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ENTREVISTA COM RICARDO RUSSOWSKY
Polibio – Vamos conversar com Ricardo Russowsky que é o presidente da Federasul, que é a mais
importante entidade empresarial do comércio do nosso estado. O Ricardo foi também, por dez anos,
presidente do Banco do estado do RS, o Banrisul. Vamos falar sobre o PIB do RS no segundo trimestre que
foi um PIB mais do que ultra chinês, bateu 15,3% num trimestre. É um número espantoso, mas será que se
sustenta durante todo o ano? Como vem agindo a economia do RS? Vamos falar também sobre o imposto da
fronteira. O comércio do RS teve esta semana uma vitória política inédita, se permanecer esta vitória, será
uma coisa muito importante e abre um precedente. Até agora, no Brasil, só se fala em aumentar impostos,
mas agora diminuiu um imposto. Vamos começar pelo PIB do segundo trimestre do RS. A previsão para o
Brasil, esse ano, é de 2 ou 2,5%, depende de quem faz a previsão de crescimento, aqui no RS deu 15,3%. A
Federasul fez uma projeção para esse ano, para o crescimento da economia aqui, bem mais modesta.
Ricardo – O PIB do RS, que é comparativo esses 15% ao segundo trimestre do ano de 2012. Basicamente
aconteceu que em função de um crescimento focado na produção agrícola do estado, especialmente soja.
Esse crescimento já era esperado no setor agrícola em função de que este ano de 2013 é o ano de maior safra
da história do RS e deverá ser a maior safra da história do país. O setor agrícola em todo o país, e
especialmente no RS, que é o que nos interessa, vem crescendo nos últimos anos e vem crescendo de
maneira firme. Às vezes no RS, que foi o caso do ano passado, que teve uma produção mais baixa em
função de problemas climáticos, esse é um dos problemas que o RS tem, neste ano em função também do
clima nós tivemos uma supersafra. Essa supersafra é que está impulsionando o crescimento deste PIB de
15%.
Polibio – É supersafra e bons preços.
Ricardo – Supersafra e bons preços. Isso está impulsionando o crescimento, que impulsionou o crescimento
de 15% em relação ao trimestre. No semestre são 6%, aproximadamente, até agora o crescimento do PIB.
Polibio – Acha que se sustenta durante o ano? Agora acabaram as exportações.
Ricardo – O PIB agrícola deverá continuar em relação ao ano passado, comparativamente crescendo. Nós
vamos ter sim uma participação de que a agroindústria do RS, com todos seus componentes e estruturas,
representa praticamente ¹/3 da economia do estado. O RS é ainda um estado agroindustrial. Esse crescimento
na área agrícola impulsiona os outros setores.
Polibio – Ou seja, a economia depende do desempenho da...
Ricardo – No RS a economia depende do campo. A cidade depende do campo. Se o campo vai bem, o
comércio vai bem.
Polibio – E o campo vai bem quando tem bons preços e quando não chove.
Ricardo – Vamos olhar o clima. A questão do clima no RS é um problema. Nós tivemos já...
Polibio – Porque não tem irrigação.
Ricardo – Nós não temos sistema de irrigação que regule a produção, ou seja, o plantio que gera a
produção. Nós já tivemos várias tentativas de irrigação, de tecnologia na irrigação. Nossa irrigação é
empírica, por açudes, enfim. É claro que precisa água e precisa dos açudes, mas precisa também a
distribuição disso. É um assunto muito particular do estado do RS. O que não acontece em São Paulo, por
exemplo, na lavoura de café. A lavoura do café é toda irrigada em São Paulo.
Polibio – E a economia de São Paulo não depende mais, fundamentalmente da agroindústria.
Ricardo – A economia de São Paulo é basicamente industrial. A do RS é ainda basicamente agroindustrial.
O RS depende de investimentos nessas áreas e acho que nossos governos, os últimos pelo menos, têm
pecado muito, porque existe tecnologia no mundo de ponta, de primeira linha, para regular o problema de
clima que nós temos.
Polibio – Enfim, a projeção que você faria para o ano é de 6%?
Ricardo – Deve ficar em torno de 7 ou 8% de crescimento.
Polibio – É três vezes mais do que vai crescer a economia do Brasil como um todo.
Ricardo – É, três vezes mais. A economia do Brasil está se projetando para em torno de 2%. Talvez nem
chegue a 2%.
Polibio – Eu quero entrar no assunto em relação ao imposto da fronteira. Quem acompanhou a sessão da
Assembleia de quinta-feira, dia 11/09, no RS, deve ter ficado surpreso com o que aconteceu ali. Os
deputados, praticamente sem oposição, porque foi uma votação espantosa.
Ricardo – Pode-se dizer que a votação foi unânime.
Polibio – Os deputados aprovaram um decreto legislativo revogando, na prática um imposto. Essa sobretaxa
de 5% de ICMS em cima das compras feitas fora do RS, isso é um imposto.
Ricardo – E esses 5%, é 5% sobre 12, se vai encarar assim será 40, se for sobre os 17 será 30.
Polibio – Ele corresponde a quase 50% dos 12. Esse imposto não existe em SC, no PR.
Ricardo – Existe de outras formas. O Paraná, por exemplo, negociou esse imposto com outros tributos e
recompôs sua receita. Na verdade, nós tivemos uma votação, nessa semana, vitoriosa na tentativa e na
intenção de derrubada desse imposto. Mas esse trabalho não foi feito da semana passada para essa. Foi um
trabalho que as instituições representantes do comércio, nós que estamos aqui hoje representando a
Federasul, que foi uma das partícipes que mais se empenhou neste processo. Ele vem há 2 anos sendo
trabalhado. Vínhamos negociando há 2 anos com o governo. A ponto de não conseguirmos uma negociação
final e o governo entende, e a gente pode também entender de certa forma o lado do governo, que ele está
numa situação dificílima. Não é novidade que os governos, especialmente os últimos, tiveram dificuldades
de caixa, mas o nosso governo, nesse momento, tem dificuldades porque ele está usando hoje 4,5 bilhões de
depósitos judiciais. Então, ele tem essa dificuldade. Por outro lado, essa dificuldade se agravará mais se os
comerciantes pequenos e médios – que são os grandes prejudicados por esse imposto, e que no todo esse
imposto não representa tanto no orçamento governamental, mas representa 100% da vida desses pequenos e
médios comerciantes, principalmente do interior – vão fechar suas portas. E ai o governo terá dificuldades
muito maiores, porque vai deixar de arrecadar e vai gerar desemprego. Essa é a nossa luta. Mesmo com essa
vitória, nós ainda não ganhamos a guerra, porque ainda existem passos a serem dados para que se consolide
efetivamente essa extinção do imposto. Nós não vamos desistir, em momento nenhum, porque isso
representa a vida desse pequeno e médio comerciante.
