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ENTREVISTA ANTONIO LONGO
Polibio - Neste programa Cenários nós vamos ouvir Antônio Longo, que vem a ser o Presidente da
Associação gaúcha de Supermercados, a Agas. Nós vamos conversar aqui, abordando os diversos aspectos
desse mercado de supermercados do RS e também do Brasil, porque há uma conexão, uma coisa só os
mercados do nosso país, embora o RS tenha características próprias. Redes poderosas de supermercados que
operam aqui no RS. É um caso particular o do RS, na maioria dos estados não acontece da mesma forma.
São Paulo mesmo é um mercado dominado por grandes redes mundiais. Aqui chegaram também, estão
chegando as grandes redes, Walmart é o principal né?
Antônio – Walmart e Carrefour.
Polibio – Então, nesse primeiro bloco, vamos passar rápido sobre o que é esse mercado de supermercados
aqui no RS. Depois nós vamos falar também do mercado financeiro, a importância das grandes corporações
dos supermercados que operam em bolsa. Não se tem algum grupo do RS operando em bolsa, com capital
local?
Leandro – Não, não. Na verdade a gente tem, o maior grupo hoje, que atua com capital 100% nacional é o
Zaffari. Todas as outras redes tem capital externo, inclusive hoje com mudança de controle do Pão de
Açucar. Mesmo o Zaffari tendo 1,3% no mercado nacional, é o maior grupo nacional, com capital 100
nacional porque todos os outros grupos têm capital estrangeiro.
Polibio – Só para dar uma ideia de grandeza, quando nós falamos em redes de supermercados aqui no RS,
nós estamos falando em quantos supermercados, quantas unidades dá isso tudo?
Antônio – O setor trabalha com a estimativa de 3 mil empresas de supermercados
Polibio – 3 mil empresas ou 3 mil supermercados?
Antônio – 3 mil empresas com mais de 3 check outs.
Polibio – 3 mil empresas mesmo. Isso deve somar quantas unidades de supermercados?
Antônio – Cerca de 4 mil lojas.
Polibio – É meio pulverizado isso, dá 1. alguma coisa de unidade por empresa.
Antônio – É, um dado interessante aqui é que a concentração em 2012 diminuiu. As 10 maiores empresas
do estado fecharam com a participação com cerca de 49,7% em 2012 perante quase 51 em 2011. Isso
demonstra que hoje nós temos mais consumidores com renda, mais consumidores que estão no mercado de
trabalho e quem tem essa renda tem o poder de decisão, de escolher em qual loja vai realizar suas compras,
que tipo de produto vai comprar. Interessante é que todo mercado teve um crescimento. O mercado de
refeições fora também, ou seja, muitos desses restaurantes também fazem suas compras no supermercado.
As pessoas cada vez com menos tempo de fazer as suas compras, se tem menos tempo ela vai mais vezes ao
supermercado, vai mais vezes ao mesmo estabelecimento que ela procura encontrar tudo o que deseja no
mesmo local.
Polibio – Considerando o bolo de todas as empresas que operam na área de supermercados do RS que são 3
mil, qual seria a porcentagem dominada por capital nosso?
Antônio – Mais de 80%.
Polibio – Isso se repetiria, essa porcentagem, em relação a grandes estados equivalentes, como Paraná,
Minas Gerais, Rio de Janeiro?
Antônio – Acho que é um pouquinho mais.
Polibio – Nesses estados têm concentração menor de capital local?
Antônio – Lá você tem o Pão de Açucar, tem o Seconsur, de empresas multinacionais que realmente têm
uma participação maior. Aqui não tem. A participação de empresas nacionais, pegando região centro-oeste,
sul e sudeste com certeza aqui é maior.
Polibio – Qual o valor de faturamento desse setor no RS, assim por alto para dar uma ideia de grandeza.
Antônio – Representa um faturamento de mais de 20 bilhões ao ano.
Polibio – 20 bilhões é o total de arrecadação do RS em ICMS num ano?
Antônio – É, ele é cerca de 6% do PIB do estado com cerca de 90 mil empregos diretos. O interessante é
que o supermercado aqui tem um aspecto regional e esse aspecto acaba fortalecendo a indústria local e
regional.
Polibio – Que a tendência é comprar os produtos mais por perto.
Antônio – O que a nossa entidade estimula que a indústria local, o produtor rural local também faça seu
clube de compras no supermercado e adquira do seu fornecedor mais próximo até pela redução de custos de
logística e até pondo o aspecto regional também, dos hábitos, do paladar, daquele comprometimento que o
consumidor tem em prestigiar a indústria local do interior porque ele sabe que lá trabalha um tio, trabalha
um vizinho. Estimulando essa indústria, essa economia com certeza o crescimento, o desenvolvimento da...
Polibio – Vem crescendo esse setor aqui no RS, a que taxa? Esse ano a economia do Brasil vai crescer a 2.9,
3%
Antônio – O setor, nos últimos 30 anos, o crescimento sempre foi superior, acima do PIB. É pequeno e
constante.
Leandro – Já tem os números desse primeiro semestre em relação ao ano passado?
Antônio – O primeiro semestre fica numa expectativa, se não está fechado, de crescimento de 5 a 6%.
Temos a expectativa de uma pequena redução no segundo semestre em função de algumas atividades do
nosso interior, setor de móveis e metal terá uma pequena queda.
Leandro – 5 ou 6% nominal ou real?
Antônio – Real. A expectativa é que chegue a 4% real porque o setor está se ampliando muito. O mix de
produtos vem se antecipando às necessidades dos clientes colocando mais variedade. Os supermercados hoje
abrem de domingo a domingo, se trabalha muito as datas festivas e o objetivo é esse: entrar em outros
segmentos já que os alimentos, até dois anos atrás vinham com reajustes abaixo da inflação e os
supermercados que ficaram só no ramos de alimentos tiveram dificuldade de rentabilizar o seu negócio.
Leandro – Existe alguma percepção em relação a essa desaceleração econômica por parte do setor ou não?
Principalmente nos últimos dois meses em que a gente vê, por exemplo, o setor de shopping Center e
algumas outras áreas do varejo sentindo uma redução das vendas.
Polibio – O próprio varejo está prevendo um empate no crescimento aqui no RS. Vocês estão prevendo um
crescimento real.
Antônio – O que dá para sentir é que hoje, é que o supermercado está muito aliado à indústria, ao seu
fornecedor. A indústria continua fazendo muitos investimentos, lançando cerca de 12 mil novos itens todos
os anos. Um dado interessante é que desses 12 mil, cerca de mil sobrevivem no primeiro ano. Então, pra ver
como o consumidor hoje está muito atento, ele prestigia o estabelecimento e continua comprando o produto
que realmente dá alguma vantagem, algum diferencial. O varejo aprende muito com seu cliente, com seu
consumidor. Até o ano passado, nos últimos dois anos a gente sentia que o consumidor conseguia fazer valer
muito mais o seu dinheiro, está muito atento às ofertas, tanto que o preço médio do item vendido nos
supermercados, até o ano passado, ele tinha um reajuste de cerca de 50% da inflação. Se a inflação era 6% o
preço médio do item vendido no supermercado aumentava cerca de 3%. O cliente vai na gôndola, escolhe a
oferta.
