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Quim. Nova, Vol. 27, No. 2, 332-336, 2004

               EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: CONSTRUINDO POSSIBILIDADES
Educação


               Edilson Fortuna de Moradillo* e Maria da Conceição Marinho Oki
               Departamento de Química Geral e Inorgânica, Universidade Federal da Bahia, 40170-290 Salvador - BA

               Recebido em 18/12/02; aceito em 20/11/03




               ENVIRONMENTAL EDUCATION AT UNIVERSITY LEVEL: PROPOSED WAYS Environmental education is a big challenge
               in this century and the University has an important role to play in it. This paper presents a practical experience of environmental
               education in the university teaching at the University of Bahia. That experience involves the creation of an interdisciplinary
               group that has been developing research and teaching activities with interdisciplinary perspectives. The paper also discusses a
               methodology proposed by this group aiming to include environmental education in science teaching using social and cultural
               approaches.

               Keywords: environmental education; interdisciplinarity; science teaching.




   INTRODUÇÃO                                                                      tendo, portanto, em sua própria constituição, um caráter interdis-
                                                                                   ciplinari. O nosso grupo tem desenvolvido várias atividades princi-
        Atualmente, a preocupação com o ambiente tem estado presente               palmente de extensão e, atualmente, estamos finalizando um Curso
   na vida de grande parte da população em diferentes culturas e paí-              de Especialização em Educação Ambiental, que durante aproxima-
   ses. A mídia tem se encarregado de divulgar, quotidianamente, gran-             damente um ano e meio já formou vinte e cinco educadores
   des catástrofes ambientais, naturais ou provocadas pela atividade do            ambientais. Está prevista a continuação desta atividade que deverá
   homem, muitas vezes de forma genérica e noticiosa. O modelo                     dar início à capacitação de uma nova turma ainda em 2003, com pelo
   hegemônico atual de desenvolvimento econômico tem contribuído,                  menos trinta e cinco novos candidatos já inscritos. Os nossos alunos
   em grande extensão, para o agravamento desta situação. A degrada-               são predominantemente professores do ensino fundamental e mé-
   ção ambiental, que tem ocorrido em nível mundial, tem introduzido               dio, além de alguns profissionais que atuam em Organizações Não
   novas preocupações. Nos encontros, debates e grandes conferências               Governamentais (ONGs).
   realizadas para a discussão deste assunto é consensual a necessidade                Outras atividades foram desenvolvidas por alguns professores
   da mudança de mentalidade na busca de novos valores e de uma                    do grupo, a exemplo da prática da Educação Ambiental em alguns
   nova ética para reger as relações sociais, cabendo à educação um                bairros da periferia de Salvador, em parceria com ONGs e atividades
   papel fundamental nesse processo.                                               curriculares em comunidades. Algumas destas ações envolveram
        Como educadores e sujeitos instituintes, autores e atores da rea-          parcerias universidade/escolas públicas da nossa cidade, constituin-
   lidade sócio-histórica, temos nos preocupado com estas questões e               do-se em atividades de extensão universitária.
   procurado contribuir, através da nossa prática pedagógica, para edu-
   car ambientalmente através da química. Para alcançarmos o nosso                 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DAS
   objetivo iniciamos, há sete anos, uma aproximação com a Faculdade               CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS1
   de Educação da Universidade Federal da Bahia, através da criação
   de um grupo de estudo, pesquisa e extensão, que congrega pessoas                    Importantes eventos mundiais marcaram a trajetória da Educa-
   interessadas no estudo e prática da Educação Ambiental nos diver-               ção Ambiental nas últimas décadas. O primeiro deles foi a Confe-
   sos níveis de ensino e tem como principais objetivos:                           rência da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Huma-
   • realizar estudos que contribuam para o processo de discussão e                no, a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, que aconteceu
        construção do conhecimento filosófico, sócio-político-cultural e           ao mesmo tempo em que o Clube de Roma, formado por vários paí-
        pedagógico e da sua utilização na formação dos nossos alunos,              ses ricos, publicava um importante documento, um relatório sobre o
        com ênfase na questão ambiental;                                           crescimento demográfico e a exploração dos recursos naturais, fa-
   • intercambiar experiências com outros grupos e instituições inte-              zendo previsões desagradáveis sobre o futuro da humanidade. A
        ressadas nas questões educacionais e sócio-políticas-ambientais;           importância deste documento denominado “Limite de Crescimento”
   • prestar consultoria em Educação Ambiental a instituições gover-               deve-se ao fato de ter denunciado os limites da exploração do nosso
        namentais ou não governamentais;                                           planeta e a sua fragilidade.
   • produzir materiais didático-pedagógicos de fundamentação teó-                     A Conferência de Estocolmo marcou, no nível internacional, a
        rico-prática em Educação Ambiental visando contribuir para a               necessidade de políticas ambientais, reconhecendo a Educação
        melhoria da qualidade de vida da população.                                Ambiental como uma necessidade para a solução dos problemas
        O Núcleo de Estudos em Ciências e Educação Ambiental                       ambientais. Nesse encontro também foram propostas orientações para
   (NECEA) pertence à Faculdade de Educação da UFBA, mas é atual-                  a capacitação de professores e o desenvolvimento de novos métodos
   mente integrado por professores de Educação, Química e Biologia                 e recursos instrucionais para a implementação da Educação Ambiental
                                                                                   nos diversos países.
                                                                                       Ao longo das décadas de 70 e 80, a UNESCO promoveu três
   *e-mail: edilson@ufba.br                                                        conferências internacionais para atender às recomendações feitas no
Vol. 27, No. 2                           Educação Ambiental na Universidade: Construindo Possibilidades                                      333

Encontro de Estocolmo e que resultaram em três importantes decla-         dos os níveis do ensino formal, bem como no não formal. Estas difi-
rações sobre o tema Educação Ambiental. Em 1975, a Conferência            culdades estão essencialmente associadas à política adotada no Brasil,
de Belgrado produziu a Carta de Belgrado e um Programa Internaci-         principalmente na década de 90, que se pautou na implementação de
onal de Educação Ambiental (PIEA). Este programa mantém uma               um Estado Mínimo e na submissão da nossa sociedade às regras im-
base de dados com informações sobre instituições e projetos envol-        postas pelo mercado econômico e pelo capitalismo desenfreado.
vidos com a Educação Ambiental, além de promover eventos e pu-                 Vários documentos atestam que a preocupação ambiental esteve
blicações específicas sobre este tema.                                    presente no âmbito governamental em nosso país, nos últimos 50
     O segundo encontro promovido pela UNESCO, a Conferência              anos, mas, restringindo-se a um enfoque naturalista e preservacionista.
de Tbilisi, realizada em 1977 na cidade de Tbilisi, na Geórgia, cons-     Através desta visão, a Educação Ambiental instalou-se no plano fe-
tituiu-se na primeira Conferência Intergovernamental. A declaração        deral governamental em nosso país.
produzida nesta reunião contém objetivos, estratégias, característi-           A oficialização da Educação Ambiental no Brasil aconteceu atra-
cas, princípios e recomendações para a Educação Ambiental que fo-         vés da lei federal de n0 6.938, sancionada a 31 de agosto de 1981, que
ram aperfeiçoados em publicações posteriores da UNESCO em 1985,           criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Apesar do atra-
1986, 1988 e 1989. Nesse documento encontram-se, por exemplo,             so em relação às recomendações da Conferência de Estocolmo, esta
recomendações para que a Educação Ambiental aconteça tanto ao             lei foi promulgada graças ao trabalho e empenho de setores da socie-
nível da educação formal quanto da informal, envolvendo pessoas           dade como partidos de esquerda, ONGs, ambientalistas e acadêmicos.
