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VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
Tio Jason
2
1. A LÍNGUA É VARIÁVEL
Língua Portuguesa – mais de 250 milhões de falantes, é a 6ª língua
mais falada no mundo com 80% desses falantes sendo brasileiros.
Nesses países há traços peculiares
quanto à pronúncia, ao
vocabulário, ao ritmo da fala e até
às formas de expressão que se
diferenciam muito daquilo que se
percebe entre os brasileiros.
3
• A língua é, em sua essência, heterogênea, ou seja, o idioma se
manifesta de maneiras plurais, relacionadas diretamente com os
diversos contextos socioculturais ou situacionais em que se
manifesta, e não é restrito a um único modelo.
• A língua é um fato social diretamente associado à dinâmica de um
povo. Assim como a cultura e a identidade são aspectos que variam
de um grupo social ou de um povo para outro no tempo e no
espaço, também é a língua utilizada.
2. Situações comunicativas
Registros são variações que ocorrem de
acordo com o grau de formalidade existente
na situação.
4
O falante deve saber escolher adequadamente
entre os diferentes registros linguísticos para
poder transitar de maneira fluida e eficaz em
diferentes situações de interação linguística.
O nível de formalidade pode variar independentemente de os
textos produzidos serem orais ou escritos.
5
INFORMAL
FORMAL
ORAL ESCRITO
Bate-papo, fofoca
Caso, conversa
fiada
Bilhete, carta pessoal
Diário
Biografia
Entrevista médica
Relato de vivências
Reclamações
Entrevista jornalística
Notícias
Carta de reivindicação
Debate
Palestra
Conferência
Carta de leitor Editorial, ensaio
Relatório científico,
artigo científico, tese
3. O estudo dos dialetos
O português apresenta variantes que são compartilhadas por
grupos sociais específicos e que se diferenciam umas das
outras devido a características que as tornam particulares ou,
pelo menos, típicas dos falantes que a utilizam. A essas
variantes dá-se o nome de dialetos.
Dialetos são variantes de uma língua que carregam traços
lexicais, morfológicos, sintáticos, fonéticos e pragmáticos
compartilhados por uma comunidade linguística específica. 6
3.1. Etário ou geracional
Existe uma variação considerável na forma de uso da língua ao longo
do tempo, de modo que cada geração se caracteriza por um conjunto
de vocabulários mais ou menos utilizados, gírias específicas e até
formas de pronunciar as palavras.
7
3.2. Socioeconômico e cultural
Outro fator que exerce forte influência sobre a forma como a língua se
manifesta é o grupo social e/ou cultural ao qual o falante pertence.
Nesse sentido, a forma de estruturação das frases, os padrões de
concordância verbal e nominal, as regências verbais utilizadas e a forma
de falar as palavras são fatores que servem para identificar um usuário do
idioma como pertencente a um determinado grupo.
8
A escolarização é um fator que interfere na manifestação da língua.
Pessoas com menos acesso à educação formal e, consequentemente,
menor grau de escolaridade tendem a apresentar em suas falas algumas
características diferentes daquelas percebidas em pessoas com maior grau
de instrução formal.
9
Com a marvada pinga
É que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dou meu taio
Pego no copo e dali num saio
Ali mémo eu bebo, ali mémo eu caio
Só pra carregá é que eu dô trabaio
Venho da cidade e já venho cantanu
Trago um garrafão que venho chupanu
Venho pros caminho, venho trupicanu
Chifranu os barranco, venho cambetianu
E no lugar que eu caio, já fico roncanu
O marido me disse, ele me falô:
“Largue de bebê, peço por favô”
Prosa de homem nunca dei valô
Bebo com o sór quente pra esfriar o calô
E bebo de noite é pá fazê sua dô
Cada vez que eu caio, caio deferente
Miaço pá trás e caio pá frente
Caio devagar, caio de repente
Vô de corrupio, vô deretamente
Mas senu de pinga, eu caio contente
Moda da pinga
10
Pego o garrafão e já balanceio
que é pá mor de vê se tá mémo cheio
Num bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo nos copo, bebo na tigela
E bebo temperada com cravo e canela
Seja quarqué tempo, vai pinga na guela
Ê marvada pinga!