Polibio – Ainda faz isso?
Antônio – Faz, mas o alimento este ano teve um reajuste acima da inflação.
Leandro – E como é o mix de receita da média dos supermercados? Quais os produtos que geram maior
receita?
Antônio – A média é assim: você trabalha com 50% da linha de mercearia, toda a linha de bebidas e
alimentos. Cerca de 40% da linha de perecíveis e 10% da linha de bazar. A média do setor de bazar, se
algumas empresas pode ser no mínimo de 5% e os grandes hipermercados chegam até a 30, 35%. A sessão
dos perecíveis é a categoria que você consegue se estabilizar mais.
Polibio – mas é a que dá mais trabalho também.
Antônio – Pois é, depende do seu trabalho: quanto mais trabalho você colocar, melhor retorno você tem. A
linha mais simples, claro, a questão da mercearia todo mundo sabe vender um sabão em pó, um Omo, mas
como todo mundo sabe vender a margem é mínima. O grande segredo do setor é diminuir as quebras e
rupturas já que o cliente sabe quanto que ele pode pagar por cada produto. Hoje o varejo já não coloca mais
a sua margem necessária no seu preço de venda. Hoje as empresas mais atuantes, com maior sucesso, são
aquelas que trabalham muito a percepção de preço ao cliente. Ou seja, sabe até quanto o cliente paga. Então,
realmente, você não consegue botar a margem necessária porque o cliente troca de estabelecimento. Ai você
precisa de outras variáveis.
Polibio – O cliente gaúcho sempre me pareceu, pelas informações que eu tenho, de que ele é muito fiel ao
seu supermercado. Ele é mais fiel ao seu supermercado do que ao produto?
Antonio – Se tu for traído por ele, tu troca e nunca mais volta. Essa fidelidade busca um comprometimento
maior.
Polibio – Você acha que o consumidor gaúcho é mais fiel ao seu supermercado do que em outros estados?
Antonio – O consumidor hoje se sente dono do negócio, tanto de os supermercados não está no ranking dos
setores de maior reclamação que é o PROCON porque se o cliente está incomodado, ele pega o gerente
porque o cliente se sente dono do negócio. Isso ajuda muito o setor a crescer e as empresas que têm sucesso
são aquelas que escutam o cliente, escutam o fiscal da saúde, escutam o pessoal da Prefeitura que dá uma
dica. Hoje não tem mais espaço para você questionar muito o cliente, ou questionar o fiscal da Prefeitura, as
Secretaria da Saúde. Acho que o momento é mesmo de construir.
Leandro – Como essas pequenas redes de supermercados fazem para competir com essas mega empresas
que com certeza tem um poder de fogo, um poder de barganha na sua relação com os fornecedores muito
maior?
Polibio – O Próprio Antônio Longo é dono de uma rede de supermercados que tem sede em Bento
Gonçalves que é a rede de 8 supermercados que á a Polo.
Antônio – É uma empresa familiar, a gente está a mais de 80 anos no ramo, mas a questão é essa: com a
chegada da primeira multinacional a Sonai.
Polibio – É um bafo na nuca.
Antônio – É um bafo justamente porque houve uma movimentação muito grande e o setor nunca buscou
benefícios ou protecionismo do governo. A dor sempre ensinou a gemer, tanto que com a chegada dos
grandes grupos os pequenos se uniram em centrais de compras, conseguiram negociações de taxas de cartão
de crédito, conseguiram comprar melhor os produtos. Hoje nós temos mais de 600 empresas pequenas de
supermercado que estão reunidas em centrais de compras. Hoje são 11 centrais de negócios no estado, que
corresponde a cerca de 15% do faturamento do setor, com crescimento de 20% no seu faturamento.
Leandro – Então, uma forma é uma união dessas pequenas empresas na hora de negociar com seus
fornecedores.
Polibio – O poder de compra desse conjunto corresponde a que? Um Walmart do Brasil por exemplo?
Antônio – É semelhante, é maior que o Zaffari. Não se compara porque são 600 lojas.
Polibio – O que importa é que para uma negociação ela fala como se fosse.
Antônio – É, ou seja, isso é ideia deles e é bom pro setor hoje e para o consumidor, principalmente.
Polibio – Falando em Internet, teve uma época que virou uma coqueluche as operações business to business
de supermercados. Aqui no RS foi o Paulo Feijó que começou com essa história. Isso pegou mesmo, os
supermercados conectados pela Internet faz compra de seus fornecedores tudo on-line?
Antônio – Isso é a salvação, nem se discute. As empresas, principalmente do interior, que não recebem mais
a visita do vendedor, elas precisam estar...
Polibio – Desempregaram os vendedores.
Antônio – É que muitos de seus fornecedores acabaram fechando seus escritórios locais, ficando realmente
só a questão on-line, isso foi a salvação de grupos.
Leandro – Como funciona a concorrência com a própria Internet, com supermercados na Internet?
Polibio – Isso ai era o que eu ia falar do consumidor, pela Internet, comprando seu rancho.
Antônio – O Walmart tem, uma rede regional O Sul tentou implementar, mas não deu.
Polibio – O consumidor ainda quer entrar lá dentro, pegar, olhar, mexer.
Antônio – Essa satisfação dos sentidos, como a gente chama, ali é o ponto de encontro da família, as
pessoas têm a necessidade de ir até o mercado tocar o produto, sentir, ver o lançamento, escolher qual é a
melhor oferta. Mas sem dúvida esse é um mercado que tem seu espaço, a médio e longo prazo nós
acreditamos que 5 a 10% ele não vai conseguir atingir, daqui a muitos anos cerca de 20% quem sabe.
Polibio – Hoje estaria em quanto?
Antônio - Nem a 3%.
Polibio – Tem algum país onde deslanchou isso?
Antônio – Nos EUA tem, é muito simples o processo. A gente acha que é muita tecnologia, nós tivemos
oportunidade de conhecer esta operação, mas é também manual: pega a lista, imprimi e o funcionário vai
separar o material, era como nos armazéns aqui.
Leandro – Acho que talvez de todos os negócios que foram para a Internet, aquele que ainda resiste com
mais força são essas compras de perecíveis de uma maneira geral.
Antônio – Com livros, DVDs, isso é mais fácil por exemplo, mas supermercado acredito que por muitos
anos as pessoas ainda tenham essa necessidade.
Leandro – A gente está vendo ai um aumento persistente da inflação, a manutenção de uma inflação
relativamente alta nos últimos anos. Como isso interfere no seu negócio?
Polibio – Vocês, na área, estão trabalhando com a projeção de inflação de quanto para este ano?
