, as maravilhas que tens operado e os teus pensamentos para conosco; ninguém há que se possa comparar a ti; eu quisera anunciá-los, e manifestá-los, mas são mais do que se podem contar. 6 Sacrifício e oferta não desejas; abriste-me os ouvidos; holocausto e oferta de expiação pelo pecado não reclamaste. 7 Então disse eu: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito a meu respeito: 8 Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração. 9 Tenho proclamado boas-novas de justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios; 10 Não ocultei dentro do meu coração a tua justiça; apregoei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi
  • 25. 25 da grande congregação a tua benignidade e a tua verdade. 11 Não detenhas para comigo, Senhor a tua compaixão; a tua benignidade e a tua fidelidade sempre me guardem. 12 Pois males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me têm alcançado, de modo que não posso ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça, pelo que desfalece o meu coração. 13 Digna-te, Senhor, livra-me; Senhor, apressa-te em meu auxílio. 14 Sejam à uma envergonhados e confundidos os que buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e confundam-se os que me desejam o mal. 15 Desolados sejam em razão da sua afronta os que me dizem: Ah! Ah! 16 Regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te buscam. Digam continuamente os que amam a tua salvação: Engrandecido seja o Senhor. 17 Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu. Davi era tipo de Jesus não somente quanto ao Seu governo justo, como também por ser um rei justo que se desviava do mal. Guardadas as devidas proporções, o reino de Davi era um tipo do reino de Cristo, que não é deste mundo. Como o reino do Senhor não vem com aparência visível, porque é eminentemente espiritual em nossos corações, então, aqueles que andam por vista e não por fé, jamais verão tal reino, e não poderão compreender as realidades e virtudes espirituais que o compõem, que
  • 26. 26 são, no entanto, a coisa mais real e imutável para aqueles que são participantes do reino, porque sabem que tudo o mais passará, mas as realidades para as quais as palavras de Cristo apontam, jamais passarão. Por isso Davi podia ter tal convicção em relação às coisas futuras, pertencentes ao reino do Senhor, porque estas lhes eram reveladas por Deus ao seu espírito. Por isso dispunha seu coração a se inclinar sempre para as coisas de Deus, para a justiça, para a pureza, para a bondade, para a santidade, porque bem sabia que não é para o Senhor que pende a confiança dos arrogantes e afeiçoados à mentira. E ao se referir a estas coisas estava pensando na maldade extrema que está apegada ao coração dos perversos, e que por fim será a própria espada que os destruirá no dia do grande Juízo de Deus. Tão identificado estava em figura o reinado de Davi com o de Cristo, pelo desígnio de Deus, que lhe foi dado ter uma revelação específica neste salmo, como em outros, acerca da total devoção de Jesus ao Pai, para fazer a Sua vontade, quanto a reinar sobre o Seu povo, tal como Davi fizera em seus dias: Isto demonstra então claramente que esta questão de ser um rei segundo o coração de Deus, tal como Davi e Jesus, não é devida a meras atitudes externas que expressem decisões justas, mas ter a lei de Deus escrita no próprio coração, e se agradar em fazer a Sua vontade, para proclamar as boas novas da salvação, que é mediante a justificação pela graça, mediante a fé, à grande congregação dos justos, ou seja, daqueles que crerão na pregação destas boas novas para que sejam salvos.
  • 27. 27 Jesus não tinha pecado, mas Davi estava sujeito ao pecado e não escondeu este fato em seus salmos, mas ele tinha por alvo o mesmo alvo de Cristo, que era o de glorificar o nome de Deus, pelo seu testemunho de boas obras de justiça diante dos homens, e por isso levava tão a sério os seus pecados, porque não deixava que criassem raízes e se alastrassem, antes mortificava a todos eles, orando insistentemente ao Senhor que fizesse nele tal trabalho de purificação, para que o Seu nome fosse magnificado, pelo testemunho de sua própria vida santificada por Deus, diante de todos os homens.
  • 28. 28 Salmo 41 Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. 2 O Senhor o guardará, e o conservará em vida; será abençoado na terra; tu, Senhor não o entregarás à vontade dos seus inimigos. 3 O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe amaciarás a cama na sua doença. 4 Disse eu da minha parte: Senhor, compadece-te de mim, sara a minha alma, pois pequei contra ti. 5 Os meus inimigos falam mal de mim, dizendo: Quando morrerá ele, e perecerá o seu nome? 6 E, se algum deles vem ver-me, diz falsidades; no seu coração amontoa a maldade; e quando ele sai, é disso que fala. 7 Todos os que me odeiam cochicham entre si contra mim; contra mim maquinam o mal, dizendo: 8 Alguma coisa ruim se lhe apega; e agora que está deitado, não se levantará mais. 9 Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto confiava, e que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar. 10 Mas tu, Senhor, compadece-te de mim e levanta- me, para que eu lhes retribua. 11 Por isso conheço eu que te deleitas em mim, por não triunfar de mim o meu inimigo 12 Quanto a mim, tu me sustentas na minha integridade, e me colocas diante da tua face para sempre.
  • 29. 29 13 Bendito seja o Senhor Deus de Israel de eternidade a eternidade. Amém e amém. Neste Salmo, Davi se encontrava enfermo, e mesmo na fraqueza que é produzida pela doença, não se deixou agradar pelas palavras vãs dos falsos consoladores, porque mesmo em fraqueza a sua alma justa abominava o pecado. Agradava-lhe a companhia dos santos e dos justos. Ele conhecia o que era a maldade no coração do homem, porque mesmo aqueles que lhe visitavam, por motivo de cumprimento de uma mera norma social, mas não por um sincero desejo do coração, falavam mal dele pelas costas, logo que saíam da sua presença, e se regozijavam pelo fato de estar muito enfermo. Possivelmente deveriam diagnosticar a causa da enfermidade como sendo falta de fé, ou algum pecado cometido por Davi, com o intuito de lhe infamar o nome. Contudo, o Senhor assistia a Davi no seu leito de enfermidade e lhe afofava a cama. Mais do que ser sarado do corpo Davi aspirava ser sarado em sua alma, sendo perdoado dos seus pecados, para que os seus inimigos não tivessem motivo para falar mal dele. Mas quando foi que ele havia deixado de acudir ao necessitado? Então, necessitado que ele estava naquela hora, tinha a certeza, de que o Senhor, cuja bondade era maior do que a dele, lhe acudiria também, tal como ele havia acudido a outros. E portanto, lhe protegeria e preservaria a vida, contrariando as expectativas de seus inimigos em relação a ele.
