1. Work In Process na vida pessoal – Parte I
“O que nos desgasta não é o que fazemos, mas o que não fazemos”. Esta frase é do Arcebispo
William Temple, num livro de Neil Thomas. Se reflectirmos um pouco, perceberemos que é
verdade.
As nossas preocupações derivam, muitas vezes, de trabalho por fazer, adiado durante horas ao
longo do dia, ou durante dias ao longo da semana. Derivam de atitudes que queremos tomar,
adiadas ao longo de semanas ou meses. E derivam de objectivos e sonhos adiados, muitas
vezes, ao longo de anos, sem previsão de concretização.
Por vezes, adiamos por medo: medo de não sermos capazes, medo de que aquilo que desejamos
seja maior que nós, medo de a nossa luta ser inglória. Todos temos medos, a diferença está na
forma como se enfrentam esses medos e isso varia de pessoa para pessoa.
Na indústria, ao nível dos processos de fabrico e da gestão da cadeia de fornecimento, existe o
conceito de WIP – “work in process”. O WIP é calculado dividindo a quantidade de material em
processamento pelo tempo disponível. É, assim, a quantidade de trabalho que temos em
processo. Vamos transpor o conceito de WIP para a nossa vida, pensando nele em termos das
tarefas mais simples que precisamos de realizar até aos nossos sonhos e objectivos de vida mais
profundos, aqueles que sentimos que são a verdadeira motivação para a vida e que dão
significado à nossa existência.
Podemos entender o WIP não como aquilo que queremos realizar ao longo da vida, no timing que
cada um de nós estabelece individualmente, mas sim como aquilo que queremos realizar, que
sentimos que já devíamos ter feito e estamos continuamente a adiar. Quanto maior for a
quantidade quer de pequenas tarefas, quer de grandes objectivos por realizar, maior o nosso WIP,
2. já que o tempo disponível que temos não está a aumentar, mas sim a diminuir. Não se trata de
viver com um pensamento aterrador de que cada vez que chegamos ao fim de um dia, é sempre
“menos um dia”. Trata-se, sim, de tomarmos consciência que existe um tempo para realizar
tarefas, para tomar atitudes e para trabalharmos nos nossos objectivos de significado existencial.
Regressando ao pensamento inicial, o acumular de coisas por fazer e sonhos por realizar pode
revelar-se verdadeiramente desgastante e causador de stresse que, acumulado em grandes
doses, pode dar origens à ansiedade e à sensação de medo e falta de controlo sobre a nossa
própria vida. Este desgaste emocional pode situar-se em duas fases.
Na primeira fase, em que sentimos que a nossa vida, ou determinadas áreas-chave, estão um
caos, em que sentimos que não estamos a caminhar em direcção aos nossos desejos, gerando-
se um mal-estar emocional, embora possamos não identificar imediatamente a sua origem. Muitas
vezes, a sua origem pode estar precisamente no WIP da nossa vida.
Na segunda fase – e quando chegamos a esta fase podemos já sentir que demos o primeiro
passo para o controlo da nossa vida e diminuição do WIP – temos a nossa lista de tarefas e de
objectivos mas que nos parece de tal forma extensa, que aquilo que nos desgasta é isso mesmo:
a ausência de previsão de alcançarmos aquilo que pretendemos e sentirmos que não estamos a
conseguir concretizar o que desejamos.
Ao planearmos as tarefas, é importante definir prazos limite mas, sobretudo, respeitar esses
prazos e procurar desenvolver em nós o hábito de o fazer. Um esforço inicial por desenvolver o
hábito de concluir tarefas pode revelar-se extremamente útil. Se o hábito é um comportamento
aprendido, ao fim de algum tempo, estaremos mestres na arte de concluir tarefas e alcançar
objectivos. Levar uma tarefa até ao fim fará parte da nossa vida e vamos poder contrariar o
(mau) hábito da procrastinação, isto é, o adiar eternamente o que tem que ser feito, muitas vezes
instalado na nossa maneira de ser, sem que tenhamos sequer noção disso ou das consequências
que provoca.
Quando não somos capazes de manter esta actividade de concluir tarefas ou caminhar com vista
à sua concretização, apercebemo-nos que, quanto menos fazemos, quanto mais adiamos, mais
tarefas e sonhos se acumulam e menos tempo disponível vamos ter. Além da frustração de não
estarmos a concretizar aquilo que desejamos, a percepção da quantidade de tarefas por realizar
vai provocar ainda mais desmotivação, gerando-se um círculo vicioso. ( continua amanhã ☺)
Christiane Tscharf
Dezembro de 2015
christiane@learningeverywhere.eu