Antônio – Nós acreditamos que os alimentos cheguem a 7 ou 8% da inflação já que por longos 15 anos o
setor de alimentos sempre contribuiu para segurar a inflação dos preços, mas fazem 2 anos que o mundo
veio comprar mais alimento, as comodities tiveram realinhamento de preço a nível mundial. Esse
crescimento da nossa atividade no Brasil o consumidor acabou pagando a conta. O importante é isso: o
consumidor é muito atento e a inflação dos serviços continua sendo muito maior do que os próprios
alimentos. Onde ele tem mais opção de compra, o consumidor, opção de escolha sem dúvida ele sabe fazer o
seu orçamento.
Leandro – Mas como a inflação afeta o negócio do supermercado? O supermercado consegue se proteger da
inflação ou não? Onera a margem, como que funciona isso?
Antônio – O setor, se você pegar 15 anos atrás, as pessoas gastavam cerca de 45% da sua receita em
compras no supermercado, da renda, as famílias. Hoje não chega a 15%. Houve um ganho real de renda das
famílias.
Polibio – Decorrente do que?
Antônio – Mais pessoas trabalhando na família, mais renda e os alimentos também, se você pegar 15 anos
atrás, hoje estão mais acessíveis. Se você pegar o sabão em pó, ele está o preço de quase 10 anos atrás em
função da eficiência da indústria, da concorrência, outras marcas surgiram. Se você pegar alguns produtos
líderes de mercado, claro não é o caso da farinha de trigo porque deu problema com o trigo argentino que
não mandou pro Brasil. Se você pegar muitas marcas mundiais, o próprio yogurt que não é como na França
onde ele é tratado quase que como cesta básica, todo mundo tem acesso. Mas as pessoas não tinham acesso a
esse produto e hoje eles são mais acessíveis.
Polibio – O yogurt era tratado, há 10 anos atrás, como sobremesa de domingo.
Antônio – Como sobremesa. Hoje a nossa empresa vende mais recarga de celular do que pão cacetinho.
Então, são novos produtos. As pessoas tem o limite de comer o pão, mas como elas querem comprar a
recarga de celular, então tu também vende recarga de celular e hoje vende mais do que pão. Onde foi essa
renda? O preço do pão, se pegar há 20 anos atrás, ele ficou bem abaixo da inflação. Então, as pessoas, hoje,
têm renda para comprar outros produtos.
Leandro – E hoje como os estoques são menores do que no passado, o supermercadista consegue passar
rapidamente os preços e não tem esse risco elevado porque não são muito grandes.
Antônio – A margem média do setor é 1,7, mas as quedas e perdas ainda são cerca de 2%. É isso que o setor
vem fazendo, tentando melhorar sua eficiência, diminuindo quedas e perdas para poder ser competitivo. Na
indústria claro, existe todo esse estudo de mix, você cada vez mais com muitas marcas, 12 mil novos
lançamentos todos os anos. Você não tem como botar esses 12 mil na sua gôndola, é um trabalho constante
de seleção e questão de giro. Os meios eletrônicos já ultrapassam 50% da venda, mas o cartão da crédito é
cerca de 20, 30% da venda que você recebe em 30 dias.
Leandro – O maior meio de pagamento é o cartão de crédito em pagamento à vista ou a crédito?
Antônio – Hoje 55% é meio eletrônico, o cartão de crédito é cerca de 25 a 30%. O crédito ainda um
pouquinho mais que o débito. O cheque não representa 8% do total.
Leandro – Uma das coisas boas é a questão da inadimplência. Uma vez era mais grave.
Antônio – É, mas em muitas redes a inadimplência, o cheque é 0,3%, hoje você paga taxas de 3, 4, 5%. Tem
empresas de ticket que cobram até 9% do varejo.
Stormer – A empresa que assume esse risco cobra mais caro do que o benefício.
Polibio – O ticket tem que peso?
Antônio – Cerca de 15% da venda.
Leandro – Tem algumas participações da Internet, o Carlos pergunta “o que leva supermercados de uma
mesma rede a serem tão diferentes, como exemplo temos o Extra que vira e mexe é multado pela saúde
pública com produtos fora da validade, enquanto o Pão de Açucar, da mesma rede, é um modelo de
organização e limpeza?”
Antônio – São diferentes segmentos. Você atende, às vezes, lojas menores, com mais qualidade, tem uma
equipe mais qualificada que fica mais atenta. A questão é que hoje você está na mão das pessoas. Existem
processos internos dentro das empresas e isso pode acontecer. Numa loja o gerente está mais atento aos
processos, numa loja tem um menor giro de produtos, você não consegue fazer a rotação de produtos da
gôndola, o repositor acaba botando, ou seja, ao invés de tirar o produto que está atrás e colocar na frente, ele
só vai colocando o produto na frente. Isso realmente é questão de operação.
Leandro – Às vezes uma grande rede vai obsorvendo operações menores e até consolidar a cultura é difícil,
demora um bom tempo.
Antônio – Esse é um grande problema, assimilar essa cultura. As pessoas têm bastante dificuldade.
Leandro – Nós tivemos aqui o Oltramari, CEO do Shopping Total, que falou uma coisa bem interessante
sobre os hábitos de consumo das pessoas no shopping. Ele falou que no shopping quem manda é 100%. É
ela que vai gastar mais, que vai escolher, vai ficar muito mais tempo. Como funciona no supermercado?
Stormer – É assim também, é a mulher que manda?
Antônio – Olha, é a mulher que manda com certeza.
Leandro – Até na carne, no churrasco?
Antônio – Não assim, nós temos que tratar bem as mulheres porque o PIB, com certeza 80% dele, são elas
que decidem. Se não existissem as mulheres, 80% do PIB caia. O homem no mercado tem aquela situação:
ele cobra muito da mulher que é ela que gasta, mas no mercado ele é muito mais solto.
Leandro – A mulher pesquisa.
Stormer – Eu não faço pesquisa de preço, eu vou lá e pego, coloco no carrinho e nem olho o preço.
Antônio – É um voto de prazer, você está buscando uma satisfação. A mulher está mais preocupada com o
sustento da família, tem que levar mais comida pra casa. O homem quer se premiar.
Leandro – Molina coloca “boa noite Senhores, até onde o setor de varejo pode ser afetado caso tenhamos
uma possível bolha de crédito fácil e acessível à nova classe C? Segundo os dados estatísticos, mais de 50%
das famílias brasileiras estão consumindo além do orçamento mensal.”
Polibio – Esse dado confere?
Antônio – Confere sim porque o setor trabalha com entidades, trabalham para que o consumidor tenha mais
renda. No supermercado, no momento que você representa 15% do destino da renda das famílias o
comprometimento é menor porque no supermercado o preço médio do item vendido é cerca de R$ 3,50,
então, existe uma grande variedade. O ticket médio no estado é cerca de R$ 25,00, o ticket da compra por
consumidor.
Polibio – Isso é por dia, como é?
Antônio – É por compra, cada vez que vai lá. Aquela compra básica do leite, dos alimentos, um yogurte a
mais, de repente uma barrinha de chocolate.
Stormer – Diferente daquela situação em que a gente tinha a inflação em que as pessoas pegavam seu
salário, corriam para o supermercado e faziam um mega de um rancho, o ticket médio ali devia ser bem mais
elevado.
