SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Baixar para ler offline
A ORIGEM DA ENFER A EM PROFISSIONAL NO BRASIL: DETERMlNANTES
TÓRICOS E CONJUNTURAIS
Introdução
Maria Lucia Frizon Rizzotto
período da emergência da enfermagem profissional no Brasil,
desvelando os aspectos histé ri os e conjunturais que definiram a sua vinculação original ao
espaço hospitalar, diferente e e da interpretação consagrada e cristalizada pela historiografia.,.:.•..•.
da enfermagem que vincula a nascimento dessa profissão ao campo da saúde pública. Os
. if~
determinantes econômicos, 01 ticos e sociais, assim COIl1.f,l os projetos de saúde pública em
disputa naquele ~eríodo, for condicionantes do sur;imento da enfermagem moderna.~:.
brasileira alicerçada na assis ên ia hospitalax Ü';em'1 foi abordado no contexto histórico-social,
delimitado às três primeiras écadas do século XX, período em que surgiu a Escola de
Enfermeiras do Departame Ito Nacional de Saúde Pública, hoje denominada de Escola de
Enfermagem Anna Nery. t artir da criação desta escola, e da formação das primeiras
enfermeiras diplomadas efet
l
iv I ente se inicia a profissionalização desta prática social no
Brasil.
Este trabalho tem como objetivo central rever o pressuposto da vinculação original da
enfermagem profissional brasi eira com a saúde pública, através da identificação do papel
efetivamente desempenhado p r ela nos diferentes projetos políticos e de saúde em disputa
naquele período, e da análi e da prática implementada, marcada pelo predomínio do
direcionamento da atenção à salde para o campo hospitalar, conforme o definido pela medicina
clínica e expresso nos projas de ensino e modelos que então se impuseram e se
cristalizaram nas escolas de enffrmagem a partir deste momento.
A produção histOriográ1.c~ brasileira no âmbito da Enfermagem, tende a apontar como
determinação básica da conSltuição da enfermagem moderna, as grandes epidemias e a
necessidade de trabalhadores J pecializados para o combate às doenças infecto-contagiosas,
que estariam ameaçando o co ércio do Brasil com os países importadores nas primeiras
décadas do século XX. Nessa rspectiva, sua atuação visava predominantemente o âmbito da
, ,
,~
2
saúde pública, compreendi c mo as práticas de saúde preventivas e de atenção primária,
realizadas fora do campo hos i lar e promovidas por órgãos estatais.
Apesar de essa inte re ção ter sido consagrada pelos historiadores da Enfermagem,
outras possibilidades de lei a surgem na medida em que se aprofundam os estudos sobre a
origem e o desenvolvimen a enfermagem profissional no Brasil. Um mergulho nesse
processo se faz necessário, q do se compreende que muitos dos problemas vividos hoje pela
enfermagem se produziram no passado e se reproduzem no presente; daí a importância da
investigação histórica para o se desvendamento e superação. Se as interpretações que aí estão
não dão conta ou ocultam a re .dade, devem ser questionadas, lembrando que a maneira que
bém a maneira pela qual obtemos as respostas.escolhemos para interrogar é
A tese de que o comba às epidemias e o saneamento dos portos foram os principais
motivos para a institucionaliza o da enfermagem moderna no Brasil, carece de base histórica
de sustentação. Primeiro PO'f as doenças infecto-contagiosas, que tinham sido uma constante
em nossa história desde o sécul XVI, estavam praticamente erradicadas quando da criação da
Escola de Enfermeiras do D partamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1922.
Segundo, porque a situação (ia aúde pública, nas cidades portuárias, não representava um real
I
empecilho às relações econômi as do Brasil com os países importadores, uma vez que a própria
política de saneamento urb o constituía oportunidade de investimentos para o capital
estrangeiro, como se observa n reforma urbana realizada no Rio de Janeiro no início do século
por Pereira Passos, prefeito da: capital e Oswaldo Cruz, diretor da Diretoria Geral de Saúde
Pública - DGSP.
Os registros históricos a Escola de Enfermeira do DNSP, hoje denominada de Escola
de Enfermagem Anna Nery, forçam a interpretação de que a enfermagem brasileira não
priorizou a saúde pública, ao c I ntrário do que as versões históricas predominantes nos fizeram
crer. Os seus primeiros progr as confirmam que a formação das enfermeiras, desde a sua
origem, esteve centrada no spaço hospitalar e no estudo sistemático de doenças. As
enfermeiras não eram, portan o, preparadas para atuarem no campo da saúde pública, na
atenção primária e na prevenç o, mas, para serem coadjuvantes da prática médica hospitalar
que privilegiava uma ação cura iva.
2
1I
3
o contexto histórico da COD ti ição da enfermagem profissional no Brasil
A tentativa de dese o er um estudo de natureza histórica coloca, como primeira
questão, a necessidade de se 10 alizar no tempo o objeto da análise, no caso o nascimento da
enfermagem profissional no Br sil. Parece haver consenso na historiografia da Enfermagem,
que coloca o ano de 1922 co o marco inicial da enfermagem moderna brasileira, ano em que
foi criada a Escola de enfe a em Anna Nery. Nesse periodo, a sociedade brasileira passava
por profundas transformaçõ s, em que alguns acontecimentos contribuíram particularmente
para isso. No campo políti o estacamos a proclamação da república em 1889, a primeira
guerra mundial (1914-1918) e chamada revolução de 1930; no campo econômico, a crise do
imigração e os movimentos o ais e, no campo cultural, a semana da arte moderna em 1922.
do processo industrial; no campo social, a urbanização, a
Emerson Merhy (1992) a
moderna" na década de 20,
que a Saúde Pública também teve a sua "semana da arte
marcaria as décadas seguintes pelas questões herdadas desse
periodo.
No campo da saúde, ru a ordem de pressão foi se constituindo no decorrer da primeira
república. A formação de Cira es com outra característica que não a simples extensão da vida
rural; o processo de indust1al' ação/imigração e a conseqüente aglomeração de pessoas em
precárias condições de vida I e m fatores que facilitavam a proliferação de doenças infecto-
o quadro de saúde já existente. As epidemias, que não eram
novidade, mas que nessa COrj . tura ganhavam outra dimensão, impunham medidas urgentes
por parte do Estado. Isso con ibuiu para que, nos primórdios da república, a saúde pública
aparecesse como preocupação o governo, não só para reverter a péssima imagem que o Brasil
I
estava produzindo no exterior em decorrência de problemas dessa natureza, mas porque a
"nova ordem republicana", ial. ada nos princípios liberais, embora politicamente excludente,
I
defendia a universalização de crtos serviços públicos como a saúde e a educação.
Na tentativa de resolv r os problemas de saúde, agravados no início do período
I
republicano, dentre outras me idas o governo criou o Conselho de Saúde Pública (1890);
regulamentou o Laboratório de acteriologia (1892); criou o Instituto Sanitário Federal (1894);
3
4
a Diretoria Geral de Saúd iblica (1897); o Instituto Soroterápico Municipal (1900); a
notificação doenças consideradas transmissíveis (1902) e instituiu a
obrigatoriedade da vacina co a varíola (1904). (COSTA, 1986, p. 45/46).
Essas medidas, no era to, não tiveram o efeito esperado. Somente a partir,de 1903,
quando Oswaldo Cruz assu i a Direção Geral de Saúde Pública, algumas práticas eficazes
foram implementadas. Dur t esse período (1903-1908), praticamente erradicou-se a febre
amarela, que só voltou a ter o o surto em 1928; diminuiu a mortalidade pela peste e acabou a
epidemia da varíola; através d controle sanitário, da realização de campanhas de vacinação e
do método de controle de ve ores, característicos do modelo campanhista/policial, que se
baseava na concepção ontolé i e unicausal das doenças. (COSTA, 1986, p. 46).
A compreensão, de q e s doenças contagiosas e parasitárias tinham como única causa
stas a pensarem que bastaria o extermínio dos focos e vetores
para se ter o controle das m s as. As práticas sanitárias realizadas pelos serviços públicos se
concentravam, por conseqüênc a, na redução da desordem urbana, no combate às doenças
epidêmicas, na limitação d d sregramento moral, na higiene e no controle dos hábitos da
sociedade.
No Brasil, o modelo panhista/policial vigorou até a segunda década do século XX,
quando outros experiências cr çaram a surgir, cuja ênfase não era unicamente nas campanhas
e no saneamento, mas em je iças ambulatoriais permanentes de combate a determinadas
doenças. Essa tentativa de mud nça na implementação de determinadas práticas sanitárias foi a
resposta dada pelos SanitariSr rasileiros, assessorados por entidades norte-americanas, como
a Fundação Rockfeller, à cnse sanitária do início dos anos vinte. Essa crise não tinha como
causa principal as ePidemi+ as o processo de pauperização da população urbana e rural,
acentuada pelas oscilações na e onomia cafeeira e pelo conflito mundial de 1914 a 1918.
Essa situação, associad à mudança na postura do Estado, até então marcadamente
liberal e de não intervenção' n s áreas sociais e de trabalho, põem em discussão a chamada
"questão social". Expressão I in vitável do processo de urbanização acelerado, das péssimas
I
condições de trabalho e dos [ba xos salários, que impunham aos trabalhadores e suas famílias
I
condições sub-humanas de Ta
4
o•••
As epidemias, a faI
5
segurança no trabalho, as péssimas condições de vida e a falta
de assistência à saúde acab levando os trabalhadores mais organizados a explicitarem com
mais clareza os antagonism s a relação capital/trabalho. Determinadas bandeiras liberais, que
tinham sido assumidas no isc rso pelos republicanos, foram reivindicadas como direitos de
É nesse contexto que o stado brasileiro, tal como os estados burgueses em geral, entra
cidadania pelos trabalhador s, stimulando as lutas sociais que assumiram papel relevante no
período de 1910/1920.
como mediador oferecendo etrminados serviços de saúde, de educação entre outros, com o
objetivo de atenuar e/ou des iar a atenção dos conflitos gerados pelo próprio modo de
produção. Negava-se a cida1 a pelo assistencialismo. Dessa forma, tais serviços, ao mesmo
tempo em que atendiam ~e I rminadas necessidades dos trabalhadores, atuavam como
instrumentos de controle socjal ideológico.
A sociedade brasileira e a s e pública: a formação de agentes educativos
. ento sanitário que defendia um modelo de atenção á saúde
formado por uma Rede Loc I rmanente de unidades de saúde começou a ganhar corpo. Os
propositores deste projeto, q e ornava como referência as ações da Fundação Rockfeller e a
experiência americana, defe di m a necessidade de modificar os princípios da saúde pública
I .
brasileira na medida em que p opunham uma administração dos serviços de saúde pública
fundamentada cientificamente, olocando a educação sanitária como instrumento básico das
Ipráticas médico-sanitárias. (l'vfE , 1992)
Esse modelo, que Car~os Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública,
tentou implantar através da ph ira reforma sanitária, no período de 1920 a 1926, proclamava
I
a necessidade de unidades de Sai' de locais e permanentes, com a formação de uma equipe de
profissionais que atuassem de fo a sistemática junto à população. Nesse projeto para a saúde
pública, a enfermeira-visitadora teria um papel fundamental a desempenhar como educadora
proclamada na ocasião, que se institncionalizou a
enfermagem moderna no Brasil.
