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LIDERANÇA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
Prof. Joel Dutra
INTRODUÇÃO
As organizações vivem em um ambiente em constante transformação que exige respostas
rápidas e efetivas, respostas dadas em função das especificidades da situação requerendo
flexibilidade e adequação. Nesse contexto, cresce a importância da liderança para construir a
resposta mais adequada às demandas dentro de princípios éticos e dos valores
organizacionais. A importância da liderança na empresa moderna é também explicada por
estar inserida em situações de crescente incerteza e ambiguidade, exigindo do líder coerência
e consistência em relação aos seus princípios e valores de forma a sustentar sua credibilidade
e legitimidade junto, tanto aos liderados, quanto aos pares, superiores, parceiros e clientes.
Esse quadro estimulou, ao longo dos últimos anos uma grande reflexão e produção sobre a
liderança. A escolha da equipe de pesquisa da FEA-USP foi o foco sobre o processo de
liderança, para compreendermos o papel do líder e do liderado em um contexto mais
exigente. Nossa base foi um trabalho iniciado por Michael Useem (1999 e 2002) que ao
focar no processo de liderança percebe que os líderes que fizeram a diferença em diferentes
situações não foram “superpessoas”, mas sim pessoas comuns que fizeram um conjunto de
pequenas coisas que, em conjunto, criaram o sucesso.
Um olhar desavisado sobre as pressões sobre o líder nos faz crer que somente uma
superpessoa seria capaz de fazer frente às mesmas, isso porque:
• As organizações têm se tornado mais complexas, não só em termos tecnológicos, mas
também em termos das relações organizacionais e de suas relações com o ambiente onde
se insere. Essa complexidade exige da liderança organizacional uma compreensão mais
ampla do contexto, de modo a perceber os vários desdobramentos possíveis de suas
decisões. Ao mesmo tempo, essa complexidade exige um profundo conhecimento do
negócio ou da área de atuação para garantir a qualidade técnica das decisões e a
viabilidade das mesmas;
• O ambiente mais exigente se materializa em liderados cada vez mais bem preparados em
termos de formação e informação, em pressões advindas da necessidade de
continuamente ter que conciliar interesses conflitantes, em assumir cada vez mais riscos
profissionais e pessoais e maior desgaste emocional na orientação de pessoas e na
delegação de decisões em situações de incerteza e ambiguidade.
Entretanto, em nossas pesquisas encontramos pessoas comuns que estão fazendo frente a
esses desafios usando sua sensibilidade e mobilizando suas equipes em torno de um projeto
comum. A forma como essas pessoas obtiveram esse sucesso é o que vamos compartilhar
neste artigo.
BASES DA LEGITIMIDADE DA LIDERANÇA
Cada vez mais a liderança informal e a formal misturam-se na pessoa do líder, o qual tem que
mobilizar sua equipe em um ambiente de incerteza e ambiguidade e de grande pressão. A
liderança formal assentada no poder político e econômico não é suficiente para obter o
engajamento, o comprometimento das pessoas que compõe a equipe de trabalho, vem
surgindo gradativamente uma nova base de sustentação do poder do líder organizacional:
agregação de valor para a equipe e para a organização.
Em nossos trabalhos de campo procuramos observar as bases que conferem legitimidade e
credibilidade à liderança na empresa contemporânea. Pudemos verificar que a legitimidade se
dá quando o líder consegue, de forma contínua e ao mesmo tempo, agregar valor para os
membros de seu time e para a organização ou negócio. Constatamos que a fonte de poder do
líder é cada vez mais a sua contribuição para seus pares, subordinados e parceiros e cada vez
menos o título do cargo ou posição na hierarquia. Com o fortalecimento das estruturas
organizacionais ou decisórias matriciais, construção de parcerias com fornecedores e clientes
cada vez mais densas e maior exigência sobre as pessoas, a liderança se assenta, cada vez
mais, na capacidade do líder de conciliar expectativas divergentes.
Observamos que, de forma geral, as lideranças bem avaliadas são as que mantêm suas
equipes desafiadas, respeitando a individualidade de cada membro, e as que conciliam as
expectativas e desafios da empresa ou negócio com as necessidades e expectativas dos
membros da equipe. Infelizmente, observamos que, em função da pressão por resultados que
recebe, a maior parte da liderança no Brasil apoia-se em uma ou duas pessoas de sua equipe,
marginalizando as demais dos desafios e do desenvolvimento. Normalmente as lideranças
escolhem pessoas com as quais se identificam ou aquelas que respondem melhor aos seus
estímulos e excluem as demais.
