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Resumo O presente trabalho aborda a educação e preservação
patrimonial arqueológica no Estado de Mato Grosso do Sul. Os
bens patrimoniais arqueológicos geralmente sofrem com o des-
caso das comunidades locais em virtude da falta de conhecimento
acerca da importância do assunto. Neste sentido, o artigo objeti-
va discutir a educação patrimonial tendo como base as experiên-
cias desenvolvidas nos municípios de Rio Brilhante e Três Lagoas,
abordando a conscientização, valorização e conservação do pa-
trimônio arqueológico do referido estado e suas implicações no
desenvolvimento local. As experiências ocorreram em duas esco-
las, inicialmente com apresentações didáticas sobre arqueologia
e sítios arqueológicos próximos à região e finalizando com ques-
tionário, que proporcionou feedback sobre a compreensão dos
alunos acerca do tema. Observou-se por meio da pesquisa que as
experiências de educação patrimonial propostas pelas políticas
públicas ainda são insuficientes e precisam ser assumidas pela so-
ciedade, especialmente no ambiente escolar.
Palavras-chave educação patrimonial; arqueologia; de-
senvolvimento local.
Abstract This paper approaches the issue of education and
preservation of archeological assets in the State of Mato Grosso
do Sul. Archaeological assets usually suffer with the local com-
munity’s indifference due to its lack of knowledge. Therefore,
this paper aims at discussing the education on archaeological
assets based on experiences developed in the cities of Rio Bril-
hante and Três Lagoas, which addressed awareness, apprecia-
tion, and conservation of the state’s archaeological assets and
its implications on local development.  The experiences took
place in two schools starting with lectures on archeology and
archaeological sites in the area and closing with a questionnaire
that offered feedback on the students’ understanding of the
subject. The research showed that the educational experiences
on archaeological assets performed by public policies are still in-
sufficient and must be assumed by society, especially in schools.
Keywords education on archaeological assets; archaeol-
ogy; local development.
Eder Janeo da Silva
Instituição Universidade Católi-
ca Dom Bosco (UCDB)
eder.janeo@gmail.com
Bruno Mendes Tulux
Instituição Universidade Fede-
ral da Grande Dourados - UFGD
brunomtulux@gmail.com
Cleonice Alexandre
Le Bourlegat
Instituição Universidade Católi-
ca Dom Bosco (UCDB)
le-bourlegat@uol.com.br
Educação e Preservação Patrimonial/
Arqueológica no Desenvolvimento
Territorial de Mato Grosso do Sul
Education and environmental asset / archaeological preservation
in the territorial development of Mato Grosso do Sul
20 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
Introdução
A
política pública de preservação e con-
servação do patrimônio cultural oriun-
da dos órgãos governamentais não
tem sido uma forma de garantia de valoriza-
ção e apropriação desse patrimônio pelas
coletividades. Essas atitudes cívicas proce-
dem de um conhecimento crítico e de uma
apropriação consciente dos sujeitos sobre
as manifestações culturais que ocorrem no
território em que vive, quando tais manifes-
tações são dotadas de algum significado.
Essa é a condição essencial para que ocorra
a preservação sustentável desses bens cul-
turais, como por exemplo, costumes, língua,
memória e sentimento.
Na medida em que permite a tomada de
consciência e atribui significados ao patrimô-
nio cultural, a ação educativa favorece o posi-
cionamento do sujeito no mundo ao mesmo
tempo em que os bens patrimoniais passam
a fazer parte de sua vida e de seu mundo,
conduzindo-o à valorização e à preservação
deles. Faz parte desse processo o fortaleci-
mento dos sentimentos de identidade e cida-
dania, que favorece o engajamento cívico dos
indivíduos em processos de desenvolvimento
coletivo que se relacionam ao lugar em que
eles vivem.
O objetivo deste artigo é discutir a edu-
cação patrimonial e seu papel na conscienti-
zação, valorização e conservação do patrimô-
nio arqueológico de Mato Grosso do Sul e as
relações dessa educação com o desenvolvi-
mento local, apontando como exemplo me-
todológico duas experiências educativas de-
senvolvidas nesse estado. A finalidade deste
estudo foi contribuir com o aprofundamento
teórico-metodológico relativo a essa prática,
que ainda precisa ser mais difundida e refle-
tida no país.
Num primeiro momento, reflete-se o
conceito da educação patrimonial, o papel do
campo simbólico do território na mobilização
transformadora dos sujeitos e o papel educa-
tivo na valorização e apropriação do patrimô-
nio cultural. Em seguida, apresenta-se o pano-
rama do patrimônio cultural e arqueológico
do Estado de Mato Grosso do Sul, os estudos
e as descobertas de vestígios ainda não reve-
lados às coletividades locais. Finalmente, ex-
põe-se e discute-se o relato de duas experiên-
cias de educação patrimonial feitas, em 2008,
por integrantes do Museu de Arqueologia do
Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS), em dois municípios do referido esta-
do: Rio Brilhante e Três Lagoas.
A Educação Patrimonial
A preocupação com a educação patri-
monial no espaço escolar, embora mais am-
plamente discutida a partir dos anos 80 no
Brasil, especialmente por meio dos trabalhos
de Maria de Lourdes Parreiras Horta do Mu-
seu Imperial do Rio de Janeiro, ainda tem sido
pouco frequente no ensino fundamental e
médio do país.
Observe-se que esse tipo de ação educa-
tiva pode ocorrer tanto no âmbito da sala de
aula como no de passeios e centros de lazer,
de passeios turísticos, ou ainda por meio de
projetos específicos para esse fim. A educa-
ção patrimonial envolve tanto a rede escolar
quanto organizações locais, famílias, empre-
sas e autoridades responsáveis1
. A dissemina-
ção dessa ação educativa tem ocorrido de for-
ma mais ampla desde 1997, especialmente em
lugares de áreas tombadas como patrimônio
nacional pelo Instituto do Patrimônio Históri-
co e Artístico Nacional (Iphan) por meio do
projeto Monumenta, com a finalidade de en-
volver as coletividades locais na conservação
desse patrimônio.
A educação patrimonial consiste num
trabalho educacional que tem o patrimônio
cultural como fonte primária de conhecimen-
to e enriquecimento individual e coletivo2
.
Esse processo educativo, no aporte da auto-
ra, envolve um trabalho sistemático e perma-
nente de exploração direta dos objetos e das
expressões culturais, numa condição em que
se possa questioná-los e explorá-los em todos
1
	 HORTA, 1999.
2
	 Idem, 1999.
21Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
os aspectos, para então traduzi-los em con-
ceitos e conhecimentos com apoio de livros
e textos. Trata-se de um processo ativo de
conhecimento que favorece não só a apropria-
ção e valorização dos bens culturais herdados,
como seu usufruto e a geração de novos co-
nhecimentos a respeito deles3
. O princípio bási-
co da educação patrimonial é exatamente essa
experiência direta com os bens e fenômenos
culturais, de modo a compreendê-los e valori-
zá-los num processo contínuo de descoberta4
.
Nessa ação pedagógica são utilizados lu-
gares e suportes da memória (museus, monu-
mentos históricos, arquivos, bibliotecas, sítios
históricos, vestígios arqueológicos, etc.) a fim
de desenvolver a sensibilidade e a consciência
sobre a importância da conservação desses
bens culturais. A sensibilização consiste num
exercício de interação com os bens patrimo-
niais, ou mesmo com os vestígios que pos-
sam por ele ser tocados e/ou percebidos5
. A
observação e a manipulação de vestígios da
cultura material promovem o conhecimen-
to, a apropriação e a valorização da herança
cultural. Vista assim, a educação patrimonial
acaba se tornando o ponto de convergência
entre preservação, conservação e valorização
cultural6
. Por meio da ação educativa pro-
movem-se modificações no relacionamento
com os bens culturais, especialmente quando
se consegue lhes atribuir a devida importân-
cia no processo sociocultural e ambiental no
qual se está inserido. Freire7
já havia chamado
atenção sobre a importância em se trabalhar
a identidade cultural na educação, lembrando
que uma das tarefas mais importantes da prá-
tica educativo-crítica é propiciar as condições
para os aprendizes poderem se assumir como
ser social e histórico.
Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), Lei n° 9.394/96,
enfatiza, em seu artigo 26, que a parte diver-
sificada dos currículos do ensino fundamen-
3
	 HORTA, 2008.
4
	 HORTA, 1999.
5
	 SOARES, 2003.
6
	 Idem, 2003.
7
	 FREIRE, 1996.
tal e médio deve observar as características
regionais e locais da sociedade e da cultura,
o que abre espaço para a construção de uma
proposta de ensino voltada para a divulgação
do acervo cultural dos estados e municípios8
.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
para o ensino fundamental, elaborados pelo
Ministério da Educação (MEC), trazem uma
inovação ao permitirem a necessária interdis-
ciplinaridade na educação básica, mediante a
introdução dos chamados “temas transver-
sais”, que deverão perpassar as diferentes
disciplinas escolares. Dois desses temas, meio
ambiente e pluralidade cultural9
, possibilitam
à escola o estudo do patrimônio cultural e a
consequente adoção de projetos de educa-
ção patrimonial.
