DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
A construção da identidade pessoal na teoria de Erik Erikson
1. Docente: dr. Artur Américo Chanjale
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Universidade Save
Psicologia Geral
Erik Erikson (1902-1994)
A construção da identidade pessoal, tema central da teoria de Erikson, assumiu também
um significado especial na vida do autor.
Erikson nasceu em Hamburgo, na Alemanha, de pais dinamarqueses. A sua mãe foi
abandonada pelo marido pouco antes do nascimento de Erikson. Três anos mais tarde casou
com Theodor Homburger, um médico judeu. Durante vários anos Erikson pensou ser este
o seu verdadeiro pai.
Cresceu como Erik Homburger, um judeu com aparência de escandinavo. Nos meios
judaicos era tratado nórdico e na escola como judeu. Com dificuldades de integração
passou a formar de si mesmo a imagem de marginal, de autsider. Na fase da adolescência,
ficou a saber que o seu pai biológico não era um judeu alemão mas sim um dinamarquês,
o que mais perturbou o sentido da sua identidade.
A partir dos 20 anos viajou pela Europa, depois de ser formado em Belas-Artes. Foi para
Florença com a intenção de se tornar professor de arte. Tornou-se pintor de retratos.
Insatisfeito, não conseguindo encontrar uma ocupação estável e cada vez mais confuso
quanto à sua identidade, Erikson decidiu ir para Viena. Aí começou a trabalhar como
professor numa escola destinada aos filhos dos pacientes e dos amigos de Freud. Foi a
oportunidade, que não desperdiçou de entrar em contacto com a psicanálise.
Conheceu vários psicanalistas e sobretudo Freud e a sua filha Anna. Foi esta que o
orientou e treinou, dando-lhe a conhecer os segredos da terapia psicanalítica.
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Em 1933, Erik Homburger, fixou residência nos Estados Unidos. Htler acabara de ascender
ao poder na Alemanha. Na América (Chicago) tornou-se o primeiro psicanalista de
crianças. Tornou-se famoso com a obra Infância e Sociedade onde realçava a importância
da cultura e da sociedade na formação da identidade de cada indivíduo. Leccionou nas
famosas universidades de Berkeley, Yale e Harvard. Em 1939 decidiu naturalizar-se e
adoptar o apelido Erikson. A escolha deste nome representava simbolicamente que tinha
encontrado a sua identidade.
O tema da identidade, a afirmação de que o percurso existencial de cada indivíduo gira em
torno da construção de um “sentimento de identidade,” define a originalidade da doutrina
de Erikson. Atribuindo especial importância à adolescência mas não reduzindo a formação
da identidade a esse período, Erikson é um autor incontornável no estudo do
desenvolvimento.
A sua teoria psicossocial, mais optimista do que a visão freudiana do desenvolvimento,
centra-se no indivíduo saudável (estudou várias biografias de personalidades famosas) e
não no indivíduo neurótico e perturbado. A personalidade desenvolve-se ao longo de toda
a vida e nenhuma idade da vida é intrinsecamente mais importante do que as outras. Cada
estádio, em certa medida, é uma nova oportunidade de desenvolvimento. A formação da
identidade é uma tarefa sempre em aberto.
Conceito de desenvolvimento psicossocial
De formação psicanalítica (praticou a psicanálise sobretudo com crianças ao contrário do
seu mestre), Erikson reconheceu a contribuição de Freud para a compreensão do
desenvolvimento. Contudo, apercebeu-se de que Freud insistiu demasiado no poder da
sexualidade e das relações familiares, não valorizando como devia a influência dos factores
sociais. A sua teoria será denominada “Teoria do desenvolvimento psicossocial”, não
esquecendo que se constrói mantendo alguns pressupostos básicos da doutrina freudiana.
Valorizando a interacção entre o indivíduo e o meio sócio - cultural ao longo de todo o
ciclo vital, Erikson entende que o desenvolvimento sócio - afectivo abrange oito estádios
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ou idades. Os quatro primeiros estádios decorrem durante a infância; os quatros seguintes,
durante a adolescência e a idade adulta.
Erikson construiu a sua teoria a partir de algumas ideias básicas de Freud, tais como a
importância da infância no desenvolvimento pessoal, a existência de 3 estruturas psíquicas
fundamentais (Ego, Id e Superego) e de impulsos e motivações inconscientes. Sustentou
que a tarefa fundamental da existência é a construção da identidade pessoal.
Segundo Erikson, a identidade pode ser concebida como a imagem mental relativamente
estável da relação entre o “eu” e o mundo social nos vários contextos e momentos do
processo de socialização. Ao contrário de Freud, a formação da identidade pessoal é um
processo que, percorrendo diversos estádios, dura toda a vida.