Polibio – Isso abre um precedente, porque é a primeira vez que caem impostos aqui no RS. Imagine a
situação do comerciante da fronteira com SC, principalmente. Um comerciante de Torres que vai atravessar
para o outro lado e vai pagar 5% a mais numa mercadoria. Esse é o principal, está batendo direto,
concorrendo com o outro lado, isso em todas as fronteiras. A maioria decidiu editar o decreto do chamado
imposto de fronteira, que não é o imposto da fronteira. O que é esse imposto de fronteira?
Ricardo – É importante explicar da maneira mais simples possível, o imposto da fronteira é um imposto
imputável sobre mercadorias que os comerciantes compram fora do estado do RS para serem distribuídas
nos seus estabelecimentos comerciais. O imposto, aqui dentro do estado, é de 12%. Acima desses 12%, caso
o produto seja comprado fora do estado, acrescenta-se mais 5%, elevando esse imposto para 17%. O
aumento de custo do imposto não são só 5%, é 5% sobre 12 que chega perto de um aumento de 40%. Nós
temos, para mercadorias compradas fora do estado, muitas vezes semelhantes ao que temos aqui dentro do
estado, pagando 40%, aproximadamente, a mais de ICMS. Esse imposto torna difícil a venda desses
produtos, não torna esses produtos competitivos e faz com que diminua a atividade comercial desse
comerciante que quer trazer essa mercadoria que muitas vezes não existe no RS.
Polibio – Óculos, por exemplo.
Ricardo – Não existe fábrica de óculos, de qualidade, no estado.
Polibio – O sentido dessa sobretaxa foi proteger a indústria do RS. Vamos proteger como? Vamos cobrar
mais caro de concorrentes de outros estados. Mas tem produtos que, simplesmente, a indústria do RS não
produz.
Ricardo – E mais, o comércio, no ano de 2012 especificamente e ainda se reflete no ano de 2013, tem
crescido em função das exportações. A indústria brasileira como um todo, não tem capacidade de produção
para abastecer o mercado doméstico que foi criado em função desse grande programa de distribuição de
renda no país que colocou mais 30 ou 40 milhões de pessoas na classe média, como consumidores. Daí o
mercado de automóveis, com nossas ruas cheias, e em outros produtos também. Esses produtos precisam ser
importados, a capacidade da indústria brasileira não abastece esse mercado. Nós estamos importando
produtos e também dentro desse roll produtos importados são taxados, de qualquer natureza fora do estado,
pode ser de outro estado ou também de outro país. Para abastecer esse comércio, é necessário que se importe
produtos, no caso do RS quer de outros estados ou quer de fora do país. É a sobrevivência do comércio. É ai
que existe realmente esse grande embate na discussão desses mais 5% de imposto.
Polibio – Vamos falar sobre o precedente que se abre. Não se eliminam impostos, só se criam impostos.
Aqui no RS, pela primeira vez na Assembleia Legislativa, numa decisão política, se colocou em oposição ao
próprio governo e derrubou essa sobretaxa. O que vai acontecer agora é outra questão. O fato é que houve
uma decisão política da Assembleia Legislativa do estado no sentido de que tinha que derrubar essa carga,
porque ela está prejudicando uma parte importante da economia do RS. Como se deu essa articulação? A
Federasul, que você preside, foi uma das líderes desse movimento. Eu quero falar nisso, porque muita gente
não acredita que resolve fazer protesto, ir para a rua. O governo está armado e é muito perigoso, eles fazem
o que querem, mas não é bem assim. De pendendo de como se articula, é possível obter vitória.
Ricardo – Eu acho que você tem razão, porque essa luta vem a mais de 2 anos, ela se intensificou neste
último ano. Realmente, quando existe uma causa e a sociedade reuni-se em torno dela se consegue vitórias
como se conseguiu essa. A causa tem que ter fundamento, e esta tem fundamento, tem que ser justa. Neste
caso, pela primeira vez talvez na história, nós conseguimos através de um movimento popular – e pode-se
chamar o movimento do comércio, do pequeno comerciante um movimento popular – se obteve essa vitória
na derrubada de impostos. Talvez pela primeira vez desta forma. Seguramente pela primeira vez, desta
forma popular. Inclusive, nós tivemos movimentos de rua, houve carro de som, houve passeata, feitos por
empresários. Empresários conscientes do seu problema e trazendo este problema para a sociedade como um
todo. Foi julgado procedente, tanto que na Assembleia Legislativa, praticamente pode-se dizer que os
deputados votaram, vamos chamar de votos válidos, não houve voto contra. Então, a causa é importante.
Agora, o que aconteceu no país de maio para cá? Aconteceram diversos movimentos de rua que vêm
influenciando decisões políticas no país todo.
Polibio – Esse movimento, de certa forma, se inscreve em tudo isso.
Ricardo – Esse movimento está no âmbito dos protestos. Tanto o governo quanto os representantes do povo,
passaram a examinar com muito mais cuidado esses movimentos. Esse movimento que nós fizemos, que é
um movimento do comércio, em defesa da sua sobrevivência, a Câmara foi sensível e analisou com todo o
cuidado a importância e abrangência dessa decisão. Por isso vencemos esse episódio nessa semana. Agora,
claro que a gente sabe que existem desdobramentos que o governo, por ter as suas finanças hoje em
dificuldade, vai tomar medidas para tentar reaver. Obviamente o comércio vai estar alerta, vai estar atento
para continuar lutando nesta causa.
Polibio – Num determinado momento, essas mesmas forças que estão se movimentando pela redução do
imposto, isso pode começar alguma discussão a respeito da seguinte questão: o estado realmente precisa de
todos esses impostos que ele está cobrando? Ele está numa situação difícil porque ele não tem receita
suficiente ou é porque está gastando perdulariamente e de modo ineficiente?
Stormer – Vou entrar numa questão talvez mais interessante nesse controle tributário, o próprio fato de
demonstrar na nota fiscal que o cliente recebe qual é o nível de imposto que está sendo pago ali, para onde
está indo cada um dos seus reais pagos para cada produto, enfim, aprofundar essa discussão acho que seria
algo extremamente benéfico.
Polibio – Foi uma batalha política, de opinião pública. Vocês ganharam não apenas politicamente na
Assembleia depois que o governo não quis fazer as concessões, mas ganharam inclusive a opinião pública.
Foram quantos comerciantes que reclamaram?
Ricardo – 200 mil.
Polibio – Isso já dá um bom universo.
Ricardo – Às vezes tem empresas individuais, pequenas empresas de comércio familiar.
Polibio – Além de eles serem prejudicados, o consumidor também é prejudicado. O imposto acaba sendo
transferido. Quando o comerciante não consegue transferir o imposto ele quebra a empresa.