Portanto, a educação patrimonial apre-
senta-se como uma proposta interdisciplinar
voltada para questões pertinentes ao patri-
mônio cultural e compreende todos os níveis
escolares, com conteúdos que versem sobre
o conhecimento e a conservação do patrimô-
nio, e mesmo a realização de cursos de aper-
feiçoamento e extensão para os educadores e
para a comunidade em geral. O conhecimento
do acervo cultural habilita e desperta o senso
de preservação da memória histórica e o con-
sequente interesse pelo tema10
. A valorização
dos bens patrimoniais conduz a novas propos-
tas e alternativas de resguardo e ativação da
memória, sejam elas naturais e/ou culturais.
Campo Simbólico, Identidade Ter-
ritorial e Desenvolvimento Local
O patrimônio só passa a pertencer e ser
usufruído quando uma comunidade passa a
percebê-lo como um bem coletivo, ao conhe-
cê-lo e reconhecê-lo como algo herdado e que
também deve ser deixado de herança para
novas gerações11
. Esse legado se constitui em
riqueza cultural, memória e identidade coleti-
va quando serve de referência para se distin-
guir de outras culturas e territórios.
8
	 ORIÁ, 2006.
9
	 Idem, 2006.
10
	 LIMA, 2005.
11
	 HORTA, 2008.
22 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
O conjunto de representações cultu-
rais, que nasce da sensibilidade e da busca de
significações de um grupo social ou coletivi-
dade no cotidiano vivido, constitui seu cam-
po simbólico. Bonnemaison12
chama de re-
presentação geossimbólica esse conjunto de
signos e valores carregados de afetividade e
significações de uma coletividade atrelada a
um território. Os geossímbolos vão além da
cultura, pois dizem respeito à concepção que
essa coletividade enraizada em seu território
faz do mundo e de seus próprios destinos,
numa realidade muito mais sonhada do que
vivida. A dimensão torna-se geossimbólica e
dá coesão a um grupo social, a uma coleti-
vidade, ou a um povo e que conforma uma
etnia, ou seja, agrupamentos de pessoas que
se identifiquem através de suas simbologias;
costumes, falas, rituais, etc13
. Nesse espaço
de comunhão se revela a identidade de um
grupo, assim definindo quem é de dentro
ou de fora e surgindo a conservação cultu-
ral. Para esse autor, o território se constrói
como sistema e como símbolo, e a territoria-
lidade revela a relação que uma coletividade
tem com seu território e com o território
estrangeiro, expresso no comportamento
das pessoas. Com base na representação
geossimbólica, os homens vivem e se enga-
jam na luta pelo povo e pelo seu território de
forma mais participativa, manifestando uma
consciên­cia cívica vinculada ao sentimento
de identidade e de pertença ao lugar. É da
coesão social que nasce a força de um lugar,
tanto no aproveitamento de oportunidades
como no enfrentamento de adversidades14
.
O desenvolvimento local consiste nes-
se processo de desenvolvimento coletivo de
natureza endógena que, além das competên-
cias, depende em grande parte de atitudes
que impulsionam tais mudanças15
.
12
	 BONNEMAISON, 2002.
13
	 BONNEMAISON, 2002.
14
	 SANTOS, 1996, p. 180-182.
15
	 ÁVILA, 2000.
Bens Patrimoniais no Brasil
e o Patrimônio Arqueológico
em Mato Grosso do Sul
Conforme a Constituição Federal de
1988 (artigo 216), o patrimônio cultural bra-
sileiro consiste em bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, desde que sejam portadores de re-
ferência à identidade, à ação, ou à memória
dos diferentes grupos formadores da socieda-
de brasileira. Incluem-se como bens imateriais
tanto as formas de expressão, como os mo-
dos de criar e fazer viver e as criações cientí-
ficas, artísticas e tecnológicas. Entre os bens
materiais estão obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais, assim como
os conjuntos urbanos e sítios de valor históri-
co, paisagístico, artístico.
A noção de patrimônio, portanto, abor-
da as múltiplas dimensões da cultura. Tudo o
que uma coletividade enraizada num território
reconhece como sua história e sua vida tem
importância para ela. Quando o indivíduo se
sente parte desse patrimônio e tem consciên-
cia de que ele faz parte de seu mundo, passa a
lhe atribuir valor e ter vontade de preservá-lo16
.
No histórico da política nacional de pre-
servação do patrimônio público, a Lei nº 3.924
de 1961 já havia considerado o inventário ar-
queológico nacional como bem público, sen-
do obrigatória sua proteção. Cabe ressaltar
que a proteção aos bens arqueológicos foi re-
forçada pela Constituição da República Fede-
rativa do Brasil de 1988, que obriga os órgãos
governamentais federal, estadual, municipal
e distrital como responsáveis pela salvaguar-
da do patrimônio histórico e arqueológico.
Os sítios arqueológicos trazem os ves-
tígios da cultura material de sociedades pre-
téritas, acervo do patrimônio cultural, entre-
tanto necessitam de melhor conscientização
e valorização por parte das coletividades em
que eles são revelados para serem preser-
vados. Uma particularidade do patrimônio
constituído por sítios arqueológicos é que
16
	 CHOAY, 2001.
23Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
eles podem ser conhecidos e valorizados por
meio da educação, ainda durante o processo
de sua descoberta. Desse modo, vão sendo
incorporados sucessivamente à história e ao
cotidiano dos cidadãos. As ações pedagó-
gicas que conduzem à apropriação desses
acervos podem lançar mão de métodos de
ensino/aprendizagem das linguagens artísti-
cas e da estética do cotidiano propostos17
. A
educação patrimonial necessita, nesse caso,
atuar de forma integrada com o trabalho
arqueológico, fundamentando-se em princí-
pios pedagógicos, éticos, estéticos e políti-
cos18
. Uma vez conscientizados, os sujeitos
se transformarão em multiplicadores da ideia
de conservação desse acervo. É importante
lembrar que a divulgação dos resultados da
pesquisa arqueológica não deve apenas se
restringir aos meios acadêmicos. Cabe aos
cientistas e educadores a tarefa não só de
apresentá-los às comunidades próximas dos
sítios arqueológicos, mas permitir a partici-
pação delas nas discussões a respeito desses
resultados de maneira didática e direta.
O território do Estado de Mato Grosso
do Sul já exibe um patrimônio arqueológico,
que foi descoberto por meio de pesquisas
científicas, cuja proporção é considerável.
Trata-se de vestígios de ocupações humanas
pretéritas, mas ainda praticamente desco-
nhecidos da maioria da população do estado.
Localizado entre duas das mais importantes
bacias hidrográficas do continente america-
no, apresentou, no passado, condições ex-
tremamente favoráveis à fixação do homem
pré-histórico nessa região.
Os trabalhos arqueológicos desenvolvi-
dos fornecem um conjunto de dados científi-
cos que possibilitam a compreensão do pano-
rama da arqueologia regional, sobretudo em
relação à cronologia da ocupação humana do
espaço. A chegada dos primeiros grupos nô-
mades de caçadores e coletores a essa região
teria ocorrido entre 10 e 11 mil anos atrás19
.
17
	 FREIRE, 2001.
18
	 LIMA, 2005.
19
	 MARTINS, 2002.
Segundo tais estudos, o território do estado
teria abrigado desde grupos nômades cole-
tores dos recursos ambientais até sociedades
agrícolas mais complexas, associadas a prá-
ticas de confecção de artefatos cerâmicos20
.
Tais práticas estiveram intimamente ligadas à
adaptação dessas coletividades aos diversos
ambientes que apresentavam condições míni-
mas para abrigá-las, mediante aprimoramento
de meios e métodos capazes de se obter novos
recursos para suprir as adversidades do meio.
Nesse processo adaptativo e de busca
por melhores condições de sobrevivência,
alguns grupamentos humanos chegaram a
migrar, seja para encontrar um clima mais
ameno, ou para seguir grandes grupos de
herbívoros que serviam de caça e fonte de ali-
mentos21
. Seguindo o curso dos rios perenes
que cortam o supracitado estado, os grupos
nômades, que viviam da exploração dos re-
cursos encontrados livremente na natureza,
ocuparam os mais diversos ambientes do
atual território estadual. Outros grupos de
caçadores, coletores e pescadores acabaram
por produzir equipamentos e ferramentas,
utilizando-se de recursos naturais para con-
feccionarem objetos de uso cotidiano22
.
Os artefatos preservados durante milha-
res de anos constituem os atuais vestígios da
cultura material desses grupos, cujas técnicas
de produção variam desde os materiais líticos
lascados até os artefatos cerâmicos e de ro-
chas polidas, estes últimos desenvolvidos por
grupos sociais mais complexos23
. Esse acervo
lítico, cerâmico e as manifestações pictográfi-
cas têm sido fundamentais na compreensão
da origem e dispersão dos grupos pelos diver-
sos ambientes do mundo24
.
Os vestígios encontrados já permitiram
decodificar a significativa importância que os
sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul
apresentam para a compreensão dos proces-
sos da chegada do homem à porção meridio-
20
	 KASHIMOTO; MARTINS, 2005.
21
	 FUNARI; NOELLI, 2005.
22
	 KASHIMOTO; MARTINS, 2005.
23
	 KASHIMOTO; MARTINS, 2005.
