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QUAL O SIGNIFICADO DA AVALIAÇÃO DE CRIANÇAS
NAS CRECHES E PRÉ-ESCOLAS?
Jussara Hoffmann
1
A discussão da avaliação na Educação Infantil inicia pela
reflexão sobre o papel das instituições voltadas à educação de
crianças de zero a seis anos e pela análise das concepções de
educação e de avaliação vigentes entre os profissionais que aí
atuam, uma vez que as práticas avaliativas são construídas em
ação, em um ambiente extremamente plástico e dinâmico, tal
como se caracteriza o processo de construção de conhecimento
na primeira infância.
As crianças aprendem em permanente atividade e sempre
com grande potencialidade para descobertas e invenções em
11​
Jussara Hoffmann é Mestre em Educação pela UFRJ. Atuou como Professora
da Faculdade de Educação da UFRGS até 1996, dando continuidade à sua
carreira como Consultora Educacional de escolas e universidades em todo
país. É autora de várias obras sobre Avaliação Educacional e Educação Infantil
e Diretora da Editora Mediação em Porto Alegre, especializada em livros para
formação de professores.
todas as áreas de desenvolvimento. Com a mesma rapidez com
que se desenvolvem, novas capacidades emergem. Essa evolução
é visível, no dia a dia, por pais e profissionais que convivem com
elas. Além disso, não há uma criança que apresente
desenvolvimento similar a outra, mesmo tendo sido criada no
mesmo ambiente familiar e social. Cada uma delas apresenta
características únicas, maneiras de agir peculiares que independem
da sua idade, origem sociocultural, educação na família e outras
variáveis.
Ao longo das etapas de seu desenvolvimento, elas revelam
conquistas e avanços diferentes em relação às várias dimensões da
aprendizagem. Algumas apresentam, por exemplo, um vocabulário
desenvolvido e um pleno domínio da oralidade, mas não
apresentam ainda determinadas habilidades motoras, como correr,
pular, explorar escorregadores ou balanços, ou o inverso, domínio
amplo da motricidade, mas dificuldades ainda em termos de fala,
de controle de esfíncteres e outros. Diferenciam- se também
dentro da mesma faixa etária, em termos de independência no
vestir-se, alimentar-se, guardar brinquedos e outras conquistas.
Dessa forma, é essencial, na Educação Infantil, o acompanhamento
individual, com o delineamento de objetivos e ações educativas
voltadas a cada criança, o que é ainda mais relevante quando nos
referimos a processos educativos com os bebês.
Decorrente da dinâmica do desenvolvimento infantil, a ação
educativa, em termos do planejamento e das metodologias, pode
ser apropriada para uma criança e para outra não, uma vez que os
2
tempos de aprendizagem ocorrem em sequências diferentes, não
havendo parâmetros homogêneos para se definir o “adequado”
desenvolvimento infantil.
Marita Redin (REDIN et al., 2012, p. 36) tece a bela imagem
de uma pipa ao falar em planejamento da ação educativa para
crianças pequenas:
A heterogeneidade das crianças, considerando sua cultura, grupo
social, gostos, jeitos de viver, é uma realidade a ser considerada
no planejamento e na prática pedagógica. Como ser flexível para
soltar a linha do carretel sem que a pipa caia e se espedace ou
sem que escape pelo infinito? As crianças precisam de afeto,
vínculos, elos que lhes possibilitem ousar sem perder a confiança
e a referência. Não existe papagaio/pipa que possa voar se
estiver amarrado com linhas curtas.
Avaliar o desenvolvimento infantil exige dos educadores,
portanto, partir de uma concepção de educação como um projeto
vivo, flexível, em permanente movimento. Como sugere Redin (in
op. cit., p. 37), “é permitir-se ousar, errar, acertar, começar
novamente, voltar atrás, ir adiante, dar voltas... é desenhar,
inscrever na história a capacidade de maravilhar-se com as
crianças abrindo caminhos não percorridos”.
