SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 46
Baixar para ler offline
Centro de Investigação em Medicina Natural
Instituto Português de Naturologia
JULHO / 2014
SCIENTIFIC JOURNAL OF
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Vol. nr.: II | Semestral
NATURAL
MEDICINE
2 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 3
SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Diretor:
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Conselho Científico:
Professora Doutora Ana Cláudia Barreira Nunes
Professora Doutora Ana Cristina Esteves
Professora Doutora Ana Cristina Estrela de O. C. Cordeiro
Professor Doutor António José Afonso Marcos
Professor Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa  
Professor Doutor Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso
Professor Doutor João Paulo Ferreira Leal  
Doutor José Maria Robles Robles
Professor Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Professora Doutora Maria Isabel do Amaral A.V. P. de Leão
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Professor Doutor Miguel Tato Diogo  
Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Editor:
Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Depósito legal:
Os artigos são da responsabilidade dos seus autores.
São reservados todos os direitos.
Toda a reprodução, desta revista, seja qual for o meio, sem
prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade
civil e criminal.
Julho/2014
Publicação Semestral
Edições: Centro de Investigação em Medicina Natural 	 	
               Instituto Português de Naturologia
E-mail: sjnaturalmedicine@gmail.com
Parceiros e Projetos:
e-medico+
Foi  divulgado, pela OMS, no início deste ano de 2014, um importante documento intitulado
– WHO Traditional Medicine Strategy 2014-2023 – ( "Estratégia da OMS para a Medicina
Tradicional 2014-2023" ). Neste documento assinala-se, entre outros aspetos, a necessidade de
"estimular a pesquisa estratégica em MT&C, através da disponibilização de apoio para projetos de
investigação clínica sobre segurança e eficácia".
Ainda, de acordo com este documento, no que se refere à formação e pesquisa científica, faz cons-
tar que o número de Estados Membros que oferecem programas de formação de nível superior em
MT&C, incluindo licenciatura, mestrado e doutoramento, de nível universitário, aumentaram de ape-
nas alguns, para 39 EM, representando 30% dos países participantes do documento (129 países mem-
bros). Quanto aos Estados Membros que desenvolvem pesquisa científica em MT&C, em institutos
nacionais, o aumento foi de 19 Estados em 1999 para 73 Estados Membros, em 2012.
Em Portugal, assinala-se a regulamentação das Terapêuticas Não Convencionais, que vêm reconhecer
a autonomia científica e profissional em determinadas áreas naturológicas.
Estamos, sem dúvida, a atravessar tempos de grande mudança na história da Medicina Natural. Esta-
mos crentes que esta revista está no bom caminho no que se refere à dignificação do estudo e da práti-
ca clínica em MT&C. Aberto a todos os investigadores e clínicos estudiosos, o Centro de Investigação
em Medicina Natural, a que está associada a Revista, está pronto para aceitar os futuros desafios da
nova era da abordagem da saúde.
Agradecemos a todos os colaboradores e desafiamos os especialistas em Medicina Natural em inves-
tigar e partilhar o conhecimento para que possamos fazer parte dos números a apresentar em 2023,
pela OMS.
Está lançado o desafio.
A Diretora
Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva
Índice
Notas Prévias
Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva 3
Editorial
Rui Miguel Freitas Gonçalves 4
Hábitos de Ingestão de Água
Em crianças do 3º e 4º ano do 1º ciclo do
Concelho de Santarém 5
O Papel da Fáscia na Medicina Chinesa
Parte 1 16
Aplicação da Anestesia com Acupuntura
numa Endodontia - Estudo de Caso 30
A Acupuntura no Tratamento de DTM
e Dor Orofacial 38
A Acupuntura Anestésica 60
Membros do Conselho Científico
(Resumo Curricular) 85
Normas para Publicação 88
notas prévias
4 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 5
HáBITOS DE INGESTÃO DE ÁGUA
Em Crianças do 3 e 4º ano do 1º ciclo do Concelho de Santarém
Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins,
André Carvalho, Tatiana Brito e Ana Sofia Mil-Homens *
aslmh@live.com.pt
Resumo:
Objectivo: caracterizar os hábitos de ingestão de água em crianças do 3º e 4º ano do 1ºciclo do con-
celho de Santarém.
Metodologia: A população do estudo foi constituída pelas das crianças inscritas nos 3.º e 4.ºs anos, do
1.º ciclo das escolas do concelho de Santarém. Foi constituído um questionário de administração dire-
ta, de natureza confidencial com respostas fechadas. A análise estatística foi realizada através do pro-
grama Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, após a recolha de todos os dados.
Resultados: Participaram 485 crianças, 96,3% com as idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e
3,5% com mais de 10 anos (um inquirido não respondeu, correspondendo a 0,2%). Dos inquiridos,
51,6% eram do sexo masculino e 48,2% do sexo feminino (um inquirido não respondeu, correspon-
dendo a 0,2%). Verificou-se que a maioria das crianças não tem noção da quantidade de água ingerida
diariamente, bem como a totalidade dos inquiridos não bebe quantidade adequada e suficiente de
água por dia. Constatou-se um baixo consumo de água fora de casa, nomeadamente na escola, assim
como baixa ingestão de água na hora do exercício físico.
Conclusões: A implementação de programas de informação e sensibilização, junto da aludida comu-
nidade escolar poderá prevenir eventuais repercussões de uma deficiente hidratação.
* Síntese curricular:
Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins e André Carvalho
Alunos 2º ano de Naturopatia do Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa
Tatiana Brito
Docente de Naturopatia e Coordenadora no Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa
Ana Sofia Mil-Homens
Nutricionista, Docente Responsável pela disciplina de Dietoterapia e Nutrição do Instituto Português Naturologia (IPN) -
Polo Lisboa
“Knowledge is power. Information is
liberating. Education is the premise of pro-
gress, in every society, in every family.”
(Kofi Annan)
A
necessidade humana de conhecimento é, por resultar da constante evolução humana, em si
mesma infindável. Assim sendo é de forma orgulhosa que lançamos o segundo número da
Scientific Journal of Natural Medicine. Continuamos a pretender erguer o edifício do conhe-
cimento na área da Medicina Natural e com isto contribuir para a informação do publico em geral con-
tribuindo para a evolução no que diz respeito à sua implementação na sociedade Portuguesa e Europeia.
Neste número podemos contar com trabalhos de investigação de alta qualidade sobre problemáticas atuais
e relevantes na prática clínica em Medicina Natural, produzidos por profissionais reconhecidos da área.
É com entusiasmo que acolhemos trabalhos originais que visem elucidar os profissionais de saúde, a
comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da
Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e formal é
de suma importância.
Aguardamos a sua contribuição,
O Editor
Rui M. Gonçalves, PhD
editorial
6 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 7
■■ Introdução
A água é uma substância química indispensável à
vida. As adaptações críticas atravessam uma ma-
triz de espécies, incluindo o homem. Sem água,
os seres humanos podem sobreviver apenas por
alguns dias. O organismo humano é formado em
média por cerca de 70 % de água, sendo a água
representativa de 75% do peso médio nas crianças
e 55% do peso médio em idosos (Evaristo Eduar-
do de Miranda, 2004). É portanto essencial para a
vida e a para a hemóstase célula (Barry M. Popkin,
D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg, 2010).
Sem água o organismo não funciona, uma vez que
a mesma é utilizada em várias funções fisiológi-
cas, nomeadamente na digestão, na absorção e no
transporte de nutrientes, na realização de reacções
químicas e como solvente para os resíduos do or-
ganismo. A diluição dos resíduos permite reduzir
a sua toxicidade, facilitando o processo de ex-
creção desses mesmos compostos do organismo
(Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H.
Rosenberg, 2010).
A água, para além de fundamental na manuten-
ção da temperatura corporal, constitui a base do
sangue e de todas as secreções líquidas, como as
lágrimas, a saliva e os sucos gástricos. O resulta-
do da sua ingestão insuficiente é a desidratação da
pele, o enfraquecimento dos cabelos, as alterações
ao nível do funcionamento do trato digestivo, bem
como, por acumulação de substâncias, formação
de cálculos renais, biliares e hipertensão (Kathleen
M. Zelman, 2008). No caso particular das crianças,
as suas necessidades hídricas diárias destinam-se a
repor as perdas sensíveis, como a urina e fezes, e
insensíveis, como a água perdida por evaporação
através dos pulmões e da pele, decorrente de uma
actividade diaria com exercicio fisico (Gina Rubi,
Manuel Salgado, 2009).
Consequências de um consumo
de água deficiente
Segundo o European Hydratation Institute, os hu-
manos nem sempre respondem a sinais fisiológi-
cos de sede, expondo-se, desse modo, aos nefastos
efeitos da desidratação. Esse facto pode depender
de vários fatores como o desconhecimento das
vantagens da ingestão de líquidos; esquecimento
de ingerir líquidos; não gostar do sabor da água;
ausência de sede; falta de água para beber; neces-
sidade frequente de urinar e perturbações no local
de trabalho/escola. (European Hydration Institu-
te, 2014; Professor Simon Thornton Université de
Lorraine), France, 2010) A desidratação pode ter
influência nas capacidades físicas e cognitivas dos
indivíduos. Uma perda de líquido equivalente a 1%
do peso corporal pode ser considerada suficiente
para diminuir as funções biológicas em 10%, uma
perda de 2% do peso corporal poderá resultar
numa diminuição de 20% e, por conseguinte, até
aos 10% de peso corporal, poderá ocorrer uma
perda de consciência no limite a morte (Vasey,
Christopher, 2006). Alguns estudos sobre a dis-
ponibilização de água, a crianças em idade escolar,
demostram a sua influência na atenção e atividade
cognitiva. (European Hydration Institute, 2014)
As pesquisas que envolveram crianças às quais foi
administrada água, nas quantidades adequadas,
mostram melhorias na atenção visual. No estudo
realizado por Benton e Burgess, a memória e o
desempenho foram melhorados com a hidratação
das crianças.
Algumas patologias poderão ter a sua origem na
falta ou deficiência do consumo adequado de
água, ao nivel das crianças, nomeadamente:
Fadiga – a desidratação é responsável por um
abrandamento das reacções enzimáticas respon-
sáveis pela produção de energia. O efeito não é
só sentido fisicamente com lassitude e prostração,
como também se reflecte no estado mental, carac-
terizado por falta de entusiasmo e alegria de viver.
A correcção da hidratação  traz de volta a energia
e a estamina perdidas;
Obstipação – na presença de desidratação cróni-
ca, o reaproveitamento normal de líquidos do bolo
fecal nos intestinos pode ser excessiva, a fim de
compensar as deficiências hídricas do organismo.
Quando isto acontece, as fezes tornam-se duras e
difíceis de serem eliminadas. Com o aumento da
ingestão diária de água, é recuperada a humidade
normal necessária para uma eliminação eficiente.
Distúrbios digestivos – o corpo produz cerca de
7 litros de sucos digestivos diariamente. No caso
de desidratação crónica, as secreções são menos
abundantes e os processos digestivos não se ope-
ram adequadamente, o que pode resultar em indi-
gestão, gases, distensão abdominal, dor, náusea e
perda de apetite. Neste caso, beber água durante
o dia e antes das refeições assegura que existem
líquidos suficientes para a produção de sucos di-
gestivos.
Gastrite e Úlceras – a fim de proteger as mem-
branas mucosas dos ácidos digestivos, o estômago
secreta uma camada grossa de muco. Esta camada
é constituída por 98% de água e 2% de bicarbo-
nato de sódio. Devido às suas propriedades alcali-
nas, o bicarbonato neutraliza os ácidos que tentam
corroer esta barreira protectora. Num estado de
desidratação, o estômago não tem à sua disposi-
ção água suficiente para produzir o muco, fazen-
do com que as membranas fiquem vulneráveis à
acção dos ácidos digestivos, provocando primeiro
uma inflamação e por fim, uma lesão nos tecidos
ou úlcera.
Problemas respiratórios – as membranas muco-
sas do trato respiratório são levemente humede-
cidas como protecção contra partículas estranhas
(como pólen e pó) mas também para humedecer
o ar inspirado quando este é muito seco. Na de-
sidratação, porções do trato respiratório secam,
tornando-se menos permeáveis às trocas gasosas
e mais sensíveis aos ataques por agentes externos.
O resultado é uma propensão para tosses, alergias
e outros distúrbios respiratórios que desaparecem
uma vez que se optimize a hidratação.
Desequilíbrio ácido-base – de maneira a que
o organismo trabalhe da melhor forma possível,
deve haver um balanço interno entre substân-
cias ácidas e alcalinas. O estilo de vida e dieta da
maioria das pessoas têm a tendência a acidificar o
ambiente interno celular do corpo, o que pode ori-
ginar inúmeros problemas de saúde. Esta acidifi-
cação é tornada pior com o consumo insuficiente
de água, que limita a redução de substâncias aci-
dificante e produtos metabólicos normais, pelos
órgãos excretórios.
Excesso de peso e obesidade – uma teoria,
poucas vezes mencionada, para o que leva um in-
divíduo a comer mais do que as suas necessidades
fisiológicas, é a sede. Existem duas opções para sa-
tisfazer a sensação de sede, beber líquidos ou co-
mer alimentos ricos em água. Se o indivíduo optar
pela segunda, vai receber os líquidos necessários
mas também um excesso de substâncias nutritivas
de que não precisa e que vão contribuir para o
aumento do peso. É dito que muitas vezes a sede é
confundida com a fome, uma razão possível para
tal é que ao comermos, podemos também saciar
a sede, o que pode gerar um ciclo vicioso, pois
quantos mais alimentos forem ingeridos, maior
é a necessidade de água para produção de sucos
digestivos e reação enzimática de transformação
desses alimentos. Além de redução do volume de
comida, uma maior ingestão diária de água vai tra-
duzir-se numa estimulação dos processos metabó-
licos normais, que vão promover a perda de peso.
Eczema – as glândulas sudoríparas eliminam dia-
riamente entre 6 a 7 decilítros de suor, a quanti-
dade necessária para diluir as toxinas segregadas
de forma a não irritarem a pele. No caso de desi-
8 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 9
dratação crónica, o volume necessário para a pro-
dução de suor é insuficiente, dando origem a um
suor mais concentrado e agressivo, tendo como
consequência irritação e inflamação cutânea,
acompanhada de vermelhidão, comichão, borbu-
lhas e microlesões na pele.
Hipercolesterolemia – o colesterol, necessário
para a construção das membranas celulares, é
constantemente requerido pelas células. No caso
de desidratação, essa necessidade irá aumentar
substancialmente para evitar que as células percam
fluido intercelular excessivamente. Ainda que este
mecanismo compensatório evite males maiores,
um efeito secundário indesejável é o aumento de
colesterol na circulação sanguínea e todos os pro-
blemas de saúde relacionados.
Cistite e Infecções urinárias – caso as toxinas
contidas na urina não estejam devidamente dilu-
ídas, podem prejudicar as membranas urinárias,
criando microlesões que são por sua vez atacadas
por germes, que se multiplicam no local afectado
e originam infecções dolorosas.
Hipo e Hipertensão arterial – é graças à ca-
pacidade de vasoconstrição e vasodilatação dos
vasos sanguíneos que o sistema circulatório é tão
bem adaptado a mudanças no volume de sangue.
No entanto, estas capacidades podem ser usadas
de forma exagerada, o que pode resultar em pro-
blemas de saúde. Quando o corpo lida com um
volume sanguíneo diminuído causado por desi-
dratação, os vasos contraem-se fortemente. Isto
assegura que o volume é suficiente para preencher
os vasos e capilares de forma a não haverem es-
paços vazios. Mas esta vasoconstrição defensiva
pode tornar-se permanente se o corpo sofrer uma
desidratação crónica e o resultado é a hiperten-
são crónica.   Embora a falta de líquidos possa
originar hipertensão, o mesmo se pode dizer do
contrário, com a hipotensão. Esta condição aflige
pessoas cujas capacidades vasoconstritoras estão
diminuídas. Com um volume sanguíneo reduzido,
os vasos vão ser forçados a realizarem a contrac-
ção, uma necessidade que pode ser diminuída com
uma maior ingestão de água, de forma espaçada,
de maneira a não sobretaxar o sistema circulatório.
Problemas articulares – a cartilagem é um tecido
com um elevado teor de água. A sua função é pro-
teger as superfícies dos ossos, impedido que nos
movimentos, haja fricção e dano. Um indivíduo
cronicamente desidratado irá, desenvolver uma
cartilagem mais fina. O resultado é um aumento
de atrito entre os ossos, causando inflamação e
dor. Para além disso, o aumento da concentração
de metabolitos tóxicos na circulação sanguínea e
nos tecidos celulares, causados pela desidratação,
vão aumentar a exposição das articulações a toxi-
nas e outras substâncias irritantes.
O equilíbrio hídrico das crianças depende da ac-
ção da aldosterona e da hormona antidiurética.
Esta é responsável pela manutenção da osmola-
lidade plasmática entre 285 e 295 mOsm/Kg. (G
Rubino, M Salgado, 2009). De acordo com as re-
comendações Autoridade Europeia de Segurança
Alimentar (EFSA, 2010), as crianças com as ida-
des compreendidas no presente estudo, deverão
realizar um consumo diário de 1600 ml/dia para
rapazes e raparigas entre os 4 e 8 anos, bem como
2100 ml/dia para rapazes e1900 ml para raparigas,
ambos entre os 9 e 13 anos.
A ingestão de água do ponto de vista das Terapias
Complementares
A Medicina Ortomolecular e a Naturopatia atuam
essencialmente ao nivel da prevenção primária e
encaram o paciente como um todo, ou seja, como
sendo um conjunto que deve funcionar em har-
monia. Dessa forma é possível encontrar a origem
dos problemas e encontrar o caminho para a ho-
meostase. Quando existem alterações metabólicas
(desequilíbrios orgânicos) que levam ao quadro de
“doença”, os nutrientes são utilizados de forma a
restabelecer o equilíbrio, através da utilização de  
substâncias e elementos naturais, onde se inclui a
água. A ingestão de água, em jejum, permite cor-
rigir uma possível desidratação desencadeada no
período de sono. Cerca de 30 minutos antes das
refeições e/ ou após as refeições (cerca de duas
horas e meia depois de uma refeição) poderá auxi-
liar o funcionamento do aparelho digestivo, faci-
litar a transformação e assimilação dos nutrientes.
A hidratação antes e durante o exercício permite
repor as perdas resultantes do desgaste muscular e
suor (José Macieira, 2009).
■■ Objectivos do Trabalho
O presente estudo surge no âmbito do trabalho
final da disciplina de Dietoterapia e Nutrição, do
curso de Naturopatia, do Instituto Português de
Naturologia – Polo de Lisboa. O estudo foi re-
alizado pelos alunos do 2º ano, com o objectivo
de caracterizar os hábitos de ingestão de água
em crianças do 3º e 4ºanos do 1º ciclo do Con-
celho de Santarém.
Algumas considerações foram tomadas em con-
sideração na definição do objectivo deste estudo,
designadamente:
a)	 As crianças ativas que brincam quando está
calor, podem perder grandes quantidades de
água, através do suor, e por vezes estão tão dis-
traídas a brincar e esquecem-se de ingerir água;
b)	 Alguns estudos (European Hydration Ins-
titute, 2014); indicam que a ingestão adequa-
da de agua pelas crianças pode ajudá-las a ter
melhores resultados a nivel da aprendizagem,
aumentando os niveis de concentração e me-
mória em curto prazo;
c)	 A Autoridade Europeia para a Segurança
dos Alimentos (European Food Safety Au-
thority – EFSA, 2010) concluiu que a ingestão
de água recomendada em crianças entre 4 e 8
anos é de 1,600 ml/dia e de 2,100 ml/dias para
rapazes e 1,900 ml para meninas, ambos entre
9 e 13 anos.
d)	 Apesar de as Balanças Alimentares Portu-
guesas fornecerem estimativas do consumo, a
partir das disponibilidades dos alimentos e dos
Inquéritos Nacionais de Saúde fornecerem
informação sobre o consumo alimentar indi-
vidual de alguns alimentos, estas informações
são insuficientes para se conhecer a real ten-
dência do consumo e dos padrões alimentares
da população portuguesa, no caso particular
relativamente ao consumo de água (Lopes et
al., 2006).
■■ Material e Métodos
Foi elaborado um questionário de administração
direta, de natureza confidencial e com respostas
fechadas, o qual foi aplicado aos alunos dos 3.º
e 4.ºs anos, do 1.º ciclo das escolas do concelho
de Santarém. A seleção do concelho seleccionado
para o desenvolvimento deste estudo prendeu-se
com conveniência de residência dos alunos des-
tacando-se a excelente colaboração e empenho,
manifestados pela Câmara Municipal de Santa-
rém, nomeadamente pela Divisão de Educação e
Juventude, contribuindo desse modo, para o êxito
do trabalho realizado.
O trabalho de campo realizou-se no período com-
preendido entre os dias 26 de Maio e 5 de Junho
de 2014, tendo sido efetuado um pedido de au-
torização prévia aos respetivos Agrupamentos de
Escolas e tendo-se obtido o consentimento por
parte dos encarregados de educação. Foram distri-
buídos 1000 questionários, tendo sido recolhidos
485, que correspondem aos alunos cujos encarre-
gados de educação autorizaram a participação no
presente estudo.
A amostra não inclui crianças com idades inferio-
res a 6-7 anos, na medida em que, em idades mais
jovens, as crianças não conseguem conceptualizar
a noção real de tempo e por isso a avaliação do
seu consumo alimentar tem que ser recordada
através das suas famílias (Livingstone, Robson,
 Wallace, 2004). Para além disso, embora tenho
sido contemplado o parâmetro da idades superior
10 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 11
a 10 anos, este fator foi limitado com a determi-
nação do ano escolar, pois acima desta faixa etária
as necessidades energéticas e nutricionais e hídri-
cas aumentam consideravelmente ((Wrieden et al.,
2008). A análise estatística dos dados foi realizada
através do programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS).
No questionário foram colocadas 16 perguntas
fechadas (cada uma, de escolha múltipla): Idade/
Sexo/ Bebes água?/Se não bebes água, que bebi-
das bebes?/ Qual a água que bebes mais?/ Qual é
a água que gostas mais?/ Qual a quantidade, mais
ou menos, de água que bebes por dia?/ Onde
bebes mais água?/ Qual a altura do dia em que
bebes mais?/ O que é que bebes às refeições?/
Costumas beber água da torneira em casa?/ Cos-
tumas beber água engarrafada em casa?/ Das
águas engarrafadas que existem, quais são as que
mais bebes?/ Escolhes sempre a mesma marca
de água engarrafada?/ Costumas encher garrafas
com água da torneira para levares contigo?/ Na
tua casa bebes água da torneira filtrada?
■■ Resultados e Discussão
Das 485 crianças participantes, 250 (51,6%) eram
do sexo masculino e 234 (48,2%) do sexo femi-
nino (1 criança, correspondente a 0,2% não res-
pondeu), bem como 96% das crianças apresentava
idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e
4% tinha mais de 10 anos.
 À pergunta “Bebes água?”: Das 485 crianças,
472 (97,5%) responderam afirmativamente e ape-
nas 12 (2,5%) responderam que não.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 100 (98%) crianças bebem
água e apenas 2 (2%), não bebem;
-9 anos de idade: 229 (95,8%) crianças bebem
água e 10 (4,2%) não bebem;
-todas as crianças com 10 anos de idade (126), as-
sim como as crianças com mais de 10 anos de ida-
de (17), responderam afirmativamente à pergunta.
 31,8% das crianças inquiridas desconhecem a
quantidade de água ingerida.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 11 (10,8%) crianças bebem 2 co-
pos de água (0,4L), 25 (24,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 17 (16,7%) crianças be-
bem 6 copos de água (1L), 17 (16,7%) crianças
bebem 8 copos de água (1,5L);
-9 anos de idade: 35 (14,6%) crianças bebem 2 co-
pos de água (0,4L), 49 (20,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 43 (18%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 31 (13%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
-10 anos de idade: 11 (8,7%) crianças bebem 2 co-
pos de água (0,4L), 22 (17,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 39 (31%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 18 (14,3%) crianças bebem
8 copos de água (1,5L);
- 10 anos de idade: 2 (11,8%) crianças bebem 2
copos de água (0,4L), 2 (11,8%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 4 (23,5%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 4 (23,5%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 34 (13,6%) crianças bebem 2 copos
de água (0,4L), 46 (18,4%) crianças bebem 4 co-
pos de água (0,7L), 57 (22,8%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 42 (16,8%) crianças bebem
8 copos de água (1,5L);
-feminino: 25 (10,7%) crianças bebem 2 copos de
água (0,4L), 52 (22,2%) crianças bebem 4 copos
de água (0,7L), 47 (20,1%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 28 (12%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
 À pergunta “O que bebes às refeições?”: 347
(71,5%) bebem água, 88 (18,1%) bebem sumos e
néctares, 38 (7,8%) bebem refrigerantes, 6 (1,2%)
bebem leite e 5 (1%) não bebem às refeições (1
não respondeu correspondendo a 0,2%).
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 82 (81,2%) crianças bebem
água, 15 (14,9%) bebem sumos e néctares, 2 (2%)
bebem leite e 2 (2%) bebem refrigerantes;
-9 anos de idade: 171 (71,5%) crianças bebem
água, 48 (20,1%) bebem sumos e néctares, 15
(6,3%) bebem refrigerantes, 3 (1,3%) não bebem
às refeições e 2 (0,8%) bebem leite;
-10 anos de idade: 84 (66,7%) crianças bebem
água, 21 (16,7%) bebem sumos e néctares, 18
(14,3%) bebem refrigerantes, 2 (1,6%) bebem leite
e apenas 1 (0,8%) não bebe às refeições;
- 10 anos de idade: 9 (52,9%) crianças bebem
água, 4 (23,5%) bebem sumos e néctares, 3
(17,6%) bebem refrigerantes, e apenas 1 (5,9%)
não bebe às refeições;
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 166 (66,7%) crianças bebem água,
53 (21,3%) bebem sumos e néctares, 21 (8,4%) be-
bem refrigerantes, 6 (2,4%) bebem leite e 3 (1,2%)
não bebem às refeições;
-feminino: 180 (76,9%) crianças bebem água, 35
(15%) bebem sumos e néctares, 17 (7,3%) bebem
refrigerantes e 2 (0,9%) não bebem às refeições.
 À pergunta “Se não bebes água, que bebidas
bebes?”: 121 (24,9%) bebem leite. 83 (17,1%) be-
bem sumos e néctares, 28 (5,8%) bebem refri-
gerantes, 7 (1,4%) bebem chá e 7 (1,4%) bebem
outras bebidas.
 Inquiridos sobre o tipo de água engarrafada
que mais ingerem: 423 (87,2%) crianças respon-
deram – água sem gás.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 94 (92,2%) crianças bebem
água sem gás, 2 (2%) crianças bebem água com
gás, 1 criança respondeu que bebe água com sabo-
res e apenas 1 criança ingere bebidas desportivas.
Neste grupo, apenas 4 crianças não ingerem água
engarrafada.
-9 anos de idade: 197 (82,4%) crianças bebem
água sem gás, 5 (2,1%) crianças bebem água
com gás, 4 (1,7%) crianças responderam que inge-
rem água com sabores, 12 (5%) crianças ingerem
bebidas desportivas. Neste grupo, 21 (8,8%) crian-
ças não ingerem água engarrafada.
-10 anos de idade: 117 (92,9%) crianças bebem
água sem gás, 3 (2,4%) crianças bebem água
com gás, 2 (1,6%) crianças responderam que inge-
rem água com sabores, 1 (0,8%) crianças ingerem
bebidas desportivas. Neste grupo, 3 (2,4%) crian-
ças não ingerem água engarrafada.
-10 anos de idade: 14 (82,4%) crianças bebem
água sem gás, 1 (5,9%) crianças responderam
que ingerem água com sabores, 1 (5,9%) crianças
ingerem bebidas desportivas, 1 (5,9%) crianças
não ingerem água engarrafada.
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 214 (85,6%) crianças bebem água
sem gás, 7 (2,8%) crianças ingerem água com
gás, 6 (2,4%) crianças bebem água com sabores,
10 (4%) crianças ingerem bebidas desportivas e 13
(5,2%) não bebe água engarrafada.
-feminino: 208 (88,9%) crianças bebem água
sem gás, 3 (1,3%) ingerem água com gás, 2
(0,9%) água com sabores, 5 (2,1%) crianças inge-
rem bebidas desportivas, 16 (6,8%) não bebe água
engarrafada.
 Inquiridos sobre o número de vezes que en-
chiam a garrafa de água em casa: 72 (28,8%)
rapazes responderam que enchiam a garrafa de
água muitas vezes, 89 (35,6%) responderam às
vezes, 50 (20%) enchem a garrafa poucas vezes
e 39 (15,6%) nunca enchem a garrafa com água.
Em relação às meninas: 83 (35,5%) enchem a
garrafa com água muitas vezes; 66 (28,2%) en-
chem apenas às vezes, 51 (21,8%) enchem poucas
vezes e 34 (14,5%) nunca enchem.
 Para aquelas crianças que responderam ter
água filtrada em casa, foi-lhes perguntado onde
bebiam mais água: 150 (71,9%) responderam
que bebiam mais água em casa, 54 (24,4%) res-
ponderam na escola, apenas 8 (3,6%) ingerem
água, noutros locais.
12 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 13
Considerando as recomendações da EFSA, que preconizam um consumo diário de água, para as crianças
com as idades compreendidas no presente estudo, de 1600 ml/dia para rapazes e raparigas entre os 4 e 8
anos, bem como 2100 ml/dia para rapazes e 1900 ml para raparigas, ambos entre os 9 e 13 anos. O presente
estudo verificou que uma grande parte dos participantes (31,8%) não tem noção da quantidade de água in-
gerida diariamente e, por outro, a totalidade dos participantes não bebe quantidade adequada e suficiente de
água por dia, como se pode ver no gráfico apresentado em baixo.
Gráfico 1 – Distribuição de respostas à pergunta
“Qual a quantidade, mais ou menos, de água que bebes por dia? (n=485)”
Torna-se ainda importante referir, neste contexto, que, de acordo com o European Hydratation Institute, a
avaliação cognitiva da disponibilidade de instalações sanitárias pode desempenhar um papel na decisão sobre
quando e onde ingerir líquidos, apesar da presença dos sinais fisiológicos da sede.
Estudos recentes (Simon Thornton, 2010; Bonnet F et al, 2012; Stookey JD et al, 2012) demonstram que
uma elevada osmolaridade urinária, em crianças em idade escolar quando chegam à escola, constitui um
sinal de desidratação, sugerindo que um acesso limitado às instalações sanitárias poderá ser um dos factores
que influencia as crianças quanto à altura de ingestão de líquidos. Poderá sugerir-se que, nos seres humanos,
parece existir uma forma de controlo cognitivo na resposta aos sinais de sede e que talvez esta capacidade de