5
6
Numa atitude que p de 'amos avaliar como idealista, o sanitarista Cartas Chagas criou,
em 1922, a escola de Enfe a em Anna Nery, tendo como modelo o sistema nightingaleano,
que se originara nos hospi uropeus e se desenvolvera nos hospitais americanos. Aqui, no
entanto, era proposto com o I bjetivo de formar profissionais que deveriam atuar na saúde
pública, como agentes de edfc ção em saúde.
A intenção inicial de~se sanitarista, de formar profissionais enfermeiros que assumissem
o papel de educadoras em std ,não chegou a se concretizar como uma prática sistemática por
uma série de fatores, que jiC ados, determinaram o desenvolvimento da enfermagem numa
perspectiva diferente daqUjla originalmente pensada. O projeto da rede local permanente
acabou não se consolidan~r .nquanto modelo para a saúde pública brasileira. O projeto
sanitarista que se imPlanto
l
i lementou, no final dos anos vinte, foi o vertical permanente
especializado, que organiav • "os serviços por problemas específicos, verticalmente
administrados, e que atuar paralelamente utilizando-se de todos os instrumentos das
campanhas e da educação jan tária da Medicina curativa". (MERHY, 1992, p. 29). Tanto
assim, que o único campo fora os hospitais, onde a enfermagem teve algum desenvolvimento,
foi nos programas de com+ à tuberculose, onde a Fundação Rockfell er tinha particular
interesse em que fosse investidO recursos e ações de saúde.
Esse projeto, o vertical ermanente especializado foi beneficiado pelo forte movimento
nacionalista presente naQUCf écada, que rechaçava qualquer interferência estrangeira em
assuntos nacionais, principa nte se fosse americana. Como o projeto da rede local
permanente, preconizado pol a guns sanitaristas entre os quais Carlos Chagas, tinha como
. delo ameri 1- fi . li .matnz o mo e o amencano, lao se mnou nessa conjuntura po tíca.
Da mesma forma, a ten iva de substituir as brigadas de polícia sanitária, que atuavam
há mais de vinte anos de man ira impositiva e repressora, por profissionais que deveriam
utilizar o convencimento e a ed cação sanitária como estratégia de mudança, não ocorreria de
forma tranqüila. Tanto a pop lação rejeitou essa "nova abordagem", que recomendava
alterações em seus padrões dd c portamento, de higiene e moradia, como também as próprias
6
7
enfenneir~s acabav~m rar mente ,d~SiStindO de "" "" ár~a, por sentirem que seu
trabalho nao levava a mud nç nos hábitos, nem nas condições de saude da população.
o sanitarista Font ne le, em um trabalho realizado sobre a saúde pública naquele
frustração dos objetivos inicialmente projetados para aperíodo, já reconhecia
enfermagem, conforme se jeri ica na citação.
O f to é que, em quatro anos de funcionamento,a escola formara 94
enfeF, iras, mas no fim de 1929 havia apenas '28 "enfermeiras-
visi~ ras, pois 70% das diplomadas contratadas pafa tal função
haviam desistido de ser 'missionária de saúde', preferindo 'a posição
menf.s abalhosa e mais tranqüila de enfermeiras particulares ou de
hosp~ta s' ou deixando mesmo a profissão de enfermeira. (citado em
B IRA, 1992, p.53).
Outro dado a consider é a origem social das primeiras enfermeiras, que não favorecia
a sua permanência no traba o penoso e insalubre de visitadora sanitária. As primeiras
enfermeiras brasileiras for*. iiflliaÜftO nn oln~~(méài! ~lll~ài~~ltn~mU~êftbt~TaJe
reproduzir aqui o mito de F1t ce Nightingale, nobre inglesa que fundou ~ difundiu a chamada
enfermagem moderna. A eXfê cia de diploma de Escola Normal ou equivalente, para poder
entrar na Escola de Enfermaje Anna Nery, por si só já restringia o acesso a uma determinada
classe. Naquele período, era ~o co comum as mulheres estudarem além da alfabetização, a não
ser aquelas que pertenciam àJ el tes sociais.
Além disso, a evidên1ia e que os interesses dominante, se impunham, direcionando a
profissionalização da enfermlg m para o campo hospitalar e não para a saúde pública, já se
expressava bem antes da c1aç o da Escola de Enfermagem Anua Nery. Isso é possível
constatar através da criação . Escola Alfredo Pinto, em 1890, vinculada ao hospital
psiquiátrico; da Escola de E~ I agem da Cruz Vermelha, em 1916, e dos cursos para a
formação de pessoal de enf1 gem nos hospitais militares, regulamentados em 1921. Na
estrutura dos programas de Jns o da Escola de Enfermagem Anua Nery, que no discurso
pretendia formar enfermeiras i itadoras para a saúde pública, transparece a necessidade que
7
8
efetivamente se pretendia ate n er. As disciplinas que faziam parte do seu programa de ensino,
em sua maioria, privilegiava I conhecimento voltado para a atuação centrada no indivíduo e
na prática curativa no campo ho pitalar.
A hegemonia da Medicina n campo da saúde: a enfermagem brasileira sob o modelo
hospitalocêntrico
As novas experiência n campo da saúde pública, no início dos anos de 1920, também
incorporaram o novo para, a de compreensão do processo saúde/doença, decorrente do
avanço da biologia, da fisiold gi , da anatomia-patológica, da microbiologia e da bacteriologia.
Esse paradigma da medicin c ínica, ao mesmo tempo em que exigia outro espaço para se
desenvolver, o hospital, pro c va um abandono progressivo das medidas de caráter coletivo,
Essa medicina clinic, e caráter individualista e curativo, exigia a formação de um
privilegiando a assistência in ' .v dual.
maior número de pessoal nfermagem para compor a equipe de saúde hospitalar. A
educação formal ministrada a Escola de Enfermagem Anna Nery, desde o seu início, em
consonância com essa tendên ia não preparava profissionais para o trabalho em saúde pública;
a ênfase era dada ao ensin aiganicista e individualista, baseado no modelo biomédico e
centrado no espaço hospitalr
A introdução e corsoli da ótica positivista na medicina, como método que
segundo os seus adeptos p' ss bilitava a produção "objetiva e neutra" do conhecimento,
reforçou a posição dominan e Já exercida por essa especialidade no campo da saúde. Sem
dúvida, o pensamento POSiti+ promoveu um avanço significativo na pesquisa experimental
em saúde, como a descoberta d processo de transmissibilidade das doenças e o tratamento e
cura de inúmeros estados ,ór idos, legitimando a sua posição privilegiada em relação às
demais especialidades pertenceu s ao campo. (PIRES, 1989)
hospital, no século XIX, que
ficavam até morrer, para se 1
ciências experimentais e da mudança ocorrida na função do
a deixado de ser um depósito de marginalizados que ali
formar em centro de diagnóstico, tratamento, cura e pesquisa
8
dos problemas de saúde, q e
9
giu a necessidade da especialização e do trabalho em equipe.
Essa nova realidade passou a xigir uma melhor preparação técnico/científica das pessoas que
prestariam cuidados aos d en es e manipulariam os instrumentos. Tornava-se, por essa via,
imprescindível a criação d c sos que qualificassem o pessoal que iria compor a equipe de
saúde.
A medicina, que haf·a e apropriado com exclusividade da milenar arte de curar, foi se
legitimando socialmente c a profissão que detinha o saber e o poder dessa cura. Seria
natural que também, no nov ospital, essa profissão se firmasse como a verdadeira ciência da
saúde, e os médicos os set I gítimos representantes. As outras profissões, que compõem a
equipe de saúde, entre elas e fermagem, se tornariam auxiliares no processo de tratamento e
cura, considerando que os ré icos são por ele responsáveis, dominando o saber e tendo o
poder de definir as diretrizeSle trabalho em saúde. (pIRES, 1989)
Assim a partir da segun a década do século XX, no Brasil, as práticas de saúde pública,
as características do mo biomédico. Paradoxalmente isso não se dá apenas em
inicialmente inspiradas no elo-sanitarista, vão rapidamente se transformando e assumindo
conseqüência de razões in ecas ao saber médico, decorrentes dos avanços das ciências
experimentais que exigiam o tro espaço para a continuidade de seu desenvolvimento e
aplicação, o hospital. Mas c nsolidação do modelo hospitalocêntrico ocorre também como
antido pelo Estado.
resultado de pressões exerCif
atendimento individualizado
A luta dos trabalhad
l
r
demanda que vinha sendo ali
necessidade de implemen,ã
centrado no espaço bOSpilall"
O Modelo Biomédico e suas i
pelos próprios trabalhadores no sentido de terem acesso a um
pela assistência hospitalar e individualizada, somando-se à
entado pelas novas camadas médias emergentes, impunha a
de serviços dessa natureza, ou seja, de caráter curativo e
plicações Das práticas de saúde
Refletir sobre o modelo biomédico, predominado na área da saúde desde o inicio do
século XX, tem dupla intençã . Primeiro, contribuir para a discussão presente nos meios
9
acadêmicos e sanitários, q e em questionando esse modelo, ao mesmo tempo em que tem
ensaiado a construção de ov s paradigmas para a assistência a saúde no Brasil. Segundo,
10
tentar mostrar que a enferm ge profissional brasileira, desde o seu nascedouro, esteve calcada
;;;;;;~~;~;en~;l~~;;;;:~;;~;;i;;:;;~;;~;.~~~~~
supõe a necessidade de ele er profundamente seus fundamentos e limites, superá-los para
construir novas e mais adeq ad s possibilidades de atuação na área.
Segundo Mendes ( 98 ), a consolidação efetiva do modelo biomédico, que será
incorporado como paradi
Flexner, realizado pela Funfa
relatório, além de revelar a ~i'
medicina nos EUA, elaborob
ara as profissões da saúde, ocorreu a partir do relatório de
o Carnegie em 1910, nos Estados Unidos da América. Esse
ção caótica em que se encontravam o ensino e o exercício da
ropostas elitizantes de organização da educação e da prática
médica. Dentre elas, destaca o· a duração mínima de quatro anos para os cursos; a introdução
biológica, como forma de su e a era empírica do ensino médico; o estímulo à especialização
médica e o controle do e er ício profissional, pela categoria organizada. Os elementos
estruturais dessa Medicina FI xneriana, denominada de científica, são o mecanicismo; o
biologicismo; a especializa ã . o individualismo; a exclusão de práticas alternativas; a
espaço urbano/hospitalar.
tecnificação do ato médico; a .nfase na Medicina curativa e a concentração de recursos no
o mecanicismo cartesiano
A partir da demonstraç o da distinção entre corpo e alma por Descartes, no século
XVII, e da produção da fo a de compreender o corpo como uma máquina composta por
partes (órgãos, sistemas e a e os), que funcionam numa engrenagem perfeita, definida por
leis inquestionáveis, estava e itivamente aberto o caminho para a consolidação da visão
dualística e fragmentada do bom ID.