  • 30. 30 Eles o odiavam a ponto de rosnarem como cães, e apostavam na sua morte. Mesmo o seu amigo íntimo, em quem havia depositado a sua confiança, e que comia à sua mesa, havia levantado contra ele o seu calcanhar, tal como Judas havia feito com nosso Senhor. Homens cobiçosos passam por amigos até o dia em que veem surgir alguma oportunidade para assumirem a posição de honra daqueles que se fizeram “amigos” por conveniência interesseira. Davi estava bem instruído acerca disto e pôde se acautelar deles nas orações que dirigia ao Senhor para livrá-lo de tais homens; mas aqueles que são ingênuos, crédulos, e que não podem discernir nem as próprias faltas, bem como as más intenções de outros, certamente haverão de cair nos laços que lhes forem armados por tais ímpios, tal logo observem o menor sinal de fraqueza neles.
  • 31. 31 Salmo 42 Salmo dos filhos de Coré Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus? 3 As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde está o teu Deus? 4 Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma multidão que festejava. 5 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença. 6 Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma está abatida; porquanto me lembrarei de ti desde a terra do Jordão, e desde o Hermom, desde o monte Mizar. 7 Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim. 8 Contudo, de dia o Senhor ordena a sua bondade, e de noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da minha vida. 9 A Deus, a minha rocha, digo: Por que te esqueceste de mim? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo?
  • 32. 32 10 Como com ferida mortal nos meus ossos me afrontam os meus adversários, dizendo-me continuamente: Onde está o teu Deus? 11 Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. Este salmo mistura as alegrias das visitações da presença de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições e injúrias que sofremos neste mundo, por causa do nosso amor a Ele. Esta, é na verdade, a experiência de todos os que andam de fato na presença de Deus. Somente andando com Deus se pode entender porque o salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” referindo-se às provações e tribulações, e logo após diz: “contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida”; e ainda, imediatamente depois: “Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”, e finalmente, logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” Sem comunhão com Deus não se pode entender isto, porque sua bênção não significa ausência de tribulações. Ao contrário, importa que todo aquele que crê em Cristo e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por
  • 33. 33 meio de muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo Paulo, porque é com elas que a alma é quebrantada, o ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à de Cristo, para que se possa experimentar as doces consolações da presença do Senhor, que são tão vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas são estas visitações de Deus, que não as trocaríamos por nenhuma riqueza deste mundo, nem mesmo por todas elas. Por isso o salmista declara no início deste salmo que havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor, da mesma forma que a corça sedenta procura pelas correntes das águas. Porque a sua sede é do Deus vivo, e não propriamente das bênçãos que Ele possa lhe dar, porque nem mesmo estas podem saciar a sede da alma, senão somente a Sua própria presença. A alma não acha descanso ou sossego quando o Senhor não manifesta a Sua presença nela. Deste modo, o salmista sente saudades dos momentos de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se dirigiam para louvar ao Senhor na Sua casa. Contudo, ele repreendia as tristezas da sua alma pela ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo na Sua presença, porque Ele não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam e O amam com um coração sincero, com fome e sede de justiça, porque tem prazer em saciar aos tais, conforme tem prometido fazer.
  • 34. 34 Salmo 43 Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa contra uma nação ímpia; livra-me do homem fraudulento e iníquo. 2 Pois tu és o Deus da minha fortaleza; por que me rejeitaste? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo? 3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem; levem-me elas ao teu santo monte, e à tua habitação. 4 Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, ó Deus, Deus meu. 5 Por que estás abatida, ó minha alma? e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. A alma justa e santa não pode achar conforto longe dos louvores de Deus. Afinal, não foi criada para estar debaixo de desassossegos, temores e inseguranças, mas para estar quieta, tranquila e sossegada na fortaleza que é o nosso Deus. Então o salmista expressa os sentimentos de sua alma abatida pela ausência temporária que estava sentindo da presença de Deus, enquanto debaixo das opressões produzidas por seus inimigos. Contudo, o salmista repreendeu as tristezas da sua alma, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo diante dEle, porque não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam com um coração sincero.
  • 35. 35 Salmo 44 Salmo dos filhos de Coré ÓDeus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, nossos pais nos têm contado os feitos que realizaste em seus dias, nos tempos da antiguidade. 2 Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles plantaste; afligiste os povos, mas a eles estendes-te largamente. 3 Pois não foi pela sua espada que conquistaram a terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto te agradaste deles. 4 Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena livramento para Jacó. 5 Por ti derrubamos os nossos adversários; pelo teu nome pisamos os que se levantam contra nós. 6 Pois não confio no meu arco, nem a minha espada me pode salvar. 7 Mas tu nos salvaste dos nossos adversários, e confundiste os que nos odeiam. 8 Em Deus é que nos temos gloriado o dia todo, e sempre louvaremos o teu nome. 9 Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste, e não sais com os nossos exércitos. 10 Fizeste-nos voltar as costas ao inimigo e aqueles que nos odeiam nos despojam à vontade. 11 Entregaste-nos como ovelhas para alimento, e nos espalhaste entre as nações.
  • 36. 36 12 Vendeste por nada o teu povo, e não lucraste com o seu preço. 13 Puseste-nos por opróbrio aos nossos vizinhos, por escárnio e zombaria àqueles que estão à roda de nós. 14 Puseste-nos por provérbio entre as nações, por ludíbrio entre os povos. 15 A minha ignomínia está sempre diante de mim, e a vergonha do meu rosto me cobre, 16 à voz daquele que afronta e blasfema, à vista do inimigo e do vingador. 17 Tudo isto nos sobreveio; todavia não nos esquecemos de ti, nem nos houvemos falsamente contra o teu pacto. 18 O nosso coração não voltou atrás, nem os nossos passos se desviaram das tuas veredas, 19 para nos teres esmagado onde habitam os chacais, e nos teres coberto de trevas profundas. 20 Se nos tivéssemos esquecido do nome do nosso Deus, e estendido as nossas mãos para um deus estranho, 21 porventura Deus não haveria de esquadrinhar isso? pois ele conhece os segredos do coração. 22 Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; somos considerados como ovelhas para o matadouro. 23 Desperta! por que dormes, Senhor? Acorda! não nos rejeites para sempre. 24 Por que escondes o teu rosto, e te esqueces da nossa tribulação e da nossa angústia? 25 Pois a nossa alma está abatida até o pó; o nosso corpo pegado ao chão. 26 Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por tua benignidade.