se sobrepor aos sinais de sede leve a que, a longo prazo, exista uma incapacidade de detetar os sinais de sede
corretamente, fazendo com que alguns indivíduos permaneçam hipohidratados durante longos períodos de
tempo ao longo da vida (Simon Thornton, 2010). De acordo com os resultados obtidos neste estudo, rela-
tivamente à questão sobre o local onde os participantes bebem mais água, 72,05% das crianças respondeu
“em casa”, sendo que, apenas 24,02% afirmaram beber mais água na escola. Este facto suscita a necessidade
de uma análise mais cuidada deste assunto. Considerando que uma boa hidratação é importante para a saúde
física e mental, e que o cérebro representa apenas 2% do peso corporal, mas recebe 20% do fluxo sanguíneo
(European Hydration Institute, 2014); quando o organismo se encontra desidratado, o volume de sangue
diminui, existindo uma possivel diminuição da quantidade de oxigénio e dos nutrientes vitais ao cérebro.
Assim, a realização de tarefas físicas e mentais poderá ser afetada negativamente. De acordo com (European
Hydration Institute, 2014), a perda de cerca de 1-2% do peso corporal – desde 500 ml a 2 litros – pode fazer
com que as crianças se sintam menos alerta, com dificuldades de concentração, mais cansadas e com cefaleias.
Um dado relevante do estudo prende-se com a ingestão de água durante o exercício físico. No âmbito da
pergunta: “em que altura do dia bebes mais água”, embora 47,11% dos inquiridos afirmasse beber água
durante todo o dia, apenas 18,8% das crianças afirmaram fazê-lo durante o exercício físico, como se pode
constatar no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Distribuição de respostas à pergunta
“Qual a altura do dia em que bebes mais? (n=485)”
Como referido, a desidratação que se produz durante o exercício físico, pode ser reduzida ou evitada através
da ingestão de quantidades suficientes de água durante ou antes das atividades físicas, momento em que se
produz a perda de água. Durante o exercício, a ingestão de líquidos deve ser regular, mas a frequência da in-
gestão e a quantidade consumida dependem de fatores, como a intensidade e duração do exercício e as condi-
ções meteorológicas, bem como as características físicas do indivíduo, incluindo o peso corporal e as caracte-
rísticas individuais de sudação (European Hydration Institute, 2014); Em climas muito quentes e húmidos, os
desportos de exterior devem ser realizados no início da manhã ou no final da tarde, e é recomendável evitar
esforços físicos desnecessários durante as horas mais quentes do dia (European Hydration Institute, 2014).
14 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 15
Estes dados serão relevantes no âmbito do plane-
amento das aulas de educação fisica nos horarios
escolares. Quando se pratica exercício por curtos
períodos de tempo ou a baixa intensidade, como
é o caso das crianças que compõem o universo do
inquérito aqui analisado, a ingestão de água é uma
opção perfeitamente adequada.
■■ Conclusão
Apesar das limitações do presente estudo, nome-
adamente, a falta de caracterização social, econó-
mica e grau de escolaridade dos projenitores dos
inquiridos, a limitação da amostra a uma determi-
nada área geográfica e terem sido consideradas vá-
lidas todas as respostas dos inquiridos, foi possível
constatar a relevância do tema junto desta faixa
etária. Não se pretende, que o presente estudo se
baste a si mesmo, muito pelo contrário. Pretende-
mos que ele seja um ponto de partida para poste-
riores estudos e investigações sobre uma matéria
que pautamos de particular importância, quer na
área da prevenção, quer do tratamento de diversas
patologias. Esta preocupação tem vindo a ser ma-
nifestada ao nivel da Europa, estando a Comissão
Europeia, a levar a efeito uma consulta sobre a
política da água potável da UE, de forma a verifi-
car onde é possível efectuar melhorias (Comissão
Europeia, 2014)
A constatação, no presente estudo, de um baixo
consumo de água fora de casa, nomeadamente
na escola, da baixa ingestão de água na hora do
exercício físico e do facto de a maioria dos inquiri-
dos não ter noção da quantia de ingestão diária de
água, poderá constituir um indicador da necessi-
dade de um reforço de informação e sensilibiliza-
ção para este tema, junto da comunidade escolar,
de forma a prevenir eventuais repercussões de
uma deficiente hidratação.
O acompanhamento aos alunos e respectivas fa-
mílias, no que respeita aos hábitos de ingestão de
água e o planeamento do consumo de água em pe-
ríodos em que se acentue a actividade física e men-
tal, poderá constituir uma aposta numa estratégia
eficaz de promoção da ingestão adequada de água
entre as faixas etárias dos alunos do 3ºe 4º anos
do 1º ciclo, inclusivamente através da inclusão
deste tema nos programas curriculares, associan-
do a actividades estimulantes, e ao mesmo tempo
educativas nesta área. Deste modo um Naturopata
poderá surgir como elemento contribuinte na deli-
neação, implementação e avaliação dessas mesmas
estratégias.
║║ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•	Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg , 2010, Water, hydration, and health ,
Nutrition Reviews, Volume 68, Issue 8, pages 439–458, August 2010, disponível em http://www.
microsofttranslator.com/bv.aspx?from=to=pta=http%3A%2F%2Fwww.ncbi.nlm.nih.gov%
2Fpmc%2Farticles%2FPMC2908954%2F%23R1
•	Batmanghelidj, Fereydoon. You’re Not Sick, You’re Thirsty!: Water for Health, for Healing, for
Life. Warne5 Books, New York, 2003
•	Bonnet F, Lepicard EM, Cathrin L, Letellier C, Constant F, Hawili N, Friedlander G. French chil-
dren start their school day with a hydration deficit. Ann Nutr Metab 2012;
•	Comissão Europeia, Relatório de síntese sobre a qualidade da água para consumo humano na UE,
que analisa os relatórios dos Estados-Membros para o período de 2008-2010, em conformidade
com a Diretiva 98/83/CE, COM(2014) 363 final, disponível em:http://ec.europa.eu/environ-
ment/water/waterdrink/pdf/report2014;
•	EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA); Scientific Opinion on Dietary
reference values for water. EFSA Journal 2010; 8(3):1459. [48 pp.]. doi:10.2903/j.efsa.2010.1459.
Disponível em: www.efsa.europa.eu
•	Evaristo Eduardo de Miranda, Água na natureza, na vida e no coração dos homens. Campinas,
2004;
•	Gina Rubi, Manuel Salgado, O equilíbrio da água no organismo, 2009;
•	José Macieira, Calor, Desidratação e Degradação Muscular no Exercício, 2009;
•	Kathleen M. Zelman,6 Reasons To Drink Water, WebMD Archive, 2008;
•	Livingstone, M. B. E., Robson, P. J., Wallace, J. M. W. (2004). Issues in dietary intake assessment of
children and adolescents. British Journal of Nutrition, 92 (Suppl 2), S213-S222;
•	Lopes, C., Oliveira, A., Santos, A. C., Ramos, E., Gaio, A. R., Severo, M., Barros, H. (2006). Con-
sumo alimentar no Porto. Porto: Carla Lopes;
•	O equilíbrio da água no organismo, Gina Rubi, Manuel Salgado, pag.99., 2009
•	Simon Thornton, Professor in Neurosciences at the Faculty of Sciences, University of Lorraine,
Nancy, France, 2010;
•	Stookey JD, Brass B, Holliday A, Arieff A. What is the cell hydration status of healthy children in
the USA, Preliminary data on urine osmolality and water intake. Public Health Nutr 2012;
•	Vasey, Christopher. The Water Prescription: For Health, Vitality, and Rejuvenation. Healing Arts
Press, Vermont, 2006.
•	Website da European Hydratation Institute, 2014
•	Wrieden, W. L., Longbottom, P. J., Adamson, A. J., Ogston, S. A, Payne, A., Haleem, M. A., Bar-
ton, K. L. (2008). Estimation of typical food portion sizes for children of different ages in Great
Britain. British Journal of Nutrition, 99, 1344-1353;
PALAVRAS-CHAVE:
Água, Crianças, Hábitos de consumo, Nutrição, Naturopatia.
16 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 17
O PAPEL DA FÁSCIA
na Medicina Chinesa
Parte 1
Paola Augusta Kemenes
paola_augusta@hotmail.com
Resumo:
Durante décadas a comunidade científica vem buscando encontrar a explicação científica para o fun-
cionamento da acupunctura, e a falta de respostas durante este tempo trouxe a esta prática milenar
um olhar de desconfiança do Ocidente. Na última década, com a evolução dos estudos sobre o tecido
conjuntivo e seu papel no organismo, muitos pontos começam a ser esclarecidos. Esta revisão mostra
em 2 partes, as mais recentes descobertas que colocam a fáscia como a base física e energética para
o funcionamento da acupunctura. Nesta 1ª parte apresentam-se os estudos sobre o papel da fáscia
no DeQi e na localização dos pontos de acupunctura e em uma próxima edição a 2ª parte mostrará
a revisão sobre o trajecto dos meridianos. Com esta informação, mostra-se a acupunctura por uma
visão palpável e compreensível para a mente ocidental relacionando esta prática milenar a estruturas
anatómicas, mostrando assim que o uso da acupunctura pode estar perfeitamente inserido na prática
da medicina moderna.
* Síntese curricular:
Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizona.
Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa pelo Ins-
tituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura.
■■ Introdução
Há mais de 100 anos atrás, quando o Ocidente
descobriu a Medicina Tradicional Chinesa, ou
quando Andrew Taylor Still fundou a Osteopa-
tia (Still abriu a American School of Osteopathy em
1892), a fáscia era vista somente como um tecido
de proteção e sustentação, um tecido que envolvia
outros tecidos. Na verdade, em latim clássico o
termo “fáscia” significa banda (um longo e estrei-
to pedaço de material).  
O estudo da fáscia não avançou durante muito
tempo já que sua observação em cadáveres estava
longe de refletir a complexidade do seu papel no
organismo. Na verdade a própria fragilidade da
fáscia, sendo um tecido finíssimo tornava quase
impossível um estudo mais aprofundado.
Nas últimas décadas do século XX, a quantidade
de estudos sobre a fáscia aumentou significativa-
mente, sendo que estes estudos nos mostraram
que este tecido tem um papel bastante mais com-
plexo e abranjente no organismo, sendo essencial
para o crescimento e suporte do mesmo. No pri-
meiro International Fascia Research Congress em 2007,
a fáscia foi definida como: “a componente de tecido
mole do tecido conjuntivo que permeia o corpo, formando
uma matriz contínua, tridimensional que dá suporte es-
trutural a todo o corpo. Ele interpenetra e envolve todos
os órgãos, músculos, ossos e fibras nervosas, criando uma
integração para o funcionamento dos sistemas do corpo.”
(Findley  Shalwala, 2013)
A fáscia promove suporte mecânico, movimento,
transporte de fluidos, transporte celular, contro-
la o metabolismo em outros tecidos e fornece
ao corpo globalidade. Ao conectar todo o corpo
em uma rede única sem interrupções, a fáscia é
o tecido capaz de transmitir informações a lon-
ga distância. O equilíbrio e a integridade da fáscia
refletem-se na homeostase do organismo ou no
desequilíbrio do mesmo.
Provavelmente o termo globalidade, ou rede única
sem interrupções, ou ainda outros termos indi-
cando a capacidade deste tecido percorrer todo o
corpo chamou a atenção de alguns membros da
classe científica, especialmente os ligados a estu-
dos de circulação de energia no corpo e os ligados
a terapias manuais e holísticas.
Em 2000, em seu livro Energy Medicine, James Osh-
man diz que a trama do tecido conjuntivo é uma
rede de comunicação semicondutora que pode
transportar sinais entre todas as partes do corpo,
e ainda tem a capacidade de gerar energia já que
cada movimento e cada compressão do corpo faz
com que a grade cristalina do tecido conjuntivo
gere sinais bioelétricos. Assim qualquer movimen-
to do corpo produz e faz circular energia e infor-
mações. (Oschman, 2000)
Esta capacidade condutora da fáscia desperta a
atenção de outro grupo de pesquisadores: aque-
les que há décadas vinham tentando perceber o
mecanismo de funcionamento da acupunctura no
organismo, sem conseguir esclarecer totalmente
este mecanismo.
Não é nenhuma surpresa que o Ocidente tenha
dificuldade em aceitar qualquer metodologia que
não possa ser explicada em termos palpáveis. Li
Ping, em seu livro “El Gran Libro de la Medici-
na China” diz sobre este assunto: “enquanto no
Oriente os conceitos podem ser abstratos, no Oci-
dente existe uma necessidade de bases palpáveis e
científicas para que qualquer método de trabalho
tenha credibilidade” (Li Ping, 2002)
A fáscia, segundo mostram os estudos mais re-
centes (Myers, 2009; Findley, 2012; Langevin,
2009), pode ser uma espécie de “elo perdido” nos
estudos sobre o funcionamento da acupunctura,
esclarecendo alguns conceitos em uma lingua-
gem palpável, de fácil compreenssão para a mente
ocidental, o que auxilia sobremaneira a aceitação
desta metodologia nos países Ocidentais, especial-
mente pela comunidade médica.
Com os dados obtidos nestes estudos mais recen-
tes, pode-se dizer que a fáscia (rede de tecido con-
juntivo) é a estrutura física por onde passa o Qi. É
sobre este tecido que estão localizados os canais
energéticos ou meridianos, e quando algo não está
bem com a fáscia o organismo irá estar em dese-
quilíbrio (Langevin e Yandow, 2002).
Em condições normais a fáscia deve ser flexivel e
deslizante. As restrições e aderências na fáscia que
podem ocorrer por stress, traumatismos, más pos-
turas, etc, tornam a fáscia mais rígida e encurtada,
levando a dor, restrição de movimentos e mau
funcionamento dos órgãos. Qualquer problema
na fáscia afeta e muitas vezes cria problemas de
saúde para os quais não existe qualquer explicação
dentro dos métodos de diagnóstico da Medicina
Ocidental.
Os desequilíbrios da fáscia não aparecem em exa-
mes e métodos complementares de diagnósticos,
e podem ser a razão pela qual, já há milhares de
anos a Medicina Chinesa saber avaliar os desequi-
líbrios do corpo antes mesmo destes tornarem-se
18 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 19
perceptíveis. Assim, apesar da acupunctura e das
descobertas mais recentes sobre o tecido conjun-
tivo e seu papel no corpo estarem separados por
milhares de anos, a acupunctura e a fáscia parecem
estar intimamente relacionadas.
■■ A Acupunctura e o Ocidente – A
Necessidade de Confirmação
A acupunctura começou a ser praticada com mais
ênfase no ocidente a partir da década de 60, e a
medida que a acupunctura vai conquistando espa-
ço como uma opção terapêutica, cresce o interesse
e a necessidade de explicar esta metodologia em
termos científicos. No ocidente o método cientí-
fico visa dar objetividade as nossas observações
empregando a experimentação com controlo de
alguns parâmetros enquanto se investigam outras
variáveis.
Na área da saúde normalmente os estudos seguem
duas linhas: o estudo dos mecanismos de ação e
a eficácia terapêutica, e no caso da acupunctura
ambos trouxeram grandes dificuldades para a co-
munidade científica. Neste trabalho nos interessa
o papel da fáscia no mecanismo de ação da acu-
punctura e por isso os trabalhos sobre a eficácia
terapêutica poderão ser consultados em outras
fontes.
Até antes de 2000, os trabalhos existentes podem
a grosso modo ser divididos em 3 grandes grupos:
os estudos de anatomia; o modelo neuroquímico
e o modelo bioelétrico (Jayasurya, 1995; Lewith,
1985):
1.	 Estudos de anatomia – envolvendo normal-
mente dissecação anatómica, onde os cientis-
tas procuraram relacionar a anatomia do cor-
po, tanto macroscópica como microscópica,
em busca de estruturas que correspondessem
aos meridianos e aos pontos de acupunctura.
Diversos trabalhos conseguiram relacionar
grande parte dos pontos de acupunctura com
o sistema nervoso. Observações microscópi-
cas demonstraram que nas regiões dos acu-
puntos existem numerosos ramos nervosos,
plexos e terminações neurais. Estes estudos
falharam porém na compreenção das estrutu-
ras envolvendo os meridianos.
2.	 Modelo neuroquimico ou neurohumoral
– envolve o efeito mais estudado da acupunc-
tura, o efeito analgésico. Este modelo mostra
que a acupunctura estimula a produção de
substâncias como endorfinas e serotoninas ou
estimula a ligação destas substâncias a seus re-
ceptores, no entanto, a sua explicação para os
efeitos sistémicos da acupunctura carece ainda
de confirmação.
3.	 Modelo bioelétrico – este modelo surgiu
quando as análises anatomicas foram incapa-
zes de explicar os meridianos da acupunctura
e seu trajecto. O modelo bioelétrico revelou
que as  áreas cutâneas onde se situam os pon-
tos de acupuntura, assim como a trajetória dos
canais energéticos, apresentam maior conduti-
vidade elétrica.  A base deste modelo foi a já
descoberta ligação dos pontos de acupunctura
com áreas de concentração do sistema nervo-
so. O funcionamento do sistema nervoso, cria
um campo eletromagnético, pois a condução
dos impulsos nervosos envolve uma grande
movimentação de íons a pequenas distâncias e
cargas elétricas oscilando que geram um cam-
po eletromagnético.  
Apesar de estes modelos de estudo evidenciarem
e esclarecerem algumas das propriedades terapêu-
ticas da acupunctura, longe estão de substanciar
muitos dos resultados obtidos pelos acupuntores.
Por exemplo, o modelo bioeléctrico não é capaz
de explicar porque o sinal causado pela estimula-
ção de um ponto de acupunctura chega ao córtex
visual no cérebro mais rapidamente do que seria
capaz  através dos circuitos neurológicos conheci-
dos, mostrando que provavelmente o sinal utiliza
outras vias de transmissão  (Mattos, 2010).
Uma série de estudos no final do século XX se-
guem mostrando o papel do tecido fascial na acu-
punctura, e os cientistas viram aqui uma possibili-
dade de através desta relação responder a dúvidas
no mecanismo de funcionamento da acupunctura
que nunca tinham ficado totalmente clarificadas
nos modelos de estudo usados anteriormente.
Esta revisão pretende mostrar estes novos concei-
tos e novas relações entre o conhecimento Oci-
dental e a filosofia Oriental.
■■ A Fáscia
A palavra fáscia, usada no singular por ser um te-
cido único, representa um conjunto membranoso
muito extenso no qual tudo está ligado em conti-
nuidade, uma entidade funcional que traz globa-
lidade ao organismo. Este tecido se espalha por
todo o corpo, formando uma rede ou teia contí-
nua desde o alto da cabeça até a ponta dos dedos
dos pés, envolvendo   fibras musculares, grupos
musculares, vasos sanguíneos, nervos, e todos os
componentes do corpo, desde grandes órgãos até
a mais pequena célula formando o tecido conjun-
tivo, que representa 70% dos tecidos do corpo
humano  (Bienfait,  2004). Promove suporte me-
cânico, movimento, transporte de fluidos, trans-
porte celular, controla o metabolismo em outros
tecidos e fornece ao corpo globalidade.  É preciso
ter a noção inequivoca que este tecido fornece in-
tegridade ao organismo, sem a qual seríamos um
aglomerado de células e tecidos desorganizados e
sem comunicação entre si.
O tecido conjuntivo é formado pelas células do
tecido conjuntivo e por sua matriz extracelular,
sendo que ao contrário de outros tecidos como
a pele, ou os músculos que dependem prioritaria-
mente das suas células constituintes, as proprie-
dades do tecido conjuntivo dependem principal-
mente da quantidade, tipo e organização da sua
matriz extracelular, formada por fibras (colágeno
e elastina), proteinoglicanos, glicoproteinas e líqui-
do lacunar. Com exceção do líquido lacunar, todas
as outras substâncias são sintetizadas pelas célu-
las do próprio tecido conjuntivo, os blastos, cuja
nomenclatura varia dependendo da localização do
tecido (osteoblastos, fibroblastos, condroblastos,
etc.) (Bienfait, 2004;  Culav et al., 1999).
A matriz extracelular formada então pelas proteí-
nas estruturais fibrosas (colágeno e elastina), pelas
glicoproteínas adesivas e pelo gel de proteinogli-
canos,  é mais abundante que as próprias células
do tecido conjuntivo. É a matriz que  determina as
propriedades físicas do tecido e a forma do mes-
mo em cada local e  regula a actividade de suas
próprias células. Essencial ainda é que a matriz
extracelular distribui as tensões dos movimentos e
da gravidade pelo corpo, gerando equilíbrio ou de-
sequilíbrio, ou na linguagem da Medicina Chinesa
saúde ou doença.
■■ Colágeno e Elastina
O colágeno e a elastina são as duas fibras prin-
cipais da matriz extracelular. A proporção entre
colágeno e elastina varia dependendo da localiza-
ção do tecido conjuntivo, sua função principal e
estímulos externos sobre este tecido.
A elastina, proteína de longa duração, é estável e
tem baixa taxa de renovação. É responsável pela
maior parte da elasticidade dos tecidos permitindo
aos seus filamentos deformarem-se quando ten-
sionados, podendo estender-se 150% e retomar
sua forma anterior. Não é conhecido qualquer
mecanismo que  estimule a produção de elastina,
mas sabe-se que a quantidade de elastina encon-
trada no tecido reflete a quantidade de stress me-
cânico imposto a este e a solicitação de deforma-
ção reversível (Culav et al., 1999).
O colágeno,  proteína de curta duração, modifi-
ca-se a vida toda. É secretado de acordo com a
tensão produzida pelo tecido. Tensões mais pro-
longadas levam a deposição de colágeno em série
e assim os feixes de tecido conjuntivo ficam mais
longos, já tensões curtas e intermitentes densifi-
20 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 21
cam o colágeno e sua deposição dá-se em para-
lelo formando feixes conjuntivos mais resistentes
e compactos, porém com menos elasticidade.
Quanto mais feixes de colágeno o tecido tiver,
menos elástico ele será. De qualquer forma a ca-
pacidade de alongamento do colágeno é bastante
restrita, menos de 10%  (Mattos, 2010).
Esta capacidade de modificação das fibras de
colágeno parece ser a grande responsável pelos
desequilíbrios no organismo, já que uma das ca-
racterísticas fundamentais da fáscia é que o menor
tensionamento, seja ele activo ou passivo, repercu-
te sobre o conjunto. Todas as peças anatómicas do
corpo desta forma estão ligadas entre si. As fibras
de colágeno tornam-se mais densas numa tenta-
tiva de defenderem o tecido de tensões, e desta
forma o tecido fica mais sólido e menos elástico,
deixando de cumprir sua função mecânica e rece-
bendo desta forma uma maior carga de tensões,
voltando a se densificar. Além da redução na mo-
bilidade e na elasticidade, a densificação do colá-
geno deixa as fibras mais largas e reduz o espaço
extracelular prejudicando a circulação dos fluidos  
(Culav et al., 1999).
■■ Proteinoglicanos
Segundo componente mais abundante na matriz
extracelular. São macromoléculas solúveis com
um papel estrutural e metabólico. Algumas fun-
ções metabólicas importantes destas moléculas
são a hidratação da matriz, a manutenção da esta-
bilidade da rede de colágeno e assim a habilidade
de resistir a forças de compressão (Bienfait, 2004;
Culav et al., 1999).
Os proteinoglicanos ligam-se de forma covalente
a uma ou mais cadeias de glicosaminoglicanos. As
cadeias de glicosaminoglicanos tem carga negati-
va e criam um potencial osmótico que faz com
que a matriz extracelular absorva água das áreas
envolventes o que auxilia na manutenção da hidra-
tação da matriz, sendo que o grau de absorção vai
depender do número de cadeias de glicoproteínas
no tecido. O tecido conjuntivo vai ter mais destas
cadeias de glicoproteínas e portanto mais hidrata-
ção quanto mais sujeito for a cargas de compres-
são como é por exemplo o caso das articulações.
Desta forma os proteinoglicanos tem a função de
dar rigidez a matriz extracelular, resistindo a com-
pressão e preenchendo espaços.
Existem fortes evidências mostrando que a altera-
ção da fisiologia do tecido conjuntivo associada ao
stress mecânico, provoca uma mudança da quan-
tidade e do tipo de cadeias de proteinoglicanos,
o que altera também a forma habitual do tecido
(Bienfait, 2004).
■■ Glicoproteínas e Integrinas
As glicoproteínas assim como os proteinoglicanos
possuem papel estrutural e metabólico no tecido
conjuntivo. Formam o muco de tecidos e secre-
ções. Estas moléculas tem um importante papel
em promover a conecção entre os componentes
da matriz celular e entre o interior das células e a
matriz extracelular. Através deste papel, tem uma
importante função de regulação, sendo capazes de
promover mudanças não só no formato das célu-
las, como na proliferação e diferenciação celular  
(Ingber, 1998).
As integrinas constituem a principal família de
receptores da superfície celular que intervém na
fixação da célula à matriz extracelular. A impor-
tância das integrinas é reforçada pelas funções
que desempenham numa ampla variedade de
processos bilógicos. As integrinas transmitem
informações de tensão e compressão da matriz
extracelular para o interior das células inclusive
para o núcleo, e com isso regulam a organização
do citoesqueleto e modulam processos celulares
como proliferação e diferenciação celular, migra-
ção e posicionamento das células, ou simpesmente
o tamanho e formado das mesmas (Dieter, 2005).
■■ Fluido Intersticial e Circulação
de Água Livre
O fluido intersticial preenche todos os espaços
livres entre as células do tecido conjuntivo, entre
os feixes de colágeno e entre a rede de elastina.
Este líquido, possui intensa actividade metabólica
com importante papel na nutrição dos tecidos e na
eliminação de substâncias. É a partir deste líquido
que se forma a linfa  (Moore e Persaud, 2005).
Como foi colocado anteriormente, a densifica-
ção dos feixes de colágeno em resposta a tensões
constantes, reduz o espaço extracelular e conse-
quentemente o volume disponível para a circula-
ção do fluido intersticial.
Pelo fluido intersticial ocorre a circulação de água
livre, diferente da circulação de fluidos chamada
circulação de água associada. A circulação de água
livre é uma circulação rápida, que ocorre utilizan-
do as mucinas hidrófilas dos feixes de colágeno
como “conductos”, uma vez que a fisiologia das
mucinas permite trocas osmóticas mediante alte-
ração de densidade no meio interno. Marcell Bien-
fait diz sobre esta circulação: “...Não é ridículo
pensarmos que essa circulação vital poderia ser
a circulação energética dos acupuntores. Ambas
as circulações de água livre e de água associada,
dependem do movimento da fáscia e confirmam
a noção de globalidade deste tecido” (Bienfait,
2004).
■■ A Fáscia e a Sensação de De Qi
Um dos fenômenos ligados a prática da acupunc-
tura e que intriga os cientistas há décadas é a cha-
mada sensação de De Qi. Esta sensação é descrita
de muitas formas pelos pacientes: na forma de
ardor, pressão, choque, calor, etc e muitos auto-
res consideram o De Qi essencial para o resultado
positivo da prática da acupunctura. Enquanto o
paciente sente o De Qi, o terapeuta sente como se
o tecido em volta da agulha se tivesse contraído e
segurasse a agulha com mais força, sendo que este
efeito biomecânico do De Qi pode ser chamado
de compressão da agulha (needle grasp 1
) (Helms,
1995).
Durante algum tempo a explicação fisiológica para
a compressão da agulha era a contração da mus-
culatura esquelética (Gunn e Milbrandt, 1977) o
que entretanto não era suportado pelos resultados
quantitativos das pesquisas, já que a compressão
da agulha acontecia mesmo em locais onde não
há musculatura esquelética como no pulso ou em
punturas superficiais apenas atingindo a pele. No
início dos anos 2000, Helene Langevin e sua equi-
pa na Universidade de Vermont, começaram a tra-
balhar com uma nova proposta:  a de que o tecido
envolvido na compressão da agulha era o tecido
conjuntivo  (Langevin et al., 2001).
Langevin propôs que a compressão da agulha
se dá porque as fibras de colágeno e elastina do
tecido conjuntivo se enrolam e comprimem a
agulha durante a rotação da mesma. Desta forma
uma ligação mecânica entre tecido e agulha é es-
tabelecida e um sinal mecânico é transmitido. A
subsequente tradução deste sinal mecânico para a
resposta celular pode explicar os efeitos locais e
distais da acupunctura.
O enrolar das fibras do tecido conjuntivo ao redor
da agulha, resulta numa grande ampliação da co-
nexão mecânica entre a agulha e o tecido conjun-
tivo no local da inserção. 	 Existe porém logo
no início da inserção, uma força que estimula as
fibras a começarem a se enrolar na agulha, sen-
do que esta força parece ser derivada da tensão
superficial da agulha, somada a atração elétrica
(Langevin et al., 2001). Uma vez que o tecido
conectivo é formado por células envolvidas pela
matriz extracelular contendo fibras de colágeno
e elastina associadas a glicoproteinas e proteino-
glicanos de carga negativa (Aumailley e Gayraud,
1998), a atração elétrica deve ocorrer entre o metal
da agulha e as cargas do tecido. Esta força de atra-
1	 Nos trabalhos científicos utilizados neste capítulo o termo utilizado
pelos autores é “needle grasp”, que traduzi como compressão da agulha
na falta de um termo mais correcto, já que o termo grasp ilustra melhor
a capacidade do tecido em envolver a agulha durante o estímulo da acu-
punctura.
22 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 23
ção é fraca, mas com força suficiente para iniciar o enrolamento das fibras na agulha especialmente dado ao
pequeno diâmetro da mesma.
Uma vez que a agulha de acupunctura esteja acoplada ao tecido, os movimentos feitos na agulha  enviam
um sinal através do tecido conjuntivo pela deformação da matriz extracelular como mostra a Figura 1 e a
Figura 2.
Langevin observou que depois da manipulação da agulha, as fibras de colágeno estavam mais retas, mais pró-
ximas e mais paralelas. É esta alteração no formato das fibras que causa uma transmissão de sinal mecânico
através da matriz extracelular e através do citoesqueleto dos fibroblastos e de outras células do tecido que
sofrem uma reorganização activa, este sinal atinge o interior das células, o que deve contribuir para os efeitos
terapêuticos da acupunctura (Lavengin et al, 2007). A reorganização do citoesqueleto em resposta ao sinal
mecânico recebido pela matriz extracelular pode induzir contração celular, migração ou síntese de proteínas
(Maniotis et al., 1997).
A tradução do sinal mecânico para o interior das células com a subsequente resposta celular e seus efeitos em
cadeia, podem explicar o porquê dos tratamentos de  acupunctura terem efeitos que duram por muitos dias
ou semanas, ou mesmo resolvem o problema de forma permanente.
Figura 1: A imagem da esquerda mostra a inserção da agulha no tecido conjuntivo e a
direita mostra que com a rotação da agulha as fibras de colágeno representadas pelo ama-
relo enrolam-se na agulha. Os fibroblastos são atraídos por este sinal mecânico e o sinal chega ao
citoesqueleto representado pela área rosa  escuro da figura  (Langevin et al., 2001).
Figura 2: Formação de uma espiral no tecido conjuntivo com a rotação da agulha em tecido conjuntivo observado ao
