O documento discute a atenção integral ao paciente geriátrico em odontologia. Apresenta conceitos de odontogeriatria, geriatria e paciente geriátrico. Descreve as mudanças na cavidade oral e sistema estomatognático dos idosos, além de doenças sistêmicas com manifestações orais. Discorre sobre a conduta para o atendimento odontológico a esses pacientes.
1. Discentes:
Amélia Custódio
Celso Bolacha
Fátima Valgy
Juma Sualé
Muniza Alfredo
Atenção Integral ao Paciente Geriátrico
Faculdade de Ciências de Saúde
Licenciatura em Medicina Dentária
AIA - II
Grupo III
Docente:
MD. Muquissirima Braimo
Abril-2023
2. Introdução
A abordagem interdisciplinar da atenção ao idoso, no que se refere à
saúde bucal, tem se mostrado eficiente ao influenciar na qualidade
de vida deste indivíduo por permitir que ele seja tratado dentro de
uma visão integrada, sem desconsiderar a ocorrência de doenças
sistêmicas que interfiram no ambiente bucal. Deve-se ter em
mente que os idosos geralmente apresentam uma grande variação
no que se refere às condições sistêmicas, psicológicas e sociais,
além de serem portadores de várias alterações decorrentes do
processo natural do envelhecimento.
3. Objectivos
Geral:
Conhecer as bases da Atenção Integral em Odontogeriatria.
Específicos:
Conceituar Odontogeriatria, Geriatria e Paciente Geriátrico;
Descrever as mudanças e caracterizar o sistema estomatognático
do idoso;
Explicar a conduta médico-dentária durante o atendimento ao
paciente idoso.
4. Conceitos Gerais
Odontogeriatria ou Odontologia Geriátrica
Ramo da Odontologia que atua na prevenção, tratamento e
manutenção do sistema estomatognático dos idosos, levando em
conta as condições médicas, sociais e mentais do indivíduo,
relacionando–as com o envelhecimento normal do sistema.1
Geriatria
Do grego Ger (o) = velhice e Atria = cura, geriatria é o ramo da
Medicina responsável pelo estudo, prevenção e tratamento das
doenças e incapacidades da pessoa idosa. 1
Paciente Geriátrico
Todo o indivíduo com idade acima dos 60 que necessita de
atenção e cuidados de saúde. 1
5. A atenção integral refere-se ao atendimento das necessidades dos
indivíduos que transcende a prática curativa, e contempla-o em
todos os níveis de atenção. A inclusão dos pacientes geriátricos
nesta concepção é fundamental, pois ela busca dar uma assistência
ampliada, transformadora e centrada no indivíduo idoso e envolve a
valorização do cuidado e acolhimento.2
O paciente geriátrico deve ser compreendido na sua totalidade,
analisando-se suas condições clínicas, seus aspectos psicológicos,
sua integração social e cultural, e isso deve sempre estar relacionado
ao atendimento integral do paciente sem a redução do mesmo
devido à doença ou ao aspecto biológico.2
Atenção Integral ao Paciente Geriátrico
6. A auto-estima está relacionada com a imagem corporal,
principalmente por padrões estéticos impostos pela sociedade, as
perdas dentárias causam alterações físicas na face, além do
aparecimento de uma vasta gama de reações psicológicas, que
incluem a perda de autoconfiança, preocupação com a aparência e
autoimagem.3
Os factores psicológicos estão mais fortemente relacionados
com a aceitação e a adaptação do tratamento, do que com a
qualidade do tratamento. Dentre os fatores psicológicos, a
depressão, a ansiedade, e o medo podem ter efeitos significativos
sobre a adaptabilidade ao tratamento.3
Factores que condicionam a Reacção
Psicológica do Idoso
7. O dentista deve estar a par sobre como lidar com problemas
psicológicos, bem como com problemas dentários de seus pacientes.
O profissional deve aconselhar o paciente e membros de sua
família e, quando necessário, encaminhá-lo para uma consulta
médica/psicológica.
Factores que condicionam a Reacção
Psicológica do Idoso
A depressão que surge devido a ausência de elementos dentários
(reflexos na autoimagem e na autoestima), sintomas de
desadaptação, com prejuízos nos relacionamentos sociais, e
familiares, e até o isolamento.
