Marco Silva convida críticos, comunicadores, educadores e gestores a dialogarem sobre interatividade. O documento discute as perspectivas da interatividade na educação, cultura e comunicação, propondo uma abordagem complexa que reconheça a participação, bidirecionalidade e potencialidade nas relações mediadas por tecnologia.
2. Marco Silva convida os críticos da
interatividade, os comunicadores, teóricos da
comunicação, educadores, professores e gestores de
escola a dialogar a respeito de interatividade.
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CONVITE!
3. UM CONVITE À INTERATIVIDADE E À
COMPLEXIDADE
Três reações ao termo interatividade:
• Aplicação oportunista de um termo da “moda”.
• Estratégia de marketing (legitima a expansão
globalizada do novo poderio tecno-industrial baseado
na informática).
• Dominação da técnica (regressão do homem à
condição da máquina) – “...quanto mais se é
interativo, menos se existe...o sujeito se desvanece, se
indiferencia, se objetiva até mesmo na linguagem que
se automatiza e nos deixa silenciados” (M. Guillaume).
4. MODALIDADE COMUNICACIONAL
O esquema clássico (modalidade comunicacional massiva)
se baseava na ligação unilateral EMISSOR – MENSAGEM –
RECEPTOR.
Nos tempos atuais ocorre uma transição para a modalidade
interativa. Reconhece-se o caráter
múltiplo, complexo, sensorial, participativo do receptor, o que
implica conceber a informação como manipulável.
MAIS DADOS
5. CULTURA INTERATIVA
A sociedade atual transita da lógica da distribuição para a
lógica da comunicação.
Há uma imbricação de fatores que levam ao surgimento
dessa cultura: evolução de uma nova configuração
tecnológica (os media interativos);a comunidade de negócios
globalizada demanda e financia tecnologias informacionais
para atender à necessidade de maior interação com o
cliente; o social “em rede”, cada vez mais atento ao “direito à
diferença” e a “liberdade de escolha”.
Têm-se aí as bases de uma conjunção complexa. A
modificação estrutural da comunicação emerge dessas
múltiplas interferências, dessas múltiplas causalidades.
6. O HIPERTEXTO E O NOVO ESPECTADOR
As novas tecnologias permitem o processamento da
informação e da comunicação como hipertexto.
O hipertexto liberta o usuário da lógica unívoca, da lógica
da distribuição. Ele democratiza a relação com a informação.
Ele é o divisor de águas entre a comunicação massiva e a
comunicação interativa.
O novo espectador aprende com a não linearidade, com a
complexidade do hipertexto. Ele aprende a não aceitar
passivamente o que é transmitido. Ele é mais autônomo e está
consciente do caráter multimodal do texto. O novo espectador
abre-se à perspectiva do pensamento complexo.
7. EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE E INTERATIVIDADE
Há uma compatibilidade entre a epistemologia da
complexidade de Edgar Morin e a modalidade comunicacional
(interativa) disponibilizada pelas tecnologias hipertextuais ou
novas tecnologias informáticas.
COMPLEXIDADE
NOVO
ESPECTADOR
Fundamenta-se na
ausência de Abertura para mais
fundamentos interações, para o
mais comunicacional
Interações -
multiplicidade e
Imobiliza o espírito
recursividade
linear, enriquecimento
do movimento produtor
8. PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO
Prática comunicacional tradicional nas salas de aula –
paradigma da simplificação e a lógica da distribuição.
Desafio do nosso tempo - Uma sala de aula baseada na
vivência coletiva , diferenciada, baseada na lógica da
comunicação.
Escolas ditas “interativas” –
marketing, modismo, dominação - banalização do termo
O professor deve modificar a comunicação no sentido da
participação-intervenção, da bidirecionalidade-hibridação e da
permutabilidade-potencialidade. O professor não transmite
conhecimento. Ele disponibiliza domínios de conhecimento. Ele
garante a fartura de dados e os dispõe de modo de modo a criar
percursos possíveis. Os alunos constroem o conhecimento na
confrontação coletiva livre e plural.
9. O que os alunos (americanos) da era digital
esperam de suas escolas e de seus
professores ?
E NÓS?
11. O QUE É INTERATIVIDADE?
Para André Lemos, “nossa relação com o mundo é uma relação interativa
onde , a ações variadas correspondem retroações as mais diversas. Essa
interação funda toda vida em sociedade”. ¹
Para Alex Primo e Márcio Cassol , é necessário valorizar, na interação, “a
bidirecionalidade, a comunicação contextualizada, enfim, aquilo que ocorre
entre os interagentes e a evolução inventiva e criativa dos relacionamentos”.