  • 37. 37 O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus para o livramento do Seu povo, e para lhe dar vitória sobre as nações inimigas, porque ele queria se fortalecer para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse os israelitas das presentes condições de opressão que eles estavam sofrendo por parte do inimigo. Isto serve de exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas angústias presentes, deve trazer em recordação os grandes feitos de Deus do passado, para que possa ter esperança de que os terá também no presente. O jugo pesado da opressão não pode pesar por muito tempo naqueles que temem verdadeiramente ao Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as suas angústias. Ele o fará conforme as orações que Lhe forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe livramento, para que reconheçam que é pela força do Seu próprio braço que eles são livrados e amparados, de modo que o Seu grande nome seja glorificado por eles. Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar nossa mente e coração somente com os grandes feitos que o Senhor tem operado nos nossos próprios dias, mas também com aqueles que Ele operou no passado, porque os fizera para o nosso conhecimento, de modo que não apenas o glorifiquemos, como também a nossa fé nEle possa ser aumentada.
  • 38. 38 Salmo 45 Salmo dos filhos de Coré Omeu coração trasborda de boas palavras; dirijo os meus versos ao rei; a minha língua é qual pena de um hábil escriba. 2 Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; a graça se derramou nos teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre. 3 Cinge a tua espada à coxa, ó valente, na tua glória e majestade. 4 E em tua majestade cavalga vitoriosamente pela causa da verdade, da mansidão e da justiça, e a tua destra te ensina coisas terríveis. 5 As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos do rei; os povos caem debaixo de ti. 6 O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. 7 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros. 8 Todas as tuas vestes cheiram a mirra a aloés e a cássia; dos palácios de marfim os instrumentos de cordas e te alegram. 9 Filhas de reis estão entre as tuas ilustres donzelas; à tua mão direita está a rainha, ornada de ouro de Ofir. 10 Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece- te do teu povo e da casa de teu pai. 11 Então o rei se afeiçoará à tua formosura. Ele é teu senhor, presta-lhe, pois, homenagem.
  • 39. 39 12 A filha de Tiro estará ali com presentes; os ricos do povo suplicarão o teu favor. 13 A filha do rei está esplendente lá dentro do palácio; as suas vestes são entretecidas de ouro. 14 Em vestidos de cores brilhantes será conduzida ao rei; as virgens, suas companheiras que a seguem, serão trazidas à tua presença. 15 Com alegria e regozijo serão trazidas; elas entrarão no palácio do rei. 16 Em lugar de teus pais estarão teus filhos; tu os farás príncipes sobre toda a terra. 17 Farei lembrado o teu nome de geração em geração; pelo que os povos te louvarão eternamente. O autor de Hebreus (1.9) aplica este Salmo a nosso Senhor Jesus Cristo, sendo entronizado pelo Pai com uma unção que a nenhum outro foi concedida, e revela que a majestade de Jesus Cristo exige que para se estar debaixo do Seu governo, é necessário deixar a dependência de pais e mães, tal qual os nubentes que deixam o lar paterno, para se unirem em casamento. Aqui está declarado de modo evidente o mesmo que Jesus ensinou quanto a que o nosso amor por Ele deve ser maior do que o amor que temos por pai, mãe ou qualquer outro familiar, e até mesmo pela nossa própria vida, para que sejamos achados dignos de sermos Seus discípulos. Ninguém e nada deve ser, portanto, colocado pelos seus servos, em maior estima do que a que é devida a Ele. Na verdade, não se trata de uma comparação de pessoas ou coisas, mas de se ter um grande amor ao Senhor, à sua majestade e formosura real.
  • 40. 40 Então o salmista declara que é ao Rei Jesus que está dedicando esta composição que ele fizera em Sua honra. O motivo deste grande Rei ser exaltado é declarado: por Ele cavalgar prosperamente pela causa da verdade e da justiça, e não para pilhar reinos para aumentar suas riquezas terrenas, como costumam fazer os reis terrenos; suas flechas não são disparadas para produzir mortes, mas para submeter o coração dos Seus inimigos em todos os povos, a Ele, porque o Seu trono é para todo o sempre, porque Ele é Deus, e o cetro com que rege as nações é de equidade, porque não faz acepção de pessoas, porque ama a justiça e odeia a iniquidade. É citada no salmo as bodas do Cordeiro, que é Rei, com a Sua igreja, e estas serão um ato solene e de grande honra ao qual estarão presentes as virgens vigilantes que tinham óleo em suas lâmpadas para aguardarem o Noivo. As nações o servirão quando estabelecer o Seu trono de justiça na terra, e lhe trarão riquezas e presentes, e aqueles que estiverem a Seu lado reinarão juntamente com Ele para sempre.
  • 41. 41 Salmo 46 Salmo dos filhos de Coré Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. 2 Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se projetem para o meio dos mares; 3 ainda que as águas rujam e espumem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. 4 Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o lugar santo das moradas do Altíssimo. 5 Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a ajudará desde o raiar da alva. 6 Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua voz, e a terra se derrete. 7 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. 8 Vinde contemplai as obras do Senhor, as desolações que tem feito na terra. 9 Ele faz cessar as guerras até os confins da terra; quebra o arco e corta a lança; queima os carros no fogo. 10 Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. 11 O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
  • 42. 42 Este salmo contrasta a firmeza e solidez eterna do reino de Deus, com a instabilidade dos reinos deste mundo, e até mesmo da própria terra. A firmeza das coisas terrenas, que são naturais e que se desgastam pelo uso, não pode sequer ser comparada com a cidade celestial cujo fundamento é Deus, sendo Ele próprio o nosso refúgio e fortaleza, e socorro sempre presente nas tribulações, daqueles que buscam refúgio nEle. O Senhor não somente protege dos perigos externos, como também fortalece com graça o nosso coração, para que não tema qualquer circunstância difícil. E eleva o espírito às regiões celestiais onde há alegria e paz, à visão do rio de água viva que está meio da cidade onde habita o Altíssimo. A morada de Deus não pode ser abalada, porque Ele está no meio dela. Quando o cristão está assentado nas regiões celestes juntamente com Cristo, por uma real comunhão com Ele, estando arrebatado em espírito para além dos tumultos e incertezas deste mundo, ele fica aquietado porque sabe que o Senhor está exaltado entre as nações e em toda a terra, sendo Ele o auxílio, socorro e refúgio do Seu povo.
