O governo federal brasileiro, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento
Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a finalidade de investir na valorização do
magistério, vem implementando gradativamente desde 2007 nas Universidades Públicas
o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.
O programa está voltado aos cursos de Licenciatura (nome que recebem os
cursos de formação de professores em nosso país) e tendo em vista a importância do
intercâmbio entre Universidade e Escola na formação do futuro professor, foi estruturado
a partir de uma proposta de trabalho em parceria entre o que chamamos de professorsupervisor
(o professor da escola de ensino básico que recebe os estagiários), os
estudantes de Licenciatura (graduandos em atividades de formação que envolvem as
escolas de ensino básico) e os professores das universidades públicas, como
coordenadores.
O TRABALHO DE CAMPO NA APRENDIZAGEM CONJUNTA DE ALUNOS E FUTUROS PROFESSORES
1. O TRABALHO DE CAMPO NA APRENDIZAGEM CONJUNTA DE ALUNOS E
FUTUROS PROFESSORES
Mariana Spagnol; Éllen da Silva Garcia; Jonas Bortolotti; Luciana Eugênio Barcelos; Prof
Dr Luiz Marcelo de Carvalho.
Correio eletrônico: marispagnol@live.com; ellen_silva.garcia@hotmail.com;
jonasbortolotti@msn.com; barcelos.le@gmail.com; lmarcelo@rc.unesp.br
Departamento de Educação, Instituto de Biociência, UNESP – Rio Claro - SP
Palavras-chaves: trabalho de campo - educação ambiental - formação docente -
cidadania
Introdução
O governo federal brasileiro, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento
Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a finalidade de investir na valorização do
magistério, vem implementando gradativamente desde 2007 nas Universidades Públicas
o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.
O programa está voltado aos cursos de Licenciatura (nome que recebem os
cursos de formação de professores em nosso país) e tendo em vista a importância do
intercâmbio entre Universidade e Escola na formação do futuro professor, foi estruturado
a partir de uma proposta de trabalho em parceria entre o que chamamos de professor-
supervisor (o professor da escola de ensino básico que recebe os estagiários), os
estudantes de Licenciatura (graduandos em atividades de formação que envolvem as
escolas de ensino básico) e os professores das universidades públicas, como
coordenadores.
A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) ingressou ao
programa PIBID em dezembro de 2009 e teve seu início em abril de 2010. Somente
nesta universidade há, ao todo, doze subprojetos distribuídos nas diversas áreas do
conhecimento: Alfabetização, Matemática, Ciências Biológicas, Física e Química,
2. Educação de Jovens e Adultos e ensino de disciplinas ligadas à cultura, como Educação
Musical, Filosofia e Sociologia.
Sob a coordenação da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) da UNESP, a
proposta envolve 240 estudantes de licenciatura de dez campi, 24 professores da rede
pública, 27 escolas públicas de educação básica e dois colégios técnicos
profissionalizantes.
O projeto PIBID 2009 na UNESP do campus de Rio Claro, do qual participamos,
realiza parceria entre a universidade e três escolas de ensino básico da cidade de Rio
Claro, articulando a formação inicial e continuada de alunos da Biologia, Física e
Educação Física. Seguimos com os objetivos de:
1- Identificar a partir da análise da situação atual, os principais problemas
relacionados ao ensino de Ciências Naturais e de Biologia, Física e Educação
Física na educação básica, suas causas básicas e possibilidades de
equacionamento e superação dos mesmos;
2- Elaborar práticas educacionais inovadoras que apresentem coerência entre os
diferentes elementos (objetivos, conteúdos, procedimentos didáticos e avaliação,
bem como de comunicação entre todo o processo), visando propiciar a produção
de trabalhos ou de material didático-pedagógico em conjunto (professores e
futuros professores);
3- Proporcionar a troca de experiências entre o graduando bolsista, o professor e a
equipe pedagógica da escola, refletindo criticamente a vida do professor e a
profissão docente, bem como as possibilidades de inovação pedagógica.
