Este plano de aula tem como objetivo:
1) Comparar discurso direto e indireto, lembrando a importância da pontuação no discurso direto;
2) Aplicar esses conceitos através da reescrita de trechos literários em discurso indireto;
3) Trabalhar com alunos de 4o ano do ensino fundamental habilidades linguísticas como análise linguística e semiótica.
1. Título da aula: Reescrita de discurso: pontuar é necessário!
Finalidade da
aula:
Comparar discurso direto e indireto, recordando a presença de
sinais de pontuação no discurso direto, aplicando-os
adequadamente através da reescrita de trechos de narrativas
conhecidas.
Ano: 4º ano do Ensino Fundamental
Gênero: Lendas indígenas
Objeto(s) do
conhecimento:
Discurso direto/ Pontuação
Prática de
linguagem:
Análise Linguística /Semiótica
Habilidade(s) da
BNCC
EF35LP30 / EF04LP05
Esta é a nona aula de uma sequência de 15 planos de aula. Recomendamos o uso desse plano em
sequência.
4. Muitos deles foram premiados pelo Brasil afora. Escrevo para
crianças de todas as idades. Escrevo para todas as pessoas que
tenham piolhos ou que queiram ganhar alguns piolhos novos. Quero e
vou escrever muito mais.
Além de escrever, tenho uma preocupação muito grande em
auxiliar outros indígenas a escreverem textos tradicionais. Outros
autores já apareceram, e muitos ainda irão aparecer. Também gosto
de pensar que os povos indígenas têm muita sabedoria acumulada.
Essa sabedoria precisa ser protegida, para não se perder ou ser
simplesmente levada embora.[...]
Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Catando piolhos Contando histórias. São Paulo: Escarlate,
2014. p. 44
Sou paraense de nascimento e munduruku
de tradição. Vivi no norte do Brasil até meus 23
anos. Depois, mudei para São Paulo. Vim estudar
na Universidade Salesiana de Lorena, onde me
graduei em filosofia, mas estudei história e
psicologia. Fiz mestrado incompleto em
antropologia e hoje faço mestrado em educação
na USP. Já escrevi mais de vinte livros.
DANIEL MUNDURUKU
Wikimedia
commons
5. MEUS TEMPOS DE CRIANÇA
Recordo-me sempre dos meus tempos de menino, quando
meu bisavô me colocava em seu colo para contar as histórias do meu
povo. Embora entendesse pouco da narrativa, ficava deslumbrado
com a intensidade de sua rouca voz amaciada pelo tempo. É que
parecia que meu velho bisavô se transfigurava ao dizer o indizível
retratado nos contos que narrava com tamanha convicção. Era como
se visse o invisível… Contava as histórias que deram origem ao nosso
povo; os mitos primordiais que estruturaram a visão do universo
habitado pela “minha gente”.
[...]Sentávamos no terreiro em frente às nossas casas e,
muitas vezes, só levantávamos quando o sol se apresentava para nos
saudar.[...] Quantas vezes vaguei em meio às estrelas, embalado ao
som da música que ouvia na narração do velho bisavô. Quantas vezes
fui arrebatado para os confins longínquos do universo por imaginar-
me o herói civilizador do meu povo! Nessa época, tinha pouco mais
de cinco anos!
Hoje, tantos anos depois daquela experiência e já curtido
pelo contato com outras culturas, posso refletir sobre o que vi e vivi
durante aqueles anos e dizer o que me fez e faz calar quando
6. recordo, com saudades, das narrativas que meu bisavô contava.
Parece-me que hoje posso dizer que as histórias que aquele
velho contava eram seus próprios sonhos ou, ao menos, eram como
sonhos que não diziam nada acerca deste mundo externo em que
nos movemos, mas, por outro lado, dizem muito de um mundo que
mexe em nossas entranhas. Aprendi, depois, que as histórias são
falsas, porém muitas vezes, deparei-me com pessoas que choravam
por causa delas e, estranhamente, que esse choro as tornava
verdadeiras! O mistério estava resolvido, porque notei que as
histórias delimitam os contornos de uma grande ausência que mora
em nós.[...]
Tudo isso é poesia pura! E é por meio dela que eu consigo
compreender o que é ter uma identidade que se formalize na
tradição oral. Não dá para ser diferente. Se alguém quiser
compreender minha cultura, comece a ler nossas histórias, comece a
sintonizar com os nossos heróis, comece a vivenciar nossa poesia!
Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Histórias de índio.São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2016.p. 39-40.
7. VAMOS CONVERSAR SOBRE A NARRATIVA “MEUS
TEMPOS DE CRIANÇA”?