  • 43. 43 Salmo 47 Salmo dos filhos de Coré Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de júbilo. 2 Porque o Senhor Altíssimo é tremendo; é grande Rei sobre toda a terra. 3 Ele nos sujeitou povos e nações sob os nossos pés. 4 Escolheu para nós a nossa herança, a glória de Jacó, a quem amou. 5 Deus subiu entre aplausos, o Senhor subiu ao som de trombeta. 6 Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. 7 Pois Deus é o Rei de toda a terra; cantai louvores com salmo. 8 Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre o seu santo trono. 9 Os príncipes dos povos se reúnem como povo do Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos da terra; ele é sumamente exaltado. Este salmo é uma profecia relativa ao reino futuro do Messias sobre toda a terra, porque nunca se viu antes, e não será visto até que Jesus volte, todas as nações submetidas a Ele. O salmo prenuncia os louvores e aclamações que ocorrerão por ocasião da entronização de nosso Senhor diante de todas as nações, quando estas se reunirão ao povo de Deus, para adorarem o Rei de toda a terra no milênio.
  • 44. 44 Salmos 48 e 49 Salmos dos filhos de Coré Salmo 48 1 Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus, no seu monte santo. 2 De bela e alta situação, alegria de toda terra é o monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei. 3 Nos palácios dela Deus se fez conhecer como alto refúgio. 4 Pois eis que os reis conspiraram; juntos vieram chegando. 5 Viram-na, e então ficaram maravilhados; ficaram assombrados e se apressaram em fugir. 6 Aí se apoderou deles o tremor, sentiram dores como as de uma parturiente. 7 Com um vento oriental quebraste as naus de Társis. 8 Como temos ouvido, assim vimos na cidade do Senhor dos exércitos, na cidade do nosso Deus; Deus a estabelece para sempre. 9 Temos meditado, ó Deus, na tua benignidade no meio do teu templo. 10 Como é o teu nome, ó Deus, assim é o teu louvor até os confins da terra; de retidão está cheia a tua destra. 11 Alegre-se o monte Sião, regozijem-se as filhas de Judá, por causa dos teus juízos. 12 Dai voltas a Sião, ide ao redor dela; contai as suas torres.
  • 45. 45 13 Notai bem os seus antemuros, percorrei os seus palácios, para que tudo narreis à geração seguinte. 14 Porque este Deus é o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até a morte. Salmo 49 1 Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, todos os habitantes do mundo, 2 quer humildes quer grandes, tanto ricos como pobres. 3 A minha boca falará a sabedoria, e a meditação do meu coração será de entendimento. 4 Inclinarei os meus ouvidos a uma parábola; decifrarei o meu enigma ao som da harpa. 5 Por que temeria eu nos dias da adversidade, ao cercar-me a iniquidade dos meus perseguidores, 6 dos que confiam nos seus bens e se gloriam na multidão das suas riquezas? 7 Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, nem por ele dar um resgate a Deus, 8 (pois a redenção da sua vida é caríssima, de sorte que os seus recursos não dariam;) 9 para que continuasse a viver para sempre, e não visse a cova. 10 Sim, ele verá que até os sábios morrem, que perecem igualmente o néscio e o estúpido, e deixam a outros os seus bens. 11 O pensamento íntimo deles é que as suas casas são perpétuas e as suas habitações de geração em geração; dão às suas terras os seus próprios nomes.
  • 46. 46 12 Mas o homem, embora esteja em honra, não permanece; antes é como os animais que perecem. 13 Este é o destino dos que confiam em si mesmos; o fim dos que se satisfazem com as suas próprias palavras. 14 Como ovelhas são arrebanhados ao Seol; a morte os pastoreia; ao romper do dia os retos terão domínio sobre eles; e a sua formosura se consumirá no Seol, que lhes será por habitação. 15 Mas Deus remirá a minha alma do poder do Seol, pois me receberá. 16 Não temas quando alguém se enriquece, quando a glória da sua casa aumenta. 17 Pois, quando morrer, nada levará consigo; a sua glória não descerá após ele. 18 Ainda que ele, enquanto vivo, se considera feliz e os homens o louvam quando faz o bem a si mesmo, 19 ele irá ter com a geração de seus pais; eles nunca mais verão a luz 20 Mas o homem, embora esteja em honra, não permanece; antes é como os animais que perecem. Estaremos comentando estes salmos em conjunto. Quão duro e corrompido é o coração carnal para que possa entender qual é a verdadeira natureza da glória. O homem se aplica a fazer coisas grandiosas, espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que seu coração seja inteiramente dominado pela glória destas coisas terrenas que ele fabrica pela sua própria imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há uma glória ao redor dele, criada pelo próprio Deus, numa grandiosidade que não pode ser igualada, quer na sua variedade e formas, quer na sua própria essência.
  • 47. 47 Veja as estrelas do céu. O próprio firmamento. As árvores, suas flores e frutos. Os animais que enchem tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em sua grande variedade e preciosidade. Tão grandes e numerosas são as obras de Deus que não podem ser mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se glorie nelas, porque afinal, não são obras de suas próprias mãos. Então, endurecido para a beleza da criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras criadas pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de idolatria. Da pior das idolatrias, porque está centrada no culto de si mesmo, de sua própria inteligência, capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o grande alerta de Deus pronunciado pelo profeta em Sua Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jer 9.23,24). Na verdade, o homem, em sua presente condição de estar sujeito ao pecado, não tem nada do que se gloriar em si mesmo, senão do que se envergonhar e se humilhar diante do Senhor para que seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo preservado, e mantendo o seu coração na humildade, possa fazer uma justa avaliação da verdadeira glória, que se encontra somente no próprio Senhor. Como diz o salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de ser louvado na sua cidade, no seu monte belo e sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o monte Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber, Jerusalém. É somente naquilo que se refere a Deus e que
  • 48. 48 pertence ao Seu culto, que devemos nos gloriar, assim como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor, não propriamente pelas edificações propriamente ditas, mas por ser o lugar dedicado ao Seu serviço e adoração. Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo que o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos nos gloriar somente nEle. É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos, quando maravilhados lhe falavam acerca da beleza do templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não está interessado na beleza exterior das coisas que fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso corpo e vestimentas, senão no interior do nosso coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando. É neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira glória, e não na das coisas que são passageiras, como por exemplo a da própria flor, que tem a sua glória, mas não devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que: “Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;” (I Pe 1.24). Falando de flores, os homens costumam usá-las como adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam grandes somas de dinheiro, para se gloriarem não propriamente no que fizeram, mas uns sobre os outros, na superação que não tem limite de se desejar mostrar que se é mais do que os outros, naquilo que realizam. Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar,
  • 49. 49 porque as mesmas flores que adornam seus festejos carnais, são também usadas para adornarem suas sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso, porque o seu coração não está ligado continuamente na simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que eles consideram grandes, e que aos olhos de Deus não passam de abominação, por causa do desejo de glória que há em seus corações pervertidos pela soberba. A glória efêmera das torres, dos palácios, das naus terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição que virá da parte do Senhor sobre toda a terra. Deveríamos ser então sensatos e não colocarmos o nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que são do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na terra, haverão de ser abatidos pelo Senhor, e aos mansos fará com que herdem a terra para sempre.