Os pacientes têm, via de regra, algum grau de ansiedade no
consultório de um dentista, e isso requer que este saiba lidar com
os transtornos de ansiedade e comportamentos decorrentes de um
tratamento.3
8. A ansiedade tem sido considerada um problema para a manutenção
ou obtenção de saúde bucal e, na tentativa de impedir que o idoso
desenvolva medo do tratamento odontológico, é necessário
disponibilizar experiências agradáveis.
O medo pode ser definido como uma reação a um perigo conhecido.
O medo do tratamento odontológico é chamado de “odontofobia”,
e tem sua genealogia nas ciências psicossociais e comportamentais.
Os pacientes apresentam-se frequentemente nervosos, apreensivos,
desconfiados, e até mesmo apavorados.
É provável que os pacientes, ao se aproximarem de uma perda
dentária grande ou total, apresentem ansiedade e depressão;
por isso, a preparação emocional do paciente é tão importante
quanto a preparação dos tecidos gengivais.3
Factores que condicionam a Reacção
Psicológica do Idoso
9. Dificuldade de higiene bucal e das próteses;
Efeitos colaterais de medicamentos;
Hábitos dietéticos cariogênicos e a não realização de visitas
regulares ao dentista;
Doenças Sistémicas não tratadas;
Hábitos e Vicios (Tabagismo e Alcoolismo).3
Factores que condicionam a Saúde Bucal do
Idoso
Factores de Risco
10. Visitas regulares ao dentista;
Controle das doenças sistémicas;
Uso de técnicas corretas e eficientes de escovagem bucal e da
prótese;
Atenção especial á escovação da gengiva: escova com
cerdas macias que devem ser trocadas a cada 3 meses.
Cuidados com as próteses após as refeições (higienização
da mesma com escova, água e sabão, e durante a noite,
remove-la e conservar num copo com água).
Abster-se do uso do tabaco e do álcool;
Adoptar uma dieta equilibrada.3
Factores Protetores
Factores que condicionam a Saúde Bucal do
Idoso
11. Doenças Sistémicas com Manifestações Orais
As doenças sistémicas com manifestações orais mais comuns em
idosos são:
Deficiência Vitamínica ou Nutricional;
Hipertensão Arterial;
Diabetes Mellitus (Melitos);
Osteoporose;
Artrite Reumatoide;
Síndrome de Sjögren;
Doença de Parkinson.4
12. Principais Manifestações Orais:
Xerostomia;
Cicatrização tardia;
Aftas;
Eritema Gengival;
Halitose (cheiro de maça podre) – Diabetes;
Hiperplasia Gengival;
Disgeusia (alterações na percepção do paladar);
Glossite;
Fragilidade óssea alveolar (que pode ser acompanhada de fraturas
dentárias) – Osteoporose;
Sensação de ardor oral;
Candidíase.4
Doenças Sistémicas com Manifestações Orais
13. Com o processo do envelhecimento, surgem algumas alterações
morfofisiológicas que dizem respeito à saúde bucal.
O periodonto, que engloba as estruturas de suporte do elemento
dental, pode, com a idade, sofrer um decréscimo no seu conteúdo
de fibras.
O periodonto de sustentação fica comprometido, havendo perda
da crista óssea interdentária, reabsorção óssea horizontal e
vertical, com retração gengival, mobilidade e perda dentária.5
No Periodonto
Mudanças na Cavidade Oral do Idoso
14. Nos dentes:
Os dentes se tornam mais escurecidos, com tonalidade
amarelada, castanha ou cinza.
Ocorre desgaste no esmalte devido ao atrito provocado pela
mastigação ou por hábitos viciosos como o bruxismo.
A polpa dentária apresenta-se reduzida e com diminuição
celular.5
Mudanças na Cavidade Oral do Idoso
15. As mucosas ficam mais sensíveis e finas, com o processo de
cicatrização lento.
Mudanças na Cavidade Oral do Idoso
Na Mucosa
As glândulas salivares, com o envelhecimento, sofrem um processo
de degeneração avançada, provocando a diminuição da viscosidade e
quantidade da saliva.