microscópio. Os números de 0 a 7 mostram o número de rotações efectuadas na agulha  (Langevin e Yandow, 2002).
Além da acupunctura, outras formas de terapia manual tem a capacidade de causar deformação no tecido
conjuntivo, e assim produzir um sinal mecânico pelo tecido. Uma das técnicas dentro da Medicina Chinesa
com esta capacidade além da acupunctura é o Gua Sha, usado pelos terapeutas para aplicar força de com-
pressão ao paciente. Esta aplicação de força concentrada e localizada não é possível apenas com as mãos. A
estimulação mecânica feita neste caso nos tecidos moles, resulta em uma produção de factores mecânicos de
crescimento que activam e modificam células musculares e o tecido conjuntivo (Findley et al., 2012)
■■ A Fáscia e os Pontos de Acupunctura
O ideograma Chinês que representa o ponto de acupunctura também significa “buraco”, o que dá a idéia
que os pontos são como fendas no tecido onde a agulha pode penetrar mais profundamente e ter acesso a
componentes mais profundos do tecido (O’Connor e Bensky, 1981) (Figura 3).
Figura 3: ideograma Shu simplificado, usado de
maneira geral para representar todos os pontos do
corpo. O termo Shu tem diversas representações e
diversos significados. (Zhang, 2006)
24 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 25
Os textos de acupunctura mais recentes relacionam a localização dos pontos a estruturas anatómicas e me-
didas específicas, mas apesar destas referências a melhor forma de encontrar o ponto exacto é através da
palpação, durante a qual o acupuntor procura por uma depressão leve ou mesmo pela sensação de ceder do
tecido a uma pressão suave (Langevin e Yandow, 2002).	
Tradicionalmente a acupunctura é feita em pontos específicos do corpo, os pontos de acupunctura ao longo
de meridianos descritos á milhares de anos. Muitos destes locais como os estudos anteriores mostram resi-
dem sobre lâminas de tecido  fascial entre os músculos ou entre músculos e tendões. Seguindo esta estrutura,
quando a agulha é inserida no ponto correcto, irá penetrar primeiro através da derme e tecido subcutâneo
e em seguida no tecido conjuntivo intersticial, enquanto que por outro lado se a agulha for inserida fora do
ponto correcto irá penetrar a derme e o tecido subcutâneo e depois chegar a uma estrutura como um osso
ou um músculo, como mostra a imagem na Figura 3
Figura 3: O ponto VB 32 (Zhongdu) situado no tecido conjuntivo de conexão entre os músculos
bíceps femoral e vasto lateral, e em preto o ponto de controle. Da mesma forma na figura da
direita o IG 14 (Binao) entre os planos fasciais e o ponto de controle (Lavegin e Yandow , 2002)
Helene Lavegin analisou imagens de cortes transversais do braço  com a localização de pontos dos  3 me-
ridianos Yin que por aí passam (Coração, Pulmão e Pericárdio) e dos 3 meridianos Yang (Intestino Grosso,
Intestino Delgado e Sanjiao) e verificou que 80% dos pontos de acupunctura deste meridianos localizam-se
em clivagens de planos fasciais, onde a agulha ao ser inserida encontrará uma maior quantidade de tecido
conjuntivo em relação aos pontos de controle.
James Fox junto com Helene Lavegin, em 2008 (Fox et al., 2008) fez um estudo através de imagens de ul-
trasom durante a puntura no ponto VB 32 (Zhongdu) e num ponto controle próximo (Figura 3). Para evitar
qualquer alteração mecânica na puntura, a mesma foi feita de forma computadorizada, por isso sempre igual
em todos os locais.
Os resultados deste trabalho mostraram que a capacidade das fibras do tecido conjuntivo se enrolarem na
agulha de acupunctura é maior no ponto de acupunctura em relação ao ponto controle, e que o estímulo
mecânico criado pela agulha, se propaga por mais tempo e a maior distância no ponto de acupunctura.
■■ A Fáscia e o Trajecto dos Meri-
dianos
Os meridianos tão procurados por anatomistas,
parecem afinal estar relacionados a linhas miofas-
ciais de tensão criadas ao longo do corpo.
Este tema ficará para a 2ª parte desta revisão, onde
se irá destacar o trabalho de dois autores que pa-
recem ser se não os únicos, mas os primeiros a
desenvolver um conceito mais profundo relacio-
nando a fáscia com a regulação e movimentação
do corpo, assim como com o equilíbrio do corpo
de forma global.	
Phillip Beach é um Osteopata australiano que na
década de 80 começou a estudar Medicina Tra-
dicional Chinesa e desenvolveu alguns conceitos
interessantes sobre os meridianos da acupunctura.
Em seu livro “Muscles an Meridians – The Manipu-
lation of Shape”, Beach diz que os meridianos são
linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura
anatómica, alguns seguem em linha reta, outros
em zigue-zague. Nesta altura este autor já suge-
ria que os meridianos deveriam seguir as linhas da
fáscia, porém ele próprio comenta que uma vez
que a fáscia está em toda a parte, naquela altura
esta afirmação acabava significando zero. (Beach,
2010)
Uma década depois, outro terapeuta, Thomas
Myers que nos anos 90 ensinava Anatomia Mio-
fascial no Instituto Rolf começou a  exclarecer o
paradigma de Beach e mostrar que apesar da fáscia
estar em todo o corpo e em cada célula, a pos-
sibilidade de relação com os meridianos da acu-
punctura era real. Myers começou a desenvolver
junto com seus alunos um trabalho exaustivo na
área das cadeia miofascia.  Nesta altura todos os
livros mostravam a teoria de músculos individual-
mente, mas Ida Rolf dizia sempre que tudo estava
conectado através da fáscia.  Este trabalho resul-
tou na publicação em 2001 da primeira edição de
seu livro “ Anatomy Trains”. Myers, desenvolveu as
relações diretas e indiretas entre músculos e movi-
mentos, e no seu trabalho mostra que estes “meri-
dianos” ou trilhos miofasciais formam linhas pelo
corpo por onde são distribuidas trações, tensões,
fixações, compensações e a maioria dos movimen-
tos do corpo. Ao todo Myers descreve 12 linha
tensionais que se interconectam e dão sustentação
biomecanica a todo corpo2
.  (Myers, 2009)
Um dos fundamentos básicos utilizados por
Myers para definir os trilhos miofasciais foi a di-
recção e profundidade das fibras fasciais encon-
tradas. Segundo ele, os trilhos miofasciais devem
prosseguir em uma direção e profundidade con-
sistente através de conexão directa pela membra-
na fibrosa ou indirecta, conectadas por meio de
uma junção óssea interposta. Mudanças bruscas
de direção  ou profundidade acabariam por anular
a capacidade do trilho miofascial em transmitir a
tensão para o próximo elo da cadeia. Segundo a
noção de globalidade da fáscia, qualquer lesão no
trilho miofascial pode gerar problemas em toda a
cadeia e atrapalhar a transmissão de tensão. Em
termos clínicos, ele conduz a um entendimento
diretamente aplicável de como problemas doloro-
sos em uma área do corpo podem estar ligados
a uma região totalmente “silenciosa” e até certo
ponto distante desse problema. Dessa forma o co-
nhecimento dos trilhos permite ao terapeuta defi-
nir uma estratégia de tratamento global em todo o
trilho afetado, uma estratégia holística.
O conceito de que a fáscia conecta o corpo como
um todo em uma trama sem fim não é antagô-
nico ao conceito músculo – osso apresentado na
descrição anatómica usual, ao contrário, é comple-
mentar. Quando uma parte do corpo se movimen-
ta, o corpo responde como um todo e funcional-
mente o único tecido ao qual se pode atribuir essa
resposta é o tecido conjuntivo.
Phillip Beach corrobora este conceito em sua te-
oria de “campos contrácteis”, onde desenvolve
um modelo de compreensão biomecânica de todo
o corpo, não só da musculatura, mostrando que
2	 Para evitar equivocos, uma vez que Myers chama suas linhas de me-
ridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome
de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os me-
ridianos da medicina chinesa.
26 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 27
cada célula individual tem elementos contrácteis,
já que tudo está envolvido pela fáscia, sugerindo
que desde a pressão sanguínea até a função dos
rins afeta os padrões de movimento e forma do
corpo. Desta forma o modelo de Beach segue me-
nos a anatomia da fáscia (como o de Myers) e mais
a lógica dos movimentos, relacionando posturas
corporais com a facilidade em palpar os pontos
correspondentes a determinados meridianos da
acupunctura e sua relação superficial e profun-
da. Em seu trabalho Beach mostra ainda como a
punctura de certos pontos altera a posição subtil
do corpo e diz que a escolha dos pontos é uma
maneira de manipular a forma, sendo que forma e
função estão profundamente correlacionadas.
Ambos os autores citam-se mutuamente em seus
trabalhos e comentam não só a estreita relação
entre os conceitos que desenvolveram sugerindo-
-os como complementares, como ainda a relação
entre seus trabalhos e a Medicina Chinesa.
■■ Conclusão
Nesta primeira parte da revisão sobre o papel
da fáscia na Medicina Chinesa, pode-se ver que
apesar de a  acupunctura e as descobertas mais
recentes sobre o tecido conjuntivo e seu papel no
corpo estarem separados por milhares de anos, a
acupunctura e a fáscia parecem estar intimamente
relacionadas.
Actualmente os estudos mostram que funcional-
mente a rede de tecido conjuntivo não promove
apenas suporte para o corpo, mas também man-
tém o balanço do organismo ao regular os reflexos  
neurais, a actividade neuroendócrina, a imunidade e
através da reparação de danos em células e tecidos.
Desta forma coloca-se a hipótese de que existe um
sistema de auto vigilância no corpo humano que
difere essencialmente dos nove sistemas funcionais
(sistema digestivo, nervoso, respiratório, circulató-
rio, estrutural, glandular, urinario, imunológico e
linfático) que regula através da fáscia o equilíbrio e
a homeostase do organismo  (Wang, 2007).
Partindo-se do princípio que mesmo uma ener-
gia subtil precisa de um meio físico para fluir e
se manifestar, e baseado nos estudos que foram
apresentados, pode-se definir que a fáscia é a base
física por onde o Qi circula, e suas fibras são es-
senciais para a transmissão do sinal de acupunctu-
ra tanto em termos locais como à distância, pode-
mos dizer que a condição da fáscia será essencial
para um bom fluxo de Qi no organismo.
Em termos funcionais, a fáscia molda e dá forma
ao corpo. A estrutura da fáscia aumenta a resis-
tência, melhora a circulação sanguínea e absorve
choques, além de manter o corpo estruturado,
protegido e lubrificado. Permite que a estrutura
corpórea se mova facilmente, deslizando as lâmi-
nas fasciais uma sobre a outra à medida que nos
dobramos e nos movemos.
As restrições e aderências na fáscia e entre os te-
cidos adjacentes, como no caso de traumatismos,
stress, processos inflamatórios, cirurgias, más pos-
turas, etc, torna a fáscia mais sólida e encurtada,
criando pressões em áreas sensíveis, levando à dor,
restrições de movimento e mau funcionamento
dos órgãos. Num trauma ou irritação o corpo cria
um tecido cicatricial para ajudar a reparar e a imo-
bilizar a área, tal qual uma bandagem. Ela liga as
estruturas como se fosse uma cola e se torna parte
estrutural da fáscia. A porção da fáscia que forne-
ce  lubrificação para a mobilidade, agora pode tor-
nar-se uma substância pegajosa e sólida. Isto pode
inibir a circulação do sangue e da linfa, reduzir os
movimentos do corpo, inibir a força dos músculos
e comprometer as funções orgânicas. O fluxo de
Qi será debilitado ou irregular e desequilíbrios irão
aparecer no organismo. Estudos mostraram que
pacientes com dores lombares crônicas possuem
a fáscia na região lombar mais densa e com fibras
mais desorganizadas do que pacientes sem dor
lombar (Langevin et al., 2009).
Temos que nos lembrar que a fáscia é continua
ao longo do corpo, assim como a circulação de
Qi, assim quando uma seção dela se retrai ou fica
imobilizada, pode afetar outras áreas ou mesmo
afetar o corpo inteiro já que o suave fluxo de Qi
ficará comprometido. Da mesma forma quando
um bloqueio  ou uma cicatriz  é tratada, ela libera
o fluxo de energia, transmissão nervosa e circula-
ção sanguínea.
A circulação de água pela fáscia é essencial para
a saúde do próprio organismo, assim como a hi-
dratação da própria fáscia, uma vez que a matriz
extracelular deve estar banhada pelo fuido inters-
ticial. Assim quando este aspecto do corpo não
está bem, surgem bloqueios e com eles sinais de
desequilíbrio do organismo. Edemas que surgem
pela imobilização, manchas na pele, espinhas, fu-
rúnculos, vermelhidão, são exemplos de estase do
líquido lacunar; dores agudas sem gravidade, do-
res que se irradiam ou ‘queimam’, a retração e o
encurtamento muscular, são bloqueios da fáscia.
Marcell Bienfait diz que a osteoartrose (densifi-
cação, calcificação e degeneração da cartilagem)
ocorre pelo mal funcionamento da bomba articu-
lar causada pela perda da elasticidade cápsulo-liga-
mentar-comum no processo de envelhecimento e
pela ociosidade do homem moderno. De facto o
próprio processo de envelhecimento do homem
é a densificação progressiva do tecido conjun-
tivo, reduzindo o volume dos espaços lacunares
e a circulação dos fluídos (Bienfait, 2004), o que
na Medicina Chinesa chamamos de vazio de Yin
causado pela idade e esgotamento dos fluidos or-
gânicos.
A acupunctura é capaz de proporcionar uma al-
teração no tecido fascial através do enrolamento
das fibras de colágeno ao redor da agulha e da ca-
deia de eventos gerados por esta transmissão de
sinal mecânico. Ainda está por ser determinado a
maneira como cada uma das diferentes formas de
manipulação da agulha de acupunctura afecta as
diferentes respostas celulares possíveis.
A conexão entre mente e corpo tão importante na
Medicina Chinesa e por tanto tempo deixada de
lado pela medicina Ocidental é fundamental para
o bom funcionamento da fáscia e consequente-
mente a boa circulação do Qi. Imagine-se no papel
dos pulmões tentando respirar plenamente numa
pessoa deprimida, curvada, sobre tensão. Imagi-
ne-se no papel dos rins tentando filtrar o sangue
quando os seus ductos e vasos internos tem o es-
paço limitado porque a postura está contraída ou
o corpo caído para baixo. Imagine-se no papel do
fígado tentando purificar o sangue e eliminar de-
tritos tóxicos ou metabólicos enquanto seu dono
está frustrado, enrijecido e afundado na cadeira.
Ajustar a postura corporal, trabalhar a mente de
forma positiva otimiza todos os aspectos do fluxo
natural interior, o fluxo de Qi melhora quando se
relaxa a postura corporal e aquieta a consciência e
esta capacidade de trabalhar em conjunto corpo
e mente é fundamental na Medicina Chinesa, nas
Artes Marciais e em todas as terapias holísticas.
PALAVRAS-CHAVE:
Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.
28 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 29
║║ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•	Aumailley, M., e Gayraud, B. (1998) “Structure and biological activity of the extracellular matrix”.
Journal of Molecular Medicine  76: 253–265.
•	Beach, Phillipe Muscles and Meridians, the manipulation of shape.  Elsevier Healthy Scienses,
2010  
•	Bienfait, Marcel Fáscias e Pompages – Estudo e tratamento do esqueleto fibroso. 3ª edição,  Sum-
mus Editorial,  São Paulo, 2004.
•	Culav E.M., Clark C.H. e Merrilees M.J. (1999) “Connective tissues: matrix composition and its
relevance to physical therapy”. Physical Therapy.  79: 308-319.
•	Dieter, Monica “Ação do Medicamento Canova na Cicatrização do Dorso de Camundongo após
Incisão e Sutura”. Dissertação de Mestrado, Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2005.
•	Findley T., Chaudhry H., Stecco A. e Roman M. (2012) “Fascia Science and Clinical Applications:
Mathematical Fascial Modelling.” Journal of Bodywork  Movement Therapies 16:  67-75.
•	Findley T., Shalwala M. (2013) “The Fascia Research Congress from the 100 year perspective of
Andrew Taylor Still.” Journal of Bodywork and Movement Therapies 17(3):356-364.
•	Fox, J.R., Stevens-Tuttle D. e Langevin, H.M.  (2008) “Mechanical response of fascia associated
with acupuncture meridians during acupuncture needling”. Journal of Bodywork and Movement
Therapies 12: 260.
•	Gunn, C.C., e Milbrandt, W.E. (1977). “The neurological mechanism of needle grasp in acupunc-
ture”. American  Journal of Acupunture  5: 115-120.
•	Helms, Joseph  “Acupuncture Energetics-A Clinical Approach for Physicians.” Thieme Publi-
shers,  Nova York, 1995.
•	Ingber Donald.  “The architecture of life”. Scientific American, janeiro de 1998: 48-57.
•	Jayasurya, Anton (1995) As Bases Científicas da Acupuntura.  Rio de Janeiro, Sohaku Edições.
•	Langevin, H.M., Churchill, D.L., e  Cipolla, M.J. (2001). “Mechanical signaling through
•	connective tissue: a mechanism for the therapeutic effect of acupuncture.” FASEB Journal  15
(12): 2275-2282.
•	Langevin, H.M. e  Yandow, J.A. (2002)  “Relationship of Acupuncture Points and Meridians to
Connective Tissue Planes.”  The  Anatomical Record (New Anat.) 269: 257–265.
•	Langevin H.M., Bouffard N.A., Churchill D.L. e Badger, G.J. (2007) “Connective Tissue Fibro-
blast Response to Acupuncture: Dose-Dependent Effect of Bidirectional Needle Rotation.” Jour-
nal of Alternative and Complementary  Medicine.  13:  355–360.
•	Langevin, M.H., Tuttle, D.S., Fox, J.R., Badger, G.J., Bouffard, N.A., Krag, M.H., Wu, J. e Henry,
S.M. (2009) “Ultrasound evidence of altered lumbar connective tissue structure in human subjects
with chronic low back pain.” BMC Musculoskeletal Disorders 10:  151-160.
•	Lewith, George   “Acupuncture: Its Place in Western Medical Science.” Thorsons Publishers,
Nova York,  1985.
•	Li Ping  “El Gran Libro de la Medicina China.” 2ª edição Ediciones Martinez Rocas, Barcelona,
2002.
•	Maniotis, A. J., Chen, C. S. e Ingber, D. E. (1997) “Demonstration of mechanical connections
between integrins, cytoskeletal filaments, and nucleoplasm that stabilize nuclear structure.” Proce-
edings of the National  Academy of Science. 94 : 849–854.
•	Mattos, Filipe “Fáscia Estudo Físico e Energético.” Centro de Estudos de Medicina Tradicional
e Cultura Chinesa, São Paulo, 2010.
•	Moore, K. L. e PERSAUD, T. V. N. “Embriologia básica. “ 6ª. edição, Elsevier, Rio de Janeiro,
2005.
•	Myers, Thomas “Anatomy Trains – Myofascial Meridians for Manual and Movement Therapist”.
2a edição, Churchill Livingstone,  Londres, 2009.
•	O’Connor J e Bensky D. “Acupuncture, a comprehensive text (Shanghai College of Traditional
Medicine).”  Eastland Press,  Seattle, 1981.
•	Oschman, James “Energy Medicine – The Scientific Basis.” Churchill Linvingstone,  Londres,
2000.
•	Wang J.,  Dong, W.R., Wang, C.L., Yao, D.W., Zhao, B.L., Shen, B.L., Yang, L.L., Yuan, L. (2007)  
“From meridians and acupoints to self-supervision and control system: a hypothesis of the 10th
functional system based on anatomical studies of digitized virtual human.”  
•	Journal of South Medical University,  5: 573-579 .
•	Zhang, Shegxing “ Origem e significado dos nomes dos pontos de acupuntura” Editora Roca,
São Paulo, 2006.
30 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 31
Aplicação da anestesia
com acupuntura numa
endodontia
Paciente com nevralgia do trigémeo (NT) bilateral
Nuno Pacheco, André Santos *
profnunopacheco@gmail.com, andresantos_ref@hotmail.com
Resumo:
A paciente, uma mulher de 51 anos, apresentava um quadro clinico com diagnóstico raro de nevral-
gia do trigémeo (NT) bilateral com sintomatologia dolorosa na zona do dente 17. Foi realizada a
endodontia com a técnica anestésica por acupuntura e electroestimulação. Nenhuma outra forma de
anestesia química foi utilizada neste procedimento.
Tendo como base a teoria básica da MTC, o protocolo utilizado foi: ID18 (Quanliao),  E3 (Juliao),
4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e Shenemen de auriculoterapia. A corrente elé-
trica escolhida foi a denso-dispersa, própria para analgesia.
Após 15 minutos, foram feitos os testes de sensibilidade (negativos), iniciou-se o procedimento en-
dodôntico. A zona a tratar estava analgesiada e a dor da NT não foi ativada.
Conseguiu-se uma analgesia completa da zona a tratar, permitindo assim que o tratamento em causa
fosse realizado. Não foram registados os efeitos adversos da anestesia química por infiltração, nome-
adamente, a boca dormente, alergia à anestesia química, dor pós operatória.
Num caso complexo como este de NT bilateral, a anestesia por electroacupuntura, foi a opção mais
vantajosa para a paciente.
* Síntese curricular:
Nuno Pacheco - Licenciado em Ciências religiosas, pela UCP, Diplomado em MTC, Aromoterapia, reflexologia, Auriculo-
terapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC, às disciplinas de Estrutura de meridianos e localização de Pontos (EMLP) e
Nutrição e Dietética, na perspetiva oriental(NUD). Exerce funções de terapeuta de MTC em várias Clinicas Médicas e de
medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais, autor de artigos em revistas da
especialidade, vice-Presidente da Assembleia Geral da Apsana.
André Santos - Diplomado em MTC, Shiatsu, reflexologia, Auriculoterapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC às discipli-
nas de auriculoterapia, Shiatsu e acupuntura. Pós-graduação em acupuntura pelo IPN. Exerce funções de terapeuta de MTC
em várias Clinicas Médicas e de medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais,
autor de artigos em revistas da especialidade; Presidente da Assembleia Geral da Apsana.
■■ estudo de caso ■■ Definição de endodontia
Endodontia é a ciência que envolve a etiologia, a
prevenção, o diagnóstico e o tratamento das alte-
rações patológicas da polpa dentária e das suas re-
percussões na região periapical e, por consequên-
cia, no organismo (Leonardo, M.R., 2008).
Do ponto de vista etimológico, endodontia é
a especialidade da odontologia que se ocupa do
interior do dente, mais especificamente, de um
tecido conectivo muito especifico que só se en-
contra nos dentes, conhecido por polpa dentária
(Rodrigues-Ponce, 2003). É na parte da polpa,
onde se encontram as terminações nervosas e a ir-
rigação sanguínea do dente, que se centra o maior
interesse da endodontia, também conhecida por
desvitalização, termo que por vezes está incorreto,
pois o dente já não tem vida.
O elevado grau de conhecimentos sobre as ca-
racterísticas anatómicas dos dentes e o aperfei-
çoamento da técnica manual para compensar a
inacessibilidade visual que se tem do local a tra-
balhar, exige que a endodontia implique uma série
de fases que, a serem ignoradas, podem tornar um
tratamento endodôntico aparentemente simples,
em algo difícil e, muitas vezes, impraticável. (Bra-
mante, M.B.,2004).
É de salientar que qualquer tratamento endodôn-
tico pode apresentar complicações ou mesmo aci-
dentes, que necessitarão de outro tipo de interven-
ções (Andretta, 2009).
■■ Nevralgia do trigémeo (NT):
breve resumo
A nevralgia ou neuralgia do trigémeo apresenta
um quadro clinico típico e característico, que é di-
fícil confundir com odontalgias (Loeser, 1985;Tei-
xeira, 1997; Siqueira, 2003).
A NT é uma síndrome de dor cronica, carateriza-
da por paroxismos de dor excruciante nos lábios,
gengivas, bochechas, queixo e muito raramente na
região enervada pela divisão oftálmica do quinto
par craniano. A dor da NT afeta de maneira dra-
mática a qualidade de vida dos pacientes acometi-
dos (Alves, 2004).
A dor é desencadeada por toque em determinados
pontos, pontos gatilho, ou por ações como lavar
os dentes, mastigar ou pode mesmo ser espontâ-
nea. Pode ter uma frequência elevada, sendo capaz
de repetir até 100 vezes por dia, o que leva a uma
incapacidade total. A maioria dos pacientes define
a dor como que relâmpagos que atacam a face,
nomeadamente a zona da maça do rosto, perto do
nariz ou área da mandibula.
Muitas teorias foram propostas para explicar a fi-
siopatologia da NT, mas nenhuma explica todos
os aspetos clínicos desta condição. (Alves, 2004).
A NT tem um diagnóstico difícil, pois a ausên-
cia de testes laboratoriais e anátomo-fisiológicos
objetivos e o amplo espetro de síndromes de dor
facial, tornam esta patologia difícil de diagnosti-
car para não-especialistas (Alves, 2004). Segundo
Alves (Alves,2004), o diagnóstico da NT depende
estritamente da história clinica e pelo preenchi-
mento dos critérios da IHS – International Hea-
dache Society (Quadro I) e da IASP – Internatio-
nal Association for the Study of Pain.
No caso em estudo, a NT bilateral ainda é mais
rara, o que torna a recolha bibliográfica ainda mais
difícil. O tratamento médico da NT utiliza medi-
camentos antiepileticos (carbamazepina e oxcar-
bazepina, os de primeira escolha) e caso falhem,
poder-se-á recorrer a procedimentos cirúrgicos.  
■■ Acupuntura e analgesia
Embora sendo uma medicina milenar, a acupun-
tura não se pôde incorporar no arsenal terapêutico
ocidental até relativamente pouco tempo (Gau-
dy,2006).
Os tempos mudaram e a pesquisa científica, alia-
da à publicação de vários estudos, fazem, hoje, da
acupuntura uma ferramenta eficaz e de grande
utilidade no campo da anestesia e, com particular
interesse e eficácia, na medicina dentária.
32 	 	 	 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine  | Vol. 2 	 33
Reconhecida quer pela OMS quer por outros or-
ganismos internacionais, a acupuntura e a sua apli-
cação na analgesia tem vindo a crescer e os relatos
apresentados confirmam, mostrando evidências
científicas, a sua eficácia. Graças ao trabalho de-
senvolvido nos últimos anos, à realização de estu-
dos e publicações de estudos efetuados segundo
as exigências da medicina baseada em evidências
(que, contudo, já não deve ter a pretensão de va-
lidar tudo: só reúne 20% do consenso médico) se
pôde incorporar a acupuntura em consultas hos-
pitalares e médicas (Gaudy, 2006).
Não querendo fazer deste trabalho uma longa
abordagem científica exaustiva, tentaremos mos-
trar, através deste caso prático, a aplicabilidade,
com sucesso, da anestesia com acupuntura, na
endodontia, numa paciente com nevralgia do tri-
gémeo bilateral.
Segundo a MTC a nevralgia do trigémeo pode
ter a sua origem na invasão de vento frio na face,
que pode ser facilitada por uma condição preexis-
tente de deficiência de Qi e Xue (ROSS,2005). A
sua origem pode estar relacionada, também, com
problemas de dentes. Segundo Ferreira, (Ferrei-
ra, 2011), a MTC inclui a NT na dor facial e na
odontalgia, sendo consideradas na sua etiologia
as agressões pelas energias perversas vento/frio e
vento/calor ou por subida à extremidade cefáli-
ca do fogo interno que origina uma obstrução na
circulação de Qi e de Xue, causando dor; fogo de
fígado ou fogo de estômago, associados a raiva re-
primida e preocupação, deficiência de Yin de Rim
ou a hábitos alimentares irregulares (Ross,2005).
O seu tratamento em MTC deve ter em conta
simultaneamente quer as ramificações do nervo
trigémeo e quer as causas da nevralgia de base do
diagnóstico em MTC.
Preparação da paciente
Após a recolha de dados da grelha elaborada, pas-
samos para a preparação da paciente, tarefa levada
a cabo pela equipa. Numa primeira fase a medica
dentista abordou a paciente para a possibilidade
de se realizar a anestesia com acupuntura, facto
que a paciente aceitou. De seguida os terapeutas
de acupuntura explicaram todo o procedimento,
detalhadamente. Notou-se alguma apreensão ini-
cial na paciente, que rapidamente, após a explica-
ção de todo o procedimento, ficou mais descon-
traída e confiante no tratamento. De realçar que a
paciente nunca tinha realizado nenhum tratamen-
to de acupuntura e o seu desconhecimento sobre
a terapia poderia ter ajudado a um “ certo medo”,(
palavras da paciente) e alguma desconfiança.
Já na sala onde se iria realizar a endodontia, fo-
ram colocadas as agulhas de acupuntura e ligadas
à máquina de electroestimulação. Foi aplicada
uma corrente denso-dispersa/analgesia. Durante
15 minutos a corrente foi sendo aumentada até
a paciente referir formigueiro na zona a tratar e
uma certa dormência (Ver correntes no ponto
4.3). Neste momento a médica dentista começou
a realizar alguns testes de sensibilidade e perante
os resultados iniciou o procedimento endodônti-
co no dente 17. Durante todo o procedimento foi
realizado shiatsu craniano à paciente, para relaxar.
Material Utilizado
O material utilizado foi escolhido pelas suas carac-
terísticas mais especificas, nomeadamente o tipo
de agulha e a máquina de electroestimulação. Não
apresentaremos o material necessário para a parte
dentária, nem o material de esterilização, pois é su-
posto a sua utilização em qualquer procedimento
endodôntico, tais como luvas, máscaras e demais
acessórios.
O tipo de agulha utilizada foram agulhas filifor-
mes com cânula da medida 0,25x25 mm e 0,13x18
mm de liga metálica e com revestimento de co-
bre, porque a condutividade é melhor, da marca
TEWA, de fabrico chinês e controlo de qualidade
alemão. Esta agulha permite uma inserção rápida,
indolor, na maioria dos casos, de grande resistên-
cia e com uma condutividade excelente.
A máquina de electroestimulação utilizada foi da
marca Hwato, modelo SDZ-IV, digital, de seis ca-
nais de saída, com 3 correntes pré-defenidas: corrente de tonificação, corrente de dispersão e corrente denso-
-dispersa, a utilizada neste caso. O modelo em causa é dos mais atuais do mercado e ofereceu as garantias
exigidas neste trabalho em clinica.
Protocolo de pontos selecionados
A seleção de pontos foi criteriosa, tendo em conta o objetivo principal, a analgesia. Contudo, o facto de a
paciente sofrer de nevralgia do trigémeo bilateral, também pesou na escolha dos pontos de acupuntura.
Tal como diz Jeremy Ross (Ross,2005) a combinação de pontos aqui escolhida não tem a intenção de ser uma
fórmula fixa. São dadas como diretrizes passíveis de modificação de acordo com as necessidades individuais
do paciente e estilo do terapeuta (Ross, 2005).
Certo é que a combinação proposta tem como princípios teóricos de combinação a base da teoria da me-
dicina tradicional chinesa (MTC). Foi ainda utilizado pontos da auriculoterapia, como auxiliar da analgesia.
O protocolo por nós proposto é o seguinte:
ID18 (Quanliao),  E3 (Juliao) ,  4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e shenemen de auricu-
loterapia.
Foto 1: Localização dos pontos de acupuntura (imagem real do caso em estudo)
A escolha destes pontos teve como principal preocupação a analgesia e a patologia da paciente, Nevralgia
do Trigémeo bilateral. Porque se trata de uma área anatómica restrita, não utilizamos muitos mais pontos
que, segundo as suas ações em MTC, poderiam ser úteis num tratamento distinto da patologia da paciente.
Como pontos locais, escolhemos o ponto 18 do ID e o ponto 3 do E.
O ponto 18ID – Quanliao - tem a sua localização na borda inferior do arco zigomático, perpendicular-
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças
Hábitos água crianças