  • 50. 50 Salmo 50 OPoderoso, o Senhor Deus, fala e convoca a terra desde o nascer do sol até o seu ocaso. 2 Desde Sião, a perfeição da formosura. Deus resplandece. 3 O nosso Deus vem, e não guarda silêncio; diante dele há um fogo devorador, e grande tormenta ao seu redor. 4 Ele intima os altos céus e a terra, para o julgamento do seu povo: 5 Congregai os meus santos, aqueles que fizeram comigo um pacto por meio de sacrifícios. 6 Os céus proclamam a justiça dele, pois Deus mesmo é Juiz. 7 Ouve, povo meu, e eu falarei; ouve, ó Israel, e eu te protestarei: Eu sou Deus, o teu Deus. 8 Não te repreendo pelos teus sacrifícios, pois os teus holocaustos estão de contínuo perante mim. 9 Da tua casa não aceitarei novilho, nem bodes dos teus currais. 10 Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de outeiros. 11 Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move no campo é meu. 12 Se eu tivesse fome, não to diria pois meu é o mundo e a sua plenitude. 13 Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes? 14 Oferece a Deus por sacrifício ações de graças, e paga ao Altíssimo os teus votos;
  • 51. 51 15 e invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. 16 Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitares os meus estatutos, e em tomares o meu pacto na tua boca, 17 visto que aborreces a correção, e lanças as minhas palavras para trás de ti? 18 Quando vês um ladrão, tu te comprazes nele; e tens parte com os adúlteros. 19 Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua trama enganos. 20 Tu te sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho de tua mãe. 21 Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que na verdade eu era como tu; mas eu te arguirei, e tudo te porei à vista. 22 Considerai pois isto, vós que vos esqueceis de Deus, para que eu não vos despedace, sem que haja quem vos livre. 23 Aquele que oferece por sacrifício ações de graças me glorifica; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus. É de fato admirável, que sem a iluminação do Espírito Santo, o homem não pode entender esta carta escrita por Deus para a humanidade que é a Bíblia. São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz contra aqueles que colocam sua confiança em ritos e cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira vida piedosa, de um coração transformado e santificado; e todavia muitos não se dão por avisados e continuam pensando que estão agradando a Deus por meramente se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos.
  • 52. 52 O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um conforme as Suas obras, quando julgar o mundo por meio do padrão da vida de Jesus Cristo. Não era, portanto, nos animais que eram oferecidos por Israel no Velho Testamento, que eles deveriam fazer o fim mesmo do ato de culto deles a Deus, porque todos os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a carne deles e nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício no qual eles deveriam concentrar a atenção deles era nas ações de graças e nos votos que tinham para com o Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento dos Seus mandamentos. Somente agindo assim, invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam livrados por Ele, e em consequência O glorificariam, como é do Seu propósito em relação ao Seu povo. Mas não deviam contar com isto, enquanto colocassem a confiança deles meramente nos sacrifícios de animais que Lhe ofereciam, e nos demais cultos externos exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não eram acompanhados por uma verdadeira piedade de coração. Quanto aos ímpios então, nem sequer lhes daria qualquer atenção quando repetiam os Seus preceitos e afirmavam de boca que estavam aliançados ao Senhor, porque aborreciam a disciplina e rejeitavam as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no adultério, eram maldizentes e difamadores, e como poderiam esperar contar com o favor de Deus enquanto permaneciam escravizados a estes pecados e a outros? Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações de graças, pelo reconhecimento de tudo o que o Senhor tem feito, e que preparam o seu caminho para andarem somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que vissem a Sua salvação.
  • 53. 53 Salmo 51 Salmo de Davi quando Natã veio ter com ele depois de ter pecado com Bate-Seba Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. 2 Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. 3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. 4 Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares. 5 Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe. 6 Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze- me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma. 7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. 8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste. 9 Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. 10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável. 11 Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu santo Espírito.
  • 54. 54 12 Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. 13 Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti. 14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua cantará alegremente a tua justiça. 15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proclamará o teu louvor. 16 Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias. 17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. 18 Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. 19 Então te agradarás de sacrifícios de justiça dos holocaustos e das ofertas queimadas; então serão oferecidos novilhos sobre o teu altar. Este salmo revela a profundidade da graça de Deus que é oferecida para perdoar os nossos pecados, por mais terríveis que eles sejam, tal como o de Davi, ao qual se reporta. A mão potente do Senhor que pesou sobre Davi por mais de onze meses, desde o seu pecado de adultério com Bate-Seba, se transformou em mão de graça perdoadora, sem que Davi nada fizesse de meritório para tal, senão somente reconhecer e confessar o seu pecado, o que não havia feito naqueles onze meses, não meramente porque estivesse endurecido, mas porque não lhe foi concedido graça para arrependimento pelo Senhor, para que ele pudesse sair de debaixo da tristeza
  • 55. 55 e opressão de espírito, em que se encontrava, as quais ele descreve neste salmo. Davi sabia que o adultério era pecado. Que o que havia feito a Urias foi um ato covarde e abominável de assassinato traiçoeiro. Todavia, conseguiu crer que havia de fato sido perdoado por Deus, conforme lhe havia declarado o profeta Natã, depois dele ter confessado o seu pecado. Temos que crer na bondade de Deus para perdoar os nossos pecados, ainda que nossa alma tenha permanecido em densas trevas por um longo período, nos impedindo que pudéssemos dar um só passo adiante na nossa comunhão com o Senhor. A perseverança nos impõe que creiamos mesmo contra a esperança. Porque é assim fazendo que se chega a agradar a Deus, e que se move o Seu coração em nosso favor. Quando Natã disse a Davi que ele não morreria porque a sua transgressão havia sido perdoada por Deus, apesar das muitas terríveis consequências e sequelas que seriam decorrentes da mesma, Davi não se limitou a dizer a Deus muito obrigado. Ou então a ficar simplesmente contente com a notícia de que havia sido perdoado. Ele necessitava sentir a restauração da sua comunhão com o Senhor, pela testificação do Espírito Santo se movendo no seu interior, e voltando a lhe dar a antiga unção e alegria que ele havia perdido por causa do seu pecado. Então ele se pôs a clamar e a orar pedindo a Deus que tivesse misericórdia dele, segundo a Sua benignidade e segundo a multidão das Suas misericórdias, e que
  • 56. 56 apagasse as suas transgressões, por meio da manifestação de tal benignidade e misericórdia. Ele pediu além disso que o Senhor o lavasse completamente da sua iniquidade e que o purificasse do seu pecado. Porque ele conhecia agora a profundidade do seu pecado, porque este estivera sempre diante dele, e foi um pecado contra Deus, porque era uma ofensa contra as suas leis relativas ao adultério e ao homicídio, de modo que Deus seria justo no que julgasse contra ele, que havia agido como um malfeitor. Ele não tinha como se justificar diante do Senhor, e não havia nada que pudesse desculpá-lo perante Ele, pelos seus atos, porque como todo homem, era pecador, concebido em pecado desde o ventre de sua mãe. Mas Deus se compraz na verdade no íntimo e no recôndito lhe fez conhecer a sabedoria, porque sondou o seu coração e por meio do profeta Natã, revelou o que ele havia ocultado a seus próprios olhos, pensando que tinha direito de fazer tais coisas por causa da autoridade que tinha como rei. Ele sabia que não poderia ter alegria espiritual, e ser livrado do sentimento de que seus ossos haviam sido esmagados pelo juízo de Deus, caso Ele não o purificasse, e o lavasse, para que ficasse mais alvo do que a neve. Por isso pediu ao Senhor que escondesse o rosto dos seus pecados, não para não levá-los em conta, mas para que os esquecesse através do perdão, que apagaria todas as suas iniquidades, e criaria nele um coração puro, e renovaria mais uma vez nele um espírito inabalável, qual como o que possuía antes de ter pecado.