de todas as idades.                                                            No nível governamental federal, vários órgãos estiveram envol-
     A terceira conferência foi realizada em agosto de 1987 em Mos-       vidos com a implementação da educação ambiental, seja na vertente
cou, e destacou-se das demais por criar um quadro teórico-meto-           ambiental ou na área educacional, através de vários programas e di-
dológico para a concretização da Educação Ambiental, sugerindo            retrizes como o PRONEA (Programa Nacional de Educação
uma reorientação do processo educacional. Entre os objetivos dessa        Ambiental), DEA (Diretrizes de Educação Ambiental), o PEPEA
conferência estava um plano de ação para a implementação da Edu-          (Programa de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental).
cação Ambiental ao longo da década de 90.                                      Outra importante ação no nível educacional foi a inclusão da
     Embora vários outros encontros menores tenham acontecido para        questão ambiental na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasi-
tratar as dimensões sócio-ambientais, a Organização das Nações            leira (LDB/96), que passou a considerar a compreensão do ambiente
Unidas (ONU) promoveu ainda outra importante reunião, realizada           natural como fundamental para a educação básica. A inclusão da
em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para          área de Meio Ambiente como um dos temas transversais nos
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Con-             Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) encontra-se enfocada no
ferência de Cúpula da Terra ou Rio 92. Esse encontro envolveu mui-        seguinte trecho desse documento que traz orientações para o traba-
ta polêmica durante a sua realização e aprovou cinco acordos ofici-       lho do professor: “O trabalho pedagógico com a questão ambiental
ais internacionais sobre temas como Meio Ambiente e Desenvolvi-           centra-se no desenvolvimento de atitudes e posturas éticas e, no do-
mento, Florestas, Mudanças Climáticas, Diversidade Biológica, além        mínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem de concei-
da famosa Agenda 21 que contém pressupostos para a implementação          tos”2. Mais recentemente, o Senado aprovou a lei federal 9.795, em
da Educação Ambiental, visando a sobrevivência dos povos para o           27 de abril de 1999, que tem como objetivo oficializar a presença da
século XXI. Neste documento foram apresentados compromissos e             Educação Ambiental em todas as modalidades de ensino.
intenções para uma melhoria da qualidade de vida e da sua                      Apesar de alguns avanços, a política federal para a Educação
sustentabilidade.                                                         Ambiental ainda carece de maior articulação entre os setores gover-
     Em paralelo a esse evento, o Ministério da Educação e Despor-        namentais e não governamentais, para que políticas específicas ne-
tos (MEC) organizou um Encontro onde foi aprovado o documento             cessárias sejam efetivamente implementadas.
“Carta Brasileira Para a Educação Ambiental” que enfoca o papel do             Na década de 80, o artigo de Krasilchik3 foi pioneiro na descri-
estado em relação à Educação Ambiental e sua implementação em             ção da evolução da Educação Ambiental no Brasil. Nesse trabalho,
todos os níveis de ensino.                                                essa pesquisadora já constatava a utilização de diferentes concep-
     Embora o conteúdo das várias declarações produzidas nos en-          ções de Educação Ambiental, o que ocasionava uma grande diversi-
contros anteriormente citados tenha recebido muitas críticas, devem       dade de práticas e um questionamento da qualidade dos trabalhos
ser reconhecidos os avanços introduzidos e que estão contidos nos         realizados nesta área, no Brasil. Nesse artigo foram apresentadas
pressupostos pedagógicos que nortearam estas declarações.                 sugestões para implementação de programas de Educação Ambiental
     No ano de 2002 aconteceu outro importante evento, a “Rio +           na educação formal, bem como de pesquisas nesta área.
10”, na África do Sul, na cidade de Joanesburgo, onde foi feito um             A ausência de um referencial pedagógico teórico-conceitual para
balanço das ações sócio-ambientais realizadas na última década, após      subsidiar as práticas em Educação Ambiental é, ainda hoje, uma
a Rio-92. Mais uma vez constatou-se a necessidade de todas as na-         importante questão. Deve-se levar em conta também que a educação
ções se engajarem na tarefa de preservação do nosso planeta, assu-        ambiental não pode prescindir da concepção de uma realidade com-
mindo as responsabilidades que cabem a cada uma delas, visando o          plexa que inclui diferentes elementos na sua constituição, que estão
cumprimento efetivo de compromissos já assumidos. Percebeu-se,            em contínua interação.
também, a dificuldade de fazer com que certos países desenvolvidos
reconheçam a grande responsabilidade que lhes cabe na implemen-           CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
tação de medidas de proteção do ambiente e da vida, em especial,
quando as medidas a serem adotadas vão levar a uma diminuição da              Os encontros e debates que tratam da Educação Ambiental apon-
produção industrial e do consumo.                                         tam para a necessidade de formulação de um quadro teórico-
                                                                          conceitual e metodológico que permita a operacionalização da con-
A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL                              cepção de Educação Ambiental e a formulação e análise crítica de
                                                                          propostas para a sua implementação.
    No Brasil, a Educação Ambiental tem enfrentado numerosas difi-            A base conceitual da Educação Ambiental tem sido objeto de
culdades para o seu reconhecimento efetivo e implementação em to-         muita discussão pelos pesquisadores e/ou educadores em função do
334                                                                Moradillo e Oki                                                       Quim. Nova

caráter interdisciplinar que a caracteriza. Inicialmente, predominava        formal como um dos espaços coletivos para produção/reflexão de
na fundamentação teórica que a orientava uma visão romântica,                conhecimentos torna-se hoje, mais do que nunca, desafiada para in-
preservacionista e ecológica. Nas últimas décadas, a educação                serir nas suas práticas pedagógicas a perspectiva ambiental como
ambiental passou a ser vista como capaz de prover novos valores,             um dos eixos norteadores para construção de significados que pos-
condutas sociais ambientalmente corretas tendo como princípio                sam levar à superação do atual contexto sócio-histórico, de degrada-
norteador a ética nas relações sociais.                                      ção e exploração da natureza, incluindo o próprio homem.
     Segundo Pedrini1, “a Educação Ambiental é uma das possibili-                 A concepção de Educação Ambiental que compartilhamos parte
dades de reconstrução multifacetada não cartesiana do saber huma-            do princípio de que não há ciência sem o homem, seu trabalho e a
no, constituindo-se num saber construído socialmente e caracteristi-         natureza e que os conteúdos e conceitos devem ser considerados ins-
camente multidisciplinar na estrutura, interdisciplinar na linguagem         trumentais básicos para a compreensão da relação Natureza, Conheci-
e transdisciplinar na sua ação”. Ela deve visar a transformação do           mento e Sociedade. Ainda de acordo com essa concepção, o homem é
educando através do desenvolvimento de novos valores, hábitos, pos-          conseqüência da interação dialética do “ser como natureza”, do “ser
turas, condutas e atos na relação com o ambiente considerado em              como indivíduo” e como condicionante das demais do “ser como rela-
toda a sua complexidade.                                                     ção social”8. Em consonância com essa visão do ser humano, o conhe-
     Muitos educadores e pesquisadores ambientais entendem que a             cimento, sempre em processo, sem um fim predeterminado é um eter-
Educação Ambiental é um importante referencial de mudança no campo           no devir, é algo cultural. A leitura da ciência fora dessa perspectiva
da Educação. Em relação a esse assunto, Reigota4 comenta sobre os            traz como conseqüência para os indivíduos, a perda da visão de totali-
desafios enfrentados para a sua prática “[...] A Educação Ambiental na       dade e a alienação sobre as relações existentes entre ciência e processo
escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educa-         cultural, assim como ciência e desenvolvimento social.