Eu fui numa festa no Rio Tietê
Eu lá fui cheganu no amanhecê
Já me dero pinga pra mim bebê
Já me dero pinga pra mim bebê
e tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braço dado
Ai, de braço dado é com dois sordado
Ai, muito obrigado!
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3.3. De gênero
Há peculiaridades no uso da língua por parte de homens e por parte
de mulheres, assim como é possível ver características linguísticas
mais ligadas a grupos LGBTQIAP+.
Os aspectos lexicais e sintáticos são os principais fatores de
ocorrência desse tipo de variação. Há gírias e escolhas lexicais que
são mais percebidas na fala de homens e outras mais frequentes nos
falares das mulheres.
“top” “lacrar”
15
3.4. Regional
Esse tipo de variante da língua está
ligado à história e à formação
cultural das comunidades de cada
região. Assim, locais que tenham
passado por um processo de formação
social e cultural semelhante tendem a
compartilhar de marcas linguísticas
também parecidas.
Essas divisões geolinguísticas são
diretamente associadas ao que, no senso
comum, conhece-se como sotaques. 16
4. Preconceito linguístico
Falsamente embasados naquilo que seria um “ideal linguístico” ou a
“forma correta” de usar a língua, algumas pessoas acabam por
promover uma equivocada hierarquização de modalidades e dos
dialetos da língua, indicando que haveria um modelo adequado e
os demais seriam inadequados, piores.
Essas ideias configuram-se como visões depreciativas que compõem
o que se chama de preconceito linguístico.
17
Práticas do preconceito linguístico
As práticas de preconceito linguístico são um reflexo dos
preconceitos sociais.
“norma culta” x “norma padrão”
Os estigmas associados aos diferentes dialetos existentes são
muito relacionados aos estigmas sofridos pelos grupos sociais
que os utilizam. 18

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Variações linguísticas: a heterogeneidade da língua

  • 2. 2 1. A LÍNGUA É VARIÁVEL Língua Portuguesa – mais de 250 milhões de falantes, é a 6ª língua mais falada no mundo com 80% desses falantes sendo brasileiros. Nesses países há traços peculiares quanto à pronúncia, ao vocabulário, ao ritmo da fala e até às formas de expressão que se diferenciam muito daquilo que se percebe entre os brasileiros.
  • 3. 3 • A língua é, em sua essência, heterogênea, ou seja, o idioma se manifesta de maneiras plurais, relacionadas diretamente com os diversos contextos socioculturais ou situacionais em que se manifesta, e não é restrito a um único modelo. • A língua é um fato social diretamente associado à dinâmica de um povo. Assim como a cultura e a identidade são aspectos que variam de um grupo social ou de um povo para outro no tempo e no espaço, também é a língua utilizada.
  • 4. 2. Situações comunicativas Registros são variações que ocorrem de acordo com o grau de formalidade existente na situação. 4 O falante deve saber escolher adequadamente entre os diferentes registros linguísticos para poder transitar de maneira fluida e eficaz em diferentes situações de interação linguística.
  • 5. O nível de formalidade pode variar independentemente de os textos produzidos serem orais ou escritos. 5 INFORMAL FORMAL ORAL ESCRITO Bate-papo, fofoca Caso, conversa fiada Bilhete, carta pessoal Diário Biografia Entrevista médica Relato de vivências Reclamações Entrevista jornalística Notícias Carta de reivindicação Debate Palestra Conferência Carta de leitor Editorial, ensaio Relatório científico, artigo científico, tese
  • 6. 3. O estudo dos dialetos O português apresenta variantes que são compartilhadas por grupos sociais específicos e que se diferenciam umas das outras devido a características que as tornam particulares ou, pelo menos, típicas dos falantes que a utilizam. A essas variantes dá-se o nome de dialetos. Dialetos são variantes de uma língua que carregam traços lexicais, morfológicos, sintáticos, fonéticos e pragmáticos compartilhados por uma comunidade linguística específica. 6
  • 7. 3.1. Etário ou geracional Existe uma variação considerável na forma de uso da língua ao longo do tempo, de modo que cada geração se caracteriza por um conjunto de vocabulários mais ou menos utilizados, gírias específicas e até formas de pronunciar as palavras. 7
  • 8. 3.2. Socioeconômico e cultural Outro fator que exerce forte influência sobre a forma como a língua se manifesta é o grupo social e/ou cultural ao qual o falante pertence. Nesse sentido, a forma de estruturação das frases, os padrões de concordância verbal e nominal, as regências verbais utilizadas e a forma de falar as palavras são fatores que servem para identificar um usuário do idioma como pertencente a um determinado grupo. 8 A escolarização é um fator que interfere na manifestação da língua. Pessoas com menos acesso à educação formal e, consequentemente, menor grau de escolaridade tendem a apresentar em suas falas algumas características diferentes daquelas percebidas em pessoas com maior grau de instrução formal.