Ricardo – Sem dúvida. Ou sonega que é muito pior, que é o que hoje a consciência desses empresários não
permite mais. Eles querem estar inseridos na economia com conta bancária, ter crédito bancário e para isso
não existe mais espaço para a sonegação.
Polibio – O Stormer colocou a questão de transparência dos impostos. Na maioria, as pessoas – como os
impostos são indiretos – nem percebem que pagam horrores de imposto em uma caixa de fósforos, por
exemplo. Teve uma lei que foi aprovada para que se descriminassem, na nota fiscal, os impostos que estão
incidindo sobre o preço daquele produto. Como está isso?
Ricardo – A lei está em vigor, as empresas estão se adaptando, existe um tempo para se adaptar para fazer a
demonstração ao consumidor final de quanto ele está pagando em cada mercadoria que ele adquire.
Polibio – Será que isso vai ajudar na conscientização?
Ricardo – Sem dúvida que vai ajudar na conscientização, mas isso faz parte de um processo democrático
que inicia no Brasil nos anos 80. Começa um processo democrático a partir de um momento em que o Brasil
esteve hermeticamente fechado e hoje se abre para a população e a população passa a ter participação direta
na formação dessa nova democracia. O Brasil é um país totalmente democrático? Não! As instituições
brasileiras ainda não estão totalmente preparadas para enfrentar o que é uma real democracia onde todas as
pessoas teriam direitos iguais. Talvez seja uma utopia isso, no ponto final, mas caminhando para esse ponto,
está se construindo essa democracia onde as pessoas tenham participação realmente nas atitudes da
sociedade que a governa. Esse exemplo do imposto de fronteira foi, sem dúvida nenhuma, uma
demonstração; a colocação dos impostos na transparência pela nota fiscal é outra atitude, isso falando na
questão econômica. O impostômetro é outra atitude no sentido de esclarecer, de informar. Nesse sentido de
esclarecer e informar, eu tenho que esclarecer aqui, que a Federasul, desde o início dessa gestão ocupou um
dos pilares que ela entende que seja um dos mais importantes na formação de uma sociedade, que é a
educação. Só através da educação que nós vamos ter condições de entender esse movimento todo. Não
adianta fazer o movimento sem que a grande parte da população entenda. Para que se entenda e se
conscientize esse movimento, e ai sim ter uma democracia mais abrangente, maior, mais perfeita, só com a
educação e a capacidade de formulação. É um processo democrático que se avizinha cada vez mais.
Polibio – Na década de 40, na Constituição de 46, depois acabou a ditadura do Vargas, um líder socialista
João mangabeira, muito importante, altamente democrático, costumava dizer o seguinte a respeito da
democracia: a democracia é uma planta muito tenra, tem que regar todos os dias, senão ela morre. A
democracia, como a própria economia de mercado, o capitalismo, não é um modelo pronto e acabado. O
grande vigor da democracia, como também da economia de mercado, é sua capacidade de melhorar a cada
ponto, admitir críticas, sempre avançar se adaptando.
Ricardo – E esse é um processo que estamos agora, de forma palpável, conseguindo enxergar. Esses
movimentos e esses resultados, mesmo os movimentos de rua ou principalmente os movimentos de rua,
estão nos mostrando esse caminho.
Polibio – A Federasul não é uma entidade sindical. Ela representa o comércio do nosso estado, mas não é
uma entidade sindical. A sindical é a Fecomércio que representa os comerciantes do nosso estado. Ela se
mantém através da contribuição de seus associados. Isso tem um peso político muito grande porque a
participação dos associados não é compulsória como numa entidade sindical, vai quem quer, quem apoia,
quem quer participar, no caso da Federasul. Falando um pouco sobre o Ricardo Russowsky, a passagem
política mais importante dele foi a presidência do Banco do Estado do RS. Nesses meus 50 anos de
jornalismo, não conheço ninguém que tenha ficado tanto tempo na presidência do Banrisul quanto você. No
total são 10 anos.
Ricardo – São 10, mas acho que teve o presidente Lemos que ficou dois mandatos completos e, já por um
tempo, este atual presidente do Banrisul, Dr. Tulio Zanin, está no seu segundo mandato embora tenho
começado mais ou menos na metade do governo Olívio Dutra. Já está, como presidente, há 4 anos e meio
para 5.
Polibio – Mesmo assim não baterá o seu recorde.
Ricardo - Mas terá feito seus dois mandatos. O Dr. Fernando participou em dois mandatos. Foram raros os
casos. Lembro que o Assis participou de quase dois mandatos, mas sendo que naquela época, por uma
questão política, não tinha presidente o Banrisul. Num dos mandatos ele era só o Vice, não existia a figura
do presidente. Então, o Banrisul é muito rico em histórias, é uma história longa, bonita, história de 85 anos.
Stormer – A Federasul acredita que com essa queda do imposto, possa haver realmente uma melhoria em
termos de irrigação no comércio, uma melhoria em termos de maior movimentação na economia do estado?
Qual a percepção de vocês sobre isso? Vocês acham que haverá a reversão dessa queda do imposto?
Ricardo – A ideia é que essa primeira vitória não é a vitória da guerra. O governo tem mecanismos para
tentar reverter o efeito dessa medida. È possível que nem se consiga exatamente derrubar o imposto na sua
prática. Por enquanto estamos num momento teórico da questão. Mesmo que venha esse imposto continuado
a ser cobrado, nós temos uma grande vitória política. Essa vitória é o início, é uma porta aberta para
discussões futuras onde o governo queira ou não, tentando se defender na composição das suas receitas, vai
ter que olhar para esse e para outros impostos no futuro, de outros setores vitais da economia gaúcha ou
nacional, porque isso vai se estender a outros estados seguramente. Esse fato será divulgado em todo Brasil,
não só no RS, e outros estados vão fazer movimentos semelhantes.
Polibio – Na prática o governo do estado só tem duas alternativas: ou ele apela para o judiciário e derruba a
decisão da Assembleia ou ele submete um projeto para aprovação da Assembleia que, se a Assembleia for
coerente, vai rejeitar. Mesmo que aprove, tem o princípio da anualidade, quer dizer, novo imposto só para o
ano que vem. A única alternativa que ele tem, de efeito imediato, seria uma decisão judicial.
Ricardo – Nesse momento sim.
Polibio – Que pode ser atacada por vocês também.
Ricardo – Pode. Mas ele tem outros mecanismos como a emissão de um novo decreto. Aqui eu acho que a
discussão não é uma queda de braço, porque a queda de braço seria simplista demais para colocar como o
fator fundamental dessa discussão. A discussão é de fundo mais amplo do que isso. Essa decisão é
emblemática. É a primeira vez que há uma derrubada ou uma diminuição de impostos, então ela é
emblemática, será levantada em todo o país, nos estados em que há interesse em fazer isso também.
