O documento discute o conceito de educação. A educação é definida como o processo pelo qual a sociedade forma seus membros de acordo com seus interesses e integra o indivíduo no modo de ser social vigente. Além disso, a educação é um processo histórico, social e cultural que ocorre ao longo da vida e visa tanto a incorporação quanto o progresso do indivíduo.
2. O QUE É EDUCAÇÃO???
PARA QUÊ EDUCAR???
EDUCAR PARA QUEM???
3. Conceito de Educação
Significado amplo e restrito;
Em significado restrito, o da pedagogia clássica, convencional, sistematizada, refere-se a
educação às fases infantil e juvenil da vida do ser humano.
Em sentido amplo (e autêntico) a educação diz respeito à existência humana em toda a sua
duração e em todos os seus aspectos. Daqui sai a verdadeira definição de educação.
A educação é o processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e
em função de seus interesses. Por consequência, educação é formação (Bildung) do
homem pela sociedade, ou seja, o processo pelo qual a sociedade atua constantemente
sobre o desenvolvimento do ser humano no intento de integrá-lo no modo de ser
social vigente e de conduzi-lo a aceitar e buscar os fins coletivos.
4. Caráter histórico-antropológico da Educação
a) A educação é um processo, portanto é o decorrer de um fenômeno (a formação do
homem) no tempo, ou seja, é um fato histórico.
b) A educação é um fato existencial. Refere-se ao modo como (por si mesmo e pelas ações
exteriores que sofre) o homem se faz ser homem. É o processo constitutivo do ser humano.
c) A educação é um fato social. Refere-se à sociedade como um todo. É determinada pelo
interesse que move a comunidade a integrar todos os seus membros a forma social vigente;
deriva o duplo aspecto do fato social da educação: incorporação dos indivíduos ao estado
existente (a intenção de perpetuidade, de conservação, de invariabilidade, inércia pedagógica,
estabilidade educacional) e progresso, isto é, necessidade de ruptura do equilíbrio presente, de
adiantamento, de criação do novo.
Por ser contraditória é que a educação é instrumental (no sentido em que a consciência crítica
emprega este qualificativo). Quando se verifica a simultaneidade consciente de incorporação e
progresso, tem se a educação em sua forma integrada, isto é, a plena realização da natureza
humana.
5. Caráter histórico-antropológico da Educação
d) A educação é um fenômeno cultural. Não somente os conhecimentos, experiências,
usos, crenças, valores, etc. a transmitir ao indivíduo, a educação é a transmissão integrada da
cultura em todos os seus aspectos, segundo os moldes e pelos meios que a própria cultura
existente possibilita.
O saber é o conjunto dos dados da cultura que se têm tornado socialmente conscientes e que
a sociedade é capaz de expressar pela linguagem. Nas sociedades iletradas não existe saber
graficamente conservado pela escrita, contudo, há transmissão do saber pela prática social,
pela via oral e, portanto, há educação.
e) Nas sociedades altamente desenvolvidas, com divisões internas em classes opostas, a
educação não pode conectar na formação uniforme de todos os seus membros, porque:
por um lado, é excessivo o número de dados a transmitir; e, por outro, não há interesse nem
possibilidade e formar indivíduos iguais, mas se busca manter a desigualdade social presente.
6. Caráter histórico-antropológico da Educação
f) A educação se desenvolve sobre o fundamento do processo econômico da
sociedade.
Porque é ele que:
— determina as possibilidades e as condições de cada fase cultural;
— determina a distribuição das probabilidades educacionais na sociedade, em virtude do
papel que atribui a cada indivíduo dentro da comunidade;
— proporciona os meios materiais para a execução do trabalho educacional, sua extensão
e sua profundidade;
— dita os fins gerais da educação, que determina em uma dada comunidade serão
formados indivíduos de níveis culturais distintos, de acordo com sua posição no trabalho
comum (na sociedade fechada, dividida) ou se todos devem ter as mesmas oportunidades e
possibilidades de aprender (sociedades democráticas).
7. Caráter histórico-antropológico da Educação
g) A educação é uma atividade teleológica.
A formação do indivíduo sempre visa a um fim. Está sempre "dirigida para". No sentido
geral esse fim é a conversão do educando em membro útil da comunidade. No sentido
restrito, formar, escolar, é a preparação de diferentes tipos de indivíduos para executar as
tarefas específicas da vida comunitária;
8. Caráter histórico-antropológico da Educação
h) A educação é uma modalidade de trabalho social.
A educação é parte do trabalho social porque:
- trata de formar os membros da comunidade para o desempenho de uma função de trabalho
no âmbito da atividade total;
- o educador é um trabalhador (reconhecido como tal);
- no caso especial da educação de adultos, dirige-se a outro trabalhador, a quem tenciona
transmitir conhecimentos que lhe permitam elevar-se em sua condição de trabalhador.
i) A educação é um fato de ordem consciente.
É determinada pelo grau alcançado pela consciência social e objetiva suscitar no educando
a consciência de si e do mundo. É a formação da autoconsciência social ao longo do
tempo em todos os indivíduos que compõem a comunidade.
