O LEAN MANUFACTURING nome dados pelos americanos da MIT ao SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO, nasceu no interior do Japão, na província de Aichi, e na zona rural,Isso contribuiu para que a Toyota fosse diferente de outras montadoras, apesar que a HONDA também zelou pela excelência. Aqui explico essas origens.
Entendendo a cultura japonesa e o Lean Manufacturing
1. Entendendo a cultura japonesa e o que podemos aplicar no Brasil.
Como surgiu o Sistema Toyota de Produção (Lean Manufacturing)
No dia 18 de junho é comemorada a imigração japonesa no Brasil, porque foi nessa data que
chegou o primeiro navio (Kasato Maru) com imigrantes japoneses, no Porto de Santos, em
1908. O Japão vivia uma crise, enquanto que o Brasil necessitava de mão-de-obra para a
lavoura do café, após a libertação dos escravos.
Como consultor do STP (Sistema Toyota de Produção/Lean Manufacturing), há anos eu estudo
a cultura japonesa. Sou nascido dentro de uma família nipônica, mas eu sou brasileiro. Meus
pais vieram em 1936. Eu queria saber “Por que o Japão é diferente e como o STP nasceu lá?”
Para entender o contexto onde nasceu o STP, é preciso estudar a geografia e a matriz cultural-
religiosa do Japão que enfatiza o trabalho produtivo, a diligência, a austeridade, a tolerância e
o autocontrole. Muitas empresas e executivos no ocidente pecam ao não entender a essência
do STP que está baseada nesta parte cultural.
É muito difícil mudar a cultura de um país, mas, por necessidade, por razões de sobrevivência,
convém que as empresas se esforcem para mudar algumas características de nossa cultura
(Brasil) dentro de nossas empresas. Não só os japoneses, mas todos os povos do chamado G -
20 (países desenvolvidos), tiveram que mudar por necessidade. Como escreveu Deming: “A
sobrevivência não é mandatória”, mas convém que seja feita. Deming foi o estatístico
americano que ajudou o Japão a melhorar a qualidade.
O Japão que é um país pequeno com uma área um pouco maior que o estado de São Paulo,
com poucas áreas agriculturáveis, cheio de montanhas e florestas que procuram preservar.
É sujeita a terremotos, vulcões, tufões e tsunamis.
Cooperação: O alimento principal é o arroz (“gohan”, que também significa refeição). Não é o
trigo. O seu plantio, dentro da água (mais produtivo), exige muito trabalho: o canteiro deve
estar bem nivelado e seu cuidado é muito cansativo. O milho e o trigo não são tão exigentes:
podem ser plantados em terrenos não nivelados. Como a plantação e a colheita do arroz
devem ser feitas em épocas bem definidas (clima temperado), os donos das pequenas
propriedades precisavam convidar os vizinhos para, em regime de mutirão, fazer essas
atividades muito cansativas; isso, antes do aparecimento das mecanizações. Essa necessidade
fez surgir o espirito de cooperação. Se uma família não ajuda um vizinho, ele não será ajudado.
2. O egoísta não terá boas colheitas e poderia passar fome. Deve haver uma boa convivência
entre os vizinhos.
Aversão ao desperdício: O Japão passou por épocas de grande fome. O desperdício de comida
era um pecado e provocava o “castigo dos deuses”. Uma das palavras que as crianças (eu,
inclusive) mais ouvia dos pais era “Mottainai” que significa que a finalidade de algo está sendo
desperdiçado, perdido. Minha mãe me falava com ar de reprovação.
Aliás o Lean Manufacturing é definido por muitos como a arte de atacar, sem tréguas, todas as
fontes de desperdícios, de “wastes” (em inglês) ou “mudás” (em japonês).
Aliás esse sentimento que abomina desperdícios, principalmente de comida, é comum
também aos europeus que sofreram duas guerras e muitos passaram fome. Em geral, países
que sofreram muitas dificuldades (como a neve no inverno) tendem a ser mais disciplinados e
evitam os desperdícios e ficaram mais ricos. Muitos descendentes de alemães, italianos e
outros europeus que tiveram problemas de escassez de comida também evitam desperdícios
de comida. E isso foi bom para eles, pois ficaram ricos!