O professor, como mediador, postura para a qual nem
sempre se encontra preparado, precisa de novas referências
conceituais em sua formação e para sua atuação, para efetivar um
processo avaliativo que:
3
a) tem por finalidade a promoção de oportunidades de
aprendizagem adequadas aos interesses e necessidades das
crianças na faixa etária de zero a seis anos;
b) baseia-se em uma prática docente reflexiva, transformando
o professor em um permanente pesquisador e aprendiz do
desenvolvimento infantil e dos conhecimentos que lhe são
inerentes.
As crianças não aprendem sozinhas. Aprendem interagindo
com as pessoas e com os objetos de exploração que estejam
disponíveis no seu contexto social e educacional. Uma rica
experiência com objetos, pessoas diferentes, atividades variadas e
ambientes adequados é uma condição essencial ao seu processo
de construção de conhecimento. Movimentando-se, vendo,
ouvindo, explorando, tocando, criando, sentindo, crianças formam
conceitos e valores, desenvolvem sua linguagem e seu
vocabulário. Aprendem pela sua interação própria com os objetos
e com as pessoas, fazendo descobertas individuais. Contudo, cada
ação vivida por elas, de forma independente, pode ganhar novos
contornos mentais pela interlocução com adultos ou outras
crianças que interajam com elas sobre as ações que realizam,
acompanhando-as em suas brincadeiras e fantasias, conversando,
complementando suas afirmações, brincando de maneiras
4
diferentes ou provocando-as a fazer algo diferente do que estão a
fazer.
A finalidade primeira do processo avaliativo é justamente
conhecer cada uma das crianças com as quais se atua para
promover-lhes experiências educativas desafiadoras e
oportunidades no sentido do melhor desenvolvimento físico, moral
e intelectual. O papel do professor/avaliador é o de observar cada
uma em suas ações e manifestações de pensamento, de interpretar
o significado do que a criança revela em determinado momento e
conversar, agir, orientar, desafiar a ponto de a criança estabelecer
novas relações, associações, refletir sobre suas ideias e modos de
agir, apropriando-se de novos conhecimentos. Alguns
procedimentos pedagógicos são essenciais à avaliação mediadora:
– O planejamento de ações educativas com base nas
possibilidades e interesses das crianças em suas diferentes
faixas etárias com foco nas múltiplas dimensões da
aprendizagem.
– A organização de um ambiente educativo e de situações de
aprendizagem que tenham por foco uma criança
permanentemente ativa, curiosa e inventiva.
– O estabelecimento de um cenário educativo propício a
múltiplas interações criança-criança e adultos-crianças.
5
– A proposição de atividades ou situações de aprendizagem
intencionalmente provocativas e reflexivas.
– A observação e o acompanhamento individualizado das
crianças, com registros permanentes que constituam
referências significativas para a continuidade do seu
processo educativo.
Em relação à avaliação vigente na Educação Infantil, as
pesquisas apontam para a dificuldade de as escolas atenderem aos
princípios até então delineados, libertando-se dos modelos
classificatórios que ainda prevalecem nos graus mais avançados de
ensino e que intentam a seleção e a exclusão. Há um modelo de
criança almejado que deve ser seguido e alcançado em tempo e
ritmo determinados. Assim, uma avaliação em respeito à
diversidade, às diferenças das crianças, ao seu tempo e jeito de
aprender, que faz parte de muitos documentos e normas
educacionais das instituições de Educação Infantil, não ultrapassa o
discurso. Sobre essa questão, comenta Elisandra Girardelli Godoi
(2010, p. 41):
A avaliação, da maneira como aparece, acaba se tornando um
instrumento forte e presente nesse momento da educação,
podendo trazer consequências negativas às crianças. Não
queremos uma avaliação classificatória e seletiva na Educação
Infantil, pelo contrário, almejamos uma avaliação que auxilie o
6
trabalho do professor e que favoreça o crescimento da criança e
não a sua exclusão.
Qual a dificuldade de se avançar em termos de uma avaliação
mediadora nas instituições educacionais?