O grupo de Biologia do Programa PIBID- UNESP/ Rio Claro
O grupo de Biologia ao qual pertencemos é composto por oito licenciandos do curso
de Ciências Biológicas, uma professora-tutora e dois professores coordenadores
envolvidos com a prática de ensino e estágio supervisionado em ciências e biologia,
desenvolvendo pesquisas no campo da educação ambiental e da formação de
professores.
Nossas concepções e práticas são pautadas em referenciais teóricos que buscam a
reflexão e aprofundamento de questões sobre o ensino de Ciências e Biologia, com a
finalidade de que esta área de ensino se ligue com as dimensões sociais e críticas da
educação contribuindo para formação cidadã dos alunos.
Diante das diferentes formas de conceber educação, nós acreditamos que aquela que
promova a cidadania, como explicita Manzini-Covre (1995) junto a “carta dos direitos” da
ONU que afirma que ser cidadão significa que:
3. Todos os homens são iguais perante a lei, sem discriminação de raça,
credo ou cor. E ainda: a todos cabe o domínio sobre seu corpo e sua
vida, o direito a educação, à saúde, à habitação, ao lazer. E mais é
direito de todos poderem expressar-se livremente, militar em partidos
políticos ou sindicatos, fomentar movimentos sociais, lutar por seus
valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna de ser homem. Isso tudo
diz mais respeito aos direitos do cidadão. Ele também tem seus deveres:
ser o próprio fomentador da existência dos direitos a todos, ter
responsabilidade em conjunto com a coletividade, cumprir as normas e
propostas elaboradas e decididas coletivamente, fazer parte do governo,
direta ou indiretamente, ao votar, ao pressionar através dos movimentos
sociais, ao participar de assembléias – no bairro, no sindicato, partido ou
escola. E mais: pressionar os governos municipal, estadual, federal e
mundial. (p. 09)
Acreditamos que a educação escolar brasileira, assim como exposta nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – documento que orienta o ensino do país -
deve possibilitar que o aluno seja capaz de refletir e posicionar-se criticamente diante da
sua realidade, atuando nela muito além do que propor apenas o aprendizado estrito de
conceitos (Brasil,1998).
Especificamente na temática ambiental trabalhada no ensino de Ciências e
Biologia, assim como (Carvalho, 1999) compartilhamos da ideia que o processo
educativo pode contribuir para amenizar ou reverter os problemas ambientais que
vivemos. Para que a dimensão crítica seja incorporada pelos alunos a educação
ambiental vem ao encontro desse processo uma vez que contribuí para educar a
sociedade frente às crises ambientais (Carvalho, 2004). Não é a única solução para isso,
mas é uma condição necessária já que se revela como prática social que contribuí para
formação do indivíduo e de coletividade possibilitando atitudes como solidariedade,
democracia, envolvimento coletivo que levam a transformação para uma sociedade mais
equilibrada.
Dentre as várias concepções de educação ambiental existentes, a educação
ambiental crítica é a que mais se aproxima de nossas propostas pedagógicas. Esta tem
como objetivo: “realizar processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas
socioambientais e propiciar um exercício no qual educando e educadores formam-se,
contribuindo por uma cidadania na transformação da grave crise socioambiental que
vivenciamos” (Guimarães, 2007).
Desta maneira, busca-se uma relação entre a educação e o individuo que se dá
no processo pedagógico e não apenas no êxito de uma mudança comportamental, assim
como não acreditando que transmitir o conhecimento correto será de fato alcançar a
transformação da sociedade (Guimarães, 2007).
4. Nossa proposta educativa
Em 2010 no âmbito do projeto PIBID, nosso grupo realizou um projeto envolvendo
trabalho de campo com o tema Urbanização e Meio ambiente junto a uma escola pública.
A partir desta experiência, no ano seguinte, persistimos no interesse em trabalhar com
projetos que levassem em consideração a participação ativa do aluno no processo de
educação e assim elaboramos um projeto que continha novamente trabalho de campo
nas escolas, com um novo tema, energia.
