2. INTRODuÇÃO
No clima do XII Congresso Internacional de Lontras
(https://sites.google.com/site/ottercongress/) apresento esta pequena aula
introdutória à Biologia, Ecologia e Comportamento da irara (Eira
barbara), um mustelídeo que ocorre nas Américas Central e do Sul.
Sim, eu sei que a irara não é uma lontra. Ela não faz parte da
mesma subfamília lutrinae, porém, é o único mustelídeo ao qual tenho
acesso, então vamos a ele.
3. TAXONOMIA
Nosso objeto de estudo pertence à Ordem Carnivora, mais
precisamente à família Mustelidae (lontras, wolverine, furões e afins).
Martes americana
Lontra longicaudis
Gulo gulo
Mustela altaica
Galictis vittata
4. TAXONOMIA
Evidências fósseis indicam que os mustelídeos se originaram na
Eurásia no final do período Oligoceno. E a maior parte da diversidade de
mustelídeos das Américas se originou de linhagens que, repetidamente,
dispersaram da Eurásia pelo Estreito de Bering (KOEPFLI et al, 2008).
Koepfli et al, 2008
5. TAXONOMIA
A irara pertence à subfamília mustelinae (BRYANT et al, 1993;
MARMI et al, 2003), apesar de já ter sido agrupada de formas diferentes
devido à grande discordância quanto à filogenia. A espécie também já
foi classificada em diferentes gêneros como Mustela (doninhas, furões e
afins) e Gulo (wolverine). E se encontra atualmente no gênero
monoespecífico Eira, dividida em sete subespécies, como na figura
abaixo.
Presley, S.J. 2000
6. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
A divisão entre subespécies é baseada, principalmente, nas variações de
coloração regionais que os indivíduos apresentam (TORTATO E ALTOHFF,
2007). A subespécie que ocorre no Brasil, Eira barbara barbara, apresenta
pelagem marrom-escura com cabeça e ventre mais claros e manchas alaranjadas
ou creme no pescoço (REIS et al., 2010). Também há variações com uma
pelagem mais esbranquiçada, amarelada, mas que não deve ser atribuída a
albinismo. Já que este é caracterizado pela ausência total de melanina, com pele
rosada, olhos vermelhos e pelos brancos, e as iraras brancas apresentam as
extremidades das patas e da cauda, focinho e olhos pigmentados.
Estes dois espécimes fazem parte da população da Reserva Biológica Estadual do
Sassafrás, Santa Catarina.
7. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
Cauda longa e espessa com 29 a 47
cm de comprimento, cerca de 2/3 do
comprimento do corpo
Corpo esguio e longilíneo com
uma leve corcunda, medindo de
52 a 71 cm de comprimento
Pernas relativamente
longas com patas largas e
garras fortes
Orelhas pequenas e
arredondadas da
mesma cor da cabeça
Vibríssas rígidas
Fórmula dentária: -
incisivos 3/3
-caninos 1/1
- pré-molares 3/3-4
- molares 1/1-2
Pelagem curta,
densa e macia
8. DISTRIBUIÇÃO
A espécie ocorre do sul do
México, praticamente toda a
América Central e América do Sul,
exceto no Equador.
Na Argentina e no Uruguai,
está presente apenas em regiões do
norte destes países.
No Brasil, ocorre em
praticamente todo o território,
exceto nas regiões de cerrado e
caatinga do nordeste.
9. HABITAT
Dentro de sua área de ocorrência a espécie habita regiões de diferentes
biomas como pantanal, cerrado, caatinga e mata atlântica, mas principalmente,
mata atlântica e florestas tropicais e subtropicais.
São excelentes escaladores, por conta de suas garras (imagem), e
predadores. Se locomovem rapidamente tanto em terra como no alto das
árvores. Têm hábito diurno e crepuscular, sendo mais ativo nas primeiras horas
do dia e no final da tarde.
São solitários, mas
podem eventualmente ser
encontrados perambulando em
pares ou pequenos grupos,
inclusive para caça cooperativa
(ASENSIO e MARÍN, 2002;
CAMARGO, 2007).
Quando livres, têm um
território de 9 a 24 km², podendo
percorrer 7 km por dia.
10. ALIMENTAÇÃO
As iraras são onívoras oportunistas. Se alimentam de frutos
(imagem 1) e outros produtos vegetais, mel, pequenos vertebrados
(imagem 2 – provavelmente uma iguana), carniça, insetos e outros
invertebrados (imagem 3).
São hábeis predadores, podendo
caçar até animais maiores do que si
mesmos, como bugios (ao lado)
(ASENSIO e MARÍN, 2002;
CAMARGO, 2007).