  • 57. 57 Como ele havia perdido a alegria da salvação, por ter entristecido (apagado) o Espírito Santo, se sentia repelido da presença do Senhor, e por isso Lhe pediu humildemente que restaurasse a sua vida espiritual, criando nele o mesmo espírito voluntário com o qual sempre Lhe havia servido. Se o Senhor lhe concedesse esta bênção, então ele poderia ensinar aos transgressores os caminhos de Deus, e eles se converteriam a Ele, pelo próprio testemunho de lhe ter sido perdoado tão horrível pecado. Não para incentivá-los a continuarem pecando contando com o perdão, porque bem sabia que de Deus não se zomba, e nem pode ser enganado, mas para que soubessem que há disponibilidade de graça e perdão suficientes para perdoar a todos os que buscarem viver em retidão perante Ele. Jesus pagou o preço altíssimo para o nosso perdão, sofrendo a terrível pena em nosso lugar, quando morreu na cruz. Então, sucedeu a Davi, o mesmo que ocorreria com Paulo no futuro, em seus argumentos para encorajar as pessoas a crerem no perdão de Jesus, porque se ele, perseguidor da Igreja, que era o principal dos pecadores, foi perdoado por Ele, então isto comprovava que estava disposto a perdoar a qualquer um que confiasse nEle como Salvador. Tal foi o horror gerado no espírito de Davi pelos juízos que o Senhor havia trazido sobre ele, e agora o grande constrangimento pelo Seu amor, que em vez de ordenar a sua morte por apedrejamento, conforme exigia a Lei, usando de graça para com ele, perdoando o seu pecado, que Davi pediu que o Senhor o livrasse para o futuro de
  • 58. 58 cometer crimes de sangue, tal como fizera com Urias, para que a sua língua pudesse exaltar a justiça do Senhor, que tem uma demanda com os homicidas. Davi orou também pedindo a Deus que abrisse de novo os seus lábios para que o louvasse, compondo hinos de louvor, conforme lhe eram dados pelo Espírito, porque naqueles onze meses, a sua harpa ficou desafinada e os seus lábios permaneceram emudecidos, porque o Espírito já não se movia nele, lhe dando motivos para louvar ao seu Deus. Assim, ele ofereceu a Deus o seu espírito quebrantado e o seu coração compungido e contrito, porque sabia que não seriam desprezados pelo Senhor, como sucederia com sacrifícios de animais que não fossem acompanhados por tal quebrantamento de espírito. Finalmente, ele lembra que não se tratava apenas de restaurar a sua vida, mas a da própria nação de Israel que era liderada por ele, e que certamente ficara impactada negativamente por causa do desagrado de Deus em relação ao seu pecado, e por isso lhe pediu que fizesse bem a Sião, segundo a Sua boa vontade. E uma vez restaurada a religião do coração tanto dele, quanto da nação, então poderiam se empenhar no culto cerimonial de apresentação de holocaustos e sacrifícios, que seriam então, agora, agradáveis a Deus. O Senhor conhecia perfeitamente a Davi. Sabia quão grande e sincero era o seu desejo de agradá- lo em tudo. E viu como não podendo o diabo tentá-lo e fazê-lo cair no orgulho pelas vitórias de Davi nas guerras; pela grande prosperidade que o Senhor lhe havia dado em todo o seu reino; aproveitou-se e levou vantagem sobre ele quando o fez fixar seus olhos numa mulher que
  • 59. 59 tomava banho nua à frente da sacada do seu palácio real. O Senhor vira como por todos os meios o diabo tentara a Davi por longos anos, especialmente nas grandes perseguições e traições que recebeu da parte de Saul e de muitos dos seus conterrâneos, e como Davi resistira bravamente a tudo aquilo por amor do Seu nome, e para que este fosse glorificado ainda que à custa dos grandes sofrimentos que teve que suportar, então o Senhor se compadeceu dele, e Seu coração se encheu de misericórdia pelo Seu mavioso salmista, que agora se encontrava esmagado debaixo do peso do seu pecado. Por isso não pôde resistir por muito tempo e lhe enviou o profeta Natã para que fosse restaurado e levantado novamente por Ele. O mesmo o Senhor Jesus tem feito com todos aqueles do Seu povo que O amam sinceramente, e que desejam servi-lo acima dos seus próprios interesses. Ele os levantará se porventura caírem, porque se compadecerá deles, tal como havia se compadecido de Davi no passado.