Antônio – É que hoje vão por item que amanhã vai estar mais barato que hoje porque o setor, cada dia, está
fazendo um show diferente. Os supermercados têm eventos: hoje é o dia da feira e tal.
Leandro – Então, talvez para esse consumo, vai ser a última coisa que a pessoa vai cortar, o básico.
Antônio – O setor é o centro de compras de consumidores de todos os segmentos da economia. É o que
menos sofre. A gente escuta “todo mundo tem que comer”, não, é que ele vende um pouquinho pra todo
mundo.
Leandro – Então, a variação da venda é pequena.
Antônio – Nos últimos 20 anos o crescimento é sempre superior, nunca a mais de 1,2% acima do PIB. É um
crescimento constante, mas crescimento constante para quem inventa todo dia. Pra quem bota item novo, pra
quem faz um pão melhor, pra quem tem a carne de churrasco melhor. Não é porque você tem um
supermercado que não vai ter problema. O supermercado é muito fácil, mas é muito difícil. Um pé na frente
está no céu, mas um pra trás está no inferno. É muito próximo o erro do acerto.
Leandro – Tem uma pergunta meio polêmica do Luiz: “por que quem compra à vista em dinheiro tem que
pagar o mesmo de quem compra a prazo?”
Antônio – Para o varejo tem a questão de segurança do meio eletrônico e o varejo está trabalhando para
reduzir estas taxas de administradoras, de cartão, de tickets para poder vender mais barato. Com a inflação
atual, essa questão desses 3%, 4, isso acaba sendo absorvido pela operação.
Polibio – Uma coisa que me intriga muito nessa questão, agora mesmo, domingo, estive em Gramado e fui
numa loja comprar e perguntei o preço de uma camisa. R$ 100. Disse “se eu pagar com cartão você baixa
para quanto?” – “não, é R$ 100” – “e se eu pagar em dinheiro vivo?” – “não, é R$ 100” – “mas isso ai não
tem lógica porque vocês está pagando para a administradora do cartão, 3, 4, 5%, se quiser antecipar vai
pagar até mais do que isso, eu estou te oferecendo pra ti pegar esse dinheiro que o cartão vai te dar, à vista,
quer dizer: você está querendo tratar melhor o seu cartão de crédito do que a mim que sou teu consumidor,
por que razão?”
Antônio – São coisas que se criaram para facilitar a operação comercial. Hoje a gente faz de tudo para
facilitar, para agilizar porque o próprio dinheiro também tem um custo. É o custo do carro forte, a questão da
segurança. O dinheiro tem um custo pro varejo até mais do que é a inadimplência do cheque. Em alguns
formatos de loja é 0,3%, mas em alguns formatos de loja o dinheiro também custa de 0,5 a 0,8%.
Stormer – Se tiver muito dinheiro na tua loja pode atrair a atenção dos bandidos.
Antônio – Isso tem diminuído, dinheiro hoje é 30%. Hoje o varejo busca facilitar essa operação de
entendimento, sem muita conta no caixa.
Stormer – E ai vou te fazer uma outra pergunta em que também vou te botar numa saia justa: o preço de
alguns produtos chega a ser ofensivo. Por exemplo: comprava um produto de R$ 3,99 tu sabe que aquele 1
centavo você não vai receber. O cliente dá R$ 4, mas o 1 centavo de troco não volta pra ele. Mesmo se você
colocar R$ 3,95, você não vai receber os 5 centavos de troco. Com o cartão tem.
Leandro – Com o cartão ele paga o preço certo.
Antônio – Mas isso também é outra questão: a moeda. Quem faz moeda de 1 centavo? Infelizmente eu não
posso produzir, eu gostaria de ter uma maquininha.
Polibio – Isso é questão de marketing. Diz R$ 3,95 pra não dizer que é R$ 4.
Antônio – É que você somando uma compra de 10 itens, hoje não tem como você fazer preço redondo
porque o peso...vai botar R$ 4 o kg da laranja, se levar 230g você vai dar centavos. Começa pelo governo,
ele tem que fazer moeda. O Brasil não produz moedas de 1 centavo há mais de 10 anos.
Leandro – Como foi cortado o orçamento do Ministério da Fazenda, eles prorrogaram tanto a confecção de
novas moedas quanto as cédulas de papel. Vai piorar a situação ainda mais.
Stormer – Vai faltar dinheiro em papel.
Antônio – Na nossa empresa nós temos cerca de 300 mil doações mês de 1 centavo, quer dizer, é o troco
solidário. Nossa empresa doa cerca de 2 ou 3 mil reais por mês.
Leandro – Como é a tua percepção da economia brasileira para os próximos meses, próximos anos? Como
você vê essa questão da crise que se avoluma, que já ganhou as ruas?
Antônio – Acho que as empresas de sucesso são aquelas que estão entendendo esse movimento,
diferentemente dos governantes que já acharam que não tem mais o povo na rua há 7 dias, acha que está
tudo resolvido. As empresas hoje estão atentas a esse novo consumidor, ao consumidor que não cala, que
quer mudança. Isso que as empresas ensinaram o consumidor a fazer seu orçamento, sempre nos assustou os
anúncios do governo “recorde de arrecadação” ai você olha e a despesa foi um pouco mais do que o recorde
de arrecadação, essa é uma conta que o povo sabe fazer hoje.
Leandro – E você, mais do que ninguém, enxerga quanto vai de imposto em cada compra de cada
consumidor.
Antônio – Imposto realmente a gente nunca foi contra porque a gente vive num grande condomínio, todo
mundo tem que pagar seu condomínio. É que no Brasil é aquilo: quem mora na cobertura não paga porque
consegue pagar bons advogados, o que mora no subsolo não paga porque ganha bolsa família. Hoje
realmente se paga muito imposto.
Leandro – Qual é a sua percepção pessoal do que vai acontecer da economia daqui pra frente?
Antônio – O Brasil é um país de muita oportunidade, mas essa consciência do governo de tratar como se
fosse uma grande empresa que tem direito adquirido, realmente, o Brasil, enquanto não resolver essa questão
não vai melhorar.
Leandro – Mas será que eles vão partir para parte de uma solução ou vai ter uma enrolação, pode ter
manipulação, pode ter instabilidade política?
Antônio – A enrolação vai continuar. Os governos trabalham só para a eleição, não existem mais projetos a
médio e longo prazo. Daqui a 4 anos o projeto é só a próxima eleição.
Stormer – O setor de supermercado sente muito a dificuldade de logística que existe no país ou é um setor
que está indiferente?
Antônio – Esse é o maior problema do setor. A gente fala que a mão de obra é um problema, mas nem se
compara à questão logística. Você tem que ter um capital de giro muito maior, você tem que ter um estoque
no mínimo de 10 dias a mais do que o necessário. Uma empresa precisa ter cerca de 30% a mais no seu
estoque necessário para o supermercado para não ter rupturas. Não tem como você comprar do fornecedor e
deixar marcado para o dia 10 a chegada do produto. Você compra, faz o acerto no dia 10, mas vai chegar no
dia 20. As empresas estão se organizando e o governo está muito bom na questão fiscal. Se a nota foi
emitida pelo fornecedor ele já te remete a nota e agenda o recebimento, mas às vezes a nota fica 10, 15 dias
na estrada.