Como Carvalho (1999) salienta “não existem fórmulas prontas e mágicas para o
desenvolvimento de práticas educativas relacionadas a temática ambiental. Será a partir
do nosso trabalho cuidadoso, de avaliações sistemáticas e de inovações criativas que
novas perspectivas poderão ser traçadas”.
Em nosso caso, privilegiamos a princípio o trabalho de campo por considerar que
ele se torna um importante procedimento didático, pois fora da sala de aula torna-se mais
fácil discutir processos da natureza, bem como a relação da sociedade com a natureza
(Carvalho, 1999). Todavia reconhecemos que a realização de apenas um determinado
procedimento didático represente a solução para os males que afligem o ensino de
Ciências e Biologia (Marques & Carvalho, 1997).
Nosso propósito foi envolver os alunos do ensino fundamental (alunos de 11 a 14
anos) e médio (15 a 18 anos) de escolas públicas do interior do Estado de São Paulo na
cidade de Rio Claro. A realização das atividades na escola de ensino-médio foi facilitada
em partes pela sua infra – estrutura. Sendo uma escola técnica da rede de Escolas
Técnicas do Centro Paula Souza, além do ensino médio regular oferece cursos
profissionalizantes, possuindo salas de vídeos, de informática, equipamentos de
audiovisual e funcionários que dão suporte aos professores em sala de aula. Nesta
escola as atividades foram desenvolvidas em duas classes, 2º e 3º anos, uma vez por
semana durante o período regular de aula, no horário da disciplina de biologia.
Na escola de ensino fundamental, devido à ausência de toda essa infra-estrutura
destacada para a escola anterior, a realização de atividades em áudio visual requeria a
espera do término de aulas de outros professores para montagem, por nós, dos
equipamentos de áudio visual, o que atrasava o início das nossas atividades. Nessa
escolas as atividades tiveram um caráter de oficina, ocorrendo fora do horário normal de
aula, logo após o término das aulas do período da manhã das quartas-feiras. Em função
dessa situação, estruturamos uma divulgação a ser realizada na escola através de
cartazes e do auxílio da professora de Ciências (que é também a nossa supervisora do
projeto PIBID nessa escola) e de alguns membros do grupo, que passaram pelas salas
5. convidando os alunos a participarem do projeto que denominamos: “Movimente sua
energia com novas ideias”.
Nessa escola e a partir dessa divulgação obtivemos aproximadamente 50
inscrições de alunos do 7º, 8º e 9º anos (faixa etária de 11 a 14 anos de idade), os quais
foram divididos em duas turmas de aproximadamente 25 alunos: uma turma de 9°ano e
outra mista, com alunos de 7°e 8º anos.
Decidimos que as mesmas atividades seriam realizadas tanto para os alunos do
ensino médio quanto para os alunos do ensino fundamental, com algumas adaptações
que as tornassem apropriadas para cada faixa etária.
Os trabalho de campo
O uso do termo no meio escolar popularizou-se como excursão, considerando na
maioria das vezes qualquer atividade extra - classe como trabalho de campo (Fernandes,
2007). Assim podemos perceber que diferentes atividades acabam sendo realizadas
também com essa mesma denominação.
Concordando com Carvalho (1999), o processo educativo não se restringe apenas
a saída de campo; é importante a elaboração de um plano de ensino que envolva a
preparação e motivação do aluno para o trabalho, a coleta e registro de dados no
momento no campo e a análise e discussão dos dados obtidos, de forma que o trabalho
seja efetivo do ponto de vista pedagógico e contribua para a formação conceitual, ética,
estética e política dos alunos.
Em nosso caso, ao pensar no trabalho de campo consideramos “necessária uma
definição prévia e clara dos objetivos a serem atingidos com a atividade. Tendo em
mente os objetivos, o professor conta com muito mais segurança na realização das
atividades” (Marques & Carvalho, 1997).