Polibio – Vai começar pelos estados que têm essa sobretaxa.
Ricardo – E o RS foi pioneiro nisso. O comércio vai se animar, embora continue tendo que recolher ou não,
vamos ver isso no futuro. Claro que se cair realmente o imposto, certamente vai aumentar a atividade
comercial. Mesmo que não caia, já há uma grande animação. Voltando à grande safra do RS, eu diria que “o
PIB do Rio Grande cresceu” e tem que acrescentar “a safra do Rio Grande cresceu” muito mais do que o
PIB, formando esse pibão, como muitos estão dizendo por ai. De qualquer maneira isso vai refletir no
comércio gaúcho, independentemente da questão só do imposto, haverá o aumento do comércio. Nesse
momento, essa vitória é emblemática, não é efetiva, não vai fazer com que realmente caia o imposto na
semana que vem.
Polibio – A economia gaúcha, neste ano, vive um momento esplendoroso em função da supersafra. Nós
teremos uma safra de grãos calculada em 28,3 milhões de toneladas apenas de grãos e com preços bons. A
agropecuária representa 9 ou 9,5% do PIB. Se pegarmos um bolo, dividirmos nos três setores da economia, a
agropecuária dá 9 ou 9,5%, indústria dá 27% e o restante é toda a área de serviços que inclui comércio,
banco, governo. O conjunto do chamado agro business e mais o que isso se replica sobre a indústria, porque
os produtos precisam ser industrializados e depois tem que ser vendidos. Então, o conjunto do agro business
representa, segundo a própria Federasul, cerca de 40% do total do PIB da economia do estado.
Ricardo – O agro business só no estado chega a 30%, mas quando tu pensas na formação deste produto em
alimento, isso é agro business, porque está na ponta da cadeia. Vai-se vender uma bolachinha pronta para ser
colocada no cafesinho, aquilo também está dentro da cadeia da soja, do trigo, do milho, enfim.
Polibio – É indústria de alimentação. “Máquinas agrícolas é uma indústria dinâmica”, é em termos, porque
quem compra a máquina é produtor rural. Se não tem produtor rural, não tem máquina agrícola.
Ricardo – Não existe vender, para quem vai vender a máquina agrícola? E assim por diante. Então, é uma
cadeia produtiva muito grande e insisto em dizer que nosso estado é um estado agroindustrial, não adianta
achar que ele é diferente. Ele pode caminhar sim, em longo prazo, para ser um estado tecnológico e é isso
que está se buscando, está se buscando inteligência, trazer inteligência. Por isso que se bate muito na questão
da educação. A educação não é saber ler e escrever e só, limitada a uma educação básica, a educação básica
é o mínimo que todo mundo teria que ter. É uma educação muito mais avançada que se precisa. Esse é o
grande diferencial que o estado do RS tem, inclusive de outros estados, pelo menos concentradamente.
Stormer – Temos uma pergunta: “Bom dia Stormer, bom dia Polibio, bom dia Ricardo, sou de Curitiba,
Paraná, mas moro no RS, adoro o estado. Será que essa decisão tão importante pode influenciar
positivamente entre os demais estados? Abraços e tenham um ótimo dia!”.
Ricardo – É o que nós falávamos anteriormente, é necessário, é importante e achamos que essa decisão
emblemática será repercutida em outros estados. Movimentos semelhantes deverão ser feitos para poder
resolver a questão local, de cada estado para o seu pequeno comércio. Cada estado que puder fazer esse tipo
de movimento, cada federação do comércio de cada estado que puder fazer esse tipo de movimento, estará
ajudando na consolidação dessa decisão.
Polibio – Há questões que se colocam de maneira recorrente no nosso estado. Volta e meia existem
campanhas colocando “olha o RS tem que obter consenso, porque se não tiver consenso nada vai adiante”.
Remete-se a Revolução de 30, quando os universitários se uniram com a situação e fizeram a Revolução de
30; no caso do Polo Petroquímico aqui que é outro exemplo, o MDB se uniu com a Arena na época. Os
generais trouxeram o Polo Petroquímico aqui para o RS. Eu, particularmente, sempre me opus a isso. Eu
acho que se der para conseguir consenso tudo bem, mas acho que democracia se constrói inclusive em cima
do contraditório e essa vitória de vocês demonstrou isso. Não é necessário que haja consenso para que se
consigam avanços, é necessária a maioria. Dá para conseguir a maioria quando tem uma causa justa e
quando ela é consequente, como nesse caso. De qualquer maneira, eu queria saber qual é o papel em que a
Federasul está jogando hoje nessas discussões, porque vocês assumiram a liderança de um movimento no
meio do comércio que não foi consensual nem no meio do comércio. A CDL se opôs a esse movimento, a
Fiergs também se opôs por suas razões. Aliás, a Fiergs e a CDL mais ou menos com a mesma decisão “olha,
se eliminar esse imposto vamos ter problemas aqui com os concorrentes de outros estados”, arruma a casa de
um e prejudica a de outro. A partir de agora, eu queria saber, a Federasul vai radicalizar a sua posição em
relação a essas questões todas?
Ricardo – Isso é uma questão pontual, cada caso é um caso. O empresariado, de modo geral, está
trabalhando no RS de forma conjunta. Existe um entendimento muito grande hoje entre as entidades
Federasul, Fiergs, Fecomércio e outras. Essas entidades, estou citando só comércio e indústria. Agricultura,
Farsul, também está sempre em consenso junto com essas entidades. Uma atividade econômica depende da
outra. O comércio depende da formação de produto que é a indústria que faz, e assim por diante. Isso aqui é
o B A BA econômico. No RS existem causas que são pontuais de interesses de determinadas classes dentro
desse conjunto econômico. Aquela parte da sociedade econômica, o comércio estava defendendo interesses
seus, porque é impossível defender todos os interesses ao mesmo tempo de toda uma sociedade.
Polibio – São questões pontuais...
Ricardo – São as questões pontuais que vão formando o mosaico social e, através dessas divergências,
vamos adequando onde estão as fronteiras da relação de união entre essas partes. Todo esse conjunto é
formado por quem está ai, que são esses..... que estão jogando no mercado. O que não pode é destruir o
contexto total. Quando a causa é muito grande, todos se unem em torno daquela causa. Isso pode acontecer
até na família. Numa família você tem a mesa, e talvez um irmão queira sentar mais perto de alguém ou ficar
mais próximo para ficar mais fácil de pegar a batatinha. Mas no contexto a família tem que ter comida na
mesa. Nós temos que trabalhar em conjunto, todas as entidades, para buscar as grandes causas do RS, fora
delas cada um tem que buscar, sem desrespeitar o outro, os seus interesses particulares.