A gustação sofre alteração devido à diminuição significativa dos
botões gustativos nas papilas.5
Nas Glândulas Salivares
Na Língua
16. Edentulismo
É a perda dos elementos dentários, podendo ocasionar problemas
na funcionalidade mastigação e deglutição, no psicológico e no
social do idoso.
Os dentes são perdidos principalmente devido e as doenças
periodontais e à cárie radicular. Com isso, a reabilitação protética
torna-se factor importante para o restabelecimento das condições
bucais ideais do paciente.5
Cárie radicular
Doença Periodontal
Edêntulo total
Alterações Patológicas na Cavidade Oral do Idoso
17. O idoso sofre uma perda de 30% da produção de saliva devido a
alterações nas glândulas salivares , ocasionando uma diminuição no
processo de lubrificação da cavidade oral, essa alteração afeta a fala, a
mastigação e a deglutição.
A sensação de boca seca pode estar ligada ao uso anti-hipertensivos,
ansiolíticos, antidepressivos, anti-histamínicos e anticolinérgicos.5
Xerostomia
Alterações Patológicas na Cavidade Oral do Idoso
18. Alterações Patológicas na Cavidade Oral do Idoso
O processo de envelhecimento torna a mucosa oral fina e sensível.
Um exemplo de lesão muito comum no idoso é a estomatite
protética, sendo também comum a queilite angular e a candidíase.5
Lesões da mucosa oral
Estomatite protética
Queilite Angular
Candidíase
19. No Sistema Estomatognático do idoso é característico observar:
Perda da tonicidade muscular causando a diminuição
significativa na força mastigatória, e dificuldades na deglutição;
Desordens da articulação e fala;
Aprofundamento das linhas de expressão facial e depressão da
comissura labial e da base do nariz.5
Características do Sistema Estomatognático do
Idoso
20. Características do Sistema Estomatognático do
Idoso
Reabsorção óssea dos maxilares;
Alteração da relação maxilo-mandibular;
Devido a perda dos dentes, a maxila retrai e a mandibula protrai,
e por falta de suporte os lábios encolhem;
Perda da dimensão naso-mentoniana.5
21. Durante o atendimento odontológico ao idoso, devem ser
consideradas as diferenças fisiológicas, patológicas e psicológicas
decorrentes do processo de envelhecimento. Para isso, o profissional
precisa ter conhecimentos específicos e sempre considerar que estes
pacientes apresentam baixa resistência ao estresse, suscetibilidade a
infecção, reparo tecidual mais lento. Além disso, é fundamental
determinar a capacidade física e emocional do paciente.6
Conduta para o Atendimento do Paciente
Geriátrico
22. Conduta para o Atendimento do Paciente
Geriátrico
1. Acolhimento cordial e prestativo (ajuda-lo a se instalar na cadeira)
2. Anamnese minuciosa;
3. Exame físico extra e intra-oral;
4. Maneio delicado dos tecidos extras e intra-orais;
5. Educação para saúde ao paciente e ao acompanhante;
6. Medição da pressão arterial antes e pós-operatório;
7. Procedimentos em curtos períodos de tempo;
8. Uso preferencial de anestésicos sem vasoconstritor;
9. Conversar evitando stressa-lo e transmitir confiança ao idoso;
10. Optar por suturar em procedimentos cirúrgicos
independentemente do nível sangramento;
11. Indicações pós-operatórias dadas por escrito (letras grandes e
legíveis) e oral.6
23. Exame Físico
Deve ser iniciado pela avaliação dos tecidos moles, mediante a
inspeção e palpação das mucosas, língua, assoalho bucal e tecidos
de revestimento do rebordo procurando identificar manifestações
bucais como lesões ulcerativas, xerostomia, candidíase.
Os dentes devem ser examinados quanto à mobilidade, cárie
coronária, cárie radicular e bolsas periodontais.
Ao examinar a prótese (caso o paciente tenha), deve-se averiguar
como está sendo feita a higiene da peça e em que condições ela se
encontra.6
Conduta para o Atendimento do Paciente
Geriátrico
24. Tratamento
O tratamento deve ser realizado respeitando as prioridades e
levando-se em consideração as alterações sistêmicas do
paciente idoso, bem como o estado psico-motor, e nutricional.