Polibio – Nas demais áreas do governo ele deveria se organizar tão bem quanto na área fiscal.

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  • 1. ENTREVISTA ANTONIO LONGO Polibio - Neste programa Cenários nós vamos ouvir Antônio Longo, que vem a ser o Presidente da Associação gaúcha de Supermercados, a Agas. Nós vamos conversar aqui, abordando os diversos aspectos desse mercado de supermercados do RS e também do Brasil, porque há uma conexão, uma coisa só os mercados do nosso país, embora o RS tenha características próprias. Redes poderosas de supermercados que operam aqui no RS. É um caso particular o do RS, na maioria dos estados não acontece da mesma forma. São Paulo mesmo é um mercado dominado por grandes redes mundiais. Aqui chegaram também, estão chegando as grandes redes, Walmart é o principal né? Antônio – Walmart e Carrefour. Polibio – Então, nesse primeiro bloco, vamos passar rápido sobre o que é esse mercado de supermercados aqui no RS. Depois nós vamos falar também do mercado financeiro, a importância das grandes corporações dos supermercados que operam em bolsa. Não se tem algum grupo do RS operando em bolsa, com capital local? Leandro – Não, não. Na verdade a gente tem, o maior grupo hoje, que atua com capital 100% nacional é o Zaffari. Todas as outras redes tem capital externo, inclusive hoje com mudança de controle do Pão de Açucar. Mesmo o Zaffari tendo 1,3% no mercado nacional, é o maior grupo nacional, com capital 100 nacional porque todos os outros grupos têm capital estrangeiro. Polibio – Só para dar uma ideia de grandeza, quando nós falamos em redes de supermercados aqui no RS, nós estamos falando em quantos supermercados, quantas unidades dá isso tudo? Antônio – O setor trabalha com a estimativa de 3 mil empresas de supermercados Polibio – 3 mil empresas ou 3 mil supermercados? Antônio – 3 mil empresas com mais de 3 check outs. Polibio – 3 mil empresas mesmo. Isso deve somar quantas unidades de supermercados? Antônio – Cerca de 4 mil lojas. Polibio – É meio pulverizado isso, dá 1. alguma coisa de unidade por empresa. Antônio – É, um dado interessante aqui é que a concentração em 2012 diminuiu. As 10 maiores empresas do estado fecharam com a participação com cerca de 49,7% em 2012 perante quase 51 em 2011. Isso demonstra que hoje nós temos mais consumidores com renda, mais consumidores que estão no mercado de trabalho e quem tem essa renda tem o poder de decisão, de escolher em qual loja vai realizar suas compras, que tipo de produto vai comprar. Interessante é que todo mercado teve um crescimento. O mercado de refeições fora também, ou seja, muitos desses restaurantes também fazem suas compras no supermercado. As pessoas cada vez com menos tempo de fazer as suas compras, se tem menos tempo ela vai mais vezes ao supermercado, vai mais vezes ao mesmo estabelecimento que ela procura encontrar tudo o que deseja no mesmo local. Polibio – Considerando o bolo de todas as empresas que operam na área de supermercados do RS que são 3 mil, qual seria a porcentagem dominada por capital nosso? Antônio – Mais de 80%.
  • 2. Polibio – Isso se repetiria, essa porcentagem, em relação a grandes estados equivalentes, como Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro? Antônio – Acho que é um pouquinho mais. Polibio – Nesses estados têm concentração menor de capital local? Antônio – Lá você tem o Pão de Açucar, tem o Seconsur, de empresas multinacionais que realmente têm uma participação maior. Aqui não tem. A participação de empresas nacionais, pegando região centro-oeste, sul e sudeste com certeza aqui é maior. Polibio – Qual o valor de faturamento desse setor no RS, assim por alto para dar uma ideia de grandeza. Antônio – Representa um faturamento de mais de 20 bilhões ao ano. Polibio – 20 bilhões é o total de arrecadação do RS em ICMS num ano? Antônio – É, ele é cerca de 6% do PIB do estado com cerca de 90 mil empregos diretos. O interessante é que o supermercado aqui tem um aspecto regional e esse aspecto acaba fortalecendo a indústria local e regional. Polibio – Que a tendência é comprar os produtos mais por perto. Antônio – O que a nossa entidade estimula que a indústria local, o produtor rural local também faça seu clube de compras no supermercado e adquira do seu fornecedor mais próximo até pela redução de custos de logística e até pondo o aspecto regional também, dos hábitos, do paladar, daquele comprometimento que o consumidor tem em prestigiar a indústria local do interior porque ele sabe que lá trabalha um tio, trabalha um vizinho. Estimulando essa indústria, essa economia com certeza o crescimento, o desenvolvimento da... Polibio – Vem crescendo esse setor aqui no RS, a que taxa? Esse ano a economia do Brasil vai crescer a 2.9, 3% Antônio – O setor, nos últimos 30 anos, o crescimento sempre foi superior, acima do PIB. É pequeno e constante. Leandro – Já tem os números desse primeiro semestre em relação ao ano passado? Antônio – O primeiro semestre fica numa expectativa, se não está fechado, de crescimento de 5 a 6%. Temos a expectativa de uma pequena redução no segundo semestre em função de algumas atividades do nosso interior, setor de móveis e metal terá uma pequena queda. Leandro – 5 ou 6% nominal ou real? Antônio – Real. A expectativa é que chegue a 4% real porque o setor está se ampliando muito. O mix de produtos vem se antecipando às necessidades dos clientes colocando mais variedade. Os supermercados hoje abrem de domingo a domingo, se trabalha muito as datas festivas e o objetivo é esse: entrar em outros segmentos já que os alimentos, até dois anos atrás vinham com reajustes abaixo da inflação e os supermercados que ficaram só no ramos de alimentos tiveram dificuldade de rentabilizar o seu negócio. Leandro – Existe alguma percepção em relação a essa desaceleração econômica por parte do setor ou não? Principalmente nos últimos dois meses em que a gente vê, por exemplo, o setor de shopping Center e algumas outras áreas do varejo sentindo uma redução das vendas. Polibio – O próprio varejo está prevendo um empate no crescimento aqui no RS. Vocês estão prevendo um crescimento real.