ção, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educa-              O papel da escola, dentro de uma perspectiva política não ingê-
cional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança             nua, é o de criar espaços através de seus atores e autores sociais no
histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas”.     sentido da desalienação dos indivíduos, diante do conhecimento frag-
     Dentro de um enfoque construtivista e ambiental, os conheci-            mentado e destituído de significado para suas ações sociais.
mentos desejáveis na Educação Ambiental devem estruturar-se como                  Nos últimos anos temos feito algumas intervenções em discipli-
uma síntese integradora de diferentes aportes como, por exemplo, a           nas oferecidas para químicos e não químicos, no sentido de ter a
análise histórica e epistemológica dos conceitos e modelos científi-         educação ambiental como um dos eixos centrais para uma prática
cos, a análise da problemática sócio-ambiental relevante no contexto         pedagógica crítica. Assim como Guimarães9, defendemos a necessi-
de referência, a análise de concepções prévias e dos procedimentos e         dade da presença da dimensão ambiental na educação.
valores desejáveis5.                                                              No curso de Química Geral procuramos trazer à discussão ques-
     A Educação Ambiental deve proporcionar experiências que pos-            tões relativas à parte básica do ensino superior, dentro da concepção
sibilitem colocar as pessoas em contato direto com o mundo e                 da ciência decorrente das relações sociais, contestando a visão de
sensibilizá-las para os ecossistemas que as envolvem; discutir a im-         conhecimento científico considerado único e verdadeiro. O nosso
portância do ambiente para a saúde e o bem estar do homem e para o           trabalho tem a intenção de melhorar a motivação dos alunos, bem
exercício da cidadania; avaliar o desenvolvimento econômico aliado           como possibilitar a reconstrução de certos conteúdos descontextua-
à degradação ambiental e à qualidade de vida e desenvolver no edu-           lizados, o que é muito comum no ensino da química.
cando o sentido ético-social diante dos problemas ambientais6.                    A metodologia adotada tendo em vista esses pressupostos
     Reconhecemos que o exercício da Educação Ambiental tem en-              redirecionou o nosso curso de Química Geral para o modelo sócio-
contrado dificuldades que estão associadas à falta de recursos, à pouca      cultural de ensino e aprendizagem. Concordamos com Maldaner10
valorização do professor, ao pouco envolvimento da comunidade nas            em relação à sua proposição de que através de um modelo sócio-
decisões e no planejamento escolar, aliada à própria rigidez da estru-       cultural de ensino e aprendizagem é possível melhorar sensivelmen-
tura de grande parte das escolas. Outras questões relacionadas à prá-        te o nível de conhecimento químico aprendido na escola. Deve-se
tica pedagógica também devem ser lembradas como a visão “conteu-             “superar as propostas tradicionais do ensino de química que colo-
dista” que predomina no ensino tradicional, a pouca preparação dos           cam todo o esforço do trabalho escolar em torno dos conteúdos
professores e os critérios de avaliação comumente adotados, em que           descontextualizados, segundo uma lógica de conhecimento sistema-
predominam ausência de criatividade e uma visão não processual.              tizado, que é adequada apenas para quem já conhece química”. Esse
     No NECEA compreendemos a Educação Ambiental como um pro-                pesquisador defende a necessidade de superação das posições que
cesso de busca do conhecimento, que deve resultar na aquisição de valo-      centralizam todo o esforço pedagógico no aluno em contexto esco-
res que permitam aos indivíduos envolvidos atuar de modo conseqüente         lar, numa postura construtivista, esquecendo que o sentido mais pro-
no meio em que vivem. Defendemos também que a aquisição do conhe-            fundo da aprendizagem escolar é o de inserir o aprendiz, de forma
cimento fornece elementos para melhor compreensão da realidade e dos         intencional e sistemática, no contexto sócio-cultural em que vive.
problemas que afetam o ambiente na atualidade.                                    O nosso curso caracterizado dentro da perspectiva ambiental tem
     Em nosso entendimento, os três princípios que devem nortear             como objetivos:
uma prática da educação são: pensar segundo a categoria de totalida-         1) estudar a matéria (constituição, estrutura, propriedades) e suas
de; interpretar os fatos mediante a apreensão histórica do processo               transformações, incluindo os aspectos cinéticos e energéticos,
de construção do conhecimento e agir no sentido de possibilitar trans-       2) aplicar os conhecimentos adquiridos a um determinado tema (ar
formações necessárias à dignificação da vida e à implantação de so-               e água, resíduos sólidos, fogo e energia, metais, argilas), procu-
ciedades sustentáveis7.                                                           rando relacioná-los com o contexto: ético-político, econômico e
                                                                                  cultural; através de seminários realizados pelos alunos e alunas.
UMA POSSIBILIDADE: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
INSERIDA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA                                               ARTICULANDO CONCEITOS QUÍMICOS COM A
                                                                             QUESTÃO AMBIENTAL
    A globalização dos problemas ambientais e a sua compreensão
são de responsabilidade do conjunto das sociedades e a educação                  No relato que se segue, utilizaremos como exemplo para ilustrar
Vol. 27, No. 2                           Educação Ambiental na Universidade: Construindo Possibilidades                                     335

o trabalho desenvolvido o funcionamento de uma disciplina semes-               Em articulação com as questões específicas da química, discuti-
tral de Química Geral para estudantes do curso de Licenciatura em         mos também sobre mudança conceitual e resistência (os conceitos
Ciências. A maioria dos alunos e alunas eram recém-ingressos na           históricos de calor e sua confusão com a temperatura e a energia),
Universidade. A disciplina funcionou com 4 h semanais (68 h no            conexões entre descrição textual e formal dos fenômenos. Em suma,
semestre), com módulo de 30 alunos.                                       tratamos de agir e refletir coletivamente, buscando um aprimora-
     Nas primeiras aulas do curso, procuramos identificar as concep-      mento da ação.
ções dos alunos sobre a problemática ambiental. O instrumento uti-             Partimos do pressuposto que ao tratar determinados conceitos
lizado foi um questionário envolvendo perguntas sobre ambiente,           da Química, não é necessário esgotar tais conceitos para podermos
desenvolvimento sustentável, contexto social, Educação Ambiental.         aplicá-los no contexto sócio-cultural do aprendiz13. Em seguida à
Essas informações constituíram uma referência para o planejamento         exposição do professor e à discussão coletiva, um grupo de estudan-
do ensino e identificação de mudanças no conhecimento dos estu-           tes, através de um tema pré-selecionado e com questões norteadoras
dantes ao longo do curso.                                                 previamente formuladas em parceria com o professor, apresentava
     Em relação ao conteúdo específico da disciplina, compartilhamos      um seminário onde procurava “revisitar” alguns conceitos funda-
da idéia que a grande função do professor é inserir o aluno no proces-    mentais da Química. Nesse momento procurava-se fazer a inserção
so de enculturação dentro da dinâmica em sala de aula11. Dentro desta     destes conceitos dentro da problemática ambiental numa perspectiva
perspectiva torna-se imprescindível o levantamento do conhecimento        ético-política, econômica e cultural.
prévio visando o confronto destas idéias com a perspectiva científica          No curso foram apresentados cinco seminários em equipes, com
apresentada pelo professor. Consideramos importante, por exemplo,         carga horária total de 15 h. A seguir apresentamos o esquema elabo-
saber como os estudantes conceituavam os estados sólido, líquido e        rado para a apresentação de um seminário explorado por um dos
gasoso, qual a noção que possuíam do termo partícula material e da        grupos de estudantes.
sua natureza. Entendemos que este último conceito é fundamental na
explicação do comportamento microscópico da matéria e na sua rela-        TEMA DO SEMINÁRIO 1: FOGO E ENERGIA
ção com as suas propriedades macroscópicas e os fenômenos físicos e
químicos observados. Percebemos que este é um conceito que não é              O principal objetivo era explorar os aspectos conceituais da Quí-
bem compreendido pelos alunos que ingressam na Universidade, tor-         mica, assim como os seus aspectos sócio-culturais.