Na concepção mediadora, avaliar é acompanhar um
percurso de vida de uma criança, durante o qual ocorrem
mudanças em múltiplas dimensões, com a intenção de favorecer
o máximo possível o seu desenvolvimento.
O que se entende por acompanhar? O “Dicionário da
Academia Brasileira de Letras” (2008, p. 97) define o termo
acompanhar como “1. Fazer companhia a, ir junto a; seguir. 2.
Seguir com o pensamento, a atenção, o sentimento”.
Quando se pergunta a professores iniciantes na Educação
Infantil sobre seus procedimentos avaliativos, muitos dizem que
avaliar é “acompanhar as crianças” todos os dias, observá-las em
vários momentos do processo. E em sua maioria, esses professores
estão, de fato, junto a elas, observando-as, acompanhando suas
ações, fazendo -lhes companhia, conversando e brincando com
elas, bem como realizando muitos cuidados necessários.
Contudo é preciso atentar à segunda definição do
dicionário: acompanhar é “seguir com o pensamento, a atenção, o
sentimento”. Acompanhar as crianças, segundo tal definição, é
muito mais complexo do que fazer companhia ou estar junto delas.
Seguir em pensamento significa permanecer atento às
7
manifestações de cada uma, refletindo sobre suas ações e reações,
“sentindo”, percebendo seus diferentes jeitos de ser e de aprender,
respeitando-as em suas particularidades, em sua singularidade.
É importante ressaltar, então, que o processo avaliativo na
Educação Infantil, devido à forte influência da concepção
classificatória ainda vigente na maioria das instituições de ensino,
pode significar “acompanhar” as crianças apenas no sentido de
estar junto a elas, observando suas ações e colecionando
desenhos, trabalhos realizados, registros do seu trabalho. Quando
os professores não têm clareza da finalidade dessa observação
continuada, acabam realizando-a para cumprir procedimentos
burocráticos ao final de determinados períodos, registrando e
relatando dados observados do desempenho de cada criança e
analisando-os a partir de parâmetros de julgamento, na maioria
das vezes comparativos e classificatórios.
Para que se proceda a uma prática avaliativa mediadora, é
preciso avançar sobre o significado do termo “acompanhar” como
“segui-las com o pensamento, a atenção, o sentimento”. Ou seja,
observar para conhecer e compreender cada uma das crianças,
suas necessidades próprias, seus interesses, seus momentos de
vida, dando-lhes atenção, refletindo sobre o que se observa de
cada uma e efetivando um fazer pedagógico sensível e reflexivo
(HOFFMANN, 2014).
Essa não é uma tarefa simples para professores iniciantes,
uma vez que precisam de um olhar avaliativo que contemple a
diversidade do contexto de uma sala de aula com crianças de zero
8
a seis anos de idade que apresentam, de um dia para outro, dado o
ritmo acelerado do seu crescimento, comportamentos, hábitos e
jeitos de ser muito diferentes. Além disso, crianças na faixa etária
de zero a quatro anos ainda não se expressam claramente, têm um
ritmo intenso de exploração do ambiente e precisam de cuidados
constantes e uma atenção particular dos adultos.
A avaliação compromete, assim, subjetivamente o
professor, que, em meio a atribuições de cuidar da alimentação, do
sono, da higiene, de organizar as situações de aprendizagem e
muitas outras incumbências, precisa interpretar reações e
manifestações dessas crianças e promover ações pedagógicas
adequadas ao seu desenvolvimento. Ele não irá atingir essa
finalidade se não se apropriar de um profundo conhecimento
acerca do desenvolvimento infantil, se não houver seu
conhecimento pedagógico em relação a várias áreas de
conhecimento (linguagem, artes, matemática, ciências, etc.) e das
questões afetivas, dispondo dessa bagagem teórica no dia a dia da
ação pedagógica.
O ciclo de um processo avaliativo mediador envolve
observação – reflexão – ação pedagógica, seguindo novamente
para a observação – reflexão – ação pedagógica, numa
circularidade ininterrupta (HOFFMANN, 2011a). A observação do
aprendiz, de suas ações e manifestações ao realizar uma
determinada atividade ou em algum momento do dia, é apenas
uma das etapas desse ciclo.
