GONÇALVES, P. A. S.;ARAÚJO, E. R.;GEREMIAS, L. D.;RESENDE, R. S. Óleo de nim e de coco no manejo de tripes, míldio e rendimento de cebola em sistema orgânico. Revista Agronomia Brasileira, Jaboticabal, v. 7, p. 1-4, 2023.
Resumo: O objetivo desse estudo foi avaliar o óleo de nim, Azadirachta indica, associado ao de coco, Coccus nucifera, no
manejo de tripes, Thrips tabaci, e de míldio, Peronospora destructor, na produtividade e rendimento póscolheita de cebola em sistema orgânico. A incidência de tripes foi reduzida pela aplicação de OPENEEM Flex® 0,25%. As demais variáveis foram similares entre tratamentos.
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Manejo de tripes e míldio em cebola orgânica com óleos de nim e coco
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Óleo de nim e de coco no manejo de tripes,
míldio e rendimento de cebola em sistema
orgânico
Paulo Antonio de Souza Gonçalves*
Edivânio Rodrigues de Araújo
Leandro Delalibera Geremias
Renata de Sousa Resende
Epagri, Estação Experimental de Ituporanga, Santa Catarina, Brasil
*Correspondência para: pasg@epagri.sc.gov.br
RESUMO
O objetivo desse estudo foi avaliar o óleo de nim, Azadirachta indica, associado ao de coco, Coccus nucifera, no
manejo de tripes, Thrips tabaci, e de míldio, Peronospora destructor, na produtividade e rendimento pós-
colheita de cebola em sistema orgânico. A incidência de tripes foi reduzida pela aplicação de OPENEEM Flex®
0,25%. As demais variáveis foram similares entre tratamentos.
PALAVRAS-CHAVE: Allium cepa, agroecologia, agricultura orgânica, fitossanidade, Thrips tabaci,
Peronospora destructor.
INTRODUÇÃO
O manejo fitossánitario da cultura da cebola tem-se caracterizado principalmente pela aplicação de
agrotóxicos. Na fase de pós-transplantio ocorre principalmente a doença fúngica míldio, Peronospora
destructor (Berk.) Casp. (Peronosporales: Peronosporaceae), e o inseto tripes, Thrips tabaci Lindeman 1888
(Thysanoptera: Thripidae) (Marcuzzo e Araújo, 2016; Gonçalves, 2016).
Recentemente no país há uma preocupação para a produção de alimentos seguros ao consumidor, tendo
sido fomentado sistemas produtivos integrados e orgânicos (Ministério da Agricultura, 2021 e 2022). A
Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, SC, tem desenvolvido informações para a produção de cebola em
sistema orgânico (Gonçalves et al., 2008 e 2021) e também as recomendações técnicas para a produção
integrada de cebola (Ministério da Agricultura, 2022).
Os danos causados por tripes em cebola podem ocorrer em altas infestações pela raspagem das folhas e
sucção de seiva das plantas, que causam lesões esbranquiçadas e redução de área fotossintética foliares, o que
pode reduzir o tamanho e peso dos bulbos (Gonçalves, 2016). A alta densidade populacional do inseto inibe o
tombamento natural das folhas na maturação, o que facilita a entrada de água da chuva até os bulbos, com
futuras perdas na armazenagem por apodrecimento (Gonçalves, 2016).
A ocorrência do míldio tem sido enfaticamente correlacionada com condições climáticas de temperaturas
amenas e alta umidade relativa do ar (Marcuzzo e Araújo, 2016). Essa doença pode provocar intensa redução
de área foliar na cultura da cebola, com consequente redução de produtividade.
O nim, Azadiractha indica A. Juss (Meliaceae), é uma planta com efeito inseticida em 550 espécies de
insetos, sendo muito utilizada por ser biodegradável, de menor poder residual e baixo efeito sobre organismos
http://www.fcav.unesp.br/rab
e-ISSN 2594-6781
Volume 7 (2023)
Artigo publicado em 29/03/2023
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não alvos (Debashri e Tamal, 2012). O óleo de nim 2% e o extrato aquoso de sementes 3% reduziram a
população de tripes em algodão, entre 7 a 14 dias após a aplicação (Khattak et al., 2006). Sementes de nim
trituradas na dose de 2,5% em água associadas a sabão líquido 0,1% causaram a mortalidade de T. tabaci de
56,9% em condições de campo (Shiberu et al., 2013).