Durante o atendimento a cadeira não deve ser muito reclinada e
movimentos bruscos devem ser evitados, avisando sempre antes
o que se pretende fazer.6
Conduta para o Atendimento do Paciente
Geriátrico
25. Os idosos representam os maiores consumidores de fármacos,
seja por prescrição médica ou automedicação.
É bastante comum que pacientes da terceira idade apresentem
dificuldades de adesão à terapia medicamentosa, omissão, erros
de administração, superdosagens acidentais ou mesmo
intencionais.
Essa dificuldade em seguir o tratamento proposto pode ser
resultado do uso de várias drogas, dificuldades de atenção e
memória, acuidade visual e auditiva reduzidas e menor
compreensão de instruções orais e escritas.6
Terapêutica em Paciente Geriátrico
26. É importante escolher fármacos que não interfiram na ação dos
medicamentos contínuos e sejam adequados às condições
sistêmicas do paciente.
Sobretudo, o médico dentista especializado ou não em
Odontogeriatria tem que ter em mente que o atendimento
odontológico ao idoso faz parte de um tratamento
multidisciplinar. Ou seja, o dentista faz o seu trabalho junto à
uma equipe de outros profissionais, visando a saúde do
paciente como um todo.6
Terapêutica em Paciente Geriátrico
27. Prescrição Terapêutica para Idosos
Conduta:
Explicar tudo (o que o paciente tem, porquê precisa da medicação)
Evitar uso de expressões como:
“tomar como indicado”, “a cada 6 horas” (3x/dia ou 4x/dia com 1
dose no meio da noite?)
1 comp. a cada refeição
Prefira: “tomar 1 comp. a cada 6 horas” (às 6:00h, 12:00h, 18:00h).
Se necessário, escrever por extenso: “tomar 1 comp. de manhã, de
tarde e de noite”.
Falar devagar e claramente (o acompanhante também deve
ouvir, porém o dentista deve dirigir-se ao paciente).
Escrever com letras grandes e legíveis: se possível, usar
medicamentos com intervalos de tempo maiores.6
28. Conclusão
Em suma, concluímos que o papel do odontogeriatra ou do
médico dentista, não está apenas na execução de procedimentos,
ele também precisa se atentar a prevenção e cuidados diários do
idoso, observando a necessidade de acompanhantes ou familiares
ajudarem na rotina de cuidados diários, promovendo dessa
forma, a saúde e bem-estar dos idosos.
Alguns problemas como o desajuste da prótese e perda dentária
podem estar relacionados à falta de atenção à saúde bucal a que
os indivíduos foram submetidos ao longo de toda a vida,
possivelmente devido à ausência de serviços odontológicos ou
dificuldade de acesso aos mesmos.
29. Referências Bibliográficas
1. ROSA, Lâner B., et al. Odontogeriatria – a saúde bucal na terceira idade.
RFO, v. 13, n. 2, p. 82-86, agosto de 2008.
2. FIGUEIREDO, Camila S. A. & ; GIROTTO, Marcos A. Saude da Pessoa
Idosa – Odontogeriatria: Unidade 2. Brasil - São Luís, 2014.
3. KREVE, S., & ANZOLIN, D. Impacto da saúde bucal na qualidade de vida
do idoso. Revista Kairós Gerontologia. São Paulo, Brasil – Janeiro de 2016.
4. ALBENY, Anna L & SANTOS, Débora B. F. Doenças Bucais que mais
acometem o paciente na terceira idade: Uma revisão de Literatura. Brasil,
2018.
5. SILVA, Jardanne C., & LABUTO, Mônica M. Principais Alterações na
Cavidade Bucal do Idoso. Cadernos de Odontologia do UNIFESO. v. 4, n.1,
2022.
6. OSTA, Cláudio R. R.. Envelhecimento: Influências no Atendimento
Odontológico - Semana Acadêmica: Revista Científica. ISSN 2236-6717.
Brasil - Fortaleza, Vol. 01, Nº. 22, 2012.