A história narra a transformação de Augusto Matraga de um homem poderoso e autoritário para um homem humilde e religioso. No início, ele é o dono de terras temido por todos, mas ao perder sua família, posses e status social, cai em completa desgraça. Após sofrer humilhações, ele encontra redenção após se submeter a uma vida de privações e se aproximar da religião, culminando em sua morte heróica defendendo outros.
3. “Eu sou pobre, pobre, pobre,
vou-me embora, vou-me embora
.....................................................
Eu sou rica, rica, rica,
vou-me embora, daqui!...”
(cantiga antiga)
“Sapo não pula por boniteza,
mas porém, por precisão.”
(provérbio capiau)
4. AUGUSTO ESTEVES MATRAGA
Homem devasso que se transforma em
santo. Personagem principal, no começo da
obra é chamado de Nhô Augusto. Perde a
mulher e a filha devido a vida desregrada
que levava. Mas depois de uma surra se
transforma em um homem bom e religioso,
é chamado de velho pelo jagunço Joãozinho
Bem-Bem. Mais tarde acaba matando o
jagunço e morre também na luta para
salvar a vida de uma família inocente. Há
uma certa intertextualidade com a
passagem da bíblia, onde Jesus morreu por
nós se tornando herói
5. A história de Augusto Matraga é apresentada em
três partes: na primeira, as características da
personagem são reveladas invariavelmente
negativas. A segunda parte é o momento de
transformação da personagem, na qual ela é
submetida a diversas punições e, a terceira,
simboliza a divindade de Augusto Matraga, onde
há a intertextualidade.
6. O Padre é um personagem muito importante
dentro da obra, através dele é que Augusto
Matraga se torna um homem de bem. Convence
Augusto á se torna um cristão e cumprir suas
penitências, já que Deus deu a ele uma mostra do
que é o inferno!
7. JOÃOZINHO BEM-BEM
Famoso chefe de jagunços. Homem temido e
destemido no sertão. Faz justiça com as próprias
mãos ou armas, defendendo seus aliados e
eliminando seus inimigos. Se torna amigo de
Augusto e tenta convencê-lo a entrar no grupo,
mas Augusto não aceita, há uma força oculta que
os aproxima, mas no final os dois acabam se
matando.
8. QUIM RECADEIRO
Era empregado de Nhô Augusto, tendo a função,
como o próprio nome indica, de levar recados.
Entretanto, quando o patrão é morto, vai em
busca de justiça e acaba sendo assassinado pelos
capangas do Major Consilva.
9. DONA DIONÓRA
Era mulher de Nhô Augusto. Acabou não
agüentando mais as judiações do marido e seu
descaso e fugiu com Ovídio, levando junto sua
filha Mitinha.
10. MITINHA
É a filha de Nhô Augusto. Percebe, ainda
menina, que o pai não gosta dela e da mãe. Acaba
se tornando prostituta.
11. MAJOR CONSILVA
Era inimigo de Nhô Augusto, tendo também sido
inimigo do avô do protagonista. Homem mau e
rico, tem todo o poder depois da suposta morte de
Nhô Augusto.
12. TIÃO DA THEREZA
Conterrâneo de Nhô Augusto. encontra-o no
povoado do Tombador e coloca-o a par dos
acontecimentos posteriores à sua suposta morte.
13. OUTROS PERSONAGENS
Angélica e Sariema duas jovens ao que tudo
indica prostitutas que no começo da obras uma
delas, Sariema, é leiloada ao Nhô Augusto. Mãe
Quitéria e e preto velho são os que salvam
Augusto Matraga. Juruminho e Teófilo entre
outros Sussuarana pertencem ao grupo do
cangaceiro Joãozinho Bem-Bem.
14. TEMPO
O tempo no conto divide-se entre o tempo da
história (tempo cronológico) e o tempo do discurso
(modo como o tempo é retratado)
O tempo também adquire indeterminação mítica,
sendo pouca ou nula a importância da cronologia,
predominando os ritmos amplos da natureza e da
vida interior.
15. percebemos que as mudanças da natureza são
utilizadas para marcar a oscilação de
comportamento de Matraga.
Outro exemplo da determinação exercida pelos
elementos naturais sobre o tempo fica
evidenciado na mudança da segunda para a
terceira parte do conto (redenção de Matraga). É
nesse momento em que há a passagem dos
pássaros, a qual representa para a personagem o
sinal de que ela deve partir em busca de seu
destino, tal qual as “aves itinerantes”. (FERRI,
2002, p. 79).