Polibio – Cite uma grande causa que poderia unir todos os gaúchos.
Ricardo – Um Grenal. Une no mesmo estádio, não quer dizer no mesmo lado. Isso se for no beira Rio, que
ai vai caber todo mundo.

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Entrevista com ricardo russowsky

  • 1. ENTREVISTA COM RICARDO RUSSOWSKY Polibio – Vamos conversar com Ricardo Russowsky que é o presidente da Federasul, que é a mais importante entidade empresarial do comércio do nosso estado. O Ricardo foi também, por dez anos, presidente do Banco do estado do RS, o Banrisul. Vamos falar sobre o PIB do RS no segundo trimestre que foi um PIB mais do que ultra chinês, bateu 15,3% num trimestre. É um número espantoso, mas será que se sustenta durante todo o ano? Como vem agindo a economia do RS? Vamos falar também sobre o imposto da fronteira. O comércio do RS teve esta semana uma vitória política inédita, se permanecer esta vitória, será uma coisa muito importante e abre um precedente. Até agora, no Brasil, só se fala em aumentar impostos, mas agora diminuiu um imposto. Vamos começar pelo PIB do segundo trimestre do RS. A previsão para o Brasil, esse ano, é de 2 ou 2,5%, depende de quem faz a previsão de crescimento, aqui no RS deu 15,3%. A Federasul fez uma projeção para esse ano, para o crescimento da economia aqui, bem mais modesta. Ricardo – O PIB do RS, que é comparativo esses 15% ao segundo trimestre do ano de 2012. Basicamente aconteceu que em função de um crescimento focado na produção agrícola do estado, especialmente soja. Esse crescimento já era esperado no setor agrícola em função de que este ano de 2013 é o ano de maior safra da história do RS e deverá ser a maior safra da história do país. O setor agrícola em todo o país, e especialmente no RS, que é o que nos interessa, vem crescendo nos últimos anos e vem crescendo de maneira firme. Às vezes no RS, que foi o caso do ano passado, que teve uma produção mais baixa em função de problemas climáticos, esse é um dos problemas que o RS tem, neste ano em função também do clima nós tivemos uma supersafra. Essa supersafra é que está impulsionando o crescimento deste PIB de 15%. Polibio – É supersafra e bons preços. Ricardo – Supersafra e bons preços. Isso está impulsionando o crescimento, que impulsionou o crescimento de 15% em relação ao trimestre. No semestre são 6%, aproximadamente, até agora o crescimento do PIB. Polibio – Acha que se sustenta durante o ano? Agora acabaram as exportações. Ricardo – O PIB agrícola deverá continuar em relação ao ano passado, comparativamente crescendo. Nós vamos ter sim uma participação de que a agroindústria do RS, com todos seus componentes e estruturas, representa praticamente ¹/3 da economia do estado. O RS é ainda um estado agroindustrial. Esse crescimento na área agrícola impulsiona os outros setores. Polibio – Ou seja, a economia depende do desempenho da... Ricardo – No RS a economia depende do campo. A cidade depende do campo. Se o campo vai bem, o comércio vai bem. Polibio – E o campo vai bem quando tem bons preços e quando não chove. Ricardo – Vamos olhar o clima. A questão do clima no RS é um problema. Nós tivemos já... Polibio – Porque não tem irrigação. Ricardo – Nós não temos sistema de irrigação que regule a produção, ou seja, o plantio que gera a produção. Nós já tivemos várias tentativas de irrigação, de tecnologia na irrigação. Nossa irrigação é empírica, por açudes, enfim. É claro que precisa água e precisa dos açudes, mas precisa também a distribuição disso. É um assunto muito particular do estado do RS. O que não acontece em São Paulo, por exemplo, na lavoura de café. A lavoura do café é toda irrigada em São Paulo. Polibio – E a economia de São Paulo não depende mais, fundamentalmente da agroindústria.
  • 2. Ricardo – A economia de São Paulo é basicamente industrial. A do RS é ainda basicamente agroindustrial. O RS depende de investimentos nessas áreas e acho que nossos governos, os últimos pelo menos, têm pecado muito, porque existe tecnologia no mundo de ponta, de primeira linha, para regular o problema de clima que nós temos. Polibio – Enfim, a projeção que você faria para o ano é de 6%? Ricardo – Deve ficar em torno de 7 ou 8% de crescimento. Polibio – É três vezes mais do que vai crescer a economia do Brasil como um todo. Ricardo – É, três vezes mais. A economia do Brasil está se projetando para em torno de 2%. Talvez nem chegue a 2%. Polibio – Eu quero entrar no assunto em relação ao imposto da fronteira. Quem acompanhou a sessão da Assembleia de quinta-feira, dia 11/09, no RS, deve ter ficado surpreso com o que aconteceu ali. Os deputados, praticamente sem oposição, porque foi uma votação espantosa. Ricardo – Pode-se dizer que a votação foi unânime. Polibio – Os deputados aprovaram um decreto legislativo revogando, na prática um imposto. Essa sobretaxa de 5% de ICMS em cima das compras feitas fora do RS, isso é um imposto. Ricardo – E esses 5%, é 5% sobre 12, se vai encarar assim será 40, se for sobre os 17 será 30. Polibio – Ele corresponde a quase 50% dos 12. Esse imposto não existe em SC, no PR. Ricardo – Existe de outras formas. O Paraná, por exemplo, negociou esse imposto com outros tributos e recompôs sua receita. Na verdade, nós tivemos uma votação, nessa semana, vitoriosa na tentativa e na intenção de derrubada desse imposto. Mas esse trabalho não foi feito da semana passada para essa. Foi um trabalho que as instituições representantes do comércio, nós que estamos aqui hoje representando a Federasul, que foi uma das partícipes que mais se empenhou neste processo. Ele vem há 2 anos sendo trabalhado. Vínhamos negociando há 2 anos com o governo. A ponto de não conseguirmos uma negociação final e o governo entende, e a gente pode também entender de certa forma o lado do