MANTER O FOCO NO QUE É ESSENCIAL
Um aspecto que tem norteado o estudo do processo de liderança é a forma como o líder
mantém a coesão do time. Verificamos que a forma mais comum é manter o grupo focado no
que é essencial para o mesmo. Na medida em que o líder procura manter o foco em objetivos
organizacionais ou do negócio, fixa-se em uma base movediça e isso pode comprometer sua
credibilidade com relação à sua equipe. Porém, na medida em que se foca no que é essencial
para o time, constrói uma base sólida para cimentar a relação com o grupo.
As lideranças bem sucedidas têm construído o foco em cima do desenvolvimento do grupo,
ou seja, o compromisso estabelecido é que não importa o desafio ou o objetivo a ser
perseguido, o importante é tirar proveito para o desenvolvimento do grupo como um todo e
para cada membro. Na medida em que esse pacto é construído pelo grupo, seus membros se
ajudam mutuamente, criando um efeito sinérgico no desenvolvimento. Esse é um dos
aspectos fundamentais para a criação de um grupo de alta performance e em constante
crescimento.
A realidade organizacional, em geral, não estimula a criação de um pacto construído no
desenvolvimento do grupo, uma vez que não valoriza o crescimento do grupo e sim dos seus
membros individualmente e nem oferece ao gestor autonomia para ajustes salariais,
promoções e outras formas de reconhecimento mais substantivas. Cabe ao gestor e líder
estabelecer as contrapartidas do desenvolvimento da equipe e de seus membros como parte
do pacto firmado.
Uma minoria dos líderes pesquisados conseguiu estabelecer um projeto comum duradouro
com sua equipe. Os que conseguiram têm isso como uma capacidade, verificamos que tinham
uma história de sucesso em várias organizações e com diferentes equipes. Muitos dos líderes
pesquisados desenvolveram essa capacidade de forma natural, a partir da sua sensibilidade
em relação à realidade em que viviam. A questão estabelecida por nós era se essa capacidade
podia ou não ser desenvolvida nas pessoas e a nossa resposta é positiva, como veremos a
seguir.
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COMPORTAMENTAIS
Ao longo de nossas investigações, pudemos constatar que a liderança brasileira na década de
noventa era muito capaz tecnicamente, mas não tinha domínio dos conhecimentos da gestão
de negócios. Na primeira década dos anos dois mil, os líderes alem do domínio técnico de
suas atividades, passaram a incorporar conhecimentos técnicos de gestão. A lacuna em nossa
liderança é, atualmente, o domínio de habilidades comportamentais.
Verificamos que a principal dificuldade do líder é lidar com a diversidade, a maioria procura
compor suas equipes com pessoas com mesmo perfil comportamental. A segunda principal
dificuldade é delegar. Ao interagirmos com grupos de líderes verificamos que a maioria tinha
consciência de suas dificuldades comportamentais, mas não sabiam como desenvolvê-las.
Obtivemos bons resultados com a criação de rituais. Um dos casos mais interessantes foi o
fato dos nossos pesquisados apontarem como uma grande dificuldade oferecer feedback
positivo para seus subordinados. Verificamos que a dificuldade dos mesmos não era dar o
feedback, mas sim de enxergar o positivo nas realizações de seus subordinados. Contratamos
com nossos pesquisados a oferta, em suas reuniões semanais com a equipe, de quinze
minutos de feedback positivo. Ao longo de seis semanas em média todos estavam dando
feedback positivo. Ao terem que oferecer quinze minutos semanais de feedback positivo para
suas equipes, aprenderam a observar aspectos positivos.
Assim como no exemplo citado, obtivemos resultados positivos com a criação de rituais para
desenvolver, em nossos pesquisados, outras habilidades comportamentais, tais como: ouvir,
comunicação, administração do tempo, etc. Os nossos pesquisados eram líderes de líderes
que, ao aprenderem a desenvolver habilidades comportamentais, conseguiram transmitir e
ensinar seus subordinados a fazer o mesmo.
ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO LÍDER
Os líderes ao assumirem responsabilidades e atribuições de maior complexidade passam por
três fases típicas:
• A primeira é a fase de consolidação na nova posição. O gestor tem muita dificuldade
de se desvincular das atribuições e responsabilidade do nível de sua posição anterior.