nando difícil que aconteça uma aprendizagem significativa de outros           Questões norteadoras sobre o tema que foram propostas e de-
conceitos relacionados a este e que são posteriormente inseridos.         senvolvidas pelos alunos:
     Em um primeiro momento, como estratégia para o levantamento          • O fogo através do tempo: conservação e domínio
das concepções prévias relativas à matéria, fornecemos aos alunos         • Conceito de fogo
três tubos fechados contendo materiais em diferentes estados físi-        • O triângulo do fogo e sua importância
cos: sólido, líquido e gasoso (um em cada tubo). Em seguida esta          • Classes de incêndios
situação foi explorada através de um questionário contendo ques-          • Energia e suas fontes
tões que mapearam os conceitos importantes que fazem parte da te-         • Matriz energética atual e novas possibilidades: problemas eco-
oria cinético-molecular da matéria. As respostas foram posteriormente         nômicos e ambientais
discutidas com os alunos visando compará-las com os conceitos ci-         • O acesso à energia e o seu consumo
entíficos introduzidos pelo professor.                                    • O padrão de consumo energético no Brasil, a sua relação com o
     Num segundo momento, as concepções prévias relacionadas com              atual modelo econômico e tecnológico e suas conseqüências
o tema energia e reações químicas foram mapeadas a partir de um           • A visão de mundo que permeia a produção e o consumo
experimento simples como a combustão de uma vela. Conceitos como              energético e suas implicações no campo ético-político
conservação, conversão e transferência de energia foram discutidos,
assim como calor de reação.                                                   Nos seminários, alguns conceitos chave, por exemplo educação
     Na sala de aula priorizamos o tipo de abordagem comunicativa,        ambiental, ambiente, degradação, conservação, desenvolvimento
interativa e dialógica12. As idéias eram exploradas pelo professor e      sustentável, entre outros relacionados à questão ambiental eram tra-
estudantes conjuntamente e os diferentes pontos de vistas eram dis-       balhados e sempre retomados. Estes conceitos eram discutidos vi-
cutidos e avaliados.                                                      sando a compreensão do ambiente em sua totalidade a partir de uma
     As aulas expositivas, realizadas pelo professor, tiveram como        perspectiva sócio-histórica, contribuindo para que a química fosse
finalidade introduzir os assuntos novos, realizar sínteses, manter o      percebida como um empreendimento cultural. Fazia parte também
rumo dos objetivos acordados. Nas discussões coletivas que segui-         da nossa proposta criar entre os alunos uma perspectiva crítica sobre
ram às exposições, trabalhamos situações-problema próprias da dis-        a cultura científica e as suas conseqüências.
ciplina. Por exemplo, como explicar a produção de calor por uma               A pesquisaii e apresentação de seminários, a participação nas ati-
reação de combustão. As explicações dos alunos envolvendo ques-           vidades em sala de aula e externasiii, as resoluções de exercícios e a
tões como transformação, liberação ou absorção de energia, etc. fo-       freqüência foram instrumentos da avaliação, que adotou uma linha
ram submetidas à crítica do grupo, os estudantes foram estimulados        processual. Os alunos avaliaram positivamente o curso, sempre res-
a tomar partido de uma ou outra explicação. Daí emergiram proble-         saltando que a aplicação dos conceitos principais estudados durante
mas conceituais, como natureza teórica ou empírica da conservação         o curso dentro da perspectiva sócio-ambiental, saindo de uma explo-
da energia, a diversidade dos conceitos de calor, medidas da energia,     ração simplista do tripé ambiente-química-poluição, enriqueceu o
interpretação de expressões matemáticas, explicação microscópica          curso ao facilitar a apropriação/contextualização dos conteúdos, fa-
das reações de combustão e a representação química dos fenômenos.         vorecendo uma visão não reducionista de ambiente.
Desse modo, exercitamos a cooperação entre os alunos na busca das             Pretendemos, desse modo, cativar os nossos alunos tornando o
soluções dos problemas propostos, discutimos as razões para optar         conteúdo programático mais atraente e adequado à realidade social,
por um ou outro encaminhamento, exploramos as conexões entre              através de reflexões sobre os significados contemporâneos de co-
teoria e experiência e analisamos alguns aspectos da bibliografia re-     nhecimento, ciência, cultura, educação, dentre outros, aliado a deba-
comendada para a disciplina.                                              tes profundos das questões éticas e morais surgidas com os proces-
336                                                                       Moradillo e Oki                                                              Quim. Nova

sos de desenvolvimento, principalmente da ciência e tecnologia. A                   senciais a uma interdisciplinaridade de acordo com a discussão que
nossa prática pedagógica tem sido direcionada para contemplar es-                   é feita por Fazenda14:
tas questões.                                                                       a) a mudança na atitude frente ao problema do conhecimento, na
                                                                                        substituição de uma concepção fragmentária pela concepção uni-
REFERÊNCIAS                                                                             tária do ser humano;
                                                                                    b) a colaboração entre as diversas disciplinas conduzindo a uma
 1. Pedrini, A. de G. Em Educação Ambiental: reflexões e práticas                       “interação”, a uma intersubjetividade que pode levar à realiza-
    contemporâneas; Pedrini, A. de G., org.; 3a ed.,Vozes: Petrópolis, 2000,            ção de objetivos comuns, a partir de pontos de vista diferentes,
    cap. i.
 2. Brasil, Secretaria de Educação Fundamental; Parâmetros curriculares                 visando uma mudança no modo de compreender e entender;
    nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/       c) a superação dos obstáculos psicossociológicos, culturais e mate-
    Secretaria de Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 201.                riais visando uma nova pedagogia, a da “comunicação”.
 3. Krasilchik, M.; Ciência e Cultura 1986, 38, 1958.
 4. Reigota, M. Em Educação, Meio Ambiente e Cidadania; Cascino, F.;
    Jacobi, P.; Oliveira, J. F., org.; SMA/CEAM: São Paulo, 1998.                       ii
 5. Medina, N. M.; Amazônia, Uma Proposta Interdisciplinar de Educação                  Bibliografia complementar geral fornecida para preparação dos
    Ambiental, Ed. IBAMA: Brasília, 1994.                                           seminários:
 6. Pereira, A. B.; Aprendendo Ecologia Através da Educação Ambiental, ed.            1. Benn, F. R.; Mcauliffe, C. A.; Química e poluição, trad. de Pitombo, L. R.
    Sagra-DC Luzzatto: Porto Alegre, 1993.                                               L.; Massaro, S., EDUSP: São Paulo, 1981.
 7. Araujo, A. R.; Moradillo, E. F.; Pimentel, H. O.; Melo, H. T.; Souza, J.          2. Lago, A.; Pádua, J. A.; O que é ecologia, Brasiliense: São Paulo, 1984.
    B.; Constante, J. P.; Oki, M. C. M.; Carvalho, M. L. S. M.; Pinho, R. C.;         3. Leite, J. L., org.; Problemas chave do meio ambiente, ed. EXPOGEO:
    Lôbo, S. F.; Zacarias, T. M.; Paradella, Y. P.; Projeto: Criação/implantação         Salvador, 1994.
    do Núcleo de Estudos em Ciências e EducaçãoAmbiental (NECEA),                     4. Lima, M. J. de A.; Ecologia Humana, Vozes: Petrópolis, 1984.
    FACED/UFBA, Salvador, 1995.                                                       5. Pereira, N. S.; Pereira, J. Z. F.; Terra, planeta poluído, ed. SAGRA: Porto
 8. Frigotto, G. Em Eucação e Crise do Trabalho: Perspectivas de Final de                Alegre, 1980.
    Século; Frigotto, G., org.; Vozes: Petrópolis, 1998, cap. 1.                      6. Reigota, M.; O que é educação ambiental, Brasiliense: São Paulo, 1994.
 9. Guimarães, M. A.; A Dimensão Ambiental na Educação, Papirus:                      7. Vidal, J. B.; De Estado servil a Nação soberana, Vozes: Petrópolis, 1988.
    Campinas, 1995.                                                                   8. Vidal, J. B.; Soberania e dignidade, Vozes: Petrópolis, 1991.
10. Maldaner,O. A.; Anais do VIII Encontro Nacional de Ensino de Química;               Foram consultados também livros paradidáticos de conteúdos
    VIII Encontro Centro Oeste de Debates Sobre o Ensino de Química e               específicos relacionados aos temas dos seminários, bem como pági-
    Ciências, Campo Grande, Brasil, 1996.
11. Driver, R.; Leach, J.; Mortimer, E. F.; Scolt, P.; Química Nova na Escola       nas da internet e materiais técnicos fornecidos por algumas institui-
    1999, 9, 31.                                                                    ções.