I
10
11
a da vida possibilitou um enorme avanço no conhecimento das
estruturas do corpo, tanto o .ue se refere à forma (anatomia), quanto ao seu funcionamento
(fisiologia). Esse reducionism , no entanto, não se limitaria à compreensão dos seres vivos,
mas expandiu-se e acabou si n o assimilado como-visão de mundo.
o biologicismo e opensam tu. positivista
Comte quis atribuir r princípios positivistas um alcance universal, afirmando que os
fenômenos da sociedade também poderiam ser tratados na mesma perspectiva. Ao equiparar o
organismo social a um orJ smo vivo, Comte acreditava que poderia utilizar os mesmos
fundamentos para tratar 1d, is fenômenos. Se nos seres vivos as doenças correspondiam a
uma falta ou excesso de exci ção nos tecidos, na sociedade, as alterações também poderiam
ser tratadas como diStúrbiO! d padrão normal. O ponto de partida utilizado, para ambos os
fenômenos, seria o do pato ó .co e do normal; neste caso, acreditava-se que, conhecendo os
estados alterados, se ChegariF às leis que regem o padrão normal.
Essa relação intrinca a ntre a biologia, o pensamento comtiano e o método positivista
influenciou de maneira radical desenvolvimento da medicina e das demais profissões da área
da saúde, na compreensão di q e seja o normal e o patológico, e na forma de estudar e tratar o
processo saúde/doença. jA medicina e as d m is profissões da área da saúde, ao incorporarem essa visao
bioIQ~ci,taJ O fi~ !V~ ~ f BW ~iYilli iil ~iIllÜlilliinjij iaqwlillA6ij~wlliiIlIltl BDIIIl
intervenção ao combate dos si tomas e de suas causas, sem se preocuparem com os outros
fatores que pudessem pr+o ar alterações no processo saúde/doença. Nessa visão, os
determinantes emocionais, psic lógicos e sociais que interferem no estado de saúde das pessoas
são desconsiderados, O mride o biologicista, pelo sucesso obtido no tratamento de muitos
estados mórbidos, acabou pdr r tificar e consolidar a maneira fragmentada de tratar e de cuidar
dos problemas de saúde.
Parece lógico que, uma vez assimilados os princípios mecanicista e biologicista, o
desenvolvimento subseqüente, na área da saúde, fosse à ênfase na especialização. Com a
I
11
12
necessidade de se conhecer de lhadamente cada sistema, cada órgão, cada membro do corpo, e
considerando que não é p ss vel ser expert em tantas partes, tomava-se imperativo aos
profissionais a especialização uma delas, mesmo que isso inviabilizasse a compreensão do
todo, mesmo quando essa to! li ade fosse o próprio homem.
Seguindo a tendênci da medicina e do desenvolvimento tecnológico oéorrido na área, a
enfermagem foi progressiv te inclinando-se para a especialização. Nesse caso, contudo,
como não era interessante q e profissional enfermeiro se tomasse oneroso ao sistema, o que
ocorreria se a especializaçã desse em nível de pós-graduação, a pressão se fez sentir no
processo de formação em ívél de graduação, na medida em que estes contemplassem um
mínimo de formação em d terminadas áreas de ponta, como em UT!, hemodiálise,
quimioterapia, radioterapia, etc.
~illUliii1iWirill~1~aIte illi6illVnU QIWnoo .n~ao §nfmnetro lIll um
trabalho especializado, invia il, a a sua formação geral na graduação. A opção pela formação
geral do enfermeiro não se co stitui numa simples oposição à especialização precoce, mas
numa possibilidade de cons ç o de uma visão totalizante do processo de trabalho em saúde e
de transformação do enfer iro num agente que intervém efetivamente no processo
saúde/doença e na transformaçã da realidade de saúde das populações.
Nesse mesmo ProcefSO é possível perceber ainda, como principio constitutivo da
medicina moderna, o indivi~ua .smo, princípio liberal que coloca os direitos individuais como
prioritários e preponderant1 s bre os da coletividade. Esse princípio aparece assimilada pela
medicina científica em dois o' entos: quando escolhe o indivíduo como objeto central do seu
saber e de sua prática, e q ando aceita o adoecer como responsabilidade individual,
desconsiderando os outros dite . antes do processo saúde/doença.
O contraponto dessa ~bi dagem individualista, que responsabiliza unicamente a pessoa
pelo seu estado de saúde, d~v ter como argumento básico a comprovação da existência de
. , determi I I lé . . d d d drnumeros outros .eterminante nos processos pato OglCOS,que fi epenc em a vonta e,
aceitação ou responsabilidade os indivíduos. Determinantes que podem ser de ordem social,
econômica e/ou cultural e qu só podem ser resolvidos por meio de ações políticas e
compromissos sociais de caráte coletivo.
12
t
13
A exclusão das práticas alt. '11 ivas e a tecnificação do ato médico
A ciência moderna e p .ca, se por um lado proporcionou um efetivo avanço e eficácia
no tratamento de muitas d e ças, excluiu a possibilidade de desenvolvimento de formas
terapêuticas alternativas, re lizí ndo um combate duro às práticas que se distanciavam dos
princípios científicos e, gararf do o predomínio do modelo biomédico. Para se manter como
saber absoluto, no campo ia saúde, a medicina científica desqualificou toda a sabedoria
popular que não pudesse sir comprovada cientificamente. A medicalização da sociedade
reduziu e restringiu a autono . das pessoas de se auto-cuidarem a tal ponto que praticamente
condenada.
qualquer ousadia em tratar s problemas de saúde, sem a orientação médica, passou a ser
As práticas de medic na tradicional, ou das terapias alternativas, como a homeopatia, a
fitoterapia, a acupuntura, etc, assaram a encontrar muita resistência, no mundo ocidental. O
modelo da medicina ociden I, ue se desenvolveu junto com a sociedade industrial, ao mesmo
tempo em que excluiu os rito is rpráticas tradicionais, criou novas formas para realizar a sua
própria prática, a tecnificaçã d assistência, obtida por meio de um conjunto de procedimentos
racionais e encadeados, p e alcançar os resultados esperados. Essa forma racional de
atendimento, fundamentada ciência moderna aplicada, ao converter em prática os
conhecimentos teórico-cientí c s, foi incorporada de maneira singular à área da saúde.
Na Enfermagem, cujf abalho é realizado por uma equipe com diferentes graus de
formação, mas com atribuiçõ Isemelhantes no que se refere ao cuidado do paciente ou usuário,
a versão dessa tecnificação de -se na elaboração de procedimentos, normas e rotinas que
buscam assegurar certa hom I geneidade na assistência de enfermagem, mesmo sendo
desempenhado por pessoas cb qualificações diferenciadas. Isso se materializou de tal forma
no trabalho de enfermagem q e, por mais esforço que se faça para distinguir as diversas
categorias que compõem a equi e de enfermagem, a sociedade de um modo geral não parece
perceber essa diferença. Em o ras palavras, além das pessoas não saberem que existe uma
13
Além desses princíp os próprios do modelo biomédico, pode-se acrescentar, no caso
14
hierarquia dentro da equipe fe nfermagem, não conseguem perceber diferenças significativas,
quando são atendidas pelos dist ntos membros da equipe.
específico da enfermagem, r ragmatismo. Parece que existe certa resistência, por parte da
maioria dos enfermeiros, ,m discutir questões teóricas que não tenham utilidade prática
imediata. Dificilmente diSrU m-se concepções, conceitos, princípios e diretrizes que
fundamentam ou deveriam r entar a prática profissional. Parte-se do pressuposto de que
essas discussões não são rel tes yara o exercício da yrofissão e; fregüentementel
o exercício
Ir I 11fi I • mil ti 1111 •• , •••• 01. j , ,II,~ '~,~9
luntarismo e um ativismo que compensam ou camuflam as
resistência não constitui
frustrações dos resultados . ·0 almente esperados para qualquer projeto profissional. Essa
a "pção consciente dos enfermeiros pela visão pragmática, mas
parece ser o resultado da aus n .a do exercício de reflexão teórica durante a sua formação e que
construídos normalmente fo
se perpetua durante sua vida pr fissional. As exceções são produtos de determinados "acasos",
o campo de discussões específicas da enfermagem, mas que
tem contribuído muito para cr scimento da profissão nas últimas décadas .
das escolas de enfermagem
.os teórico-metodológicos e ideológicos, que foram importados
icanas, cristalizou-se na maioria das escolas brasileiras, apesar
dos esforços empreendidos o entido da construção de outros referenciais para a educação e
para a prática dessa profissã
Os primeiros programas d e sino da Escola de Enfermagem Anna Nery
Com relação ao primeir programa de ensino oficial da Escola de Enfermagem Anna
Nery, observa-se que ele "4s diferenciava fundamentalmente do "Standart Curriculum for
Schools of Nursing" em Vigrr os EUA desde 1917, evidenciando claramente a concordância
com o modelo de formação ce trado nos hospitais, que tinha se instituído, naquele país, há
mais de meio século.
14
Embora a Escola
15
ry tivesse um programa de ensino estabelecido por decreto do
s disciplinas ministradas assumiram praticamente os mesmos
a divisão do currículo americano. As poucas alterações que
tinham sido feitas, na prátic ~ foram seguidas.
s, que compunham o ensino teórico, ao qual correspondia uma
direcionamento na formação das enfermeiras para o campo
I • sciplinas que constavam do programa teórico, apenas quatro
(11%), pode-se dizer que er voltadas para a saúde pública, as demais se concentravam no
Os conteúdos minis a os, por sua vez, baseavam-se em bibliografia médica e em
consequentemente, com uma visão do modelo biomédico e
sustentadas na realidade daq el país. Isso é confirmado pela primeira diretora da Escola Anna
INery, Louise Kilninger (19 9, . 01) ao relatar que: "Não existiam livros de enfermagem e
Outro aspecto a cons de I ,no que se refere à opção pela formação centrada no espaço
hospitalar, é a relação entr a carga horária teórico/prática e a distribuição nos campos de
estágio. Para um total de 56 oras/aula teóricas, correspondiam mais de 6.000 horas/aula de
estágio, estabelecendo uma rra ão superior de um para to. Dos trinta meses de estágio, vinte e
oito meses eram realizados m nfermarias e ambulatórios hospitalares, e somente dois meses
I I
eram cursados na saúde púb ic ., portanto, mais de 90% do ensino prático ocorria dentro dos
hospitais.