9
Não há ação educativa que possa ser mais adequada do que
aquela que tenha na observação da criança a base para o seu
planejamento. É isso o que permite ao adulto programar e atuar,
tomando como base a tensão criativa entre uma perspectiva
curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real dos
interesses, das necessidades, das competências e das
possibilidades das crianças (ZABALZA (1998, p. 148).
Deve-se alertar que observar é essencial ao processo para
se conhecer cada uma das crianças com as quais se trabalha,
registrando ações realizadas e suas manifestações. Entretanto não
se pode denominar de “avaliação” apenas a observação e o
registro. Isto é, o processo avaliativo envolve necessariamente a
reflexão crítica sobre o que se observou e a ação pedagógica
decorrente de apoio ao aprendiz, sendo esta a finalidade essencial
da avaliação mediadora na creche e na pré-escola.
Referências
ACOMPANHAR. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. ​
Dicionário escolar da
língua portuguesa​
. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p. 97.
GODOI, E. G. ​
Avaliação na Educação Infantil​
: um encontro com a realidade. 3.
ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.
10
HOFFMANN, J. ​
Avaliação e Educação Infantil​
: um olhar sensível e reflexivo
sobre a criança. 18. ed. Porto Alegre: Mediação, 2012.
_____. ​
Avaliar para promover​
: as setas do caminho. 14. ed. Porto Alegre:
Mediação, 2011a.
HOFFMANN, J.; GOMES DA SILVA, M. B. Apresentação. In: REDIN, M. M. et al.
Planejamento, projetos e práticas pedagógicas na Educação Infantil. Porto
Alegre: Mediação, 2012.
PIAGET, J. ​
Abstração reflexionante​
: relações lógico-aritméticas e ordem das
relações espaciais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
VALSINER, J. Culture in minds and societies​
: foundations of cultural psychology.
New Delhi: Sage, 2007.
VYGOTSKY,​
​
L. S. ​
Obras escogidas.​
Madrid: Visor Distribuciones, 1991. 3 v.
ZABALZA, M. A. ​
A qualidade em Educação Infantil.​
Porto Alegre: Artmed, 1998.
11

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Significado da avaliação infantil

  • 1. QUAL O SIGNIFICADO DA AVALIAÇÃO DE CRIANÇAS NAS CRECHES E PRÉ-ESCOLAS? Jussara Hoffmann 1 A discussão da avaliação na Educação Infantil inicia pela reflexão sobre o papel das instituições voltadas à educação de crianças de zero a seis anos e pela análise das concepções de educação e de avaliação vigentes entre os profissionais que aí atuam, uma vez que as práticas avaliativas são construídas em ação, em um ambiente extremamente plástico e dinâmico, tal como se caracteriza o processo de construção de conhecimento na primeira infância. As crianças aprendem em permanente atividade e sempre com grande potencialidade para descobertas e invenções em 11​ Jussara Hoffmann é Mestre em Educação pela UFRJ. Atuou como Professora da Faculdade de Educação da UFRGS até 1996, dando continuidade à sua carreira como Consultora Educacional de escolas e universidades em todo país. É autora de várias obras sobre Avaliação Educacional e Educação Infantil e Diretora da Editora Mediação em Porto Alegre, especializada em livros para formação de professores.