governo, que ele está numa situação dificílima. Não é novidade que os governos, especialmente os últimos, tiveram dificuldades de caixa, mas o nosso governo, nesse momento, tem dificuldades porque ele está usando hoje 4,5 bilhões de depósitos judiciais. Então, ele tem essa dificuldade. Por outro lado, essa dificuldade se agravará mais se os comerciantes pequenos e médios – que são os grandes prejudicados por esse imposto, e que no todo esse imposto não representa tanto no orçamento governamental, mas representa 100% da vida desses pequenos e médios comerciantes, principalmente do interior – vão fechar suas portas. E ai o governo terá dificuldades muito maiores, porque vai deixar de arrecadar e vai gerar desemprego. Essa é a nossa luta. Mesmo com essa vitória, nós ainda não ganhamos a guerra, porque ainda existem passos a serem dados para que se consolide efetivamente essa extinção do imposto. Nós não vamos desistir, em momento nenhum, porque isso representa a vida desse pequeno e médio comerciante. Polibio – Isso abre um precedente, porque é a primeira vez que caem impostos aqui no RS. Imagine a situação do comerciante da fronteira com SC, principalmente. Um comerciante de Torres que vai atravessar para o outro lado e vai pagar 5% a mais numa mercadoria. Esse é o principal, está batendo direto, concorrendo com o outro lado, isso em todas as fronteiras. A maioria decidiu editar o decreto do chamado imposto de fronteira, que não é o imposto da fronteira. O que é esse imposto de fronteira? Ricardo – É importante explicar da maneira mais simples possível, o imposto da fronteira é um imposto imputável sobre mercadorias que os comerciantes compram fora do estado do RS para serem distribuídas
  • 3. nos seus estabelecimentos comerciais. O imposto, aqui dentro do estado, é de 12%. Acima desses 12%, caso o produto seja comprado fora do estado, acrescenta-se mais 5%, elevando esse imposto para 17%. O aumento de custo do imposto não são só 5%, é 5% sobre 12 que chega perto de um aumento de 40%. Nós temos, para mercadorias compradas fora do estado, muitas vezes semelhantes ao que temos aqui dentro do estado, pagando 40%, aproximadamente, a mais de ICMS. Esse imposto torna difícil a venda desses produtos, não torna esses produtos competitivos e faz com que diminua a atividade comercial desse comerciante que quer trazer essa mercadoria que muitas vezes não existe no RS. Polibio – Óculos, por exemplo. Ricardo – Não existe fábrica de óculos, de qualidade, no estado. Polibio – O sentido dessa sobretaxa foi proteger a indústria do RS. Vamos proteger como? Vamos cobrar mais caro de concorrentes de outros estados. Mas tem produtos que, simplesmente, a indústria do RS não produz. Ricardo – E mais, o comércio, no ano de 2012 especificamente e ainda se reflete no ano de 2013, tem crescido em função das exportações. A indústria brasileira como um todo, não tem capacidade de produção para abastecer o mercado doméstico que foi criado em função desse grande programa de distribuição de renda no país que colocou mais 30 ou 40 milhões de pessoas na classe média, como consumidores. Daí o mercado de automóveis, com nossas ruas cheias, e em outros produtos também. Esses produtos precisam ser importados, a capacidade da indústria brasileira não abastece esse mercado. Nós estamos importando produtos e também dentro desse roll produtos importados são taxados, de qualquer natureza fora do estado, pode ser de outro estado ou também de outro país. Para abastecer esse comércio, é necessário que se importe produtos, no caso do RS quer de outros estados ou quer de fora do país. É a sobrevivência do comércio. É ai que existe realmente esse grande embate na discussão desses mais 5% de imposto. Polibio – Vamos falar sobre o precedente que se abre. Não se eliminam impostos, só se criam impostos. Aqui no RS, pela primeira vez na Assembleia Legislativa, numa decisão política, se colocou em oposição ao próprio governo e derrubou essa sobretaxa. O que vai acontecer agora é outra questão. O fato é que houve uma decisão política da Assembleia Legislativa do estado no sentido de que tinha que derrubar essa carga, porque ela está prejudicando uma parte importante da economia do RS. Como se deu essa articulação? A Federasul, que você preside, foi uma das líderes desse movimento. Eu quero falar nisso, porque muita gente não acredita que resolve fazer protesto, ir para a rua. O governo está armado e é muito perigoso, eles fazem o que querem, mas não é bem assim. De pendendo de como se articula, é possível obter vitória. Ricardo – Eu acho que você tem razão, porque essa luta vem a mais de 2 anos, ela se intensificou neste último ano. Realmente, quando existe uma causa e a sociedade reuni-se em torno dela se consegue vitórias como se conseguiu essa. A causa tem que ter fundamento, e esta tem fundamento, tem que ser justa. Neste caso, pela primeira vez talvez na história, nós conseguimos através de um movimento popular – e pode-se chamar o movimento do comércio, do pequeno comerciante um movimento popular – se obteve essa vitória na derrubada de impostos. Talvez pela primeira vez desta forma. Seguramente pela primeira vez, desta forma popular. Inclusive, nós tivemos movimentos de rua, houve carro de som, houve passeata, feitos por empresários. Empresários conscientes do seu problema e trazendo este problema para a sociedade como um todo. Foi julgado procedente, tanto que na Assembleia Legislativa, praticamente pode-se dizer que os deputados votaram, vamos chamar de votos válidos, não houve voto contra. Então, a causa é importante. Agora, o que aconteceu no país de maio para cá? Aconteceram diversos movimentos de rua que vêm influenciando decisões políticas no país todo. Polibio – Esse movimento, de certa forma, se inscreve em tudo isso.