Naturalmente sente-se melhor lidando com a complexidade de trabalhos que já
domina, entretanto, isso dificulta a delegação e o desenvolvimento da equipe;
• A segunda fase é a de ampliar seu espaço político entre seus pares e superiores. Essa
fase implica em desenvolver e/ou aprimorar as interfaces entre áreas complementares.
A dificuldade que esse tipo de ação implica em mais trabalho no curto prazo para o
gestor e sua equipe, por isso, essa fase só é iniciada após a consolidação da posição
do gestor. Abrir a segunda fase antes de finalizar a primeira traz risco para o gestor;
• A terceira fase é o crescimento vertical, ou seja, é quando o gestor recebe delegação
de seus superiores. Nessa fase o gestor assume projetos ou processos que exigem o
trânsito em arenas políticas mais exigentes. Dificilmente o gestor recebe delegação se
não tiver conseguido construir legitimidade, reconhecimento e trânsito entre seus
pares, por isso, dificilmente a terceira fase ocorre sem que gestor tenha conseguido
ampliar seu espaço político.
O reconhecimento dessas fases ajuda na preparação do gestor para assumir gradativamente
maior complexidade em sua posição. Observamos em nossa pesquisa que, muitos gestores
têm dificuldade de sair da primeira fase. Essa constatação está alinhada com o trabalho
desenvolvido por Ram Charan (2010). Esse autor aponta dificuldades típicas dos gestores ao
mudarem de nível de complexidade de suas atribuições e responsabilidades, as quais foram
confirmadas na realidade das organizações brasileiras. Essas dificuldades são:
• Quando a pessoa assume a liderança de um grupo por ser uma boa executora de seu
trabalho, sua dificuldade é delegar, a tendência é a pessoa colocar seus subordinados
ajudando-a na execução das tarefas. O desafio típico é equilibrar delegação com
execução;
• Quando a pessoa assume uma posição em nível tático torna-se líder de pessoas que
lideram outras pessoas. Como a pessoa até então só liderou executores tende a tratar
seus subordinados, que são líderes, como executores. As dificuldades típicas desse
momento é liderar líderes e construir interfaces. Como a pessoa anteriormente
executava uma atividade bem específica tende a se isolar e construir muros em volta
de sua equipe, quando deveria estar construindo estradas;
• Quando a pessoa assume uma posição estratégica tem como principal
responsabilidade o relacionamento com stakeholders e deve estar mais voltada para
fora da organização, estimamos que oitenta por cento do tempo dessa pessoa deve
estar dedicado ao relacionamento externo, nossa pesquisa mostra o contrário oitenta
por cento do tempo está voltado para dentro da organização.
Frente a essa dificuldade, verificamos em nossa pesquisa que a maior parte dos gestores está
executando atividades em nível abaixo de seu nível de complexidade, ou seja, os gestores
estratégicos respondem por atribuições e responsabilidades do nível tático e os gestores
táticos respondem por atribuições e responsabilidades no nível operacional.
Esses dados são importantes para verificar como a maior parte de nossas organizações utiliza
de forma inadequada suas lideranças e têm problemas para desenvolvê-las. É por essa razão
que vemos uma boa parte da liderança com dificuldades para sair da primeira fase de
desenvolvimento, ou seja, têm dificuldade para consolidar sua posição por assumirem muitas
atribuições e responsabilidades do seu nível anterior.
CONCLUSÕES
As pesquisas realizadas no Brasil nos últimos 10 anos, demonstram que:
• A liderança, apesar de ter domínio de conhecimento técnico e de gestão, estão com uma
grande lacuna na área comportamental;
• Os líderes de sucesso têm como um grande diferencial o aspecto comportamental;
• Os aspectos comportamentais em que as lideranças brasileiras têm maiores
dificuldades seriam: lidar com a diversidade, delega, oferecer espaço e desafios para
seus subordinados.
O desenvolvimento de um líder na atualidade requer que este tenha consciência de suas
carências em habilidades comportamentais. A habilidade comportamental é desenvolvida
através da prática, como qualquer habilidade. Entretanto, este tipo de habilidade exige, para o
seu desenvolvimento, o exercício envolvendo outras pessoas. Esse processo não tem uma
fórmula, as pessoas têm que achar o seu jeito de fazer as coisas, de modo a se sentirem
confortáveis.
Estamos no início do estudo sobre liderança no Brasil. O estudo do processo de liderança tem
se mostrado um caminho muito rico para compreender a evolução da liderança no Brasil.