12. Mortimer, E. F.; Scott, P.; Investigações Em Ensino de Ciências, 2002, 7,
    ou em http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/revista.html, acessada em Abril          iii
                                                                                           Alguns dos temas que foram objeto de pesquisa e discussão
    2003.
                                                                                    posterior em seminários motivaram a visita de alunos a instituições,
13. Mortimer, E. F.; Quim. Nova 2000, 23, 273.
14. Fazenda, I. C. A.; Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro:     tais como Empresa Baiana de Águas e Saneamento, Fábrica de Ma-
    Efetividade ou Ideologia, Loyola: São Paulo, 1996.                              teriais Cerâmicos, Central de Tratamento de Efluentes do Polo
                                                                                    Petroquímico da Camaçari/CETREL, Prefeitura Municipal de Sal-
NOTAS                                                                               vador/LIMPURB, etc., para conhecer melhor os processos químicos
                                                                                    de produção e a problemática sócio-ambiental relacionada ao tema
   i
     Como o conceito de interdisciplinaridade não possui um senti-                  escolhido.
do único e estável, citaremos alguns pontos que consideramos es-

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  • 1. Quim. Nova, Vol. 27, No. 2, 332-336, 2004 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE: CONSTRUINDO POSSIBILIDADES Educação Edilson Fortuna de Moradillo* e Maria da Conceição Marinho Oki Departamento de Química Geral e Inorgânica, Universidade Federal da Bahia, 40170-290 Salvador - BA Recebido em 18/12/02; aceito em 20/11/03 ENVIRONMENTAL EDUCATION AT UNIVERSITY LEVEL: PROPOSED WAYS Environmental education is a big challenge in this century and the University has an important role to play in it. This paper presents a practical experience of environmental education in the university teaching at the University of Bahia. That experience involves the creation of an interdisciplinary group that has been developing research and teaching activities with interdisciplinary perspectives. The paper also discusses a methodology proposed by this group aiming to include environmental education in science teaching using social and cultural approaches. Keywords: environmental education; interdisciplinarity; science teaching. INTRODUÇÃO tendo, portanto, em sua própria constituição, um caráter interdis- ciplinari. O nosso grupo tem desenvolvido várias atividades princi- Atualmente, a preocupação com o ambiente tem estado presente palmente de extensão e, atualmente, estamos finalizando um Curso na vida de grande parte da população em diferentes culturas e paí- de Especialização em Educação Ambiental, que durante aproxima- ses. A mídia tem se encarregado de divulgar, quotidianamente, gran- damente um ano e meio já formou vinte e cinco educadores des catástrofes ambientais, naturais ou provocadas pela atividade do ambientais. Está prevista a continuação desta atividade que deverá homem, muitas vezes de forma genérica e noticiosa. O modelo dar início à capacitação de uma nova turma ainda em 2003, com pelo hegemônico atual de desenvolvimento econômico tem contribuído, menos trinta e cinco novos candidatos já inscritos. Os nossos alunos em grande extensão, para o agravamento desta situação. A degrada- são predominantemente professores do ensino fundamental e mé- ção ambiental, que tem ocorrido em nível mundial, tem introduzido dio, além de alguns profissionais que atuam em Organizações Não novas preocupações. Nos encontros, debates e grandes conferências Governamentais (ONGs). realizadas para a discussão deste assunto é consensual a necessidade Outras atividades foram desenvolvidas por alguns professores da mudança de mentalidade na busca de novos valores e de uma do grupo, a exemplo da prática da Educação Ambiental em alguns nova ética para reger as relações sociais, cabendo à educação um bairros da periferia de Salvador, em parceria com ONGs e atividades papel fundamental nesse processo. curriculares em comunidades. Algumas destas ações envolveram Como educadores e sujeitos instituintes, autores e atores da rea- parcerias universidade/escolas públicas da nossa cidade, constituin- lidade sócio-histórica, temos nos preocupado com estas questões e do-se em atividades de extensão universitária. procurado contribuir, através da nossa prática pedagógica, para edu- car ambientalmente através da química. Para alcançarmos o nosso A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DAS objetivo iniciamos, há sete anos, uma aproximação com a Faculdade CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS1 de Educação da Universidade Federal da Bahia, através da criação de um grupo de estudo, pesquisa e extensão, que congrega pessoas Importantes eventos mundiais marcaram a trajetória da Educa- interessadas no estudo e prática da Educação Ambiental nos diver- ção Ambiental nas últimas décadas. O primeiro deles foi a Confe- sos níveis de ensino e tem como principais objetivos: rência da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Huma- • realizar estudos que contribuam para o processo de discussão e no, a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, que aconteceu construção do conhecimento filosófico, sócio-político-cultural e ao mesmo tempo em que o Clube de Roma, formado por vários paí- pedagógico e da sua utilização na formação dos nossos alunos, ses ricos, publicava um importante documento, um relatório sobre o com ênfase na questão ambiental; crescimento demográfico e a exploração dos recursos naturais, fa- • intercambiar experiências com outros grupos e instituições inte- zendo previsões desagradáveis sobre o futuro da humanidade. A ressadas nas questões educacionais e sócio-políticas-ambientais; importância deste documento denominado “Limite de Crescimento” • prestar consultoria em Educação Ambiental a instituições gover- deve-se ao fato de ter denunciado os limites da exploração do nosso namentais ou não governamentais; planeta e a sua fragilidade. • produzir materiais didático-pedagógicos de fundamentação teó- A Conferência de Estocolmo marcou, no nível internacional, a rico-prática em Educação Ambiental visando contribuir para a necessidade de políticas ambientais, reconhecendo a Educação melhoria da qualidade de vida da população. Ambiental como uma necessidade para a solução dos problemas O Núcleo de Estudos em Ciências e Educação Ambiental ambientais. Nesse encontro também foram propostas orientações para (NECEA) pertence à Faculdade de Educação da UFBA, mas é atual- a capacitação de professores e o desenvolvimento de novos métodos mente integrado por professores de Educação, Química e Biologia e recursos instrucionais para a implementação da Educação Ambiental nos diversos países. Ao longo das décadas de 70 e 80, a UNESCO promoveu três *e-mail: edilson@ufba.br conferências internacionais para atender às recomendações feitas no
  • 2. Vol. 27, No. 2 Educação Ambiental na Universidade: Construindo Possibilidades 333 Encontro de Estocolmo e que resultaram em três importantes decla- dos os níveis do ensino formal, bem como no não formal. Estas difi- rações sobre o tema Educação Ambiental. Em 1975, a Conferência culdades estão essencialmente associadas à política adotada no Brasil, de Belgrado produziu a Carta de Belgrado e um Programa Internaci- principalmente na década de 90, que se pautou na implementação de onal de Educação Ambiental (PIEA). Este programa mantém uma um Estado Mínimo e na submissão da nossa sociedade às regras im- base de dados com informações sobre instituições e projetos envol- postas pelo mercado econômico e pelo capitalismo desenfreado. vidos com a Educação Ambiental, além de promover eventos e pu- Vários documentos atestam que a preocupação ambiental esteve blicações específicas sobre este tema. presente no âmbito governamental em nosso país, nos últimos 50 O segundo encontro promovido pela UNESCO, a Conferência anos, mas, restringindo-se a um enfoque naturalista e preservacionista. de Tbilisi, realizada em 1977 na cidade de Tbilisi, na Geórgia, cons- Através desta visão, a Educação Ambiental instalou-se no plano fe- tituiu-se na primeira Conferência Intergovernamental. A declaração deral governamental em nosso país. produzida nesta reunião contém objetivos, estratégias, característi- A