Lucas escapa de um monstro espacial e busca suprimentos em uma nave abastecedora, mas é perseguido por bruxas faladeiras. Ele consegue fugir e retornar para sua nave-mãe, onde sua mãe o repreende por provocar o cachorro da vizinha durante sua "aventura espacial".
1. Uma aventura espaço-espacial
O inimigo estava distraído. Ufa! Lucas respirou aliviado. Agora,
se tivesse sorte, escaparia do monstro sem ser visto. Neutralizou o
hipercondutor sob o braço, deslizou pelo espaço-cósmico
vagarosamente...
Um meteorito solto! O barulho atraiu o inimigo, que disparou o
ataque de rugidos monstruosos! Ainda bem que a fera estava presa.
Pois bem, agora que Lucas fora descoberto, não precisava mais agir
silenciosamente: respondeu com gritos e pancadas na superjaula do
monstro e depois fugiu rindo, feliz por sua escapada...
Mas a tarefa ainda lhe oferecia perigos. Muitos perigos. Afinal,
era uma trajetória complicada... deveria seguir da nave-mãe até o
comboio-abastecedor e esse caminho passava pelos mais arriscados
esconderijos de feras cósmicas e bandoleiros das Forças do Mal.
Será que o Guerreiro Maligno já retornara a sua própria nave
central? E se ele o emboscasse, traiçoeiro, atrás daquela dobra
espacial? Debaixo do capacete, Lucas sentia o suor escorrendo da
testa. Resolveu mudar de tática. Subiu corajosamente em sua prancha
cósmica e impulsionou jatos com força total!
Vrrrruuuuuuuummmmmmmm!
Ainda ouvia os rugidos da fera distante, acrescidos agora dos
berros do atarantado Guerreiro Maligno:
─ Pode deixar, Lucas, eu pego você na volta!
Era isso, como pode esquecer? Haveria a volta e no retorno os
perigos continuariam... Chegou à nave-abastecedora, dirigiu-se
rapidamente ao atendente e solicitou os suprimentos encomendados.
─ Depressa! Quanto é? ─ Lucas passou o valor necessário para
quitar sua despesa e voltou a impulsionar seus jatos, sem se despedir
do atendente.
E agora, como retornar à nave-mãe? Podia ser um caminho mais
longo, mas optou por outro quadrante cósmico. Assim, escaparia de
feras ruidosas ou guerreiros do mal, mas...
Passaria próximo às tocas das Bruxas Faladeiras! Eram terríveis,
lançavam horrendos feitiços do sono, com suas perguntas torturantes
sobre sua vida aventurosa ou comentários minuciosos sobre os
planetas vizinhos... E quem estava ali, esperando por ele? A pior de
todas! Ela, a Mega-Estratosférica-Fofoqueira-Espacial! E já o havia visto.
Então Lucas ajeitou o capacete para o lado, experimentou seus
jatos com as solas dos pés, agarrou a encomenda de suprimentos nos
braços e partiu. Habilmente, conseguiu ser mais rápido que o som e
escapou da inimiga! Ouvia seus resmungos e reclamações às costas,
mas agora ela não poderia lançar qualquer feitiço. Faltava pouco para
alcançar a segurança da nave-mãe. Apenas milissegundos para chegar
ao seu espaço cósmico familiar. Dez, nove, oito, sete, seis...
─ ...cinco, quatro, três, dois, um! CHEGUEEEEEEEEEIIIIIIIIIII!
Estou a salvo! ─ jogou o boné para um lado e o pacote de encomenda
para o outro.
─ Nossa, Lucas, quanta bagunça só para trazer o pão! E que
sujeirada é essa? Não me diga que você foi de skate até a padaria?! Vê
se pode, menino!
“Por que as mães gostam de estragar as aventuras?”, pensou.
“É a minha prancha cósmica e eu sou o Skatista Metalizado”.
E a mãe reclamava:
─ Pensa que não ouvi os latidos do cachorro da dona Alberta?
Mania que você tem de provocar esse bicho! Onde está o troco? Daqui
a pouco você vai buscar leite, resolvi fazer um bolo.
Lucas suspirou fundo, antes de ligar a televisão. “Uma nova
missão”, pensou, “logo terei de enfrentar mais perigos na rua... e aí?”
O programa de TV lhe deu uma ideia e logo a sua criatividade o levava
a cavalgar como um cavaleiro medieval, usando um guarda-chuva
como espada e uma velha cortina como capa mágica da invisibilidade.
A vida pode ser bem aventurosa quando se tem imaginação!
Márcia Kupstas. Conto Inédito