  • 3. Antônio – O que dá para sentir é que hoje, é que o supermercado está muito aliado à indústria, ao seu fornecedor. A indústria continua fazendo muitos investimentos, lançando cerca de 12 mil novos itens todos os anos. Um dado interessante é que desses 12 mil, cerca de mil sobrevivem no primeiro ano. Então, pra ver como o consumidor hoje está muito atento, ele prestigia o estabelecimento e continua comprando o produto que realmente dá alguma vantagem, algum diferencial. O varejo aprende muito com seu cliente, com seu consumidor. Até o ano passado, nos últimos dois anos a gente sentia que o consumidor conseguia fazer valer muito mais o seu dinheiro, está muito atento às ofertas, tanto que o preço médio do item vendido nos supermercados, até o ano passado, ele tinha um reajuste de cerca de 50% da inflação. Se a inflação era 6% o preço médio do item vendido no supermercado aumentava cerca de 3%. O cliente vai na gôndola, escolhe a oferta. Polibio – Ainda faz isso? Antônio – Faz, mas o alimento este ano teve um reajuste acima da inflação. Leandro – E como é o mix de receita da média dos supermercados? Quais os produtos que geram maior receita? Antônio – A média é assim: você trabalha com 50% da linha de mercearia, toda a linha de bebidas e alimentos. Cerca de 40% da linha de perecíveis e 10% da linha de bazar. A média do setor de bazar, se algumas empresas pode ser no mínimo de 5% e os grandes hipermercados chegam até a 30, 35%. A sessão dos perecíveis é a categoria que você consegue se estabilizar mais. Polibio – mas é a que dá mais trabalho também. Antônio – Pois é, depende do seu trabalho: quanto mais trabalho você colocar, melhor retorno você tem. A linha mais simples, claro, a questão da mercearia todo mundo sabe vender um sabão em pó, um Omo, mas como todo mundo sabe vender a margem é mínima. O grande segredo do setor é diminuir as quebras e rupturas já que o cliente sabe quanto que ele pode pagar por cada produto. Hoje o varejo já não coloca mais a sua margem necessária no seu preço de venda. Hoje as empresas mais atuantes, com maior sucesso, são aquelas que trabalham muito a percepção de preço ao cliente. Ou seja, sabe até quanto o cliente paga. Então, realmente, você não consegue botar a margem necessária porque o cliente troca de estabelecimento. Ai você precisa de outras variáveis. Polibio – O cliente gaúcho sempre me pareceu, pelas informações que eu tenho, de que ele é muito fiel ao seu supermercado. Ele é mais fiel ao seu supermercado do que ao produto? Antonio – Se tu for traído por ele, tu troca e nunca mais volta. Essa fidelidade busca um comprometimento maior. Polibio – Você acha que o consumidor gaúcho é mais fiel ao seu supermercado do que em outros estados? Antonio – O consumidor hoje se sente dono do negócio, tanto de os supermercados não está no ranking dos setores de maior reclamação que é o PROCON porque se o cliente está incomodado, ele pega o gerente porque o cliente se sente dono do negócio. Isso ajuda muito o setor a crescer e as empresas que têm sucesso são aquelas que escutam o cliente, escutam o fiscal da saúde, escutam o pessoal da Prefeitura que dá uma dica. Hoje não tem mais espaço para você questionar muito o cliente, ou questionar o fiscal da Prefeitura, as Secretaria da Saúde. Acho que o momento é mesmo de construir. Leandro – Como essas pequenas redes de supermercados fazem para competir com essas mega empresas que com certeza tem um poder de fogo, um poder de barganha na sua relação com os fornecedores muito maior? Polibio – O Próprio Antônio Longo é dono de uma rede de supermercados que tem sede em Bento Gonçalves que é a rede de 8 supermercados que á a Polo.
  • 4. Antônio – É uma empresa familiar, a gente está a mais de 80 anos no ramo, mas a questão é essa: com a chegada da primeira multinacional a Sonai. Polibio – É um bafo na nuca. Antônio – É um bafo justamente porque houve uma movimentação muito grande e o setor nunca buscou benefícios ou protecionismo do governo. A dor sempre ensinou a gemer, tanto que com a chegada dos grandes grupos os pequenos se uniram em centrais de compras, conseguiram negociações de taxas de cartão de crédito, conseguiram comprar melhor os produtos. Hoje nós temos mais de 600 empresas pequenas de supermercado que estão reunidas em centrais de compras. Hoje são 11 centrais de negócios no estado, que corresponde a cerca de 15% do faturamento do setor, com crescimento de 20% no seu faturamento. Leandro – Então, uma forma é uma união dessas pequenas empresas na hora de negociar com seus fornecedores. Polibio – O poder de compra desse conjunto corresponde a que? Um Walmart do Brasil por exemplo? Antônio – É semelhante, é maior que o Zaffari. Não se compara porque são 600 lojas. Polibio – O que importa é que para uma negociação ela fala como se fosse. Antônio – É, ou seja, isso é ideia deles e é bom pro setor hoje e para o consumidor, principalmente. Polibio – Falando em Internet, teve uma época que virou uma coqueluche as operações business to business de supermercados. Aqui no RS foi o Paulo Feijó que começou com essa história. Isso pegou mesmo, os supermercados conectados pela Internet faz compra de seus fornecedores tudo on-line? Antônio – Isso é a salvação, nem se discute. As empresas, principalmente do interior, que não recebem mais a visita do vendedor, elas precisam estar... Polibio – Desempregaram os vendedores. Antônio – É que muitos de seus fornecedores acabaram fechando seus escritórios locais, ficando realmente só a questão on-line, isso foi a salvação de grupos. Leandro – Como funciona a concorrência com a própria Internet, com supermercados na Internet? Polibio – Isso ai era o que eu ia falar do consumidor, pela Internet, comprando seu rancho. Antônio – O Walmart tem, uma rede regional O Sul tentou implementar, mas não deu. Polibio – O consumidor ainda quer entrar lá dentro, pegar, olhar, mexer. Antônio – Essa satisfação dos sentidos, como a gente chama, ali é o ponto de encontro da família, as pessoas têm a necessidade de ir até o mercado tocar o produto, sentir, ver o lançamento, escolher qual é a melhor oferta. Mas sem dúvida esse é um mercado que tem seu espaço, a médio e longo prazo nós acreditamos que 5 a 10% ele não vai conseguir atingir, daqui a muitos anos cerca de 20% quem sabe. Polibio – Hoje estaria em quanto? Antônio - Nem a 3%. Polibio – Tem algum país onde deslanchou isso?