11. REPRODUÇÃO
Machos costumam atingir a maturidade sexual aos 18 meses e
fêmeas, aos 22 a 24 meses, quando acontece seu primeiro ciclo estral de
cerca de 50 dias. Este pode se estender até cerca de 100 dias em uma
idade mais avançada.
A gestação dura de 63 a 67 dias, em média.
A época reprodutiva é ainda incerta. Produzem de um a quatro
filhotes, sendo gêmeos mais comuns. Normalmente, o macho não
provém cuidado parental e a fêmea cuida ate os dez meses de idade.
Os filhotes nascem com pelos e olhos e orelhas fechados. Por
cerca de 50 dias permanecem no ninho sendo amamentados, depois
passam a sair regularmente da toca e começam a comer alimentos
sólidos junto ao leite materno. Após os 100 dias de vida passam a
aprender a caçar com a mãe.
Entre os 200 e 300 dias de vida, se separam da mãe e irmãos e
partem em suas vidas solitárias.
12. COMPORTAMENTO
Normalmente são solitários, mas podem andar em casais ou
pequenos grupos, normalmente uma fêmea e suas crias subadultas.
O faro é o principal sentido utilizado para o forrageio. São
predadores ativos, mas raramente perseguem ou emboscam as presas.
Podem se pôr em pé nas patas traseiras e mantém seu equilíbrio
no alto das árvores com auxílio da cauda.
13. CONSERVAÇÃO
A espécie é classificada como “pouco preocupante” pela IUCN.
Mas apesar de sua área de ocorrência ser extensa, têm constantemente
perdido seu habitat para o desmatamento e expansão da agricultura. E
chega a ser considerada como “vulnerável” no Rio de Janeiro, onde já
perdeu grande parte de seu habitat de mata atlântica.
Normalmente não é alvo de caçadores, exceto em ocasiões em
que invadem áreas de plantações ou ameaçam viveiros de aves.
14. EX-SITU
Podem viver até 18 anos em cativeiro.
Fêmeas podem se tornar intolerantes a
machos durantes os últimos estágios de gravidez.
Em situações de cativeiro podem aceitar
cogumelos, leite, mel, pães, ovos, peixe e rações
de cão e de gato.
Costumam ser quase exclusivamente
diurnas e normalmente evitam entrar
na água.
Costumam preferir ninhos
elevados e sem materiais que, se
fornecidos, são descartados.
15. REFERÊNCIAS
- Asensio, N.; Marín, F.G. Interspecific interaction and predator avoidance
behavior in response to tayra (Eira barbara) by mantled howler monkeys (Alouatta
palliata). Primates, 43 (4): 339-341. 2002.
- Bryant, H.N.; Russel, A.P.; Fitch, W.D. Phylogenetic relationships within
the extant mustelidae (Carnivora): appraisal of the cladistics status of the Simpsonian
subfamilies. Zoological Journal of the Linnean Society, 108: 301-334. 1993.
- Camargo, C.C.; Ferrari, S.F. Interactions between tayras (Eira barbara) and
red-handed howlers (Alouatta belzebul) in eastern Amazonia. Primates, 48: 147-150.
2007.
- Cuarón, A.D.; Reid, F,; Helgen, K. 2008. Eira barbara. Em: IUCN 2014.
IUCN Red List of Threatened Species. Versão 2014.1. www.iucnredlist.org. Acessado
em 15 de junho de 2014.
- Koepfli, K.P.; Deere, K.A.; Slater, G.J.; Begg, C.; Begg, K.; Grassman, L.,
Lucherini, M.; Veron, G.; Wayne, R.K. Multigene phylogeny of the mustelidae:
resolving relationships, tempo and biogeographic history of a mammalian adaptive
radiation. BMC Biology 6:10. 22 p. 2008.
16. REFERÊNCIAS
- Marmi, J.; López-Giráldez, J.F.; Domingo-Roura, X. Phylogeny,
evolutionary history and taxonomy of the mustelidae based on sequences of the
cytochrome b gene and a complex repetitive flanking region. Zoologica Scripta, 33 (6):
481-499. 2004.
- Presley, S.J. Eira barbara. Mammalian species, 636: 1-6. 2000.
- Reis, N.R.; Perachi, A.L.; Pedro, W.A.; Lima, I.P. Mamíferos do Brasil:
Guia de identificação. 1ª edição. Rio de Janeiro: Technical Books. 560 p. 2010.
- Tortato, F.R.; Althoff, S.L. Variação na coloração de iraras (Eira barbara
Linnaeus, 1758 – Carnivora, Mustelidae) da Reserva Biológica Estadual do Sassafrás,
Santa Catarina, sul do Brasil. Biota Neotropica v7 (n3): 365-367. 2007.
- todas as imagens da espécie foram retiradas do site arkive.org.