O objetivo desse estudo foi avaliar o óleo de nim, Azadirachta indica, associado ao de coco, Coccus
nucifera, no manejo de tripes, Thrips tabaci, e de míldio, Peronospora destructor, na produtividade e
rendimento pós-colheita de cebola em sistema orgânico.
MATERIAL E MÉTODOS
Local do estudo: Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) na
Estação Experimental de Ituporanga, Santa Catarina, Brasil.
O transplantio e a colheita de cebola foram realizados respectivamente em, 22/08/2019 e 25/11/2019. A
cultivar de cebola utilizada foi a Epagri 362 Crioula Alto Vale.
O espaçamento utilizado foi de 40 cm entre fileiras e 10 cm entre plantas segundo Gonçalves et al. (2008,
2021). A densidade de plantas foi de 250.000 plantas ha-1. As parcelas foram constituídas por duas linhas de
10 metros lineares, e como bordadura foi considerada o conjunto de cinco plantas em cada extremidade. As
mudas foram transplantadas em sistema de plantio direto sobre palha de aveia ou centeio e nabo forrageiro,
semeados anteriormente em maio, e acamados com rolo-faca para o transplante das mudas. A adubação foi
realizada com esterco de peru e fosfato natural em sistema orgânico (Gonçalves et al., 2021).
Os tratamentos foram: 1) óleo de nim OPENEEM Flex® 0,25%, 2) óleo de nim OPENEEM Plus® 0,25%, 3)
OPENEEM Flex® 0,25% associado a óleo de coco 0,2%, 4) OPENEEM Plus® 0,25% associado a óleo de coco
0,2% e testemunha sem aplicação. O óleo de coco extra virgem utilizado foi proveniente da Destilaria Bauru,
Catanduva, SP. O óleo de coco (OC) foi inicialmente submetido a banho maria a 40°C por uma hora para
diluição. Após a esfriar foi obtida a solução composta pela diluição de 16% de OC em vinagre de álcool 80% e
detergente neutro 4%. Na pulverização o OC foi diluído a 0,2%. O delineamento experimental foi o de blocos ao
acaso com quatro repetições.
Os tratamentos foram aplicados aos 47, 54, 63, 70, 76, e 82 dias após o transplantio (DAT). Após 24 horas
da aplicação foi avaliada a incidência de tripes. Nessa avaliação foi adotada uma escala visual com as
seguintes notas por densidades populacionais: 0 (zero, ausência de ninfas), 1 (baixo, até seis ninfas), 3 (médio,
até 15 ninfas, considerado nível de dano econômico), 9 (alto, população ≥ 20 ninfas) (Gonçalves et al., 2017). Os
danos do inseto foram avaliados aos 90 DAT. Na avaliação de danos de tripes foi utilizada uma escala visual
de notas com os seguintes níveis de lesões esbranquiçadas nas folhas, baixo= 1, médio= 3 e alto= 9 (Gonçalves
et al., 2014).
A quantificação da severidade do míldio foi iniciada de acordo com incidência do patógeno após a
implantação dos experimentos. A severidade de míldio foi avaliada pela escala de Mohibullah (1992) após aos
63 DAT num total de três avaliações quinzenais. A escala de notas proposta por Mohibullah (1992) foi
desenvolvida para quantificação do míldio por visualização geral de parcelas experimentais. Desta forma foi
estabelecida a seguinte correlação nota/porcentagem de severidade de míldio: 1/0% = sem sintomas; 2/1% =
apenas algumas folhas atacadas por parcela; 3/5% = menos da metade das plantas atacadas; 4/10% = maioria
das plantas atacadas, ataque restrito a uma folha por planta; 5/20%= todas as plantas atacadas, ataque
restrito a uma ou duas folhas por planta; 6/50% = três a quatro folhas atacadas por planta, parcela ainda
mantém uma boa coloração verde; 7/75% = todas as folhas atacadas, parcela apresenta um aspecto inicial de
queima das folhas; 8/90% = todas as folhas severamente atacadas, coloração verde restrita à parte central da
parcela; 9/100% = todas as folhas completamente queimadas.