Decisão por consenso: Outro fato é que, nas comunidades agrícolas, para haver harmonia
geral, devem-se evitar conflitos, de modo que as decisões importantes são bem estudadas por
todos os envolvidos antes de serem implantadas.
Isso, nas empresas japonesas, tem um nome: “nemawashi”, que quer dizer, em sua origem,
preparar o solo para o replante de uma árvore.
Quando a decisão sobe para escalões superiores, o executivo sabe que pode aprovar a decisão,
pois ela já foi bem analisada por todos os envolvidos, o que aumenta a chance de ser bem
3. implantada. Isso também deve ser adotado nas empresas e no Brasil. Pode demorar mais, mas
evita erros e sua implantação é mais rápida, de modo que é melhor.
Preparação das raízes de uma árvore para transplante.
Busca da perfeição: outro fator, agora religioso, foi o budismo que prega que, como tudo é
passageiro, “impermanente”, nossos atos devem buscar a perfeição. Os carros japoneses na
década de 1960 não eram “perfeitos” e não serviam para serem exportados para os EUA. Eles
buscaram a perfeição.
Limpeza: Também o budismo (que na verdade não é uma religião, pois nela não há deus)
prega a humildade para fazer a limpeza. Daí vem o costume de, uma vez por ano, o presidente
da empresa participar de eventos de limpeza também ao redor da fábrica. O aprendiz de
monge budista (e também o lutador de sumô) deve limpar a toalete do templo.
Para os japoneses, executivos que fazem tarefas manuais são valorizados. Isso não ocorre na
China e na Índia, onde as tarefas intelectuais são mais valorizadas. Nem na maioria dos países
do ocidente onde essas atividades são consideradas “inferiores”.
Nas escolas japonesas, os próprios alunos limpam as salas de aula e, nos bairros, é comum ver
voluntários fazendo mutirões de limpezas dos bueiros, praças e ruas.
Funcionários limpam ao redor da empresa Na Copa do Mundo de futebol em
2014, a torcida japonesa limpou o
estádio em Recife
4. No Japão, é muito comum, uma vez por ano, a diretoria da empresa tendo na frente o CEO ou
o fundador, realizar mutirões de limpeza na empresa e nos arredores. Perguntem a
“dekaseguis” (brasileiros ou não que vão para o Japão trabalhar).
Do Confucionismo, de origem chinesa, veio o respeito aos mais idosos (mais experientes). Ao
professor, ao “sensei”. Também prega a integridade, a humanidade, a cortesia, a fidelidade e a
justiça, a moral e a ética (não que não haja corruptos no Japão!).
O Taoísmo, também de origem chinesa, prega a retidão, a flexibilidade de um bambu e não a
rigidez de um carvalho, que durante uma tempestade, pode se quebrar.
Respeito à natureza: do Xintoísmo, religião original do Japão, que vê deus em cada coisa da
natureza, vem o respeito ao meio ambiente e o conformismo com os terremotos e tsunamis.
Não dá para “brigar” contra esses eventos naturais. Mas isso não impede a pratica da
prevenção e os treinamentos disciplinados para mitigar os efeitos dos desastres da natureza.
Acreditam que tudo que a Natureza deu ao Japão deve ser bem utilizado, não pode ser
desperdiçado. Tem que combater o “mottainai”.
Essas maneiras de pensar se reflete quando se comparam os objetivos das empresas
ocidentais e no Japão:
Ocidente: de modo geral, a prioridade é o lucro para os acionistas.
Japão: bem estar dos empregados e benefícios para os consumidores.
Nas decisões:
Ocidente: de cima para baixo.
Japão: consensual.
Queremos observar que, como em muitos países e culturas, há coisas não boas no Japão. Eu,
como um nissei (segunda geração de japoneses), sabe muito bem isso pois, conhece as duas
culturas. Mas sou um brasileiro acima de tudo e quero tornar o Brasil um país melhor! O Brasil,
que acolheu tantos imigrantes de braços abertos!
Hiroaki Kokudai
Consultor de Lean Manufacturing
www.twi.net.br
BLOG: www.hiroakikokudai.blogspot.com.br