Cada estádio reconfigura e reelabora o estádio anterior a partir do qual emerge. Ao longo
da sua existência cada indivíduo interroga-se “quem sou eu?” e em cada estádio,
eventualmente, alcança uma resposta diferente. Cada estádio distingue-se por uma tarefa
específica que o indivíduo deve cumprir de modo a transitar para o estádio seguinte.
Para Erikson essas tarefas têm o nome de crises porque são fontes de conflitos no interior
do indivíduo que as vive. A identidade pessoal de cada indivíduo forma-se segundo o modo
como resolve tais crises (período de grande vulnerabilidade mas também de potencial
crescimento).
Erikson acreditava que as crises são estimulantes, dão ao indivíduo uma “sucessão de
potencialidades,” novas formas de experienciar e de interagir com o mundo. A
personalidade modifica-se em virtude do contacto com um conjunto cada vez mais amplo
de agentes sociais (pais, avós, colegas, professore, empregadores, etc) e de práticas
culturais.
O percurso vital de cada indivíduo desenrola-se no contexto de uma cultura específica.
Enquanto a maturação física (abre novas possibilidades e ao mesmo tempo suscita novas
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exigências sociais) determina a sequência temporal de desenvolvimento de uma particular
componente da personalidade, a cultura disponibiliza os instrumentos interpretativos e
determina a forma das situações sociais nas quais as crises (conflitos) são enfrentadas.
Cada conflito oferece dois pólos: um positivo e outro negativo. É importante que o ego
em desenvolvimento incorpore, em certo grau, ambos os pólos do conflito. Possuir em
demasia a qualidade psicológica desejada pode criar problemas. Mais a balança deve
tender mais para o valor positivo do que para o negativo, de modo que surja uma orientação
positiva para o futuro confronto com a realidade. Assim, por exemplo, no conflito
“confiança versus desconfiança” em relação ao mundo é bom possuir uma certa dose de
desconfiança, para lidar efectivamente com o mundo, dado que este muitas vezes não
parece seguro e de confiança.
Por outro lado, a crise básica que forma o núcleo de cada estádio não se manifesta somente
durante esse estádio. Cada crise é mais saliente durante um estádio específico mas tem
as suas raízes em estádios prévios e consequências em estádios posteriores. Por
exemplo, o conflito “identidade versus difusão da identidade.” É a crise que define a
adolescência mas a formação da identidade começa durante os 4 primeiros e anteriores
estádios; e a identidade que se forma (e o modo como se forma) durante a adolescência
influencia e está presente nos 3 estádios finais de um desenvolvimento que se faz segundo
o ritmo de cada indivíduo.
A superação bem-sucedida do grande desafio que cada estádio coloca não significa que
não tenhamos de voltar a enfrentá-lo (sinal de que nunca é absolutamente resolvido).
Mesmo quando adultos, por exemplo, podemos ter de nos confrontar com o medo da
solidão, do abandono e da insegurança, revivendo assim em outro contexto crises
características de estádios infantis do desenvolvimento.
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A nossa odisseia ao longo do ciclo vital significa enfrentar novos desafios e, em certa
medida, revisitar antigos conflitos.
Estádios do desenvolvimento psicossocial
Relativamente ao desenvolvimento, Erikson propõe um conjunto de estádios cuja
singularidade se deve ao conflito neles vivido. O conflito consiste numa polaridade
emocional que tem uma vertente positiva e uma vertente negativa. O indivíduo deve
decidir entre duas alternativas – uma que é benéfica e outra que, em certa medida, é
prejudicial (pode ter efeitos negativos no desenvolvimento). Um desenvolvimento
equilibrado e bem-sucedido depende da resolução conveniente do conflito próprio de cada
estádio, de modo a que a vertente positiva predomine. Resolver positivamente cada crise é
decisivo para a constituição de uma personalidade bem adaptada capaz de enfrentar
equilibradamente os desafios e problemas da vida.
Erikson dividiu o desenvolvimento em oito estádios psicossociais a que chamou “idades
da vida”.
1ª Idade: confiança versus desconfiança (0 – 2 anos)
Neste primeiro estádio (também denominado oral-sensorial) o recém-nascido depende
totalmente dos outros para satisfazer as suas necessidades. Se receber amor daqueles que
constituem o meio envolvente imediato (pais, ama, irmãos) e as suas actividades de
descoberta forem encorajadas e estimuladas de modo equilibrado, o bebé desenvolverá
confiança não só nos outros como também em si mesmo. Se receber pouco amor e atenção
aprenderá a não ter confiança em si nem nos outros.