Na tentativa de direcionar o tema “Energia” nosso grupo focou nas questões dos
impactos sociais e ambientais ligados à produção energética em larga escala e seu alto
consumo pela sociedade. O grupo também demonstrou interesse pelas questões que
envolviam novas propostas tecnológicas relacionadas à produção e consumo mais
sustentáveis da energia. Além dos objetivos gerais de todas as aulas propostas, nosso
trabalho de campo tinha como intuito investigar qual a relação que pode ser reconhecida
nos locais visitados entre a dimensão da produção de energia, nosso consumo e seus
impactos.
Tendo isto em vista estruturamos um plano de ensino que envolvia aulas pré -
campo, o trabalho de campo e o pós - campo procurando envolver três dimensões
6. consideradas pertinentes para qualquer trabalho de educação ambiental (Carvalho,
1999):
- os conhecimentos de ciências naturais e sociais: que devem ser integrados,
além de permitir compreensão da relação do homem sobre os processos naturais e a
produção do conhecimento científico, que na maioria das práticas educativas não é
apresentada;
- dimensão dos valores éticos e estéticos: propondo-se a sensibilizar para
questões ambientais na sua esfera valorativa, ética e a estética, de forma a construir
novos padrões de relação com o meio;
- dimensão política: para o indivíduo re-significar seu espaço social, sua visão de
mundo, no desenvolvimento da cidadania e envolvimento coletivo.
Durante o planejamento elaboramos um roteiro de campo, através de visitas
anteriores aos possíveis locais que serviriam para investigação do tema. Desde o início
tínhamos como proposta para o trabalho de campo, a visita à Usina Museu Parque do
Corumbataí, na qual está localizado o Museu da Energia da cidade de Rio Claro (SP),
que possui roteiros de visitação para grupos interessados mediante agendamento prévio.
Carvalho (2002) ressalta que o uso de locais próximos das escolas para a
realização de trabalho de campo pode contribuir amenizar possíveis dificuldades no
desenvolvimento do trabalho, como por exemplo, o custo com transporte, tempo de
deslocamento, oportunidade de ser feito durante o período escolar (uma manhã ou tarde)
e com maior frequência. Assim escolhemos um local favorável localizado no município
em que a escola se situava.
Ao contrário do que muitos pensam as atividades de campo não necessariamente
devem ser realizadas apenas em locais onde há pouca interferência do homem, como
unidades de conservação (Carvalho, 2002). Assim para nosso trabalho foram escolhidos
três lugares distintos, em áreas alteradas pelo homem: um local com grande plantação de
cana-de-açúcar (monocultura) utilizada para produção de etanol para uso como
combustível, o aterro sanitário da cidade de Rio Claro e a Usina Museu Parque do
Corumbataí. O roteiro de campo foi dividido em três partes que continham solicitações
acerca destes três ambientes diferentes e, em função da faixa etária dos alunos,
elaboramos dois roteiros de campo diferenciados (ANEXOS 1 e 2). A seguir alguns
exemplos de solicitações feitas no roteiro de campo:
Você relaciona a grande extensão do cultivo de cana com o nosso consumo energético?
(Ponto da plantação de cana-de-açúcar, para alunos do ensino fundamental)
7. Imagine e indique de onde vem todo esse lixo. (Ponto aterro sanitário, para alunos do
ensino médio)
Há alguns anos, a Usina Hidrelétrica de Corumbataí era responsável pelo fornecimento
de toda a energia elétrica do município de Rio Claro. Por que hoje ela consegue suprir
somente a quantidade necessária para um bairro? (Ponto Usina Museu Parque do
Corumbataí, para alunos do ensino médio).
Após a realização do trabalho de campo, na aula pós-campo, utilizamo-nos dos
roteiros respondidos pelos alunos, captando neles suas impressões sobre os ambientes e
os conceitos equivocados apresentados para, a partir destas informações, elaborar
modos de trabalhar em sala.
Tanto na aula pós-campo, como na atividade de fechamento, desenvolvemos
atividades de acordo com os assuntos mais pertinentes de cada sala. Com isso
procuramos finalizar os trabalhos com uma reflexão em que tentávamos estimular os
alunos na busca de alternativas para suas questões cotidianas no que se refere à
temática abordada em nossos trabalhos.