Se de um lado, essa fo· ção, voltada predominantemente para °conhecimento das
doenças e realizada no interirr os hospitais, era justificada pelas enfermeiras da época como
uma necessidade para o trabJlh na saúde pública, por outro lado, contraditoriamente, o ensino
orientado pelo modelo biOJOO co era reconhecido como um "ponto fraco" das alunas, que
iniciavam o serviço na "z~lpr tica", correspondia ao campo de prática em saúde pública,
Outr9 onto fraco) é o que se relaciona com o ponto de vista das
alunas duas primeiras semanas de trabalho, na zona pratica: é a idéa
15
16
curativ e não preventiva, isto é, doença e não saúde. Durante o curso
hos italar, elas estão em contato com os doentes isolados nas
enfe~ .as, e o seu trabalho é de trata-Ios, medica-Ios, dar-lhes
COtID rt , de sorte que, ao enfrentarem o doente, no seu próprio meio,
no s io da família, elas tendem logo para o doente e a doença em si,
esqu cTdo-se completamente da vigilância aos comunicantes e da
educ ç da família sobre higiene e profilaxia, isto é: do trabalho
DfQV fi{ VO. Oi~1J(li Wt 1011,~.12).
É importante consid r que essa "idéa curativa e não preventiva", (sicl), ou seja, de
preocupação com doença e ão com a saúde, incorporada durante toda a formação profissional,
provavelmente não ma des pa ecer em duas semanas de estágio, mas continuaria nuclear na
concepção de trabalho das e fi eiras e de suas opções por determinado campo de atividade.
Entretanto, a pequen a I esão ao trabalho na saúde pública não decorria apenas de uma
escolha pessoal das enferme a mas ~ra conseqüência das precárias condições de trabalho das
visitadoras e da própria poli ic de saúde do país, que gradativamente reduzia o orçamento da
Divisão de Enfermagem d de Saúde Pública, obrigando a uma
diminuição no número das e e eiras contratadas.
Considerações Finais
constata que o processo ed ca ional, vigente ainda hoje na grande maioria das escolas de
enfermagem, pouco se afast] o modelo de formação iniciado com a Escola de Enfermagem
Anna Nery. Contudo, a ênfre que ainda se dá ao aspecto curativo/hospitalar, na formação
acadêmica dos enfermeiros, 1st sendo questionada por profissionais da área que discutem a
necessidade de mudar o ensino e a prática de enfermagem, particularmente em face do processo
de profissional.
de construção de um sistema de saúde, pautado em princípios e diretrizes que exige outro tipo
Nas propostas encamit as pela Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn, desde
o início da década de 1990,00 o subsídio para a mudança do currículo mínimo, denuncia-se
enfaticamente a preponderãnr o modelo médico/hospitalar no ensino da graduação.
16
17
o co profissional comum a capacitação do enfermeiro para
e ção em saúde pública se resume a uma abordagem preliminar e
ins ci nte, Privilegia também na parte profissional comum o enfoque
tecni is , funcionalista e da assistência ao indivíduo hospitalizado.
Ness tido, o currículo favorece a compreensão dicotomizada de
saúd /d ença, prevenção/cura, assistência hospitalar/saúde pública,
uni de de internação/ambulatório. (CONSELHO FEDERAL DE
~lô,i~~l,pjj~~
se pode verificar, não ocorreu no processo recente de
desenvolvimento da profissã, as vem desde a sua institucionalização. Toda legislação sobre
o ensino de enfermagem esde a criação da Escola de Enfermagem Anna Nery,
compreendendo os program s e ensino de 1923, de 1949 e os currículos mínimos de 1962 e
ção do enfermeiro sempre esteve centrada no pólo
indivíduo/doença/cura e na as istência hospitalar, instituição eleita até aiora como esraro
privilegiado para o ensino rát co dos alunos de enfermagem e, consequentemente, local de
escolha para atuação dos pro lSS onais formados.
o mesmo Parecer, r c ece que os currículos atuais mantiveram," entre outros
modelo de assistência de enfermagem diferenciado do que
equivocos a fragmentação o ixo da formação (...). As habilitações não tiveram nenhum
impacto na consolidação de
prevalecia desde a década de O. (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, 194, p. 05).
o próprio desenvolvimntocapitalista tem mostrado a necessidade de mudanças na
formação dos enfermeiros, t ndo obsoleto o padrão que vem sendo utilizado há mais de
setenta anos. Essas mudanç s, no entanto, não devem se restringir apenas a alterações na
legislação, mas devem voltar cocretamente à formação do enfermeiro para o atendimento das
necessidades de toda a socie ad e não apenas às de uma elite. Para tanto, é indispensável uma
~. -" .•..
tomada de consciência e um [co prometimento efetivo da categoria na busca.de soluções para
os seus problemas, tendo em I is a questões mais amplas, como a da saúde coletiva.
O compromisso a ser assumido pelas instituições de formação, pelos órgãos
representativos e pelos profissio ais da área deve ser o de esclarecimento das consciências, da
busca de um maior grau di 1tonomia e do exercício profissional comprometido com a
coletividade. Nessa proposta, Ia ção pelo coletivo deverá pesar mais do que a preocupação em
17
18
garantir uma boa colocação o ercado de trabalho; o conhecimento das doenças e das formas
de tratamentos individuais n o deverá assumir preponderância em relação aos métodos
epidemiológicos de abordag m dos problemas coletivos de saúde; e a sofisticação tecnológica
da medicina hospitalar não de erá prevalecer e anular a necessidade de medidas de caráter
preventivo.
Penso que as análise re lizadas no âmbito deste trabalho podem alimentar a discussão
sobre a constru,ão de um rroJeto F~~~vBfirm~iimera~ileira~Que nec~~~nrtamcntc
considere as questões relativ s todas as dimensões do processo de adoecer humano. Com isso
não se deseja defender a pri ção de um determinado nível de assistência em detrimento de
outros, mas defender a pro os a de que todos os campos de atenção à saúde precisam ser
contemplados pela enfermag m brasileira, tanto no que se refere ao ensino, quanto ao trabalho
profissional.
18
REFERÊNCIAS
19
ALVES, C_P. Conferência r a ada na Escola de Enfermagem Anua Nery em 19 de agosto de
l~JO In: iDnul dlInform U m.Vnl.l (1J.l),IDã n~1~~ê~6,10]2.
BARREIRA, L de A. Ae r eira ananéri no pais do futura; a aventura da luta contra a
tuberculose. Rio de Janeiro: , 1992. (Tese de Doutorado).
CONSELHO FEDERAL D E UCAÇÃO, Parecer N.o 314/94.:: Brasília, mar 1994.
~~~~Ií1!NIdulU Lum~ b nn~[[Onrrolr Ilnitíno~OnUElllUlt DOlític~~na~~útl~nn
Brasil. 2. a ed. Petrópolis, V z ,Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva, 1986.
KILNINGER, L. C Memó' de Clara LouiseKilninger. Trad, Rule, G. UFRJ, 1979.
(reprodução interna).
MIJIIDJJB~JJ, Y. A rrolU{fi ·Jtónu dI Drínr) médirl tlW iIDDllC!lCfi~~ftfl ~~inõ ~M
tecnologia médicas. Belo Ho iz nte: PUC-MGIFINEP, 1984.
MERHY, E. E. A saúde pú li como política: um estudo de fonnuladores de políticas. São
Paulo: Hucitec, 1992.
PIRES, D. Hegemonía médca na saúde ea enfermagem: Brasil 1500 a 1930. São Paulo;
Cortez, 1989.
19

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasil
Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasilAula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasil
Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasilGuilherme Araújo
 
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicas
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicasAula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicas
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicasGhiordanno Bruno
 
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)Políticas e práticas em saúde coletiva (2)
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)Feernascimento
 
Netflix da enfermagem
Netflix da enfermagemNetflix da enfermagem
Netflix da enfermagemBrendaMello7
 
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República Velha
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República VelhaSaúde Pública no Brasil Colonia, Império, República Velha
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República VelhaAdhonias Moura
 
HistóRia Da SaúDe PúBlica
HistóRia Da SaúDe PúBlicaHistóRia Da SaúDe PúBlica
HistóRia Da SaúDe PúBlicaguestb6c126
 
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil Matriz das Políticas de Saúde no Brasil
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil Helenice Alexandrino
 
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015Roberval Edson Pinheiro de Lima
 
Medidas da Saúde Coletiva aula 6
Medidas da Saúde Coletiva aula 6Medidas da Saúde Coletiva aula 6
Medidas da Saúde Coletiva aula 6profsempre
 

Mais procurados (18)

Introducao a-saude-publica-1
Introducao a-saude-publica-1Introducao a-saude-publica-1
Introducao a-saude-publica-1
 
Aulas AIS 2
Aulas AIS 2Aulas AIS 2
Aulas AIS 2
 
Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasil
Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasilAula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasil
Aula 2 -_histria_da_sade_pblica_no_brasil
 
História da Medicina no Brasil
História da Medicina no BrasilHistória da Medicina no Brasil
História da Medicina no Brasil
 
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicas
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicasAula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicas
Aula 02 - A construção do SUS no contexto das políticas públicas
 
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)Políticas e práticas em saúde coletiva (2)
Políticas e práticas em saúde coletiva (2)
 
Netflix da enfermagem
Netflix da enfermagemNetflix da enfermagem
Netflix da enfermagem
 
Saúde Pública
Saúde PúblicaSaúde Pública
Saúde Pública
 
Saúde pública
Saúde públicaSaúde pública
Saúde pública
 
Saúde Pública
Saúde PúblicaSaúde Pública
Saúde Pública
 
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República Velha
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República VelhaSaúde Pública no Brasil Colonia, Império, República Velha
Saúde Pública no Brasil Colonia, Império, República Velha
 
HistóRia Da SaúDe PúBlica
HistóRia Da SaúDe PúBlicaHistóRia Da SaúDe PúBlica
HistóRia Da SaúDe PúBlica
 
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil Matriz das Políticas de Saúde no Brasil
Matriz das Políticas de Saúde no Brasil
 
Saúde pública
Saúde públicaSaúde pública
Saúde pública
 
Saúde pública
Saúde públicaSaúde pública
Saúde pública
 
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015
Material completo-prefeitura-natal-saude publica-roberval-2015
 
Saúde pública
Saúde públicaSaúde pública
Saúde pública
 
Medidas da Saúde Coletiva aula 6
Medidas da Saúde Coletiva aula 6Medidas da Saúde Coletiva aula 6
Medidas da Saúde Coletiva aula 6
 

Semelhante a A Origem da Enfermagem Profissional no Brasil

Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptx
Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptxHistórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptx
Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptxkassiasilva1571
 
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]Camila Viana
 
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptx
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptxAula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptx
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptxWanessaSales6
 
AULA- o que é saude coletiva.pdf
AULA- o que é saude coletiva.pdfAULA- o que é saude coletiva.pdf
AULA- o que é saude coletiva.pdfJOSILENEOLIVEIRA24
 
Política de saúde no brasil
Política de saúde no brasilPolítica de saúde no brasil
Política de saúde no brasilIsabel Amaral
 
Politica de saude
Politica de saudePolitica de saude
Politica de saudeDaniel Maia
 
História das políticas de saúde no brasil
História das políticas de saúde no brasilHistória das políticas de saúde no brasil
História das políticas de saúde no brasilFlavia Navarro de Sousa
 
Origem politicas saude_publica_brasil
Origem politicas saude_publica_brasilOrigem politicas saude_publica_brasil
Origem politicas saude_publica_brasilCamila Nunes
 
Organização e funcionamento do SUS
Organização e funcionamento do SUSOrganização e funcionamento do SUS
Organização e funcionamento do SUSJaime Freitas
 
Politicas publicas de saúde
Politicas publicas de saúdePoliticas publicas de saúde
Politicas publicas de saúdeRômulo Augusto
 
períodos evolutivos da enfermagem.pptx
períodos evolutivos da enfermagem.pptxperíodos evolutivos da enfermagem.pptx
períodos evolutivos da enfermagem.pptxJessiellyGuimares
 
Saúde Pública Grupo 2
Saúde Pública Grupo 2Saúde Pública Grupo 2
Saúde Pública Grupo 2ANDRESSA-LOPES
 
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)ANDRESSA-LOPES
 
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.doc
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.docA REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.doc
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.docGabrielAzevedodeOliv1
 
Histéria da enfemagem
Histéria da enfemagemHistéria da enfemagem
Histéria da enfemagemAdhonias Moura
 

Semelhante a A Origem da Enfermagem Profissional no Brasil (20)

Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptx
Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptxHistórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptx
Histórico das Políticas de Saúde no Brasil.pptx
 
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]
Historia das-politicas-de-saude-no-brasil-[16-030112-ses-mt]
 
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptx
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptxAula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptx
Aula-Início-da-Saúde-no-Brasil.pptx
 
AULA- o que é saude coletiva.pdf
AULA- o que é saude coletiva.pdfAULA- o que é saude coletiva.pdf
AULA- o que é saude coletiva.pdf
 
Política de saúde no brasil
Política de saúde no brasilPolítica de saúde no brasil
Política de saúde no brasil
 
Politica de saude
Politica de saudePolitica de saude
Politica de saude
 
Sanitarismo em leopoldina (1895-1930)
Sanitarismo em leopoldina (1895-1930)Sanitarismo em leopoldina (1895-1930)
Sanitarismo em leopoldina (1895-1930)
 
História das políticas de saúde no brasil
História das políticas de saúde no brasilHistória das políticas de saúde no brasil
História das políticas de saúde no brasil
 
Texto e exercícios
Texto e exercíciosTexto e exercícios
Texto e exercícios
 
Origem politicas saude_publica_brasil
Origem politicas saude_publica_brasilOrigem politicas saude_publica_brasil
Origem politicas saude_publica_brasil
 
Slide da apresentação
Slide da apresentaçãoSlide da apresentação
Slide da apresentação
 
Organização e funcionamento do SUS
Organização e funcionamento do SUSOrganização e funcionamento do SUS
Organização e funcionamento do SUS
 
Politicas publicas de saúde
Politicas publicas de saúdePoliticas publicas de saúde
Politicas publicas de saúde
 
períodos evolutivos da enfermagem.pptx
períodos evolutivos da enfermagem.pptxperíodos evolutivos da enfermagem.pptx
períodos evolutivos da enfermagem.pptx
 
Saúde Pública Grupo 2
Saúde Pública Grupo 2Saúde Pública Grupo 2
Saúde Pública Grupo 2
 
Saúde pública
Saúde públicaSaúde pública
Saúde pública
 
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)
A saúde coletiva no brasil slides atual 2.1 (1)
 
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.doc
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.docA REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.doc
A REVOLTA DA VACINA - BRASIL III.doc
 
Histéria da enfemagem
Histéria da enfemagemHistéria da enfemagem
Histéria da enfemagem
 
Controle de infecção hospitalares
Controle  de infecção hospitalaresControle  de infecção hospitalares
Controle de infecção hospitalares
 

Último

cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxMarcosRicardoLeite
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfFidelManuel1
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesFrente da Saúde
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelVernica931312
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaFrente da Saúde
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointwylliamthe
 

Último (6)

cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power point
 

A Origem da Enfermagem Profissional no Brasil

  • 1. A ORIGEM DA ENFER A EM PROFISSIONAL NO BRASIL: DETERMlNANTES TÓRICOS E CONJUNTURAIS Introdução Maria Lucia Frizon Rizzotto período da emergência da enfermagem profissional no Brasil, desvelando os aspectos histé ri os e conjunturais que definiram a sua vinculação original ao espaço hospitalar, diferente e e da interpretação consagrada e cristalizada pela historiografia.,.:.•..•. da enfermagem que vincula a nascimento dessa profissão ao campo da saúde pública. Os . if~ determinantes econômicos, 01 ticos e sociais, assim COIl1.f,l os projetos de saúde pública em disputa naquele ~eríodo, for condicionantes do sur;imento da enfermagem moderna.~:. brasileira alicerçada na assis ên ia hospitalax Ü';em'1 foi abordado no contexto histórico-social, delimitado às três primeiras écadas do século XX, período em que surgiu a Escola de Enfermeiras do Departame Ito Nacional de Saúde Pública, hoje denominada de Escola de Enfermagem Anna Nery. t artir da criação desta escola, e da formação das primeiras enfermeiras diplomadas efet l iv I ente se inicia a profissionalização desta prática social no Brasil. Este trabalho tem como objetivo central rever o pressuposto da vinculação original da enfermagem profissional brasi eira com a saúde pública, através da identificação do papel efetivamente desempenhado p r ela nos diferentes projetos políticos e de saúde em disputa naquele período, e da análi e da prática implementada, marcada pelo predomínio do direcionamento da atenção à salde para o campo hospitalar, conforme o definido pela medicina clínica e expresso nos projas de ensino e modelos que então se impuseram e se cristalizaram nas escolas de enffrmagem a partir deste momento. A produção histOriográ1.c~ brasileira no âmbito da Enfermagem, tende a apontar como determinação básica da conSltuição da enfermagem moderna, as grandes epidemias e a necessidade de trabalhadores J pecializados para o combate às doenças infecto-contagiosas, que estariam ameaçando o co ércio do Brasil com os países importadores nas primeiras décadas do século XX. Nessa rspectiva, sua atuação visava predominantemente o âmbito da , , ,~
  • 2. 2 saúde pública, compreendi c mo as práticas de saúde preventivas e de atenção primária, realizadas fora do campo hos i lar e promovidas por órgãos estatais. Apesar de essa inte re ção ter sido consagrada pelos historiadores da Enfermagem, outras possibilidades de lei a surgem na medida em que se aprofundam os estudos sobre a origem e o desenvolvimen a enfermagem profissional no Brasil. Um mergulho nesse processo se faz necessário, q do se compreende que muitos dos problemas vividos hoje pela enfermagem se produziram no passado e se reproduzem no presente; daí a importância da investigação histórica para o se desvendamento e superação. Se as interpretações que aí estão não dão conta ou ocultam a re .dade, devem ser questionadas, lembrando que a maneira que bém a maneira pela qual obtemos as respostas.escolhemos para interrogar é A tese de que o comba às epidemias e o saneamento dos portos foram os principais motivos para a institucionaliza o da enfermagem moderna no Brasil, carece de base histórica de sustentação. Primeiro PO'f as doenças infecto-contagiosas, que tinham sido uma constante em nossa história desde o sécul XVI, estavam praticamente erradicadas quando da criação da Escola de Enfermeiras do D partamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1922. Segundo, porque a situação (ia aúde pública, nas cidades portuárias, não representava um real I empecilho às relações econômi as do Brasil com os países importadores, uma vez que a própria política de saneamento urb o constituía oportunidade de investimentos para o capital estrangeiro, como se observa n reforma urbana realizada no Rio de Janeiro no início do século por Pereira Passos, prefeito da: capital e Oswaldo Cruz, diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública - DGSP. Os registros históricos a Escola de Enfermeira do DNSP, hoje denominada de Escola de Enfermagem Anna Nery, forçam a interpretação de que a enfermagem brasileira não priorizou a saúde pública, ao c I ntrário do que as versões históricas predominantes nos fizeram crer. Os seus primeiros progr as confirmam que a formação das enfermeiras, desde a sua origem, esteve centrada no spaço hospitalar e no estudo sistemático de doenças. As enfermeiras não eram, portan o, preparadas para atuarem no campo da saúde pública, na atenção primária e na prevenç o, mas, para serem coadjuvantes da prática médica hospitalar que privilegiava uma ação cura iva. 2 1I
  • 3. 3 o contexto histórico da COD ti ição da enfermagem profissional no Brasil A tentativa de dese o er um estudo de natureza histórica coloca, como primeira questão, a necessidade de se 10 alizar no tempo o objeto da análise, no caso o nascimento da enfermagem profissional no Br sil. Parece haver consenso na historiografia da Enfermagem, que coloca o ano de 1922 co o marco inicial da enfermagem moderna brasileira, ano em que foi criada a Escola de enfe a em Anna Nery. Nesse periodo, a sociedade brasileira passava por profundas transformaçõ s, em que alguns acontecimentos contribuíram particularmente para isso. No campo políti o estacamos a proclamação da república em 1889, a primeira guerra mundial (1914-1918) e chamada revolução de 1930; no campo econômico, a crise do imigração e os movimentos o ais e, no campo cultural, a semana da arte moderna em 1922. do processo industrial; no campo social, a urbanização, a Emerson Merhy (1992) a moderna" na década de 20, que a Saúde Pública também teve a sua "semana da arte marcaria as décadas seguintes pelas questões herdadas desse periodo. No campo da saúde, ru a ordem de pressão foi se constituindo no decorrer da primeira república. A formação de Cira es com outra característica que não a simples extensão da vida rural; o processo de indust1al' ação/imigração e a conseqüente aglomeração de pessoas em precárias condições de vida I e m fatores que facilitavam a proliferação de doenças infecto- o quadro de saúde já existente. As epidemias, que não eram novidade, mas que nessa COrj . tura ganhavam outra dimensão, impunham medidas urgentes por parte do Estado. Isso con ibuiu para que, nos primórdios da república, a saúde pública aparecesse como preocupação o governo, não só para reverter a péssima imagem que o Brasil I estava produzindo no exterior em decorrência de problemas dessa natureza, mas porque a "nova ordem republicana", ial. ada nos princípios liberais, embora politicamente excludente, I defendia a universalização de crtos serviços públicos como a saúde e a educação. Na tentativa de resolv r os problemas de saúde, agravados no início do período I republicano, dentre outras me idas o governo criou o Conselho de Saúde Pública (1890); regulamentou o Laboratório de acteriologia (1892); criou o Instituto Sanitário Federal (1894); 3