Para Erikson, a interacção do bebé com a mãe é decisiva na forma como se resolve o
conflito ou a tensão entre confiança e desconfiança. O desenvolvimento de um sentimento
de desconfiança demasiado acentuado tornará a criança tímida, retraída, insegura quanto
às suas capacidades e pouco à vontade no confronto com os obstáculos do meio.
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O modo como a criança responde à questão básica “será o meu mundo social previsível
e protector?” terá reflexos no seu comportamento futuro.
Se a vertente positiva triunfa ou predomina, a virtude (qualidade do Ego) que se desenvolve
tem o nome de esperança.
2ª Idade: autonomia versus dúvida e vergonha (2 – 3 anos)
Este estágio nomeado, mais uma vez por influência de Freud, muscular-anal, coloca a
criança perante uma questão crucial: “será que consigo fazer as coisas por mim próprio
ou tenho de depender quase sempre dos outros?” trata-se da segunda crise psicossocial
com a qual o indivíduo se confronta. Terá de aprender a lidar com a dúvida e a vergonha
para conquistar a autonomia. Nesta fase, autonomia significará adquirir um relativo
controlo de algumas funções orgânicas, um certo domínio da coordenação motora,
capacidade de manipulação de objectos.
A criança que no estádio anterior desenvolveu um sentimento de confiança em si mesma e
nas pessoas que dela cuidam terá, provavelmente, mais facilidade em conquistar a
autonomia, isto é, em afirmar e exercer a sua vontade própria. Como se manifesta essa
vontade própria? Obedecendo a certas instruções, desafiando outras e efectuando escolhas.
As birras (teimosia), os constantes porquês, são manifestações típicas de autonomia tal
como a vontade de querer fazer as coisas sozinho mesmo que não seja ainda competente
(necessidade de experimentar).
O modo como os pais reagem é muito importante: demasiadas críticas, punições e
repreensões podem contribuir para que a criança duvide da sua capacidade para fazer certas
coisas por si própria. Erikson pensava que os pais deviam dosear de forma equilibrada a
assistência à criança (sobretudo no controlo das funções higiénicas e sanitárias) e o
encorajamento da exploração do meio por si própria.
Se a vertente positiva predomina adquire-se uma qualidade psicológica (qualidade do ego
ou virtude) denominada força de vontade.
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3ª Idade: iniciativa versus culpa (3 – 6 anos)
Este estádio correspondia em Freud à fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Erikson
dá-lhe o nome de estádio locomotor-genital, considerando também que é a idade do jogo
simbólico e da brincadeira.
A grande questão que a criança enfrenta é esta: “serei bom ou mau?” enquanto no estádio
anterior a grande preocupação se centrava naquilo que era capaz de fazer, agora a criança,
em idade pré-escolar, preocupa-se com a moralidade ou aceitabilidade dos seus
comportamentos.
Nesta fase assiste-se a um significativo desenvolvimento das habilidades motoras, da
linguagem e do pensamento, tal como da imaginação e da curiosidade. Objecto de
curiosidade especial são o corpo e as diferenças entre os sexos. Segundo Erikson é a fase
da “sexualidade infantil,” admitindo na linha de Freud, que há atracção erótica pelo
progenitor do sexo oposto. A reacção dos pais à curiosidade da criança é um factor
determinante quanto ao grau de auto-confiança e de iniciativa que ela irá desenvolver.
Reacções extremamente negativas podem provocar inibição excessiva, sentimentos de
culpa e ansiedade. A criança sentirá que a sua curiosidade não é bem-vinda e terá pouca
iniciativa no que respeita à exploração do meio.
A resolução bem- sucedida desta crise psicossocial reforça a capacidade de iniciativa, a
vivacidade e o gosto pela descoberta. A virtude desenvolvida é a tenacidade
(perseverança).
4ª Idade: indústria versus inferioridade (6 – 12 anos)
Este estádio, que em Freud corresponde ao estádio de latência, também é assim
denominado por Erikson. A questão-chave que a criança em idade escolar enfrenta é esta:
“Serei competente ou incompetente?” por indústria entende Erikson engenho,
competência e produtividade no cumprimento de determinadas tarefas.
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Com a escolaridade alarga-se o campo da interacção social, novos desafios surgem e
intensifica-se a aprendizagem social. Novas competências são exigidas à criança (aprender
a ler, a escrever, a fazer cálculos numéricos, jogos, etc). Ser a apreciada não tanto pelo que
é mas pelo que faz, pelo grau de competência no desempenho de tarefas.