1 - Vocês observaram diálogo neste texto? Por quê?
2 - Imaginem um diálogo entre Munduruku e seu
bisavô. O que eles poderiam falar um para o outro?
3- Você seria capaz de reproduzir o diálogo que
imaginou?
9. ATIVIDADE EM DUPLAS
1. Façam a leitura do trecho do texto “O saber dos avós”, ele está em
discurso direto. Façam a sua reescrita transformando-o em
discurso indireto.
DISCURSO DIRETO
- Como vai o meu neto hoje?
- Estou bem, minha avó.
- Não diga que está bem quando você não está. O que
aconteceu?
- Briguei com meu melhor amigo. Não foi por querer, mas ele
me chateou muito.
- O que aconteceu para você ficar tão magoado?
- Ele disse que eu não era corajoso como ele.
Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Catando piolhos Contando
histórias. São Paulo: Escarlate, 2014. p. 37
DISCURSO INDIRETO
10. 2. Agora vocês têm um desafio:
Pensem numa continuidade para a história “O saber dos avós”:
Imaginem que o índio foi brincar com seu amigo no igarapé.
Chegando lá os dois têm uma conversa e fazem as pazes.
Elaborem um pequeno diálogo entre os dois amigos.
Não se esqueçam de usar a pontuação adequada e os verbos dicendi.
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<title> Sobre este plano </title>
Este slide não deve ser apresentado para os alunos, ele apenas resume o conteúdo da aula para que você, professor, possa se planejar.
Sobre esta aula: esta é nona aula de uma sequência de 15 planos de aula com foco no gênero lendas indígenas e no campo de atuação artístico-literário. A aula faz parte do módulo de Análise Linguística/Semiótica.
Materiais necessários: Computador e projetor multimídia para exibir os slides.
Livro “Catando piolhos Contando histórias” de Daniel Munduruku (Caso não tenha o livro disponível, imprima o arquivo aqui)
Uma cópia para cada aluno do texto “O saber dos avós”: aqui
Uma tabela de atividades impressa para cada aluno: aqui
Atividades em duplas impressa: aqui
Informações sobre o gênero: Lendas indígenas são narrativas de tradição oral que falam sobre questões vinculadas à existência e a sentimentos como o medo, a coragem, a dúvida, o amor… falam sobre erros, acertos e sobre os enfrentamentos da vida, questões nem sempre fáceis de serem elaboradas. No Brasil, essas lendas inicialmente foram escritas por não indígenas, no intuito de fazer conhecer essa cultura, em um momento histórico em que se buscava construir uma identidade nacional. Entretanto, esses primeiros escritos, de caráter folclórico, muitas vezes trouxeram ideias genéricas sobre os índios. Desde os anos 90, a literatura indígena, escrita pelos próprios índios, vem ganhando força, e é por meio dela que buscaremos proporcionar aos alunos o conhecimento da pluralidade cultural do país, além do distanciamento de pré-julgamentos baseados em visões estereotipadas e pejorativas. Portanto, a leitura desses textos deve proporcionar a reflexão sobre como o outro vê e lê o mundo e como conta suas histórias. Nessas obras o texto é interativo e multimodal: as narrativas são permeadas de referências a sons, olfato, tato e sensações que podem ser mais bem descritas por quem de fato viveu ou esteve mais próximo dessas experiências...além de geralmente conter desenhos tradicionais (como os grafismos) e paratextos com informações adicionais relacionadas à cultura, língua e localização da etnia em questão. Esses textos literários provocam o imaginário e a fantasia, a curiosidade, sentido de descoberta e ao mesmo tempo promovem aprendizagens e questionamentos.
Dificuldades antecipadas: Muitos alunos escrevem diálogos sem separar as falas de narrador e dos personagens, além de omitir ou não utilizar adequadamente os sinais de pontuação. Em geral, a dificuldade está na organização do discurso direto (uso de dois pontos, parágrafo e travessão). Podemos identificar vários motivos para não seguirem as convenções da escrita: falta de conhecimento sobre a função dos sinais de pontuação, decorrente também da dificuldade de leitura, interpretação e compreensão do texto, além da recente aquisição da escrita alfabética.
Referências sobre o assunto: SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Recuperação Língua Portuguesa – Aprender os padrões da linguagem escrita de modo reflexivo : unidade III – Palavra dialogada – Livro do professor / Secretaria Municipal de Educação. – São Paulo : SME/ DOT, 2011. - 112p. Disponível em:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/16464.pdf. Acesso em 21 de outubro de 2018.
CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1978.