  • 4. 4 a Diretoria Geral de Saúd iblica (1897); o Instituto Soroterápico Municipal (1900); a notificação doenças consideradas transmissíveis (1902) e instituiu a obrigatoriedade da vacina co a varíola (1904). (COSTA, 1986, p. 45/46). Essas medidas, no era to, não tiveram o efeito esperado. Somente a partir,de 1903, quando Oswaldo Cruz assu i a Direção Geral de Saúde Pública, algumas práticas eficazes foram implementadas. Dur t esse período (1903-1908), praticamente erradicou-se a febre amarela, que só voltou a ter o o surto em 1928; diminuiu a mortalidade pela peste e acabou a epidemia da varíola; através d controle sanitário, da realização de campanhas de vacinação e do método de controle de ve ores, característicos do modelo campanhista/policial, que se baseava na concepção ontolé i e unicausal das doenças. (COSTA, 1986, p. 46). A compreensão, de q e s doenças contagiosas e parasitárias tinham como única causa stas a pensarem que bastaria o extermínio dos focos e vetores para se ter o controle das m s as. As práticas sanitárias realizadas pelos serviços públicos se concentravam, por conseqüênc a, na redução da desordem urbana, no combate às doenças epidêmicas, na limitação d d sregramento moral, na higiene e no controle dos hábitos da sociedade. No Brasil, o modelo panhista/policial vigorou até a segunda década do século XX, quando outros experiências cr çaram a surgir, cuja ênfase não era unicamente nas campanhas e no saneamento, mas em je iças ambulatoriais permanentes de combate a determinadas doenças. Essa tentativa de mud nça na implementação de determinadas práticas sanitárias foi a resposta dada pelos SanitariSr rasileiros, assessorados por entidades norte-americanas, como a Fundação Rockfeller, à cnse sanitária do início dos anos vinte. Essa crise não tinha como causa principal as ePidemi+ as o processo de pauperização da população urbana e rural, acentuada pelas oscilações na e onomia cafeeira e pelo conflito mundial de 1914 a 1918. Essa situação, associad à mudança na postura do Estado, até então marcadamente liberal e de não intervenção' n s áreas sociais e de trabalho, põem em discussão a chamada "questão social". Expressão I in vitável do processo de urbanização acelerado, das péssimas I condições de trabalho e dos [ba xos salários, que impunham aos trabalhadores e suas famílias I condições sub-humanas de Ta 4 o•••
  • 5. As epidemias, a faI 5 segurança no trabalho, as péssimas condições de vida e a falta de assistência à saúde acab levando os trabalhadores mais organizados a explicitarem com mais clareza os antagonism s a relação capital/trabalho. Determinadas bandeiras liberais, que tinham sido assumidas no isc rso pelos republicanos, foram reivindicadas como direitos de É nesse contexto que o stado brasileiro, tal como os estados burgueses em geral, entra cidadania pelos trabalhador s, stimulando as lutas sociais que assumiram papel relevante no período de 1910/1920. como mediador oferecendo etrminados serviços de saúde, de educação entre outros, com o objetivo de atenuar e/ou des iar a atenção dos conflitos gerados pelo próprio modo de produção. Negava-se a cida1 a pelo assistencialismo. Dessa forma, tais serviços, ao mesmo tempo em que atendiam ~e I rminadas necessidades dos trabalhadores, atuavam como instrumentos de controle socjal ideológico. A sociedade brasileira e a s e pública: a formação de agentes educativos . ento sanitário que defendia um modelo de atenção á saúde formado por uma Rede Loc I rmanente de unidades de saúde começou a ganhar corpo. Os propositores deste projeto, q e ornava como referência as ações da Fundação Rockfeller e a experiência americana, defe di m a necessidade de modificar os princípios da saúde pública I . brasileira na medida em que p opunham uma administração dos serviços de saúde pública fundamentada cientificamente, olocando a educação sanitária como instrumento básico das Ipráticas médico-sanitárias. (l'vfE , 1992) Esse modelo, que Car~os Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, tentou implantar através da ph ira reforma sanitária, no período de 1920 a 1926, proclamava I a necessidade de unidades de Sai' de locais e permanentes, com a formação de uma equipe de profissionais que atuassem de fo a sistemática junto à população. Nesse projeto para a saúde pública, a enfermeira-visitadora teria um papel fundamental a desempenhar como educadora proclamada na ocasião, que se institncionalizou a enfermagem moderna no Brasil. 5
  • 6. 6 Numa atitude que p de 'amos avaliar como idealista, o sanitarista Cartas Chagas criou, em 1922, a escola de Enfe a em Anna Nery, tendo como modelo o sistema nightingaleano, que se originara nos hospi uropeus e se desenvolvera nos hospitais americanos. Aqui, no entanto, era proposto com o I bjetivo de formar profissionais que deveriam atuar na saúde pública, como agentes de edfc ção em saúde. A intenção inicial de~se sanitarista, de formar profissionais enfermeiros que assumissem o papel de educadoras em std ,não chegou a se concretizar como uma prática sistemática por uma série de fatores, que jiC ados, determinaram o desenvolvimento da enfermagem numa perspectiva diferente daqUjla originalmente pensada. O projeto da rede local permanente acabou não se consolidan~r .nquanto modelo para a saúde pública brasileira. O projeto sanitarista que se imPlanto l i lementou, no final dos anos vinte, foi o vertical permanente especializado, que organiav • "os serviços por problemas específicos, verticalmente administrados, e que atuar paralelamente utilizando-se de todos os instrumentos das campanhas e da educação jan tária da Medicina curativa". (MERHY, 1992, p. 29). Tanto assim, que o único campo fora os hospitais, onde a enfermagem teve algum desenvolvimento, foi nos programas de com+ à tuberculose, onde a Fundação Rockfell er tinha particular interesse em que fosse investidO recursos e ações de saúde. Esse projeto, o vertical ermanente especializado foi beneficiado pelo forte movimento nacionalista presente naQUCf écada, que rechaçava qualquer interferência estrangeira em assuntos nacionais, principa nte se fosse americana. Como o projeto da rede local permanente, preconizado pol a guns sanitaristas entre os quais Carlos Chagas, tinha como . delo ameri 1- fi . li .matnz o mo e o amencano, lao se mnou nessa conjuntura po tíca. Da mesma forma, a ten iva de substituir as brigadas de polícia sanitária, que atuavam há mais de vinte anos de man ira impositiva e repressora, por profissionais que deveriam utilizar o convencimento e a ed cação sanitária como estratégia de mudança, não ocorreria de forma tranqüila. Tanto a pop lação rejeitou essa "nova abordagem", que recomendava alterações em seus padrões dd c portamento, de higiene e moradia, como também as próprias 6
  • 7. 7 enfenneir~s acabav~m rar mente ,d~SiStindO de "" "" ár~a, por sentirem que seu trabalho nao levava a mud nç nos hábitos, nem nas condições de saude da população. o sanitarista Font ne le, em um trabalho realizado sobre a saúde pública naquele frustração dos objetivos inicialmente projetados para aperíodo, já reconhecia enfermagem, conforme se jeri ica na citação. O f to é que, em quatro anos de funcionamento,a escola formara 94 enfeF, iras, mas no fim de 1929 havia apenas '28 "enfermeiras- visi~ ras, pois 70% das diplomadas contratadas pafa tal função haviam desistido de ser 'missionária de saúde', preferindo 'a posição menf.s abalhosa e mais tranqüila de enfermeiras particulares ou de hosp~ta s' ou deixando mesmo a profissão de enfermeira. (citado em B IRA, 1992, p.53). Outro dado a consider é a origem social das primeiras enfermeiras, que não favorecia a sua permanência no traba o penoso e insalubre de visitadora sanitária. As primeiras enfermeiras brasileiras for*. iiflliaÜftO nn oln~~(méài! ~lll~ài~~ltn~mU~êftbt~TaJe reproduzir aqui o mito de F1t ce Nightingale, nobre inglesa que fundou ~ difundiu a chamada enfermagem moderna. A eXfê cia de diploma de Escola Normal ou equivalente, para poder entrar na Escola de Enfermaje Anna Nery, por si só já restringia o acesso a uma determinada classe. Naquele período, era ~o co comum as mulheres estudarem além da alfabetização, a não ser aquelas que pertenciam àJ el tes sociais. Além disso, a evidên1ia e que os interesses dominante, se impunham, direcionando a profissionalização da enfermlg m para o campo hospitalar e não para a saúde pública, já se expressava bem antes da c1aç o da Escola de Enfermagem Anua Nery. Isso é possível constatar através da criação . Escola Alfredo Pinto, em 1890, vinculada ao hospital psiquiátrico; da Escola de E~ I agem da Cruz Vermelha, em 1916, e dos cursos para a formação de pessoal de enf1 gem nos hospitais militares, regulamentados em 1921. Na estrutura dos programas de Jns o da Escola de Enfermagem Anua Nery, que no discurso pretendia formar enfermeiras i itadoras para a saúde pública, transparece a necessidade que 7
  • 8. 8 efetivamente se pretendia ate n er. As disciplinas que faziam parte do seu programa de ensino, em sua maioria, privilegiava I conhecimento voltado para a atuação centrada no indivíduo e na prática curativa no campo ho pitalar. A hegemonia da Medicina n campo da saúde: a enfermagem brasileira sob o modelo hospitalocêntrico As novas experiência n campo da saúde pública, no início dos anos de 1920, também incorporaram o novo para, a de compreensão do processo saúde/doença, decorrente do avanço da biologia, da fisiold gi , da anatomia-patológica, da microbiologia e da bacteriologia. Esse paradigma da medicin c ínica, ao mesmo tempo em que exigia outro espaço para se desenvolver, o hospital, pro c va um abandono progressivo das medidas de caráter coletivo, Essa medicina clinic, e caráter individualista e curativo, exigia a formação de um privilegiando a assistência in ' .v dual. maior número de pessoal nfermagem para compor a equipe de saúde hospitalar. A educação formal ministrada a Escola de Enfermagem Anna Nery, desde o seu início, em consonância com essa tendên ia não preparava profissionais para o trabalho em saúde pública; a ênfase era dada ao ensin aiganicista e individualista, baseado no modelo biomédico e centrado no espaço hospitalr A introdução e corsoli da ótica positivista na medicina, como método que segundo os seus adeptos p' ss bilitava a produção "objetiva e neutra" do conhecimento, reforçou a posição dominan e Já exercida por essa especialidade no campo da saúde. Sem dúvida, o pensamento POSiti+ promoveu um avanço significativo na pesquisa experimental em saúde, como a descoberta d processo de transmissibilidade das doenças e o tratamento e cura de inúmeros estados ,ór idos, legitimando a sua posição privilegiada em relação às demais especialidades pertenceu s ao campo. (PIRES, 1989) hospital, no século XIX, que ficavam até morrer, para se 1 ciências experimentais e da mudança ocorrida na função do a deixado de ser um depósito de marginalizados que ali formar em centro de diagnóstico, tratamento, cura e pesquisa 8