  • 5. Antônio – Nos EUA tem, é muito simples o processo. A gente acha que é muita tecnologia, nós tivemos oportunidade de conhecer esta operação, mas é também manual: pega a lista, imprimi e o funcionário vai separar o material, era como nos armazéns aqui. Leandro – Acho que talvez de todos os negócios que foram para a Internet, aquele que ainda resiste com mais força são essas compras de perecíveis de uma maneira geral. Antônio – Com livros, DVDs, isso é mais fácil por exemplo, mas supermercado acredito que por muitos anos as pessoas ainda tenham essa necessidade. Leandro – A gente está vendo ai um aumento persistente da inflação, a manutenção de uma inflação relativamente alta nos últimos anos. Como isso interfere no seu negócio? Polibio – Vocês, na área, estão trabalhando com a projeção de inflação de quanto para este ano? Antônio – Nós acreditamos que os alimentos cheguem a 7 ou 8% da inflação já que por longos 15 anos o setor de alimentos sempre contribuiu para segurar a inflação dos preços, mas fazem 2 anos que o mundo veio comprar mais alimento, as comodities tiveram realinhamento de preço a nível mundial. Esse crescimento da nossa atividade no Brasil o consumidor acabou pagando a conta. O importante é isso: o consumidor é muito atento e a inflação dos serviços continua sendo muito maior do que os próprios alimentos. Onde ele tem mais opção de compra, o consumidor, opção de escolha sem dúvida ele sabe fazer o seu orçamento. Leandro – Mas como a inflação afeta o negócio do supermercado? O supermercado consegue se proteger da inflação ou não? Onera a margem, como que funciona isso? Antônio – O setor, se você pegar 15 anos atrás, as pessoas gastavam cerca de 45% da sua receita em compras no supermercado, da renda, as famílias. Hoje não chega a 15%. Houve um ganho real de renda das famílias. Polibio – Decorrente do que? Antônio – Mais pessoas trabalhando na família, mais renda e os alimentos também, se você pegar 15 anos atrás, hoje estão mais acessíveis. Se você pegar o sabão em pó, ele está o preço de quase 10 anos atrás em função da eficiência da indústria, da concorrência, outras marcas surgiram. Se você pegar alguns produtos líderes de mercado, claro não é o caso da farinha de trigo porque deu problema com o trigo argentino que não mandou pro Brasil. Se você pegar muitas marcas mundiais, o próprio yogurt que não é como na França onde ele é tratado quase que como cesta básica, todo mundo tem acesso. Mas as pessoas não tinham acesso a esse produto e hoje eles são mais acessíveis. Polibio – O yogurt era tratado, há 10 anos atrás, como sobremesa de domingo. Antônio – Como sobremesa. Hoje a nossa empresa vende mais recarga de celular do que pão cacetinho. Então, são novos produtos. As pessoas tem o limite de comer o pão, mas como elas querem comprar a recarga de celular, então tu também vende recarga de celular e hoje vende mais do que pão. Onde foi essa renda? O preço do pão, se pegar há 20 anos atrás, ele ficou bem abaixo da inflação. Então, as pessoas, hoje, têm renda para comprar outros produtos. Leandro – E hoje como os estoques são menores do que no passado, o supermercadista consegue passar rapidamente os preços e não tem esse risco elevado porque não são muito grandes. Antônio – A margem média do setor é 1,7, mas as quedas e perdas ainda são cerca de 2%. É isso que o setor vem fazendo, tentando melhorar sua eficiência, diminuindo quedas e perdas para poder ser competitivo. Na indústria claro, existe todo esse estudo de mix, você cada vez mais com muitas marcas, 12 mil novos lançamentos todos os anos. Você não tem como botar esses 12 mil na sua gôndola, é um trabalho constante
  • 6. de seleção e questão de giro. Os meios eletrônicos já ultrapassam 50% da venda, mas o cartão da crédito é cerca de 20, 30% da venda que você recebe em 30 dias. Leandro – O maior meio de pagamento é o cartão de crédito em pagamento à vista ou a crédito? Antônio – Hoje 55% é meio eletrônico, o cartão de crédito é cerca de 25 a 30%. O crédito ainda um pouquinho mais que o débito. O cheque não representa 8% do total. Leandro – Uma das coisas boas é a questão da inadimplência. Uma vez era mais grave. Antônio – É, mas em muitas redes a inadimplência, o cheque é 0,3%, hoje você paga taxas de 3, 4, 5%. Tem empresas de ticket que cobram até 9% do varejo. Stormer – A empresa que assume esse risco cobra mais caro do que o benefício. Polibio – O ticket tem que peso? Antônio – Cerca de 15% da venda. Leandro – Tem algumas participações da Internet, o Carlos pergunta “o que leva supermercados de uma mesma rede a serem tão diferentes, como exemplo temos o Extra que vira e mexe é multado pela saúde pública com produtos fora da validade, enquanto o Pão de Açucar, da mesma rede, é um modelo de organização e limpeza?” Antônio – São diferentes segmentos. Você atende, às vezes, lojas menores, com mais qualidade, tem uma equipe mais qualificada que fica mais atenta. A questão é que hoje você está na mão das pessoas. Existem processos internos dentro das empresas e isso pode acontecer. Numa loja o gerente está mais atento aos processos, numa loja tem um menor giro de produtos, você não consegue fazer a rotação de produtos da gôndola, o repositor acaba botando, ou seja, ao invés de tirar o produto que está atrás e colocar na frente, ele só vai colocando o produto na frente. Isso realmente é questão de operação. Leandro – Às vezes uma grande rede vai obsorvendo operações menores e até consolidar a cultura é difícil, demora um bom tempo. Antônio – Esse é um grande problema, assimilar essa cultura. As pessoas têm bastante dificuldade. Leandro – Nós tivemos aqui o Oltramari, CEO do Shopping Total, que falou uma coisa bem interessante sobre os hábitos de consumo das pessoas no shopping. Ele falou que no shopping quem manda é 100%. É ela que vai gastar mais, que vai escolher, vai ficar muito mais tempo. Como funciona no supermercado? Stormer – É assim também, é a mulher que manda? Antônio – Olha, é a mulher que manda com certeza. Leandro – Até na carne, no churrasco? Antônio – Não assim, nós temos que tratar bem as mulheres porque o PIB, com certeza 80% dele, são elas que decidem. Se não existissem as mulheres, 80% do PIB caia. O homem no mercado tem aquela situação: ele cobra muito da mulher que é ela que gasta, mas no mercado ele é muito mais solto. Leandro – A mulher pesquisa. Stormer – Eu não faço pesquisa de preço, eu vou lá e pego, coloco no carrinho e nem olho o preço.