Mais conteúdo relacionado

Destaque

12 cómo leer en voz alta (2)
12 cómo leer en voz alta (2)12 cómo leer en voz alta (2)
12 cómo leer en voz alta (2)Yezz Ortiz
 
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803Jessica Blain-Lewis
 
Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia
 Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia
Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de PsicologiaRafaelFelicianoSilva
 
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologica
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologicaNuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologica
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologicaYezz Ortiz
 
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6Gabriel Araceli
 
An Inspector Calls Act 1 Year 10
An Inspector Calls Act 1 Year 10An Inspector Calls Act 1 Year 10
An Inspector Calls Act 1 Year 10stgregseng
 

Destaque (10)

12 cómo leer en voz alta (2)
12 cómo leer en voz alta (2)12 cómo leer en voz alta (2)
12 cómo leer en voz alta (2)
 
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803
Datascienceforsocialgood humantrafficking-161019202803
 
tips memilih spring bed
tips memilih spring bedtips memilih spring bed
tips memilih spring bed
 
Karla y andrew trabajo
Karla y andrew trabajoKarla y andrew trabajo
Karla y andrew trabajo
 
Presentation1
Presentation1Presentation1
Presentation1
 
Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia
 Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia
Regras do Projeto de Pesquisa Interdisciplinar – Curso de Psicologia
 
Appreciative Inquiry A-Z
Appreciative Inquiry A-ZAppreciative Inquiry A-Z
Appreciative Inquiry A-Z
 
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologica
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologicaNuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologica
Nuestro cambiante mundo y la perdida de la biodiversidad biologica
 
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6
ELECTRÓNICA+RADIO+TV. Tomo I. Lecciones 4, 5 y 6
 
An Inspector Calls Act 1 Year 10
An Inspector Calls Act 1 Year 10An Inspector Calls Act 1 Year 10
An Inspector Calls Act 1 Year 10
 

Semelhante a Hábitos água crianças

Presentation1_050850.pptx
Presentation1_050850.pptxPresentation1_050850.pptx
Presentation1_050850.pptxNewtonMambondo
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentistaCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentistamanoelramosdeoliveir1
 
Slides nhb
Slides nhbSlides nhb
Slides nhbcalinesa
 
Planificação anual cn 6
Planificação anual cn 6Planificação anual cn 6
Planificação anual cn 6Pedro Tonyzinho
 
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...Revista Angolana de Ciências da Saúde
 
Revista diabetes portugual
Revista diabetes portugualRevista diabetes portugual
Revista diabetes portugualSantos de Castro
 
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdf
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdfLIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdf
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdfLeticiaAzambuja
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiro
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiroCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiro
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiromanoelramosdeoliveir1
 
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3Atena Editora
 
Prevenção em odontogeriatria
Prevenção em odontogeriatriaPrevenção em odontogeriatria
Prevenção em odontogeriatriaodontosocial
 
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatria
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em OdontogeriatriaPrevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatria
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatriageriatric
 
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdf
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdfBioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdf
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdfDanielNogueira644164
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux den
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux denCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux den
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux denmanoelramosdeoliveir1
 
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos Atena Editora
 
2021 Jornal de Investigação Médica - v2 n1 vaz de almeida & gomes
2021  Jornal de Investigação Médica  - v2 n1 vaz de almeida  & gomes2021  Jornal de Investigação Médica  - v2 n1 vaz de almeida  & gomes
2021 Jornal de Investigação Médica - v2 n1 vaz de almeida & gomesISCSP
 
2020 JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes
2020  JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes2020  JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes
2020 JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomesISCSP
 
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...MaurenMorrisson
 

Semelhante a Hábitos água crianças (20)

metodologia do trabalho científico 2
metodologia do trabalho científico 2metodologia do trabalho científico 2
metodologia do trabalho científico 2
 
19th Congress of the SPMI
19th Congress of the SPMI19th Congress of the SPMI
19th Congress of the SPMI
 
Presentation1_050850.pptx
Presentation1_050850.pptxPresentation1_050850.pptx
Presentation1_050850.pptx
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentistaCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentista
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao dentista
 
Slides nhb
Slides nhbSlides nhb
Slides nhb
 
Planificação anual cn 6
Planificação anual cn 6Planificação anual cn 6
Planificação anual cn 6
 
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...
A revista angolana de ciências da saúde como contributo para a investigação c...
 