oficialização da Educação Ambiental no Brasil aconteceu atra- cas, princípios e recomendações para a Educação Ambiental que fo- vés da lei federal de n0 6.938, sancionada a 31 de agosto de 1981, que ram aperfeiçoados em publicações posteriores da UNESCO em 1985, criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Apesar do atra- 1986, 1988 e 1989. Nesse documento encontram-se, por exemplo, so em relação às recomendações da Conferência de Estocolmo, esta recomendações para que a Educação Ambiental aconteça tanto ao lei foi promulgada graças ao trabalho e empenho de setores da socie- nível da educação formal quanto da informal, envolvendo pessoas dade como partidos de esquerda, ONGs, ambientalistas e acadêmicos. de todas as idades. No nível governamental federal, vários órgãos estiveram envol- A terceira conferência foi realizada em agosto de 1987 em Mos- vidos com a implementação da educação ambiental, seja na vertente cou, e destacou-se das demais por criar um quadro teórico-meto- ambiental ou na área educacional, através de vários programas e di- dológico para a concretização da Educação Ambiental, sugerindo retrizes como o PRONEA (Programa Nacional de Educação uma reorientação do processo educacional. Entre os objetivos dessa Ambiental), DEA (Diretrizes de Educação Ambiental), o PEPEA conferência estava um plano de ação para a implementação da Edu- (Programa de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental). cação Ambiental ao longo da década de 90. Outra importante ação no nível educacional foi a inclusão da Embora vários outros encontros menores tenham acontecido para questão ambiental na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasi- tratar as dimensões sócio-ambientais, a Organização das Nações leira (LDB/96), que passou a considerar a compreensão do ambiente Unidas (ONU) promoveu ainda outra importante reunião, realizada natural como fundamental para a educação básica. A inclusão da em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para área de Meio Ambiente como um dos temas transversais nos o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Con- Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) encontra-se enfocada no ferência de Cúpula da Terra ou Rio 92. Esse encontro envolveu mui- seguinte trecho desse documento que traz orientações para o traba- ta polêmica durante a sua realização e aprovou cinco acordos ofici- lho do professor: “O trabalho pedagógico com a questão ambiental ais internacionais sobre temas como Meio Ambiente e Desenvolvi- centra-se no desenvolvimento de atitudes e posturas éticas e, no do- mento, Florestas, Mudanças Climáticas, Diversidade Biológica, além mínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem de concei- da famosa Agenda 21 que contém pressupostos para a implementação tos”2. Mais recentemente, o Senado aprovou a lei federal 9.795, em da Educação Ambiental, visando a sobrevivência dos povos para o 27 de abril de 1999, que tem como objetivo oficializar a presença da século XXI. Neste documento foram apresentados compromissos e Educação Ambiental em todas as modalidades de ensino. intenções para uma melhoria da qualidade de vida e da sua Apesar de alguns avanços, a política federal para a Educação sustentabilidade. Ambiental ainda carece de maior articulação entre os setores gover- Em paralelo a esse evento, o Ministério da Educação e Despor- namentais e não governamentais, para que políticas específicas ne- tos (MEC) organizou um Encontro onde foi aprovado o documento cessárias sejam efetivamente implementadas. “Carta Brasileira Para a Educação Ambiental” que enfoca o papel do Na década de 80, o artigo de Krasilchik3 foi pioneiro na descri- estado em relação à Educação Ambiental e sua implementação em ção da evolução da Educação Ambiental no Brasil. Nesse trabalho, todos os níveis de ensino. essa pesquisadora já constatava a utilização de diferentes concep- Embora o conteúdo das várias declarações produzidas nos en- ções de Educação Ambiental, o que ocasionava uma grande diversi- contros anteriormente citados tenha recebido muitas críticas, devem dade de práticas e um questionamento da qualidade dos trabalhos ser reconhecidos os avanços introduzidos e que estão contidos nos realizados nesta área, no Brasil. Nesse artigo foram apresentadas pressupostos pedagógicos que nortearam estas declarações. sugestões para implementação de programas de Educação Ambiental No ano de 2002 aconteceu outro importante evento, a “Rio + na educação formal, bem como de pesquisas nesta área. 10”, na África do Sul, na cidade de Joanesburgo, onde foi feito um A ausência de um referencial pedagógico teórico-conceitual para balanço das ações sócio-ambientais realizadas na última década, após subsidiar as práticas em Educação Ambiental é, ainda hoje, uma a Rio-92. Mais uma vez constatou-se a necessidade de todas as na- importante questão. Deve-se levar em conta também que a educação ções se engajarem na tarefa de preservação do nosso planeta, assu- ambiental não pode prescindir da concepção de uma realidade com- mindo as responsabilidades que cabem a cada uma delas, visando o plexa que inclui diferentes elementos na sua constituição, que estão cumprimento efetivo de compromissos já assumidos. Percebeu-se, em contínua interação. também, a dificuldade de fazer com que certos países desenvolvidos reconheçam a grande responsabilidade que lhes cabe na implemen- CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL tação de medidas de proteção do ambiente e da vida, em especial, quando as medidas a serem adotadas vão levar a uma diminuição da Os encontros e debates que tratam da Educação Ambiental apon- produção industrial e do consumo. tam para a necessidade de formulação de um quadro teórico- conceitual e metodológico que permita a operacionalização da con- A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL cepção de Educação Ambiental e a formulação e análise crítica de propostas para a sua implementação. No Brasil, a Educação Ambiental tem enfrentado numerosas difi- A base conceitual da Educação Ambiental tem sido objeto de culdades para o seu reconhecimento efetivo e implementação em to- muita discussão pelos pesquisadores e/ou educadores em função do
  • 3. 334 Moradillo e Oki Quim. Nova caráter interdisciplinar que a caracteriza. Inicialmente, predominava formal como um dos espaços coletivos para produção/reflexão de na fundamentação teórica que a orientava uma visão romântica, conhecimentos torna-se hoje, mais do que nunca, desafiada para in- preservacionista e ecológica. Nas últimas décadas, a educação serir nas suas práticas pedagógicas a perspectiva ambiental como ambiental passou a ser vista como capaz de prover novos valores, um dos eixos norteadores para construção de significados que pos- condutas sociais ambientalmente corretas tendo como princípio sam levar à superação do atual contexto sócio-histórico, de degrada- norteador a ética nas relações sociais. ção e exploração da natureza, incluindo o próprio homem. Segundo Pedrini1, “a Educação Ambiental é uma das possibili- A concepção de Educação Ambiental que compartilhamos parte dades de reconstrução multifacetada não cartesiana do saber huma- do princípio de que não há ciência sem o homem, seu trabalho e a no, constituindo-se num saber construído socialmente e caracteristi- natureza e que os conteúdos e conceitos devem ser considerados ins- camente multidisciplinar na estrutura, interdisciplinar na linguagem trumentais básicos para a compreensão da relação Natureza, Conheci- e transdisciplinar na sua ação”. Ela deve visar a transformação do mento e Sociedade. Ainda de acordo com essa concepção, o homem é educando através do desenvolvimento de novos valores, hábitos, pos- conseqüência da interação dialética do “ser como natureza”, do “ser turas, condutas e atos na relação com o ambiente considerado em como indivíduo” e como condicionante das demais do “ser como rela- toda a sua complexidade. ção social”8. Em consonância com essa visão do ser humano, o conhe- Muitos educadores e pesquisadores ambientais entendem que a cimento, sempre em processo, sem um fim predeterminado é um eter- Educação Ambiental é um importante referencial de mudança no campo no devir, é algo cultural. A leitura da ciência fora dessa perspectiva da Educação. Em relação a esse assunto, Reigota4 comenta sobre os traz como conseqüência para os indivíduos, a perda da visão de totali- desafios enfrentados para a sua prática “[...] A Educação Ambiental na dade e a alienação