24
	 MORAIS, 1987.
24 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
nal do continente e ponto-chave no processo
de expansão das populações humanas pré-
-coloniais no continente. Entretanto, a política
relativamente recorrente das instituições res-
ponsáveis pela pesquisa, na produção de re-
portagens, filmes e documentários a respeito
desses vestígios arqueológicos, ainda não ob-
teve resultados satisfatórios no comportamen-
to de conservação e preservação por parte da
população estadual, pois a maior parte dela
desconhece a existência desse patrimônio,
não tendo se conscientizado criticamente da
situaçãoemqueeleseencontra.Consequente-
mente, não valoriza devidamente esse acervo,
como também não se observa na sociedade
interesse ou iniciativas voltadas à sua preserva-
ção, nem mesmo nas coletividades próximas
aos sítios arqueológicos. Os alunos de escolas
do ensino fundamental da rede pública e priva-
da do estado também apresentam deficiências
relacionadas ao conhecimento do patrimônio
arqueológico de Mato Grosso do Sul25
.
Note-se que esses sítios arqueológicos
vêm sendo alvo constante, desde o século
XVII e com maior intensidade no século XX, de
práticas econômicas que acabaram interferin-
do na sua integridade. É preciso lembrar que
tais práticas ainda comprometem a preserva-
ção desses vestígios já descobertos, especial-
mente aquelas decorrentes da execução dos
grandes projetos de infraestrutura, para os
quais se tornam imprescindíveis à realização
de trabalhos de estudo de impacto ambien-
tal e arqueológico. As modificações causadas
comprometem substancialmente o ambiente
e afetam sobremaneira os sítios arqueológi-
cos já revelados e mesmo aqueles ainda não
descobertos, pois o espaço de um território
está em constante transformação, seja pela
intempérie ou a constante ação do homem.
Experiências Sobre a Realização
de Educação Patrimonial: Rio
Brilhante e Três Lagoas
Diante do exposto, verificou-se a ne-
cessidade de iniciar um trabalho de conscien-
25
	 PACHECO et al., 2004.
tização crítica da população do estado por
integrantes do Museu de Arqueologia da Uni-
versidade Federal de Mato Grosso do Sul vin-
culado ao Laboratório de Pesquisas Arqueo-
lógicas (MuArq/LPA). Esse museu nasceu por
iniciativa de pesquisadores desse laboratório,
quando este ainda integrava o Departamento
de História do Centro Universitário de Aqui-
dauana (LPA/CPAQ) da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Apesar de o MuArq/
LPA ter sido implantado em 2006, em Campo
Grande, ficando responsável pela pesquisa e
estudo científico das populações pré-históri-
cas no estado para coletar, recolher e salvar
informações e objetos sobre elas, bem como
para catalogá-los, preservá-los e, ainda, expô-
-los e promover divulgação a seu respeito, as
primeiras iniciativas institucionais para sua
criação deram-se em 1992.
Para os trabalhos iniciais de educação
patrimonial priorizou-se o ambiente escolar
no nível do ensino fundamental. A intenção
foi de que tais ações educativas servissem de
instrumento de motivação à adoção desse
tipo de prática nas escolas. Foram propostas
ações pedagógicas desenvolvidas num am-
biente interdisciplinar envolvendo história,
geografia, biologia, ciências e artes. Procurou-
-se desenvolver ações que desencadeassem
um processo ativo de conhecimento crítico,
de modo a facilitar a apropriação e valorização
da herança cultural no contexto histórico e ar-
queológico das comunidades escolares alvo.
A prática teve com um dos princípios básicos
a experiência direta com os bens e os fenôme-
nos culturais dos sítios arqueológicos. Como
desdobramento dessa ação, procurou-se re-
forçar a reprodução dos objetos manipulados
e os conhecimentos a eles vinculados, como
também incentivar novas criatividades a par-
tir desses artefatos. Buscou-se, ainda como
um dos procedimentos, desenvolver a teoria
do conhecimento arqueológico e, ao mesmo
tempo, permitir que os alunos vivenciassem
seus métodos, de modo que pudessem ana-
lisar os procedimentos que sustentam as teo-
rias apresentadas a respeito da Arqueologia.
Por fim, o contato com culturas diversas do
25Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
passado também deveriam contribuir para
desenvolver atitudes de respeito à multiplici-
dade de expressões e formas culturais.
Note-se que as atividades propostas
levaram em conta as séries escolares e os
níveis de aprendizagem próprios dos alunos
dessas turmas. Durante o desenvolvimento
das atividades, foram aplicados questioná-
rios, no início e no fim das apresentações,
aos alunos do ensino fundamental das duas
escolas situadas nas proximidades do sítio
arqueológico Rio Vacaria 1 (VC1) e da escola
mais próxima do sítio arqueológico Córrego
Moeda 1 (MD1). O questionário utilizado na
execução desse projeto foi confeccionado
exclusivamente para esse fim, sendo com-
posto por perguntas de abordagem sociocul-
tural. Além disso, foi avaliado previamente o
nível do conhecimento dos alunos sobre a
temática proposta antes de iniciar qualquer
atividade.
Os relatos apresentados a seguir dizem
respeito à metodologia utilizada nessa ação
educativa em duas experiências realizadas
em 2008. Uma delas se deu no município de
Rio Brilhante, eleito por se situar no entorno
do sítio arqueológico VC1, local em que se
davam os trabalhos de salvamento e resgate
arqueológico da área de influência da Usina
Passatempo – LDG. A outra foi no município
de Três Lagoas, localizado na região mais pró-
xima do sítio arqueológico MD1, no âmbito
do projeto de salvamento e resgate arque-
ológico na área de influência da Votorantim
Celulose e Papel. Ambos os municípios estão
localizados no Mapa 1.
Mapa 1: Localização dos municípios de Três Lagoas (região nordeste) e Rio Brilhante (região
centro-sul) no Mato Grosso do Sul.
26 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
Rio Brilhante
Em Rio Brilhante foi feito um levanta-
mento das escolas mais próximas à área do
sítio arqueológico VC1, com o auxílio da Se-
cretaria Municipal de Educação do Município
de Rio Brilhante. Nesse caso, o trabalho de
educação patrimonial foi realizado em dois
dias com 428 alunos, abrangendo aqueles do
5º ao 9º ano do ensino fundamental de duas
escolas: Escola Municipal Euclides da Cunha,
situada no distrito de Prudêncio Thomaz, e
Escola Municipal Rural Artur Tavares de Melo,
localizada ao lado da usina Passatempo.
Verificou-se que o meio de comunicação
mais utilizado pelos alunos é a televisão, e o
lembrado em menor escala foi o jornal impres-
so. Antes de iniciar as atividades propriamen-
te ditas, verificou-se que, no máximo, metade
dos alunos de 5° ao 6° ano soube citar algo
relacionado à história da região bem como os
do 7º ao 9º ano, porém poucos sabiam o que
se entendia por Arqueologia. Entre os alunos
do 5º e 6º ano não foi constatada nenhuma
forma de conhecimento relacionada a referi-
da ciência.
A região de estudo, que se localiza en-
tre os rios Vacaria e Brilhante, sendo histori-
camente conhecida como Campos de Vaca-
ria, possui um valioso patrimônio histórico e
arqueológico. Tendo em vista esses dados, as
palestras e atividades pedagógicas foram re-
alizadas tendo como temática a Arqueologia
nessa região dos Campos de Vacaria e a histó-
ria de Rio Brilhante e região.
No cronograma de trabalho pré-esta-
belecido foram realizadas as seguintes ativi-
dades: elaboração do plano de trabalho para
aplicação da atividade; aplicação de questio-
nários de sondagem; palestras; leitura e dis-
cussão de textos relacionados à arqueologia
e história da região e ao patrimônio cultural
e arquitetônico; produção de textos, caça
palavras, cruzadinhas e jogo da memória; di-
nâmicas em grupo; remontagem e pintura de
vasos de cerâmica; recorte e colagem de EVA
(Etileno Acetato de Vinila -  polímero ou plás-
tico, com aspecto emborrachado que permite
diversas aplicações); confecção de adornos;
exposição dos materiais produzidos pelos
alunos nas escolas; observação de vestígios
arqueológicos; simulação de uma escavação
arqueológica; avaliações escritas26
.
No fim da aula, mediante processo ava-
liativo pôde-se constatar um aumento subs-
tancial da proporção de alunos com conhe-
cimento sobre a história e a Arqueologia da
região. As memórias mais recorrentes dos
alunos do 5º e do 6º ano, presentes na pro-
dução dos textos e nas atividades aplicadas,
estavam relacionadas com o antigo cemitério
na fazenda Passatempo, as famílias pioneiras
que chegaram ao município de Rio Brilhante,
a evolução dos nomes da cidade e os fatos
alusivos à Guerra do Paraguai.