Envolvimento dos alunos no trabalho de campo: a formação para a cidadania
Consideramos que conseguimos estruturar de forma efetiva o ensino do tema
energia a partir do trabalho de campo, pois através das respostas obtidas nos roteiros
pudemos perceber como a atividade tocou os alunos em diversos momentos, por
exemplo, durante o contato com a realidade desconhecida de um aterro sanitário, ou de
olhar com mais atenção grandes extensões de terra com plantios de cana ao redor da
cidade de Rio Claro.
Seniciato e Cavasan (2004) afirmam que as “emoções e sensações surgidas
durante um trabalho de campo em um ambiente natural podem auxiliar na aprendizagem
de conteúdos, à medida que os alunos recorrem a outros aspectos de sua própria
condição humana, além da razão, para compreenderem os fenômenos”. Podemos
verificar este aspecto em muitas frases retiradas dos roteiros de campo dos alunos como
as registradas durante a visita ao aterro sanitário:
Além do odor que passa a ser insuportável, o impacto que nos causa ao visitar, nos dá
uma conscientização e uma reflexão, será que todo o lixo que eu jogo fora não se pode
reutilizar?
O ambiente provoca um pouco de ‘nojo’, tristeza em ver tanto lixo produzido que às vezes
não é necessário, culpa em ajudar nisso tudo.
8. Isso pode ser observado também durante a visita na plantação de cana-de-
açucar:
Nós usamos muito [álcool], logo se planta muito.
O nosso modo de vida alterou o meio ambiente. Essa coisa de álcool, de aumento de
automóveis, fez com que a preservação se tornasse bobagem, prejuízo.
O trabalho de campo aproximou os estudantes as discussões trabalhadas em sala
de aula com a realidade prática de maneira questionadora e crítica além de incentivá-los
a olhar para os ambientes e situações como pesquisadores, levantando dados e
formulando hipóteses, como vemos nestas frases apresentadas a seguir após a visita a
Usina Museu Parque do Corumbataí ao responder a pergunta:
Há alguns anos, a Usina Hidrelétrica de Corumbataí era responsável pelo fornecimento
de toda a energia elétrica do município de Rio Claro. Por que hoje ela consegue suprir
somente a quantidade necessária para um bairro?
(...)a cidade se expandiu e com isso, o consumo de energia elétrica também, e outro
motivo, é a barragem, porque o declínio da água para gerar energia é pequeno e não tem
força o suficiente.
Porque a população de Rio Claro foi aumentando e o surgimento de novas tecnologias
como a TV e o rádio, que utilizam energia elétrica começou a ser utilizado pela
população, não conseguindo suprir todas as necessidades da cidade.
No dia do trabalho de campo, enquanto os alunos estavam visitando a plantação
de cana – de – açúcar, além das perguntas contidas no roteiro de campo, surgiram novos
questionamentos e perguntas:
Por que necessitamos de tanto açúcar e álcool?
(...) Pelo menos o álcool é melhor que a gasolina (...)
(...) Mas se o álcool também causa impacto ambiental qual é a solução?
(...) O que nós poderemos fazer para que não ocorra mais isso?
Outros trabalhos na literatura também evidenciam a eficácia do trabalho de campo
como uma das possibilidades enriquecedoras de prática pedagógica. Rickinson et al.
(2004), realizou um estudo na Inglaterra levantando trabalhos de 1993 a 2003 que
inseriam como metodologia trabalhos ao ar livre e salienta que propostas como estas são
uma “oportunidade para os alunos desenvolverem seus conhecimentos e habilidades de
forma a agregar valor às suas experiências cotidianas em sala de aula”. Este mesmo
9. autor sugere que práticas como está, se realizadas com frequência, pode favorecer o
desenvolvimento individual e melhorias na conduta social.
