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Afinal, o que é ser indígena?
Por Vanessa Caldeira
O imaginário nacional ainda está permeado por um modelo único e
cristalizado do que é ser “índio”. Para a maioria dos brasileiros, ser indígena
ainda significa possuir uma imagem semelhante àquela que as fontes
históricas registraram como correspondente às populações que estavam
nessas terras há aproximadamente 500 anos atrás!
A imagem estereotipada de “índio”: corpo nu, cabelo liso e preto,
habitante das matas, falante de língua exótica, recai como uma forte
cobrança aos povos indígenas contemporâneos. Quem não se encaixa
comodamente nesse estereótipo, facilmente sofre a suspeição: "mas ele
ainda é índio"?! "É índio de verdade"?!
Curioso se pensarmos que sobre nossa própria condição não
aplicamos a mesma lógica. Não questionamos ou temos nossa “identidade”
cultural colocada sob suspeita simplesmente porque não possuímos uma
imagem similar à dos nossos antepassados! Ao olharmos os retratos dos
nossos avós e ou bisavós, há um sentimento de estranheza e curiosidade
justamente pelas diferenças existentes entre nós. Estranhamos as
vestimentas, utensílios domésticos, transportes; todavia, não deixamos de
reconhecer nessas imagens o nosso passado, algo que faz parte de nós. As
diferenças não anulam o sentimento da pertença, justamente porque não é
apenas pelo que é aparente que se constitui a identificação e a construção da
vida coletiva.
O Brasil presenciou, nas últimas décadas, a proliferação de
identidades indígenas. Povos que não eram reconhecidos como tal ou que
foram considerados extintos pela historiografia oficial anunciaram sua origem
e reivindicaram direitos. A reação da sociedade – e aí o Estado possui papel
de destaque – foi de suspeição e descrédito em relação a essas
coletividades. Muitas vezes, tratados como “falsos índios” em busca de
acesso a direitos especiais, eles sofreram discriminação e percorreram uma
longa trajetória para se fazerem ouvidos. Silenciados por uma história – no
passado, ser “índio” poderia significar a morte –, eles estabeleceram uma
relação singular com sua origem. E é com base nessa relação, que esses
povos têm elaborado sua razão de ser.
Em função de uma origem pensada como comum e pré-colombiana,
uma história compartilhada – marcada pelo processo de submissão e
espoliação –, esses povos reivindicam um destino comum e distintivo do
restante da sociedade nacional, e possuem um forte senso de originalidade e
solidariedade coletivas.
Segundo o antropólogo João Pacheco de Oliveira, identificar-se como
indígena, nos dias de hoje, não pode ser entendido como simplesmente a
busca por copiar modelos ou padrões que existiram no passado. Identificar-
se enquanto indígena é algo muito mais profundo do que “resgatar” um antigo
modo de ser, como se o tempo e a história não tivessem imprimido suas
marcas. Identificar-se enquanto indígena supõe uma utopia, um modo de ser
e de encarar o futuro com base no passado, nessa origem pensada como
comum e anterior ao período do contato com os não indígenas. Ser indígena
vai muito além de uma imagem.
De acordo com o último censo do IBGE, ano de 2010,
aproximadamente 890 mil pessoas se autodeclaram indígenas, perfazendo
aproximadamente 0,4% da população total do país, pertencentes a 305
diferentes etnias, falantes de 274 diferentes línguas. Mas quem são? Onde
estão? Como vivem? O que pensam? Em que acreditam e pelo que lutam?
Muitos são os povos que lutam para poderem ser como são e ainda
assim serem reconhecidos como indígenas pela sociedade. Se o nosso
desejo é de fato romper com séculos de dominação e colonização na história
brasileira, faz-se urgente ouvir esses legítimos sujeitos históricos para despir-
nos de nossos (pre)conceitos e assim compreendermos e (re)conhecermos
quem são os povos indígenas no Brasil nesse limiar de século.
	