Sobre a história da região de Rio Brilhan-
te e dos Campos de Vacaria, os assuntos mais
lembrados nos textos redigidos pelos alunos
do 7º, 8° e 9º ano no fim das atividades fo-
ram: a colonização da região, o cemitério da
fazenda Passatempo, a Guerra do Paraguai,
a preservação do patrimônio histórico da re-
gião, as tradicionais famílias que chegaram
aos campos do planalto de Maracaju, a pre-
sença indígena na região, a erva-mate nativa
e o gado que se espalhou pelo planalto como
fator de povoação. A Arqueologia foi lembra-
da nos textos produzidos pelos alunos nas
seguintes ocasiões: o estudo dos objetos do
passado, os vestígios materiais deixados pelo
homem, o estudo do passado, o estudo da
história do homem e a Arqueologia como ci-
ência multidisciplinar.
Três Lagoas
Em Três Lagoas, o trabalho educativo foi
desenvolvido com 213 alunos do 8º e 9º ano
do ensino fundamental (turnos matutino e
vespertino) da Escola Municipal Parque São
Carlos, que fica próxima à saída que liga esse
município a Brasilândia, sendo considerada,
portanto, a escola mais próxima do sítio ar-
queológico MD1. Sua seleção se deu com o
auxílio da Secretaria Municipal de Educação
do Município de Três Lagoas.
26
	 cf. PACHECO et al., 2004; SOARES; KLAMT, 2004.
27Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
Ressalta-se a importância que essa re-
gião apresenta para a constituição do patri-
mônio histórico e arqueológico estadual, pois
na bacia do rio Sucuriú, tributário da margem
direita do rio Paraná, o qual deságua no mu-
nicípio de Três Lagoas, foi descoberto o sítio
arqueológico mais antigo do estado. Além dis-
so, esse território foi palco histórico de pas-
sagem do bandeirantismo luso-paulista em
direção ao interior do continente, em busca
de cativos e metais preciosos.
O meio de comunicação apontado como
o mais utilizado pelos alunos do 8º ano foi
a televisão, seguida da rádio e da Internet.
Já para os alunos do 9º ano, televisão, rádio
e Internet é que consistiam os meios de co-
municação mais utilizados. O jornal impresso
foi citado apenas por 6% deles. No início das
atividades, constatou-se entre os alunos do
8º ano que apenas 16% deles conheciam algo
relacionado com a Arqueologia, embora 24%
deles demonstraram interesse sobre esse as-
sunto. Dentre os alunos do 9º ano, 25% sabiam
o que era Arqueologia e 30% deles afirmaram
se interessar pela ciência.
O cronograma de trabalho constou das
seguintes tarefas: elaboração do plano de tra-
balho para aplicação da atividade; aplicação de
questionários de sondagem antes das apre-
sentações; apresentação do vídeo institucional
do MuArq/UFMS abordando a Arqueologia de
Mato Grosso do Sul; apresentação da temáti-
ca Arqueologia Regional e Patrimônio Cultural
e Arqueológico; apresentação da Arqueologia
na região de Três Lagoas com ênfase para o
sítio MD1; breve exposição de material arque-
ológico; aplicação de questionário avaliando o
nível de aprendizado sobre Arqueologia após
a intervenção do Projeto; análise e tabulação
dos dados e resultados obtidos.
Por meio da compilação e comparação
dos questionários de sondagem e avaliação
da análise de conteúdo, verificou-se que 70%
dos alunos souberam responder o que é Ar-
queologia, relacionando seu conceito com a
origem do homem pré-histórico, estudo da
cultura dos povos antigos para entender a
história, estudo de coisas antigas em geral, es-
tudo das rochas e fósseis, estudo de objetos
do homem antigo, civilizações antigas, ciência
feita de outras ciências, estudo de índios cera-
mistas, ciência do meio ambiente, escavações
e passado do estado citado. Fato notório foi
que, no fim da aula, mais da metade dos alu-
nos afirmou se interessar por algum assunto
da Arqueologia. A maioria citou a idade dos
artefatos, os próprios artefatos, o homem do
passado, as escavações, os artefatos de pedra
polida e os índios como temas que mais cha-
mam atenção.
Os resultados obtidos após as apresen-
tações mostraram quem 85% dos alunos do 9º
ano souberam responder o que é Arqueolo-
gia, conceituando-a dessa forma: estudo das
rochas e das formas dos artefatos; estudo de
fósseis; passado e origem do homem e seus
vestígios; estudo de cerâmica e pedra polida
e lascada; estudo dos povos indígenas e pré-
-colombianos; evolução humana; Arqueologia
como um estudo muito complexo; estudos
da Antiguidade; estudo dos primeiros habi-
tantes do Brasil, dos desenhos e das formas
de comunicação dos povos antigos; estudo
do passado de Mato Grosso do Sul. No fim do
trabalho, 90% dos alunos afirmaram se inte-
ressar por Arqueologia por meio das seguin-
tes temáticas: escavações arqueológicas; es-
tudo da argila; equipamentos de caça; pintura
rupestre; modos de viver em cavernas; idade
dos vestígios; fósseis; artefatos; descobertas
de cerâmica e carvão; cidades do passado;
cultura dos povos antigos e estátuas.
No conjunto das duas experiências reali-
zadas nos municípios, observou-se que todos
os alunos participaram e desenvolveram as
atividades propostas. A manipulação dos ves-
tígios arqueológicos e as atividades práticas
foram procedimentos considerados significa-
tivos na relação construída do aprendiz com o
sítio arqueológico para sua alfabetização cul-
tural. Os textos e os desenhos produzidos por
eles foram respostas a essa aprendizagem e
condizentes com cada estágio do desenvol-
vimento psicopedagógico do aluno. As ações
empreendidas conseguiram contribuir no res-
gate da autoestima e da identidade cultural
28 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
desses alunos. Além disso, tornou-se visível a
importância que eles passaram a atribuir aos
vestígios e sítios arqueológicos apresentados
e à própria história local, associada ao estímu-
lo de engajamento para sua preservação.
Considerações Finais
As reflexões colocadas neste texto per-
mitiram retomar conceitos e metodologias
próprios da educação patrimonial e do patri-
mônio cultural para correlacioná-los com a
valorização e preservação do patrimônio ar-
queológico de Mato Grosso do Sul. Concomi-
tantemente, foi possível vincular nesta refle-
xão os sentimentos de identidade territorial e
de pertença, próprios desse processo educa-
tivo e da consequente valorização dos bens e
manifestações culturais, com os processos de
participação e engajamento cívico em proces-
sos de desenvolvimento local.
Embora as experiências a respeito da
educação patrimonial estejam se disseminan-
do no País com o apoio de políticas públicas,
foi possível constatar que elas são ainda insu-
ficientes e precisam ser assumidas pela socie-
dade, especialmente no ambiente escolar.
No caso das duas experiências em am-
biente escolar, ainda que os resultados te-
nham sido animadores, não se pode esque-
cer que as ações ocorreram apenas em um
único encontro com os alunos. A educação,
no entanto, é um processo contínuo de de-
senvolvimento das capacidades do ser hu-
mano. Portanto, exige continuidade tanto
no ambiente da escola como fora dela. A
educação patrimonial é um compromisso de
toda sociedade.
É preciso continuar incentivando o
aprofundamento e a ampliação das experi-
ências acerca desse processo educativo por
meio de relatos de estudos realizados em
diversos ambientes, experiências, manifes-
tações culturais, situações e modalidades
de bens.
Referências
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30 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767
Dados dos autores:
Eder Janeo da Silva
Mestre em Desenvolvimento Local - UCDB Universidade Católica Dom Bosco (Bolsista
CAPES/Prosup). Graduado em Geografia
(UCDB - Universidade Católica Dom Bosco). Professor no curso de graduação em Peda-
gogia - Anhanguera-Uniderp. Geógrafo no MuArq/UFMS -
Museu de Arqueologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Cleonice Alexandre Le Bourlegat
Doutora em Geografia (UNESP). Geógrafa e professora no programa de pós-graduação
mestrado em Desenvolvimento Local e Graduação de Geografia (Universidade Católica Dom
Bosco - UCDB). Coordenadora científica da Acteurs Pratiques Recherches Européennes
Internationales pour le Développement Durable (APREIS-França). Pesquisadora da Rede de
Pesquisa em Sistemas |Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST- UFRJ). Coordenadora pelo
Brasil de um mestrado internacional em Desenvolvimento Territorial Sustentável pelo Progra-
ma Erasmus Mundus com 3 universidades européias
(Sorbonne / Paris 1, Louvain/ Bélgica e Pádua / Itália).