Apesar do trabalho de campo oferecer amplas possibilidades educativas,
percebemos que nas escolas com as quais nos envolvemos a partir do projeto PIBID esta
prática pouco é explorada. Mesmo quando ocorrem, Carvalho (2001) indica que “as
poucas vezes em que atividades deste tipo são desenvolvidas, uma série de condições
do ponto de vista pedagógico é desconsiderada, o que acaba prejudicando ou limitando
de forma decisiva o potencial que este tipo de trabalho apresenta” (pag.25). Esse autor
aponta que, com freqüência, elas ocorrem de forma descontextualizada dos conteúdos
das disciplinas, sem o propósito e coerência em termos de ensino e aprendizagem. Ainda
são atividades vistas como uma excursão onde o propósito é apenas lazer, preocupação
também presente em CARVALHO (1999), mas não de forma exclusiva.
Outros entraves podem limitar o desenvolvimento de trabalhos de campo. A
presença da maioria de nós, bolsistas, durante as saídas de campo sem contar a
disponibilidade de tempo para elaboração do próprio trabalho) foi um aspecto importante
que viabilizou esta prática. Na escola as possibilidades para que isto aconteça
dependerão da colaboração dos próprios professores e outros profissionais da escola,
que precisarão acompanhar a saída, o que envolverá uma organização por parte da
escola, geralmente estruturada a partir de um currículo que prende os professores em
suas classes.
No entanto esta participação conjunta em um trabalho de campo tornaria a
atividade importante do ponto de vista de um trabalho coletivo e interdisciplinar e também
pela cooperação que ocorreria para o atendimento aos alunos, ampliando a visão destes
sob diferentes aspectos, a partir das duvidas que surjam espontaneamente e mesmo a
coleta de dados para os roteiros.
A elaboração do plano de ensino e do roteiro de campo facilitou nossas
atividades, junto à orientação dos professores da universidade e recursos didáticos,
alcançamos nossos objetivos, porém só na prática podemos ver que tudo é passível de
desafios desde o atraso do ônibus recrutado para o dia do trabalho de campo,
modificando a programação estabelecida, como também o pequeno período de tempo
que foi possível ser disponibilizado pela escola para a realização das atividades. Na
experiência que vivenciamos, as escolas aceitaram nossa presença, permitindo o diálogo
com professores de Ciências e Biologia e com os alunos, disponibilizaram horários e
salas de aula para as atividades de ensino, porém sua participação e envolvimento foram
mínimos em todas as atividades.
10. Também, estiveram ao nosso alcance recursos financeiros que viabilizaram o
aluguel de ônibus, dentre outros gastos, o que geralmente está indisponível para as
escolas.
Como futuro professores podemos dizer que o trabalho de campo elaborado e
desenvolvido superou nossas expectativas em termos de realização das situações de
ensino que o trabalho promoveu e do envolvimento dos alunos. Foi neste projeto que
pudemos vivenciar os limites e possibilidades que envolvem um processo educativo
diferenciado da rotina escolar, envolvendo procedimentos que exigem mais ativamente
os alunos, mas também exigem muito dos próprios professores.
Referências Bibliográficas
Brasil, Secretaria de Educação Fundamental. (1998). Parâmetros curriculares nacionais:
terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF.
Carvalho, I. C. M. (2004). Educação ambiental: formação do sujeito ecológico. São Paulo:
Cortez.
Carvalho, L. M. (1999). Educação e Meio Ambiente na Escola Fundamental: perspectivas
e possibilidades. Revista de educação, (1)1, 35-39.
Carvalho, L. M. (2001). Os trabalhos de campo como procedimento didático. In P.
Condini, Subsídios para educação ambiental na bacia hidrográfica do Guarapiranga. São
Paulo: SMA/CEAM.
Carvalho, L. M. (2002). Educação ambiental e os trabalhos de campo. In L. Sauvé.
(Orgs.), Textos Escolhidos em Educação Ambiental: de uma América à outra (pp. 277-
282). Montréal.
Fernandes, A. B. (2007). Você vê essa adaptação? A aula de campo em ciência entre o
retórico e o empírico. Tese de doutoramento, FEUSP, São Paulo.
Guimarães, M. (2007) Educação Ambiental: no consenso um embate? (5a. ed.).
Campinas: Papirus.
Manzini-covre, M. de L. (1995). O que é cidadania. (3ª. ed.). São Paulo: Brasiliense.