Esperamos nos próximos anos contribuir de forma mais efetiva na discussão do tema em
nosso país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHARAN, Ram e outros – 2010 – Pipeline de Liderança, editora Campus;
USEEM, Michael – 1999 – O Momento de Liderar, editora Negócio;
USEEM, Michael – 2002 – Liderando para o Alto – editora Negócio.

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  • 1. LIDERANÇA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO Prof. Joel Dutra INTRODUÇÃO As organizações vivem em um ambiente em constante transformação que exige respostas rápidas e efetivas, respostas dadas em função das especificidades da situação requerendo flexibilidade e adequação. Nesse contexto, cresce a importância da liderança para construir a resposta mais adequada às demandas dentro de princípios éticos e dos valores organizacionais. A importância da liderança na empresa moderna é também explicada por estar inserida em situações de crescente incerteza e ambiguidade, exigindo do líder coerência e consistência em relação aos seus princípios e valores de forma a sustentar sua credibilidade e legitimidade junto, tanto aos liderados, quanto aos pares, superiores, parceiros e clientes. Esse quadro estimulou, ao longo dos últimos anos uma grande reflexão e produção sobre a liderança. A escolha da equipe de pesquisa da FEA-USP foi o foco sobre o processo de liderança, para compreendermos o papel do líder e do liderado em um contexto mais exigente. Nossa base foi um trabalho iniciado por Michael Useem (1999 e 2002) que ao focar no processo de liderança percebe que os líderes que fizeram a diferença em diferentes situações não foram “superpessoas”, mas sim pessoas comuns que fizeram um conjunto de pequenas coisas que, em conjunto, criaram o sucesso. Um olhar desavisado sobre as pressões sobre o líder nos faz crer que somente uma superpessoa seria capaz de fazer frente às mesmas, isso porque: • As organizações têm se tornado mais complexas, não só em termos tecnológicos, mas também em termos das relações organizacionais e de suas relações com o ambiente onde se insere. Essa complexidade exige da liderança organizacional uma compreensão mais ampla do contexto, de modo a perceber os vários desdobramentos possíveis de suas decisões. Ao mesmo tempo, essa complexidade exige um profundo conhecimento do negócio ou da área de atuação para garantir a qualidade técnica das decisões e a viabilidade das mesmas; • O ambiente mais exigente se materializa em liderados cada vez mais bem preparados em termos de formação e informação, em pressões advindas da necessidade de continuamente ter que conciliar interesses conflitantes, em assumir cada vez mais riscos profissionais e pessoais e maior desgaste emocional na orientação de pessoas e na delegação de decisões em situações de incerteza e ambiguidade. Entretanto, em nossas pesquisas encontramos pessoas comuns que estão fazendo frente a esses desafios usando sua sensibilidade e mobilizando suas equipes em torno de um projeto comum. A forma como essas pessoas obtiveram esse sucesso é o que vamos compartilhar neste artigo. BASES DA LEGITIMIDADE DA LIDERANÇA Cada vez mais a liderança informal e a formal misturam-se na pessoa do líder, o qual tem que mobilizar sua equipe em um ambiente de incerteza e ambiguidade e de grande pressão. A liderança formal assentada no poder político e econômico não é suficiente para obter o engajamento, o comprometimento das pessoas que compõe a equipe de trabalho, vem
  • 2. surgindo gradativamente uma nova base de sustentação do poder do líder organizacional: agregação de valor para a equipe e para a organização. Em nossos trabalhos de campo procuramos observar as bases que conferem legitimidade e credibilidade à liderança na empresa contemporânea. Pudemos verificar que a legitimidade se dá quando o líder consegue, de forma contínua e ao mesmo tempo, agregar valor para os membros de seu time e para a organização ou negócio. Constatamos que a fonte de poder do líder é cada vez mais a sua contribuição para seus pares, subordinados e parceiros e cada vez menos o título do cargo ou posição na hierarquia. Com o fortalecimento das estruturas organizacionais ou decisórias matriciais, construção de parcerias com fornecedores e clientes cada vez mais densas e maior exigência sobre as pessoas, a liderança se assenta, cada vez mais, na capacidade do líder de conciliar expectativas divergentes. Observamos que, de forma geral, as lideranças bem avaliadas são as que mantêm suas equipes desafiadas, respeitando a individualidade de cada membro, e as que conciliam as expectativas e desafios da empresa ou negócio com as necessidades e expectativas dos membros da equipe. Infelizmente, observamos que, em função da pressão por