Os autores estabelecem também uma distinção entre interação reativa e
interação mútua. ²
Para Marco Silva , a interatividade é “a disponibilização consciente de um
mais comunicacional de modo expressivamente complexo,e, ao mesmo
tempo, atentando para as interações existentes e promovendo mais e
melhores interações –seja entre usuário e tecnologias comunicacionais
(hipertextuais ou não), seja nas relações (presenciais ou virtuais) entre seres
humanos. ³
Para Roderick Sims, “interatividade é uma atividade entre dois
organismos que proveja respostas adequadas às necessidades
informativas de ambos”. O autor apresenta onze formas de interatividade
em ambientes de aprendizagem midiáticos. 5
12. O QUE É PENSAMENTO COMPLEXO?
Edgar Morin
Para entendermos o paradigma da complexidade, devemos entender o
paradigma da simplicidade - aquele que põe ordem (leis, princípios) no
universo e expulsa a desordem.
A partir do processo simplificador (todo conhecimento hierarquiza, separa, opera
por seleção), o conhecimento está cada vez menos preparado para ser refletido e
discutido.
A teoria da complexidade:
1. Considera que conhecimento não se reduz à informação.
2. Compreende incertezas, indeterminações e fenômenos aleatórios como o
progresso do conhecimento (sistema aberto).
3. Reconhece a sociedade, o conhecimento, o ser humano como um sistema
aberto.
4. Percebe que a concepção do conhecimento está associada aos pressupostos
da organização, da auto-organização e da desordem.
5. Compreende que o sujeito e o mundo interagem e se desenvolvem (abrindo
novas possibilidades).
13. Morin destaca três princípios interligados que podem ajudar a pensar a complexidade:
1) Dialógico: permite manter a dualidade no seio da unidade. Associa ao mesmo tempo
termos complementares e antagônicos (a ordem e a desordem).
2) Recursão Organizacional: “tudo o que é produzido volta sobre o que o produziu num
ciclo ele mesmo autoconstrutivo, auto-organizador e autoprodutor”
3) Hologramático: não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte. O
indivíduo é parte constituinte da sociedade e é por ela constituído.
Para Morin, todo sistema vivo gera relações complexas, complementares, recorrentes e
antagônicas. A partir deste contexto, o sujeito não é um ser passivo, mas interage no
processo, sendo parte integrante como produtor e produto.
Introdução ao Pensamento Complexo
14. MODALIDADES COMUNICACIONAIS
MODALIDADE MODALIDADE
UNIDIRECIONAL INTERATIVA
MENSAGEM Fechada, imutável, linear, Modificável
sequencial
EMISSOR “Contador de histórias”, “Designer de
narrador que atrai o software”,
receptor construtor de
redes (não de
rotas)
RECEPTOR Assimilador passivo Coautor, cocriador,
manipulador da
mensagem –
democratização da
relação
15. BINÔMIOS SUGERIDOS POR ARLINDO MACHADO
E MARCO SILVA
PARTICIPAÇÃO-INTERVENÇÃO – Em situação de
interatividade, emissor e receptor mudam respectivamente de
papel e de status, quando a mensagem se apresenta como
conteúdos manipuláveis e não mais como emissão (Marie
Marchand).
BIDIRECIONALIDADE-HIBRIDAÇÃO – Todo emissor é
potencialmente um receptor e todo receptor é potencialmente um
emissor. Ocorre a dissolução de fronteiras e a fusão de suportes e
linguagens.
PERMUTABILIDADE-POTENCIALIDADE – O computador permite
não só o armazenamento de grande quantidade de
informações, mas também ampla liberdade para combiná-las
(permutabilidade) e produzir narrativas possíveis (potencialidade).
O sistema interativo permite ao usuário a autoria de suas ações.
16. BIBLIOGRAFIA
1- LEMOS, André. “Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e
interfaces digitais”. In: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interac.html
2- PRIMO, Alex e CASSOL, Márcio. “Explorando o conceito de interatividade: definições
e taxonomias”. In:
http://www.fatecjp.com.br/Explorando%20o%20conceito%20de%20interatividade.pdf
3- SILVA, Marco. “Um convite à interatividade e à complexidade: novas perspectivas
comunicacionais para a sala de aula”. In: GONÇALVES, Maria Alice Rezende (org.)
Educação e cultura: Pensando em cidadania. Rio de Janeiro: Quartet, 1999. p. 135 -
167.
4- SILVA, MARCO. Sala de aula interativa.
5- SIMS. Rod. “Interactivity: A Forgotten Art?”.
In: http://www2.gsu.edu/~wwwitr/docs/interact/