O autor discute os riscos de contratar "jeitosos" em vez de especialistas qualificados para cargos importantes. Ele argumenta que embora o "jeitinho" português possa ter vantagens em algumas situações, optar por alguém sem preparação adequada para alcançar objetivos cruciais da empresa geralmente resulta em atrasos e fracassos, prejudicando o sucesso da organização a longo prazo.
Contratar Jeitosos Pode Custar o Sucesso da Empresa
1. “Jeitinhos e Jeitosos”
José Bancaleiro
Managing Partner da Stanton Chase international
Acontece, infelizmente, com muita frequência. Uma Mas o “jeitinho” português é também, agora pela
empresa é confrontada com um objectivo difícil e negativa, fazer as coisas sem preparação, sem
determinante para o seu sucesso futuro, como, por planeamento e sem qualidade. É trabalhar para o
exemplo, a necessidade de entrar num novo sector curto prazo, encontrando soluções que
de actividade. Sabe que isso depende de encontrar desenrasquem e aguentem apenas o tempo
alguém com competências sólidas e experiências necessário para ultrapassar aquele momento crítico,
comprovadas nessa área. Apesar disso, opta por mesmo que se saiba que isso vai, inevitavelmente,
procurar entre os seus “conhecidos” ou entre os CVs criar problemas mais tarde. É adiar um problema em
que tem na sua base de dados alguém que se vez de o resolver. É deixar as coisas presas por fios. É
“ajeite” naquela função. O “jeitoso” é contratado e a atitude “quem vier a seguir que se lixe”.
um ano e meio depois conclui-se que, apesar do seu
Todos sabemos que encontrar a pessoa certa é
esforço e dedicação, a empresa continua sem
determinante para o sucesso de qualquer projecto,
conseguir negócios no sector desejado.
especialmente daqueles que se caracterizam por um
O prejuízo destas decisões não é apenas o custo dos elevado grau de dificuldade. Optar por contratar
salários entretanto dispendidos. É, principalmente, o alguém que se ajeite em vez de um especialista é
impacto negativo provocado pelo atraso (às vezes arriscar objectivos importantes da empresa às mãos
definitivo) em atingir objectivos essenciais para a de uma pessoa que se sabe que não têm as
organização. Contratar um especialista é um competências nem as vivências adequadas para os
investimento do qual se obtém um (maior ou menor) alcançar.
retorno. Contratar um “jeitoso” é, na maioria dos
Estas decisões acontecem amiudadamente porque
casos, meramente um custo.
os gestores, apesar de apregoarem a importância do
Arranjar alguém para dar um “jeitinho” a um capital humano, continuam a considerar as pessoas
problema ou um “jeitoso” para exercer uma função como um custo e não como um investimento.
é um hábito tipicamente português. Há mesmo Preferem, por isso, gastar menos contratando um
quem diga (José Pedro Gomes) que Portugal é um “jeitoso”, mesmo que isso signifique correr elevados
país de jeitosos. riscos de insucesso, do que investir mais algum
dinheiro na selecção de alguém especializado, que
O dar um “jeitinho” corresponde ao tradicional
lhes possa ampliar fortemente as possibilidades de
“desenrascanço” que é, seguramente, uma das
êxito.
características (e qualidades) mais vincadas dos
portugueses. Pela positiva, ela significa um misto de No ambiente empresarial em que vivemos,
flexibilidade, criatividade e agilidade que permite fortemente marcado pela complexidade e pela
encontrar soluções “out of the box”, em tempo competitividade, o recurso a “jeitinhos” e o
recorde e sob pressão. Possuir estas qualidades num recrutamento de “jeitosos” levará, quase
mundo marcado pela velocidade crescente, pela inevitavelmente, ao fim duma empresa ou dum
imprevisibilidade persistente e pela mudança projecto.
permanente será, certamente, uma enorme
José Bancaleiro
vantagem competitiva.
In Sol, 28 de Janeiro de 2011