Bruno Mendes Tulux
Mestrando em História (UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados). Graduado
em História (UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Recebido: 26-09-2011
Aprovado: 03-02-2012

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Educação patrimonial e preservação arqueológica no desenvolvimento de MS

  • 1. Resumo O presente trabalho aborda a educação e preservação patrimonial arqueológica no Estado de Mato Grosso do Sul. Os bens patrimoniais arqueológicos geralmente sofrem com o des- caso das comunidades locais em virtude da falta de conhecimento acerca da importância do assunto. Neste sentido, o artigo objeti- va discutir a educação patrimonial tendo como base as experiên- cias desenvolvidas nos municípios de Rio Brilhante e Três Lagoas, abordando a conscientização, valorização e conservação do pa- trimônio arqueológico do referido estado e suas implicações no desenvolvimento local. As experiências ocorreram em duas esco- las, inicialmente com apresentações didáticas sobre arqueologia e sítios arqueológicos próximos à região e finalizando com ques- tionário, que proporcionou feedback sobre a compreensão dos alunos acerca do tema. Observou-se por meio da pesquisa que as experiências de educação patrimonial propostas pelas políticas públicas ainda são insuficientes e precisam ser assumidas pela so- ciedade, especialmente no ambiente escolar. Palavras-chave educação patrimonial; arqueologia; de- senvolvimento local. Abstract This paper approaches the issue of education and preservation of archeological assets in the State of Mato Grosso do Sul. Archaeological assets usually suffer with the local com- munity’s indifference due to its lack of knowledge. Therefore, this paper aims at discussing the education on archaeological assets based on experiences developed in the cities of Rio Bril- hante and Três Lagoas, which addressed awareness, apprecia- tion, and conservation of the state’s archaeological assets and its implications on local development.  The experiences took place in two schools starting with lectures on archeology and archaeological sites in the area and closing with a questionnaire that offered feedback on the students’ understanding of the subject. The research showed that the educational experiences on archaeological assets performed by public policies are still in- sufficient and must be assumed by society, especially in schools. Keywords education on archaeological assets; archaeol- ogy; local development. Eder Janeo da Silva Instituição Universidade Católi- ca Dom Bosco (UCDB) eder.janeo@gmail.com Bruno Mendes Tulux Instituição Universidade Fede- ral da Grande Dourados - UFGD brunomtulux@gmail.com Cleonice Alexandre Le Bourlegat Instituição Universidade Católi- ca Dom Bosco (UCDB) le-bourlegat@uol.com.br Educação e Preservação Patrimonial/ Arqueológica no Desenvolvimento Territorial de Mato Grosso do Sul Education and environmental asset / archaeological preservation in the territorial development of Mato Grosso do Sul
  • 2. 20 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 Introdução A política pública de preservação e con- servação do patrimônio cultural oriun- da dos órgãos governamentais não tem sido uma forma de garantia de valoriza- ção e apropriação desse patrimônio pelas coletividades. Essas atitudes cívicas proce- dem de um conhecimento crítico e de uma apropriação consciente dos sujeitos sobre as manifestações culturais que ocorrem no território em que vive, quando tais manifes- tações são dotadas de algum significado. Essa é a condição essencial para que ocorra a preservação sustentável desses bens cul- turais, como por exemplo, costumes, língua, memória e sentimento. Na medida em que permite a tomada de consciência e atribui significados ao patrimô- nio cultural, a ação educativa favorece o posi- cionamento do sujeito no mundo ao mesmo tempo em que os bens patrimoniais passam a fazer parte de sua vida e de seu mundo, conduzindo-o à valorização e à preservação deles. Faz parte desse processo o fortaleci- mento dos sentimentos de identidade e cida- dania, que favorece o engajamento cívico dos indivíduos em processos de desenvolvimento coletivo que se relacionam ao lugar em que eles vivem. O objetivo deste artigo é discutir a edu- cação patrimonial e seu papel na conscienti- zação, valorização e conservação do patrimô- nio arqueológico de Mato Grosso do Sul e as relações dessa educação com o desenvolvi- mento local, apontando como exemplo me- todológico duas experiências educativas de- senvolvidas nesse estado. A finalidade deste estudo foi contribuir com o aprofundamento teórico-metodológico relativo a essa prática, que ainda precisa ser mais difundida e refle- tida no país. Num primeiro momento, reflete-se o conceito da educação patrimonial, o papel do campo simbólico do território na mobilização transformadora dos sujeitos e o papel educa- tivo na valorização e apropriação do patrimô- nio cultural. Em seguida, apresenta-se o pano- rama do patrimônio cultural e arqueológico do Estado de Mato Grosso do Sul, os estudos e as descobertas de vestígios ainda não reve- lados às coletividades locais. Finalmente, ex- põe-se e discute-se o relato de duas experiên- cias de educação patrimonial feitas, em 2008, por integrantes do Museu de Arqueologia do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em dois municípios do referido esta- do: Rio Brilhante e Três Lagoas. A Educação Patrimonial A preocupação com a educação patri- monial no espaço escolar, embora mais am- plamente discutida a partir dos anos 80 no Brasil, especialmente por meio dos trabalhos de Maria de Lourdes Parreiras Horta do Mu- seu Imperial do Rio de Janeiro, ainda tem sido pouco frequente no ensino fundamental e médio do país. Observe-se que esse tipo de ação educa- tiva pode ocorrer tanto no âmbito da sala de aula como no de passeios e centros de lazer, de passeios turísticos, ou ainda por meio de projetos específicos para esse fim. A educa- ção patrimonial envolve tanto a rede escolar quanto organizações locais, famílias, empre- sas e autoridades responsáveis1 . A dissemina- ção dessa ação educativa tem ocorrido de for- ma mais ampla desde 1997, especialmente em lugares de áreas tombadas como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Históri- co e Artístico Nacional (Iphan) por meio do projeto Monumenta, com a finalidade de en- volver as coletividades locais na conservação desse patrimônio. A educação patrimonial consiste num trabalho educacional que tem o patrimônio cultural como fonte primária de conhecimen- to e enriquecimento individual e coletivo2 . Esse processo educativo, no aporte da auto- ra, envolve um trabalho sistemático e perma- nente de exploração direta dos objetos e das expressões culturais, numa condição em que se possa questioná-los e explorá-los em todos 1 HORTA, 1999. 2 Idem, 1999.
  • 3. 21Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 os aspectos, para então traduzi-los em con- ceitos e conhecimentos com apoio de livros e textos. Trata-se de um processo ativo de conhecimento que favorece não só a apropria- ção e valorização dos bens culturais herdados, como seu usufruto e a geração de novos co- nhecimentos a respeito deles3 . O princípio bási- co da educação patrimonial é exatamente essa experiência direta com os bens e fenômenos culturais, de modo a compreendê-los e valori- zá-los num processo contínuo de descoberta4 . Nessa ação pedagógica são utilizados lu- gares e suportes da memória (museus, monu- mentos históricos, arquivos, bibliotecas, sítios históricos, vestígios arqueológicos, etc.) a fim de desenvolver a sensibilidade e a consciência sobre a importância da conservação desses bens culturais. A sensibilização consiste num exercício de interação com os bens patrimo- niais, ou mesmo com os vestígios que pos- sam por ele ser tocados e/ou percebidos5 . A observação e a manipulação de vestígios da cultura material promovem o conhecimen- to, a apropriação e a valorização da herança cultural. Vista assim, a educação patrimonial acaba se tornando o ponto de convergência entre preservação, conservação e valorização cultural6 . Por meio da ação educativa pro- movem-se modificações no relacionamento com os bens culturais, especialmente quando se consegue lhes atribuir a devida importân- cia no processo sociocultural e ambiental no qual se está inserido. Freire7 já havia chamado atenção sobre a importância em se trabalhar a identidade cultural na educação, lembrando que uma das tarefas mais importantes da prá- tica educativo-crítica é propiciar as condições para os aprendizes poderem se assumir como ser social e histórico. Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n° 9.394/96, enfatiza, em seu artigo 26, que a parte diver- sificada dos currículos do ensino fundamen- 3 HORTA, 2008. 4 HORTA, 1999. 5 SOARES, 2003. 6 Idem, 2003. 7 FREIRE, 1996. tal e médio deve observar as características regionais e locais da sociedade e da cultura, o que abre espaço para a construção de uma proposta de ensino voltada para a divulgação do acervo cultural dos estados e municípios8 . Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino fundamental, elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), trazem uma inovação ao permitirem a necessária interdis- ciplinaridade na educação básica, mediante a introdução dos chamados “temas transver- sais”, que deverão perpassar as diferentes disciplinas escolares. Dois desses temas, meio ambiente e pluralidade cultural9 , possibilitam à escola o estudo do patrimônio cultural e a consequente adoção de projetos de educa- ção patrimonial. Portanto, a educação patrimonial apre- senta-se como uma proposta interdisciplinar voltada para questões pertinentes ao patri- mônio cultural e compreende todos os níveis escolares, com conteúdos que versem sobre o conhecimento e a conservação do patrimô- nio, e mesmo a realização de cursos de aper- feiçoamento e extensão para os educadores e para a comunidade em geral. O conhecimento do acervo cultural habilita e desperta o senso de preservação da memória histórica e o con- sequente interesse pelo tema10 . A valorização dos bens patrimoniais conduz a novas propos- tas e alternativas de resguardo e ativação da memória, sejam elas naturais e/ou culturais. Campo Simbólico, Identidade Ter- ritorial e Desenvolvimento Local O patrimônio só passa a pertencer e ser usufruído quando uma comunidade passa a percebê-lo como um bem coletivo, ao conhe- cê-lo e reconhecê-lo como algo herdado e que também deve ser deixado de herança para novas gerações11 . Esse legado se constitui em riqueza cultural, memória e identidade coleti- va quando serve de referência para se distin- guir de outras culturas e territórios. 8 ORIÁ, 2006. 9 Idem, 2006. 10 LIMA, 2005. 11 HORTA, 2008.