  • 60. 60 Salmo 52 Salmo de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote Aimeleque Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso? pois a bondade de Deus subsiste em todo o tempo. 2 A tua língua maquina planos de destruição, como uma navalha afiada, ó tu que usas de dolo. 3 Tu amas antes o mal do que o bem, e o mentir do que o falar a verdade. 4 Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta. 5 Também Deus te esmagará para sempre; arrebatar- te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á da terra dos viventes. 6 Os justos o verão e temerão; e se rirão dele, dizendo: 7 Eis aqui o homem que não tomou a Deus por sua fortaleza; antes confiava na abundância das suas riquezas, e se fortalecia na sua perversidade. 8 Mas eu sou qual oliveira verde na casa de Deus; confio na bondade de Deus para sempre e eternamente. 9 Para sempre te louvarei, porque tu isso fizeste, e proclamarei o teu nome, porque é bom diante de teus santos. Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel 22.
  • 61. 61 Davi se encontrava na caverna de Adulão, quando deixou a cidade de Nobe, fugindo do rei Saul. Saul estava acusando Davi injustamente de estar conspirando contra a sua vida. Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus para ser rei sobre todo Israel. Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, e aquela acusação não era procedente de modo nenhum. Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia sobre o assunto de que Davi estava fugindo do rei Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul como uma mentira, em razão do grande ódio que ele vinha alimentando contra Davi e considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua alegada conspiração contra ele. Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e transgressão, pois não somente ordenou a morte de todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também matou à espada homens, mulheres, meninos e até mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade. O rei que deveria cuidar da segurança do povo do Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o seu cargo.
  • 62. 62 Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara sobre ele. Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida. Nós vemos que a providência divina inspirou tais palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo, mas a verdade que ele contém é uma verdade universal e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso, a de Doegue.
  • 63. 63 Salmo 53 Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Corromperam-se e cometeram abominável iniquidade; não há quem faça o bem. 2 Deus olha lá dos céus para os filhos dos homens, para ver se há algum que tenha entendimento, que busque a Deus. 3 Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um. 4 Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão, e não invocam a Deus? 5 Eis que eles se acham em grande pavor onde não há motivo de pavor, porque Deus espalhará os ossos daqueles que se acampam contra ti; tu os confundirás, porque Deus os rejeitou. 6 Quem dera que de Sião viesse a salvação de Israel! Quando Deus fizer voltar os cativos do seu povo, então se regozijará Jacó e se alegrará Israel. Este Salmo de Davi revela as opressões que existem na terra por causa daqueles que não temem a Deus, porque na sua insensatez produzida pelo endurecimento do pecado, pensam que Deus não existe, e por isso se corrompem e praticam a iniquidade, em tão grande proporção que o salmista chega a afirmar que ao contemplar a terra desde o céu, Deus não encontra um só que faça o bem dentre estes que atacam o Seu povo.
  • 64. 64 Mas estes que a ninguém temem são tomados de grande pavor porque o Senhor lhes sitia e os dispersa e envergonha, porque os tem rejeitado. Davi sabia que haverá uma restauração na terra, quando o Messias estiver entronizado em Sião, quando todos os obreiros da iniquidade serão exterminados por Deus, e expulsos da terra, e por isso ele suspira neste salmo pela chegada deste dia, quando Deus restaurará a sorte dos justos, para que exultem e se alegrem na Sua presença.
  • 65. 65 Salmo 54 Salmo de Davi quando os zifeus o delataram a Saul Salva-me, ó Deus, pelo teu nome, e faze-me justiça pelo teu poder. 2 Ó Deus, ouve a minha oração, dá ouvidos às palavras da minha boca. 3 Porque homens insolentes se levantam contra mim, e violentos procuram a minha vida; eles não põem a Deus diante de si. 4 Eis que Deus é o meu ajudador; o Senhor é quem sustenta a minha vida. 5 Faze recair o mal sobre os meus inimigos; destrói-os por tua verdade. 6 De livre vontade te oferecerei sacrifícios; louvarei o teu nome, ó Senhor, porque é bom. 7 Porque tu me livraste de toda a angústia; e os meus olhos viram a ruína dos meus inimigos. Nós temos o registro de duas delações realizadas pelos zifeus, a saber, em I Samuel 23.19-29, e em I Samuel 26.1: “19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom? 20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
  • 66. 66 21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim: 22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto. 23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá. 24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom. 25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi. 26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender. 27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa- te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra. 28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote. 29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.19-29) Quando Davi se encontrava numa região do deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois
  • 67. 67 Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em Deus (v. 16) e lhe disse da sua convicção de que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu próprio pai. E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria também a morrer numa batalha contra os filisteus juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul quando assumisse o reino, e isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi. Então o próprio Deus estava se encarregando de acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se prolongariam durante todo o reinado de Davi. Nós veremos que a par de todas estas providências não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que teve que reinar em princípio, somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda a nação. Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado
  • 68. 68 com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue Saul insistiu na perseguição e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28). Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor Davi não tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29). Enquanto Davi estava sendo duramente espiado pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras deste Salmo 54 e as do Salmo 63, nos quais vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e interesseiros se levantavam contra ele. Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os perversos. Vejamos agora o texto de I Samuel 26.1-11: “1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom? 2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
  • 69. 69 3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao deserto, 4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado. 5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro do acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele. 6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo. 7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao redor dele. 8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda vez. 9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente? 10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá; 11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a
  • 70. 70 lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo- nos.” (I Sm 26.1-11) Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui de novo em perseguição a ele, pois foi incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar o local em que Davi se encontrava. E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao local onde estavam acampados e pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou consigo (v. 12). Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um só golpe, porque aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus, entregando Saul nas mãos de Davi. Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da Palavra, pois a nenhum israelita era dado por Deus agir contra aqueles que Ele havia constituído como autoridade sobre eles e ficar sem culpa. Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer dos homens que haviam se juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra direta da parte de Deus, como foi o caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural, ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de Israel. Ele viria a morrer desta última forma citada, e a grande lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer
  • 71. 71 pessoa permanece debaixo da exclusiva autoridade de Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido de autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo qual deve morrer. O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas para matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser surpreendido por eles, e também para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria à Sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso vingativo de sua própria natureza. São muitas as situações em que os verdadeiros servos de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou se procurarão se vingar deles quando têm oportunidade para fazê-lo. Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo Testamento: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18). “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19). Temos, portanto, esta ordem de não nos vingarmos, da parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lo, não dando o devido acatamento à Sua Palavra. Davi decidiu então não seguir a palavra do homem (Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus. E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
  • 72. 72 Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás.” (v. 25). Nós podemos inferir das palavras do verso 19 que Saul saiu em perseguição a Davi desta vez mais pela incitação dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que pela sua própria iniciativa, e por isso Davi impôs um anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a persegui-lo. O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois quando Satanás perde um instrumento de perseguição ele tentará reavivá-la em outros. Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é contra carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar com alguns de seus inimigos, que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se encontra na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos demônios, que se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam também debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo permitido atuar contra os santos senão naquilo que lhes for permitido por Deus. É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença do Senhor, para que indo buscar refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar por força das circunstâncias os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse acusado de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar homenagens aos seus deuses.