sobre as relações existentes entre ciência e processo escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educa- cultural, assim como ciência e desenvolvimento social. ção, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educa- O papel da escola, dentro de uma perspectiva política não ingê- cional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança nua, é o de criar espaços através de seus atores e autores sociais no histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas”. sentido da desalienação dos indivíduos, diante do conhecimento frag- Dentro de um enfoque construtivista e ambiental, os conheci- mentado e destituído de significado para suas ações sociais. mentos desejáveis na Educação Ambiental devem estruturar-se como Nos últimos anos temos feito algumas intervenções em discipli- uma síntese integradora de diferentes aportes como, por exemplo, a nas oferecidas para químicos e não químicos, no sentido de ter a análise histórica e epistemológica dos conceitos e modelos científi- educação ambiental como um dos eixos centrais para uma prática cos, a análise da problemática sócio-ambiental relevante no contexto pedagógica crítica. Assim como Guimarães9, defendemos a necessi- de referência, a análise de concepções prévias e dos procedimentos e dade da presença da dimensão ambiental na educação. valores desejáveis5. No curso de Química Geral procuramos trazer à discussão ques- A Educação Ambiental deve proporcionar experiências que pos- tões relativas à parte básica do ensino superior, dentro da concepção sibilitem colocar as pessoas em contato direto com o mundo e da ciência decorrente das relações sociais, contestando a visão de sensibilizá-las para os ecossistemas que as envolvem; discutir a im- conhecimento científico considerado único e verdadeiro. O nosso portância do ambiente para a saúde e o bem estar do homem e para o trabalho tem a intenção de melhorar a motivação dos alunos, bem exercício da cidadania; avaliar o desenvolvimento econômico aliado como possibilitar a reconstrução de certos conteúdos descontextua- à degradação ambiental e à qualidade de vida e desenvolver no edu- lizados, o que é muito comum no ensino da química. cando o sentido ético-social diante dos problemas ambientais6. A metodologia adotada tendo em vista esses pressupostos Reconhecemos que o exercício da Educação Ambiental tem en- redirecionou o nosso curso de Química Geral para o modelo sócio- contrado dificuldades que estão associadas à falta de recursos, à pouca cultural de ensino e aprendizagem. Concordamos com Maldaner10 valorização do professor, ao pouco envolvimento da comunidade nas em relação à sua proposição de que através de um modelo sócio- decisões e no planejamento escolar, aliada à própria rigidez da estru- cultural de ensino e aprendizagem é possível melhorar sensivelmen- tura de grande parte das escolas. Outras questões relacionadas à prá- te o nível de conhecimento químico aprendido na escola. Deve-se tica pedagógica também devem ser lembradas como a visão “conteu- “superar as propostas tradicionais do ensino de química que colo- dista” que predomina no ensino tradicional, a pouca preparação dos cam todo o esforço do trabalho escolar em torno dos conteúdos professores e os critérios de avaliação comumente adotados, em que descontextualizados, segundo uma lógica de conhecimento sistema- predominam ausência de criatividade e uma visão não processual. tizado, que é adequada apenas para quem já conhece química”. Esse No NECEA compreendemos a Educação Ambiental como um pro- pesquisador defende a necessidade de superação das posições que cesso de busca do conhecimento, que deve resultar na aquisição de valo- centralizam todo o esforço pedagógico no aluno em contexto esco- res que permitam aos indivíduos envolvidos atuar de modo conseqüente lar, numa postura construtivista, esquecendo que o sentido mais pro- no meio em que vivem. Defendemos também que a aquisição do conhe- fundo da aprendizagem escolar é o de inserir o aprendiz, de forma cimento fornece elementos para melhor compreensão da realidade e dos intencional e sistemática, no contexto sócio-cultural em que vive. problemas que afetam o ambiente na atualidade. O nosso curso caracterizado dentro da perspectiva ambiental tem Em nosso entendimento, os três princípios que devem nortear como objetivos: uma prática da educação são: pensar segundo a categoria de totalida- 1) estudar a matéria (constituição, estrutura, propriedades) e suas de; interpretar os fatos mediante a apreensão histórica do processo transformações, incluindo os aspectos cinéticos e energéticos, de construção do conhecimento e agir no sentido de possibilitar trans- 2) aplicar os conhecimentos adquiridos a um determinado tema (ar formações necessárias à dignificação da vida e à implantação de so- e água, resíduos sólidos, fogo e energia, metais, argilas), procu- ciedades sustentáveis7. rando relacioná-los com o contexto: ético-político, econômico e cultural; através de seminários realizados pelos alunos e alunas. UMA POSSIBILIDADE: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INSERIDA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA ARTICULANDO CONCEITOS QUÍMICOS COM A QUESTÃO AMBIENTAL A globalização dos problemas ambientais e a sua compreensão são de responsabilidade do conjunto das sociedades e a educação No relato que se segue, utilizaremos como exemplo para ilustrar
  • 4. Vol. 27, No. 2 Educação Ambiental na Universidade: Construindo Possibilidades 335 o trabalho desenvolvido o funcionamento de uma disciplina semes- Em articulação com as questões específicas da química, discuti- tral de Química Geral para estudantes do curso de Licenciatura em mos também sobre mudança conceitual e resistência (os conceitos Ciências. A maioria dos alunos e alunas eram recém-ingressos na históricos de calor e sua confusão com a temperatura e a energia), Universidade. A disciplina funcionou com 4 h semanais (68 h no conexões entre descrição textual e formal dos fenômenos. Em suma, semestre), com módulo de 30 alunos. tratamos de agir e refletir coletivamente, buscando um aprimora- Nas primeiras aulas do curso, procuramos identificar as concep- mento da ação. ções dos alunos sobre a problemática ambiental. O instrumento uti- Partimos do pressuposto que ao tratar determinados conceitos lizado foi um questionário envolvendo perguntas sobre ambiente, da Química, não é necessário esgotar tais conceitos para podermos desenvolvimento sustentável, contexto social, Educação Ambiental. aplicá-los no contexto sócio-cultural do aprendiz13. Em seguida à Essas informações constituíram uma referência para o planejamento exposição do professor e à discussão coletiva, um grupo de estudan- do ensino e identificação de mudanças no conhecimento dos estu- tes, através de um tema pré-selecionado e com questões norteadoras dantes ao longo do curso. previamente formuladas em parceria com o professor, apresentava Em relação ao conteúdo específico da disciplina, compartilhamos um seminário onde procurava “revisitar” alguns conceitos funda- da idéia que a grande função do professor é inserir o aluno no proces- mentais da Química. Nesse momento procurava-se fazer a inserção so de enculturação dentro da dinâmica em sala de aula11. Dentro desta destes conceitos dentro da problemática ambiental numa perspectiva perspectiva torna-se imprescindível o levantamento do conhecimento ético-política, econômica e cultural. prévio visando o confronto destas idéias com a perspectiva científica No curso foram apresentados cinco seminários em equipes, com apresentada pelo professor. Consideramos importante, por exemplo, carga horária total de 15 h. A seguir apresentamos o esquema elabo- saber como os estudantes conceituavam os estados sólido, líquido e rado para a apresentação de um seminário explorado por um dos gasoso, qual a noção que possuíam do termo partícula material e da grupos de estudantes. sua natureza. Entendemos que este último conceito é fundamental na explicação do comportamento microscópico da matéria e na sua rela- TEMA DO SEMINÁRIO 1: FOGO E ENERGIA ção com as suas propriedades macroscópicas e os fenômenos físicos e químicos observados. Percebemos que este é um conceito que não é O principal objetivo era explorar os aspectos conceituais da Quí- bem compreendido pelos alunos que ingressam na Universidade, tor- mica, assim como os seus aspectos sócio-culturais. nando difícil que aconteça uma aprendizagem significativa de outros Questões norteadoras sobre o tema que foram propostas e