9. Caráter histórico-antropológico da Educação
j) A educação é um processo exponencial, isto é, multiplica-se por si mesma com sua
própria realização. Quanto mais educado, mais necessita o homem educar-se e, portanto
exige mais educação.
k) A educação é por essência concreta. Pode ser concebida a priori, mas o que a define é
sua realização objetiva, concreta. Esta realização depende das situações históricas objetivas,
das forças sociais presentes; toda discussão abstrata sobre educação é inútil e prejudicial.
I) A educação é por natureza contraditória, pois implica simultaneamente conservação
(dos dados do saber adquirido) e criação, ou seja, crítica, negação e substituição do saber
existente.
10. Outros tópicos sobre a Educação
A educação é necessariamente intencional.
Excetuando a etapa primitiva, todos os tipos de sociedade têm produzido um conceito de
educação, que naturalmente reflita as peculiaridades de sua estrutura e os interesses de
seus grupos dirigentes. Por isso, não é possível falar em uma educação “neutra”.
A educação real tem sido sempre a educação que era possível em determinada formação
histórico-social, dada a etapa em que se encontrava o processo de seu desenvolvimento.
11. Educação e cultura
A educação pertence à cultura em dois sentidos:
— primeiramente, no sentido de que o mesmo conceito de educação é um dos produtos
ideológicos da cultura. Como tal reflete e resume a totalidade cultural que o enuncia;
— em segundo lugar, a educação pertence ao campo cultural por ser o processo produtor (e
transmissor) da cultura. Por consequência a educação é a cultura simultaneamente como feita
(porém não como acabada) no educador que a transmite, e como fazendo-se no educando, que
a recebe (refazendo-a), por conseguinte, capacitando-se a se tornar o agente da ampliação dela.
Essa transmissão da cultura pela educação, justamente supõe a mediação (dialética) da
sociedade, na realidade, pelo trabalho concreto dos homens; não é mecânica, e por isso o
saber não se comunica inalterado de um indivíduo ao outro.
Ao contrário, na passagem de um ao outro, altera-se, torna-se maior pela contribuição da
criação intelectual do educador, recebida pela sociedade e considerada por ela como um
acréscimo indispensável para ser comunicado ao educando.
12. A Educação como possibilidade humana
A espécie e a extensão da educação distribuída por uma sociedade a seus membros são
função de seu estado de desenvolvimento material e cultural.
Este é que determina as possibilidades da educação tanto em qualidade (conteúdo e
métodos) como em quantidade (a quem e a quantos será distribuída).
Do ponto de vista do indivíduo, as probabilidades de receber educação diferenciada e
de recebê-la em determinado grau dependem de sua posição no contexto social, da
natureza de seu trabalho e do valor atribuído a este pelos interesses da consciência
social dominante.
13. A Educação como possibilidade humana
Nas sociedades divididas as possibilidades do indivíduo de receber educação
institucionalizada dependem:
a) do grau de desenvolvimento geral de tal sociedade, que determina a necessidade de
incorporação de seus membros a formas superiores de cultura para o fim de executar tipos
mais complexos e mais produtivos de trabalho;
b) consciência de si, de seus grupos dirigentes, que os conduz a criar seu "modelo" de
homem e a nutrir a exigência de incorporação de maior número de indivíduos às formas
letradas do saber;
c) atribuído a cada indivíduo ou que a cada indivíduo cumpre no todo social, de onde deriva
sua capacidade de pressão coletiva (associado a outros da mesma condição) sobre o centro
de decisão social, no sentido de que lhes seja distribuída educação em graus sempre mais
elevados;
d) daí, a importância dos movimentos de educação conjunta de grandes grupos sociais
(campanhas de alfabetização) pois determinam o fenômeno histórico da passagem da
quantidade à qualidade. De fato, a exigência de muitos (educandos) se converte em
exigência de mais e de melhor educação.
14. A Educação como função social permanente
a) A educação é apenas o aspecto prático, ativo, da convivência social. Na sociedade
todos educam a todos permanentemente. Como o indivíduo não vive isolado, sua
educação é contínua. Mais particularmente, considerando-se apenas a transmissão dos
conhecimentos compendiados, a educação também é permanente, pois o grupo
dominante tem todo interesse em reproduzir-se nas gerações sucessivas, o que faz
transmitindo às novas gerações seu estilo de vida, seu saber, seus hábitos, seus valores,
etc. Não existe sociedade sem educação, ainda que nas formas primitivas possa faltar a
educação formalizada, institucionalizada (que aí é representada pelos ritos sociais).
15. A Educação como função social permanente
b) A sociedade está continuamente equipando seus membros com conhecimentos e
atitudes que permitem a sobrevivência do grupo humano. o motor da educação está no
interesse da sociedade em aproveitar para seus fins coletivos (sempre estabelecidos,
nas sociedades divididas, pelas camadas dirigentes) a força do trabalho de cada um de
seus membros (sua capacidade criadora). Por isso, a educação não é uma conquista do
indivíduo (o que seria dar-lhe um fundamento ou princípio subjetivo), mas uma função
da sociedade e como tal sempre dependente de seu grau de desenvolvimento. Onde há
sociedade há educação: logo, esta é permanente.
16. A educação é um processo histórico de
criação do homem para a
sociedade e simultaneamente de
modificação da sociedade para benefício
do homem.