  • 4. Ricardo – Esse movimento está no âmbito dos protestos. Tanto o governo quanto os representantes do povo, passaram a examinar com muito mais cuidado esses movimentos. Esse movimento que nós fizemos, que é um movimento do comércio, em defesa da sua sobrevivência, a Câmara foi sensível e analisou com todo o cuidado a importância e abrangência dessa decisão. Por isso vencemos esse episódio nessa semana. Agora, claro que a gente sabe que existem desdobramentos que o governo, por ter as suas finanças hoje em dificuldade, vai tomar medidas para tentar reaver. Obviamente o comércio vai estar alerta, vai estar atento para continuar lutando nesta causa. Polibio – Num determinado momento, essas mesmas forças que estão se movimentando pela redução do imposto, isso pode começar alguma discussão a respeito da seguinte questão: o estado realmente precisa de todos esses impostos que ele está cobrando? Ele está numa situação difícil porque ele não tem receita suficiente ou é porque está gastando perdulariamente e de modo ineficiente? Stormer – Vou entrar numa questão talvez mais interessante nesse controle tributário, o próprio fato de demonstrar na nota fiscal que o cliente recebe qual é o nível de imposto que está sendo pago ali, para onde está indo cada um dos seus reais pagos para cada produto, enfim, aprofundar essa discussão acho que seria algo extremamente benéfico. Polibio – Foi uma batalha política, de opinião pública. Vocês ganharam não apenas politicamente na Assembleia depois que o governo não quis fazer as concessões, mas ganharam inclusive a opinião pública. Foram quantos comerciantes que reclamaram? Ricardo – 200 mil. Polibio – Isso já dá um bom universo. Ricardo – Às vezes tem empresas individuais, pequenas empresas de comércio familiar. Polibio – Além de eles serem prejudicados, o consumidor também é prejudicado. O imposto acaba sendo transferido. Quando o comerciante não consegue transferir o imposto ele quebra a empresa. Ricardo – Sem dúvida. Ou sonega que é muito pior, que é o que hoje a consciência desses empresários não permite mais. Eles querem estar inseridos na economia com conta bancária, ter crédito bancário e para isso não existe mais espaço para a sonegação. Polibio – O Stormer colocou a questão de transparência dos impostos. Na maioria, as pessoas – como os impostos são indiretos – nem percebem que pagam horrores de imposto em uma caixa de fósforos, por exemplo. Teve uma lei que foi aprovada para que se descriminassem, na nota fiscal, os impostos que estão incidindo sobre o preço daquele produto. Como está isso? Ricardo – A lei está em vigor, as empresas estão se adaptando, existe um tempo para se adaptar para fazer a demonstração ao consumidor final de quanto ele está pagando em cada mercadoria que ele adquire. Polibio – Será que isso vai ajudar na conscientização? Ricardo – Sem dúvida que vai ajudar na conscientização, mas isso faz parte de um processo democrático que inicia no Brasil nos anos 80. Começa um processo democrático a partir de um momento em que o Brasil esteve hermeticamente fechado e hoje se abre para a população e a população passa a ter participação direta na formação dessa nova democracia. O Brasil é um país totalmente democrático? Não! As instituições brasileiras ainda não estão totalmente preparadas para enfrentar o que é uma real democracia onde todas as pessoas teriam direitos iguais. Talvez seja uma utopia isso, no ponto final, mas caminhando para esse ponto, está se construindo essa democracia onde as pessoas tenham participação realmente nas atitudes da sociedade que a governa. Esse exemplo do imposto de fronteira foi, sem dúvida nenhuma, uma
  • 5. demonstração; a colocação dos impostos na transparência pela nota fiscal é outra atitude, isso falando na questão econômica. O impostômetro é outra atitude no sentido de esclarecer, de informar. Nesse sentido de esclarecer e informar, eu tenho que esclarecer aqui, que a Federasul, desde o início dessa gestão ocupou um dos pilares que ela entende que seja um dos mais importantes na formação de uma sociedade, que é a educação. Só através da educação que nós vamos ter condições de entender esse movimento todo. Não adianta fazer o movimento sem que a grande parte da população entenda. Para que se entenda e se conscientize esse movimento, e ai sim ter uma democracia mais abrangente, maior, mais perfeita, só com a educação e a capacidade de formulação. É um processo democrático que se avizinha cada vez mais. Polibio – Na década de 40, na Constituição de 46, depois acabou a ditadura do Vargas, um líder socialista João mangabeira, muito importante, altamente democrático, costumava dizer o seguinte a respeito da democracia: a democracia é uma planta muito tenra, tem que regar todos os dias, senão ela morre. A democracia, como a própria economia de mercado, o capitalismo, não é um modelo pronto e acabado. O grande vigor da democracia, como também da economia de mercado, é sua capacidade de melhorar a cada ponto, admitir críticas, sempre avançar se adaptando. Ricardo – E esse é um processo que estamos agora, de forma palpável, conseguindo enxergar. Esses movimentos e esses resultados, mesmo os movimentos de rua ou principalmente os movimentos de rua, estão nos mostrando esse caminho. Polibio – A Federasul não é uma entidade sindical. Ela representa o comércio do nosso estado, mas não é uma entidade sindical. A sindical é a Fecomércio que representa os comerciantes do nosso estado. Ela se mantém através da contribuição de seus associados. Isso tem um peso político muito grande porque a participação dos associados não é compulsória como numa entidade sindical, vai quem quer, quem apoia, quem quer participar, no caso da Federasul. Falando um pouco sobre o Ricardo Russowsky, a passagem política mais importante dele foi a presidência do Banco do Estado do RS. Nesses meus 50 anos de jornalismo, não conheço ninguém que tenha ficado tanto tempo na presidência do Banrisul quanto você. No total são 10 anos. Ricardo – São 10, mas acho que teve o presidente Lemos que ficou dois mandatos completos e, já por um tempo, este atual presidente do Banrisul, Dr. Tulio Zanin, está no seu segundo mandato embora tenho começado mais ou menos na metade do governo Olívio Dutra. Já está, como presidente, há 4 anos e meio para 5. Polibio – Mesmo assim não baterá o seu recorde. Ricardo - Mas terá feito seus dois mandatos. O Dr. Fernando participou em dois mandatos. Foram raros os casos. Lembro que o Assis participou de quase dois mandatos, mas sendo que naquela época, por uma questão política, não tinha presidente o Banrisul. Num dos mandatos ele era só o Vice, não existia a figura do presidente. Então, o Banrisul é muito rico em histórias, é uma história longa, bonita, história de 85 anos. Stormer – A Federasul acredita que com essa queda do imposto, possa haver realmente uma melhoria em termos de irrigação no comércio, uma melhoria em termos de maior movimentação na economia do estado? Qual a percepção de vocês sobre isso? Vocês acham que haverá a reversão dessa queda do imposto? Ricardo – A ideia é que essa primeira vitória não é a vitória da guerra. O governo tem mecanismos para tentar reverter o efeito dessa medida. È possível que nem se consiga exatamente derrubar o imposto na sua prática. Por enquanto estamos num momento teórico da questão. Mesmo que venha esse imposto continuado a ser cobrado, nós temos uma grande vitória política. Essa vitória é o início, é uma porta aberta para discussões futuras onde o governo queira ou não, tentando se defender na composição das suas receitas, vai ter que olhar para esse e para outros impostos no futuro, de outros setores vitais da economia gaúcha ou