Revista diabetes portugual
Revista diabetes portugualRevista diabetes portugual
Revista diabetes portugual
 
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdf
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdfLIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdf
LIVRO---Agua-tratamento-efluentes-e-lodos.pdf
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiro
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiroCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiro
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao enfermeiro
 
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade 3
 
Prevenção em odontogeriatria
Prevenção em odontogeriatriaPrevenção em odontogeriatria
Prevenção em odontogeriatria
 
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatria
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em OdontogeriatriaPrevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatria
Prevention in Geriatric Dentistry/Prevenção em Odontogeriatria
 
Guia-cistite.pdf
Guia-cistite.pdfGuia-cistite.pdf
Guia-cistite.pdf
 
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdf
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdfBioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdf
Bioquimica-Ilustrada-de-Harper_booksmedicos.org_.pdf
 
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux den
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux denCapacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux den
Capacitacao a distancia para atencao basica hipertensao aux den
 
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos
Tópicos em Nutrição e Tecnologia de Alimentos
 
2021 Jornal de Investigação Médica - v2 n1 vaz de almeida & gomes
2021  Jornal de Investigação Médica  - v2 n1 vaz de almeida  & gomes2021  Jornal de Investigação Médica  - v2 n1 vaz de almeida  & gomes
2021 Jornal de Investigação Médica - v2 n1 vaz de almeida & gomes
 
2020 JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes
2020  JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes2020  JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes
2020 JIM - v1n2 - vaz de almeida & gomes
 
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...
Promoção da saúde oral no idoso não autónomo e institucionalizado - Universid...
 

Último

NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxNR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxWilliamPratesMoreira
 
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus, Estrutura Celular de Célula...
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus,   Estrutura Celular de Célula...BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus,   Estrutura Celular de Célula...
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus, Estrutura Celular de Célula...kassiasilva1571
 
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptx
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptxNR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptx
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptxRayaneArruda2
 
XABCDE - atendimento ao politraumatizado
XABCDE - atendimento ao politraumatizadoXABCDE - atendimento ao politraumatizado
XABCDE - atendimento ao politraumatizadojosianeavila3
 
Processos Psicológicos Básicos - Psicologia
Processos Psicológicos Básicos - PsicologiaProcessos Psicológicos Básicos - Psicologia
Processos Psicológicos Básicos - Psicologiaprofdeniseismarsi
 
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúde
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúdeAula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúde
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúdeLviaResende3
 
aula de codigo de etica dos profissionais da enfermagem
aula de codigo de etica dos profissionais da  enfermagemaula de codigo de etica dos profissionais da  enfermagem
aula de codigo de etica dos profissionais da enfermagemvaniceandrade1
 
Níveis de biosseguranca ,com um resumo completo
Níveis  de biosseguranca ,com um resumo completoNíveis  de biosseguranca ,com um resumo completo
Níveis de biosseguranca ,com um resumo completomiriancarvalho34
 
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfHistologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfzsasukehdowna
 
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICA
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICAPNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICA
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICAKaiannyFelix
 
Encontro Clínico e Operações - Fotos do Evento
Encontro Clínico e Operações - Fotos do EventoEncontro Clínico e Operações - Fotos do Evento
Encontro Clínico e Operações - Fotos do Eventowisdombrazil
 
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALAR
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALARdispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALAR
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALARBelinha Donatti
 
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontia
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontiamedicamentos+periodonti medicamentos+periodontia
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontiaGabrieliCapeline
 

Último (13)

NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxNR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
 
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus, Estrutura Celular de Célula...
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus,   Estrutura Celular de Célula...BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus,   Estrutura Celular de Célula...
BIOLOGIA CELULAR-Teoria Celular, Célula, Vírus, Estrutura Celular de Célula...
 
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptx
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptxNR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptx
NR32---Treinamento-Perfurocortantes.pptx
 
XABCDE - atendimento ao politraumatizado
XABCDE - atendimento ao politraumatizadoXABCDE - atendimento ao politraumatizado
XABCDE - atendimento ao politraumatizado
 
Processos Psicológicos Básicos - Psicologia
Processos Psicológicos Básicos - PsicologiaProcessos Psicológicos Básicos - Psicologia
Processos Psicológicos Básicos - Psicologia
 
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúde
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúdeAula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúde
Aula Processo de Enfermagem na atenção primária a saúde
 
aula de codigo de etica dos profissionais da enfermagem
aula de codigo de etica dos profissionais da  enfermagemaula de codigo de etica dos profissionais da  enfermagem
aula de codigo de etica dos profissionais da enfermagem
 
Níveis de biosseguranca ,com um resumo completo
Níveis  de biosseguranca ,com um resumo completoNíveis  de biosseguranca ,com um resumo completo
Níveis de biosseguranca ,com um resumo completo
 
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfHistologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
 
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICA
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICAPNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICA
PNAB- POLITICA NACIONAL DE ATENÇAO BASICA
 
Encontro Clínico e Operações - Fotos do Evento
Encontro Clínico e Operações - Fotos do EventoEncontro Clínico e Operações - Fotos do Evento
Encontro Clínico e Operações - Fotos do Evento
 
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALAR
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALARdispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALAR
dispneia NA sala emergência E URGENCIA HOSPITALAR
 
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontia
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontiamedicamentos+periodonti medicamentos+periodontia
medicamentos+periodonti medicamentos+periodontia
 