16. TEMPO DO DISCURSO
Sobre o tempo do discurso há uma linearidade
dos acontecimentos, a qual se deve ao fato do
texto retomar um tema bíblico, cujas histórias
ocorrem sempre de forma linear
17. O Tempo na Narrativa
O tempo na narrativa é indeterminado, ou seja, está
mais voltado ao psicológico.
Há o tempo de Augusto Matraga cumprir suas
penitências, onde é tentando por diversas vezes a
voltar para sua terra e se vingar, mas resiste firme até
o momento em que sua hora e sua vez chega se
tornando um santo.
18. Guimarães Rosa está consciente que o sertanejo é um
ser dividido entre dois universos distintos, de ordem
mítico-sacral e lógico-racional, e o que faz é pôr em
xeque a tirania do racionalismo, condenar sua
supremacia sobre os demais níveis da realidade. Rosa
não rejeita o racionalismo como uma entre outras
possibilidades de apreensão da realidade, mas procede
a uma avaliação e relativização de sua autoridade, do
cunho hegemônico e dogmático que este adquiriu na
tradição ocidental.
(COUTINHO, p.13).
19. ESPAÇO
A narrativa se inicia no município de Murici,
passa então para a vila do Tombador e termina
em uma cidadezinha, próxima a Murici, chamada
Rala-Coco.
Entretanto, a problemática não é mais o espaço
geográfico unicamente. Nos contos de Sagarana,
o espaço quer dizer muito mais dos personagens
20. A vida de Nhô Augusto é pautada por deslocamentos
que atestam a transformação do senhor de posses no
redentor do sertão; as mudanças geográficas
correspondem às etapas míticas do protagonista que,
renascido, realiza um movimento de retorno à origem,
em um fluxo circular, no meio do qual figura o sertão.
(FERRI. 2002.p. 75)
21. Partindo-se dessa idéia, o primeiro momento que se
passa especificamente no Arraial da Virgem de Nossa
Senhora das Dores do Córrego do Murici, corresponde
a fase de pecado de Nhô Augusto.
Essa fase é ligada ao povoado do Tombador, onde
passa a morar com um casal de negros.
22. Este espaço “é uma configuração desse estado de
coisas, é um lugarejo afastado, perdido no meio do
nada, uma localização espacial propícia à reflexão, à
purgação de seus pecados ”. (FERRI, 2002. p.64)
A passagem de vários lugares até chegar ao povoado
da ideia de solidão, lembranças de outros lugares
deixados para trás.
24. No início do conto, Nhô Augusto
Esteves das Pindaíbas é um homem
abastado, proprietário de terras, com
jagunços que lhe obedecem as ordens,
sempre acatadas e jamais
questionadas por quem quer que seja.
Sua vontade é lei.
25. MACHISMO
É preciso observar que além de Nhô Augusto, o
poder do macho está presente nas atitudes dos
outros homens da história e no leilão que ocorre
atrás da igreja.
Nhô Esteves tem suas atitudes calcadas no
machismo, na prepotência e na arrogância, no
entanto caberia uma reflexão sobre até que ponto
essas suas atitudes fazem parte de suas reais
convicções ou são decorrentes do meio em que
vive, que o transforma em mais um robô,
comandado pela máscara social de macho e
senhor de terras. (Maria Esther Torinho, 2008)
27. A segunda fase de sua trajetória é
caracterizada pela ruína: Dionóra, a
esposa, foge com outro, levando
consigo a filha de ambos; endividado,
seu maior inimigo, o Major Consilva,
toma-lhe as terras e seus jagunços
passam para o lado do novo senhor.
O Major Consilva é manifestação do
outro, o anti-sujeito que contribui
para dar fim ao poderio de Nhô
Esteves, tentando tirar-lhe até
mesmo a vida.
28. Assim, quase qualquer um capiau outro,
sem ser Augusto Estêves, naqueles dois
contratempos teria percebido a chegada do
azar, da unhaca, e passaria umas rodadas
sem jogar, fazendo umas férias na vida:
viagem, mudança, ou qualquer coisa
ensôssa, para esperar o cumprimento do
ditado: “Cada um tem seus seis meses...”
(ROSA, 2001, p.373).