  • 4. 22 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 O conjunto de representações cultu- rais, que nasce da sensibilidade e da busca de significações de um grupo social ou coletivi- dade no cotidiano vivido, constitui seu cam- po simbólico. Bonnemaison12 chama de re- presentação geossimbólica esse conjunto de signos e valores carregados de afetividade e significações de uma coletividade atrelada a um território. Os geossímbolos vão além da cultura, pois dizem respeito à concepção que essa coletividade enraizada em seu território faz do mundo e de seus próprios destinos, numa realidade muito mais sonhada do que vivida. A dimensão torna-se geossimbólica e dá coesão a um grupo social, a uma coleti- vidade, ou a um povo e que conforma uma etnia, ou seja, agrupamentos de pessoas que se identifiquem através de suas simbologias; costumes, falas, rituais, etc13 . Nesse espaço de comunhão se revela a identidade de um grupo, assim definindo quem é de dentro ou de fora e surgindo a conservação cultu- ral. Para esse autor, o território se constrói como sistema e como símbolo, e a territoria- lidade revela a relação que uma coletividade tem com seu território e com o território estrangeiro, expresso no comportamento das pessoas. Com base na representação geossimbólica, os homens vivem e se enga- jam na luta pelo povo e pelo seu território de forma mais participativa, manifestando uma consciên­cia cívica vinculada ao sentimento de identidade e de pertença ao lugar. É da coesão social que nasce a força de um lugar, tanto no aproveitamento de oportunidades como no enfrentamento de adversidades14 . O desenvolvimento local consiste nes- se processo de desenvolvimento coletivo de natureza endógena que, além das competên- cias, depende em grande parte de atitudes que impulsionam tais mudanças15 . 12 BONNEMAISON, 2002. 13 BONNEMAISON, 2002. 14 SANTOS, 1996, p. 180-182. 15 ÁVILA, 2000. Bens Patrimoniais no Brasil e o Patrimônio Arqueológico em Mato Grosso do Sul Conforme a Constituição Federal de 1988 (artigo 216), o patrimônio cultural bra- sileiro consiste em bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, desde que sejam portadores de re- ferência à identidade, à ação, ou à memória dos diferentes grupos formadores da socieda- de brasileira. Incluem-se como bens imateriais tanto as formas de expressão, como os mo- dos de criar e fazer viver e as criações cientí- ficas, artísticas e tecnológicas. Entre os bens materiais estão obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, assim como os conjuntos urbanos e sítios de valor históri- co, paisagístico, artístico. A noção de patrimônio, portanto, abor- da as múltiplas dimensões da cultura. Tudo o que uma coletividade enraizada num território reconhece como sua história e sua vida tem importância para ela. Quando o indivíduo se sente parte desse patrimônio e tem consciên- cia de que ele faz parte de seu mundo, passa a lhe atribuir valor e ter vontade de preservá-lo16 . No histórico da política nacional de pre- servação do patrimônio público, a Lei nº 3.924 de 1961 já havia considerado o inventário ar- queológico nacional como bem público, sen- do obrigatória sua proteção. Cabe ressaltar que a proteção aos bens arqueológicos foi re- forçada pela Constituição da República Fede- rativa do Brasil de 1988, que obriga os órgãos governamentais federal, estadual, municipal e distrital como responsáveis pela salvaguar- da do patrimônio histórico e arqueológico. Os sítios arqueológicos trazem os ves- tígios da cultura material de sociedades pre- téritas, acervo do patrimônio cultural, entre- tanto necessitam de melhor conscientização e valorização por parte das coletividades em que eles são revelados para serem preser- vados. Uma particularidade do patrimônio constituído por sítios arqueológicos é que 16 CHOAY, 2001.
  • 5. 23Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 eles podem ser conhecidos e valorizados por meio da educação, ainda durante o processo de sua descoberta. Desse modo, vão sendo incorporados sucessivamente à história e ao cotidiano dos cidadãos. As ações pedagó- gicas que conduzem à apropriação desses acervos podem lançar mão de métodos de ensino/aprendizagem das linguagens artísti- cas e da estética do cotidiano propostos17 . A educação patrimonial necessita, nesse caso, atuar de forma integrada com o trabalho arqueológico, fundamentando-se em princí- pios pedagógicos, éticos, estéticos e políti- cos18 . Uma vez conscientizados, os sujeitos se transformarão em multiplicadores da ideia de conservação desse acervo. É importante lembrar que a divulgação dos resultados da pesquisa arqueológica não deve apenas se restringir aos meios acadêmicos. Cabe aos cientistas e educadores a tarefa não só de apresentá-los às comunidades próximas dos sítios arqueológicos, mas permitir a partici- pação delas nas discussões a respeito desses resultados de maneira didática e direta. O território do Estado de Mato Grosso do Sul já exibe um patrimônio arqueológico, que foi descoberto por meio de pesquisas científicas, cuja proporção é considerável. Trata-se de vestígios de ocupações humanas pretéritas, mas ainda praticamente desco- nhecidos da maioria da população do estado. Localizado entre duas das mais importantes bacias hidrográficas do continente america- no, apresentou, no passado, condições ex- tremamente favoráveis à fixação do homem pré-histórico nessa região. Os trabalhos arqueológicos desenvolvi- dos fornecem um conjunto de dados científi- cos que possibilitam a compreensão do pano- rama da arqueologia regional, sobretudo em relação à cronologia da ocupação humana do espaço. A chegada dos primeiros grupos nô- mades de caçadores e coletores a essa região teria ocorrido entre 10 e 11 mil anos atrás19 . 17 FREIRE, 2001. 18 LIMA, 2005. 19 MARTINS, 2002. Segundo tais estudos, o território do estado teria abrigado desde grupos nômades cole- tores dos recursos ambientais até sociedades agrícolas mais complexas, associadas a prá- ticas de confecção de artefatos cerâmicos20 . Tais práticas estiveram intimamente ligadas à adaptação dessas coletividades aos diversos ambientes que apresentavam condições míni- mas para abrigá-las, mediante aprimoramento de meios e métodos capazes de se obter novos recursos para suprir as adversidades do meio. Nesse processo adaptativo e de busca por melhores condições de sobrevivência, alguns grupamentos humanos chegaram a migrar, seja para encontrar um clima mais ameno, ou para seguir grandes grupos de herbívoros que serviam de caça e fonte de ali- mentos21 . Seguindo o curso dos rios perenes que cortam o supracitado estado, os grupos nômades, que viviam da exploração dos re- cursos encontrados livremente na natureza, ocuparam os mais diversos ambientes do atual território estadual. Outros grupos de caçadores, coletores e pescadores acabaram por produzir equipamentos e ferramentas, utilizando-se de recursos naturais para con- feccionarem objetos de uso cotidiano22 . Os artefatos preservados durante milha- res de anos constituem os atuais vestígios da cultura material desses grupos, cujas técnicas de produção variam desde os materiais líticos lascados até os artefatos cerâmicos e de ro- chas polidas, estes últimos desenvolvidos por grupos sociais mais complexos23 . Esse acervo lítico, cerâmico e as manifestações pictográfi- cas têm sido fundamentais na compreensão da origem e dispersão dos grupos pelos diver- sos ambientes do mundo24 . Os vestígios encontrados já permitiram decodificar a significativa importância que os sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul apresentam para a compreensão dos proces- sos da chegada do homem à porção meridio- 20 KASHIMOTO; MARTINS, 2005. 21 FUNARI; NOELLI, 2005. 22 KASHIMOTO; MARTINS, 2005. 23 KASHIMOTO; MARTINS, 2005. 24 MORAIS, 1987.