Os professores e os colegas serão agentes sociais cujo reconhecimento e respeito a criança
pretende obter para se auto-valorizar. O fracasso relativamente persistente no
desenvolvimento de competências (intelectuais, sociais, físicas), a falta de apoio, de
incentivo e de atenção da parte dos agentes educativos podem gerar sentimentos de
inferioridade, descrença quanto à capacidade para executar tarefas de forma produtiva.
A tendência será, então, a de dedicar pouco esforço e entusiasmo a determinados trabalhos
porque se acredita na inevitabilidade do fracasso. Apesar de o fracasso em determinadas
áreas poder ser compensado pelo reconhecimento noutras (as habilidades e proezas físicas
são muito valorizadas nestas idades) a verdade é que há uma enorme vontade de aprender,
de desenvolver sentimentos de competência, de pensar que se é capaz de fazer bem várias
coisas. O sucesso eleva a auto-estima, a autoconfiança, o prazer e o gosto nas actividades.
A aptidão para realizar e dominar as tarefas próprias desta idade da vida depende em boa
parte das experiências vividas em estádios anteriores. Se a criança desenvolver em estádios
precedentes qualidades como a confiança, a autonomia e a iniciativa, estará em boas
condições para enfrentar o trabalho produtivo que a escola exige.
É nesta fase que as crianças começam a imaginar ocupações e papeis sociais futuros
(médicos, professores, artistas, etc).
A par dos pais é extremamente importante o papel dos professores que de forma suave mas
firme devem estimular a aventura no domínio do conhecimento e da aprendizagem de
tarefas.
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A resolução bem-sucedida do conflito psicossocial típico desta idade em que a criança se
compara uma com as outras apercebendo-se do seu nível de competência e de
produtividade reforça a confiança, a espontaneidade e autonomia na relação com os outros
e com as novas imposições sociais. A virtude ou qualidade psíquica (qualidade de ego)
daí resultante é a competência, a habilidade intelectual e a perícia no cumprimento das
tarefas valorizadas em determinada sociedade.
5ª Idade: identidade versus difusão ou confusão de papéis (12 – 20 anos)
Este estádio do desenvolvimento psicossocial cobre o período da adolescência.
A questão-chave “ quem sou eu? O que irei ser?” é própria do jovem que começa a tomar
consciência da sua singularidade, de que é um ser humano único a preparar-se para
desempenhar vários papéis no meio social. É a época da vida em que a consciência do que
somos no presente é acompanhada pelo desejo do que queremos ser no futuro. A procura
da independência em relação aos pais dinamiza o desenvolvimento social e afectivo do
adolescente.
A construção da identidade pessoal implica a integração coerente de aspectos intelectuais,
sociais, sexuais e morais. A integração de vários papéis – estudante, filho, irmão, amigo,
trabalhador – num padrão coerente que exprima um sentimento de continuidade e de
identidade é tarefa difícil, conflituosa. Essa dificuldade é visível nas frequentes oscilações
quanto a opções ideológicas, estéticas, religiosas e morais.
A crise de identidade – também denominada difusão da identidade ou confusão de papeis
– exprime a dificuldade em encontrar uma identidade ocupacional e um lugar conveniente
no seio da sociedade, traduzindo o carácter problemático da transição da infância para a
idade adulta.
A resolução da crise de identidade ocorre quando o adolescente é apoiado e encorajado
para procurar resposta aos seus problemas por si mesmo. Experimentando vários estilos de
vida (moratória psicossocial), eventualmente encontrará o que é mais apropriado e
genuíno.
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A virtude (qualidade do ego) no final deste estádio é a fidelidade. O adolescente aceita
responsavelmente compromissos, sabe-se pertencente a determinada filiação religiosa,
étnica e política, participa nas actividades do grupo em que se insere ou em movimentos
que visam transformar ou renovar a estrutura social.
Sem um sentimento construtivo de fidelidade, o jovem terá um ego fraco, sofrerá de
confusão de valores e será, em grande parte, o que os outros decidirem que ele seja. A
fidelidade é, portanto, fidelidade a si próprio, às suas escolhas e opções, afirmação (não
fanática) de si mesmo no que faz e no que projecta fazer.
Moratória psicossocial
Outro dos conceitos importantes eriksoniano foi de moratória psicossocial. Está moratória
é “um compasso de espera nos compromissos adultos”. É um período de procura de
alternativas e de experimentação dos papéis que vai permitir uma escolha racional.
Pode, por exemplo, se considerar como moratória sexual-afectivo o tempo de namoro, dos
grandes e pequenos investimentos amorosos, que permitem vivências antes de se definirem
orientações sexuais e se poder fazer escolhas amorosas para uma ligação perspectivada
com certa estabilidade e durabilidade.