29. Mas Nhô Esteves não se dá por vencido e,
decidindo ir sozinho enfrentar o inimigo, cai em
completa desgraça, sendo espancado e tendo o
corpo marcado a ferro justamente pelos jagunços
que até há pouco lhe obedeciam cegamente. Em
seguida, é levado para um rancho no Barranco,
para aí ser morto, mas atira-se em um abismo.
Tendo perdido tudo que possuía – família, posses,
jagunços, status e posição social – perde agora a
identidade, sendo dada justamente ao inimigo, o
Major Consilva, que é quem chama-o de cachorro e
afirma que o tempo do bem-bom havia acabado, o
decreta morto e afirma que não havia mais Nhô
Augusto Esteves, das Pindaíbas, com o que os
jagunços concordam prontamente e em coro.
30. OS QUE ANTES O SERVIAM, AGORA
SERVEM A SEU PIOR INIMIGO
31. Há uma dupla simbologia contida
neste abismo em que o personagem é
lançado: em um plano mais superficial
sugere a morte, enquanto em um nível
mais profundo simboliza o útero, uma
regressão ao ventre (neste caso, a
terra-mãe), o que possibilitará o seu
posterior renascimento.
32. após perder tudo e ser humilhado,
Augusto Matraga pensa que ainda
terá sua hora e sua vez. Submetido a
uma vida de privações, sofre uma
transformação forjada na dor, no
encontro com o sagrado e no desejo
de servir, em um rito de passagem ao
encontro de si mesmo.
34. Modere esse mau gênio: faça de conta que ele é
um poldro bravo, e que você é mais mandante do
que ele ... Peça a Deus assim, com esta
ejaculatória: ‘Jesus, manso e humilde, fazei meu
coração semelhante ao vosso . . .’ (... ) Cada um
tem a sua hora e vez: você há de ter a sua”
(ROSA, 2001. pág. 386). Assim, após essa
inserção do evangelho no pensamento cristão,
inicia-se a “mortificação do corpo” para se obter o
caminho da salvação da alma.
35. Na terceira fase, Nhô Augusto acompanha o casal
de negros velhos, dormindo durante o dia e
viajando à noite, em uma viagem que simboliza o
contato com as sombras, com o lado negativo de si
mesmo. Chega a um local distante dali, o povoado
do Tombador, onde ninguém o conhece, embora
todos gostem logo dele, pois tinha, ao mesmo
tempo, algo de doido e de santo.
(40 dias no deserto)
36. A perda, a humilhação, o rebaixamento
na escala social funcionam como uma
mola propulsora para o início da
trajetória que o levará à descoberta do
seu próprio eu, mesmo que não tenha
consciência disto e que, de início, ainda
pense em reconquistar o que havia
perdido, tendo a sua hora e a sua vez.
38. “- Mano velho, o senhor gosta de briga, e
entende. Está-se vendo que não viveu
sempre aqui nesta grota, capinando roça e
cortando lenha ... Não quero especular
coisa de sua vida p’ra trás, nem se está se
escondendo de algum crime. Mas, comigo é
que o senhor havia de dar sorte! Quer se
amadrinhar com meu povo? Quer vir
junto? - Ah, não posso! Não me tenta, que
eu não posso, seu Joãozinho Bem-
Bem . . .” (AM: ROSA, 2001. pág. 396).
39. “Eu vou pr’á o céu, e vou mesmo, por bem ou por
mal!... E a minha vez há de chegar... P’rá o céu eu
vou, nem que seja a porrete”
(Nhô Augusto)
40. - Epa! Nomopadrofilhospritossantamêin!
Avança, cambada de filhos-da-mãe, que
chegou minha vez!...
(ROSA, 2001. pág. 410)
42. ROSA, João Guimarães. “A hora e vez de
Augusto Matraga”. In: Sagarana. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2001.
TORINHO, Maria Esther. MATRAGA PEDE PASSAGEM:
O RITO, O HERÓI E A INDIVIDUAÇÃO EM GUIMARÃES
ROSA. Revista Trama - Volume 4 - Número 8 - 2º Semestre
de 2008
WILLIAN ANDRÉ. A HORA E VEZ DE AUGUSTO
MATRAGA: CONFLUÊNCIA DE DOIS UNIVERSOS. Scripta
Alumni - Uniandrade, n. 7, 2012.