  • 73. 73 É sob esta perspectiva que nós podemos entender o significado das palavras que ele proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.”. Como não era certamente o Senhor quem estava incitando aquela perseguição, então esta somente poderia estar sendo movida pelos seus inimigos.
  • 74. 74 Salmo 55 Salmo de Davi Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração, e não te escondas da minha súplica. 2 Atende-me, e ouve-me; agitado estou, e ando perplexo, 3 por causa do clamor do inimigo e da opressão do ímpio; pois lançam sobre mim iniquidade, e com furor me perseguem. 4 O meu coração confrange-se dentro de mim, e terrores de morte sobre mim caíram. 5 Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu. 6 Pelo que eu disse: Ah! quem me dera asas como de pomba! então voaria, e encontraria descanso. 7 Eis que eu fugiria para longe, e pernoitaria no deserto. 8 Apressar-me-ia a abrigar-me da fúria do vento e da tempestade. 9 Destrói, Senhor, confunde as suas línguas, pois vejo violência e contenda na cidade. 10 Dia e noite andam ao redor dela, sobre os seus muros; também iniquidade e malícia estão no meio dela. 11 Há destruição lá dentro; opressão e fraude não se apartam das suas ruas. 12 Pois não é um inimigo que me afronta, então eu poderia suportá-lo; nem é um adversário que se exalta contra mim, porque dele poderia esconder-me;
  • 75. 75 13 mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu amigo íntimo. 14 Conservávamos juntos tranquilamente, e em companhia andávamos na casa de Deus. 15 A morte os assalte, e vivos desçam ao Seol; porque há maldade na sua morada, no seu próprio íntimo. 16 Mas eu invocarei a Deus, e o Senhor me salvará. 17 De tarde, de manhã e ao meio-dia me queixarei e me lamentarei; e ele ouvirá a minha voz. 18 Livrará em paz a minha vida, de modo que ninguém se aproxime de mim; pois há muitos que contendem contra mim. 19 Deus ouvirá; e lhes responderá aquele que está entronizado desde a antiguidade; porque não há neles nenhuma mudança, e tampouco temem a Deus. 20 Aquele meu companheiro estendeu a sua mão contra os que tinham paz com ele; violou o seu pacto. 21 A sua fala era macia como manteiga, mas no seu coração havia guerra; as suas palavras eram mais brandas do que o azeite, todavia eram espadas desembainhadas. 22 Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado. 23 Mas tu, ó Deus, os farás descer ao poço da perdição; homens de sangue e de traição não viverão metade dos seus dias; mas eu em ti confiarei. É bem provável que Davi tenha escrito este salmo quando Aitofel e seu filho Absalão conspiravam contra a sua vida para lhe tomarem o reino. Aitofel foi o Judas do Velho Testamento, que figurava entre os principais conselheiros de Davi, e que
  • 76. 76 frequentemente ia com ele ao templo para acompanhar as devoções de Davi ao Senhor. No entanto, Aitofel era um hipócrita bem disfarçado, tal como Judas, que na verdade odiava as devoções de Davi, tanto quanto Judas odiava as do Senhor Jesus. Então, logo se lhe deparara a oportunidade para levantar o seu calcanhar contra Davi, entrou em conspiração com Absalão contra ele, dando-lhe o conselho de se deitar com as concubinas de seu pai, e que lhe desse o comando das tropas para que pessoalmente matasse Davi, que se encontrava exausto com seus homens, na fuga que estava empreendendo no deserto. Conselho este que foi transtornado pela providência de Deus, por intermédio de Husai, que aconselhou Absalão a aguardar um pouco mais, e que ele próprio, e não Aitofel comandasse o exército que perseguiria Davi. Este contexto bem explica o lamento que é expressado neste salmo, por um coração terrivelmente traído e perseguido pela crueldade e falsidade dos homens. As palavras de lisonja de Aitofel, que Davi chama de palavras mais brandas que o azeite, procedentes de uma boca mais macia que a manteiga, escondiam na verdade a guerra que estava no seu coração contra ele e Israel, e eram, portanto, como espadas desembainhadas prontas a matar. Então Davi estaria orando incessantemente a Deus naquela hora de grande crise, fazendo-o pela manhã, ao meio-dia e à tarde, para colocar diante dEle as suas queixas e lamentações, porque sabia que o Senhor ouviria a sua voz. E a pior dor que Davi sentia naquela hora era a da traição de Aitofel, a quem ele havia feito somente o bem, e a
  • 77. 77 quem confiara a intimidade da sua alma, e então expressou sua tristeza e decepção com as seguintes palavras: “Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus.”. Contudo não se deixaria vencer por tais sentimentos e buscaria renovo de forças no Seu Deus, conforme o expressou tanto no início deste salmo quanto na sua parte final, na qual declarou: “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado. Tu, porém, ó Deus, os precipitarás à cova profunda; homens sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos seus dias; eu, todavia, confiarei em ti.”.
  • 78. 78 Salmo 56 Salmo de Davi quando os filisteus o prenderam em Gate Compadece-te de mim, ó Deus, pois homens me calcam aos pés e, pelejando, me aflingem o dia todo. 2 Os meus inimigos me calcam aos pés o dia todo, pois são muitos os que insolentemente pelejam contra mim. 3 No dia em que eu temer, hei de confiar em ti. 4 Em Deus, cuja palavra eu louvo, em Deus ponho a minha confiança e não terei medo; 5 Todos os dias torcem as minhas palavras; todos os seus pensamentos são contra mim para o mal. 6 Ajuntam-se, escondem-se, espiam os meus passos, como que aguardando a minha morte. 7 Escaparão eles por meio da sua iniquidade? Ó Deus, derruba os povos na tua ira! 8 Tu contaste as minhas aflições; põe as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas no teu livro? 9 No dia em que eu te invocar retrocederão os meus inimigos; isto eu sei, que Deus está comigo. 10 Em Deus, cuja palavra eu louvo, no Senhor, cuja palavra eu louvo, 11 em Deus ponho a minha confiança, e não terei medo; que me pode fazer o homem? 12 Sobre mim estão os votos que te fiz, ó Deus; eu te oferecerei ações de graças; 13 pois tu livraste a minha alma da morte. Não livraste também os meus pés de tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz da vida?