6ª Idade: intimidade versus isolamento (20 – 30 anos)
O sexto estádio é marcado, pela preocupação em estabelecer relações íntimas (amor e
amizade) duráveis com outras pessoas. A questão central com a qual o jovem adulto se
debate é: “deverei partilhar a minha vida com outra pessoa ou deverei viver sozinho?”
Erikson dá à intimidade o sentido de “fusão da identidade de um indivíduo com a de outro.”
A intimidade designa a capacidade de desenvolver uma relação profunda e significativa
com outra pessoa. Exige que nos entreguemos sem nos perdermos, mais precisamente, que
não tenhamos medo de perder a nossa identidade na ligação íntima a outrem.
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Para que isso efectivamente aconteça o indivíduo deve ter resolvido cabalmente as crises
psicossociais anteriores e sentir-se seguro acerca de quem é e do que quer da vida, sabendo
conciliar a vertente profissional com a dimensão afectiva. Em geral, a incapacidade de
entrega e de fidelidade a uma relação (de partilhar afectos) pode conduzir ao isolamento, à
solidão, à sensação de que algo falta para se ser completo (contudo, optar por viver sozinho
não é necessariamente sinónimo de fracasso afectivo, de falta de abertura e de dedicação
aos outros).
A capacidade de amar é a virtude ou força do ego neste estádio. O jovem adulto neste
período é capaz de transformar o amor recebido enquanto criança e adolescente em
devoção e entrega.
Assim, o adulto jovem, que emerge da busca e persistência numa identidade, anseia e
dispõe-se a fundir a sua identidade com a de outros. Está preparado para a intimidade, isto
é, a capacidade de se confiar a filiações e associações concretas e de desenvolver a força
ética necessária para ser fiel a essas ligações, mesmo que elas imponham sacrifícios e
compromissos significativos.
A virtude fundamental do jovem adulto é o amor – uma devoção mútua e madura.
7ª Idade: generatividade versus estagnação (30 – 60 anos)
A questão deste estádio pode formular-se de vários modos: “serei bem sucedido na minha
vida afectiva e profissional?”; “produzirei algo com verdadeiro valor?”; conseguirei
contribuir para melhorar a vida dos outros?”
A generatividade designa a possibilidade de ser criativo e produtivo em várias áreas da
vida. Bem mais do que criar e educar os filhos traduz uma preocupação com o bem-estar
das gerações vindouras, uma descentração e expansão do ego empenhado em tornar o
mundo um melhor lugar para viver. A generatividade manifesta-se na produção de ideias,
de obras de arte, na participação política e cultural, no exercício de uma profissão
considerada útil, no cuidado dos outros, na criação e educação dos filhos, etc. Se a expansão
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e descentração do ego não ocorre, o indivíduo pode, estagnar, preocupar-se quase
exclusivamente com o seu bem-estar e a posse de bens materiais. Estagnação será, portanto,
ausência de doação, egoísmo.
A virtude própria da meia-idade é o cuidado, a preocupação com os outros, o fazer algo
por alguém.
8ª Idade: integridade versus desespero (a partir dos 60 anos)
No estádio final da vida, a questão-cheve “teve a minha vida sentido ou falhei?” assinala
que chegou a hora do balanço, da avaliação do que se fez na vida.
Na dualidade emocional “integridade versus desespero”, a integridade significa que o
indivíduo avalia positivamente o seu percurso vital mesmo que nem todos os seus desejos,
sonhos se tenham realizado. Esta satisfação prepara-o para aceitar a deterioração física e a
inevitável morte como o termo de algo que valeu a pena.
As pessoas que consideram a sua vida mal-sucedida, demasiado centrada em si mesma,
pouco produtiva, que lamentam as oportunidades perdidas e sentem ser já demasiado tarde
para se reconciliarem consigo próprias corrigindo erros cometidos, podem ceder a angustia
e ao desespero.
A virtude a desenvolver neste estádio é a sabedoria, a consciência de que, dadas as
circunstâncias e as nossas potencialidades, aproveitamos bem a vida.
Referencia:
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RODRIGUES, L. Psicologia 12º ano. 4ª edição, 2003, 1º volume, Plátano Editora, Lisboa;
MONTEIRO, M. SANTOS, M. R. Psicologia. Nova edição, Porto Editora.
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Questionário
1- Explique os mecanismos de desenvolvimento humano segundo Erikson.
2- Descreva cada uma das fases do desenvolvimento humano segundo este autor.
3- Quais implicações educacionais desta teoria.
4- Compare a teoria de Erikson e de Freud.
5- Elabore um resumo de duas páginas no máximo sobre esta teoria.