  • 6. nacional, porque isso vai se estender a outros estados seguramente. Esse fato será divulgado em todo Brasil, não só no RS, e outros estados vão fazer movimentos semelhantes. Polibio – Na prática o governo do estado só tem duas alternativas: ou ele apela para o judiciário e derruba a decisão da Assembleia ou ele submete um projeto para aprovação da Assembleia que, se a Assembleia for coerente, vai rejeitar. Mesmo que aprove, tem o princípio da anualidade, quer dizer, novo imposto só para o ano que vem. A única alternativa que ele tem, de efeito imediato, seria uma decisão judicial. Ricardo – Nesse momento sim. Polibio – Que pode ser atacada por vocês também. Ricardo – Pode. Mas ele tem outros mecanismos como a emissão de um novo decreto. Aqui eu acho que a discussão não é uma queda de braço, porque a queda de braço seria simplista demais para colocar como o fator fundamental dessa discussão. A discussão é de fundo mais amplo do que isso. Essa decisão é emblemática. É a primeira vez que há uma derrubada ou uma diminuição de impostos, então ela é emblemática, será levantada em todo o país, nos estados em que há interesse em fazer isso também. Polibio – Vai começar pelos estados que têm essa sobretaxa. Ricardo – E o RS foi pioneiro nisso. O comércio vai se animar, embora continue tendo que recolher ou não, vamos ver isso no futuro. Claro que se cair realmente o imposto, certamente vai aumentar a atividade comercial. Mesmo que não caia, já há uma grande animação. Voltando à grande safra do RS, eu diria que “o PIB do Rio Grande cresceu” e tem que acrescentar “a safra do Rio Grande cresceu” muito mais do que o PIB, formando esse pibão, como muitos estão dizendo por ai. De qualquer maneira isso vai refletir no comércio gaúcho, independentemente da questão só do imposto, haverá o aumento do comércio. Nesse momento, essa vitória é emblemática, não é efetiva, não vai fazer com que realmente caia o imposto na semana que vem. Polibio – A economia gaúcha, neste ano, vive um momento esplendoroso em função da supersafra. Nós teremos uma safra de grãos calculada em 28,3 milhões de toneladas apenas de grãos e com preços bons. A agropecuária representa 9 ou 9,5% do PIB. Se pegarmos um bolo, dividirmos nos três setores da economia, a agropecuária dá 9 ou 9,5%, indústria dá 27% e o restante é toda a área de serviços que inclui comércio, banco, governo. O conjunto do chamado agro business e mais o que isso se replica sobre a indústria, porque os produtos precisam ser industrializados e depois tem que ser vendidos. Então, o conjunto do agro business representa, segundo a própria Federasul, cerca de 40% do total do PIB da economia do estado. Ricardo – O agro business só no estado chega a 30%, mas quando tu pensas na formação deste produto em alimento, isso é agro business, porque está na ponta da cadeia. Vai-se vender uma bolachinha pronta para ser colocada no cafesinho, aquilo também está dentro da cadeia da soja, do trigo, do milho, enfim. Polibio – É indústria de alimentação. “Máquinas agrícolas é uma indústria dinâmica”, é em termos, porque quem compra a máquina é produtor rural. Se não tem produtor rural, não tem máquina agrícola. Ricardo – Não existe vender, para quem vai vender a máquina agrícola? E assim por diante. Então, é uma cadeia produtiva muito grande e insisto em dizer que nosso estado é um estado agroindustrial, não adianta achar que ele é diferente. Ele pode caminhar sim, em longo prazo, para ser um estado tecnológico e é isso que está se buscando, está se buscando inteligência, trazer inteligência. Por isso que se bate muito na questão da educação. A educação não é saber ler e escrever e só, limitada a uma educação básica, a educação básica é o mínimo que todo mundo teria que ter. É uma educação muito mais avançada que se precisa. Esse é o grande diferencial que o estado do RS tem, inclusive de outros estados, pelo menos concentradamente.
  • 7. Stormer – Temos uma pergunta: “Bom dia Stormer, bom dia Polibio, bom dia Ricardo, sou de Curitiba, Paraná, mas moro no RS, adoro o estado. Será que essa decisão tão importante pode influenciar positivamente entre os demais estados? Abraços e tenham um ótimo dia!”. Ricardo – É o que nós falávamos anteriormente, é necessário, é importante e achamos que essa decisão emblemática será repercutida em outros estados. Movimentos semelhantes deverão ser feitos para poder resolver a questão local, de cada estado para o seu pequeno comércio. Cada estado que puder fazer esse tipo de movimento, cada federação do comércio de cada estado que puder fazer esse tipo de movimento, estará ajudando na consolidação dessa decisão. Polibio – Há questões que se colocam de maneira recorrente no nosso estado. Volta e meia existem campanhas colocando “olha o RS tem que obter consenso, porque se não tiver consenso nada vai adiante”. Remete-se a Revolução de 30, quando os universitários se uniram com a situação e fizeram a Revolução de 30; no caso do Polo Petroquímico aqui que é outro exemplo, o MDB se uniu com a Arena na época. Os generais trouxeram o Polo Petroquímico aqui para o RS. Eu, particularmente, sempre me opus a isso. Eu acho que se der para conseguir consenso tudo bem, mas acho que democracia se constrói inclusive em cima do contraditório e essa vitória de vocês demonstrou isso. Não é necessário que haja consenso para que se consigam avanços, é necessária a maioria. Dá para conseguir a maioria quando tem uma causa justa e quando ela é consequente, como nesse caso. De qualquer maneira, eu queria saber qual é o papel em que a Federasul está jogando hoje nessas discussões, porque vocês assumiram a liderança de um movimento no meio do comércio que não foi consensual nem no meio do comércio. A CDL se opôs a esse movimento, a Fiergs também se opôs por suas razões. Aliás, a Fiergs e a CDL mais ou menos com a mesma decisão “olha, se eliminar esse imposto vamos ter problemas aqui com os concorrentes de outros estados”, arruma a casa de um e prejudica a de outro. A partir de agora, eu queria saber, a Federasul vai radicalizar a sua posição em relação a essas questões todas? Ricardo – Isso é uma questão pontual, cada caso é um caso. O empresariado, de modo geral, está trabalhando no RS de forma conjunta. Existe um entendimento muito grande hoje entre as entidades Federasul, Fiergs, Fecomércio e outras. Essas entidades, estou citando só comércio e indústria. Agricultura, Farsul, também está sempre em consenso junto com essas entidades. Uma atividade econômica depende da outra. O comércio depende da formação de produto que é a indústria que faz, e assim por diante. Isso aqui é o B A BA econômico. No RS existem causas que são pontuais de interesses de determinadas classes dentro desse conjunto econômico. Aquela parte da sociedade econômica, o comércio estava defendendo interesses seus, porque é impossível defender todos os interesses ao mesmo tempo de toda uma sociedade. Polibio – São questões pontuais... Ricardo – São as questões pontuais que vão formando o mosaico social e, através dessas divergências, vamos adequando onde estão as fronteiras da relação de união entre essas partes. Todo esse conjunto é formado por quem está ai, que são esses..... que estão jogando no mercado. O que não pode é destruir o contexto total. Quando a causa é muito grande, todos se unem em torno daquela causa. Isso pode acontecer até na família. Numa família você tem a mesa, e talvez um irmão queira sentar mais perto de alguém ou ficar mais próximo para ficar mais fácil de pegar a batatinha. Mas no contexto a família tem que ter comida na mesa. Nós temos que trabalhar em conjunto, todas as entidades, para buscar as grandes causas do RS, fora delas cada um tem que buscar, sem desrespeitar o outro, os seus interesses particulares. Polibio – Cite uma grande causa que poderia unir todos os gaúchos. Ricardo – Um Grenal. Une no mesmo estádio, não quer dizer no mesmo lado. Isso se for no beira Rio, que ai vai caber todo mundo.