  • 9. dos problemas de saúde, q e 9 giu a necessidade da especialização e do trabalho em equipe. Essa nova realidade passou a xigir uma melhor preparação técnico/científica das pessoas que prestariam cuidados aos d en es e manipulariam os instrumentos. Tornava-se, por essa via, imprescindível a criação d c sos que qualificassem o pessoal que iria compor a equipe de saúde. A medicina, que haf·a e apropriado com exclusividade da milenar arte de curar, foi se legitimando socialmente c a profissão que detinha o saber e o poder dessa cura. Seria natural que também, no nov ospital, essa profissão se firmasse como a verdadeira ciência da saúde, e os médicos os set I gítimos representantes. As outras profissões, que compõem a equipe de saúde, entre elas e fermagem, se tornariam auxiliares no processo de tratamento e cura, considerando que os ré icos são por ele responsáveis, dominando o saber e tendo o poder de definir as diretrizeSle trabalho em saúde. (pIRES, 1989) Assim a partir da segun a década do século XX, no Brasil, as práticas de saúde pública, as características do mo biomédico. Paradoxalmente isso não se dá apenas em inicialmente inspiradas no elo-sanitarista, vão rapidamente se transformando e assumindo conseqüência de razões in ecas ao saber médico, decorrentes dos avanços das ciências experimentais que exigiam o tro espaço para a continuidade de seu desenvolvimento e aplicação, o hospital. Mas c nsolidação do modelo hospitalocêntrico ocorre também como antido pelo Estado. resultado de pressões exerCif atendimento individualizado A luta dos trabalhad l r demanda que vinha sendo ali necessidade de implemen,ã centrado no espaço bOSpilall" O Modelo Biomédico e suas i pelos próprios trabalhadores no sentido de terem acesso a um pela assistência hospitalar e individualizada, somando-se à entado pelas novas camadas médias emergentes, impunha a de serviços dessa natureza, ou seja, de caráter curativo e plicações Das práticas de saúde Refletir sobre o modelo biomédico, predominado na área da saúde desde o inicio do século XX, tem dupla intençã . Primeiro, contribuir para a discussão presente nos meios 9
  • 10. acadêmicos e sanitários, q e em questionando esse modelo, ao mesmo tempo em que tem ensaiado a construção de ov s paradigmas para a assistência a saúde no Brasil. Segundo, 10 tentar mostrar que a enferm ge profissional brasileira, desde o seu nascedouro, esteve calcada ;;;;;;~~;~;en~;l~~;;;;:~;;~;;i;;:;;~;;~;.~~~~~ supõe a necessidade de ele er profundamente seus fundamentos e limites, superá-los para construir novas e mais adeq ad s possibilidades de atuação na área. Segundo Mendes ( 98 ), a consolidação efetiva do modelo biomédico, que será incorporado como paradi Flexner, realizado pela Funfa relatório, além de revelar a ~i' medicina nos EUA, elaborob ara as profissões da saúde, ocorreu a partir do relatório de o Carnegie em 1910, nos Estados Unidos da América. Esse ção caótica em que se encontravam o ensino e o exercício da ropostas elitizantes de organização da educação e da prática médica. Dentre elas, destaca o· a duração mínima de quatro anos para os cursos; a introdução biológica, como forma de su e a era empírica do ensino médico; o estímulo à especialização médica e o controle do e er ício profissional, pela categoria organizada. Os elementos estruturais dessa Medicina FI xneriana, denominada de científica, são o mecanicismo; o biologicismo; a especializa ã . o individualismo; a exclusão de práticas alternativas; a espaço urbano/hospitalar. tecnificação do ato médico; a .nfase na Medicina curativa e a concentração de recursos no o mecanicismo cartesiano A partir da demonstraç o da distinção entre corpo e alma por Descartes, no século XVII, e da produção da fo a de compreender o corpo como uma máquina composta por partes (órgãos, sistemas e a e os), que funcionam numa engrenagem perfeita, definida por leis inquestionáveis, estava e itivamente aberto o caminho para a consolidação da visão dualística e fragmentada do bom ID. I 10
  • 11. 11 a da vida possibilitou um enorme avanço no conhecimento das estruturas do corpo, tanto o .ue se refere à forma (anatomia), quanto ao seu funcionamento (fisiologia). Esse reducionism , no entanto, não se limitaria à compreensão dos seres vivos, mas expandiu-se e acabou si n o assimilado como-visão de mundo. o biologicismo e opensam tu. positivista Comte quis atribuir r princípios positivistas um alcance universal, afirmando que os fenômenos da sociedade também poderiam ser tratados na mesma perspectiva. Ao equiparar o organismo social a um orJ smo vivo, Comte acreditava que poderia utilizar os mesmos fundamentos para tratar 1d, is fenômenos. Se nos seres vivos as doenças correspondiam a uma falta ou excesso de exci ção nos tecidos, na sociedade, as alterações também poderiam ser tratadas como diStúrbiO! d padrão normal. O ponto de partida utilizado, para ambos os fenômenos, seria o do pato ó .co e do normal; neste caso, acreditava-se que, conhecendo os estados alterados, se ChegariF às leis que regem o padrão normal. Essa relação intrinca a ntre a biologia, o pensamento comtiano e o método positivista influenciou de maneira radical desenvolvimento da medicina e das demais profissões da área da saúde, na compreensão di q e seja o normal e o patológico, e na forma de estudar e tratar o processo saúde/doença. jA medicina e as d m is profissões da área da saúde, ao incorporarem essa visao bioIQ~ci,taJ O fi~ !V~ ~ f BW ~iYilli iil ~iIllÜlilliinjij iaqwlillA6ij~wlliiIlIltl BDIIIl intervenção ao combate dos si tomas e de suas causas, sem se preocuparem com os outros fatores que pudessem pr+o ar alterações no processo saúde/doença. Nessa visão, os determinantes emocionais, psic lógicos e sociais que interferem no estado de saúde das pessoas são desconsiderados, O mride o biologicista, pelo sucesso obtido no tratamento de muitos estados mórbidos, acabou pdr r tificar e consolidar a maneira fragmentada de tratar e de cuidar dos problemas de saúde. Parece lógico que, uma vez assimilados os princípios mecanicista e biologicista, o desenvolvimento subseqüente, na área da saúde, fosse à ênfase na especialização. Com a I 11
  • 12. 12 necessidade de se conhecer de lhadamente cada sistema, cada órgão, cada membro do corpo, e considerando que não é p ss vel ser expert em tantas partes, tomava-se imperativo aos profissionais a especialização uma delas, mesmo que isso inviabilizasse a compreensão do todo, mesmo quando essa to! li ade fosse o próprio homem. Seguindo a tendênci da medicina e do desenvolvimento tecnológico oéorrido na área, a enfermagem foi progressiv te inclinando-se para a especialização. Nesse caso, contudo, como não era interessante q e profissional enfermeiro se tomasse oneroso ao sistema, o que ocorreria se a especializaçã desse em nível de pós-graduação, a pressão se fez sentir no processo de formação em ívél de graduação, na medida em que estes contemplassem um mínimo de formação em d terminadas áreas de ponta, como em UT!, hemodiálise, quimioterapia, radioterapia, etc. ~illUliii1iWirill~1~aIte illi6illVnU QIWnoo .n~ao §nfmnetro lIll um trabalho especializado, invia il, a a sua formação geral na graduação. A opção pela formação geral do enfermeiro não se co stitui numa simples oposição à especialização precoce, mas numa possibilidade de cons ç o de uma visão totalizante do processo de trabalho em saúde e de transformação do enfer iro num agente que intervém efetivamente no processo saúde/doença e na transformaçã da realidade de saúde das populações. Nesse mesmo ProcefSO é possível perceber ainda, como principio constitutivo da medicina moderna, o indivi~ua .smo, princípio liberal que coloca os direitos individuais como prioritários e preponderant1 s bre os da coletividade. Esse princípio aparece assimilada pela medicina científica em dois o' entos: quando escolhe o indivíduo como objeto central do seu saber e de sua prática, e q ando aceita o adoecer como responsabilidade individual, desconsiderando os outros dite . antes do processo saúde/doença. O contraponto dessa ~bi dagem individualista, que responsabiliza unicamente a pessoa pelo seu estado de saúde, d~v ter como argumento básico a comprovação da existência de . , determi I I lé . . d d d drnumeros outros .eterminante nos processos pato OglCOS,que fi epenc em a vonta e, aceitação ou responsabilidade os indivíduos. Determinantes que podem ser de ordem social, econômica e/ou cultural e qu só podem ser resolvidos por meio de ações políticas e compromissos sociais de caráte coletivo. 12 t
  • 13. 13 A exclusão das práticas alt. '11 ivas e a tecnificação do ato médico A ciência moderna e p .ca, se por um lado proporcionou um efetivo avanço e eficácia no tratamento de muitas d e ças, excluiu a possibilidade de desenvolvimento de formas terapêuticas alternativas, re lizí ndo um combate duro às práticas que se distanciavam dos princípios científicos e, gararf do o predomínio do modelo biomédico. Para se manter como saber absoluto, no campo ia saúde, a medicina científica desqualificou toda a sabedoria popular que não pudesse sir comprovada cientificamente. A medicalização da sociedade reduziu e restringiu a autono . das pessoas de se auto-cuidarem a tal ponto que praticamente condenada. qualquer ousadia em tratar s problemas de saúde, sem a orientação médica, passou a ser As práticas de medic na tradicional, ou das terapias alternativas, como a homeopatia, a fitoterapia, a acupuntura, etc, assaram a encontrar muita resistência, no mundo ocidental. O modelo da medicina ociden I, ue se desenvolveu junto com a sociedade industrial, ao mesmo tempo em que excluiu os rito is rpráticas tradicionais, criou novas formas para realizar a sua própria prática, a tecnificaçã d assistência, obtida por meio de um conjunto de procedimentos racionais e encadeados, p e alcançar os resultados esperados. Essa forma racional de atendimento, fundamentada ciência moderna aplicada, ao converter em prática os conhecimentos teórico-cientí c s, foi incorporada de maneira singular à área da saúde. Na Enfermagem, cujf abalho é realizado por uma equipe com diferentes graus de formação, mas com atribuiçõ Isemelhantes no que se refere ao cuidado do paciente ou usuário, a versão dessa tecnificação de -se na elaboração de procedimentos, normas e rotinas que buscam assegurar certa hom I geneidade na assistência de enfermagem, mesmo sendo desempenhado por pessoas cb qualificações diferenciadas. Isso se materializou de tal forma no trabalho de enfermagem q e, por mais esforço que se faça para distinguir as diversas categorias que compõem a equi e de enfermagem, a sociedade de um modo geral não parece perceber essa diferença. Em o ras palavras, além das pessoas não saberem que existe uma 13