  • 7. Antônio – É um voto de prazer, você está buscando uma satisfação. A mulher está mais preocupada com o sustento da família, tem que levar mais comida pra casa. O homem quer se premiar. Leandro – Molina coloca “boa noite Senhores, até onde o setor de varejo pode ser afetado caso tenhamos uma possível bolha de crédito fácil e acessível à nova classe C? Segundo os dados estatísticos, mais de 50% das famílias brasileiras estão consumindo além do orçamento mensal.” Polibio – Esse dado confere? Antônio – Confere sim porque o setor trabalha com entidades, trabalham para que o consumidor tenha mais renda. No supermercado, no momento que você representa 15% do destino da renda das famílias o comprometimento é menor porque no supermercado o preço médio do item vendido é cerca de R$ 3,50, então, existe uma grande variedade. O ticket médio no estado é cerca de R$ 25,00, o ticket da compra por consumidor. Polibio – Isso é por dia, como é? Antônio – É por compra, cada vez que vai lá. Aquela compra básica do leite, dos alimentos, um yogurte a mais, de repente uma barrinha de chocolate. Stormer – Diferente daquela situação em que a gente tinha a inflação em que as pessoas pegavam seu salário, corriam para o supermercado e faziam um mega de um rancho, o ticket médio ali devia ser bem mais elevado. Antônio – É que hoje vão por item que amanhã vai estar mais barato que hoje porque o setor, cada dia, está fazendo um show diferente. Os supermercados têm eventos: hoje é o dia da feira e tal. Leandro – Então, talvez para esse consumo, vai ser a última coisa que a pessoa vai cortar, o básico. Antônio – O setor é o centro de compras de consumidores de todos os segmentos da economia. É o que menos sofre. A gente escuta “todo mundo tem que comer”, não, é que ele vende um pouquinho pra todo mundo. Leandro – Então, a variação da venda é pequena. Antônio – Nos últimos 20 anos o crescimento é sempre superior, nunca a mais de 1,2% acima do PIB. É um crescimento constante, mas crescimento constante para quem inventa todo dia. Pra quem bota item novo, pra quem faz um pão melhor, pra quem tem a carne de churrasco melhor. Não é porque você tem um supermercado que não vai ter problema. O supermercado é muito fácil, mas é muito difícil. Um pé na frente está no céu, mas um pra trás está no inferno. É muito próximo o erro do acerto. Leandro – Tem uma pergunta meio polêmica do Luiz: “por que quem compra à vista em dinheiro tem que pagar o mesmo de quem compra a prazo?” Antônio – Para o varejo tem a questão de segurança do meio eletrônico e o varejo está trabalhando para reduzir estas taxas de administradoras, de cartão, de tickets para poder vender mais barato. Com a inflação atual, essa questão desses 3%, 4, isso acaba sendo absorvido pela operação. Polibio – Uma coisa que me intriga muito nessa questão, agora mesmo, domingo, estive em Gramado e fui numa loja comprar e perguntei o preço de uma camisa. R$ 100. Disse “se eu pagar com cartão você baixa para quanto?” – “não, é R$ 100” – “e se eu pagar em dinheiro vivo?” – “não, é R$ 100” – “mas isso ai não tem lógica porque vocês está pagando para a administradora do cartão, 3, 4, 5%, se quiser antecipar vai pagar até mais do que isso, eu estou te oferecendo pra ti pegar esse dinheiro que o cartão vai te dar, à vista, quer dizer: você está querendo tratar melhor o seu cartão de crédito do que a mim que sou teu consumidor, por que razão?”
  • 8. Antônio – São coisas que se criaram para facilitar a operação comercial. Hoje a gente faz de tudo para facilitar, para agilizar porque o próprio dinheiro também tem um custo. É o custo do carro forte, a questão da segurança. O dinheiro tem um custo pro varejo até mais do que é a inadimplência do cheque. Em alguns formatos de loja é 0,3%, mas em alguns formatos de loja o dinheiro também custa de 0,5 a 0,8%. Stormer – Se tiver muito dinheiro na tua loja pode atrair a atenção dos bandidos. Antônio – Isso tem diminuído, dinheiro hoje é 30%. Hoje o varejo busca facilitar essa operação de entendimento, sem muita conta no caixa. Stormer – E ai vou te fazer uma outra pergunta em que também vou te botar numa saia justa: o preço de alguns produtos chega a ser ofensivo. Por exemplo: comprava um produto de R$ 3,99 tu sabe que aquele 1 centavo você não vai receber. O cliente dá R$ 4, mas o 1 centavo de troco não volta pra ele. Mesmo se você colocar R$ 3,95, você não vai receber os 5 centavos de troco. Com o cartão tem. Leandro – Com o cartão ele paga o preço certo. Antônio – Mas isso também é outra questão: a moeda. Quem faz moeda de 1 centavo? Infelizmente eu não posso produzir, eu gostaria de ter uma maquininha. Polibio – Isso é questão de marketing. Diz R$ 3,95 pra não dizer que é R$ 4. Antônio – É que você somando uma compra de 10 itens, hoje não tem como você fazer preço redondo porque o peso...vai botar R$ 4 o kg da laranja, se levar 230g você vai dar centavos. Começa pelo governo, ele tem que fazer moeda. O Brasil não produz moedas de 1 centavo há mais de 10 anos. Leandro – Como foi cortado o orçamento do Ministério da Fazenda, eles prorrogaram tanto a confecção de novas moedas quanto as cédulas de papel. Vai piorar a situação ainda mais. Stormer – Vai faltar dinheiro em papel. Antônio – Na nossa empresa nós temos cerca de 300 mil doações mês de 1 centavo, quer dizer, é o troco solidário. Nossa empresa doa cerca de 2 ou 3 mil reais por mês. Leandro – Como é a tua percepção da economia brasileira para os próximos meses, próximos anos? Como você vê essa questão da crise que se avoluma, que já ganhou as ruas? Antônio – Acho que as empresas de sucesso são aquelas que estão entendendo esse movimento, diferentemente dos governantes que já acharam que não tem mais o povo na rua há 7 dias, acha que está tudo resolvido. As empresas hoje estão atentas a esse novo consumidor, ao consumidor que não cala, que quer mudança. Isso que as empresas ensinaram o consumidor a fazer seu orçamento, sempre nos assustou os anúncios do governo “recorde de arrecadação” ai você olha e a despesa foi um pouco mais do que o recorde de arrecadação, essa é uma conta que o povo sabe fazer hoje. Leandro – E você, mais do que ninguém, enxerga quanto vai de imposto em cada compra de cada consumidor. Antônio – Imposto realmente a gente nunca foi contra porque a gente vive num grande condomínio, todo mundo tem que pagar seu condomínio. É que no Brasil é aquilo: quem mora na cobertura não paga porque consegue pagar bons advogados, o que mora no subsolo não paga porque ganha bolsa família. Hoje realmente se paga muito imposto. Leandro – Qual é a sua percepção pessoal do que vai acontecer da economia daqui pra frente?
  • 9. Antônio – O Brasil é um país de muita oportunidade, mas essa consciência do governo de tratar como se fosse uma grande empresa que tem direito adquirido, realmente, o Brasil, enquanto não resolver essa questão não vai melhorar. Leandro – Mas será que eles vão partir para parte de uma solução ou vai ter uma enrolação, pode ter manipulação, pode ter instabilidade política? Antônio – A enrolação vai continuar. Os governos trabalham só para a eleição, não existem mais projetos a médio e longo prazo. Daqui a 4 anos o projeto é só a próxima eleição. Stormer – O setor de supermercado sente muito a dificuldade de logística que existe no país ou é um setor que está indiferente? Antônio – Esse é o maior problema do setor. A gente fala que a mão de obra é um problema, mas nem se compara à questão logística. Você tem que ter um capital de giro muito maior, você tem que ter um estoque no mínimo de 10 dias a mais do que o necessário. Uma empresa precisa ter cerca de 30% a mais no seu estoque necessário para o supermercado para não ter rupturas. Não tem como você comprar do fornecedor e deixar marcado para o dia 10 a chegada do produto. Você compra, faz o acerto no dia 10, mas vai chegar no dia 20. As empresas estão se organizando e o governo está muito bom na questão fiscal. Se a nota foi emitida pelo fornecedor ele já te remete a nota e agenda o recebimento, mas às vezes a nota fica 10, 15 dias na estrada. Polibio – Nas demais áreas do governo ele deveria se organizar tão bem quanto na área fiscal.