  

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LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
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Afinal, o que é ser indigena?

  • 1. Afinal, o que é ser indígena? Por Vanessa Caldeira O imaginário nacional ainda está permeado por um modelo único e cristalizado do que é ser “índio”. Para a maioria dos brasileiros, ser indígena ainda significa possuir uma imagem semelhante àquela que as fontes históricas registraram como correspondente às populações que estavam nessas terras há aproximadamente 500 anos atrás! A imagem estereotipada de “índio”: corpo nu, cabelo liso e preto, habitante das matas, falante de língua exótica, recai como uma forte cobrança aos povos indígenas contemporâneos. Quem não se encaixa comodamente nesse estereótipo, facilmente sofre a suspeição: "mas ele ainda é índio"?! "É índio de verdade"?! Curioso se pensarmos que sobre nossa própria condição não aplicamos a mesma lógica. Não questionamos ou temos nossa “identidade” cultural colocada sob suspeita simplesmente porque não possuímos uma imagem similar à dos nossos antepassados! Ao olharmos os retratos dos nossos avós e ou bisavós, há um sentimento de estranheza e curiosidade justamente pelas diferenças existentes entre nós. Estranhamos as vestimentas, utensílios domésticos, transportes; todavia, não deixamos de reconhecer nessas imagens o nosso passado, algo que faz parte de nós. As diferenças não anulam o sentimento da pertença, justamente porque não é apenas pelo que é aparente que se constitui a identificação e a construção da vida coletiva. O Brasil presenciou, nas últimas décadas, a proliferação de identidades indígenas. Povos que não eram reconhecidos como tal ou que foram considerados extintos pela historiografia oficial anunciaram sua origem e reivindicaram direitos. A reação da sociedade – e aí o Estado possui papel de destaque – foi de suspeição e descrédito em relação a essas coletividades. Muitas vezes, tratados como “falsos índios” em busca de acesso a direitos especiais, eles sofreram discriminação e percorreram uma longa trajetória para se fazerem ouvidos. Silenciados por uma história – no passado, ser “índio” poderia significar a morte –, eles estabeleceram uma
  • 2. relação singular com sua origem. E é com base nessa relação, que esses povos têm elaborado sua razão de ser. Em função de uma origem pensada como comum e pré-colombiana, uma história compartilhada – marcada pelo processo de submissão e espoliação –, esses povos reivindicam um destino comum e distintivo do restante da sociedade nacional, e possuem um forte senso de originalidade e solidariedade coletivas. Segundo o antropólogo João Pacheco de Oliveira, identificar-se como indígena, nos dias de hoje, não pode ser entendido como simplesmente a busca por copiar modelos ou padrões que existiram no passado. Identificar- se enquanto indígena é algo muito mais profundo do que “resgatar” um antigo modo de ser, como se o tempo e a história não tivessem imprimido suas marcas. Identificar-se enquanto indígena supõe uma utopia, um modo de ser e de encarar o futuro com base no passado, nessa origem pensada como comum e anterior ao período do contato com os não indígenas. Ser indígena vai muito além de uma imagem. De acordo com o último censo do IBGE, ano de 2010, aproximadamente 890 mil pessoas se autodeclaram indígenas, perfazendo aproximadamente 0,4% da população total do país, pertencentes a 305 diferentes etnias, falantes de 274 diferentes línguas. Mas quem são? Onde estão? Como vivem? O que pensam? Em que acreditam e pelo que lutam? Muitos são os povos que lutam para poderem ser como são e ainda assim serem reconhecidos como indígenas pela sociedade. Se o nosso desejo é de fato romper com séculos de dominação e colonização na história brasileira, faz-se urgente ouvir esses legítimos sujeitos históricos para despir- nos de nossos (pre)conceitos e assim compreendermos e (re)conhecermos quem são os povos indígenas no Brasil nesse limiar de século.