Hábitos água crianças

  • 1. Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia JULHO / 2014 SCIENTIFIC JOURNAL OF REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL Vol. nr.: II | Semestral NATURAL MEDICINE
  • 2. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 3 SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL Diretor: Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva Conselho Científico: Professora Doutora Ana Cláudia Barreira Nunes Professora Doutora Ana Cristina Esteves Professora Doutora Ana Cristina Estrela de O. C. Cordeiro Professor Doutor António José Afonso Marcos Professor Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa Professor Doutor Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso Professor Doutor João Paulo Ferreira Leal Doutor José Maria Robles Robles Professor Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo Maia Professora Doutora Maria Isabel do Amaral A.V. P. de Leão Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva Professor Doutor Miguel Tato Diogo Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves Editor: Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves Depósito legal: Os artigos são da responsabilidade dos seus autores. São reservados todos os direitos. Toda a reprodução, desta revista, seja qual for o meio, sem prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade civil e criminal. Julho/2014 Publicação Semestral Edições: Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia E-mail: sjnaturalmedicine@gmail.com Parceiros e Projetos: e-medico+ Foi divulgado, pela OMS, no início deste ano de 2014, um importante documento intitulado – WHO Traditional Medicine Strategy 2014-2023 – ( "Estratégia da OMS para a Medicina Tradicional 2014-2023" ). Neste documento assinala-se, entre outros aspetos, a necessidade de "estimular a pesquisa estratégica em MT&C, através da disponibilização de apoio para projetos de investigação clínica sobre segurança e eficácia". Ainda, de acordo com este documento, no que se refere à formação e pesquisa científica, faz cons- tar que o número de Estados Membros que oferecem programas de formação de nível superior em MT&C, incluindo licenciatura, mestrado e doutoramento, de nível universitário, aumentaram de ape- nas alguns, para 39 EM, representando 30% dos países participantes do documento (129 países mem- bros). Quanto aos Estados Membros que desenvolvem pesquisa científica em MT&C, em institutos nacionais, o aumento foi de 19 Estados em 1999 para 73 Estados Membros, em 2012. Em Portugal, assinala-se a regulamentação das Terapêuticas Não Convencionais, que vêm reconhecer a autonomia científica e profissional em determinadas áreas naturológicas. Estamos, sem dúvida, a atravessar tempos de grande mudança na história da Medicina Natural. Esta- mos crentes que esta revista está no bom caminho no que se refere à dignificação do estudo e da práti- ca clínica em MT&C. Aberto a todos os investigadores e clínicos estudiosos, o Centro de Investigação em Medicina Natural, a que está associada a Revista, está pronto para aceitar os futuros desafios da nova era da abordagem da saúde. Agradecemos a todos os colaboradores e desafiamos os especialistas em Medicina Natural em inves- tigar e partilhar o conhecimento para que possamos fazer parte dos números a apresentar em 2023, pela OMS. Está lançado o desafio. A Diretora Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva Índice Notas Prévias Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva 3 Editorial Rui Miguel Freitas Gonçalves 4 Hábitos de Ingestão de Água Em crianças do 3º e 4º ano do 1º ciclo do Concelho de Santarém 5 O Papel da Fáscia na Medicina Chinesa Parte 1 16 Aplicação da Anestesia com Acupuntura numa Endodontia - Estudo de Caso 30 A Acupuntura no Tratamento de DTM e Dor Orofacial 38 A Acupuntura Anestésica 60 Membros do Conselho Científico (Resumo Curricular) 85 Normas para Publicação 88 notas prévias
  • 3. 4 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 5 HáBITOS DE INGESTÃO DE ÁGUA Em Crianças do 3 e 4º ano do 1º ciclo do Concelho de Santarém Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins, André Carvalho, Tatiana Brito e Ana Sofia Mil-Homens * aslmh@live.com.pt Resumo: Objectivo: caracterizar os hábitos de ingestão de água em crianças do 3º e 4º ano do 1ºciclo do con- celho de Santarém. Metodologia: A população do estudo foi constituída pelas das crianças inscritas nos 3.º e 4.ºs anos, do 1.º ciclo das escolas do concelho de Santarém. Foi constituído um questionário de administração dire- ta, de natureza confidencial com respostas fechadas. A análise estatística foi realizada através do pro- grama Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, após a recolha de todos os dados. Resultados: Participaram 485 crianças, 96,3% com as idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e 3,5% com mais de 10 anos (um inquirido não respondeu, correspondendo a 0,2%). Dos inquiridos, 51,6% eram do sexo masculino e 48,2% do sexo feminino (um inquirido não respondeu, correspon- dendo a 0,2%). Verificou-se que a maioria das crianças não tem noção da quantidade de água ingerida diariamente, bem como a totalidade dos inquiridos não bebe quantidade adequada e suficiente de água por dia. Constatou-se um baixo consumo de água fora de casa, nomeadamente na escola, assim como baixa ingestão de água na hora do exercício físico. Conclusões: A implementação de programas de informação e sensibilização, junto da aludida comu- nidade escolar poderá prevenir eventuais repercussões de uma deficiente hidratação. * Síntese curricular: Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins e André Carvalho Alunos 2º ano de Naturopatia do Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa Tatiana Brito Docente de Naturopatia e Coordenadora no Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa Ana Sofia Mil-Homens Nutricionista, Docente Responsável pela disciplina de Dietoterapia e Nutrição do Instituto Português Naturologia (IPN) - Polo Lisboa “Knowledge is power. Information is liberating. Education is the premise of pro- gress, in every society, in every family.” (Kofi Annan) A necessidade humana de conhecimento é, por resultar da constante evolução humana, em si mesma infindável. Assim sendo é de forma orgulhosa que lançamos o segundo número da Scientific Journal of Natural Medicine. Continuamos a pretender erguer o edifício do conhe- cimento na área da Medicina Natural e com isto contribuir para a informação do publico em geral con- tribuindo para a evolução no que diz respeito à sua implementação na sociedade Portuguesa e Europeia. Neste número podemos contar com trabalhos de investigação de alta qualidade sobre problemáticas atuais e relevantes na prática clínica em Medicina Natural, produzidos por profissionais reconhecidos da área. É com entusiasmo que acolhemos trabalhos originais que visem elucidar os profissionais de saúde, a comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e formal é de suma importância. Aguardamos a sua contribuição, O Editor Rui M. Gonçalves, PhD editorial
  • 4. 6 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 7 ■■ Introdução A água é uma substância química indispensável à vida. As adaptações críticas atravessam uma ma- triz de espécies, incluindo o homem. Sem água, os seres humanos podem sobreviver apenas por alguns dias. O organismo humano é formado em média por cerca de 70 % de água, sendo a água representativa de 75% do peso médio nas crianças e 55% do peso médio em idosos (Evaristo Eduar- do de Miranda, 2004). É portanto essencial para a vida e a para a hemóstase célula (Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg, 2010). Sem água o organismo não funciona, uma vez que a mesma é utilizada em várias funções fisiológi- cas, nomeadamente na digestão, na absorção e no transporte de nutrientes, na realização de reacções químicas e como solvente para os resíduos do or- ganismo. A diluição dos resíduos permite reduzir a sua toxicidade, facilitando o processo de ex- creção desses mesmos compostos do organismo (Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg, 2010). A água, para além de fundamental na manuten- ção da temperatura corporal, constitui a base do sangue e de todas as secreções líquidas, como as lágrimas, a saliva e os sucos gástricos. O resulta- do da sua ingestão insuficiente é a desidratação da pele, o enfraquecimento dos cabelos, as alterações ao nível do funcionamento do trato digestivo, bem como, por acumulação de substâncias, formação de cálculos renais, biliares e hipertensão (Kathleen M. Zelman, 2008). No caso particular das crianças, as suas necessidades hídricas diárias destinam-se a repor as perdas sensíveis, como a urina e fezes, e insensíveis, como a água perdida por evaporação através dos pulmões e da pele, decorrente de uma actividade diaria com exercicio fisico (Gina Rubi, Manuel Salgado, 2009). Consequências de um consumo de água deficiente Segundo o European Hydratation Institute, os hu- manos nem sempre respondem a sinais fisiológi- cos de sede, expondo-se, desse modo, aos nefastos efeitos da desidratação. Esse facto pode depender de vários fatores como o desconhecimento das vantagens da ingestão de líquidos; esquecimento de ingerir líquidos; não gostar do sabor da água; ausência de sede; falta de água para beber; neces- sidade frequente de urinar e perturbações no local de trabalho/escola. (European Hydration Institu- te, 2014; Professor Simon Thornton Université de Lorraine), France, 2010) A desidratação pode ter influência nas capacidades físicas e cognitivas dos indivíduos. Uma perda de líquido equivalente a 1% do peso corporal pode ser considerada suficiente para diminuir as funções biológicas em 10%, uma perda de 2% do peso corporal poderá resultar numa diminuição de 20% e, por conseguinte, até aos 10% de peso corporal, poderá ocorrer uma perda de consciência no limite a morte (Vasey, Christopher, 2006). Alguns estudos sobre a dis- ponibilização de água, a crianças em idade escolar, demostram a sua influência na atenção e atividade cognitiva. (European Hydration Institute, 2014) As pesquisas que envolveram crianças às quais foi administrada água, nas quantidades adequadas, mostram melhorias na atenção visual. No estudo realizado por Benton e Burgess, a memória e o desempenho foram melhorados com a hidratação das crianças. Algumas patologias poderão ter a sua origem na falta ou deficiência do consumo adequado de água, ao nivel das crianças, nomeadamente: Fadiga – a desidratação é responsável por um abrandamento das reacções enzimáticas respon- sáveis pela produção de energia. O efeito não é só sentido fisicamente com lassitude e prostração, como também se reflecte no estado mental, carac- terizado por falta de entusiasmo e alegria de viver. A correcção da hidratação traz de volta a energia e a estamina perdidas; Obstipação – na presença de desidratação cróni- ca, o reaproveitamento normal de líquidos do bolo fecal nos intestinos pode ser excessiva, a fim de compensar as deficiências hídricas do organismo. Quando isto acontece, as fezes tornam-se duras e difíceis de serem eliminadas. Com o aumento da ingestão diária de água, é recuperada a humidade normal necessária para uma eliminação eficiente. Distúrbios digestivos – o corpo produz cerca de 7 litros de sucos digestivos diariamente. No caso de desidratação crónica, as secreções são menos abundantes e os processos digestivos não se ope- ram adequadamente, o que pode resultar em indi- gestão, gases, distensão abdominal, dor, náusea e perda de apetite. Neste caso, beber água durante o dia e antes das refeições assegura que existem líquidos suficientes para a produção de sucos di- gestivos. Gastrite e Úlceras – a fim de proteger as mem- branas mucosas dos ácidos digestivos, o estômago secreta uma camada grossa de muco. Esta camada é constituída por 98% de água e 2% de bicarbo- nato de sódio. Devido às suas propriedades alcali- nas, o bicarbonato neutraliza os ácidos que tentam corroer esta barreira protectora. Num estado de desidratação, o estômago não tem à sua disposi- ção água suficiente para produzir o muco, fazen- do com que as membranas fiquem vulneráveis à acção dos ácidos digestivos, provocando primeiro uma inflamação e por fim, uma lesão nos tecidos ou úlcera. Problemas respiratórios – as membranas muco- sas do trato respiratório são levemente humede- cidas como protecção contra partículas estranhas (como pólen e pó) mas também para humedecer o ar inspirado quando este é muito seco. Na de- sidratação, porções do trato respiratório secam, tornando-se menos permeáveis às trocas gasosas e mais sensíveis aos ataques por agentes externos. O resultado é uma propensão para tosses, alergias e outros distúrbios respiratórios que desaparecem uma vez que se optimize a hidratação. Desequilíbrio ácido-base – de maneira a que o organismo trabalhe da melhor forma possível, deve haver um balanço interno entre substân- cias ácidas e alcalinas. O estilo de vida e dieta da maioria das pessoas têm a tendência a acidificar o ambiente interno celular do corpo, o que pode ori- ginar inúmeros problemas de saúde. Esta acidifi- cação é tornada pior com o consumo insuficiente de água, que limita a redução de substâncias aci- dificante e produtos metabólicos normais, pelos órgãos excretórios. Excesso de peso e obesidade – uma teoria, poucas vezes mencionada, para o que leva um in- divíduo a comer mais do que as suas necessidades fisiológicas, é a sede. Existem duas opções para sa- tisfazer a sensação de sede, beber líquidos ou co- mer alimentos ricos em água. Se o indivíduo optar pela segunda, vai receber os líquidos necessários mas também um excesso de substâncias nutritivas de que não precisa e que vão contribuir para o aumento do peso. É dito que muitas vezes a sede é confundida com a fome, uma razão possível para tal é que ao comermos, podemos também saciar a sede, o que pode gerar um ciclo vicioso, pois quantos mais alimentos forem ingeridos, maior é a necessidade de água para produção de sucos digestivos e reação enzimática de transformação desses alimentos. Além de redução do volume de comida, uma maior ingestão diária de água vai tra- duzir-se numa estimulação dos processos metabó- licos normais, que vão promover a perda de peso. Eczema – as glândulas sudoríparas eliminam dia- riamente entre 6 a 7 decilítros de suor, a quanti- dade necessária para diluir as toxinas segregadas de forma a não irritarem a pele. No caso de desi-
  • 5. 8 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 9 dratação crónica, o volume necessário para a pro- dução de suor é insuficiente, dando origem a um suor mais concentrado e agressivo, tendo como consequência irritação e inflamação cutânea, acompanhada de vermelhidão, comichão, borbu- lhas e microlesões na pele. Hipercolesterolemia – o colesterol, necessário para a construção das membranas celulares, é constantemente requerido pelas células. No caso de desidratação, essa necessidade irá aumentar substancialmente para evitar que as células percam fluido intercelular excessivamente. Ainda que este mecanismo compensatório evite males maiores, um efeito secundário indesejável é o aumento de colesterol na circulação sanguínea e todos os pro- blemas de saúde relacionados. Cistite e Infecções urinárias – caso as toxinas contidas na urina não estejam devidamente dilu- ídas, podem prejudicar as membranas urinárias, criando microlesões que são por sua vez atacadas por germes, que se multiplicam no local afectado e originam infecções dolorosas. Hipo e Hipertensão arterial – é graças à ca- pacidade de vasoconstrição e vasodilatação dos vasos sanguíneos que o sistema circulatório é tão bem adaptado a mudanças no volume de sangue. No entanto, estas capacidades podem ser usadas de forma exagerada, o que pode resultar em pro- blemas de saúde. Quando o corpo lida com um volume sanguíneo diminuído causado por desi- dratação, os vasos contraem-se fortemente. Isto assegura que o volume é suficiente para preencher os vasos e capilares de forma a não haverem es- paços vazios. Mas esta vasoconstrição defensiva pode tornar-se permanente se o corpo sofrer uma desidratação crónica e o resultado é a hiperten- são crónica. Embora a falta de líquidos possa originar hipertensão, o mesmo se pode dizer do contrário, com a hipotensão. Esta condição aflige pessoas cujas capacidades vasoconstritoras estão diminuídas. Com um volume sanguíneo reduzido, os vasos vão ser forçados a realizarem a contrac- ção, uma necessidade que pode ser diminuída com uma maior ingestão de água, de forma espaçada, de maneira a não sobretaxar o sistema circulatório. Problemas articulares – a cartilagem é um tecido com um elevado teor de água. A sua função é pro- teger as superfícies dos ossos, impedido que nos movimentos, haja fricção e dano. Um indivíduo cronicamente desidratado irá, desenvolver uma cartilagem mais fina. O resultado é um aumento de atrito entre os ossos, causando inflamação e dor. Para além disso, o aumento da concentração de metabolitos tóxicos na circulação sanguínea e nos tecidos celulares, causados pela desidratação, vão aumentar a exposição das articulações a toxi- nas e outras substâncias irritantes. O equilíbrio hídrico das crianças depende da ac- ção da aldosterona e da hormona antidiurética. Esta é responsável pela manutenção da osmola- lidade plasmática entre 285 e 295 mOsm/Kg. (G Rubino, M Salgado, 2009). De acordo com as re- comendações Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, 2010), as crianças com as ida- des compreendidas no presente estudo, deverão realizar um consumo diário de 1600 ml/dia para rapazes e raparigas entre os 4 e 8 anos, bem como 2100 ml/dia para rapazes e1900 ml para raparigas, ambos entre os 9 e 13 anos. A ingestão de água do ponto de vista das Terapias Complementares A Medicina Ortomolecular e a Naturopatia atuam essencialmente ao nivel da prevenção primária e encaram o paciente como um todo, ou seja, como sendo um conjunto que deve funcionar em har- monia. Dessa forma é possível encontrar a origem dos problemas e encontrar o caminho para a ho- meostase. Quando existem alterações metabólicas (desequilíbrios orgânicos) que levam ao quadro de “doença”, os nutrientes são utilizados de forma a restabelecer o equilíbrio, através da utilização de substâncias e elementos naturais, onde se inclui a água. A ingestão de água, em jejum, permite cor- rigir uma possível desidratação desencadeada no período de sono. Cerca de 30 minutos antes das refeições e/ ou após as refeições (cerca de duas horas e meia depois de uma refeição) poderá auxi- liar o funcionamento do aparelho digestivo, faci- litar a transformação e assimilação dos nutrientes. A hidratação antes e durante o exercício permite repor as perdas resultantes do desgaste muscular e suor (José Macieira, 2009). ■■ Objectivos do Trabalho O presente estudo surge no âmbito do trabalho final da disciplina de Dietoterapia e Nutrição, do curso de Naturopatia, do Instituto Português de Naturologia – Polo de Lisboa. O estudo foi re- alizado pelos alunos do 2º ano, com o objectivo de caracterizar os hábitos de ingestão de água em crianças do 3º e 4ºanos do 1º ciclo do Con- celho de Santarém. Algumas considerações foram tomadas em con- sideração na definição do objectivo deste estudo, designadamente: a) As crianças ativas que brincam quando está calor, podem perder grandes quantidades de água, através do suor, e por vezes estão tão dis- traídas a brincar e esquecem-se de ingerir água; b) Alguns estudos (European Hydration Ins- titute, 2014); indicam que a ingestão adequa- da de agua pelas crianças pode ajudá-las a ter melhores resultados a nivel da aprendizagem, aumentando os niveis de concentração e me- mória em curto prazo; c) A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (European Food Safety Au- thority – EFSA, 2010) concluiu que a ingestão de água recomendada em crianças entre 4 e 8 anos é de 1,600 ml/dia e de 2,100 ml/dias para rapazes e 1,900 ml para meninas, ambos entre 9 e 13 anos. d) Apesar de as Balanças Alimentares Portu- guesas fornecerem estimativas do consumo, a partir das disponibilidades dos alimentos e dos Inquéritos Nacionais de Saúde fornecerem informação sobre o consumo alimentar indi- vidual de alguns alimentos, estas informações são insuficientes para se conhecer a real ten- dência do consumo e dos padrões alimentares da população portuguesa, no caso particular relativamente ao consumo de água (Lopes et al., 2006). ■■ Material e Métodos Foi elaborado um questionário de administração direta, de natureza confidencial e com respostas fechadas, o qual foi aplicado aos alunos dos 3.º e 4.ºs anos, do 1.º ciclo das escolas do concelho de Santarém. A seleção do concelho seleccionado para o desenvolvimento deste estudo prendeu-se com conveniência de residência dos alunos des- tacando-se a excelente colaboração e empenho, manifestados pela Câmara Municipal de Santa- rém, nomeadamente pela Divisão de Educação e Juventude, contribuindo desse modo, para o êxito do trabalho realizado. O trabalho de campo realizou-se no período com- preendido entre os dias 26 de Maio e 5 de Junho de 2014, tendo sido efetuado um pedido de au- torização prévia aos respetivos Agrupamentos de Escolas e tendo-se obtido o consentimento por parte dos encarregados de educação. Foram distri- buídos 1000 questionários, tendo sido recolhidos 485, que correspondem aos alunos cujos encarre- gados de educação autorizaram a participação no presente estudo. A amostra não inclui crianças com idades inferio- res a 6-7 anos, na medida em que, em idades mais jovens, as crianças não conseguem conceptualizar a noção real de tempo e por isso a avaliação do seu consumo alimentar tem que ser recordada através das suas famílias (Livingstone, Robson, Wallace, 2004). Para além disso, embora tenho sido contemplado o parâmetro da idades superior
  • 6. 10 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 11 a 10 anos, este fator foi limitado com a determi- nação do ano escolar, pois acima desta faixa etária as necessidades energéticas e nutricionais e hídri- cas aumentam consideravelmente ((Wrieden et al., 2008). A análise estatística dos dados foi realizada através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). No questionário foram colocadas 16 perguntas fechadas (cada uma, de escolha múltipla): Idade/ Sexo/ Bebes água?/Se não bebes água, que bebi- das bebes?/ Qual a água que bebes mais?/ Qual é a água que gostas mais?/ Qual a quantidade, mais ou menos, de água que bebes por dia?/ Onde bebes mais água?/ Qual a altura do dia em que bebes mais?/ O que é que bebes às refeições?/ Costumas beber água da torneira em casa?/ Cos- tumas beber água engarrafada em casa?/ Das águas engarrafadas que existem, quais são as que mais bebes?/ Escolhes sempre a mesma marca de água engarrafada?/ Costumas encher garrafas com água da torneira para levares contigo?/ Na tua casa bebes água da torneira filtrada? ■■ Resultados e Discussão Das 485 crianças participantes, 250 (51,6%) eram do sexo masculino e 234 (48,2%) do sexo femi- nino (1 criança, correspondente a 0,2% não res- pondeu), bem como 96% das crianças apresentava idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e 4% tinha mais de 10 anos.  À pergunta “Bebes água?”: Das 485 crianças, 472 (97,5%) responderam afirmativamente e ape- nas 12 (2,5%) responderam que não. Caracterização da amostra por idade: -8 anos de idade: 100 (98%) crianças bebem água e apenas 2 (2%), não bebem; -9 anos de idade: 229 (95,8%) crianças bebem água e 10 (4,2%) não bebem; -todas as crianças com 10 anos de idade (126), as- sim como as crianças com mais de 10 anos de ida- de (17), responderam afirmativamente à pergunta.  31,8% das crianças inquiridas desconhecem a quantidade de água ingerida. Caracterização da amostra por idade: -8 anos de idade: 11 (10,8%) crianças bebem 2 co- pos de água (0,4L), 25 (24,5%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 17 (16,7%) crianças be- bem 6 copos de água (1L), 17 (16,7%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L); -9 anos de idade: 35 (14,6%) crianças bebem 2 co- pos de água (0,4L), 49 (20,5%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 43 (18%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 31 (13%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L); -10 anos de idade: 11 (8,7%) crianças bebem 2 co- pos de água (0,4L), 22 (17,5%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 39 (31%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 18 (14,3%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L); - 10 anos de idade: 2 (11,8%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 2 (11,8%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 4 (23,5%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 4 (23,5%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L); Caracterização da amostra por género: -masculino: 34 (13,6%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 46 (18,4%) crianças bebem 4 co- pos de água (0,7L), 57 (22,8%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 42 (16,8%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L); -feminino: 25 (10,7%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 52 (22,2%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 47 (20,1%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 28 (12%) crianças bebem 8 copos de água (1,5L);  À pergunta “O que bebes às refeições?”: 347 (71,5%) bebem água, 88 (18,1%) bebem sumos e néctares, 38 (7,8%) bebem refrigerantes, 6 (1,2%) bebem leite e 5 (1%) não bebem às refeições (1 não respondeu correspondendo a 0,2%). Caracterização da amostra por idade: -8 anos de idade: 82 (81,2%) crianças bebem água, 15 (14,9%) bebem sumos e néctares, 2 (2%) bebem leite e 2 (2%) bebem refrigerantes; -9 anos de idade: 171 (71,5%) crianças bebem água, 48 (20,1%) bebem sumos e néctares, 15 (6,3%) bebem refrigerantes, 3 (1,3%) não bebem às refeições e 2 (0,8%) bebem leite; -10 anos de idade: 84 (66,7%) crianças bebem água, 21 (16,7%) bebem sumos e néctares, 18 (14,3%) bebem refrigerantes, 2 (1,6%) bebem leite e apenas 1 (0,8%) não bebe às refeições; - 10 anos de idade: 9 (52,9%) crianças bebem água, 4 (23,5%) bebem sumos e néctares, 3 (17,6%) bebem refrigerantes, e apenas 1 (5,9%) não bebe às refeições; Caracterização da amostra por género: -masculino: 166 (66,7%) crianças bebem água, 53 (21,3%) bebem sumos e néctares, 21 (8,4%) be- bem refrigerantes, 6 (2,4%) bebem leite e 3 (1,2%) não bebem às refeições; -feminino: 180 (76,9%) crianças bebem água, 35 (15%) bebem sumos e néctares, 17 (7,3%) bebem refrigerantes e 2 (0,9%) não bebem às refeições.  À pergunta “Se não bebes água, que bebidas bebes?”: 121 (24,9%) bebem leite. 83 (17,1%) be- bem sumos e néctares, 28 (5,8%) bebem refri- gerantes, 7 (1,4%) bebem chá e 7 (1,4%) bebem outras bebidas.  Inquiridos sobre o tipo de água engarrafada que mais ingerem: 423 (87,2%) crianças respon- deram – água sem gás. Caracterização da amostra por idade: -8 anos de idade: 94 (92,2%) crianças bebem água sem gás, 2 (2%) crianças bebem água com gás, 1 criança respondeu que bebe água com sabo- res e apenas 1 criança ingere bebidas desportivas. Neste grupo, apenas 4 crianças não ingerem água engarrafada. -9 anos de idade: 197 (82,4%) crianças bebem água sem gás, 5 (2,1%) crianças bebem água com gás, 4 (1,7%) crianças responderam que inge- rem água com sabores, 12 (5%) crianças ingerem bebidas desportivas. Neste grupo, 21 (8,8%) crian- ças não ingerem água engarrafada. -10 anos de idade: 117 (92,9%) crianças bebem água sem gás, 3 (2,4%) crianças bebem água com gás, 2 (1,6%) crianças responderam que inge- rem água com sabores, 1 (0,8%) crianças ingerem bebidas desportivas. Neste grupo, 3 (2,4%) crian- ças não ingerem água engarrafada. -10 anos de idade: 14 (82,4%) crianças bebem água sem gás, 1 (5,9%) crianças responderam que ingerem água com sabores, 1 (5,9%) crianças ingerem bebidas desportivas, 1 (5,9%) crianças não ingerem água engarrafada. Caracterização da amostra por género: -masculino: 214 (85,6%) crianças bebem água sem gás, 7 (2,8%) crianças ingerem água com gás, 6 (2,4%) crianças bebem água com sabores, 10 (4%) crianças ingerem bebidas desportivas e 13 (5,2%) não bebe água engarrafada. -feminino: 208 (88,9%) crianças bebem água sem gás, 3 (1,3%) ingerem água com gás, 2 (0,9%) água com sabores, 5 (2,1%) crianças inge- rem bebidas desportivas, 16 (6,8%) não bebe água engarrafada.  Inquiridos sobre o número de vezes que en- chiam a garrafa de água em casa: 72 (28,8%) rapazes responderam que enchiam a garrafa de água muitas vezes, 89 (35,6%) responderam às vezes, 50 (20%) enchem a garrafa poucas vezes e 39 (15,6%) nunca enchem a garrafa com água. Em relação às meninas: 83 (35,5%) enchem a garrafa com água muitas vezes; 66 (28,2%) en- chem apenas às vezes, 51 (21,8%) enchem poucas vezes e 34 (14,5%) nunca enchem.  Para aquelas crianças que responderam ter água filtrada em casa, foi-lhes perguntado onde bebiam mais água: 150 (71,9%) responderam que bebiam mais água em casa, 54 (24,4%) res- ponderam na escola, apenas 8 (3,6%) ingerem água, noutros locais.