  • 2. todas as áreas de desenvolvimento. Com a mesma rapidez com que se desenvolvem, novas capacidades emergem. Essa evolução é visível, no dia a dia, por pais e profissionais que convivem com elas. Além disso, não há uma criança que apresente desenvolvimento similar a outra, mesmo tendo sido criada no mesmo ambiente familiar e social. Cada uma delas apresenta características únicas, maneiras de agir peculiares que independem da sua idade, origem sociocultural, educação na família e outras variáveis. Ao longo das etapas de seu desenvolvimento, elas revelam conquistas e avanços diferentes em relação às várias dimensões da aprendizagem. Algumas apresentam, por exemplo, um vocabulário desenvolvido e um pleno domínio da oralidade, mas não apresentam ainda determinadas habilidades motoras, como correr, pular, explorar escorregadores ou balanços, ou o inverso, domínio amplo da motricidade, mas dificuldades ainda em termos de fala, de controle de esfíncteres e outros. Diferenciam- se também dentro da mesma faixa etária, em termos de independência no vestir-se, alimentar-se, guardar brinquedos e outras conquistas. Dessa forma, é essencial, na Educação Infantil, o acompanhamento individual, com o delineamento de objetivos e ações educativas voltadas a cada criança, o que é ainda mais relevante quando nos referimos a processos educativos com os bebês. Decorrente da dinâmica do desenvolvimento infantil, a ação educativa, em termos do planejamento e das metodologias, pode ser apropriada para uma criança e para outra não, uma vez que os 2
  • 3. tempos de aprendizagem ocorrem em sequências diferentes, não havendo parâmetros homogêneos para se definir o “adequado” desenvolvimento infantil. Marita Redin (REDIN et al., 2012, p. 36) tece a bela imagem de uma pipa ao falar em planejamento da ação educativa para crianças pequenas: A heterogeneidade das crianças, considerando sua cultura, grupo social, gostos, jeitos de viver, é uma realidade a ser considerada no planejamento e na prática pedagógica. Como ser flexível para soltar a linha do carretel sem que a pipa caia e se espedace ou sem que escape pelo infinito? As crianças precisam de afeto, vínculos, elos que lhes possibilitem ousar sem perder a confiança e a referência. Não existe papagaio/pipa que possa voar se estiver amarrado com linhas curtas. Avaliar o desenvolvimento infantil exige dos educadores, portanto, partir de uma concepção de educação como um projeto vivo, flexível, em permanente movimento. Como sugere Redin (in op. cit., p. 37), “é permitir-se ousar, errar, acertar, começar novamente, voltar atrás, ir adiante, dar voltas... é desenhar, inscrever na história a capacidade de maravilhar-se com as crianças abrindo caminhos não percorridos”. O professor, como mediador, postura para a qual nem sempre se encontra preparado, precisa de novas referências conceituais em sua formação e para sua atuação, para efetivar um processo avaliativo que: 3
  • 4. a) tem por finalidade a promoção de oportunidades de aprendizagem adequadas aos interesses e necessidades das crianças na faixa etária de zero a seis anos; b) baseia-se em uma prática docente reflexiva, transformando o professor em um permanente pesquisador e aprendiz do desenvolvimento infantil e dos conhecimentos que lhe são inerentes. As crianças não aprendem sozinhas. Aprendem interagindo com as pessoas e com os objetos de exploração que estejam disponíveis no seu contexto social e educacional. Uma rica experiência com objetos, pessoas diferentes, atividades variadas e ambientes adequados é uma condição essencial ao seu processo de construção de conhecimento. Movimentando-se, vendo, ouvindo, explorando, tocando, criando, sentindo, crianças formam conceitos e valores, desenvolvem sua linguagem e seu vocabulário. Aprendem pela sua interação própria com os objetos e com as pessoas, fazendo descobertas individuais. Contudo, cada ação vivida por elas, de forma independente, pode ganhar novos contornos mentais pela interlocução com adultos ou outras crianças que interajam com elas sobre as ações que realizam, acompanhando-as em suas brincadeiras e fantasias, conversando, complementando suas afirmações, brincando de maneiras 4