  • 6. 24 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 nal do continente e ponto-chave no processo de expansão das populações humanas pré- -coloniais no continente. Entretanto, a política relativamente recorrente das instituições res- ponsáveis pela pesquisa, na produção de re- portagens, filmes e documentários a respeito desses vestígios arqueológicos, ainda não ob- teve resultados satisfatórios no comportamen- to de conservação e preservação por parte da população estadual, pois a maior parte dela desconhece a existência desse patrimônio, não tendo se conscientizado criticamente da situaçãoemqueeleseencontra.Consequente- mente, não valoriza devidamente esse acervo, como também não se observa na sociedade interesse ou iniciativas voltadas à sua preserva- ção, nem mesmo nas coletividades próximas aos sítios arqueológicos. Os alunos de escolas do ensino fundamental da rede pública e priva- da do estado também apresentam deficiências relacionadas ao conhecimento do patrimônio arqueológico de Mato Grosso do Sul25 . Note-se que esses sítios arqueológicos vêm sendo alvo constante, desde o século XVII e com maior intensidade no século XX, de práticas econômicas que acabaram interferin- do na sua integridade. É preciso lembrar que tais práticas ainda comprometem a preserva- ção desses vestígios já descobertos, especial- mente aquelas decorrentes da execução dos grandes projetos de infraestrutura, para os quais se tornam imprescindíveis à realização de trabalhos de estudo de impacto ambien- tal e arqueológico. As modificações causadas comprometem substancialmente o ambiente e afetam sobremaneira os sítios arqueológi- cos já revelados e mesmo aqueles ainda não descobertos, pois o espaço de um território está em constante transformação, seja pela intempérie ou a constante ação do homem. Experiências Sobre a Realização de Educação Patrimonial: Rio Brilhante e Três Lagoas Diante do exposto, verificou-se a ne- cessidade de iniciar um trabalho de conscien- 25 PACHECO et al., 2004. tização crítica da população do estado por integrantes do Museu de Arqueologia da Uni- versidade Federal de Mato Grosso do Sul vin- culado ao Laboratório de Pesquisas Arqueo- lógicas (MuArq/LPA). Esse museu nasceu por iniciativa de pesquisadores desse laboratório, quando este ainda integrava o Departamento de História do Centro Universitário de Aqui- dauana (LPA/CPAQ) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Apesar de o MuArq/ LPA ter sido implantado em 2006, em Campo Grande, ficando responsável pela pesquisa e estudo científico das populações pré-históri- cas no estado para coletar, recolher e salvar informações e objetos sobre elas, bem como para catalogá-los, preservá-los e, ainda, expô- -los e promover divulgação a seu respeito, as primeiras iniciativas institucionais para sua criação deram-se em 1992. Para os trabalhos iniciais de educação patrimonial priorizou-se o ambiente escolar no nível do ensino fundamental. A intenção foi de que tais ações educativas servissem de instrumento de motivação à adoção desse tipo de prática nas escolas. Foram propostas ações pedagógicas desenvolvidas num am- biente interdisciplinar envolvendo história, geografia, biologia, ciências e artes. Procurou- -se desenvolver ações que desencadeassem um processo ativo de conhecimento crítico, de modo a facilitar a apropriação e valorização da herança cultural no contexto histórico e ar- queológico das comunidades escolares alvo. A prática teve com um dos princípios básicos a experiência direta com os bens e os fenôme- nos culturais dos sítios arqueológicos. Como desdobramento dessa ação, procurou-se re- forçar a reprodução dos objetos manipulados e os conhecimentos a eles vinculados, como também incentivar novas criatividades a par- tir desses artefatos. Buscou-se, ainda como um dos procedimentos, desenvolver a teoria do conhecimento arqueológico e, ao mesmo tempo, permitir que os alunos vivenciassem seus métodos, de modo que pudessem ana- lisar os procedimentos que sustentam as teo- rias apresentadas a respeito da Arqueologia. Por fim, o contato com culturas diversas do
  • 7. 25Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 passado também deveriam contribuir para desenvolver atitudes de respeito à multiplici- dade de expressões e formas culturais. Note-se que as atividades propostas levaram em conta as séries escolares e os níveis de aprendizagem próprios dos alunos dessas turmas. Durante o desenvolvimento das atividades, foram aplicados questioná- rios, no início e no fim das apresentações, aos alunos do ensino fundamental das duas escolas situadas nas proximidades do sítio arqueológico Rio Vacaria 1 (VC1) e da escola mais próxima do sítio arqueológico Córrego Moeda 1 (MD1). O questionário utilizado na execução desse projeto foi confeccionado exclusivamente para esse fim, sendo com- posto por perguntas de abordagem sociocul- tural. Além disso, foi avaliado previamente o nível do conhecimento dos alunos sobre a temática proposta antes de iniciar qualquer atividade. Os relatos apresentados a seguir dizem respeito à metodologia utilizada nessa ação educativa em duas experiências realizadas em 2008. Uma delas se deu no município de Rio Brilhante, eleito por se situar no entorno do sítio arqueológico VC1, local em que se davam os trabalhos de salvamento e resgate arqueológico da área de influência da Usina Passatempo – LDG. A outra foi no município de Três Lagoas, localizado na região mais pró- xima do sítio arqueológico MD1, no âmbito do projeto de salvamento e resgate arque- ológico na área de influência da Votorantim Celulose e Papel. Ambos os municípios estão localizados no Mapa 1. Mapa 1: Localização dos municípios de Três Lagoas (região nordeste) e Rio Brilhante (região centro-sul) no Mato Grosso do Sul.
  • 8. 26 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 Rio Brilhante Em Rio Brilhante foi feito um levanta- mento das escolas mais próximas à área do sítio arqueológico VC1, com o auxílio da Se- cretaria Municipal de Educação do Município de Rio Brilhante. Nesse caso, o trabalho de educação patrimonial foi realizado em dois dias com 428 alunos, abrangendo aqueles do 5º ao 9º ano do ensino fundamental de duas escolas: Escola Municipal Euclides da Cunha, situada no distrito de Prudêncio Thomaz, e Escola Municipal Rural Artur Tavares de Melo, localizada ao lado da usina Passatempo. Verificou-se que o meio de comunicação mais utilizado pelos alunos é a televisão, e o lembrado em menor escala foi o jornal impres- so. Antes de iniciar as atividades propriamen- te ditas, verificou-se que, no máximo, metade dos alunos de 5° ao 6° ano soube citar algo relacionado à história da região bem como os do 7º ao 9º ano, porém poucos sabiam o que se entendia por Arqueologia. Entre os alunos do 5º e 6º ano não foi constatada nenhuma forma de conhecimento relacionada a referi- da ciência. A região de estudo, que se localiza en- tre os rios Vacaria e Brilhante, sendo histori- camente conhecida como Campos de Vaca- ria, possui um valioso patrimônio histórico e arqueológico. Tendo em vista esses dados, as palestras e atividades pedagógicas foram re- alizadas tendo como temática a Arqueologia nessa região dos Campos de Vacaria e a histó- ria de Rio Brilhante e região. No cronograma de trabalho pré-esta- belecido foram realizadas as seguintes ativi- dades: elaboração do plano de trabalho para aplicação da atividade; aplicação de questio- nários de sondagem; palestras; leitura e dis- cussão de textos relacionados à arqueologia e história da região e ao patrimônio cultural e arquitetônico; produção de textos, caça palavras, cruzadinhas e jogo da memória; di- nâmicas em grupo; remontagem e pintura de vasos de cerâmica; recorte e colagem de EVA (Etileno Acetato de Vinila -  polímero ou plás- tico, com aspecto emborrachado que permite diversas aplicações); confecção de adornos; exposição dos materiais produzidos pelos alunos nas escolas; observação de vestígios arqueológicos; simulação de uma escavação arqueológica; avaliações escritas26 . No fim da aula, mediante processo ava- liativo pôde-se constatar um aumento subs- tancial da proporção de alunos com conhe- cimento sobre a história e a Arqueologia da região. As memórias mais recorrentes dos alunos do 5º e do 6º ano, presentes na pro- dução dos textos e nas atividades aplicadas, estavam relacionadas com o antigo cemitério na fazenda Passatempo, as famílias pioneiras que chegaram ao município de Rio Brilhante, a evolução dos nomes da cidade e os fatos alusivos à Guerra do Paraguai. Sobre a história da região de Rio Brilhan- te e dos Campos de Vacaria, os assuntos mais lembrados nos textos redigidos pelos alunos do 7º, 8° e 9º ano no fim das atividades fo- ram: a colonização da região, o cemitério da fazenda Passatempo, a Guerra do Paraguai, a preservação do patrimônio histórico da re- gião, as tradicionais famílias que chegaram aos campos do planalto de Maracaju, a pre- sença indígena na região, a erva-mate nativa e o gado que se espalhou pelo planalto como fator de povoação. A Arqueologia foi lembra- da nos textos produzidos pelos alunos nas seguintes ocasiões: o estudo dos objetos do passado, os vestígios materiais deixados pelo homem, o estudo do passado, o estudo da história do homem e a Arqueologia como ci- ência multidisciplinar. Três Lagoas Em Três Lagoas, o trabalho educativo foi desenvolvido com 213 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental (turnos matutino e vespertino) da Escola Municipal Parque São Carlos, que fica próxima à saída que liga esse município a Brasilândia, sendo considerada, portanto, a escola mais próxima do sítio ar- queológico MD1. Sua seleção se deu com o auxílio da Secretaria Municipal de Educação do Município de Três Lagoas. 26 cf. PACHECO et al., 2004; SOARES; KLAMT, 2004.