  • 7. 12 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 13 Considerando as recomendações da EFSA, que preconizam um consumo diário de água, para as crianças com as idades compreendidas no presente estudo, de 1600 ml/dia para rapazes e raparigas entre os 4 e 8 anos, bem como 2100 ml/dia para rapazes e 1900 ml para raparigas, ambos entre os 9 e 13 anos. O presente estudo verificou que uma grande parte dos participantes (31,8%) não tem noção da quantidade de água in- gerida diariamente e, por outro, a totalidade dos participantes não bebe quantidade adequada e suficiente de água por dia, como se pode ver no gráfico apresentado em baixo. Gráfico 1 – Distribuição de respostas à pergunta “Qual a quantidade, mais ou menos, de água que bebes por dia? (n=485)” Torna-se ainda importante referir, neste contexto, que, de acordo com o European Hydratation Institute, a avaliação cognitiva da disponibilidade de instalações sanitárias pode desempenhar um papel na decisão sobre quando e onde ingerir líquidos, apesar da presença dos sinais fisiológicos da sede. Estudos recentes (Simon Thornton, 2010; Bonnet F et al, 2012; Stookey JD et al, 2012) demonstram que uma elevada osmolaridade urinária, em crianças em idade escolar quando chegam à escola, constitui um sinal de desidratação, sugerindo que um acesso limitado às instalações sanitárias poderá ser um dos factores que influencia as crianças quanto à altura de ingestão de líquidos. Poderá sugerir-se que, nos seres humanos, parece existir uma forma de controlo cognitivo na resposta aos sinais de sede e que talvez esta capacidade de se sobrepor aos sinais de sede leve a que, a longo prazo, exista uma incapacidade de detetar os sinais de sede corretamente, fazendo com que alguns indivíduos permaneçam hipohidratados durante longos períodos de tempo ao longo da vida (Simon Thornton, 2010). De acordo com os resultados obtidos neste estudo, rela- tivamente à questão sobre o local onde os participantes bebem mais água, 72,05% das crianças respondeu “em casa”, sendo que, apenas 24,02% afirmaram beber mais água na escola. Este facto suscita a necessidade de uma análise mais cuidada deste assunto. Considerando que uma boa hidratação é importante para a saúde física e mental, e que o cérebro representa apenas 2% do peso corporal, mas recebe 20% do fluxo sanguíneo (European Hydration Institute, 2014); quando o organismo se encontra desidratado, o volume de sangue diminui, existindo uma possivel diminuição da quantidade de oxigénio e dos nutrientes vitais ao cérebro. Assim, a realização de tarefas físicas e mentais poderá ser afetada negativamente. De acordo com (European Hydration Institute, 2014), a perda de cerca de 1-2% do peso corporal – desde 500 ml a 2 litros – pode fazer com que as crianças se sintam menos alerta, com dificuldades de concentração, mais cansadas e com cefaleias. Um dado relevante do estudo prende-se com a ingestão de água durante o exercício físico. No âmbito da pergunta: “em que altura do dia bebes mais água”, embora 47,11% dos inquiridos afirmasse beber água durante todo o dia, apenas 18,8% das crianças afirmaram fazê-lo durante o exercício físico, como se pode constatar no Gráfico 2. Gráfico 2 – Distribuição de respostas à pergunta “Qual a altura do dia em que bebes mais? (n=485)” Como referido, a desidratação que se produz durante o exercício físico, pode ser reduzida ou evitada através da ingestão de quantidades suficientes de água durante ou antes das atividades físicas, momento em que se produz a perda de água. Durante o exercício, a ingestão de líquidos deve ser regular, mas a frequência da in- gestão e a quantidade consumida dependem de fatores, como a intensidade e duração do exercício e as condi- ções meteorológicas, bem como as características físicas do indivíduo, incluindo o peso corporal e as caracte- rísticas individuais de sudação (European Hydration Institute, 2014); Em climas muito quentes e húmidos, os desportos de exterior devem ser realizados no início da manhã ou no final da tarde, e é recomendável evitar esforços físicos desnecessários durante as horas mais quentes do dia (European Hydration Institute, 2014).
  • 8. 14 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 15 Estes dados serão relevantes no âmbito do plane- amento das aulas de educação fisica nos horarios escolares. Quando se pratica exercício por curtos períodos de tempo ou a baixa intensidade, como é o caso das crianças que compõem o universo do inquérito aqui analisado, a ingestão de água é uma opção perfeitamente adequada. ■■ Conclusão Apesar das limitações do presente estudo, nome- adamente, a falta de caracterização social, econó- mica e grau de escolaridade dos projenitores dos inquiridos, a limitação da amostra a uma determi- nada área geográfica e terem sido consideradas vá- lidas todas as respostas dos inquiridos, foi possível constatar a relevância do tema junto desta faixa etária. Não se pretende, que o presente estudo se baste a si mesmo, muito pelo contrário. Pretende- mos que ele seja um ponto de partida para poste- riores estudos e investigações sobre uma matéria que pautamos de particular importância, quer na área da prevenção, quer do tratamento de diversas patologias. Esta preocupação tem vindo a ser ma- nifestada ao nivel da Europa, estando a Comissão Europeia, a levar a efeito uma consulta sobre a política da água potável da UE, de forma a verifi- car onde é possível efectuar melhorias (Comissão Europeia, 2014) A constatação, no presente estudo, de um baixo consumo de água fora de casa, nomeadamente na escola, da baixa ingestão de água na hora do exercício físico e do facto de a maioria dos inquiri- dos não ter noção da quantia de ingestão diária de água, poderá constituir um indicador da necessi- dade de um reforço de informação e sensilibiliza- ção para este tema, junto da comunidade escolar, de forma a prevenir eventuais repercussões de uma deficiente hidratação. O acompanhamento aos alunos e respectivas fa- mílias, no que respeita aos hábitos de ingestão de água e o planeamento do consumo de água em pe- ríodos em que se acentue a actividade física e men- tal, poderá constituir uma aposta numa estratégia eficaz de promoção da ingestão adequada de água entre as faixas etárias dos alunos do 3ºe 4º anos do 1º ciclo, inclusivamente através da inclusão deste tema nos programas curriculares, associan- do a actividades estimulantes, e ao mesmo tempo educativas nesta área. Deste modo um Naturopata poderá surgir como elemento contribuinte na deli- neação, implementação e avaliação dessas mesmas estratégias. ║║ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg , 2010, Water, hydration, and health , Nutrition Reviews, Volume 68, Issue 8, pages 439–458, August 2010, disponível em http://www. microsofttranslator.com/bv.aspx?from=to=pta=http%3A%2F%2Fwww.ncbi.nlm.nih.gov% 2Fpmc%2Farticles%2FPMC2908954%2F%23R1 • Batmanghelidj, Fereydoon. You’re Not Sick, You’re Thirsty!: Water for Health, for Healing, for Life. Warne5 Books, New York, 2003 • Bonnet F, Lepicard EM, Cathrin L, Letellier C, Constant F, Hawili N, Friedlander G. French chil- dren start their school day with a hydration deficit. Ann Nutr Metab 2012; • Comissão Europeia, Relatório de síntese sobre a qualidade da água para consumo humano na UE, que analisa os relatórios dos Estados-Membros para o período de 2008-2010, em conformidade com a Diretiva 98/83/CE, COM(2014) 363 final, disponível em:http://ec.europa.eu/environ- ment/water/waterdrink/pdf/report2014; • EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA); Scientific Opinion on Dietary reference values for water. EFSA Journal 2010; 8(3):1459. [48 pp.]. doi:10.2903/j.efsa.2010.1459. Disponível em: www.efsa.europa.eu • Evaristo Eduardo de Miranda, Água na natureza, na vida e no coração dos homens. Campinas, 2004; • Gina Rubi, Manuel Salgado, O equilíbrio da água no organismo, 2009; • José Macieira, Calor, Desidratação e Degradação Muscular no Exercício, 2009; • Kathleen M. Zelman,6 Reasons To Drink Water, WebMD Archive, 2008; • Livingstone, M. B. E., Robson, P. J., Wallace, J. M. W. (2004). Issues in dietary intake assessment of children and adolescents. British Journal of Nutrition, 92 (Suppl 2), S213-S222; • Lopes, C., Oliveira, A., Santos, A. C., Ramos, E., Gaio, A. R., Severo, M., Barros, H. (2006). Con- sumo alimentar no Porto. Porto: Carla Lopes; • O equilíbrio da água no organismo, Gina Rubi, Manuel Salgado, pag.99., 2009 • Simon Thornton, Professor in Neurosciences at the Faculty of Sciences, University of Lorraine, Nancy, France, 2010; • Stookey JD, Brass B, Holliday A, Arieff A. What is the cell hydration status of healthy children in the USA, Preliminary data on urine osmolality and water intake. Public Health Nutr 2012; • Vasey, Christopher. The Water Prescription: For Health, Vitality, and Rejuvenation. Healing Arts Press, Vermont, 2006. • Website da European Hydratation Institute, 2014 • Wrieden, W. L., Longbottom, P. J., Adamson, A. J., Ogston, S. A, Payne, A., Haleem, M. A., Bar- ton, K. L. (2008). Estimation of typical food portion sizes for children of different ages in Great Britain. British Journal of Nutrition, 99, 1344-1353; PALAVRAS-CHAVE: Água, Crianças, Hábitos de consumo, Nutrição, Naturopatia.
  • 9. 16 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 17 O PAPEL DA FÁSCIA na Medicina Chinesa Parte 1 Paola Augusta Kemenes paola_augusta@hotmail.com Resumo: Durante décadas a comunidade científica vem buscando encontrar a explicação científica para o fun- cionamento da acupunctura, e a falta de respostas durante este tempo trouxe a esta prática milenar um olhar de desconfiança do Ocidente. Na última década, com a evolução dos estudos sobre o tecido conjuntivo e seu papel no organismo, muitos pontos começam a ser esclarecidos. Esta revisão mostra em 2 partes, as mais recentes descobertas que colocam a fáscia como a base física e energética para o funcionamento da acupunctura. Nesta 1ª parte apresentam-se os estudos sobre o papel da fáscia no DeQi e na localização dos pontos de acupunctura e em uma próxima edição a 2ª parte mostrará a revisão sobre o trajecto dos meridianos. Com esta informação, mostra-se a acupunctura por uma visão palpável e compreensível para a mente ocidental relacionando esta prática milenar a estruturas anatómicas, mostrando assim que o uso da acupunctura pode estar perfeitamente inserido na prática da medicina moderna. * Síntese curricular: Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizona. Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa pelo Ins- tituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura. ■■ Introdução Há mais de 100 anos atrás, quando o Ocidente descobriu a Medicina Tradicional Chinesa, ou quando Andrew Taylor Still fundou a Osteopa- tia (Still abriu a American School of Osteopathy em 1892), a fáscia era vista somente como um tecido de proteção e sustentação, um tecido que envolvia outros tecidos. Na verdade, em latim clássico o termo “fáscia” significa banda (um longo e estrei- to pedaço de material). O estudo da fáscia não avançou durante muito tempo já que sua observação em cadáveres estava longe de refletir a complexidade do seu papel no organismo. Na verdade a própria fragilidade da fáscia, sendo um tecido finíssimo tornava quase impossível um estudo mais aprofundado. Nas últimas décadas do século XX, a quantidade de estudos sobre a fáscia aumentou significativa- mente, sendo que estes estudos nos mostraram que este tecido tem um papel bastante mais com- plexo e abranjente no organismo, sendo essencial para o crescimento e suporte do mesmo. No pri- meiro International Fascia Research Congress em 2007, a fáscia foi definida como: “a componente de tecido mole do tecido conjuntivo que permeia o corpo, formando uma matriz contínua, tridimensional que dá suporte es- trutural a todo o corpo. Ele interpenetra e envolve todos os órgãos, músculos, ossos e fibras nervosas, criando uma integração para o funcionamento dos sistemas do corpo.” (Findley Shalwala, 2013) A fáscia promove suporte mecânico, movimento, transporte de fluidos, transporte celular, contro- la o metabolismo em outros tecidos e fornece ao corpo globalidade. Ao conectar todo o corpo em uma rede única sem interrupções, a fáscia é o tecido capaz de transmitir informações a lon- ga distância. O equilíbrio e a integridade da fáscia refletem-se na homeostase do organismo ou no desequilíbrio do mesmo. Provavelmente o termo globalidade, ou rede única sem interrupções, ou ainda outros termos indi- cando a capacidade deste tecido percorrer todo o corpo chamou a atenção de alguns membros da classe científica, especialmente os ligados a estu- dos de circulação de energia no corpo e os ligados a terapias manuais e holísticas. Em 2000, em seu livro Energy Medicine, James Osh- man diz que a trama do tecido conjuntivo é uma rede de comunicação semicondutora que pode transportar sinais entre todas as partes do corpo, e ainda tem a capacidade de gerar energia já que cada movimento e cada compressão do corpo faz com que a grade cristalina do tecido conjuntivo gere sinais bioelétricos. Assim qualquer movimen- to do corpo produz e faz circular energia e infor- mações. (Oschman, 2000) Esta capacidade condutora da fáscia desperta a atenção de outro grupo de pesquisadores: aque- les que há décadas vinham tentando perceber o mecanismo de funcionamento da acupunctura no organismo, sem conseguir esclarecer totalmente este mecanismo. Não é nenhuma surpresa que o Ocidente tenha dificuldade em aceitar qualquer metodologia que não possa ser explicada em termos palpáveis. Li Ping, em seu livro “El Gran Libro de la Medici- na China” diz sobre este assunto: “enquanto no Oriente os conceitos podem ser abstratos, no Oci- dente existe uma necessidade de bases palpáveis e científicas para que qualquer método de trabalho tenha credibilidade” (Li Ping, 2002) A fáscia, segundo mostram os estudos mais re- centes (Myers, 2009; Findley, 2012; Langevin, 2009), pode ser uma espécie de “elo perdido” nos estudos sobre o funcionamento da acupunctura, esclarecendo alguns conceitos em uma lingua- gem palpável, de fácil compreenssão para a mente ocidental, o que auxilia sobremaneira a aceitação desta metodologia nos países Ocidentais, especial- mente pela comunidade médica. Com os dados obtidos nestes estudos mais recen- tes, pode-se dizer que a fáscia (rede de tecido con- juntivo) é a estrutura física por onde passa o Qi. É sobre este tecido que estão localizados os canais energéticos ou meridianos, e quando algo não está bem com a fáscia o organismo irá estar em dese- quilíbrio (Langevin e Yandow, 2002). Em condições normais a fáscia deve ser flexivel e deslizante. As restrições e aderências na fáscia que podem ocorrer por stress, traumatismos, más pos- turas, etc, tornam a fáscia mais rígida e encurtada, levando a dor, restrição de movimentos e mau funcionamento dos órgãos. Qualquer problema na fáscia afeta e muitas vezes cria problemas de saúde para os quais não existe qualquer explicação dentro dos métodos de diagnóstico da Medicina Ocidental. Os desequilíbrios da fáscia não aparecem em exa- mes e métodos complementares de diagnósticos, e podem ser a razão pela qual, já há milhares de anos a Medicina Chinesa saber avaliar os desequi- líbrios do corpo antes mesmo destes tornarem-se
  • 10. 18 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 19 perceptíveis. Assim, apesar da acupunctura e das descobertas mais recentes sobre o tecido conjun- tivo e seu papel no corpo estarem separados por milhares de anos, a acupunctura e a fáscia parecem estar intimamente relacionadas. ■■ A Acupunctura e o Ocidente – A Necessidade de Confirmação A acupunctura começou a ser praticada com mais ênfase no ocidente a partir da década de 60, e a medida que a acupunctura vai conquistando espa- ço como uma opção terapêutica, cresce o interesse e a necessidade de explicar esta metodologia em termos científicos. No ocidente o método cientí- fico visa dar objetividade as nossas observações empregando a experimentação com controlo de alguns parâmetros enquanto se investigam outras variáveis. Na área da saúde normalmente os estudos seguem duas linhas: o estudo dos mecanismos de ação e a eficácia terapêutica, e no caso da acupunctura ambos trouxeram grandes dificuldades para a co- munidade científica. Neste trabalho nos interessa o papel da fáscia no mecanismo de ação da acu- punctura e por isso os trabalhos sobre a eficácia terapêutica poderão ser consultados em outras fontes. Até antes de 2000, os trabalhos existentes podem a grosso modo ser divididos em 3 grandes grupos: os estudos de anatomia; o modelo neuroquímico e o modelo bioelétrico (Jayasurya, 1995; Lewith, 1985): 1. Estudos de anatomia – envolvendo normal- mente dissecação anatómica, onde os cientis- tas procuraram relacionar a anatomia do cor- po, tanto macroscópica como microscópica, em busca de estruturas que correspondessem aos meridianos e aos pontos de acupunctura. Diversos trabalhos conseguiram relacionar grande parte dos pontos de acupunctura com o sistema nervoso. Observações microscópi- cas demonstraram que nas regiões dos acu- puntos existem numerosos ramos nervosos, plexos e terminações neurais. Estes estudos falharam porém na compreenção das estrutu- ras envolvendo os meridianos. 2. Modelo neuroquimico ou neurohumoral – envolve o efeito mais estudado da acupunc- tura, o efeito analgésico. Este modelo mostra que a acupunctura estimula a produção de substâncias como endorfinas e serotoninas ou estimula a ligação destas substâncias a seus re- ceptores, no entanto, a sua explicação para os efeitos sistémicos da acupunctura carece ainda de confirmação. 3. Modelo bioelétrico – este modelo surgiu quando as análises anatomicas foram incapa- zes de explicar os meridianos da acupunctura e seu trajecto. O modelo bioelétrico revelou que as áreas cutâneas onde se situam os pon- tos de acupuntura, assim como a trajetória dos canais energéticos, apresentam maior conduti- vidade elétrica. A base deste modelo foi a já descoberta ligação dos pontos de acupunctura com áreas de concentração do sistema nervo- so. O funcionamento do sistema nervoso, cria um campo eletromagnético, pois a condução dos impulsos nervosos envolve uma grande movimentação de íons a pequenas distâncias e cargas elétricas oscilando que geram um cam- po eletromagnético. Apesar de estes modelos de estudo evidenciarem e esclarecerem algumas das propriedades terapêu- ticas da acupunctura, longe estão de substanciar muitos dos resultados obtidos pelos acupuntores. Por exemplo, o modelo bioeléctrico não é capaz de explicar porque o sinal causado pela estimula- ção de um ponto de acupunctura chega ao córtex visual no cérebro mais rapidamente do que seria capaz através dos circuitos neurológicos conheci- dos, mostrando que provavelmente o sinal utiliza outras vias de transmissão (Mattos, 2010). Uma série de estudos no final do século XX se- guem mostrando o papel do tecido fascial na acu- punctura, e os cientistas viram aqui uma possibili- dade de através desta relação responder a dúvidas no mecanismo de funcionamento da acupunctura que nunca tinham ficado totalmente clarificadas nos modelos de estudo usados anteriormente. Esta revisão pretende mostrar estes novos concei- tos e novas relações entre o conhecimento Oci- dental e a filosofia Oriental. ■■ A Fáscia A palavra fáscia, usada no singular por ser um te- cido único, representa um conjunto membranoso muito extenso no qual tudo está ligado em conti- nuidade, uma entidade funcional que traz globa- lidade ao organismo. Este tecido se espalha por todo o corpo, formando uma rede ou teia contí- nua desde o alto da cabeça até a ponta dos dedos dos pés, envolvendo fibras musculares, grupos musculares, vasos sanguíneos, nervos, e todos os componentes do corpo, desde grandes órgãos até a mais pequena célula formando o tecido conjun- tivo, que representa 70% dos tecidos do corpo humano (Bienfait, 2004). Promove suporte me- cânico, movimento, transporte de fluidos, trans- porte celular, controla o metabolismo em outros tecidos e fornece ao corpo globalidade. É preciso ter a noção inequivoca que este tecido fornece in- tegridade ao organismo, sem a qual seríamos um aglomerado de células e tecidos desorganizados e sem comunicação entre si. O tecido conjuntivo é formado pelas células do tecido conjuntivo e por sua matriz extracelular, sendo que ao contrário de outros tecidos como a pele, ou os músculos que dependem prioritaria- mente das suas células constituintes, as proprie- dades do tecido conjuntivo dependem principal- mente da quantidade, tipo e organização da sua matriz extracelular, formada por fibras (colágeno e elastina), proteinoglicanos, glicoproteinas e líqui- do lacunar. Com exceção do líquido lacunar, todas as outras substâncias são sintetizadas pelas célu- las do próprio tecido conjuntivo, os blastos, cuja nomenclatura varia dependendo da localização do tecido (osteoblastos, fibroblastos, condroblastos, etc.) (Bienfait, 2004; Culav et al., 1999). A matriz extracelular formada então pelas proteí- nas estruturais fibrosas (colágeno e elastina), pelas glicoproteínas adesivas e pelo gel de proteinogli- canos, é mais abundante que as próprias células do tecido conjuntivo. É a matriz que determina as propriedades físicas do tecido e a forma do mes- mo em cada local e regula a actividade de suas próprias células. Essencial ainda é que a matriz extracelular distribui as tensões dos movimentos e da gravidade pelo corpo, gerando equilíbrio ou de- sequilíbrio, ou na linguagem da Medicina Chinesa saúde ou doença. ■■ Colágeno e Elastina O colágeno e a elastina são as duas fibras prin- cipais da matriz extracelular. A proporção entre colágeno e elastina varia dependendo da localiza- ção do tecido conjuntivo, sua função principal e estímulos externos sobre este tecido. A elastina, proteína de longa duração, é estável e tem baixa taxa de renovação. É responsável pela maior parte da elasticidade dos tecidos permitindo aos seus filamentos deformarem-se quando ten- sionados, podendo estender-se 150% e retomar sua forma anterior. Não é conhecido qualquer mecanismo que estimule a produção de elastina, mas sabe-se que a quantidade de elastina encon- trada no tecido reflete a quantidade de stress me- cânico imposto a este e a solicitação de deforma- ção reversível (Culav et al., 1999). O colágeno, proteína de curta duração, modifi- ca-se a vida toda. É secretado de acordo com a tensão produzida pelo tecido. Tensões mais pro- longadas levam a deposição de colágeno em série e assim os feixes de tecido conjuntivo ficam mais longos, já tensões curtas e intermitentes densifi-
  • 11. 20 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 21 cam o colágeno e sua deposição dá-se em para- lelo formando feixes conjuntivos mais resistentes e compactos, porém com menos elasticidade. Quanto mais feixes de colágeno o tecido tiver, menos elástico ele será. De qualquer forma a ca- pacidade de alongamento do colágeno é bastante restrita, menos de 10% (Mattos, 2010). Esta capacidade de modificação das fibras de colágeno parece ser a grande responsável pelos desequilíbrios no organismo, já que uma das ca- racterísticas fundamentais da fáscia é que o menor tensionamento, seja ele activo ou passivo, repercu- te sobre o conjunto. Todas as peças anatómicas do corpo desta forma estão ligadas entre si. As fibras de colágeno tornam-se mais densas numa tenta- tiva de defenderem o tecido de tensões, e desta forma o tecido fica mais sólido e menos elástico, deixando de cumprir sua função mecânica e rece- bendo desta forma uma maior carga de tensões, voltando a se densificar. Além da redução na mo- bilidade e na elasticidade, a densificação do colá- geno deixa as fibras mais largas e reduz o espaço extracelular prejudicando a circulação dos fluidos (Culav et al., 1999). ■■ Proteinoglicanos Segundo componente mais abundante na matriz extracelular. São macromoléculas solúveis com um papel estrutural e metabólico. Algumas fun- ções metabólicas importantes destas moléculas são a hidratação da matriz, a manutenção da esta- bilidade da rede de colágeno e assim a habilidade de resistir a forças de compressão (Bienfait, 2004; Culav et al., 1999). Os proteinoglicanos ligam-se de forma covalente a uma ou mais cadeias de glicosaminoglicanos. As cadeias de glicosaminoglicanos tem carga negati- va e criam um potencial osmótico que faz com que a matriz extracelular absorva água das áreas envolventes o que auxilia na manutenção da hidra- tação da matriz, sendo que o grau de absorção vai depender do número de cadeias de glicoproteínas no tecido. O tecido conjuntivo vai ter mais destas cadeias de glicoproteínas e portanto mais hidrata- ção quanto mais sujeito for a cargas de compres- são como é por exemplo o caso das articulações. Desta forma os proteinoglicanos tem a função de dar rigidez a matriz extracelular, resistindo a com- pressão e preenchendo espaços. Existem fortes evidências mostrando que a altera- ção da fisiologia do tecido conjuntivo associada ao stress mecânico, provoca uma mudança da quan- tidade e do tipo de cadeias de proteinoglicanos, o que altera também a forma habitual do tecido (Bienfait, 2004). ■■ Glicoproteínas e Integrinas As glicoproteínas assim como os proteinoglicanos possuem papel estrutural e metabólico no tecido conjuntivo. Formam o muco de tecidos e secre- ções. Estas moléculas tem um importante papel em promover a conecção entre os componentes da matriz celular e entre o interior das células e a matriz extracelular. Através deste papel, tem uma importante função de regulação, sendo capazes de promover mudanças não só no formato das célu- las, como na proliferação e diferenciação celular (Ingber, 1998). As integrinas constituem a principal família de receptores da superfície celular que intervém na fixação da célula à matriz extracelular. A impor- tância das integrinas é reforçada pelas funções que desempenham numa ampla variedade de processos bilógicos. As integrinas transmitem informações de tensão e compressão da matriz extracelular para o interior das células inclusive para o núcleo, e com isso regulam a organização do citoesqueleto e modulam processos celulares como proliferação e diferenciação celular, migra- ção e posicionamento das células, ou simpesmente o tamanho e formado das mesmas (Dieter, 2005). ■■ Fluido Intersticial e Circulação de Água Livre O fluido intersticial preenche todos os espaços livres entre as células do tecido conjuntivo, entre os feixes de colágeno e entre a rede de elastina. Este líquido, possui intensa actividade metabólica com importante papel na nutrição dos tecidos e na eliminação de substâncias. É a partir deste líquido que se forma a linfa (Moore e Persaud, 2005). Como foi colocado anteriormente, a densifica- ção dos feixes de colágeno em resposta a tensões constantes, reduz o espaço extracelular e conse- quentemente o volume disponível para a circula- ção do fluido intersticial. Pelo fluido intersticial ocorre a circulação de água livre, diferente da circulação de fluidos chamada circulação de água associada. A circulação de água livre é uma circulação rápida, que ocorre utilizan- do as mucinas hidrófilas dos feixes de colágeno como “conductos”, uma vez que a fisiologia das mucinas permite trocas osmóticas mediante alte- ração de densidade no meio interno. Marcell Bien- fait diz sobre esta circulação: “...Não é ridículo pensarmos que essa circulação vital poderia ser a circulação energética dos acupuntores. Ambas as circulações de água livre e de água associada, dependem do movimento da fáscia e confirmam a noção de globalidade deste tecido” (Bienfait, 2004). ■■ A Fáscia e a Sensação de De Qi Um dos fenômenos ligados a prática da acupunc- tura e que intriga os cientistas há décadas é a cha- mada sensação de De Qi. Esta sensação é descrita de muitas formas pelos pacientes: na forma de ardor, pressão, choque, calor, etc e muitos auto- res consideram o De Qi essencial para o resultado positivo da prática da acupunctura. Enquanto o paciente sente o De Qi, o terapeuta sente como se o tecido em volta da agulha se tivesse contraído e segurasse a agulha com mais força, sendo que este efeito biomecânico do De Qi pode ser chamado de compressão da agulha (needle grasp 1 ) (Helms, 1995). Durante algum tempo a explicação fisiológica para a compressão da agulha era a contração da mus- culatura esquelética (Gunn e Milbrandt, 1977) o que entretanto não era suportado pelos resultados quantitativos das pesquisas, já que a compressão da agulha acontecia mesmo em locais onde não há musculatura esquelética como no pulso ou em punturas superficiais apenas atingindo a pele. No início dos anos 2000, Helene Langevin e sua equi- pa na Universidade de Vermont, começaram a tra- balhar com uma nova proposta: a de que o tecido envolvido na compressão da agulha era o tecido conjuntivo (Langevin et al., 2001). Langevin propôs que a compressão da agulha se dá porque as fibras de colágeno e elastina do tecido conjuntivo se enrolam e comprimem a agulha durante a rotação da mesma. Desta forma uma ligação mecânica entre tecido e agulha é es- tabelecida e um sinal mecânico é transmitido. A subsequente tradução deste sinal mecânico para a resposta celular pode explicar os efeitos locais e distais da acupunctura. O enrolar das fibras do tecido conjuntivo ao redor da agulha, resulta numa grande ampliação da co- nexão mecânica entre a agulha e o tecido conjun- tivo no local da inserção. Existe porém logo no início da inserção, uma força que estimula as fibras a começarem a se enrolar na agulha, sen- do que esta força parece ser derivada da tensão superficial da agulha, somada a atração elétrica (Langevin et al., 2001). Uma vez que o tecido conectivo é formado por células envolvidas pela matriz extracelular contendo fibras de colágeno e elastina associadas a glicoproteinas e proteino- glicanos de carga negativa (Aumailley e Gayraud, 1998), a atração elétrica deve ocorrer entre o metal da agulha e as cargas do tecido. Esta força de atra- 1 Nos trabalhos científicos utilizados neste capítulo o termo utilizado pelos autores é “needle grasp”, que traduzi como compressão da agulha na falta de um termo mais correcto, já que o termo grasp ilustra melhor a capacidade do tecido em envolver a agulha durante o estímulo da acu- punctura.
  • 12. 22 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 23 ção é fraca, mas com força suficiente para iniciar o enrolamento das fibras na agulha especialmente dado ao pequeno diâmetro da mesma. Uma vez que a agulha de acupunctura esteja acoplada ao tecido, os movimentos feitos na agulha enviam um sinal através do tecido conjuntivo pela deformação da matriz extracelular como mostra a Figura 1 e a Figura 2. Langevin observou que depois da manipulação da agulha, as fibras de colágeno estavam mais retas, mais pró- ximas e mais paralelas. É esta alteração no formato das fibras que causa uma transmissão de sinal mecânico através da matriz extracelular e através do citoesqueleto dos fibroblastos e de outras células do tecido que sofrem uma reorganização activa, este sinal atinge o interior das células, o que deve contribuir para os efeitos terapêuticos da acupunctura (Lavengin et al, 2007). A reorganização do citoesqueleto em resposta ao sinal mecânico recebido pela matriz extracelular pode induzir contração celular, migração ou síntese de proteínas (Maniotis et al., 1997). A tradução do sinal mecânico para o interior das células com a subsequente resposta celular e seus efeitos em cadeia, podem explicar o porquê dos tratamentos de acupunctura terem efeitos que duram por muitos dias ou semanas, ou mesmo resolvem o problema de forma permanente. Figura 1: A imagem da esquerda mostra a inserção da agulha no tecido conjuntivo e a direita mostra que com a rotação da agulha as fibras de colágeno representadas pelo ama- relo enrolam-se na agulha. Os fibroblastos são atraídos por este sinal mecânico e o sinal chega ao citoesqueleto representado pela área rosa escuro da figura (Langevin et al., 2001). Figura 2: Formação de uma espiral no tecido conjuntivo com a rotação da agulha em tecido conjuntivo observado ao microscópio. Os números de 0 a 7 mostram o número de rotações efectuadas na agulha (Langevin e Yandow, 2002). Além da acupunctura, outras formas de terapia manual tem a capacidade de causar deformação no tecido conjuntivo, e assim produzir um sinal mecânico pelo tecido. Uma das técnicas dentro da Medicina Chinesa com esta capacidade além da acupunctura é o Gua Sha, usado pelos terapeutas para aplicar força de com- pressão ao paciente. Esta aplicação de força concentrada e localizada não é possível apenas com as mãos. A estimulação mecânica feita neste caso nos tecidos moles, resulta em uma produção de factores mecânicos de crescimento que activam e modificam células musculares e o tecido conjuntivo (Findley et al., 2012) ■■ A Fáscia e os Pontos de Acupunctura O ideograma Chinês que representa o ponto de acupunctura também significa “buraco”, o que dá a idéia que os pontos são como fendas no tecido onde a agulha pode penetrar mais profundamente e ter acesso a componentes mais profundos do tecido (O’Connor e Bensky, 1981) (Figura 3). Figura 3: ideograma Shu simplificado, usado de maneira geral para representar todos os pontos do corpo. O termo Shu tem diversas representações e diversos significados. (Zhang, 2006)