  • 5. diferentes ou provocando-as a fazer algo diferente do que estão a fazer. A finalidade primeira do processo avaliativo é justamente conhecer cada uma das crianças com as quais se atua para promover-lhes experiências educativas desafiadoras e oportunidades no sentido do melhor desenvolvimento físico, moral e intelectual. O papel do professor/avaliador é o de observar cada uma em suas ações e manifestações de pensamento, de interpretar o significado do que a criança revela em determinado momento e conversar, agir, orientar, desafiar a ponto de a criança estabelecer novas relações, associações, refletir sobre suas ideias e modos de agir, apropriando-se de novos conhecimentos. Alguns procedimentos pedagógicos são essenciais à avaliação mediadora: – O planejamento de ações educativas com base nas possibilidades e interesses das crianças em suas diferentes faixas etárias com foco nas múltiplas dimensões da aprendizagem. – A organização de um ambiente educativo e de situações de aprendizagem que tenham por foco uma criança permanentemente ativa, curiosa e inventiva. – O estabelecimento de um cenário educativo propício a múltiplas interações criança-criança e adultos-crianças. 5
  • 6. – A proposição de atividades ou situações de aprendizagem intencionalmente provocativas e reflexivas. – A observação e o acompanhamento individualizado das crianças, com registros permanentes que constituam referências significativas para a continuidade do seu processo educativo. Em relação à avaliação vigente na Educação Infantil, as pesquisas apontam para a dificuldade de as escolas atenderem aos princípios até então delineados, libertando-se dos modelos classificatórios que ainda prevalecem nos graus mais avançados de ensino e que intentam a seleção e a exclusão. Há um modelo de criança almejado que deve ser seguido e alcançado em tempo e ritmo determinados. Assim, uma avaliação em respeito à diversidade, às diferenças das crianças, ao seu tempo e jeito de aprender, que faz parte de muitos documentos e normas educacionais das instituições de Educação Infantil, não ultrapassa o discurso. Sobre essa questão, comenta Elisandra Girardelli Godoi (2010, p. 41): A avaliação, da maneira como aparece, acaba se tornando um instrumento forte e presente nesse momento da educação, podendo trazer consequências negativas às crianças. Não queremos uma avaliação classificatória e seletiva na Educação Infantil, pelo contrário, almejamos uma avaliação que auxilie o 6
  • 7. trabalho do professor e que favoreça o crescimento da criança e não a sua exclusão. Qual a dificuldade de se avançar em termos de uma avaliação mediadora nas instituições educacionais? Na concepção mediadora, avaliar é acompanhar um percurso de vida de uma criança, durante o qual ocorrem mudanças em múltiplas dimensões, com a intenção de favorecer o máximo possível o seu desenvolvimento. O que se entende por acompanhar? O “Dicionário da Academia Brasileira de Letras” (2008, p. 97) define o termo acompanhar como “1. Fazer companhia a, ir junto a; seguir. 2. Seguir com o pensamento, a atenção, o sentimento”. Quando se pergunta a professores iniciantes na Educação Infantil sobre seus procedimentos avaliativos, muitos dizem que avaliar é “acompanhar as crianças” todos os dias, observá-las em vários momentos do processo. E em sua maioria, esses professores estão, de fato, junto a elas, observando-as, acompanhando suas ações, fazendo -lhes companhia, conversando e brincando com elas, bem como realizando muitos cuidados necessários. Contudo é preciso atentar à segunda definição do dicionário: acompanhar é “seguir com o pensamento, a atenção, o sentimento”. Acompanhar as crianças, segundo tal definição, é muito mais complexo do que fazer companhia ou estar junto delas. Seguir em pensamento significa permanecer atento às 7
  • 8. manifestações de cada uma, refletindo sobre suas ações e reações, “sentindo”, percebendo seus diferentes jeitos de ser e de aprender, respeitando-as em suas particularidades, em sua singularidade. É importante ressaltar, então, que o processo avaliativo na Educação Infantil, devido à forte influência da concepção classificatória ainda vigente na maioria das instituições de ensino, pode significar “acompanhar” as crianças apenas no sentido de estar junto a elas, observando suas ações e colecionando desenhos, trabalhos realizados, registros do seu trabalho. Quando os professores não têm clareza da finalidade dessa observação continuada, acabam realizando-a para cumprir procedimentos