THIEL, Janice Cristina. A Literatura dos Povos Indígenas e a Formação do Leitor Multicultural. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 38, n. 4, p. 1175-1189, out./dez. 2013. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/edreal/v38n4/09.pdf. Acesso em 21 de outubro de 2018.
<title> Tema da aula </title>
Tempo sugerido: 1 minuto
Orientações: Apresente a proposta da aula para os alunos.
<title> Introdução </title>
Tempo sugerido: 10 minutos
Orientações:
Inicie a aula Informando aos alunos que conhecerão uma das histórias do livro “Catando piolhos, contando histórias” de Daniel Munduruku (autor do texto que lerão a seguir), mostre a capa, informe aos alunos o nome da editora “Escarlate” e diga que este livro tem várias histórias do povo Munduruku.
Materiais complementares: Acesse a capa do livro para impressão (opcional): aqui
<title> Introdução </title>
Orientações:
Leia a biografia do autor em voz alta e comente com os alunos que ele é um dos autores indígenas mais conhecidos da atualidade, ele costuma dar palestras em escolas e está muito ligado à área da educação infanto-juvenil. Nesta sequência, em aulas anteriores, já desenvolvemos atividades com outros textos e vídeos do autor.
Materiais complementares: Acesse a biografia do autor para impressão (opcional): aqui
<title> Introdução </title>
Orientações:
Leia pausadamente o texto para os alunos e, apoiados também pela leitura da biografia de Munduruku, leve-os a refletir:
No que diz respeito à tradição, há uma preocupação dos índios mais velhos a ensinarem a cultura de seu povo às crianças e jovens. Eles se reúnem com seus filhos e netos para contarem histórias, para que os mais jovens possam conhecer e dar continuidade a memória ancestral de seu povo. Nesse encontros, também existe a presença do elemento musical como estratégia de focalização e atenção no que está por vir. As histórias contadas estabelecem um vínculo entre gerações, especialmente pelas narrativas míticas, referindo-se à origem do mundo, dos deuses e do homem. Assim é como se fosse possível ver o invisível. As histórias tradicionalmente orais são capazes de levar os ouvintes para um universo imaginário localizado no início dos tempos, despertando a curiosidade através de enigmas e soluções de mistérios, componentes muito presentes nessas narrativas.
O autor valoriza muito a sabedoria do bisavô, algo que pode não ocorrer em outras culturas. Munduruku recorda com saudades das histórias que o faziam sentir-se até herói de seu povo, relata que seu bisavô contava seus sonhos que diziam muito a respeito do seu povo;
Munduruku comenta que as lendas indígenas ora consideradas “falsas ou fictícias”, ao despertar sentimentos e emoções profundas em seus ouvintes, se tornam verdadeiras.
Materiais complementares: Acesse o texto “Meus tempos de criança” para impressão: aqui
<title> Introdução </title>
Orientações:
Continuação do texto.
<title> Introdução </title>
Orientações:
Reproduza o slide e faça uma discussão com os alunos sobre as questões.
1 - Vocês observaram diálogo neste texto? Por quê? (Certamente os alunos irão dizer que não há diálogo, porque trata-se de um relato de Daniel Munduruku sobre a sua infância e não há falas de personagens no texto)
2 - Imaginem um diálogo entre Munduruku e seu bisavô. O que eles poderiam falar um para o outro? Você seria capaz de reproduzir o diálogo que imaginou? (Essa pergunta tem o intuito de ativar conhecimentos prévios dos alunos acerca do uso do discurso direto em oposição ao discurso indireto, presente no relato recém lido. Incentive-os a brincar inventando diálogos e chame atenção para escolhas que fazem , como o eventual apoio em um narrador e em verbos de enunciação para contextualizar o diálogo. Algum aluno, por exemplo, poderia imaginar e reproduzir o diálogo da seguinte maneira: “então Daniel encontra seu bisavô e diz para ele: Biso estou com saudades! E o bisavô responde: eu também meu neto, o que você me conta de novidade? ...” )
<title> Desenvolvimento </title>
Tempo sugerido: 31 minutos
Orientações:
Divida a turma em duplas, distribua cópias do texto “O saber dos avós” aos alunos e peça para que façam a leitura dele.
Materiais complementares: Acesse o texto “O saber dos avós” para impressão: aqui
<title> Desenvolvimento </title>
Orientações:
Os alunos formarão duplas, distribua as atividades impressas.
