O documento discute a relação entre o Protestantismo e o Capitalismo, começando com Martinho Lutero, cuja reforma religiosa foi bem recebida por príncipes alemães interessados em enriquecer. Isso levou ao crescimento do Protestantismo e de uma visão que não via a riqueza como pecaminosa, apoiando assim o desenvolvimento do Capitalismo. Hoje em dia, algumas igrejas evangélicas pregam que a prosperidade financeira vem de sacrifícios materiais, aproximando ainda mais a religião e o mercado.
Como o Protestantismo apoiou o crescimento do Capitalismo
1. Capitalismo e Protestantismo – dois amigos que combinam até no nome
Quem navegar por livros de História Econômica será capaz de perceber uma relação tênue
entre Capitalismo e Protestantismo. Essa relação nasceu com a ruptura causada por Martinho
Lutero, um frade alemão da Idade Média com sua “carta de repúdio” às práticas e paradigmas
religiosos da época, em um mundo em que a Igreja Católica reinava de forma absoluta no que
tangia à fé e em grande dose no que se referia à economia.
Segundo Robert Heilbroner – pesquisador e economista estadunidense – antes da reforma de
Lutero, vários revolucionários haviam tentado mudar os paradigmas religiosos impostos pelo
catolicismo. No entanto, por seu propósito ser constituido de pura fé ou religiosidade, seus levantes
– e até sua vida – eram prontamente aniquilados por não propor mudança na ordem econômica, algo
desejado pelos poderosos da época. Ou seja, as reformas ademais das de Lutero eram consideradas
pura baderna aos olhos dos príncipes.
Ainda no que se refere a Martinho Lutero, não se pode esquecer que ele era favorável a uma
ordem social e econômica que beneficiasse a riqueza, razão pela qual sua “rebeldia” foi muito bem
vista pelos príncipes alemães (de maneira especial, já que Lutero era germânico). A despeito de sua
postura firme quanto aos princípios éticos e capitais, Lutero não queria abandonar a Igreja Católica;
queria, sim, promover uma reforma nos usos e costumes aplicados, a exemplo da práitica da
INDULGÊNCIA (venda da alma, algo do tipo “só entra no céu se pagar!”). Porém, sentindo-se
ameaçada e indignada com a coragem de Lutero, a Igreja o expulsou – excomungou-o, como dizem
os padres. Aliás, o que significa excomungar? Nota-se que a Igreja não foi inteligente...
Dando continuidade, é sabido que a Igreja posicionava-se contra a prática da USURA
(empréstimo a juro), embora fosse a própria Igreja beneficiária de tal prática. Por outro lado,
muitos dos príncipes que representavam a Igreja Católica, especialmente na periferia de Roma
(leia-se outros países que não a Itália), demonstravam claro interesse em uma reforma religiosa que
não viesse contra seus interesses econômicos e financeiros. Ou seja, os caras queriam mesmo saber
era de grana! Religião ficava em segundo plano. Desta feita, a imortal Reforma Luterana ganhou
força e proporçoes imensuráveis, sendo o próprio Lutero incumbido de traduzir a Bíblia Sagrada do
Latin (lingua então predominante) para o Alemão. Iniciava-se, assim, um casamento perfeito entre
Capital e Protestantismo. Nascia aí uma nova forma de ver o dinheiro - já não era mais pecado ser
rico; já não era mais necessário abandonar a riqueza em benefício da salvação, como fizera
Francisco de Assis.
No decorrer do tempo, o Protestantismo cresceu de forma incalculável nos Estados Unidos
e, mais recentemente, em países como o Brasil, onde se prever que em trinta anos 70% dos
habitantes serão evangélicos.
Os evangélicos se dividem em tradicionais (Igrejas Batista, Presbiteriana, Metodista, etc.) e
Pentecostais (liderados pela Assembleia de Deus). Mais recentemente surgiram os Neopentecostais
(liderados pela Igreja Universal do Reino de Deus). Estes últimos pregam que por meio de
sacrifícios financeiros - materializados através da oferta de bens materiais – é possível alcançar
prosperidade. Isso, ao que parece, está mais para um modelo de negócio bem sucedido. Mas... há
pessoas que acreditam e seguem-no. Se para uns tal prática é deturpação da palavra de Deus, para
os que seguem o movimento, acreditam ser este o caminho mais direto ao sucesso financeiro. Mais
uma vez salvação fica em segundo plano aqui.
2. Para concluir, podemos afirmar que apesar de algumas práticas não bem aceitas – inclusive
pelos próprios evangélicos – o Protestantismo não apenas se associou ao Capitalismo, como o
sustenta e revoluciona nacões.
Jacques Leite abril 2014