  • 9. 9 Com a marvada pinga É que eu me atrapaio Eu entro na venda e já dou meu taio Pego no copo e dali num saio Ali mémo eu bebo, ali mémo eu caio Só pra carregá é que eu dô trabaio Venho da cidade e já venho cantanu Trago um garrafão que venho chupanu Venho pros caminho, venho trupicanu Chifranu os barranco, venho cambetianu E no lugar que eu caio, já fico roncanu O marido me disse, ele me falô: “Largue de bebê, peço por favô” Prosa de homem nunca dei valô Bebo com o sór quente pra esfriar o calô E bebo de noite é pá fazê sua dô Cada vez que eu caio, caio deferente Miaço pá trás e caio pá frente Caio devagar, caio de repente Vô de corrupio, vô deretamente Mas senu de pinga, eu caio contente Moda da pinga
  • 10. 10 Pego o garrafão e já balanceio que é pá mor de vê se tá mémo cheio Num bebo de vez porque acho feio No primeiro gorpe chego inté no meio No segundo trago é que eu desvazeio Eu bebo da pinga porque gosto dela Eu bebo da branca, bebo da amarela Bebo nos copo, bebo na tigela E bebo temperada com cravo e canela Seja quarqué tempo, vai pinga na guela Ê marvada pinga! Eu fui numa festa no Rio Tietê Eu lá fui cheganu no amanhecê Já me dero pinga pra mim bebê Já me dero pinga pra mim bebê e tava sem fervê Eu bebi demais e fiquei mamada Eu cai no chão e fiquei deitada Aí eu fui pra casa de braço dado Ai, de braço dado é com dois sordado Ai, muito obrigado!
  • 11. 11
  • 12. 12
  • 13. 13
  • 14. 14
  • 15. 3.3. De gênero Há peculiaridades no uso da língua por parte de homens e por parte de mulheres, assim como é possível ver características linguísticas mais ligadas a grupos LGBTQIAP+. Os aspectos lexicais e sintáticos são os principais fatores de ocorrência desse tipo de variação. Há gírias e escolhas lexicais que são mais percebidas na fala de homens e outras mais frequentes nos falares das mulheres. “top” “lacrar” 15
  • 16. 3.4. Regional Esse tipo de variante da língua está ligado à história e à formação cultural das comunidades de cada região. Assim, locais que tenham passado por um processo de formação social e cultural semelhante tendem a compartilhar de marcas linguísticas também parecidas. Essas divisões geolinguísticas são diretamente associadas ao que, no senso comum, conhece-se como sotaques. 16
  • 17. 4. Preconceito linguístico Falsamente embasados naquilo que seria um “ideal linguístico” ou a “forma correta” de usar a língua, algumas pessoas acabam por promover uma equivocada hierarquização de modalidades e dos dialetos da língua, indicando que haveria um modelo adequado e os demais seriam inadequados, piores. Essas ideias configuram-se como visões depreciativas que compõem o que se chama de preconceito linguístico. 17
  • 18. Práticas do preconceito linguístico As práticas de preconceito linguístico são um reflexo dos preconceitos sociais. “norma culta” x “norma padrão” Os estigmas associados aos diferentes dialetos existentes são muito relacionados aos estigmas sofridos pelos grupos sociais que os utilizam. 18