A produtividade foi avaliada pela colheita ao acaso de 50 bulbos por linha, com total de 100 bulbos por
parcela.
Os bulbos foram armazenados durante cinco meses em caixas plásticas de 20 kg em galpão típico daquele
adotado por agricultores da região do Alto Vale do Itajaí, SC. As perdas pós-colheita de massa fresca de bulbos
e a porcentagem de bulbos perdidos por bacterioses e brotados foram avaliadas após este período.
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Os dados foram avaliados por análise de variância. As médias foram separadas pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade. Para análise da incidência de ninfas geral foi adotado o esquema de parcela subdividida no
tempo, com os tratamentos como parcelas e as épocas como subparcelas.
As demais variáveis foram avaliadas por análise de variância normal para delineamento em blocos ao
acaso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A incidência de tripes foi reduzida apenas pela aplicação de OPENEEM Flex® 0,25% em relação a
testemunha (Tabela 1). Esse resultado é interessante, pois redução populacional de T. tabaci pelo óleo de nim
tem sido observada com doses superiores, entre 2% a 4% (Khattak et al., 2006; Shiberu et al., 2013; Dwivedi et
al., 2017). Isso difere de outros estudos realizados no mesmo local, que não apontaram efeito do óleo de nim
sobre a incidência de tripes (Gonçalves et al., 2018, Gonçalves e Araújo, 2019). Porém, estes estudos foram
realizados com outras marcas comerciais do óleo de nim.
Os danos de tripes foram similares entre tratamentos (Tabela 1). Em contraste estudo realizado no
mesmo local foi observado que o óleo de nim de diferentes marcas comerciais associado a terra de diatomáceas
e sulfato de manganês reduziram os danos de tripes (Gonçalves et al., 2023).
Tabela 1. Notas da incidência (INC) e danos (DN) de Thrips tabaci por planta; área abaixo da
curva de progresso da doença para nota de severidade (SEV) e para porcentagem de área foliar
lesionada (AFL) resultantes do míldio (Peronospora destructor); porcentagem de bulbos
comerciais (PC); produtividade total (PT em t.ha-1); peso médio de bulbos (PB em g);
porcentagem de rendimento pós-colheita (RPC) de cebola tratada com óleo de nim OPENEEM®
(OP) e óleo de coco (OC) em sistema orgânico. Epagri, Ituporanga, SC, 2019.
Tratamentos
Médias
INC DN SEV AFL PC PT PB RPC
OP FLEX 2,93 b 1,80NS 140,00 NS 822,50 NS 2,0NS 10,2NS 40,9NS 83,8NS
OP PLUS 3,93 ab 3,10 140,00 840,00 3,6 11,3 45,4 58,8
OP FLEX + OC 4,13 ab 2,65 145,25 883,75 0,0 9,3 37,3 55,0
OP PLUS + OC 3,70 ab 3,85 143,50 857,50 1,5 8,8 35,2 60,0
Testemunha 4,30 a 3,35 138,25 813,75 0,5 8,8 35,3 73,6
Média 3,80 2,95 141,40 843,50 1,5 9,7 38,8 66,2
CV (%) 14,49 35,29 5,79 8,93 125,1 13,6 13,6 24,7
NS, dados não significativos pelo teste de F em nível de 5% de probabilidade. OP, óleo de nim OPENEEM® a 0,25%; OC, solução de óleo de
coco a 0,2%. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
A AACPD de severidade e área foliar lesionada por míldio, produtividade e rendimento pós-colheita não
diferiram entre os tratamentos (Tabela 1). Similarmente estudos anteriores com outras marcas comerciais de
óleo de nim também não observaram efeito sobre essas variáveis em cebola (Gonçalves et al., 2018, Gonçalves
e Araújo, 2019). Porém, o óleo de nim Azamax® quando associado a sulfato de manganês 0,5% pode reduzir a
severidade de míldio (Gonçalves et al., 2023).
O uso de óleo de coco associado ao óleo de nim não influenciou as variáveis avaliadas (Tabela 1).
CONCLUSÕES
A incidência de tripes foi reduzida pela aplicação de OPENEEM Flex® 0,25%.
Os danos de tripes, a severidade de míldio, produtividade e rendimento pós-colheita não foram
influenciados pelos tratamentos.