resultados que recebe, a maior parte da liderança no Brasil apoia-se em uma ou duas pessoas de sua equipe, marginalizando as demais dos desafios e do desenvolvimento. Normalmente as lideranças escolhem pessoas com as quais se identificam ou aquelas que respondem melhor aos seus estímulos e excluem as demais. MANTER O FOCO NO QUE É ESSENCIAL Um aspecto que tem norteado o estudo do processo de liderança é a forma como o líder mantém a coesão do time. Verificamos que a forma mais comum é manter o grupo focado no que é essencial para o mesmo. Na medida em que o líder procura manter o foco em objetivos organizacionais ou do negócio, fixa-se em uma base movediça e isso pode comprometer sua credibilidade com relação à sua equipe. Porém, na medida em que se foca no que é essencial para o time, constrói uma base sólida para cimentar a relação com o grupo. As lideranças bem sucedidas têm construído o foco em cima do desenvolvimento do grupo, ou seja, o compromisso estabelecido é que não importa o desafio ou o objetivo a ser perseguido, o importante é tirar proveito para o desenvolvimento do grupo como um todo e para cada membro. Na medida em que esse pacto é construído pelo grupo, seus membros se ajudam mutuamente, criando um efeito sinérgico no desenvolvimento. Esse é um dos aspectos fundamentais para a criação de um grupo de alta performance e em constante crescimento. A realidade organizacional, em geral, não estimula a criação de um pacto construído no desenvolvimento do grupo, uma vez que não valoriza o crescimento do grupo e sim dos seus membros individualmente e nem oferece ao gestor autonomia para ajustes salariais, promoções e outras formas de reconhecimento mais substantivas. Cabe ao gestor e líder estabelecer as contrapartidas do desenvolvimento da equipe e de seus membros como parte do pacto firmado. Uma minoria dos líderes pesquisados conseguiu estabelecer um projeto comum duradouro com sua equipe. Os que conseguiram têm isso como uma capacidade, verificamos que tinham uma história de sucesso em várias organizações e com diferentes equipes. Muitos dos líderes
  • 3. pesquisados desenvolveram essa capacidade de forma natural, a partir da sua sensibilidade em relação à realidade em que viviam. A questão estabelecida por nós era se essa capacidade podia ou não ser desenvolvida nas pessoas e a nossa resposta é positiva, como veremos a seguir. DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COMPORTAMENTAIS Ao longo de nossas investigações, pudemos constatar que a liderança brasileira na década de noventa era muito capaz tecnicamente, mas não tinha domínio dos conhecimentos da gestão de negócios. Na primeira década dos anos dois mil, os líderes alem do domínio técnico de suas atividades, passaram a incorporar conhecimentos técnicos de gestão. A lacuna em nossa liderança é, atualmente, o domínio de habilidades comportamentais. Verificamos que a principal dificuldade do líder é lidar com a diversidade, a maioria procura compor suas equipes com pessoas com mesmo perfil comportamental. A segunda principal dificuldade é delegar. Ao interagirmos com grupos de líderes verificamos que a maioria tinha consciência de suas dificuldades comportamentais, mas não sabiam como desenvolvê-las. Obtivemos bons resultados com a criação de rituais. Um dos casos mais interessantes foi o fato dos nossos pesquisados apontarem como uma grande dificuldade oferecer feedback positivo para seus subordinados. Verificamos que a dificuldade dos mesmos não era dar o feedback, mas sim de enxergar o positivo nas realizações de seus subordinados. Contratamos com nossos pesquisados a oferta, em suas reuniões semanais com a equipe, de quinze minutos de feedback positivo. Ao longo de seis semanas em média todos estavam dando feedback positivo. Ao terem que oferecer quinze minutos semanais de feedback positivo para suas equipes, aprenderam a observar aspectos positivos. Assim como no exemplo citado, obtivemos resultados positivos com a criação de rituais para desenvolver, em nossos pesquisados, outras habilidades comportamentais, tais como: ouvir, comunicação, administração do tempo, etc. Os nossos pesquisados eram líderes de líderes que, ao aprenderem a desenvolver habilidades comportamentais, conseguiram transmitir e ensinar seus subordinados a fazer o mesmo. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO LÍDER Os líderes ao assumirem responsabilidades e atribuições de maior complexidade passam por três fases típicas: • A primeira é a fase de consolidação na nova posição. O gestor tem muita dificuldade de se desvincular das atribuições e responsabilidade do nível de sua posição anterior. Naturalmente sente-se melhor lidando com a complexidade de trabalhos que já domina, entretanto, isso dificulta a delegação e o desenvolvimento da equipe; • A segunda fase é a de ampliar seu espaço político entre seus pares e superiores. Essa fase implica em desenvolver e/ou aprimorar as interfaces entre áreas complementares. A dificuldade que esse tipo de ação implica em mais trabalho no curto prazo para o gestor e sua equipe, por isso, essa fase só é iniciada após a consolidação da posição do gestor. Abrir a segunda fase antes de finalizar a primeira traz risco para o gestor; • A terceira fase é o crescimento vertical, ou seja, é quando o gestor recebe delegação de seus superiores. Nessa fase o gestor assume projetos ou processos que exigem o