  • 13. 24 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 25 Os textos de acupunctura mais recentes relacionam a localização dos pontos a estruturas anatómicas e me- didas específicas, mas apesar destas referências a melhor forma de encontrar o ponto exacto é através da palpação, durante a qual o acupuntor procura por uma depressão leve ou mesmo pela sensação de ceder do tecido a uma pressão suave (Langevin e Yandow, 2002). Tradicionalmente a acupunctura é feita em pontos específicos do corpo, os pontos de acupunctura ao longo de meridianos descritos á milhares de anos. Muitos destes locais como os estudos anteriores mostram resi- dem sobre lâminas de tecido fascial entre os músculos ou entre músculos e tendões. Seguindo esta estrutura, quando a agulha é inserida no ponto correcto, irá penetrar primeiro através da derme e tecido subcutâneo e em seguida no tecido conjuntivo intersticial, enquanto que por outro lado se a agulha for inserida fora do ponto correcto irá penetrar a derme e o tecido subcutâneo e depois chegar a uma estrutura como um osso ou um músculo, como mostra a imagem na Figura 3 Figura 3: O ponto VB 32 (Zhongdu) situado no tecido conjuntivo de conexão entre os músculos bíceps femoral e vasto lateral, e em preto o ponto de controle. Da mesma forma na figura da direita o IG 14 (Binao) entre os planos fasciais e o ponto de controle (Lavegin e Yandow , 2002) Helene Lavegin analisou imagens de cortes transversais do braço com a localização de pontos dos 3 me- ridianos Yin que por aí passam (Coração, Pulmão e Pericárdio) e dos 3 meridianos Yang (Intestino Grosso, Intestino Delgado e Sanjiao) e verificou que 80% dos pontos de acupunctura deste meridianos localizam-se em clivagens de planos fasciais, onde a agulha ao ser inserida encontrará uma maior quantidade de tecido conjuntivo em relação aos pontos de controle. James Fox junto com Helene Lavegin, em 2008 (Fox et al., 2008) fez um estudo através de imagens de ul- trasom durante a puntura no ponto VB 32 (Zhongdu) e num ponto controle próximo (Figura 3). Para evitar qualquer alteração mecânica na puntura, a mesma foi feita de forma computadorizada, por isso sempre igual em todos os locais. Os resultados deste trabalho mostraram que a capacidade das fibras do tecido conjuntivo se enrolarem na agulha de acupunctura é maior no ponto de acupunctura em relação ao ponto controle, e que o estímulo mecânico criado pela agulha, se propaga por mais tempo e a maior distância no ponto de acupunctura. ■■ A Fáscia e o Trajecto dos Meri- dianos Os meridianos tão procurados por anatomistas, parecem afinal estar relacionados a linhas miofas- ciais de tensão criadas ao longo do corpo. Este tema ficará para a 2ª parte desta revisão, onde se irá destacar o trabalho de dois autores que pa- recem ser se não os únicos, mas os primeiros a desenvolver um conceito mais profundo relacio- nando a fáscia com a regulação e movimentação do corpo, assim como com o equilíbrio do corpo de forma global. Phillip Beach é um Osteopata australiano que na década de 80 começou a estudar Medicina Tra- dicional Chinesa e desenvolveu alguns conceitos interessantes sobre os meridianos da acupunctura. Em seu livro “Muscles an Meridians – The Manipu- lation of Shape”, Beach diz que os meridianos são linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura anatómica, alguns seguem em linha reta, outros em zigue-zague. Nesta altura este autor já suge- ria que os meridianos deveriam seguir as linhas da fáscia, porém ele próprio comenta que uma vez que a fáscia está em toda a parte, naquela altura esta afirmação acabava significando zero. (Beach, 2010) Uma década depois, outro terapeuta, Thomas Myers que nos anos 90 ensinava Anatomia Mio- fascial no Instituto Rolf começou a exclarecer o paradigma de Beach e mostrar que apesar da fáscia estar em todo o corpo e em cada célula, a pos- sibilidade de relação com os meridianos da acu- punctura era real. Myers começou a desenvolver junto com seus alunos um trabalho exaustivo na área das cadeia miofascia. Nesta altura todos os livros mostravam a teoria de músculos individual- mente, mas Ida Rolf dizia sempre que tudo estava conectado através da fáscia. Este trabalho resul- tou na publicação em 2001 da primeira edição de seu livro “ Anatomy Trains”. Myers, desenvolveu as relações diretas e indiretas entre músculos e movi- mentos, e no seu trabalho mostra que estes “meri- dianos” ou trilhos miofasciais formam linhas pelo corpo por onde são distribuidas trações, tensões, fixações, compensações e a maioria dos movimen- tos do corpo. Ao todo Myers descreve 12 linha tensionais que se interconectam e dão sustentação biomecanica a todo corpo2 . (Myers, 2009) Um dos fundamentos básicos utilizados por Myers para definir os trilhos miofasciais foi a di- recção e profundidade das fibras fasciais encon- tradas. Segundo ele, os trilhos miofasciais devem prosseguir em uma direção e profundidade con- sistente através de conexão directa pela membra- na fibrosa ou indirecta, conectadas por meio de uma junção óssea interposta. Mudanças bruscas de direção ou profundidade acabariam por anular a capacidade do trilho miofascial em transmitir a tensão para o próximo elo da cadeia. Segundo a noção de globalidade da fáscia, qualquer lesão no trilho miofascial pode gerar problemas em toda a cadeia e atrapalhar a transmissão de tensão. Em termos clínicos, ele conduz a um entendimento diretamente aplicável de como problemas doloro- sos em uma área do corpo podem estar ligados a uma região totalmente “silenciosa” e até certo ponto distante desse problema. Dessa forma o co- nhecimento dos trilhos permite ao terapeuta defi- nir uma estratégia de tratamento global em todo o trilho afetado, uma estratégia holística. O conceito de que a fáscia conecta o corpo como um todo em uma trama sem fim não é antagô- nico ao conceito músculo – osso apresentado na descrição anatómica usual, ao contrário, é comple- mentar. Quando uma parte do corpo se movimen- ta, o corpo responde como um todo e funcional- mente o único tecido ao qual se pode atribuir essa resposta é o tecido conjuntivo. Phillip Beach corrobora este conceito em sua te- oria de “campos contrácteis”, onde desenvolve um modelo de compreensão biomecânica de todo o corpo, não só da musculatura, mostrando que 2 Para evitar equivocos, uma vez que Myers chama suas linhas de me- ridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os me- ridianos da medicina chinesa.
  • 14. 26 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 27 cada célula individual tem elementos contrácteis, já que tudo está envolvido pela fáscia, sugerindo que desde a pressão sanguínea até a função dos rins afeta os padrões de movimento e forma do corpo. Desta forma o modelo de Beach segue me- nos a anatomia da fáscia (como o de Myers) e mais a lógica dos movimentos, relacionando posturas corporais com a facilidade em palpar os pontos correspondentes a determinados meridianos da acupunctura e sua relação superficial e profun- da. Em seu trabalho Beach mostra ainda como a punctura de certos pontos altera a posição subtil do corpo e diz que a escolha dos pontos é uma maneira de manipular a forma, sendo que forma e função estão profundamente correlacionadas. Ambos os autores citam-se mutuamente em seus trabalhos e comentam não só a estreita relação entre os conceitos que desenvolveram sugerindo- -os como complementares, como ainda a relação entre seus trabalhos e a Medicina Chinesa. ■■ Conclusão Nesta primeira parte da revisão sobre o papel da fáscia na Medicina Chinesa, pode-se ver que apesar de a acupunctura e as descobertas mais recentes sobre o tecido conjuntivo e seu papel no corpo estarem separados por milhares de anos, a acupunctura e a fáscia parecem estar intimamente relacionadas. Actualmente os estudos mostram que funcional- mente a rede de tecido conjuntivo não promove apenas suporte para o corpo, mas também man- tém o balanço do organismo ao regular os reflexos neurais, a actividade neuroendócrina, a imunidade e através da reparação de danos em células e tecidos. Desta forma coloca-se a hipótese de que existe um sistema de auto vigilância no corpo humano que difere essencialmente dos nove sistemas funcionais (sistema digestivo, nervoso, respiratório, circulató- rio, estrutural, glandular, urinario, imunológico e linfático) que regula através da fáscia o equilíbrio e a homeostase do organismo (Wang, 2007). Partindo-se do princípio que mesmo uma ener- gia subtil precisa de um meio físico para fluir e se manifestar, e baseado nos estudos que foram apresentados, pode-se definir que a fáscia é a base física por onde o Qi circula, e suas fibras são es- senciais para a transmissão do sinal de acupunctu- ra tanto em termos locais como à distância, pode- mos dizer que a condição da fáscia será essencial para um bom fluxo de Qi no organismo. Em termos funcionais, a fáscia molda e dá forma ao corpo. A estrutura da fáscia aumenta a resis- tência, melhora a circulação sanguínea e absorve choques, além de manter o corpo estruturado, protegido e lubrificado. Permite que a estrutura corpórea se mova facilmente, deslizando as lâmi- nas fasciais uma sobre a outra à medida que nos dobramos e nos movemos. As restrições e aderências na fáscia e entre os te- cidos adjacentes, como no caso de traumatismos, stress, processos inflamatórios, cirurgias, más pos- turas, etc, torna a fáscia mais sólida e encurtada, criando pressões em áreas sensíveis, levando à dor, restrições de movimento e mau funcionamento dos órgãos. Num trauma ou irritação o corpo cria um tecido cicatricial para ajudar a reparar e a imo- bilizar a área, tal qual uma bandagem. Ela liga as estruturas como se fosse uma cola e se torna parte estrutural da fáscia. A porção da fáscia que forne- ce lubrificação para a mobilidade, agora pode tor- nar-se uma substância pegajosa e sólida. Isto pode inibir a circulação do sangue e da linfa, reduzir os movimentos do corpo, inibir a força dos músculos e comprometer as funções orgânicas. O fluxo de Qi será debilitado ou irregular e desequilíbrios irão aparecer no organismo. Estudos mostraram que pacientes com dores lombares crônicas possuem a fáscia na região lombar mais densa e com fibras mais desorganizadas do que pacientes sem dor lombar (Langevin et al., 2009). Temos que nos lembrar que a fáscia é continua ao longo do corpo, assim como a circulação de Qi, assim quando uma seção dela se retrai ou fica imobilizada, pode afetar outras áreas ou mesmo afetar o corpo inteiro já que o suave fluxo de Qi ficará comprometido. Da mesma forma quando um bloqueio ou uma cicatriz é tratada, ela libera o fluxo de energia, transmissão nervosa e circula- ção sanguínea. A circulação de água pela fáscia é essencial para a saúde do próprio organismo, assim como a hi- dratação da própria fáscia, uma vez que a matriz extracelular deve estar banhada pelo fuido inters- ticial. Assim quando este aspecto do corpo não está bem, surgem bloqueios e com eles sinais de desequilíbrio do organismo. Edemas que surgem pela imobilização, manchas na pele, espinhas, fu- rúnculos, vermelhidão, são exemplos de estase do líquido lacunar; dores agudas sem gravidade, do- res que se irradiam ou ‘queimam’, a retração e o encurtamento muscular, são bloqueios da fáscia. Marcell Bienfait diz que a osteoartrose (densifi- cação, calcificação e degeneração da cartilagem) ocorre pelo mal funcionamento da bomba articu- lar causada pela perda da elasticidade cápsulo-liga- mentar-comum no processo de envelhecimento e pela ociosidade do homem moderno. De facto o próprio processo de envelhecimento do homem é a densificação progressiva do tecido conjun- tivo, reduzindo o volume dos espaços lacunares e a circulação dos fluídos (Bienfait, 2004), o que na Medicina Chinesa chamamos de vazio de Yin causado pela idade e esgotamento dos fluidos or- gânicos. A acupunctura é capaz de proporcionar uma al- teração no tecido fascial através do enrolamento das fibras de colágeno ao redor da agulha e da ca- deia de eventos gerados por esta transmissão de sinal mecânico. Ainda está por ser determinado a maneira como cada uma das diferentes formas de manipulação da agulha de acupunctura afecta as diferentes respostas celulares possíveis. A conexão entre mente e corpo tão importante na Medicina Chinesa e por tanto tempo deixada de lado pela medicina Ocidental é fundamental para o bom funcionamento da fáscia e consequente- mente a boa circulação do Qi. Imagine-se no papel dos pulmões tentando respirar plenamente numa pessoa deprimida, curvada, sobre tensão. Imagi- ne-se no papel dos rins tentando filtrar o sangue quando os seus ductos e vasos internos tem o es- paço limitado porque a postura está contraída ou o corpo caído para baixo. Imagine-se no papel do fígado tentando purificar o sangue e eliminar de- tritos tóxicos ou metabólicos enquanto seu dono está frustrado, enrijecido e afundado na cadeira. Ajustar a postura corporal, trabalhar a mente de forma positiva otimiza todos os aspectos do fluxo natural interior, o fluxo de Qi melhora quando se relaxa a postura corporal e aquieta a consciência e esta capacidade de trabalhar em conjunto corpo e mente é fundamental na Medicina Chinesa, nas Artes Marciais e em todas as terapias holísticas. PALAVRAS-CHAVE: Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.
  • 15. 28 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 29 ║║ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Aumailley, M., e Gayraud, B. (1998) “Structure and biological activity of the extracellular matrix”. Journal of Molecular Medicine 76: 253–265. • Beach, Phillipe Muscles and Meridians, the manipulation of shape. Elsevier Healthy Scienses, 2010 • Bienfait, Marcel Fáscias e Pompages – Estudo e tratamento do esqueleto fibroso. 3ª edição, Sum- mus Editorial, São Paulo, 2004. • Culav E.M., Clark C.H. e Merrilees M.J. (1999) “Connective tissues: matrix composition and its relevance to physical therapy”. Physical Therapy. 79: 308-319. • Dieter, Monica “Ação do Medicamento Canova na Cicatrização do Dorso de Camundongo após Incisão e Sutura”. Dissertação de Mestrado, Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2005. • Findley T., Chaudhry H., Stecco A. e Roman M. (2012) “Fascia Science and Clinical Applications: Mathematical Fascial Modelling.” Journal of Bodywork Movement Therapies 16: 67-75. • Findley T., Shalwala M. (2013) “The Fascia Research Congress from the 100 year perspective of Andrew Taylor Still.” Journal of Bodywork and Movement Therapies 17(3):356-364. • Fox, J.R., Stevens-Tuttle D. e Langevin, H.M. (2008) “Mechanical response of fascia associated with acupuncture meridians during acupuncture needling”. Journal of Bodywork and Movement Therapies 12: 260. • Gunn, C.C., e Milbrandt, W.E. (1977). “The neurological mechanism of needle grasp in acupunc- ture”. American Journal of Acupunture 5: 115-120. • Helms, Joseph “Acupuncture Energetics-A Clinical Approach for Physicians.” Thieme Publi- shers, Nova York, 1995. • Ingber Donald. “The architecture of life”. Scientific American, janeiro de 1998: 48-57. • Jayasurya, Anton (1995) As Bases Científicas da Acupuntura. Rio de Janeiro, Sohaku Edições. • Langevin, H.M., Churchill, D.L., e Cipolla, M.J. (2001). “Mechanical signaling through • connective tissue: a mechanism for the therapeutic effect of acupuncture.” FASEB Journal 15 (12): 2275-2282. • Langevin, H.M. e Yandow, J.A. (2002) “Relationship of Acupuncture Points and Meridians to Connective Tissue Planes.” The Anatomical Record (New Anat.) 269: 257–265. • Langevin H.M., Bouffard N.A., Churchill D.L. e Badger, G.J. (2007) “Connective Tissue Fibro- blast Response to Acupuncture: Dose-Dependent Effect of Bidirectional Needle Rotation.” Jour- nal of Alternative and Complementary Medicine. 13: 355–360. • Langevin, M.H., Tuttle, D.S., Fox, J.R., Badger, G.J., Bouffard, N.A., Krag, M.H., Wu, J. e Henry, S.M. (2009) “Ultrasound evidence of altered lumbar connective tissue structure in human subjects with chronic low back pain.” BMC Musculoskeletal Disorders 10: 151-160. • Lewith, George “Acupuncture: Its Place in Western Medical Science.” Thorsons Publishers, Nova York, 1985. • Li Ping “El Gran Libro de la Medicina China.” 2ª edição Ediciones Martinez Rocas, Barcelona, 2002. • Maniotis, A. J., Chen, C. S. e Ingber, D. E. (1997) “Demonstration of mechanical connections between integrins, cytoskeletal filaments, and nucleoplasm that stabilize nuclear structure.” Proce- edings of the National Academy of Science. 94 : 849–854. • Mattos, Filipe “Fáscia Estudo Físico e Energético.” Centro de Estudos de Medicina Tradicional e Cultura Chinesa, São Paulo, 2010. • Moore, K. L. e PERSAUD, T. V. N. “Embriologia básica. “ 6ª. edição, Elsevier, Rio de Janeiro, 2005. • Myers, Thomas “Anatomy Trains – Myofascial Meridians for Manual and Movement Therapist”. 2a edição, Churchill Livingstone, Londres, 2009. • O’Connor J e Bensky D. “Acupuncture, a comprehensive text (Shanghai College of Traditional Medicine).” Eastland Press, Seattle, 1981. • Oschman, James “Energy Medicine – The Scientific Basis.” Churchill Linvingstone, Londres, 2000. • Wang J., Dong, W.R., Wang, C.L., Yao, D.W., Zhao, B.L., Shen, B.L., Yang, L.L., Yuan, L. (2007) “From meridians and acupoints to self-supervision and control system: a hypothesis of the 10th functional system based on anatomical studies of digitized virtual human.” • Journal of South Medical University, 5: 573-579 . • Zhang, Shegxing “ Origem e significado dos nomes dos pontos de acupuntura” Editora Roca, São Paulo, 2006.
  • 16. 30 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 31 Aplicação da anestesia com acupuntura numa endodontia Paciente com nevralgia do trigémeo (NT) bilateral Nuno Pacheco, André Santos * profnunopacheco@gmail.com, andresantos_ref@hotmail.com Resumo: A paciente, uma mulher de 51 anos, apresentava um quadro clinico com diagnóstico raro de nevral- gia do trigémeo (NT) bilateral com sintomatologia dolorosa na zona do dente 17. Foi realizada a endodontia com a técnica anestésica por acupuntura e electroestimulação. Nenhuma outra forma de anestesia química foi utilizada neste procedimento. Tendo como base a teoria básica da MTC, o protocolo utilizado foi: ID18 (Quanliao), E3 (Juliao), 4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e Shenemen de auriculoterapia. A corrente elé- trica escolhida foi a denso-dispersa, própria para analgesia. Após 15 minutos, foram feitos os testes de sensibilidade (negativos), iniciou-se o procedimento en- dodôntico. A zona a tratar estava analgesiada e a dor da NT não foi ativada. Conseguiu-se uma analgesia completa da zona a tratar, permitindo assim que o tratamento em causa fosse realizado. Não foram registados os efeitos adversos da anestesia química por infiltração, nome- adamente, a boca dormente, alergia à anestesia química, dor pós operatória. Num caso complexo como este de NT bilateral, a anestesia por electroacupuntura, foi a opção mais vantajosa para a paciente. * Síntese curricular: Nuno Pacheco - Licenciado em Ciências religiosas, pela UCP, Diplomado em MTC, Aromoterapia, reflexologia, Auriculo- terapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC, às disciplinas de Estrutura de meridianos e localização de Pontos (EMLP) e Nutrição e Dietética, na perspetiva oriental(NUD). Exerce funções de terapeuta de MTC em várias Clinicas Médicas e de medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais, autor de artigos em revistas da especialidade, vice-Presidente da Assembleia Geral da Apsana. André Santos - Diplomado em MTC, Shiatsu, reflexologia, Auriculoterapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC às discipli- nas de auriculoterapia, Shiatsu e acupuntura. Pós-graduação em acupuntura pelo IPN. Exerce funções de terapeuta de MTC em várias Clinicas Médicas e de medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais, autor de artigos em revistas da especialidade; Presidente da Assembleia Geral da Apsana. ■■ estudo de caso ■■ Definição de endodontia Endodontia é a ciência que envolve a etiologia, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das alte- rações patológicas da polpa dentária e das suas re- percussões na região periapical e, por consequên- cia, no organismo (Leonardo, M.R., 2008). Do ponto de vista etimológico, endodontia é a especialidade da odontologia que se ocupa do interior do dente, mais especificamente, de um tecido conectivo muito especifico que só se en- contra nos dentes, conhecido por polpa dentária (Rodrigues-Ponce, 2003). É na parte da polpa, onde se encontram as terminações nervosas e a ir- rigação sanguínea do dente, que se centra o maior interesse da endodontia, também conhecida por desvitalização, termo que por vezes está incorreto, pois o dente já não tem vida. O elevado grau de conhecimentos sobre as ca- racterísticas anatómicas dos dentes e o aperfei- çoamento da técnica manual para compensar a inacessibilidade visual que se tem do local a tra- balhar, exige que a endodontia implique uma série de fases que, a serem ignoradas, podem tornar um tratamento endodôntico aparentemente simples, em algo difícil e, muitas vezes, impraticável. (Bra- mante, M.B.,2004). É de salientar que qualquer tratamento endodôn- tico pode apresentar complicações ou mesmo aci- dentes, que necessitarão de outro tipo de interven- ções (Andretta, 2009). ■■ Nevralgia do trigémeo (NT): breve resumo A nevralgia ou neuralgia do trigémeo apresenta um quadro clinico típico e característico, que é di- fícil confundir com odontalgias (Loeser, 1985;Tei- xeira, 1997; Siqueira, 2003). A NT é uma síndrome de dor cronica, carateriza- da por paroxismos de dor excruciante nos lábios, gengivas, bochechas, queixo e muito raramente na região enervada pela divisão oftálmica do quinto par craniano. A dor da NT afeta de maneira dra- mática a qualidade de vida dos pacientes acometi- dos (Alves, 2004). A dor é desencadeada por toque em determinados pontos, pontos gatilho, ou por ações como lavar os dentes, mastigar ou pode mesmo ser espontâ- nea. Pode ter uma frequência elevada, sendo capaz de repetir até 100 vezes por dia, o que leva a uma incapacidade total. A maioria dos pacientes define a dor como que relâmpagos que atacam a face, nomeadamente a zona da maça do rosto, perto do nariz ou área da mandibula. Muitas teorias foram propostas para explicar a fi- siopatologia da NT, mas nenhuma explica todos os aspetos clínicos desta condição. (Alves, 2004). A NT tem um diagnóstico difícil, pois a ausên- cia de testes laboratoriais e anátomo-fisiológicos objetivos e o amplo espetro de síndromes de dor facial, tornam esta patologia difícil de diagnosti- car para não-especialistas (Alves, 2004). Segundo Alves (Alves,2004), o diagnóstico da NT depende estritamente da história clinica e pelo preenchi- mento dos critérios da IHS – International Hea- dache Society (Quadro I) e da IASP – Internatio- nal Association for the Study of Pain. No caso em estudo, a NT bilateral ainda é mais rara, o que torna a recolha bibliográfica ainda mais difícil. O tratamento médico da NT utiliza medi- camentos antiepileticos (carbamazepina e oxcar- bazepina, os de primeira escolha) e caso falhem, poder-se-á recorrer a procedimentos cirúrgicos. ■■ Acupuntura e analgesia Embora sendo uma medicina milenar, a acupun- tura não se pôde incorporar no arsenal terapêutico ocidental até relativamente pouco tempo (Gau- dy,2006). Os tempos mudaram e a pesquisa científica, alia- da à publicação de vários estudos, fazem, hoje, da acupuntura uma ferramenta eficaz e de grande utilidade no campo da anestesia e, com particular interesse e eficácia, na medicina dentária.
  • 17. 32 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 33 Reconhecida quer pela OMS quer por outros or- ganismos internacionais, a acupuntura e a sua apli- cação na analgesia tem vindo a crescer e os relatos apresentados confirmam, mostrando evidências científicas, a sua eficácia. Graças ao trabalho de- senvolvido nos últimos anos, à realização de estu- dos e publicações de estudos efetuados segundo as exigências da medicina baseada em evidências (que, contudo, já não deve ter a pretensão de va- lidar tudo: só reúne 20% do consenso médico) se pôde incorporar a acupuntura em consultas hos- pitalares e médicas (Gaudy, 2006). Não querendo fazer deste trabalho uma longa abordagem científica exaustiva, tentaremos mos- trar, através deste caso prático, a aplicabilidade, com sucesso, da anestesia com acupuntura, na endodontia, numa paciente com nevralgia do tri- gémeo bilateral. Segundo a MTC a nevralgia do trigémeo pode ter a sua origem na invasão de vento frio na face, que pode ser facilitada por uma condição preexis- tente de deficiência de Qi e Xue (ROSS,2005). A sua origem pode estar relacionada, também, com problemas de dentes. Segundo Ferreira, (Ferrei- ra, 2011), a MTC inclui a NT na dor facial e na odontalgia, sendo consideradas na sua etiologia as agressões pelas energias perversas vento/frio e vento/calor ou por subida à extremidade cefáli- ca do fogo interno que origina uma obstrução na circulação de Qi e de Xue, causando dor; fogo de fígado ou fogo de estômago, associados a raiva re- primida e preocupação, deficiência de Yin de Rim ou a hábitos alimentares irregulares (Ross,2005). O seu tratamento em MTC deve ter em conta simultaneamente quer as ramificações do nervo trigémeo e quer as causas da nevralgia de base do diagnóstico em MTC. Preparação da paciente Após a recolha de dados da grelha elaborada, pas- samos para a preparação da paciente, tarefa levada a cabo pela equipa. Numa primeira fase a medica dentista abordou a paciente para a possibilidade de se realizar a anestesia com acupuntura, facto que a paciente aceitou. De seguida os terapeutas de acupuntura explicaram todo o procedimento, detalhadamente. Notou-se alguma apreensão ini- cial na paciente, que rapidamente, após a explica- ção de todo o procedimento, ficou mais descon- traída e confiante no tratamento. De realçar que a paciente nunca tinha realizado nenhum tratamen- to de acupuntura e o seu desconhecimento sobre a terapia poderia ter ajudado a um “ certo medo”,( palavras da paciente) e alguma desconfiança. Já na sala onde se iria realizar a endodontia, fo- ram colocadas as agulhas de acupuntura e ligadas à máquina de electroestimulação. Foi aplicada uma corrente denso-dispersa/analgesia. Durante 15 minutos a corrente foi sendo aumentada até a paciente referir formigueiro na zona a tratar e uma certa dormência (Ver correntes no ponto 4.3). Neste momento a médica dentista começou a realizar alguns testes de sensibilidade e perante os resultados iniciou o procedimento endodônti- co no dente 17. Durante todo o procedimento foi realizado shiatsu craniano à paciente, para relaxar. Material Utilizado O material utilizado foi escolhido pelas suas carac- terísticas mais especificas, nomeadamente o tipo de agulha e a máquina de electroestimulação. Não apresentaremos o material necessário para a parte dentária, nem o material de esterilização, pois é su- posto a sua utilização em qualquer procedimento endodôntico, tais como luvas, máscaras e demais acessórios. O tipo de agulha utilizada foram agulhas filifor- mes com cânula da medida 0,25x25 mm e 0,13x18 mm de liga metálica e com revestimento de co- bre, porque a condutividade é melhor, da marca TEWA, de fabrico chinês e controlo de qualidade alemão. Esta agulha permite uma inserção rápida, indolor, na maioria dos casos, de grande resistên- cia e com uma condutividade excelente. A máquina de electroestimulação utilizada foi da marca Hwato, modelo SDZ-IV, digital, de seis ca- nais de saída, com 3 correntes pré-defenidas: corrente de tonificação, corrente de dispersão e corrente denso- -dispersa, a utilizada neste caso. O modelo em causa é dos mais atuais do mercado e ofereceu as garantias exigidas neste trabalho em clinica. Protocolo de pontos selecionados A seleção de pontos foi criteriosa, tendo em conta o objetivo principal, a analgesia. Contudo, o facto de a paciente sofrer de nevralgia do trigémeo bilateral, também pesou na escolha dos pontos de acupuntura. Tal como diz Jeremy Ross (Ross,2005) a combinação de pontos aqui escolhida não tem a intenção de ser uma fórmula fixa. São dadas como diretrizes passíveis de modificação de acordo com as necessidades individuais do paciente e estilo do terapeuta (Ross, 2005). Certo é que a combinação proposta tem como princípios teóricos de combinação a base da teoria da me- dicina tradicional chinesa (MTC). Foi ainda utilizado pontos da auriculoterapia, como auxiliar da analgesia. O protocolo por nós proposto é o seguinte: ID18 (Quanliao), E3 (Juliao) , 4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e shenemen de auricu- loterapia. Foto 1: Localização dos pontos de acupuntura (imagem real do caso em estudo) A escolha destes pontos teve como principal preocupação a analgesia e a patologia da paciente, Nevralgia do Trigémeo bilateral. Porque se trata de uma área anatómica restrita, não utilizamos muitos mais pontos que, segundo as suas ações em MTC, poderiam ser úteis num tratamento distinto da patologia da paciente. Como pontos locais, escolhemos o ponto 18 do ID e o ponto 3 do E. O ponto 18ID – Quanliao - tem a sua localização na borda inferior do arco zigomático, perpendicular-