  • 14. Além desses princíp os próprios do modelo biomédico, pode-se acrescentar, no caso 14 hierarquia dentro da equipe fe nfermagem, não conseguem perceber diferenças significativas, quando são atendidas pelos dist ntos membros da equipe. específico da enfermagem, r ragmatismo. Parece que existe certa resistência, por parte da maioria dos enfermeiros, ,m discutir questões teóricas que não tenham utilidade prática imediata. Dificilmente diSrU m-se concepções, conceitos, princípios e diretrizes que fundamentam ou deveriam r entar a prática profissional. Parte-se do pressuposto de que essas discussões não são rel tes yara o exercício da yrofissão e; fregüentementel o exercício Ir I 11fi I • mil ti 1111 •• , •••• 01. j , ,II,~ '~,~9 luntarismo e um ativismo que compensam ou camuflam as resistência não constitui frustrações dos resultados . ·0 almente esperados para qualquer projeto profissional. Essa a "pção consciente dos enfermeiros pela visão pragmática, mas parece ser o resultado da aus n .a do exercício de reflexão teórica durante a sua formação e que construídos normalmente fo se perpetua durante sua vida pr fissional. As exceções são produtos de determinados "acasos", o campo de discussões específicas da enfermagem, mas que tem contribuído muito para cr scimento da profissão nas últimas décadas . das escolas de enfermagem .os teórico-metodológicos e ideológicos, que foram importados icanas, cristalizou-se na maioria das escolas brasileiras, apesar dos esforços empreendidos o entido da construção de outros referenciais para a educação e para a prática dessa profissã Os primeiros programas d e sino da Escola de Enfermagem Anna Nery Com relação ao primeir programa de ensino oficial da Escola de Enfermagem Anna Nery, observa-se que ele "4s diferenciava fundamentalmente do "Standart Curriculum for Schools of Nursing" em Vigrr os EUA desde 1917, evidenciando claramente a concordância com o modelo de formação ce trado nos hospitais, que tinha se instituído, naquele país, há mais de meio século. 14
  • 15. Embora a Escola 15 ry tivesse um programa de ensino estabelecido por decreto do s disciplinas ministradas assumiram praticamente os mesmos a divisão do currículo americano. As poucas alterações que tinham sido feitas, na prátic ~ foram seguidas. s, que compunham o ensino teórico, ao qual correspondia uma direcionamento na formação das enfermeiras para o campo I • sciplinas que constavam do programa teórico, apenas quatro (11%), pode-se dizer que er voltadas para a saúde pública, as demais se concentravam no Os conteúdos minis a os, por sua vez, baseavam-se em bibliografia médica e em consequentemente, com uma visão do modelo biomédico e sustentadas na realidade daq el país. Isso é confirmado pela primeira diretora da Escola Anna INery, Louise Kilninger (19 9, . 01) ao relatar que: "Não existiam livros de enfermagem e Outro aspecto a cons de I ,no que se refere à opção pela formação centrada no espaço hospitalar, é a relação entr a carga horária teórico/prática e a distribuição nos campos de estágio. Para um total de 56 oras/aula teóricas, correspondiam mais de 6.000 horas/aula de estágio, estabelecendo uma rra ão superior de um para to. Dos trinta meses de estágio, vinte e oito meses eram realizados m nfermarias e ambulatórios hospitalares, e somente dois meses I I eram cursados na saúde púb ic ., portanto, mais de 90% do ensino prático ocorria dentro dos hospitais. Se de um lado, essa fo· ção, voltada predominantemente para °conhecimento das doenças e realizada no interirr os hospitais, era justificada pelas enfermeiras da época como uma necessidade para o trabJlh na saúde pública, por outro lado, contraditoriamente, o ensino orientado pelo modelo biOJOO co era reconhecido como um "ponto fraco" das alunas, que iniciavam o serviço na "z~lpr tica", correspondia ao campo de prática em saúde pública, Outr9 onto fraco) é o que se relaciona com o ponto de vista das alunas duas primeiras semanas de trabalho, na zona pratica: é a idéa 15
  • 16. 16 curativ e não preventiva, isto é, doença e não saúde. Durante o curso hos italar, elas estão em contato com os doentes isolados nas enfe~ .as, e o seu trabalho é de trata-Ios, medica-Ios, dar-lhes COtID rt , de sorte que, ao enfrentarem o doente, no seu próprio meio, no s io da família, elas tendem logo para o doente e a doença em si, esqu cTdo-se completamente da vigilância aos comunicantes e da educ ç da família sobre higiene e profilaxia, isto é: do trabalho DfQV fi{ VO. Oi~1J(li Wt 1011,~.12). É importante consid r que essa "idéa curativa e não preventiva", (sicl), ou seja, de preocupação com doença e ão com a saúde, incorporada durante toda a formação profissional, provavelmente não ma des pa ecer em duas semanas de estágio, mas continuaria nuclear na concepção de trabalho das e fi eiras e de suas opções por determinado campo de atividade. Entretanto, a pequen a I esão ao trabalho na saúde pública não decorria apenas de uma escolha pessoal das enferme a mas ~ra conseqüência das precárias condições de trabalho das visitadoras e da própria poli ic de saúde do país, que gradativamente reduzia o orçamento da Divisão de Enfermagem d de Saúde Pública, obrigando a uma diminuição no número das e e eiras contratadas. Considerações Finais constata que o processo ed ca ional, vigente ainda hoje na grande maioria das escolas de enfermagem, pouco se afast] o modelo de formação iniciado com a Escola de Enfermagem Anna Nery. Contudo, a ênfre que ainda se dá ao aspecto curativo/hospitalar, na formação acadêmica dos enfermeiros, 1st sendo questionada por profissionais da área que discutem a necessidade de mudar o ensino e a prática de enfermagem, particularmente em face do processo de profissional. de construção de um sistema de saúde, pautado em princípios e diretrizes que exige outro tipo Nas propostas encamit as pela Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn, desde o início da década de 1990,00 o subsídio para a mudança do currículo mínimo, denuncia-se enfaticamente a preponderãnr o modelo médico/hospitalar no ensino da graduação. 16
  • 17. 17 o co profissional comum a capacitação do enfermeiro para e ção em saúde pública se resume a uma abordagem preliminar e ins ci nte, Privilegia também na parte profissional comum o enfoque tecni is , funcionalista e da assistência ao indivíduo hospitalizado. Ness tido, o currículo favorece a compreensão dicotomizada de saúd /d ença, prevenção/cura, assistência hospitalar/saúde pública, uni de de internação/ambulatório. (CONSELHO FEDERAL DE ~lô,i~~l,pjj~~ se pode verificar, não ocorreu no processo recente de desenvolvimento da profissã, as vem desde a sua institucionalização. Toda legislação sobre o ensino de enfermagem esde a criação da Escola de Enfermagem Anna Nery, compreendendo os program s e ensino de 1923, de 1949 e os currículos mínimos de 1962 e ção do enfermeiro sempre esteve centrada no pólo indivíduo/doença/cura e na as istência hospitalar, instituição eleita até aiora como esraro privilegiado para o ensino rát co dos alunos de enfermagem e, consequentemente, local de escolha para atuação dos pro lSS onais formados. o mesmo Parecer, r c ece que os currículos atuais mantiveram," entre outros modelo de assistência de enfermagem diferenciado do que equivocos a fragmentação o ixo da formação (...). As habilitações não tiveram nenhum impacto na consolidação de prevalecia desde a década de O. (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, 194, p. 05). o próprio desenvolvimntocapitalista tem mostrado a necessidade de mudanças na formação dos enfermeiros, t ndo obsoleto o padrão que vem sendo utilizado há mais de setenta anos. Essas mudanç s, no entanto, não devem se restringir apenas a alterações na legislação, mas devem voltar cocretamente à formação do enfermeiro para o atendimento das necessidades de toda a socie ad e não apenas às de uma elite. Para tanto, é indispensável uma ~. -" .•.. tomada de consciência e um [co prometimento efetivo da categoria na busca.de soluções para os seus problemas, tendo em I is a questões mais amplas, como a da saúde coletiva. O compromisso a ser assumido pelas instituições de formação, pelos órgãos representativos e pelos profissio ais da área deve ser o de esclarecimento das consciências, da busca de um maior grau di 1tonomia e do exercício profissional comprometido com a coletividade. Nessa proposta, Ia ção pelo coletivo deverá pesar mais do que a preocupação em 17
  • 18. 18 garantir uma boa colocação o ercado de trabalho; o conhecimento das doenças e das formas de tratamentos individuais n o deverá assumir preponderância em relação aos métodos epidemiológicos de abordag m dos problemas coletivos de saúde; e a sofisticação tecnológica da medicina hospitalar não de erá prevalecer e anular a necessidade de medidas de caráter preventivo. Penso que as análise re lizadas no âmbito deste trabalho podem alimentar a discussão sobre a constru,ão de um rroJeto F~~~vBfirm~iimera~ileira~Que nec~~~nrtamcntc considere as questões relativ s todas as dimensões do processo de adoecer humano. Com isso não se deseja defender a pri ção de um determinado nível de assistência em detrimento de outros, mas defender a pro os a de que todos os campos de atenção à saúde precisam ser contemplados pela enfermag m brasileira, tanto no que se refere ao ensino, quanto ao trabalho profissional. 18
  • 19. REFERÊNCIAS 19 ALVES, C_P. Conferência r a ada na Escola de Enfermagem Anua Nery em 19 de agosto de l~JO In: iDnul dlInform U m.Vnl.l (1J.l),IDã n~1~~ê~6,10]2. BARREIRA, L de A. Ae r eira ananéri no pais do futura; a aventura da luta contra a tuberculose. Rio de Janeiro: , 1992. (Tese de Doutorado). CONSELHO FEDERAL D E UCAÇÃO, Parecer N.o 314/94.:: Brasília, mar 1994. ~~~~Ií1!NIdulU Lum~ b nn~[[Onrrolr Ilnitíno~OnUElllUlt DOlític~~na~~útl~nn Brasil. 2. a ed. Petrópolis, V z ,Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 1986. KILNINGER, L. C Memó' de Clara LouiseKilninger. Trad, Rule, G. UFRJ, 1979. (reprodução interna). MIJIIDJJB~JJ, Y. A rrolU{fi ·Jtónu dI Drínr) médirl tlW iIDDllC!lCfi~~ftfl ~~inõ ~M tecnologia médicas. Belo Ho iz nte: PUC-MGIFINEP, 1984. MERHY, E. E. A saúde pú li como política: um estudo de fonnuladores de políticas. São Paulo: Hucitec, 1992. PIRES, D. Hegemonía médca na saúde ea enfermagem: Brasil 1500 a 1930. São Paulo; Cortez, 1989. 19