  • 4. trânsito em arenas políticas mais exigentes. Dificilmente o gestor recebe delegação se não tiver conseguido construir legitimidade, reconhecimento e trânsito entre seus pares, por isso, dificilmente a terceira fase ocorre sem que gestor tenha conseguido ampliar seu espaço político. O reconhecimento dessas fases ajuda na preparação do gestor para assumir gradativamente maior complexidade em sua posição. Observamos em nossa pesquisa que, muitos gestores têm dificuldade de sair da primeira fase. Essa constatação está alinhada com o trabalho desenvolvido por Ram Charan (2010). Esse autor aponta dificuldades típicas dos gestores ao mudarem de nível de complexidade de suas atribuições e responsabilidades, as quais foram confirmadas na realidade das organizações brasileiras. Essas dificuldades são: • Quando a pessoa assume a liderança de um grupo por ser uma boa executora de seu trabalho, sua dificuldade é delegar, a tendência é a pessoa colocar seus subordinados ajudando-a na execução das tarefas. O desafio típico é equilibrar delegação com execução; • Quando a pessoa assume uma posição em nível tático torna-se líder de pessoas que lideram outras pessoas. Como a pessoa até então só liderou executores tende a tratar seus subordinados, que são líderes, como executores. As dificuldades típicas desse momento é liderar líderes e construir interfaces. Como a pessoa anteriormente executava uma atividade bem específica tende a se isolar e construir muros em volta de sua equipe, quando deveria estar construindo estradas; • Quando a pessoa assume uma posição estratégica tem como principal responsabilidade o relacionamento com stakeholders e deve estar mais voltada para fora da organização, estimamos que oitenta por cento do tempo dessa pessoa deve estar dedicado ao relacionamento externo, nossa pesquisa mostra o contrário oitenta por cento do tempo está voltado para dentro da organização. Frente a essa dificuldade, verificamos em nossa pesquisa que a maior parte dos gestores está executando atividades em nível abaixo de seu nível de complexidade, ou seja, os gestores estratégicos respondem por atribuições e responsabilidades do nível tático e os gestores táticos respondem por atribuições e responsabilidades no nível operacional. Esses dados são importantes para verificar como a maior parte de nossas organizações utiliza de forma inadequada suas lideranças e têm problemas para desenvolvê-las. É por essa razão que vemos uma boa parte da liderança com dificuldades para sair da primeira fase de desenvolvimento, ou seja, têm dificuldade para consolidar sua posição por assumirem muitas atribuições e responsabilidades do seu nível anterior. CONCLUSÕES As pesquisas realizadas no Brasil nos últimos 10 anos, demonstram que: • A liderança, apesar de ter domínio de conhecimento técnico e de gestão, estão com uma grande lacuna na área comportamental; • Os líderes de sucesso têm como um grande diferencial o aspecto comportamental; • Os aspectos comportamentais em que as lideranças brasileiras têm maiores dificuldades seriam: lidar com a diversidade, delega, oferecer espaço e desafios para seus subordinados.
  • 5. O desenvolvimento de um líder na atualidade requer que este tenha consciência de suas carências em habilidades comportamentais. A habilidade comportamental é desenvolvida através da prática, como qualquer habilidade. Entretanto, este tipo de habilidade exige, para o seu desenvolvimento, o exercício envolvendo outras pessoas. Esse processo não tem uma fórmula, as pessoas têm que achar o seu jeito de fazer as coisas, de modo a se sentirem confortáveis. Estamos no início do estudo sobre liderança no Brasil. O estudo do processo de liderança tem se mostrado um caminho muito rico para compreender a evolução da liderança no Brasil. Esperamos nos próximos anos contribuir de forma mais efetiva na discussão do tema em nosso país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHARAN, Ram e outros – 2010 – Pipeline de Liderança, editora Campus; USEEM, Michael – 1999 – O Momento de Liderar, editora Negócio; USEEM, Michael – 2002 – Liderando para o Alto – editora Negócio.