Marques, F. S.; Carvalho, L. M. (1997). Os trabalhos de campo em biologia e a formação
do cidadão. (Relatório de Pesquisa para Iniciação Científica). São Paulo: FAPESP.
Rickinson, M., Dillon, J., Teamey, K., Morris, M., Choi, M. Y., Sanders, D. et al. A review
of research in outdoor learning: executive summary. London: National Foudantion for
Educational Research. Recuperado em 04 de dezembro de 2011, de PEEC
(Place – Based Education Evaluation Collaborative):
http://www.peecworks.org/PEEC/PEEC_Research/S01795BFC-017AD05F
Seniciato, T., & Cavassan, O. (2004). Aulas de campo em ambientes naturais e
aprendizagem em ciências – um estudo com alunos do ensino fundamental. Ciência &
Educação, (10)1, 133 -147.
11. ANEXO 1
Trabalho de Campo - Movimente sua energia com novas ideias
PIBID Biologia - UNESP Rio Claro
Nome:__________________________________________________________________
Escola:______________________Série:_______________________________________
Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 1: Canavial
Fique atento para alguns aspectos que foram organizados nos itens abaixo e faça
as devidas anotações. Bom trabalho!
1) Olhe pela janela, estamos em um local cuja paisagem é bem típica de nossa
região, o que mais lhe chama atenção nessa paisagem?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
2) Imagine e aponte como era essa paisagem antes da monocultura de cana.
Na sua opinião, quais foram os fatores que levaram a essas mudanças na
paisagem?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
3) Explique em linhas gerais como se dá o ciclo energético, desde a plantação da
cana-de-açúcar, passando pelo seu processo de industrialização até o consumo de seus
produtos finais.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
12. Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 2: Aterro Sanitário
1) Procure se atentar para as sensações e questionamentos que este ambiente
provoca em você. Registre-os a seguir.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Imagine e indique de onde vem todo esse lixo.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Quantos saquinhos (de mercado) de lixo, aproximadamente, você acha que sua
casa produz por semana? Você acha essa quantidade muito ou pouco?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
2) A vida útil de um aterro sanitário pode ser maior se as pessoas diminuírem seu
envio de resíduos sólidos, dessa forma não seria necessário a construção de um
novo aterro, que além de ocupar bastante espaço, gera vários danos à natureza.
Além da reciclagem, que outra medida você vê que esteja relacionada ao seu
modo de vida que poderia reduzir essa quantidade de resíduo?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
3) Sabe-se que a queima do metano (CH4), gerado em aterros, pode produzir
energia elétrica. De acordo com o engenheiro da SEPLADEMA o aterro de Rio Claro
recebe aproximadamente 100 toneladas de resíduos sólidos por dia, o que torna
economicamente inviável a instalação de uma termoelétrica. Entretanto essa tecnologia é
utilizada em alguns aterros maiores como o de Salvador, que recebe 2,5 mil toneladas
por dia. A energia gerada nesse aterro é capaz de abastecer 50 mil residências.
Reflita sobre isso.
13. Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 3: Usina Hidrelétrica de Corumbataí
O monitor da Usina de Corumbataí fará uma apresentação sobre a história
do local, após essa apresentação responda:
1) Há alguns anos, a Usina Hidrelétrica de Corumbataí era responsável pelo
fornecimento de toda a energia elétrica do município de Rio Claro.
Por que hoje ela consegue suprir somente a quantidade necessária para um
bairro?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Após a apresentação da maquete pelo monitor da Usina responda:
2) A usina hidrelétrica de Itaipu, localizada no extremo oeste do Paraná,
possivelmente abastece parte da energia elétrica consumida na cidade de Rio Claro, que
é localizada no Sudeste.
Há uma grande distância percorrida por essa energia elétrica. A partir de seus
conhecimentos sobre o assunto, você acha que há perda de energia nessa transmissão?