burocráticos ao final de determinados períodos, registrando e relatando dados observados do desempenho de cada criança e analisando-os a partir de parâmetros de julgamento, na maioria das vezes comparativos e classificatórios. Para que se proceda a uma prática avaliativa mediadora, é preciso avançar sobre o significado do termo “acompanhar” como “segui-las com o pensamento, a atenção, o sentimento”. Ou seja, observar para conhecer e compreender cada uma das crianças, suas necessidades próprias, seus interesses, seus momentos de vida, dando-lhes atenção, refletindo sobre o que se observa de cada uma e efetivando um fazer pedagógico sensível e reflexivo (HOFFMANN, 2014). Essa não é uma tarefa simples para professores iniciantes, uma vez que precisam de um olhar avaliativo que contemple a diversidade do contexto de uma sala de aula com crianças de zero 8
  • 9. a seis anos de idade que apresentam, de um dia para outro, dado o ritmo acelerado do seu crescimento, comportamentos, hábitos e jeitos de ser muito diferentes. Além disso, crianças na faixa etária de zero a quatro anos ainda não se expressam claramente, têm um ritmo intenso de exploração do ambiente e precisam de cuidados constantes e uma atenção particular dos adultos. A avaliação compromete, assim, subjetivamente o professor, que, em meio a atribuições de cuidar da alimentação, do sono, da higiene, de organizar as situações de aprendizagem e muitas outras incumbências, precisa interpretar reações e manifestações dessas crianças e promover ações pedagógicas adequadas ao seu desenvolvimento. Ele não irá atingir essa finalidade se não se apropriar de um profundo conhecimento acerca do desenvolvimento infantil, se não houver seu conhecimento pedagógico em relação a várias áreas de conhecimento (linguagem, artes, matemática, ciências, etc.) e das questões afetivas, dispondo dessa bagagem teórica no dia a dia da ação pedagógica. O ciclo de um processo avaliativo mediador envolve observação – reflexão – ação pedagógica, seguindo novamente para a observação – reflexão – ação pedagógica, numa circularidade ininterrupta (HOFFMANN, 2011a). A observação do aprendiz, de suas ações e manifestações ao realizar uma determinada atividade ou em algum momento do dia, é apenas uma das etapas desse ciclo. 9
  • 10. Não há ação educativa que possa ser mais adequada do que aquela que tenha na observação da criança a base para o seu planejamento. É isso o que permite ao adulto programar e atuar, tomando como base a tensão criativa entre uma perspectiva curricular teoricamente sustentada e um conhecimento real dos interesses, das necessidades, das competências e das possibilidades das crianças (ZABALZA (1998, p. 148). Deve-se alertar que observar é essencial ao processo para se conhecer cada uma das crianças com as quais se trabalha, registrando ações realizadas e suas manifestações. Entretanto não se pode denominar de “avaliação” apenas a observação e o registro. Isto é, o processo avaliativo envolve necessariamente a reflexão crítica sobre o que se observou e a ação pedagógica decorrente de apoio ao aprendiz, sendo esta a finalidade essencial da avaliação mediadora na creche e na pré-escola. Referências ACOMPANHAR. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. ​ Dicionário escolar da língua portuguesa​ . São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p. 97. GODOI, E. G. ​ Avaliação na Educação Infantil​ : um encontro com a realidade. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, 2010. 10
  • 11. HOFFMANN, J. ​ Avaliação e Educação Infantil​ : um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. 18. ed. Porto Alegre: Mediação, 2012. _____. ​ Avaliar para promover​ : as setas do caminho. 14. ed. Porto Alegre: Mediação, 2011a. HOFFMANN, J.; GOMES DA SILVA, M. B. Apresentação. In: REDIN, M. M. et al. Planejamento, projetos e práticas pedagógicas na Educação Infantil. Porto Alegre: Mediação, 2012. PIAGET, J. ​ Abstração reflexionante​ : relações lógico-aritméticas e ordem das relações espaciais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. VALSINER, J. Culture in minds and societies​ : foundations of cultural psychology. New Delhi: Sage, 2007. VYGOTSKY,​ ​ L. S. ​ Obras escogidas.​ Madrid: Visor Distribuciones, 1991. 3 v. ZABALZA, M. A. ​ A qualidade em Educação Infantil.​ Porto Alegre: Artmed, 1998. 11