  • 9. 27Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 Ressalta-se a importância que essa re- gião apresenta para a constituição do patri- mônio histórico e arqueológico estadual, pois na bacia do rio Sucuriú, tributário da margem direita do rio Paraná, o qual deságua no mu- nicípio de Três Lagoas, foi descoberto o sítio arqueológico mais antigo do estado. Além dis- so, esse território foi palco histórico de pas- sagem do bandeirantismo luso-paulista em direção ao interior do continente, em busca de cativos e metais preciosos. O meio de comunicação apontado como o mais utilizado pelos alunos do 8º ano foi a televisão, seguida da rádio e da Internet. Já para os alunos do 9º ano, televisão, rádio e Internet é que consistiam os meios de co- municação mais utilizados. O jornal impresso foi citado apenas por 6% deles. No início das atividades, constatou-se entre os alunos do 8º ano que apenas 16% deles conheciam algo relacionado com a Arqueologia, embora 24% deles demonstraram interesse sobre esse as- sunto. Dentre os alunos do 9º ano, 25% sabiam o que era Arqueologia e 30% deles afirmaram se interessar pela ciência. O cronograma de trabalho constou das seguintes tarefas: elaboração do plano de tra- balho para aplicação da atividade; aplicação de questionários de sondagem antes das apre- sentações; apresentação do vídeo institucional do MuArq/UFMS abordando a Arqueologia de Mato Grosso do Sul; apresentação da temáti- ca Arqueologia Regional e Patrimônio Cultural e Arqueológico; apresentação da Arqueologia na região de Três Lagoas com ênfase para o sítio MD1; breve exposição de material arque- ológico; aplicação de questionário avaliando o nível de aprendizado sobre Arqueologia após a intervenção do Projeto; análise e tabulação dos dados e resultados obtidos. Por meio da compilação e comparação dos questionários de sondagem e avaliação da análise de conteúdo, verificou-se que 70% dos alunos souberam responder o que é Ar- queologia, relacionando seu conceito com a origem do homem pré-histórico, estudo da cultura dos povos antigos para entender a história, estudo de coisas antigas em geral, es- tudo das rochas e fósseis, estudo de objetos do homem antigo, civilizações antigas, ciência feita de outras ciências, estudo de índios cera- mistas, ciência do meio ambiente, escavações e passado do estado citado. Fato notório foi que, no fim da aula, mais da metade dos alu- nos afirmou se interessar por algum assunto da Arqueologia. A maioria citou a idade dos artefatos, os próprios artefatos, o homem do passado, as escavações, os artefatos de pedra polida e os índios como temas que mais cha- mam atenção. Os resultados obtidos após as apresen- tações mostraram quem 85% dos alunos do 9º ano souberam responder o que é Arqueolo- gia, conceituando-a dessa forma: estudo das rochas e das formas dos artefatos; estudo de fósseis; passado e origem do homem e seus vestígios; estudo de cerâmica e pedra polida e lascada; estudo dos povos indígenas e pré- -colombianos; evolução humana; Arqueologia como um estudo muito complexo; estudos da Antiguidade; estudo dos primeiros habi- tantes do Brasil, dos desenhos e das formas de comunicação dos povos antigos; estudo do passado de Mato Grosso do Sul. No fim do trabalho, 90% dos alunos afirmaram se inte- ressar por Arqueologia por meio das seguin- tes temáticas: escavações arqueológicas; es- tudo da argila; equipamentos de caça; pintura rupestre; modos de viver em cavernas; idade dos vestígios; fósseis; artefatos; descobertas de cerâmica e carvão; cidades do passado; cultura dos povos antigos e estátuas. No conjunto das duas experiências reali- zadas nos municípios, observou-se que todos os alunos participaram e desenvolveram as atividades propostas. A manipulação dos ves- tígios arqueológicos e as atividades práticas foram procedimentos considerados significa- tivos na relação construída do aprendiz com o sítio arqueológico para sua alfabetização cul- tural. Os textos e os desenhos produzidos por eles foram respostas a essa aprendizagem e condizentes com cada estágio do desenvol- vimento psicopedagógico do aluno. As ações empreendidas conseguiram contribuir no res- gate da autoestima e da identidade cultural
  • 10. 28 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 desses alunos. Além disso, tornou-se visível a importância que eles passaram a atribuir aos vestígios e sítios arqueológicos apresentados e à própria história local, associada ao estímu- lo de engajamento para sua preservação. Considerações Finais As reflexões colocadas neste texto per- mitiram retomar conceitos e metodologias próprios da educação patrimonial e do patri- mônio cultural para correlacioná-los com a valorização e preservação do patrimônio ar- queológico de Mato Grosso do Sul. Concomi- tantemente, foi possível vincular nesta refle- xão os sentimentos de identidade territorial e de pertença, próprios desse processo educa- tivo e da consequente valorização dos bens e manifestações culturais, com os processos de participação e engajamento cívico em proces- sos de desenvolvimento local. Embora as experiências a respeito da educação patrimonial estejam se disseminan- do no País com o apoio de políticas públicas, foi possível constatar que elas são ainda insu- ficientes e precisam ser assumidas pela socie- dade, especialmente no ambiente escolar. No caso das duas experiências em am- biente escolar, ainda que os resultados te- nham sido animadores, não se pode esque- cer que as ações ocorreram apenas em um único encontro com os alunos. A educação, no entanto, é um processo contínuo de de- senvolvimento das capacidades do ser hu- mano. Portanto, exige continuidade tanto no ambiente da escola como fora dela. A educação patrimonial é um compromisso de toda sociedade. É preciso continuar incentivando o aprofundamento e a ampliação das experi- ências acerca desse processo educativo por meio de relatos de estudos realizados em diversos ambientes, experiências, manifes- tações culturais, situações e modalidades de bens. Referências ÁVILA, V. F. Pressupostos para formação educacional em Desenvolvimento Local. Interações Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande: UCDB, v.1, n.1, p.63-76, setem- bro de 2000. BONEMAISON, J. Viagem em torno do Território. In: ROSENDHAL, Z.; CORRÊA, R.L. (Org.). Geo- grafia Cultural (3). Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002, p. 84-131. CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano V. Machado. São Paulo: Estação Liber- dade/Editora Unesp, 2001. 282p. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 19ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FUNARI, P. P.; NOELLI, F. S. Pré-história do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Contexto, 2005. HORTA, M. L. P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A. Q. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN/Museu Imperial, 1999. HORTA, M. de L. P. Os Lugares da Memória. In SILVA, R. M. da C. (Org.). Cultura Popular e Educa- ção. Brasília: MEC, 2008, p. 111-118. KASHIMOTO, E. M.; MARTINS, G. R. Uma longa história em um grande rio: cenários arqueológicos do Alto Paraná. Campo Grande: Ed. Oeste, 2005. LARAIA, R. B. Cultura: Um conceito antropológico. 11ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. LIMA, J. S. S. Educação Patrimonial e Arqueologia de Contrato: a experiência do Projeto Sos-
  • 11. 29Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 sego em Canaã dos Carajás (PA), In Anais do XIII Congresso da SAB: Arqueologia, Patrimônio e Turismo. Campo Grande: Ed. Oeste, 2005, p. 1-14. MARTINS, G. R. Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul. 2ª edição. Campo Grande: Ed. UFMS, 2002. ______; PACHECO, I. A. & TULUX, B. M. Relatório final do programa de Educação Patrimonial desenvolvido na área de influência da Usina Passatempo/LDG, Rio Brilhante/MS. Campo Grande: MuArq/UFMS, 2008. MORAIS, J. L. de. A propósito do estudo das indústrias líticas. In REVISTA DO MUSEU PAULISTA, São Paulo, v. XXXII, Universidade de São Paulo, 1987, p. 155-184. NOELLI, F. S. “Educação Patrimonial: relatos e experiências” In Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 89: p. 1413-1414, set/dez 2004. ORIÁ, R. Educação Patrimonial: Conhecer Para Preservar. Disponível em: <http://www.educacio- nal.com.br/articulistas/articulista0003.asp>. Acesso em 11 de agosto de 2006. PACHECO, M. L. A. F. et al. Concepção de estudantes de 8ª série de escolas públicas e particula- res sobre conceitos e aplicabilidades de arqueologia na conservação de sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul. In Anais do VII Encontro de História de Mato Grosso do Sul, Campo Grande: UCDB, 2004, v. único. VASCONCELLOS, C. M.; RIZZI, M. C. S. L. A Ação Educativa na Exposição Brasil 50 Mil Anos: prin- cípios e propostas. In: Universidade de São Paulo. Museu de Arqueologia e Etnologia. Brasil 50 Mil Anos: uma viagem ao passado pré-colonial. São Paulo: USP. MAE: Edusp, 2001. (Catálogo de exposição). RODRIGUES, M. Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turismo. In FUNARI, P. P. & PINSKY, J. (Org.). Turismo e Patrimônio Cultural. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-24. SANTOS, M. A natureza do espaço - técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SOARES, A. L. R. (Org.). Educação Patrimonial: Relatos e Experiências. Santa Maria: UFSM, 2003. ______; KLAMT, S. C. Pré-História e Arqueologia: Sugestões Metodológicas para a Educação Infantil e Ensino Fundamental. In Revista do CEPA, Santa Cruz do Sul: v.28, 2004, p. 19-43.
  • 12. 30 Impulso, Piracicaba • 21(51), 19-30, jan.-jun. 2011 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 Dados dos autores: Eder Janeo da Silva Mestre em Desenvolvimento Local - UCDB Universidade Católica Dom Bosco (Bolsista CAPES/Prosup). Graduado em Geografia (UCDB - Universidade Católica Dom Bosco). Professor no curso de graduação em Peda- gogia - Anhanguera-Uniderp. Geógrafo no MuArq/UFMS - Museu de Arqueologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Cleonice Alexandre Le Bourlegat Doutora em Geografia (UNESP). Geógrafa e professora no programa de pós-graduação mestrado em Desenvolvimento Local e Graduação de Geografia (Universidade Católica Dom Bosco - UCDB). Coordenadora científica da Acteurs Pratiques Recherches Européennes Internationales pour le Développement Durable (APREIS-França). Pesquisadora da Rede de Pesquisa em Sistemas |Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST- UFRJ). Coordenadora pelo Brasil de um mestrado internacional em Desenvolvimento Territorial Sustentável pelo Progra- ma Erasmus Mundus com 3 universidades européias (Sorbonne / Paris 1, Louvain/ Bélgica e Pádua / Itália). Bruno Mendes Tulux Mestrando em História (UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados). Graduado em História (UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Recebido: 26-09-2011 Aprovado: 03-02-2012