de- conceitos relacionados a este e que são posteriormente inseridos. senvolvidas pelos alunos: Em um primeiro momento, como estratégia para o levantamento • O fogo através do tempo: conservação e domínio das concepções prévias relativas à matéria, fornecemos aos alunos • Conceito de fogo três tubos fechados contendo materiais em diferentes estados físi- • O triângulo do fogo e sua importância cos: sólido, líquido e gasoso (um em cada tubo). Em seguida esta • Classes de incêndios situação foi explorada através de um questionário contendo ques- • Energia e suas fontes tões que mapearam os conceitos importantes que fazem parte da te- • Matriz energética atual e novas possibilidades: problemas eco- oria cinético-molecular da matéria. As respostas foram posteriormente nômicos e ambientais discutidas com os alunos visando compará-las com os conceitos ci- • O acesso à energia e o seu consumo entíficos introduzidos pelo professor. • O padrão de consumo energético no Brasil, a sua relação com o Num segundo momento, as concepções prévias relacionadas com atual modelo econômico e tecnológico e suas conseqüências o tema energia e reações químicas foram mapeadas a partir de um • A visão de mundo que permeia a produção e o consumo experimento simples como a combustão de uma vela. Conceitos como energético e suas implicações no campo ético-político conservação, conversão e transferência de energia foram discutidos, assim como calor de reação. Nos seminários, alguns conceitos chave, por exemplo educação Na sala de aula priorizamos o tipo de abordagem comunicativa, ambiental, ambiente, degradação, conservação, desenvolvimento interativa e dialógica12. As idéias eram exploradas pelo professor e sustentável, entre outros relacionados à questão ambiental eram tra- estudantes conjuntamente e os diferentes pontos de vistas eram dis- balhados e sempre retomados. Estes conceitos eram discutidos vi- cutidos e avaliados. sando a compreensão do ambiente em sua totalidade a partir de uma As aulas expositivas, realizadas pelo professor, tiveram como perspectiva sócio-histórica, contribuindo para que a química fosse finalidade introduzir os assuntos novos, realizar sínteses, manter o percebida como um empreendimento cultural. Fazia parte também rumo dos objetivos acordados. Nas discussões coletivas que segui- da nossa proposta criar entre os alunos uma perspectiva crítica sobre ram às exposições, trabalhamos situações-problema próprias da dis- a cultura científica e as suas conseqüências. ciplina. Por exemplo, como explicar a produção de calor por uma A pesquisaii e apresentação de seminários, a participação nas ati- reação de combustão. As explicações dos alunos envolvendo ques- vidades em sala de aula e externasiii, as resoluções de exercícios e a tões como transformação, liberação ou absorção de energia, etc. fo- freqüência foram instrumentos da avaliação, que adotou uma linha ram submetidas à crítica do grupo, os estudantes foram estimulados processual. Os alunos avaliaram positivamente o curso, sempre res- a tomar partido de uma ou outra explicação. Daí emergiram proble- saltando que a aplicação dos conceitos principais estudados durante mas conceituais, como natureza teórica ou empírica da conservação o curso dentro da perspectiva sócio-ambiental, saindo de uma explo- da energia, a diversidade dos conceitos de calor, medidas da energia, ração simplista do tripé ambiente-química-poluição, enriqueceu o interpretação de expressões matemáticas, explicação microscópica curso ao facilitar a apropriação/contextualização dos conteúdos, fa- das reações de combustão e a representação química dos fenômenos. vorecendo uma visão não reducionista de ambiente. Desse modo, exercitamos a cooperação entre os alunos na busca das Pretendemos, desse modo, cativar os nossos alunos tornando o soluções dos problemas propostos, discutimos as razões para optar conteúdo programático mais atraente e adequado à realidade social, por um ou outro encaminhamento, exploramos as conexões entre através de reflexões sobre os significados contemporâneos de co- teoria e experiência e analisamos alguns aspectos da bibliografia re- nhecimento, ciência, cultura, educação, dentre outros, aliado a deba- comendada para a disciplina. tes profundos das questões éticas e morais surgidas com os proces-
  • 5. 336 Moradillo e Oki Quim. Nova sos de desenvolvimento, principalmente da ciência e tecnologia. A senciais a uma interdisciplinaridade de acordo com a discussão que nossa prática pedagógica tem sido direcionada para contemplar es- é feita por Fazenda14: tas questões. a) a mudança na atitude frente ao problema do conhecimento, na substituição de uma concepção fragmentária pela concepção uni- REFERÊNCIAS tária do ser humano; b) a colaboração entre as diversas disciplinas conduzindo a uma 1. Pedrini, A. de G. Em Educação Ambiental: reflexões e práticas “interação”, a uma intersubjetividade que pode levar à realiza- contemporâneas; Pedrini, A. de G., org.; 3a ed.,Vozes: Petrópolis, 2000, ção de objetivos comuns, a partir de pontos de vista diferentes, cap. i. 2. Brasil, Secretaria de Educação Fundamental; Parâmetros curriculares visando uma mudança no modo de compreender e entender; nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/ c) a superação dos obstáculos psicossociológicos, culturais e mate- Secretaria de Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 201. riais visando uma nova pedagogia, a da “comunicação”. 3. Krasilchik, M.; Ciência e Cultura 1986, 38, 1958. 4. Reigota, M. Em Educação, Meio Ambiente e Cidadania; Cascino, F.; Jacobi, P.; Oliveira, J. F., org.; SMA/CEAM: São Paulo, 1998. ii 5. Medina, N. M.; Amazônia, Uma Proposta Interdisciplinar de Educação Bibliografia complementar geral fornecida para preparação dos Ambiental, Ed. IBAMA: Brasília, 1994. seminários: 6. Pereira, A. B.; Aprendendo Ecologia Através da Educação Ambiental, ed. 1. Benn, F. R.; Mcauliffe, C. A.; Química e poluição, trad. de Pitombo, L. R. Sagra-DC Luzzatto: Porto Alegre, 1993. L.; Massaro, S., EDUSP: São Paulo, 1981. 7. Araujo, A. R.; Moradillo, E. F.; Pimentel, H. O.; Melo, H. T.; Souza, J. 2. Lago, A.; Pádua, J. A.; O que é ecologia, Brasiliense: São Paulo, 1984. B.; Constante, J. P.; Oki, M. C. M.; Carvalho, M. L. S. M.; Pinho, R. C.; 3. Leite, J. L., org.; Problemas chave do meio ambiente, ed. EXPOGEO: Lôbo, S. F.; Zacarias, T. M.; Paradella, Y. P.; Projeto: Criação/implantação Salvador, 1994. do Núcleo de Estudos em Ciências e EducaçãoAmbiental (NECEA), 4. Lima, M. J. de A.; Ecologia Humana, Vozes: Petrópolis, 1984. FACED/UFBA, Salvador, 1995. 5. Pereira, N. S.; Pereira, J. Z. F.; Terra, planeta poluído, ed. SAGRA: Porto 8. Frigotto, G. Em Eucação e Crise do Trabalho: Perspectivas de Final de Alegre, 1980. Século; Frigotto, G., org.; Vozes: Petrópolis, 1998, cap. 1. 6. Reigota, M.; O que é educação ambiental, Brasiliense: São Paulo, 1994. 9. Guimarães, M. A.; A Dimensão Ambiental na Educação, Papirus: 7. Vidal, J. B.; De Estado servil a Nação soberana, Vozes: Petrópolis, 1988. Campinas, 1995. 8. Vidal, J. B.; Soberania e dignidade, Vozes: Petrópolis, 1991. 10. Maldaner,O. A.; Anais do VIII Encontro Nacional de Ensino de Química; Foram consultados também livros paradidáticos de conteúdos VIII Encontro Centro Oeste de Debates Sobre o Ensino de Química e específicos relacionados aos temas dos seminários, bem como pági- Ciências, Campo Grande, Brasil, 1996. 11. Driver, R.; Leach, J.; Mortimer, E. F.; Scolt, P.; Química Nova na Escola nas da internet e materiais técnicos fornecidos por algumas institui- 1999, 9, 31. ções. 12. Mortimer, E. F.; Scott, P.; Investigações Em Ensino de Ciências, 2002, 7, ou em http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/revista.html, acessada em Abril iii Alguns dos temas que foram objeto de pesquisa e discussão 2003. posterior em seminários motivaram a visita de alunos a instituições, 13. Mortimer, E. F.; Quim. Nova 2000, 23, 273. 14. Fazenda, I. C. A.; Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: tais como Empresa Baiana de Águas e Saneamento, Fábrica de Ma- Efetividade ou Ideologia, Loyola: São Paulo, 1996. teriais Cerâmicos, Central de Tratamento de Efluentes do Polo Petroquímico da Camaçari/CETREL, Prefeitura Municipal de Sal- NOTAS vador/LIMPURB, etc., para conhecer melhor os processos químicos de produção e a problemática sócio-ambiental relacionada ao tema i Como o conceito de interdisciplinaridade não possui um senti- escolhido. do único e estável, citaremos alguns pontos que consideramos es-