Na atividade 1, solicite aos alunos que façam a leitura do trecho em discurso direto. Eles deverão transformá-lo em discurso indireto. Se for necessário, relembre com os alunos que no discurso indireto o narrador diz com suas palavras o que disseram os personagens. Prevalece como sinais de pontuação principalmente o ponto final e a vírgula. No discurso indireto, por não haver a fala diretamente do personagem, por isso não identificamos dois pontos e nem o travessão. O ponto de interrogação ou de exclamação, eventualmente pode aparecer.
Materiais complementares: Acesse a atividade para impressão: aqui
<title> Desenvolvimento </title>
Orientações:
Faça a leitura da atividade 2 em voz alta.
Atente aos alunos para que mudem de linha quando a fala é de outro personagem e utilizem os sinais de pontuação adequados, refletindo sobre os seus efeitos de sentido em cada situação, assim como estudaram nesta sequência.
Durante esta atividade, circule pelas duplas e faça pequenas intervenções como: De quem é esta fala? Vocês têm certeza que aqui é o mesmo personagem que está falando? Esta é uma pergunta ou uma afirmação? (É provável que mesmo após dos estudos sobre diálogos e uso de sinais de pontuação, alguns alunos ainda omitam ou troquem alguns sinais, ou mesmo escrevam duas falas juntas sem mudar de linha quando mudam-se os personagens.) Se for necessário, auxilie os alunos dando exemplos de verbos dicendi (Ex: perguntou, respondeu, disse, falou…)para que usem de maneira adequada.
Faça a socialização da atividade.
Na atividade 1, peça para que algumas duplas leiam em voz alta a sua resposta e registre a mais adequada no quadro para que todos visualizem as diferenças entre os dois discursos.
Na atividade 2, registre também no quadro a resposta de uma das duplas. Destaque com outras cores os sinais de pontuação e os verbos dicendi que foram utilizados e reflita sobre os seus efeitos de sentido em cada situação. É importante também chamar a atenção da turma para a mudança de parágrafo após a fala do narrador e dos personagens, lembre-os que os dois pontos, parágrafo e travessão tem a função justamente de organizar o diálogo.
5. Ao final, aproveite para conversar com os alunos sobre os valores dos avós, suas lições e sobre a resolução de conflitos:
Questione-os se gostaram do texto e se aprenderam algo com ele. É provável que gostem do texto, e percebam a importância de aprender com os conselhos e com a experiência dos mais velhos.
No texto também é abordada a importância de se ter coragem para olhar dentro de si e tomar atitudes para se viver melhor. A avó orienta que se procure compreender a visão do outro em uma discussão, já que todos os seres humanos, até mesmo nossos amigos, são passíveis de erros.
Comente com os alunos sobre o desfecho dessa história, em que o índio ao invés de brigar com o seu amigo, brinca com ele e o perdoa. É importante envolver os alunos nesta discussão porque todos nós enfrentamos conflitos no nosso dia-a-dia e muitas vezes não sabemos lidar com as situações. Aproveite as respostas dos alunos para contextualizar esse final.
<title> Fechamento </title>
Tempo sugerido: 8 minutos
Orientações:
Peça que os alunos reflitam sobre o que aprenderam nas três aulas da sequência e preencham a tabela listando as características dos discursos direto e indireto. Caso não tenha seguido a sequência, é possível que a execução dessa tarefa seja mais difícil, nesse caso, faça previamente uma discussão oral, antes de realizar o registro.
Oriente os alunos a preencher a tabela individualmente. Esse é o momento de obter informações sobre os avanços individuais dos alunos, é através dessa atividade que você avaliará o que falta para aprimorar suas próximas aulas. Os alunos que desejarem, poderão ler para a turma suas respostas. Não se preocupe caso alguns alunos não alcancem os resultados esperados, pois esse é um tema possivelmente revisitado a partir de outras sequências e ao longo dos anos do ensino fundamental.
Possibilidades de respostas:
Características do discurso direto: Registro da fala dos personagens, do modo como ele a diz. O personagem fala diretamente, sem a interferência do narrador, que se limita a introduzi-la. Muda-se de linha quando outro personagem fala. Aparecem os sinais pontuação: dois pontos, travessão, ponto de interrogação, exclamação, vírgula e ponto final. Uso de verbos dicendi mais neutros como “falou, respondeu, disse...” ou mais expressivos como “gritou, murmurou, lamentou...”.
Características do discurso indireto: O narrador diz com suas palavras o que disseram os personagens. Prevalecem apenas o ponto final e a vírgula. No discurso indireto, por não haver a fala diretamente do personagem não identificamos os dois pontos e travessão. É possível o uso de exclamação e interrogação, no caso do próprio narrador exclamar ou fazer questionamentos.
Materiais complementares: Acesse a tabela para impressão: aqui