Por quê? Proponha soluções, relacionando PCHs, eficiência energética e outras fontes
de energia.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
3) Preencha a tabela de acordo com as instruções apresentadas pelo monitor e
seu consumo:
Eletrodomésticos Potência (W)
Horas de consumo por
dia
Chuveiro inverno
Chuveiro verão
14. Ferro elétrico
Geladeira
Lâmpada
Ao se aproximar do rio responda:
4) Observando as matas ciliares (vegetação de ambas as margens do rio), você
consegue perceber alguma diferença entre elas? Qual seria a dessa diferença?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
5) No encontro dos rios...
Como relacionar o volume de água com a quantidade de energia produzida?
Procure explicar considerando a sazonalidade do rio.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
6) No fim do percurso...
Com auxílio do mapa, observe os locais visitados e destaque quais os impactos
ambientais gerados.
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Tomara que tenha aproveitado bastante esse Trabalho de Campo...
Respondeu a todas as questões?
PARABÉNS!!!
15. ANEXO 2
Trabalho de Campo - Movimente sua energia com novas idéias - PIBID Biologia-
UNESP Rio Claro
Nome:__________________________________________________________________
Escola:______________________Série:_______________________________________
Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 1: Canavial
Olhe ao lado, estamos em um local cuja paisagem é bem típica de
nossa região. Fique atento para alguns aspectos que foram organizados nos itens
abaixo e faça as devidas anotações. Bom trabalho!
1) Observe pela janela, o que mais lhe chama atenção ao redor da estrada?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
2) Imagine como era essa paisagem antes da monocultura de cana.
Na sua opinião, quais foram os fatores que levaram a essas mudanças na
paisagem?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
3) Voce relaciona a grande extensão do cultivo de cana com o nosso consumo
energético?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
16. Trabalho de Campo - Movimente sua energia com novas idéias - PIBID Biologia-
UNESP Rio Claro
Nome:__________________________________________________________________
Escola:______________________Série:_______________________________________
Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 2: Aterro Sanitário
1) Depois de já ter caminhado pelo aterro sanitário, procure se atentar as sensações que
este ambiente provoca em você.
As questões abaixo podem auxiliá-lo:
- Você se sente bem ou mal neste ambiente? Por quais motivos?
- Que cor você associaria a este ambiente? Por quê?
- Há algum cheiro marcante? Como você o descreveria?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
2) De onde vem todo esse lixo?
Quantos saquinhos (de mercado) de lixo, aproximadamente, você acredita que
cada morador de sua casa produz por semana?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
3) Divida o círculo abaixo de acordo com a quantidade de resíduos sólidos
produzidos na sua casa: material reciclável, matéria orgânica e lixo.
4) Quais as medidas que você e as pessoas da sua casa podem adotar para
reduzir a quantidade de lixo?
17. _______________________________________________________________________
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Trabalho de Campo - Movimente sua energia com novas idéias - PIBID Biologia-
UNESP Rio Claro
Nome:__________________________________________________________________
Escola:______________________Série:_______________________________________
Local:___________________________ Data:___/___/___
Horário de início:________ Horário de término_________
Roteiro de campo 3: Usina Hidrelétrica de Corumbataí
O monitor da Usina de Corumbataí fará uma apresentação sobre a história
do local, após essa apresentação responda:
1) Há alguns anos, a Usina Hidrelétrica de Corumbataí era responsável pelo
fornecimento de toda a energia elétrica municipio de Rio Claro.
Por que hoje ela consegue suprir somente a quantidade necessária para um
bairro?
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Após a apresentação da maquete pelo monitor da Usina responda:
2) De onde vem a energia que chega em nossa casa?
Há perda de energia nessa transmissão?
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3) Preencha a tabela de acordo com as instruções apresentadas na maquete:
18. Ao se aproximar do rio responda:
4) Observando as matas ciliares ou seja a vegetação de ambas as margens do
rio, voce consegue perceber alguma diferença entre elas?
Saberia dizer o porquê dessa diferença?
REFLITA...
5) No encontro dos rios...
Voce associa o volume de água com a quantidade de energia?
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No fim do percurso....
6) Localize no mapa, os pontos visitados na usina e destaque quais os impactos
ambientais gerados com a construção da Usina.
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